Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O CONTROLE DE QUALIDADE DE FÁRMACOS 1 - INTRODUÇÃO A análise de medicamentos é realizada rotineiramente pelos laboratórios da indústria farmacêutica por ser crucial para garantir a qualidade do produto e para maior segurança aos seus usuários. A adulteração e falsificação de medicamentos têm crescido significativamente com o aumento do consumo e da rentabilidade na área. Esse problema atinge o mundo todo e uma das formas de combatê-lo é detectando os produtos que não atendam às especificações de qualidade, sejam medicamentos com rótulo falso ou produtos de qualidade inferior. As adulterações em produtos farmacêuticos incluem a substituição do medicamento por placebos, que não contém nenhum princípio ativo, ou adulteração da quantidade do princípio ativo, reduzindo, e às vezes até anulando, o efeito do medicamento. Pelas diferentes conotações técnicas pode-se caracterizar os medicamentos da seguinte maneira: • Medicamentos falsificados: é uma reprodução intencional de um medicamento original, não cumprindo as normas; difícil distinguir por sua aparência similar ao medicamento original. • Medicamentos adulterados: é a alteração do conteúdo de um medicamento original, anulando sua qualidade e tornando-o impuro, resultando em um produto de características não genuínas. • Medicamentos alterados: é a mudança na forma farmacêutica, apresentação e concentração de um medicamento. Os medicamentos, na sua grande maioria, são formados por associações de princípios ativos além dos excipientes (substâncias utilizadas para dissolver ou apenas aumentar o volume de um medicamento, quando este está em quantidade muito pequena, difícil de ser manipulado), constituindo misturas cuja composição é intencionalmente diferente das misturas naturais. É necessário separar o princípio ativo de interesse para que se possa fazer a quantificação do mesmo. Uma das técnicas de separação muito utilizada é a extração com solvente, que é baseada na diferença de solubilidade entre o composto a ser extraído e os demais componentes presentes na amostra, em determinados solventes. Nos casos em que a solubilidade de componentes do excipiente e a do princípio ativo sejam similares, num conjunto variado de solventes, a extração por solvente não será adequada para proceder a separação. Neste caso, utiliza-se a chamada extração através de reações ácido-base, que se baseia na diferença de solubilidade em meio ácido e meio básico dos componentes a serem separados. Após realizar a reação ácido-base, utiliza-se a extração por solvente para separar o composto químico de interesse. Descrevendo de maneira simplificada, podemos dizer que a separação trata de isolar um ou mais componentes de uma mistura, utilizando alguma propriedade diferente que as substâncias presentes na mistura possuem entre si. A identificação trata do reconhecimento químico da(s) substância(s) isolada(s), buscando caracterizar esta espécie sob o ponto de vista da sua natureza química. A quantificação procura determinar, em termos relativos, qual a quantidade desta substância na mistura. Portanto a separação, a identificação e a quantificação são procedimentos distintos, mesmo que tenha relação entre si, a utilização delas faz parte do trabalho dos químicos. Qualquer uma destas três tarefas depende do tipo da mistura, ou seja, de sua composição e por isso não existe um procedimento único e universal, sendo necessário que o químico faça o planejamento deste trabalho. Neste experimento será realizada a separação dos princípios ativos presentes em um analgésico utilizando o método de separação por extração, baseado nas diferentes características ácido-base de seus constituintes: ácido acetilsalicílico, paracetamol e cafeína. 2 - OBJETIVOS Reconhecer o papel da Química no controle de qualidade de fármacos. Realizar a separação dos princípios ativos presentes em um analgésico utilizando o método de separação por extração quimicamente ativa. 3 – PARTE EXPERIMENTAL 3.1 - Materiais necessários 3.1.1 - Reagentes e Soluções 06 comprimidos de Cibalena (amostra) Clorofórmio CHCl3 (solvente para dissolução do comprimido) Ácido clorídrico 2,0 mol/L HCl (solvente quimicamente ativo) Bicarbonato de sódio sólido NaHCO3 (solvente quimicamente ativo) Sulfato de Magnésio MgSO4 (agente secante) Tetra-cloreto de carbono CCl4 (solvente de recristalização) Bicarbonato de sódio 0,5 Mol/L NaHCO3 (solvente quimicamente ativo) Etanol 95% C2H6O (solvente de recristalização) ATENÇÃO: A manipulação de clorofórmio e tetracloreto de carbono deve ser feita em capela devido à toxicidade e volatilidade dos mesmo. 