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TOXICOLOGIA VETERINÁRIA AULA 8 ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS São compostos muito utilizados como inseticidas, carrapaticidas, e contra pulgas, piolhos, baratas e formigas. São também muito usados em frutas, grãos armazenados, solo e estruturas, além do uso em animais, para prevenir ou tratar infestações por insetos ou nematoides. São agentes anticolinesterásicos conhecidos mundialmente desde o século XX, principalmente a partir de 1970. O uso desses praguicidas envolve o controle e combate a diversas pragas, e, na Segunda Guerra Mundial, há indícios de que alguns organofosforados tenham sido empregados como armas químicas (“gases dos nervos” – tabun e sarin). Possuem atividade como inseticidas (agrícolas, domésticos e de uso veterinário), além de ação acaricida, nematodicida, fungicida e herbicida de diversas pragas em culturas agrícolas (algodão, cereais, fruticultura e em plantas ornamentais). Os carbamatos foram primeiramente obtidos a partir do alcaloide extraído da semente da planta Physostigmina venenosum. A esse alcaloide foi dado o nome de fisostigmina e utilizado primeiramente para o tratamento do glaucoma. FONTES DE ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS Organofosforados Triclorfon: Neguvon ®, Bernifon Pó ®, Unguento Vallé ®. Coumafós: Asuntol Pó ®, Tanidil®. Fention: Pulfim ®, Tiguvon ®. Diazinon: Bullcat Coleira ®, Coleira Xandog ®, Preventel, ® Fluido Pearson ®, Brinco Mosquicida ®, Patriot Defense ® Malation: Citronex Pomada ®. Diclorvós: Previn Plast Coleira Antipulgas®. Clorpirifós: Lepecid BR Spray ®, Baygon ®. Carbamatos Carbaril ou metilcarbamato: Talco Bulldog ®, Talco Toy ®, Tanicid®. Propoxur: Bolfo®, Propoxur 1%®. Aldicarb: Temik® (chumbinho), utilizado na agricultura como praguicida, e indevidamente, como veneno de rato e criminosamente para extermínio de cães e gatos. Bendiocarb: Garvox (igual ao aldicarb). FONTES DE ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS Existem mais de 200 praguicidas organofosforados e cerca de 25 carbamatos, os quais são comercializados no mundo por diversas empresas, na forma de inúmeras formulações e nomes comerciais. TOXICOCINÉTICA Dependendo da estrutura da formação química a toxicidade dos organofosforados e dos carbamatos varia de ligeiramente tóxica a extremamente tóxica. Muitos organofosforados usados como inseticidas na atualidade contém a porção “tiono” (=S) mais que a porção “oxon”( =O). Na sua forma original, isto é, tipo tiono, os organofosforados não são caracteristicamente inibidores potentes da acetil- colinesterase, mas requerem ativação metabólica à forma análoga ativa oxon, pela ação, principalmente da oxidase mista. O fígado possui a maior capacidade enzimática para bioativação (síntese letal) desses compostos, no entanto, outros órgãos, tais como o pulmão e o cérebro, têm também alguma capacidade para isso. Ao lado dos processos de bioativação enzimas de desintoxicação desses compostos também estão no fígado. Carbamatos e alguns organofosforados são inibidores diretos da acetilcolinesterase não requerendo a bioativação prévia. TOXICOCINÉTICA – REDOBRAR CUIDADOS A administração recente ou concomitante de alguns fármacos pode aumentar potencialmente a suscetibilidade do animal a toxicose organofosforados ou carbamatos. Fármacos com a capacidade bloqueadora neuromuscular, ou aqueles que competem por esterases-alvo, podem elevar também a suscetibilidade. Nesses grupos incluí-se: fenotiazinas, procaína, íon magnésio, anestésicos inalantes e agentes despolarizantes bloqueadores neuromusculares, como a succinilcolina e o decametônio. Os antibióticos como aminoglicosídeos (estreptomicina, diidroestreptomicina, canamicina e gentamicina), polipeptídeos (polimixina A e B, colistina), clindamicina e lincomicina, também podem ter efeitos bloqueadores neuromusculares. Há necessidade de cuidados no uso dos depressores do sistema nervoso central pois estes podem potencializar toxicose por