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CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Camila Casteliano Pereira CURRÍCULO E M ETODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAM PO 44 48 8 CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Camila Casteliano Pereira IESDE BRASIL S/A Curitiba 2016 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br © 2016 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________________ P492c Pereira, Camila Casteliano Currículo e metodologia na educação do campo / Camila Casteliano Pereira. - 1. ed. - Curitiba, PR: IESDE BRASIL S/A, 2016. 114 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-387-5421-3 1. Ensino à distância - Brasil. 2. Educação - Brasil. I. Título. 16-29729 CDD: 371.350981 CDU: 37.018.43 ________________________________________________________________________ Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Shutterstock Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Apresentação Este guia de estudo apresenta uma discussão sobre o currículo e as metodo- logias da educação do campo e evidencia as possibilidades de se materializar os princípios da concepção da educação do campo articulada ao contexto que a concerne. A educação do campo é uma concepção de sociedade que vem se consolidando a partir da luta e resistência de movimentos sociais do campo e de entidades que se vinculam a estes movimentos. Com visibilidade conquistada, as políticas públicas dão amparo para os sujei- tos escreverem sua própria história, tendo a escola como mais um direito. É com olhar crítico e problematizador que partilhamos desta disciplina com um foco nos desafios postos na atual conjuntura, compreendendo as possibilidades para a efetivação da política pública da educação do campo. Assim, discutiremos concepções teóricas, algumas experiências, possibilida- des de organização curricular e os direitos que amparam a opção da comunidade escolar, tendo em vista a especificidade da realidade. As possibilidades discuti- das nesta disciplina têm como princípio fundante que o currículo deve incorpo- rar uma educação crítica, de qualidade, que se vincule à pedagogia socialista e que vise à formação para a emancipação. Uma educação contra-hegemônica que entende a educação como possibilidade de transformação. Bons estudos! Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Camila Casteliano Pereira Mestranda em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Especialista em Alfabetização pela Faculdade Dom Bosco. Graduada em Pedagogia pela UTP. Bolsista de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Integrante do Núcleo de Pesquisa em Educação do Campo, Movimentos Sociais e Práticas Pedagógicas (NUPECAMP) da UTP. Tutora presen- cial do curso de Pedagogia. Sobre a autora Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Aula 1 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO 9 PARTE 1 | CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO PARA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE 11 PARTE 2 | BREVE HISTÓRICO SOBRE CURRÍCULO E EDUCAÇÃO DO CAMPO 16 PARTE 3 | ESCOLA, FAMÍLIA E COMUNIDADE NA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 21 Aula 2 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 25 PARTE 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO DO CAMPO 27 PARTE 2 | GESTÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 33 PARTE 3 | CONSTRUÇÃO COLETIVA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS DO CAMPO – PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES 37 Aula 3 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I 41 PARTE 1 | CURRÍCULO: IDENTIDADE DA ESCOLA E DO SUJEITO DO CAMPO 43 PARTE 2 | CONTEÚDOS E MATRIZES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 50 PARTE 3 | FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 56 Sumário Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Aula 4 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS 61 PARTE 1 | CICLOS DE FORMAÇÃO HUMANA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 63 PARTE 2 | PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA, ITINERÂNCIA E CASA FAMILIAR RURAL 72 PARTE 3 | AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 77 Aula 5 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II 81 PARTE 1 | ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NAS ESCOLAS DO CAMPO 83 PARTE 2 | PLANEJAMENTO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 90 PARTE 3 | INTERDISCIPLINARIDADE X RELAÇÃO TEORIA-PRÁTICA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 96 Aula 6 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADAS 101 PARTE 1 | CLASSES MULTISSERIADAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO E A EDUCAÇÃO DO CAMPO 103 PARTE 2 | PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO PARA CLASSES MULTISSERIADAS 107 PARTE 3 | ORGANIZAÇÃO DE UM CURRÍCULO INTEGRADO 111 Sumário Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Refletir sobre a concepção de educação para a transformação da sociedade, um breve histórico sobre o currículo e educação do campo e relação escola-família-comunidade na construção desse currículo. Objetivo: PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Aula 1 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 11 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e1 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO PARA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE O debate sobre a questão educacional no Brasil atingiu um mo- mento crucial. Nos últimos 15 anos, o acesso à educação foi ampliado consideravelmente, especialmente ao ensino superior. A atual presi- dente, Dilma Roussef, tomou posse de seu cargo com o slogan Pátria Educadora. O Plano Nacional de Educação entrou em vigor após inten- sos debates e muitos programas governamentais foram criados em prol da educação, como FIES, PROUNI, PRONERA, PRONATEC e Caminhos da Escola. Porém, uma vez que os problemas de ordem imediata, como ofer- ta de vagas e acesso à escola, passam a ser atacados com mais ênfase por parte das esferas governamentais, questões não tão evidentes – mas não menos importantes – passam a entrar na pauta dos educa- dores do país, tais como: “Qual a intencionalidade da nossa prática pedagógica?”, “Que sujeitos pretendemos formar?” ou “Pretendemos formar sujeitos?” Nos últimos anos, nota-se um aumento gradativo da inserção da iniciativa privada no sistema de ensino brasileiro. O projeto “Todos pela Educação” – uma parceria do Governo Federal com grandes gru- pos financeiros como o Itaú – propõe um suporte dainiciativa privada à educação pública no Brasil. O último grande montante de verbas federais para a educação – 10 bilhões de reais – teve 50% do seu valor destinado ao FIES, ou seja, à iniciativa privada. Só para se ter uma ideia, um dos maiores grupos privados ligado à educação, o grupo Anhanguera, tem no Brasil mais de 1 milhão de alunos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO12 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 1 Mas qual seria o problema de grandes empresas investirem na educação, frente às dificuldades que o Estado sempre enfrentou neste setor? Não seria justo que o setor privado retornasse parte de seus lucros em benfeitorias à sociedade? Certamente que sim. O problema é que empresas privadas sobrevivem da maior margem de lucro que possam obter em suas transações. No capitalismo globalizado e com- petitivo as grandes empresas que não procuram expandir suas áreas de interesse e, consequentemente, de lucro, são rapidamente absorvidas pelas rivais. Não existe altruísmo por parte dos grandes grupos econô- micos quando estes investem na educação do Brasil. Existe interesse em formar mão de obra qualificada para suprir as necessidades da in- dústria nos grandes centros urbanos e abrir espaço para o agronegócio no campo, por meio do esvaziamento das comunidades localizadas nas vastas áreas rurais do país. Esses objetivos ficam muito claros ao observarmos as recentes propostas e programas do Governo Federal para a educação no Brasil. No início do ano, a Secretaria de Assuntos Estratégicos, capitaneada pelo ministro Mangabeira Unger, publicou um documento encomen- dado pela própria presidenta, intitulado Pátria Educadora, que pro- punha, entre outros itens, a padronização nacional das avaliações de alunos e das cartilhas (isto num país de 200 milhões de habitantes divididos em centenas, talvez milhares de povos e culturas), metas para professores e diretores, segregação de alunos entre melhores e piores, bonificação para educadores que cumpram metas, financia- mento privado da educação pública, terceirização