3.1.2 -Vidrarias e Aparelhagens 01 almofariz 01 pistilo 03 espátulas 03 provetas 04 béqueres de 50mL 02 balões volumétricos de 50mL 02 frascos para armazenar amostra Papel de filtro 01 funil simples 01 funil de separação 01 funil de Büchner 01 balança 3.1.3 – Instalações Capela de ventilação para manipulação de reagentes voláteis 3.2 - Procedimento Triturar os 06 comprimidos de Cibalena em um almofariz com um pistilo de porcelana. Pesar aproximadamente 2,0g do comprimido macerado em um papel de filtro, utilizando uma balança. Transferir com cuidado esta massa para um béquer de 50 mL, dissolver a amostra adicionando 25mL de clorofórmio e agitar com um bastão de vidro (a solubilização não é completa). Colocar o funil de separação limpo e seco, com a torneira fechada, encaixado no suporte para funil (argola) que deve estar preso ao suporte universal (Figura 1). E em seguida transferir esta solução para o funil de separação para isso utilize um funil de vidro simples. Sobre a solução contida no funil de separação, adicionar 20mL da solução aquosa de ácido clorídrico 2 mol/L. Tampar a extremidade superior, retirar o funil fechado do suporte e agitar bem não esquecendo de aliviar a pressão, abrindo a torneira de vez em quando e fechando quando for agitar, conforme mostrado na figura 1 abaixo: Figura 1 – Funil de separação e forma correta de agitar e aliviar a pressão interna. Com a torneira fechada, colocar o funil de separação novamente no suporte e deixar em repouso para que as duas fases se separem completamente. Colocar um frasco sob a torneira do funil e deixar escoar a camada inferior (fase orgânica), abrindo a torneira com cuidado (Figura 2) para que a camada superior (fase aquosa) não passe para este frasco. Quando a fase superior se aproximar da torneira feche-a imediatamente. A fase orgânica recolhida no frasco contém o ácido acetilsalicílico e o paracetamol e a fase aquosa, que ficou no funil, contém a cafeína protonada. Figura 2 – Drenagem do conteúdo do funil de separação. A solução recolhida deve ser coberta com um filme plástico para evitar qualquer perda, pois os produtos estão dissolvidos em clorofórmio que ao evaporar muito rapidamente, poderá arrastar para fora do recipiente parte dos produtos de interesse para a análise. Em seguida, pese 3,5 g de bicarbonato de sódio sólido e adicione sobre a solução contida no funil, em pequenas porções, para neutralizar a fase aquosa (que contém a cafeína protonada). Feche a extremidade superior do funil, retire-o do suporte e com cuidado agite-o continuamente, aliviando a pressão de vez em quando, conforme feito anteriormente. Ao adicionar bicarbonato de sódio na fase aquosa, que contém a cafeína na forma protonada, haverá formação de gás carbônico (CO2) e se deve tomar cuidado com esse gás na hora de agitar o funil de separação, pois se a pressão não for aliviada, o gás pode se expandir podendo causaralgum acidente, como a quebra do funil de separação que é de vidro. Colocar o funil novamente no suporte e verificar se o pH da solução está básico mergulhando na solução uma tira de papel tornassol vermelho, se o pH estiver básico a fita se torna azul. Caso a solução ainda esteja ácida, adicionar mais bicarbonato de sódio sólido até o meio se tornar básico, repetindo sempre o procedimento de aliviar a pressão no funil. Após adição da base, a cafeína deve ser extraída com duas porções de 10 mL de clorofórmio, a cafeína terá preferência pelo solvente orgânico. Adicionar a primeira porção de 10 mL de clorofórmio no funil de separação, fechar a extremidade superior, agitar e aliviar a pressão. Deixar o funil em repouso para que as fases se separem, recolher a camada inferior (fase orgânica) repetindo o mesmo procedimento para a segunda porção de clorofórmio. Recolher estas duas porções de 10 mL de clorofórmio no mesmo frasco (o extrato orgânico contendo a cafeína) e adicionar sulfato de magnésio anidro sólido e agitar. Filtrar em um funil de vidro com papel de filtro, recolhendo o filtrado diretamente em um pequeno frasco de massa conhecida. Para obter a cafeína sólida é necessário evaporar o solvente e para isto o frasco, previamente rotulado e pesado (massa do recipiente), será deixado aberto para que o solvente evapore naturalmente. A evaporação completa deve ocorrer em aproximadamente dois dias, consultar o professor sobre em que local se deve deixar o recipiente para evaporação do solvente. Após a remoção do solvente, deixar o resíduo secar ao ar e determinar a massa novamente (massa do recipiente + cafeína). Anotar estes valores na tabela contida neste roteiro e calcular a massa de cafeína bruta obtida. Transferir a solução de clorofórmio reservada anteriormente, que contém ácido acetilsalicílico e paracetamol, para