organofosforados e carbamatos por meio de ações farmacodinâmicas sinérgicas e ou indiretamente com a depressão respiratória. Tranquilizantes fenotiazínicos, benzodiazepínicos, reserpina, meprobamatos, etanol e barbitúricos podem ser incluídos nesse grupo. Cimetidina (bloqueador de 𝐻2) usada no tratamento de úlceras gástricas é também um inibidor da oxidase hepática de função mista – potencializa o parathion. Ranitidina, outro antagonista de 𝐻2 , aparentemente ñão possui esse efeito. MECANISMO DE AÇÃO Os inseticidas organofosforados são considerados inibidores competitivos da acetilcolinesterase e de outras colinesterases (pseudocolinesterase). A função fisiológica da acetilcolinestrease é atuar no organismo vivo hidrolisando a acetilcolina em colina e ácido acético nas sinapses nervosas, para controlar o nível e a duração da transmissão neurológica. A acetilcolinesterase é encontrada comumente em tecidos nervosos, hemácias, e tecido muscular, e tem afinidade específica pela acetilcolina. A pseudocolinesterase é encontrada em plasma, fígado, pâncreas, e tecido nervoso, e tem capacidade para hidrolisar uma variedade de ésteres incluindo a acetilcolina. MECANISMO DE AÇÃO A acetilcolina é um neurotransmissor, e é liberada nas sinapses das junções neuromusculares e tem como ação mediar a transmissão dos impulsos nervosos dos neurônios pré- ganglionares no sistema nervoso central, tanto parassimpáticos como simpáticos, para neurônios pós-ganglionares. Atua também ao nível das fibras pós-ganglionares parassimpáticas direcionadas a órgãos efetores e fibras simpáticas a glândulas sudoríparas. Os nervos motores que inervam as musculaturas esqueléticas também tem como neurotransmissor acetilcolina MECANISMO DE AÇÃO Uma vez que acetilcolinesterase esteja inibida pelos inibidores dessa enzima, a acetilcolina acumula-se nas sinapses causando exacerbação das atividades neurotransmissoras tanto no sistema parassimpático (colinérgico) quanto nas sinapses neuromusculares (nicotínicas) ocasionando a despolarização prolongada dos órgãos efetores. Os organofosforados são considerados quase sempre inibidores irreversíveis da acetilcolinesterase, e os carbamatos inibidores reversíveis, por causa do tipo de ligação distinta dos dois grupos à acetilcolinesterase. O envelhecimento é uma alteração química tempo-dependente que acontece com certos organofosforados e resulta em ligação extremamente firme desses compostos a acetilcolinesterase, essencialmente irreversível, mesmo na presença de oximas (regenerador de acetilcolinesterase), tais como cloridrato de pralidoxima (2-PAM) (Contrathion®). MECANISMO DE AÇÃO Os organofosforados reagem apenas nos locais esterásicos da acetilcolinesterase para formar a enzima fosforilada e os carbamatos se ligam tanto no local aniônico quanto no local esterásico da acetilcolinesterase para formar a exima carbamilada. Essa ligação do carbamato ocorre de modo semelhante ao da acetilcolinesterase com a acetilcolina, na qual há acetilação da enzima, mas essa enzima carbamilada reage muito lentamente com a água quando comparada à enzima acetilada, para regenerar a colinesterase ativa. ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS – INTOXICAÇÃO DE EXPOSIÇÃO AGUDA Fatores relacionados à intoxicação de exposição aguda: Ampla utilização; alta toxicidade de alguns compostos; uso incorreto, facilidade de acesso a essas substâncias (ambos apresentam produtos registrados para uso agrícola, veterinário ou doméstico); fiscalização dos praguicidas de uso proibido ou restrito é muitas vezes ineficiente, sendo comum a comercialização ilegal de agentes extremamente tóxicos, como o aldicarb. ALDICARB Praguicida carbamato registrado para usoexclusivamente agrícola. Tem sido apontado como um dos principais agentes utilizados para intoxicação criminosa de animais domésticos no Brasil e de animais silvestres no exterior. É comercializado clandestinamente com o nome de “chumbinho”, pelo aspecto dos seus grânulos esféricos serem da cor do chumbo. SINAIS CLÍNICOS