de educadores etc. Além do conteúdo claramente privatista, esse documento anularia o recém-aprovado Plano Nacional de Educação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 13 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e1 Evidentemente que o projeto Pátria Educadora foi duramente combatido pelos grandes pensadores da educação do país. Mas, perce- bem-se tentativas sorrateiras por parte do poder Legislativo de vali- dar tal documento de forma fragmentada, como o projeto Escola Sem Partido, que tramita na Câmara dos Deputados, o projeto Adote uma Escola, proposto na Assembleia Legislativa do Paraná e a tentativa de criminalização por parte da Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso do Sul, das escolas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra. Fica evidente que o rumo da educação pública no Brasil está in- timamente ligado às políticas econômicas adotadas pelas esferas go- vernamentais, ou seja, a educação é parte fundamental do projeto de sociedade pensado pelo Governo Federal. Infelizmente, nesse projeto de sociedade centrado na balança comercial, não cabe a formação de sujeitos conscientes de sua identidade e das contradições do meio em que vivem, mas sim, a preparação de cidadãos para darem conta das exigências das matrizes de produção e energéticas adotadas pelo Governo Federal. É justamente a esse projeto de homogeneização da sociedade, com foco no individualismo e na competitividade, que a concepção de educação do campo se contrapõe, ao propor uma pedagogia que vai além do espaço escolar e envolve toda a comunidade. Reforçando a identidade dos sujeitos, valorizando as relações de trabalho da co- munidade e expandindo o ensino para todo o meio de convivência dos alunos, a educação do campo procura não só formar sujeitos capazes de atuar de maneira consciente na sociedade, mas também capazes de fazer suas escolhas de maneira consciente. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO14 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 1 Extra Para compreender melhor a discussão acerca deste assunto, as- sista ao vídeo: Pedagogia da Alternância: trabalho, estudo e liberda- de, que contribuirá para o aprofundamento da concepção de educa- ção para transformação da sociedade, disponível em: <www.youtube. com/watch?v=RuO7nh-HxqM>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade O acesso à educação e a melhoria na qualidade da educação são pautas nas lutas de mobilização popular há muitas gerações no nosso país. De acordo com o texto, nos últimos 15 anos foram feitos inves- timentos significativos na área da educação e muitas carências deste setor foram superadas. Mas, mesmo assim, membros da comunidade acadêmica e os movimentos sociais acirraram suas críticas em relação à condução da educação no Brasil. Diante desse quadro contraditório aponte, de acordo com o texto, a(as) alternativa(as) correta(as). I. A mercantilização da educação pública por meio da inserção em massa da iniciativa privada tem como objetivo colocar em prática uma pedagogia que permitia a emancipação dos sujeitos formando cidadãos contestadores e conscientes das contradições do sistema no qual estão inseridos. II. A educação tem papel secundário no projeto de nação do Governo Federal, e a abertura desta para o empresariado evidencia esse fato. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 15 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e1 III. O projeto Patria Educadora e o programa Todos pela Educação evidenciam as intenções do Governo Federal de garantir, por meio da educação pública, mão de obra qualificada para su- prir as demandas das matrizes produtivas adotadas no país. a) I e II estão corretas. b) III está correta. c) I e III estão corretas. d) II e III estão corretas. Referências Caldart, Roseli S. O MST e a escola: concepção de educasção e matriz formativa. In: Boletim da Educação. n. 12. São Paulo: MST, 2014. ______. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012. Resolução da atividade Apenas a III está correta, pois certamente as empresas que par- ticipam do processo de mercantilização da educação pública no país visam os seus interesses e não a emancipação dos sujeitos pelo Brasil afora, e sendo essa mercantilização parte fundamental do projeto do Governo Federal (adotado como slogan do atual governo) não está em segundo plano, mas à frente do projeto de sociedade da nação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO16 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 2 BREVE HISTÓRICO SOBRE CURRÍCULO E EDUCAÇÃO DO CAMPO A educação do campo é fruto de um processo de luta e, sendo a educação uma das principais ferramentas de emancipação ou aliena- ção dos sujeitos, está inserida em um ambiente palco de constante disputa: a escola pública no campo.Historicamente, os povos do campo no Brasil sempre foram vistos como inferiores. Os sujeitos do campo – caboclo, indígena, quilombo- la, ribeirinho e tantos outros – são ainda hoje, para muitas pessoas, sinônimo de atraso cultural. Essa ideia foi reforçada ao longo de nossa história não apenas pela criação de estereótipos – como o Jeca Tatu, de Monteiro Lobato – mas principalmente por meio da educação públi- ca pensada para as áreas rurais brasileiras que nunca teve a intenção de emancipar estes sujeitos. Apesar de a educação estar presente nas constituições brasileiras desde 1824, as escolas localizadas no campo recebiam bases curricula- res que em quase nada se identificavam com a realidade dos alunos, e entendiam o sujeito do campo como carente e ignorante. “A educação se desenvolvia com o objetivo de proteção e assistência ao campo- nês.” (Paraná, 2006, p. 17). No início da década de 1980, quando a educação do campo co- meça a ser formulada e colocada em prática nos acampamentos e assentamentos das áreas de reforma agrária, em especial nos espaços do MST, o currículo das escolas localizadas no campo se torna protago- nista no debate a respeito da educação pública do campo e na disputa pelo espaço escolar, já que é no currículo que se projeta a intencio- nalidade da ação educativa, que deixa de ser mera instrução através Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 17 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e2 da perspectiva da educação bancária, para se tornar uma busca por emancipação dentro da concepção da educação do campo. O currículo da educação do campo deve não só partir da realidade em que o educando está inserido, mas valorizar e problematizar esta realidade. Partindo dessa perspectiva, devem-se abordar as relações sociais e atividades produtivas da comunidade em que a escola está inserida e como estas dialogam com a amplitude de relações externas, locais, nacionais e globais. A educação do campo não nega e/ou dimi- nui a importância do conhecimento científico e teórico construído pela humanidade, mas exige a valorização dos saberes e das identidades locais, e que estes se tornem – no currículo e na metodologia – o ponto de partida para o diálogo com o mundo. Como aponta Caldart: Nessa direção é que consideramos fundamental o vín- culo da escola com processos vivos (de trabalho, de cultura, de luta social) porque a materialidade e as contradições presentes nas questões da vida real po- dem ajudar a superar falsos dilemas do ponto de vista do nosso projeto formativo maior. E por isso é que não consideramos suficiente que a relação entre prática e teoria se reduza na escola a conversas sobre práticas realizadas ou projetadas para fora dela, em outro tem- po, outros espaços. (CALDART, 2010 p. 108) Durante a década de 1990, importantes passos foram dados na luta pela educação do campo com o acirramento da luta pela terra e o crescimento do MST, que em sua expansão levava consigo suas escolas, educandos e educadores e suas demandas por uma educação camponesa, forjada e pensada pelos camponeses. A base curricular é um dos principais campos de disputa, já que passa a ser pensada com Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO18 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 2 o intuito de trazer a tona as contradições sociais que historicamente marginalizam os sujeitos do campo. Em 1996, com a aprovação da LDB, uma importante vitória é con- quistada. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, em seu artigo 28, reconhece o direito universal à educação e contem- pla as especificidades dos povos do campo: Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino proverão as adaptações necessá- rias à sua adequação, às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I – conteúdos curricu- lares e metodologia apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural. (BRASIL, 1996). Em 2006, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná publica as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, propondo 4 eixos temáticos a serem trabalhados. De acordo com o documento, os eixos temáticos “são entendidos neste texto como problemáticas centrais a serem focalizadas nos conteúdos escolares.” E são os seguintes: tra- balho – divisão social e territorial; cultura e identidade; interdepen- dência campo-cidade, questão agrária e desenvolvimento sustentável; organização política, movimentos sociais e cidadania. Esses eixos temáticos possibilitam abordar conteúdos que proble- matizam dialeticamente a realidade dos alunos frente à sociedade. Permitem, também, a construção de um currículo com intencionalida- de pedagógica voltada para os interesses dos camponeses. A base curricular das escolas do campo deve ter este objetivo, permitir a formação de sujeitos conscientes das contradições em que estão inseridos e dispostos a dar continuidade a emancipação dos po- vos do campo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 19 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e2 Extra Para aprofundar conhecimentos sobre o breve histórico em rela- ção ao currículo e a educação do campo, assista ao vídeo Escola cur- rículo e mudança, do professor Miguel Arroyo, disponível em: <www. youtube.com/watch?v=S8n3hxG9HxE>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade A educação do campo demanda a construção de um currículo dife- renciado que privilegie as especificidades e identidades locais. Alguns passos importantes foram dados nesta direção ao longo da década de 1990 e no início do século XXI, como a LDB de 1996 e as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo no Paraná, em 2006. Tendo como base a trajetória do currículo na educação do campo proposta pelo texto anterior, assinale a alternativa correta. a) Para alcançar o projeto de sociedade proposto pela educação do campo é necessário que se crie uma base curricular co- mum à todas as escolas do país. b) O currículo adotado por materiais didáticos das áreas urbanas são ideias para as escolas do campo, pois trazem a realidade e a identidade urbana para comunidades isoladas e que ainda não conhecem o progresso. c) A valorização do sujeito do campo é foco de políticas públicas durante toda a história do Brasil, criando uma aura de supe- rioridade deste em relação ao sujeito urbano. d) Os eixos temáticos no currículo das escolas do campo devem abordar os chamados temas geradores, ligados à realidade dos alunos e que valorizem sua identidade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO20 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 2 Referências BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, Governo do Paraná, Curitiba, 2006. Caldart, Roseli S. O MST e a escola: concepção de educasção e matriz formativa. In: Boletim da Educação. n. 12. São Paulo: MST, 2014. ______. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012. Resoluçãoda atividade Sendo um projeto de sociedade, a educação do campo exige que o espaço de formação dos alunos se estenda para muito além do am- biente escolar e questione a comunidade em relação a que tipo de su- jeitos se pretende formar. Dessa forma, o currículo precisa problema- tizar a realidade dos alunos e valorizar a cultura e a identidade local. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 21 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e3 ESCOLA, FAMÍLIA E COMUNIDADE NA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO O currículo só se torna ferramenta fundamental da educação emancipadora quando traz a problematização da realidade. Dessa for- ma, não pode se limitar a teorias abstratas e conteúdos sem conexão com a realidade dos educandos. Na concepção de educação do campo o espaço educativo vai além da escola, se estendendo por todo o am- biente de convivência do educando, já que é justamente a sua existên- cia como sujeito social o objeto dessa educação. Portanto, o currículo deve estar diretamente ligado às relações sociais e produtivas da co- munidade em que a escola está inserida. Nessa perspectiva, ocorre a descentralização da educação em re- lação à escola, abrindo espaço para que outros ambientes formativos sejam considerados no processo educativo. A escola se mantém como espaço de debate e sintetização do conhecimento, assim como nú- cleo aglutinador da comunidade, que se ocupa do ambiente escolar também para fazer formação política, festividades, assembleias co- munitárias etc. Enquanto o processo educativo ocupa o espaço da co- munidade, a comunidade ocupa o espaço escolar. Caldart observa que “descentrar a educação da escola é para nós, pois, pressuposto para pensar a própria escola, especialmente se visamos a sua transforma- ção”. (CALDART, 2010). Ao passo que a comunidade e a escola comungam desta ação dialética, problematiza-se a intencionalidade pedagógica envolvida nessa relação. O Projeto Político Pedagógico e a base curricular de- vem expressar esta intencionalidade, devem demonstrar o propósito Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO22 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 3 dessa educação: Que sujeitos se pretende formar? Que sociedade se pretende construir? Se a escola se isola e não traz ou não permite a participação das famílias que compõem a comunidade na construção desse processo, não existe a educação libertadora. São as famílias que protagonizam as relações culturais e de trabalho dentro da comuni- dade, o espaço onde essas relações ocorrem e a forma como ocorrem caracterizam a comunidade e formam sua identidade. Por isso a edu- cação do campo exige que o processo educativo se estenda para todo o ambiente da comunidade e além, pois o cotidiano familiar e comuni- tário, as relações interpessoais e de trabalho, serão o ponto de partida para a problematização dos conhecimentos gerais. Daí a importância da elaboração coletiva da base curricular, envolvendo as famílias. Assim como apenas os membros de uma determinada comunidade têm propriedade para expor seus dilemas e demandas, apenas os mem- bros de uma determinada família são capazes de expor seus desafios particulares perante a comunidade. Dessa forma, a educação do cam- po coloca a educação, o trabalho, a cultura e a mobilização popular como partes integrantes de um só movimento, em vez de fragmentar a realidade como faz a educação bancária tradicional. Entende-se que esta fragmentação dos processos sociais também é uma ferramenta de alienação dos sujeitos, como aponta Caldart: Esta falsa separação tem levado a fragmentar a refle- xão e o trabalho pedagógico, especialmente dos edu- cadores das escola (em outra visão não seria admissí- vel pensar que a tarefa do professor possa se reduzir à transmissão de conteúdos de ensino). Todos os espaços com finalidades educativas realizam a totalidade do processo de educação, ainda que nem sempre de forma explícita e consciente. (CALDART, 2010) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 23 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e3 Portanto, a educação do campo, por ser emancipadora, deman- da o recuo da fragmentação dos processos sociais. É preciso que as relações comunitárias sejam vistas como inerentes umas as outras. E a construção do currículo escolar que irá direcionar a formação dos sujeitos da comunidade precisa envolver a todos e trazer em sua con- cepção elementos do cotidiano de todas as famílias e das inter-rela- ções entre elas, que formam o cotidiano da comunidade. A relação comunidade-escola se torna, então, um “termômetro” da qualidade da educação da comunidade, como apontou Pistrak: Se a população estima, ama sua escola, sua institui- ção infantil, é porque a instituição está à altura de sua tarefa social; caso contrário, temos a prova de que o trabalho da instituição está mal organizado pedagogi- camente. (PISTRAK, 1924) Assim pode-se concluir que no paradigma da educação do campo a educação transcede o ensino, a aprendizagem. Educação é sinônimo de formação humana integral e, dessa forma, escola, família e comu- nidade se tornam espaços formativos integrados e interdependentes. Extras Para aprofundar as reflexões expostas, assista ao vídeo 10 anos das Escolas Itinerantes do Paraná, disponível em: <www.youtube. com/watch?v=R0NCVGDPDyk>. Acesso em: 14 jan. 2016. Além disso, leia o artigo Escola do Trabalho uma Pedagogia Social: uma Leitura de M. M. Pistrak, escrito por Eliseu Santana sob a orientação de André Paulo Castanha, para a revista Educere at Educere em 2006, disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/ educereeteducare/article/view/1008/860>. Acesso em: 14 jan. 2016. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO24 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 3 Atividade De acordo com o texto, assinale a alternativa correta. a) A fragmentação dos processos sociais (relações familiares, relações de trabalho, educação) é fundamental na concepção de educação do campo, pois reforça a ideia de que a educa- ção deve se limitar ao espaço escolar. b) A base curricular deve dar ênfase ao conhecimento abstrato e teórico proposto pelos materiais didáticos tradicionais e evi- tar a relação do aprendizado com a realidade dos educandos. c) O currículo deve contemplar as especificidades familiares e comunitárias para formar sujeitos que valorizem sua identi- dade e estejam conscientes de seu papel na sociedade. d) À comunidade e às famílias cabe o papel de observadores passivos que aceitam, sem contestação, as decisões de peda- gogos e professores. Referências Pistrak, Moisey Mikhaylovich. Fundamentos da Escola do Trabalho. São Paulo: Expressão Popular, 2000. Caldart, Roseli S. O MST e a escola: concepção de educação e matriz formativa. In: Boletim da Educação. n. 12. São Paulo: MST, 2014. ______. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012. Resolução da atividade É necessário que o currículo contemple a identidade e a cultura da comunidade para que, partindo de si, o educando problematize os conteúdos gerais e perceba as contradições do sistema no qual está inserido, empoderando-se paratransformá-lo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Discutir sobre as políticas públicas e a educação do campo, a gestão escolar na educação do campo e a construção coletiva de seu projeto político pedagógico. Objetivo: CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Aula 2 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 27 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e1 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO DO CAMPO Assim como a própria concepção de educação do campo, as po- líticas públicas que contemplam este projeto societário são frutos da luta dos movimentos sociais do campo e educadores afins pela conso- lidação dos direitos constitucionais a eles atribuídos, em especial, o direito à educação. Durante a primeira metade do século XX, houve a preocupação por parte do governo em frear o êxodo rural fixando o camponês na terra e garantindo a ocupação das novas fronteiras agrícolas. Escolas foram abertas nas áreas rurais e o processo educativo foi vinculado ao movimento ruralismo pedagógico, que, apesar da preocupação em fixar o homem à terra, promovia uma educação tecnicista e não en- xergava o campo e seus sujeitos como produtores de cultura e conhe- cimento. De acordo com Souza “a preocupação no cenário de 1930, no contexto do ruralismo pedagógico, era com a superação do atraso cultural da população e ênfase nas técnicas para o trabalho agrícola.” (SOUZA, 2015, p. 5) A preocupação em adequar o campesinato às modernas técnicas agrícolas de produção, domina a educação para o campo durante as décadas de 1940 e 1950. Com a massiva mecanização da agricultura nas décadas de 1960 e 1970, se inicia o processo de “sucateamento” da educação no meio rural aliado à chamada educação rural, também de viés tecnicista e de exaltação dos valores urbanos. Ou seja, fecha- mento massivo de escolas localizadas no campo e educação rural nas que se mantinham abertas. O objetivo era – e ainda é até hoje – a ex- pulsão do camponês de sua terra e a abertura de espaço para o avanço do agronegócio. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO28 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 1 A partir da década de 1980, com a gradual abertura política e o retorno das mobilizações em massa de camponeses para reivindicar seus direitos, especialmente com a criação do MST, uma educação que valorize os sujeitos do campo e sua cultura também vai se tornando pauta nos debates. Com a mesma ênfase que demandam terra e refor- ma agrária, os movimentos camponeses passam a demandar o direito a uma educação que os represente. Com o debate sobre as experiências pedagógicas desenvolvidas nas áreas de reforma agrária já bem avançado, as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Básica de 1996 já passam a contemplar a educação do campo, mesmo utilizando ainda o termo educação rural. Em seu artigo 28 dispõe do direito a uma base curricular que parta das dife- rentes realidades e temporalidades regionais. Em 1997 realiza-se o I Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária, ENERA. Primeiro debate em larga escala sobre as experiências pedagógicas desenvolvidas em comuni- dades de povos tradicionais do campo. Nesse evento, oficializa-se o termo “educação do campo” para designar a educação emancipadora e de valorização da identidade dos povos do campo. É também resul- tado deste encontro o PRONERA, Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária. Pautado em 1997 pelo I ENERA, o PRONERA é ofi- cializado como política pública em 1998, e de acordo com dados da II Pesquisa Nacional de Educação na Reforma Agrária, até 2011 havia realizado 320 cursos, envolvendo 82 instituições, sendo “167 cursos de Educação de Jovens e Adultos Fundamental, 9 cursos de nível médio e 54 cursos de nível superior.” (SOUZA, 2015, p. 2). Surgem também Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 29 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e1 as Licenciaturas em Educação do Campo, vinculadas ao PRONACAMPO, Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo, com o objetivo de preparar profissionais para atuar nos espaços educativos que abraçam esta nova concepção de educação libertadora. Mas na atual conjuntura socioeconômica e política, em que um governo de viés progressista procura se equilibrar entre as demandas populares democráticas e as exigências do mercado globalizado, uma série de políticas públicas no âmbito da educação vem sendo sancio- nadas ou colocadas em pauta na contramão da proposta emancipa- dora e identitária da educação do campo. É o caso do projeto Pátria Educadora, do Governo Federal, que propõe padronizar currículos, sistemas de avaliação, material didático e formação docente por todo o país, negando a diversidade cultural dos povos que formam a so- ciedade brasileira. Propõe também a inserção massiva da iniciativa privada na educação pública, com direito até mesmo a delimitar o viés pedagógico das escolas públicas e estipular metas para professores, funcionários e alunos. Em relação à inserção da iniciativa privada na educação públi- ca, destaca-se o programa Todos pela Educação, também do Governo Federal, que estipula parcerias entre a iniciativa privada e o MEC, resultando em ações que já estão em andamento, como a adoção de li- vros didáticos para a educação básica formulados por empresas, tendo como exemplos os livros do programa Agrinho, do SENAR e programas de formação de professores do SEBRAE. Estes materiais didáticos pre- param as crianças para se enquadrarem às exigências do agronegócio Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO30 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 1 que estimula a aculturação da identidade camponesa, naturalizando a ideia de que a sociedade se resume às relações de mercado. De acordo com Silva: Quando a cultura transmuta-se em especialização do conhecimento e volta-se para atender quase que exclu- sivamente aos imperativos da profissionalização, esse processo conduz a uma diferenciação, porém, essa di- ferenciação, de caráter instrumental, impele os indi- víduos a não produção de consciência. A consciência, neste caso, manifesta-se de forma igualmente instru- mental. (SILVA, 2010, p. 293) Nesse contexto, o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra, berço da educação do campo, percebeu a necessi- dade de realizar o II Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária, o II ENERA, 18 anos após a realização do primeiro. A principal pauta do encontro foi o enfrentamento às políticas pri- vatistas da educação pública com especial atenção para as escolas localizadas no campo. Denunciou-se o fechamento massivo das escolas localizadas no campo – 37 mil nos últimos 15 anos – e a tentativa de imposição da educação rural nos programas e políticas públicas volta- das para a educação do campo. Como resultado, o então Ministro da Educação Janine Ribeiro assinou a criação de um Grupo de Trabalho no MEC para investigar e frear o fechamento de escolas localizadas no campo.Mas, menos de um mês após o II ENERA, Janine Ribeiro foi substituído pelo atual Ministro Antonio Mercadante, colocando em dú- vida a continuidade da iniciativa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 31 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e1 Portanto, o espaço escolar e o projeto de sociedade para o campo no Brasil é um campo de disputas entre movimentos sociais e entida- des da sociedade civil organizada e a iniciativa privada representada por grandes grupos empresariais e o agronegócio, que vinha sendo he- gemônico até o fim da ditadura militar e, desde então, vem tendo que combater não só as demandas populares por reforma agrária e direitos já adquiridos, mas também a retomada das mobilizações em massa dos sujeitos do campo, que exigem uma educação formulada por eles e que permita a continuidade de suas lutas. Extra Acesse o vídeo disponível em: <www.youtube.com/watch?v=Cn- JcYGiaiHU> e assita uma breve entrevista com a Coordenadora Geral de Educação no Campo e Cidadania do Incra, Clarice dos Santos, ex- pondo os resultados do PRONERA – Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária. Importante material para refletir acerca das lutas e disputas por uma educação pública e de qualidade no campo e do campo. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade De acordo com o texto “Políticas Públicas e a Educação do Campo”, a educação para a realidade do campo no Brasil vem sendo um campo de disputas entre dois projetos distintos de sociedade que se configuram em duas propostas educacionais antagônicas. Quais são elas e o que cada uma propõe? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO32 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 1 Referências SOUZA, Maria Antônia de. A Educação do Campo no Brasil. Texto impresso. Curitiba, set. 2015. SILVA, Mônica Ribeiro da. Concepções de educação, currículo e reformas educacionais: elementos para pensar a educação do campo. In: Educação do Campo em Movimento: Teoria e prática cotidiana. Curitiba: Editora UFPR, 2010. v. 1. p. 289-310. Resolução da atividade As propostas são a educação do campo, que traz uma visão eman- cipadora da educação, que parta da materialidade da realidade dos sujeitos e valorize sua identidade; e a educação rural, de viés tecni- cista e homogeneizador, que busca a valorização dos valores urbanos para promover o esvaziamento do campo e também garantir mão de obra qualificada para as demandas da indústria e do agronegócio. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 33 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e2 GESTÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DO CAMPO A educação do campo é um processo de formação humana e um projeto de sociedade fundamentada no princípio da emancipação, va- lorização dos sujeitos e do conhecimento construído no campo. É uma concepção de educação construída a partir da realidade dos sujeitos que dela participam, portanto, pressupõe a gestão democrática da escola. A gestão democrática está presente nas diretivas municipais, es- taduais e federais de educação, que exigem, entre outras coisas, elei- ção direta de diretores, participação da comunidade escolar nas deci- sões da instituição etc. Mas nem sempre esses processos democráticos resultam em gestões de fato democráticas, com a participação efetiva de toda a comunidade escolar. Souza e Tavares (2010) apontam para o fato de que a eleição democrática de dirigentes, por exemplo, não costuma estender a administração das instituições para a comunidade. O diretor se elege pelo voto direto e não consulta mais a sua base até a próxima eleição. A própria base que forma a comunidade escolar não costuma exercer seu papel participativo por puro comodismo ou desconhecimento do que é gestão participativa. De acordo com Souza e Tavares: Porém, na prática ainda há problemas com a concep- ção de democracia ou com a forma como as pessoas a enxergam e entendem. Senão vejamos o caso da ges- tão escolar: na maioria das escolas públicas onde são realizadas eleições para compor o seu quadro dirigen- te, encontramos professores, funcionários, alunos e seus familiares que reconhecem na diretora não uma Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO34 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 2 representante da comunidade escolar, mas alguém que possui o poder de decidir tudo ao seu modo e, pior, não observam aí um grande problema, uma vez que avaliam que a elegeram exatamente para isso: para fazer por eles! (SOUZA e TAVARES, 2010, p. 325). É esse tipo de incoerência que a proposta da educação do campo procura corrigir quando envolve toda a comunidade no processo edu- cativo e, principalmente, quando estende o espaço de formação para todo o espaço da comunidade. Na educação do campo a comunidade também vai até a escola, “também” porque a escola já ocupou os es- paços da comunidade. Dessa forma, se torna mais fácil garantir a participação efetiva das famílias e funcionários na gestão escolar. Lembrando que, mesmo nas comunidades onde a educação do campo já se encontra num está- gio avançado, esses processos ainda estão sendo consolidados, pois a concepção de educação do campo, assim como as diferentes realida- des onde está inserida, está em constante mutação, ou seja, em um constante processo de construção. As escolas do campo (do campo no sentido de que adotam de fato a educação do campo e não por estarem apenas localizadas no campo) desenvolvem diferentes propostas de gestão democrática e participa- tiva, que funcionam com maior ou menor eficiência de acordo com a realidade local. Destacam-se entre essas propostas as assembleias da comunidade escolar, reunião de membros da comunidade para deba- ter a educação local; os conselhos de escola, conselho permanente de deliberação formado por membros da comunidade; rotatividade no quadro pedagógico. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 35 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e2 Nas comunidades onde a conquista da escola é resultado de um processo de lutas por direitos, a gestão democrática costuma ser mais efetiva. Em escolas como a do Quilombo João Surá, em Adrianópolis, Região Metropolitana de Curitiba, a comunidade participa cotidia- namente da vida escolar e do processo de construção do PPP, assim como participou da luta para que o Quilombo recebesse sua escola. Nos acampamentos e assentamentos do MST, o Setor de Educação da comunidade mantém o debate da educação de forma permanente, e nas escolas do MST os alunos participam de todas as estâncias adminis- trativas, inclusive financeiras, desde a mais tenra idade. Conclui-se, portanto, que assim como todos os processos escolares na educação do campo, a gestão escolar também vem de um contexto de constante luta e construção, já que para ser efetivada como propõe a concepção emancipadora e conscientizadora, precisa derrubar pre- conceitos e discursos construídos e consolidados na cultura tecnicista e hierárquica da era industrial. Daí o caráter libertador da educação do campo, pois não são apenas educadores e educandos que tomam consciência das contradições que oscercam. Ao compreender melhor os processos democráticos da gestão participativa, toda a comunidade se emancipa. Extras Assista a aula sobre Gestão Democrática na Escola, com o profes- sor Vinicius de Almeida, tendo como referência o pensamento do pro- fessor Vitor Paro. Importante material de análise para a compreensão do conceito de Gestão Democrática. Acesse o vídeo pelo link: <www. youtube.com/watch?v=LKZzPNRVdmg>. Acesso em: 14 jan. 2016. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO36 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 2 Além disso, leia o artigo Gestão democrática e educação do campo, do professor Fernando José Martins, que discute a gestão democrática, princípio da educação do campo, disponível em: <http://seer.ufrgs.br/ index.php/rbpae/article/view/36145/23333>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Como se propõe a gestão democrática na educação do campo? Cite exemplos de inciativas participativas na gestão escolar. Referência SOUZA, Ângelo Ricardo de; TAVARES, Tais Moura. Gestão de Educação e da Escola: possibilidades de democratização. In: Educação do Campo em Movimento: Teoria e prática cotidiana. Curitiba: Editora UFPR, 2010. v. 1. p. 289-310. Resolução da atividade Com a participação efetiva da comunidade no dia a dia da escola e não apenas nos processos de eleição de dirigentes. Como exemplos de iniciativa temos as assembleias da comunidade escolar, os conse- lhos de escola e a rotatividade no quadro pedagógico. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 37 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e3 CONSTRUÇÃO COLETIVA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS DO CAMPO – PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES Assim como outras propostas democráticas na gestão das escolas públicas, a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico (PPP) também costuma enveredar por caminhos que aparentam participação efetiva da comunidade, mas, na verdade, acabam por reproduzir as relações burguesas na escola (entendendo-se por relações burguesas a dinâmica hierárquica industrial capitalista). Desse modo, é comum os dirigentes escolares considerarem como processo de construção coletiva do PPP o envio de questionários para os pais de alunos preencherem em casa e devolverem à escola. Avaliando as respostas da comunidade, o PPP é elaborado pela equipe pedagógica e docente da instituição escolar. Esse processo não se ca- racteriza como participativo, pelo contrário, está muito longe disso, já que as reais demandas da comunidade não são observadas. E mesmo este processo supostamente democrático, costuma ser ignorado por muitas redes de ensino, que encomendam a elaboração dos PPPs de empresas especializadas no ramo ou constroem um PPP padrão para todas as escolas da rede. O Projeto Político Pedagógico determina o direcionamento do trabalho docente, relação comunidade-escola, papel de funcioná- rios, alunos, professores etc. Ou seja, é a alma da escola. Dentro de uma concepção de gestão democrática e participativa como propõe a educação do campo, a construção deste importante documento deve Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO38 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 3 partir da comunidade onde a escola está inserida, já que o objetivo da educação emancipadora é a transformação social. As demandas da comunidade e de seus sujeitos, sua cultura e identidade, só podem ser externalizadas por eles mesmos. Por isso, dentro do paradigma da educação do campo a construção coletiva do PPP se coloca como exigência para garantir a conscientização de toda a comunidade como sujeitos históricos inseridos num contexto de con- tradições. Como aponta Trojan: Além disso, é importante considerar a situação concre- ta dos alunos como referência e ponto de partida, pois, só assim poder-se-á superar a universalidade abstrata do direito, buscar o universal concreto e superar o falso dilema entre geral (internacional, nacional) e particu- lar (regional, local, cidade e campo). (TROJAN, 2010, p. 346) As experiências de construção coletiva de PPPs mostram que não é um processo simples e fácil, passível de ser concluído dentro dos cur- tos prazos geralmente estipulados pelas secretarias e núcleos regionais de educação. No município de Tijucas do Sul, Região Metropolitana de Curitiba, a construção coletiva dos Projetos Político Pedagógicos nas escolas da rede municipal de ensino (que conta com 15 escolas do campo) já se prolonga por dois anos, sem perspectivas de término em curto prazo. Fato encarado pela comunidade escolar do municí- pio como um fator positivo, que evidencia que as escolas municipais estão realmente em processo de construção da educação do campo. Para ilustrar a complexidade do processo, as professoras de uma das escolas isoladas da área rural de Tijucas do Sul, relataram que terão Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 39 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e3 de reescrever boa parte do PPP que está em andamento, pois a reali- dade da comunidade sofreu significativas mudanças nestes dois anos. A mesma situação é relatada por outras comunidades tanto de Tijucas do Sul quanto de outras escolas do campo da Região Metropolitana de Curitiba, onde se observa o encaminhamento do debate em relação à educação do campo. Portanto, nota-se que debates, reflexões e, obviamente, confli- tos, são inerentes à construção do projeto de sociedade proposto pela educação do campo. Disputas políticas locais sempre interferem nes- ses processos, seja de forma positiva ou negativa. A luta pela garantia de direitos e participação popular na construção da educação pública que queremos não se limita à garantia do acesso à escola nas comuni- dades do campo, mas perpassa todos os processos de gestão escolar e comunitária. Extras O vídeo indicado a seguir apresenta a visão freireana da construção e do objetivo do PPP. Apesar de breve, é um importante material para a percepção do que é, na prática, a participação de toda a comunidade es- colar no processo de construção do PPP. Acesse o vídeo pelo link: <www. youtube.com/watch?v=rLut4qSuonY>. Acesso em: 14 jan. 2016. Além disso, leia a dissertação Reestruturação do Projeto Político Pedagógico das Escolas Localizadas no Campo no Município de Tijucas do Sul, da professora Rosana Aparecida da Cruz, que trata do percurso do trabalho para a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico das escolas localizadas no campo de um município do Paraná. Disponível em: <http: tede.utp.br/tde_busca/arquivo.php?- codArquivo=713>. Acesso em: 14 jan. 2016. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO40 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 3 Atividade Qual a importância da construção coletiva do Projeto Político Pedagógico dentro do projeto de sociedade da educação do campo? Referência TROJAN, Rose Meri. A organização pedagógica do Ensino Fundamental e a Educação do Campo. In: Educação do Campo em Movimento: teoria e prática cotidiana. Curitiba: Editora UFPR, 2010. v. 1. p. 331-349. Resolução da atividade A participação da comunidade na construção do PPP na educação do campoé fundamental, pois só os sujeitos que compõem a comuni- dade podem externalizar com precisão suas demandas e anseios, e o PPP, como norteador do trabalho pedagógico, deve refletir as necessi- dades da comunidade onde a escola está inserida. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Refletir sobre a identidade da escola e do sujeito do campo, conteúdos e matrizes pedagógicas, e formação de professores da educação do campo. Objetivo: MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Aula 3 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 43 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e1 CURRÍCULO: IDENTIDADE DA ESCOLA E DO SUJEITO DO CAMPO A educação do campo é o resultado de mobilização e contesta- ção dos próprios trabalhadores do campo, um projeto de formação humana de visibilidade àqueles que vinham lutando dentro do próprio espaço de sobrevivência, por dignidade. Essa perspectiva de constru- ção histórica pode e deve ser inclusa dentro do currículo escolar do campo, pois apresenta o resultado das lutas, contra hegemônicas, da sociedade civil organizada para efetivação dos direitos sociais, dentre eles: acesso e permanência a uma educação de qualidade em todos os níveis da educação básica e do ensino superior. A educação do campo é uma concepção de homem e sociedade incorporada a partir da organização dos movimentos dos trabalhado- res rurais sem terra, ou seja, foi construída pelos próprios sujeitos do campo que foram excluídos e subalternizados. Por esse panorama, Caldart (2004) diz que: [...] a Educação do Campo faz o diálogo com a teoria pedagógica desde a realidade particular dos campo- neses, mas preocupada com a educação do conjunto da população trabalhadora do campo e, mais ampla- mente, com a formação humana. E, sobretudo, trata de construir uma educação do povo do campo e não apenas com ele, nem muito menos para ele. (CALDART, 2004, p. 12). Há grandes desigualdades presentes no campo, há lutas de classes e também contradições, que são visíveis e perceptíveis para aqueles Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO44 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 1 que lá buscam sobrevivências, pois a educação do campo se constitui a partir de uma contradição que é a própria contradição de classe no campo (CALDART, 2004, p. 13). Essas contradições precisam estar pre- sentes nos encaminhamentos didáticos dos professores em confronto com os conteúdos. Os alunos percebem as desigualdades na qual con- vivem, mas, muitas vezes não têm argumentos críticos de contestar tal realidade, pois estas precariedades neutralizam-se. Um trabalho pedagógico que traz no cerne de sua concepção um fazer crítico, permite a compreensão concreta da realidade. Os con- teúdos historicamente produzidos tornam-se, então, ferramenta fun- damental para a transformação social. Na educação do campo os sujeitos não são apenas sujeitos e sim sujeitos de direito. Nesse sentido, nega-se o assistencialismo ou a tro- ca de favores, pois a esfera governamental tem o dever de garantir a qualidade e os serviços necessários para uma vida digna, com as especificidades necessárias que atendam às demandas em que os su- jeitos se inserem. Portanto, para a educação do campo é necessária a contestação da realidade precária com luta por melhores condições e exigência de seus direitos, os sujeitos organizados em coletivo têm condições para isso. Nos princípios da educação do campo é necessário considerar os elementos: identidade da escola e identidade do sujeito no desenvol- vimento do currículo. No Caderno do ano VIII n.