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Seção 4 SUA PETIÇÃO DIREITO TRABALHISTA Prezado aluno, bem-vindo à seção 4! Agora iremos trabalhar a apresentação de peça processual pela empresa em face da decisão de mérito prolatada pela 1ª Vara do Trabalho de Pelotas/RS, nos autos do processo n. 0001022-20.2019.504.0001. Fonte: https://www.google.com/search?q=justi%C3%A7a+do+trabalho&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved =0ahUKEwic7Z2aqNjhAhX6KLkGHQaaDiUQ_AUIECgD&biw=1366&bih=625#imgrc=UOAdcfNli5A0ZM: Acesso em 17/04/2019 Mais uma vez, para fins didáticos, vamos promover a inversão dos papéis, isto é, você passa a novamente ser advogado da AZ Automóveis S/A. Frisa-se que esta inversão também proposta nesta seção é para que você saiba defender os interesses de seu cliente, seja ele um reclamante, seja ele um reclamado. Na prática real, esta situação não pode acontecer, sob pena de infração ética do advogado, passível de punição pela entidade de classe (Ordem dos Advogados do Brasil). Neste contexto, parta do pressuposto que você, na qualidade de advogado da empregadora, recebeu a publicação do despacho em 02/10/2019, intimando-o para ciência da decisão que foi prolatada. Em resumo, a decisão de primeiro grau declarou a existência de acidente de trajeto, aduzindo que a pequena mudança de trajeto realizada pelo reclamante não é suficiente para sua descaracterização. No tocante à reparação civil (danos morais), afastou a aplicação da teoria objetiva, pois a atividade de operador de produção não era arriscada, não se aplicando, portanto, a diretriz do art. 927, parágrafo único, do Código Civil. Além disso, acatou o documento apresentado pela empresa que demonstra a existência de transporte público compatível com o horário de trabalho. Seção 4 DIREITO TRABALHISTA Sua causa! A responsabilidade civil subjetiva também foi afastada, diante da ausência de qualquer ação ou omissão da reclamada que contribuísse para o evento danoso. Não houve, portanto, culpa empresarial. Dessa forma, indevida a reparação civil (indenização por danos morais). Já o pedido de reintegração foi julgado procedente, pois o reclamante foi dispensado no curso do período de estabilidade previsto no art. 118, da Lei n. 8.213/91. Também, a decisão de 1º grau deferiu a assistência judiciária gratuita ao autor. Por fim, houve condenação ao pagamento de honorários advocatícios na proporção de 10% para o reclamante e 5% para a reclamada. Agora é com você, aluno. A empresa AZ Automóveis S/A está absolutamente insatisfeita com a decisão de primeira instância e lhe pede que apresente o recurso cabível para a reversão de todos os pontos da sentença que lhe foram desfavoráveis. Como advogado da reclamada analise a decisão judicial e verifique quais são os temas em que há interesse recursal. Vamos lá? Aluno, antes de recapitular os pressupostos ou requisitos processuais inerentes ao recurso a ser interposto, deve-se registrar que ambas as partes detêm interesse em se insurgir contra a decisão de primeiro grau, desde que tenha sido sucumbente em parte da decisão judicial. Neste contexto, como advogado de AZ Automóveis S/A, você deve verificar quais pontos da sentença lhe foram desfavoráveis. Lembre-se que o prazo para interposição do recurso é concomitante aquele em que a outra parte tem para praticar o ato processual. 1) Aspectos Relevantes do Recurso Ordinário No tocante aos pressupostos recursais deve-se registrar que somente à parte reclamada incumbe a realização de depósito recursal. Isto se deve à sua natureza jurídica de garantia, ou seja, na reclamação trabalhista o reclamante é o pretenso credor, não havendo sentido lógico na realização de depósito recursal. Frisa-se, ainda, que o valor que é depositado judicialmente pela reclamada fica retido no processo até o seu término. Caso a decisão transitada em julgado seja totalmente improcedente o mencionado depósito será devolvido. Na hipótese de haver condenação, os recursos financeiros poderão ser utilizados para pagar a quantia devida. A reclamada deverá comprovar no prazo recursal o recolhimento das custas processuais, haja vista se tratar de pressuposto objetivo, isto é, se o valor não for recolhido e comprovado, o mérito do Recurso sequer será analisado pelo Tribunal. Outro aspecto muito relevante diz respeito aos efeitos do Recurso Ordinário. Já foi estudado que o efeito devolutivo devolve toda a matéria ao exame do Tribunal Regional do Trabalho. Aplica-se ao Direito Processual do Trabalho, de forma subsidiária, o disposto no art. 1013, §1º, do Código de Processual, que assim dispõe: Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. Fundamentando! § 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado Neste contexto, ao recorrer da condenação à reintegração, por exemplo, todos fundamentos sobre o tema devem ser analisados pelo Tribunal Regional do Trabalho, ainda que não estejam expressos no Recurso Ordinário, mas desde que deduzidos na peça contestatória. Sugere-se a leitura do acórdão prolatado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região no processo n. 0021917-90.2016.5.04.0030, publicado no Diário Oficial da União em 22/11/2018, cuja ementa é a seguinte: EMENTA EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DA RECLAMADA. PRESCRIÇÃO TRIENAL. EFEITO. DEVOLUTIVO EM PROFUNDIDADE. OMISSÃO. O julgado padece de omissão, pois não apreciada a tese defensiva exposta na defesa e transferida a esta Corte em razão do efeito devolutivo em profundidade (artigo 1.013, parágrafo 1º, do CPC). Embargos de declaração providos para acréscimo de fundamentos, sem efeitos modificativos. (TRT da 4ª Região, 3ª Turma, 0021917-90.2016.5.04.0030 RO, em 22/11/2018, Desembargador Alexandre Correa da Cruz) A íntegra da decisão pode ser acessada no seguinte endereço eletrônico: https://www.trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/iSXrKsQCKMn7HmzSIMbxZg?