DA INTOXICAÇÃO POR ANTICOLINESTERÁSICOS Sinais muscarínicos estes incluem sudorese sialorreia, lacrimejamento, polaciúria, hipermotilidade gastrointestinal, náusea, vômito, diarreia, tenesmo, aumento dos ruídos respiratórios em decorrência de broncoconstrição ou secreções brônquicas excessivas, podendo causar dispneia bradicardia é miose. Estímulos excessivos dos receptores muscarínicos do sistema nervoso autônomo parassimpático: broncoconstriçao, miose, sialorreia, náuseas, vômito, expectoração, sudorese, incontinência urinária, cólicas abdominais, diarreia, bradicardia. Sinais nicotínicos podem seguir logo após os sinais muscarínicos incluem rigidez muscular, fasciculações e tremores musculares, debilidade, paresia e paralisia. Estimulação e subsequente bloqueio dos receptores nicotínicos (gânglios do SN autônomo e junções neuromusculares): taquicardia, hipertensão, fasciculação, tremores, fraqueza muscular e ou paralisia flácida. SINAIS CLÍNICOS DA INTOXICAÇÃO POR ANTICOLINESTERÁSICOS Sinais do sistema nervoso central em consequência do acúmulo de acetilcolina em receptores colinérgicos no sistema nervoso central: inquietação, ansiedade, hiperatividade, convulsão, e depressão mental profunda. Em bovinos e ovinos mostram comumente depressão profunda, e em cães e gatos a estimulação do sistema nervoso central normalmente progride para a convulsão. Efeitos no sistema nervoso central: ansiedade, agitação, tontura, ataxia, prostração, confusão mental, perda de memória, labilidade emocional, franqueza generalizada, depressão do centro respiratório, cianose, convulsões e coma. A morte se dá em geral devido à insuficiência respiratória, por inibição do centro respiratório medular, ou por secreções brônquicas excessivas aliadas a broncoespasmo e também por paralisia diafragma e musculatura intercostal. Além de manifestações cardíacas (arritmias, anormalidades eletrocardiográficas, defeitos de condução e alterações da pressão arterial) e hipotermia ligeira a moderada. Nos casos graves, após a exposição a altas doses, a morte pode ocorrer em decorrência da parada respiratória. SINAIS CLÍNICOS DA INTOXICAÇÃO - OBSERVAÇÃO Geralmente a toxicose por carbamatos tende a ser de menor duração e severidade, o que pode ser explicado pelo fato de que a ligação não covalente entre o carbamato e a acetilcolinesterase é espontaneamente reversível com regeneração da enzima após a descarbamilação levando a curta duração da sintomatologia após o início do quadro. A meio-vida de inibição da acetilcolinesterase pelos carbamatos é de 30 a 40 minutos. PORÉM, a relativa segurança em relação aos organofosforados não impedem a ocorrência de INTOXICAÇÕES GRAVES E FATAIS, envolvendo principalmente alguns compostos como o aldicarb, carbaril, metomil e propoxur. TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS E ESPECÍFICAS TRATAMENTO O rápido reconhecimento da intoxicação e seu tratamento adequado são essenciais para o prognóstico favorável quando há intoxicação por organofosforados e carbamatos. No caso de agentes extremamente tóxicos, como o aldicarb, o atendimento precoce do animal é fundamental para aumentar as suas chances de sobrevida. Isso ocorre principalmente quando há intoxicação criminosa de cães e gatos, quando grandes quantidades do praguicida geralmente são adicionadas em iscas palatáveis (carnes, peixes e embutidos) – ponto crítico do atendimento emergencial é a DESCONTAMINAÇÃO GÁSTRICA PREFERENCIALMENTE POR MEIO DA LAVAGEM GÁSTRICA. TRATAMENTO – MEDIDAS GERAIS Exposição dérmica: a pele deve ser lavada com sabão e água em abundância, e nos animais de pelos longos, a tosa é aconselhável. Exposição por ingestão: recomenda-se a lavagem gástrica até duas horas após a exposição, bem como administração de carvão ativado. Se o paciente estiver consciente e alerta – xarope de ipeca para indução de êmese, embora alguns autores contraindiquem a sua indução pela possibilidade de ocorrência posterior de depressão do sistema nervoso central e de convulsões. Contribui para