º 1 da Escola Itinerante do MST, que traz histórias, projetos e experiências de luta pela edu- cação de qualidade aos povos do campo podemos observar o que o currículo significa: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 45 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e1 O currículo procura responder as perguntas inquietan- tes e latentes que surgem, tais como: o que ensinar e aprender? Como fazer isso? Quando é o momento? Como, por que, com quem e quando avaliar? Como pla- nejar? As respostas não estão prontas e não se encon- tram somente no currículo, mas no projeto de socieda- de que estamos dispostos a construir – uma sociedade socialista. (MST, 2008, p. 27). Percebe-se, com a contribuição da citação acima, quantos questio- namentos o currículo possibilita para o repensar da escola que se tem, em busca de um projeto transformador, questionador e emancipador. Outra contribuição importante, para a interpretação do currículo que contextualize o lugar, a comunidade e os sujeitos é compreender que: Currículo é a descrição e a concretização do que a escola deve realizar no contexto do campo. Neste caso, ainda, é um enfoque histórico na perspectiva da construção das escolas públicas do campo. Currículo é prática, é expres- são da função socializadora e cultural da instituição es- cola, a qual estamos (re)significando. A cara do povo do campo precisa estar na escola e em seu currículo, para que possamos assegurar aos camponeses a aquisição da experiência social historicamente acumulada e cultural- mente organizada. (MST, 2008, p. 26) As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo de 2002 em seu artigo 2.º expressa que: Estas Diretrizes, com base na legislação educacional, constituem um conjunto de princípios e de procedi- mentos que visam adequar o projeto institucional das Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO46 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 1 escolas do campo às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e Médio, a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial, a Educação Indígena, a Educação Profissional de Nível Técnico e a Formação de Professores em Nível Médio na modalidade Normal. Parágrafo único. A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos mo- vimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade so- cial da vida coletiva no país. (BRASIL, 2002, grifo nosso) No parágrafo único desse mesmo artigo o campo é concebido pela sua identidade, voltando-se às singularidades, ou seja, reconhece-se que há várias especificidades, o campo é composto de várias cultu- ras, várias peculiaridades, que devem ser respeitadas, valorizadas e incorporadas para dentro do currículo para que tenham significado no contexto em que se insere. O ponto determinante para organização do currículo da educação do campo, é voltado para o reconhecimento da diversidade presente nessas comunidades. O currículo necessita ter uma contextualização sobre a realidade, sobre as intenções da comunidade, sobre as metaspara transformar tais fragilidades, para isso, precisa ser construído coletivamente pelos próprios sujeitos da escola. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 47 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e1 Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo de 2006: [...] Valorizar a cultura dos povos do campo significa criar vínculos com a comunidade e gerar um sentimen- to de pertença ao lugar e ao grupo social. Isso possibili- ta criar uma identidade sociocultural que leva o aluno a compreender o mundo e transformá-lo. (PARANÁ, 2006, p. 38). Educação do campo é uma concepção em movimento, assim é preciso construir esse projeto atendendo todas as especificidades para a emancipação dos sujeitos. A educação do campo é um projeto popu- lar de sociedade, que reúne a classe trabalhadora como condição de transformação social. Para uma escola atender às demandas da educação do campo, precisa superar a concepção da educação rural. Este processo de (re)conceptualização precisa ser cuidadoso. O que se tem visto são al- gumas escolas apenas trocando a nomenclatura, porém permanecendo com a concepção da educação rural. As propostas defendidas pela concepção de uma educação eman- cipadora, coerente com a efetivação da dignidade, que refute as de- mandas do modo de produção capitalista, são pautadas em uma gestão democrática que organize os espaços educativos, levando em conta a coletividade, que faça o chamamento da comunidade escolar, dos professores, alunos, pais, secretaria municipal, movimentos sociais. A escola aqui não é entendida como mais um espaço do campo, e sim a totalidade que interfere e transforma a realidade, a escola é o lugar de todos e logo, direito de todos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO48 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 1 Extra Para aprofundar as reflexões iniciadas nesta aula, leia o artigo Educação do Campo: notas para uma análise de percurso, escrito pela autora Roseli Salete Caldart. O artigo apresenta a educação do campo numa dimensão política e indica perspectivas que contribuirão para problematizar a escola, currículo e identidade do sujeito do cam- po. O texto está disponível no link: <www.scielo.br/pdf/tes/v7n1/03. pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Tendo em vista as discussões suscitadas nesta parte, escreva um texto argumentando a seguinte problematização: como seria, na prá- tica, a materialização de uma escola vinculada aos princípios da con- cepção de educação do campo? Referências BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB n. 1, de 3 de abril de 2002. Institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Diário Oficial da União, Brasília, DF: Poder Legislativo, 9 abr. 2002. CALDART, Roseli Salete. Por Um Tratamento Público da Educação do Campo. In: MOLINA, Mônica Castagna; JESUS, Sonia Meire Santos Azevedo de (Org.). Por uma educação do campo: contribuições para a construção de um projeto de educação do campo. Articulação nacional por uma educação do campo. Brasília, DF, 2004. p. 54-73. MST. Escola itinerante do MST: História, Projeto e Experiências. In: Caderno da Escola Itinerante, Curitiba: MST, Ano VIII – n. 1, abr. 2008. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. Curitiba, 2006. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 49 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e1 Resolução da atividade As propostas defendidas pela concepção de uma educação eman- cipadora, coerente com a efetivação da dignidade, que refute as demandas do modo de produção capitalista, são pautadas em uma gestão democrática que organize os espaços educativos, levando em conta a coletividade, que faça o chamamento da comunidade escolar, professores, alunos, pais, secretaria municipal e movimentos sociais. A escola aqui não é entendida como mais um espaço do campo, e sim a totalidade que interfere e transforma a realidade, a escola é o lugar de todos e logo, direito de todos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO50 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 2 CONTEÚDOS E MATRIZES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO As matrizes pedagógicas da educação do campo dão visibilidade a uma formação que imprima a emancipação humana. Arroyo (2010) con- tribui com essa discussão quando traz as matrizes pedagógicas como eixo de trabalho para se construir o processo educativo no campo. Essa prática permite o trabalho com os conteúdos de forma significativa, para a efetivação da função social do conhecimento: emancipar os sujeitos. As matrizes são: trabalho, terra, cultura, vivência da opressão e movimentos sociais. Arroyo afirma que trabalhar com esses temas “nos remete à existência de um núcleo fecundante, de um processo estru- turante e conformante de nossa formação-humanização como gente, como sujeitos humanos, não tanto no plano biológico, mas sobretudo no plano sociocultural, educativo” (ARROYO, 2010, p.38). Arroyo explica que utilizar o trabalho como matriz formadora: Não é apenas o atrever-nos a pensar que nos liberta, mas é o trabalho que nos constitui, é o trabalho que é a grande matriz formadora dos seres