&em=EFEIT O+DEVOLUTIVO+EM+PROFUNDIDADE 2) Reintegração – Indenização substitutiva pelo período de estabilidade A sentença julgou procedente o pedido de reintegração, ao fundamento de que o trabalhador estava em período de estabilidade que lhe é conferida pelo art. 118, da Lei n. 8.213/91. O mencionado dispositivo legal foi aplicado ao caso sob exame por se entender que houve acidente de trajeto. Assim, você, aluno, terá que utilizar de todos os argumentos e provas possíveis para desconstituir a existência de acidente de trajeto, que é equiparável ao acidente de trabalho, notadamente para fins previdenciários e de estabilidade no emprego. O principal deles é de que o reclamante não estava no seu trajeto habitual, o que é suficiente para descaracterizar o acidente de trajeto. Acerca da possibilidade de não se considerar o acidente como de trabalho, mais uma vez, sugere-se a pesquisa jurisprudencial, especialmente o acórdão prolatado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, no processo nº 0020076-54.2017.5.04.0732, publicado no Diário Oficial da União em 28/08/2018. Ele pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico: https://www.trt4.jus.br/pesquisas/rest/download/acordao/pje/Wa-DqnXVYHtVGj3kSbLXrA Outro argumento consistente é de que a empresa é servida por transporte público regular, tendo o reclamante optado pelo uso de transporte particular. Assim, maior risco de eventual acidente de trânsito.3) Honorários advocatícios A reclamada foi condenada ao pagamento de honorários advocatícios no importe de 5% do valor da condenação apurado em sede de liquidação de sentença. Deve-se questionar a constitucionalidade da disposição do art. 791-A, da CLT. Os argumentos a serem lançados na peça recursal são os mesmos utilizados na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5766, em trâmite no Supremo Tribunal Federal e que pode ser acessada no seguinte endereço eletrônico: http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/ADI5766reformatrabalhista.pdf Por cautela, sugere-se requerer a redução do percentual ao patamar mínimo, devendo-se analisar o disposto no art. 791-A, da CLT. QUADRO SINÓTICO DA LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA APLICÁVEL (Referidos e não referidos nas explicações anteriores) Assunto CRFB/88 CLT CPC/2015 Código Civil TST Outros Recurso Ordinário - Art. 789; Art. 795; Art. 893; Art. 895; Art. 899; Art. 900 Art. 76; Art. 219; Art. 996; Art. 1013. - Súmula n. 197; Súmula n. 383; - Instrução Normativa n. 41. Acidente de Trajeto Art. 5º, inciso X; Art. 7º, inciso XXVIII Art. 2º; Art. 8º ; Art.. 223-A; Art.. 223-B; Art.. 223-C; Art.. 223-D; Art.. 223-E; Art.. 223-F; Art.. 223-G. - Art.186, Art.187, Art.402, Art. 403, Art.404, Art. 405, Art.927. - Arts. 19 e 21 da Lei n. 8.213/90; ADI n. 5870; ADI n. 6050. Estabilidade no Emprego Art. 7º, inciso XXIII Súmula n. 378 e Súmula n. 396; Art. 118 da Lei n. 8.213/90; Honorários Advocatícios - Art. 791-A; - - - - Fonte: elaborado pelo autor. Caro aluno, como já informado anteriormente, a sentença prolatada constitui decisão judicial com resolução de mérito. A análise do disposto nos arts. 893 até 897-A, da CLT é essencial para o manejo do adequado recurso. No tocante à sistemática da peça recursal, deve-se endereçá-la para o juízo que exarou a decisão. Nas Razões de Recurso é essencial que se combata os fundamentos lançados na sentença, não sendo o recurso mera reprodução da petição inicial. Indique na peça recursal as razões pelas quais é cabível o citado recurso no caso sob exame. Tendo em vista que a tempestividade é um dos requisitos do recurso, é necessário para fins didáticos que o recurso tenha tópico relativo a ela, a fim de demonstrar que a peça processual foi interposta no momento adequado. Importante citar a comprovação dos pressupostos recursais, especialmente o pagamento de custas processuais. Indique na peça recursal as razões pelas quais é cabível o citado recurso no caso sob exame. Elenque no seu recurso os argumentos fáticos e os fundamentos jurídicos que amparam a pretensão de seu cliente. Utilize linguagem impessoal. Quando se referir à decisão não faça menção ao juiz ou juíza prolator da decisão, pois o recurso não visa combatê-lo, mas sim a decisão por ele prolatada. Refira-se, portanto, à decisão ou à sentença, que é justamente o que se ataca pela peça recursal. Vamos lá! Vamos peticionar!
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