a contraindicação o fato de que alguns desses praguicidas são formulados juntamente com solventes orgânicos cujos vapores, quando inalados ou aspirados, podem causar pneumonite química. A terapia com carvão ativado deve ser mantida por pelo menos 12 horas, nas intoxicações causadas por carbamatos; e por 48 horas nas intoxicações por organofosforados, pois estes podem sofrer o ciclo êntero-hepático. TRATAMENTO – MEDIDAS GERAIS Exposição por inalação: O paciente deve ser imediatamente retirado do local de exposição e os sinais de dificuldade respiratória devem revertidos. Se houve contato ocular, os olhos devem ser lavados abundantemente com água morna por pelo menos 15 minutos. TRATAMENTO – MEDIDAS ESPECÍFICAS Uso do sulfato de atropina na dose de 0,2 a 0,5 mg/Kg, sendo que um quarto da dose deve ser administrada pela via intravenosa e o restante pela via subcutânea ou intramuscular. Recomenda-se o uso da menor dose efetiva possível, dada a possibilidade de que sejam necessárias várias repetições. Como marcador clínico mais seguro da atropinização efetiva, pode-se ter a redução da sialorreia e do alívio das alterações respiratórias (ausência de dispneia e de secreções respiratórias), já que o diâmetro pupilar não é um indicador confiável em gatos e em alguns cães. TRATAMENTO – MEDIDAS ESPECÍFICAS O sulfato de atropina não neutraliza a ligação praguicida-enzima; mas bloqueia o efeito da acetilcolina nos terminais nervosos muscarínicos, já que a atropina é um antagonista de receptores muscarínicos. Dessa forma, a administração da atropina não afetará os sinais clínicos nicotínicos, como os tremores musculares e as fasciculações, que poderão persistir por mais de 24 horas, dependendo do tipo do composto e da gravidade da exposição. Nos casos em que houver dispneia severa, a oxigenoterapia deverá ser realizada a fim de suprir a maior demanda de oxigênio exigida pelo miocárdio na ocorrência de taquicardia. TRATAMENTO – MEDIDAS ESPECÍFICAS Uso das oximas (reativadores da acetilcolinesterases) – seu uso no tratamento da intoxicação por organofosforados é amplamente aceito. As oximas não devem ser utilizadas nas intoxicações por carbamatos, já que formam um complexo enzima-praguicida reversível espontaneamente. Além disso, os carbamatos ligam-se a ambos centros ativos da enzima, impedindo a sua reativação pela oxima. Existem estudos que mostram o aumento da toxicidade ao carbamato quando alguma oxima é utilizada no tratamento, contribuindo para a contra-indicação de seu uso em um quadro de intoxicação por esse tipo de praguicida. TRATAMENTO – MEDIDAS ESPECÍFICAS As oximas são agentes capazes de deslocar o organofosforado da acetilcolinesterase, reativando essa enzima, pois exercem uma força de atração sobre o centro ativo da enzima maior do que aquela proporcionada pelo praguicida. Devem ser utilizadas o mais precocemente possível e principalmente nos casos moderados e graves, como quando houver depressão do sistema nervoso central. Oxima disponível no Brasil é a pralidoxima ou 2-PAM (Contrathion©). Dose 25 a 50 mg/Kg em grandes animais, devendo ser administrada via intravenosa ou intramuscular. Se convulsões – benzodiazepínicos como o Diazepam na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg via intravenosa. DIAGNÓSTICO Histórico da exposição ao agente; sintomatologiacaracterística de toxicose por anticolinesterásicos; alterações post mortem como congestão, edema pulmonar de intensidades variadas; suspeita pode ser confirmada por meio da medida da atividade das colinesterases e da análise toxicológica de amostras biológicas (conteúdo estomacal ou ruminal) ou das iscas utilizadas nas intoxicações intencionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Xavier, F. G.; Spinosa, H.S. Toxicologia dos proaguicidas anticolinesterásicos: organofosforados e carbamatos. In: SPINOSA, H.S.; GÓRNIAK, S.L.; PALERMO-NETO, J. Toxicologia aplicada à medicina veterinária. Barueri, SP: Manole: 2008, p 291-310.
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