humanos. O próprio conhecimento que foi acumulado ao longo da história tem sua origem no trabalho. Conhecimento não nasce pelo conhecimento, como se fosse uma flor, que nas- ce solitária. O ser humano não produz conhecimento e ciência pelo conhecimento apenas. Neste sentido o trabalho, é a forma de produzir a vida, é que vai exigir Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 51 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e2 conhecer a natureza, conhecer a sociedade, produzir a cultura, convívios e até conflitos. E deste processo (o trabalho) que vai surgir o conhecimento, a ciência, os valores, as civilizações etc. Esse seria o sentido de dizer que o trabalho é uma matriz formadora não dos indivíduos, mas das sociedades. (ARROYO, 2010, p. 41) O autor ainda traz como exemplo a experiência de vida dos alunos frente às demandas de trabalho, que podem ser consideradas na cons- trução da aprendizagem: [...] Agora imaginem a diferença de começar a discutir, por exemplo, o espaço primeiro tentando ver, conhecer, como aqueles adolescentes, crianças, jovens ou adultos, se vinculam com o espaço, com a produção dele lutando contra a expulsão da terra, seja na relação com o espa- ço ocupado, a terra, esse adolescente, essa criança, esse sem-terrinha que acompanhou, desde pequeno, seus pais lutando, seu coletivo lutando pela terra, ele foi produzido no espaço e produzindo, concomitantemente, uma ima- gem do espaço, uma vivencia, um saber sobre o espaço. (ARROYO, 2010, p. 42). Arroyo considera que o trabalho é o eixo da própria existência humana, o homem ser pensante, transforma a natureza em função das suas necessidades básicas com um trabalho intencional e planejado, trazessa relação com autores clássicos como Marx, e entende que temos que superar nossa visão idealista e ingênua de que ao dialo- gar sobre a exploração, o sujeito responderá à exploração. Por isso, o trabalho como matriz pedagógica deve ser construído a partir das condições concretas que o próprio aluno vive (ARROYO, 2010, p. 43). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO52 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 2 Arroyo ainda indica que temos que [...] assumir a responsabilidade de formar educadores e educadoras do campo explorando os estreitos vín- culos com os processos de produção e de trabalho no campo [...], isso significa ter o trabalho como princípio formador e educativo. (ARROYO, 2010, p. 45). A terra é aspecto relevante do trabalho como matriz pedagógica, pois: [...] é um campo de resistências, de vivências de ex- pulsão, de lutas pela terra, pela produção familiar, camponesa, pelo espaço da vida. A pedagogia da terra tem que pesquisar as potencialidades formadoras que acontecem na especificidade dos modos de produção agrícola e, sobretudo nas tensões, lutas e resistências do campo. [...] toda pedagogia escolar para ser peda- gogia da terra tem de estar enraizada em um projeto de campo. Aí encontrará raízes fecundas. (ARROYO, 2010, p. 47). Arroyo alerta que há um demérito na utilização da cultura para a organização do trabalho pedagógico frente às possibilidades que a mesma apresenta. Segundo o autor [...] na escola, a cultura, quando entra, entra mal, [...] aparece como recurso de aprendizagem, como uma fes- ta, como uma distração. Aí não percebemos os estreitos vínculos entre cultura e conhecimento”. (ARROYO, 2010, p. 48). Arroyo explica que: A cultura seria a grande matriz onde essa riqueza de civilizações, identidades, de autoimagens, de signos, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 53 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e2 de valores, de linguagens foi produzida. O direito à educação é o direito à herança cultural. É na cultura que nós produzimos a grande matriz que nos confor- ma. [...] Não percebemos que os processos educativos estão muito mais colados aos processos de construção de valores, identidades, conhecimentos, aos processos culturais, socializadores. [...] É que a escola normal- mente se preocupa mais pelo campo dos chamados co- nhecimentos, as competências, a mente, e esquece de formar as identidades, o sujeito ético, o sujeito esté- tico, corpóreo, o sujeito imaginário, o sujeito de emo- ções, de memória. (ARROYO, 2010, p. 40-50) Sobre a vivência da opressão como matriz pedagógica, Arroyo, dialoga com a teoria de Freire – pedagogia do oprimido; e indica que os oprimidos precisam ter consciência da sua opressão para então se tornarem sujeitos libertados. Se não for discutido à própria condição de oprimidos num contexto de opressores não há emancipação. Nesse ensejo, vem a última matriz pedagógica proposta por Arroyo, que é o trabalho com os movimentos sociais. Arroyo escreve que “os movimentos como provocadores de uma dinâmica social, po- lítica e cultural que produzem, conformam novos sujeitos coletivos sociais, políticos, culturais” (ARROYO, 2010, p. 52). Assim explica que os movimentos sociais, protagonistas da visibili- dade da educação do campo “têm provocado o avanço da consciência e da garantia dos direitos” (ARROYO, 2010, p. 52), há diferença de a própria classe lutar pelos seus direitos, pois esses direitos certamente serão voltados ao próprio coletivo de sujeitos que defenderão suas demandas. Lutar para os movimentos sociais é sinônimo de conquistar um espaço digno de sobrevivência. Arroyo escreve que: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO54 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 2 A luta não é um mero instrumento para a conquista de direitos, mas ela per se é pedagógica, é formadora dos coletivos em luta e da sociedade, das estruturas e culturas, dos valores. A luta liberta, conscientiza, poli- tiza, transforma a sociedade e os coletivos humanos. É pedagógica. (ARROYO, 2010, p. 52) Entende-se que incorporar essas matrizes na organização do tra- balho pedagógico é saber que esses temas estão enraizados na con- cepção de educação crítica de campo e que certamente irão resultar numa emancipação do sujeito da aprendizagem. A formação humana está no centro dessas matrizes pedagógicas. Ao trabalhar a própria experiência dos sujeitos é possibilitar que ele entenda sua realidade como resultado de um processo histórico que é dialético, ou seja, sua ação (intencional e planejada) poderá transformar a história que está em movimento. Extra Assista ao vídeo Porque falar sobre as matrizes pedagógicas, do professor Miguel Arroyo. Esse vídeo o ajudará compreender a relevân- cia das matrizes pedagógicas nas escolas do campo e a importância de articulá-las aos conteúdos escolares. Disponível em: <www.youtube. com/watch?v=QtJL9o4TZ1A>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Arroyo (2010) indica, como matriz pedagógica, o trabalho sobre os movimentos sociais. De que forma essa matriz pedagógica contribui para a emancipação dos sujeitos? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 55 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e2 Referência ARROYO, Miguel Gonzalez. As matrizes pedagógicas da educação do campo na perspectiva da luta de classes. In: Educação do Campo em Movimento. MIRANDA, Sônia Guariza; SCHWENDLER, Sônia Fátima (Org.). 2. ed. Curitiba, UFPR, 2010. Resolução da atividade Os movimentos sociais, protagonistas da visibilidade da educação do campo “tem provocado o avanço da consciência e da garantia dos direitos” (ARROYO, 2010, p. 52), há diferença de a própria classe lu- tar pelos seus direitos, pois esses direitos certamente serão voltados ao próprio coletivo de sujeitos que defenderão suas demandas. Lutar para os movimentos sociais é sinônimo de conquistar um espaço digno de sobrevivência. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO56 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 3 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Para compreender a realidade e organizar o trabalho a partir do lugar que vivem, a educação do campo defende que os professores sejam moradores da própria comunidade escolar, pois vivenciam os mesmos paradigmas que os alunos e podem configurar a escola num ambiente de discussões e organizações para transformar a realidade. O professor é o mediador da concepção de educação do campo, ele precisa compreender os processos contraditórios substanciais da comunidade. O professor tem um papel fundamental, é o protagonista da educação. Não é nele que a concepção de educação do campo res- ponsabiliza os resultados, mas é com ele que se organiza, para a trans- formação social. Para que a escola traduza a realidade vivida pelos alunos e confronte com os conhecimentos historicamente produzidos é necessário
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