um funil de separação limpo e seco, adicionar 25mL de solução de bicarbonato de sódio 0,5 mol/L. Agitar bem a mistura, tomando o cuidado de aliviar a pressão do sistema. Agora, na fase orgânica, está o paracetamol, pois este continua tendo mais afinidade pelo clorofórmio do que pela água. Deixar a mistura em repouso até que se separe a camada orgânica inferior, que deve ser recolhida em um frasco à parte. Adicione sulfato de magnésio sólido neste frasco para retirar a água (da mesma forma que foi feito anteriormente). Filtrar a solução orgânica que contém o paracetamol diretamente para um pequeno frasco de massa conhecida. Para obter o paracetamol sólido deve-se evaporar o solvente naturalmente, o que ocorre em cerca de dois dias. Após a remoção do solvente, deixar o resíduo secar ao ar e determinar a massa de paracetamol sólido residual. Transferir a solução aquosa contida no funil para um pequeno béquer de 100 mL e adicionar, lentamente e com agitação, 5mL de solução de ácido clorídrico 2 mol/L para neutralizar o meio (verificar o pH da mistura, que deve estar ácido), até formar um precipitado branco. Para iniciar a precipitação do ácido acetilsalicílico coloque o béquer em uma bacia contendo gelo, o que irá acelerar a precipitação. Outra informação importante é em relação ao pH da solução, que após adição do ácido deve estar entre 3,0 e 4,0. Somente em pH ácido é que a precipitação ocorre. Depois de formado o precipitado, a filtração deve ser feita em um funil de Büchner (à vácuo) com o papel de filtro previamente pesado. Lavar o béquer com pequenas porções de água destilada gelada, caso contrário o sólido poderá solubilizar parcialmente em contato com a água em temperatura mais elevada. O sólido deve ser colocado em um vidro de relógio e depois na capela para que evapore toda a água contida nele. Depois de seco, determinar a massa do papel de filtro contendo o sólido e anotar na tabela abaixo. Tabela 2 – Massa dos princípios ativos extraídos da Cibalena. Princípios Ativos Massa do frasco (g) Massa do frasco + princípio ativo (g) Massa do princípio ativo (mg) Cafeína Paracetamol Ácido acetilsalicílico Após determinar a massa de cada um dos produtos extraídos calcular o rendimento do processo de extração considerando o valor esperado igual ao valor nominal (contido na bula do medicamento). Para a Cibalena a composição nominal por comprimido é de 200 mg de ácido acetilsalicílico, 150 mg de paracetamol e 50 mg de cafeína. Para calcular o rendimento teórico deve-se construir regras de três para cada um dos princípios ativos, conforme exemplo abaixo para a cafeína: 01 comprimido de Cibalena → 50 mg de cafeína 06 comprimidos utilizados → massa de cafeína teórica (mg) massa de cafeína teórica = 300 mg 300 mg de cafeína → 100% de rendimento massa de cafeína obtida no experimento → % de Rendimento % de Rendimento = (massa de cafeína obtida no experimento x 100)/ 300 Após realização do experimento, descarte os resíduos conforme instruções do professor, lave todo material e organize sua bancada. 4 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A Cibalena é um medicamento composto de ácido acetilsalicílico, cafeína e paracetamol, na figura 3 podemos observar as estruturas desses componentes. Cada comprimido contém 200 mg, 50 mg e 150 mg de ácido acetilsalicílico, cafeína e paracetamol, respectivamente. Figura 3 - Estruturas dos princípios ativos da Cibalena. Como podemos observar pelos valores de pKa destas três espécies, elas apresentam propriedades ácido-base diferentes o que permitiu sua separação através do controle de pH. A primeira espécie a ser separada foi a cafeína que por ser básica, foi extraída pela adição de HCl à mistura, conforme a reação apresentada na Figura 2. Figura 2 – Reação da cafeína com ácido clorídrico + HCl (aq) → + Cl – (aq) Na reação apresentada na fig. 2 ocorreu a protonação da cafeína, pela adição de ácido clorídrico, que em solução aquosa encontra-se ionizado. O íon H+ do ácido ataca o par de elétrons livre do nitrogênio e une-se a ele. Nesta forma, a cafeína protonada adquire uma carga elétrica positiva, correspondente à carga do próton e se torna solúvel em água, um solvente polar que dissolve com facilidade espécies carregadas eletricamente. Para converter a cafeína na forma não-protonada novamente foi adicionado o bicarbonato de sódio sólido. Os ions H+ que haviam atacado o nitrogênio, liga-se à espécie OH- presente na solução de bicarbonato de sódio através de uma reação de neutralização, conforme reação mostrada na figura 3, onde houve a liberação de gás carbônico. Cafeína protonada Figura 3 – Reação da cafeína protonada com bicarbonato de sódio sólido Com a adição do NaHCO3 (pH entre 7,5 e 8,5), a cafeína se tornou deprotonada, parcialmente insolúvel em água, e isso faz com que ela tenha mais afinidade pelo solvente orgânico (clorofórmio) do que pelo solvente polar (água). Após a secagem do solvente foi possível obtê-la na forma sólida. Na seqüência, foi separado o ácido acetilsalicílico do paracetamol, a mistura contendo estes dois componentes foi tratada com bicarbonato de sódio que é uma base (Figura 4), ocorrendo a seguinte reação: + NaHCO3 (s) → + H2O(l) + CO2(g) Figura 4 – Reação da extração do ácido acetilsalicílico pela adição de NaHCO3 Observando a estrutura do ácido acetilsalicílico (AAS) na figura 1, percebemos que para torná-lo solúvel em água foi necessário deprotoná-lo, aocontrário do que foi feito com a cafeína. A carga negativa da forma deprotonada do ácido acetilsalicílico corresponde a carga do elétron deixado pelo hidrogênio ao romper a ligação com o oxigênio. Desta maneira, na forma iônica, ele se tornou solúvel em água enquanto o paracetamol que é neutro foi para a fase orgânica (clorofórmio). Após a evaporação do solvente obteve- se o paracetamol sólido. Para precipitar o ácido acetilsalicílico da fase aquosa, que estava ácida pela adição da solução de HCl, foi adicionado novamente a base bicarbonato de sódio sólido nesta solução. Desta maneira, modificando o pH do meio foi possível separar os três componentes da Cibalena. Observando as reações ocorridas durante o experimento realizado, responda as seguintes perguntas: 1) Indique os grupos funcionais orgânicos presentes em cada um dos princípios ativos extraídos da Cibalena. Cafeína:_____________________________________________________________________________ Paracetamol:________________________________________________________________________ Ácido acetilsalicílico:________________________________________________________________ 2) Qual grupo funcional presente na molécula de cafeína que a caracteriza como uma base ? + HCO3- (aq) → + H2O(l) + CO2(g) 3) Qual o grupo funcional que caracteriza o ácido acetilsalicílico como um ácido ? 4) Como você classificaria o paracetamol: ácido, básico ou neutro ? Justifique sua resposta. _____________________________________________________________________________________ 5) A molécula de cafeína é uma base fraca que não possui carga, por isso para que pudesse ser extraída da mistura foi necessário adicionar ácido clorídrico do qual recebeu um próton e tornou-se carregada positivamente. Quando foi adicionado o clorofórmio a cafeína permaneceu na fase aquosa e o paracetamol e o ácido acetilsalicílico passaram para a fase orgânica. Qual a natureza da interação entre as moléculas de água e as da cafeína que permitiu a separação desta última dos demais componentes ? ____________________________________________________________________________________ 6) Para converter a cafeína na forma não-protonada novamente foi adicionado o bicarbonato de sódio sólido. Os ions H+ que haviam atacado o nitrogênio, ligou-se à espécie OH- presente na solução de bicarbonato de sódio através de uma reação de neutralização. A mesma reação foi utilizada para separar o ácido acetilsalicílico do paracetamol. Escreva a reação do bicarbonato de sódio em água mostrando que nesta solução existe a espécie OH-. NaHCO3 + H2O → __________ + _________ + __________ 7) Complete a tabela abaixo a partir dos dados coletados: Concentração nominal dos Princípios Ativos Massa do princípio ativo obtido mg/comprimido Rendimento Teórico % Cafeína 50 mg/comprimido Paracetamol 150 mg/comprimido Ácido acetilsalicílico 200 mg/comprimido Qual dos componentes extraídos da Cibalena apresentou maior rendimento? _________________________________________________________________________________. Este resultado confere com a concentração nominal ? ____________________________. 8) Quais as possíveis fontes de erro que se pode atribuir ao baixo rendimento obtido durante o processo de extração ? __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 5 –REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 1) GESSI, M. R. Separação dos Princípios Ativos da Cibalena. Curitiba, 1999.26f. Monografia (Especialização em Ensino de Química Experimenal para o 2o. grau) - Setor de Ciências Exatas, Departamento de Química, Universidade Federal do Paraná. 2) GONÇALVES, D; WAL, E; ALMEIDA, R. R. Química Orgânica e Experimental. 1ª ed. São Paulo: McGraw-Hill Ltda, 1988. 3)<http://qmc.ufsc.br/organica/exp7/index.html> acesso em 29/01/2004. 4) http://labjeduardo.iq.unesp.br/orgexp1/extr_quim_ativa.htm acesso em 08/06/2004. 5)http://www.ucs.br/ccet/defq/naeq/material_didatico/textos_interativos_33.htm cesso em 21/06/2004.
Compartilhar