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Introdução ao Direito EFICÁCIA DA NORMA JURÍDICA 1 Sumário Introdução .................................................................................................................................... 2 Objetivos ....................................................................................................................................... 2 1. Eficácia da norma jurídica..........................................................................................................2 1.1. Eficácia...............................................................................................................................2 1.2. Validade da norma............................................................................................................4 Exercícios ...................................................................................................................................... 7 Gabarito ........................................................................................................................................ 8 Resumo ......................................................................................................................................... 8 2 Introdução A lei existe para regular a sociedade, seja o Estado, seja seus indivíduos. Mas quais os efeitos que isso provoca? Nesta apostila, iremos tratar sobre os efeitos da lei. Conceituaremos inicialmente, a eficácia da lei que consiste na possibilidade e capacidade de regulamentar questões sociais, impondo a sociedade em geral ou a determinado grupo de pessoas, regras e sanções, ou seja, efetivamente produza. Aprenderemos ainda, sobre a vacatio legis, que resumidamente refere-se ao espaço de tempo entre a publicação de uma lei e o início de sua aplicabilidade perante a sociedade. Além disso, demonstraremos os requisitos de validade da lei quais sejam: formal; social e ética. Por fim, analisaremos a teoria de eficácia da norma constitucional, do renomado doutrinador brasileiro José Afonso da Silva. Objetivos • Aprender o que é eficácia; • Verificar o conceito de eficácia da lei no ordenamento jurídico brasileiro. 1. Eficácia da norma jurídica 1.1. Eficácia Aplicar o direito se conecta diretamente com o conceito de eficácia, afinal aplicar uma norma é, de certa forma, assegurar a sua eficácia. Tanto é assim que para o clássico doutrinador José Afonso da Silva, a eficácia se relaciona com os conceitos de aplicabilidade, exigibilidade e executoriedade da lei. Eficácia é a possibilidade, a capacidade, a qualidade de a norma produzir efeitos. Desta forma, ela regula os fatos e as relações sociais a que se refere. Isso ganha o nome de eficácia jurídica. Já a eficácia social é o efetivo cumprimento da norma pela sociedade, ou seja, se os destinatários da norma estão (ou não) ajustando seus comportamentos ao que é dito na norma. 3 Podemos afirmar que uma norma aplicável é aquela que tem a capacidade de produzir efeitos e também possui um suporte fático que se conecta com o caso concreto. A aplicação da lei deve ser analisada tanto no tempo quanto no espaço, pois isto impacta diretamente nos efeitos que serão produzidos. Por isso, é importante se atentar ao que fala a lei de introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB), em seu art. 1º: Art. 1º - Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. Pode ainda, e é muito comum, prescrever a própria lei que a sua entrada em vigor ocorrerá na data da sua publicação. Pode ainda definir data no futuro para o início da produção dos efeitos. Esse período entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor é denominado vacatio legis. Ele permite que a lei seja amplamente divulgada e durante esse espaço de tempo, a lei nova ainda não possui força obrigatória. O vacatio legis serve também para que a sociedade de adapte a nova lei que entrará em vigor. A exemplo podemos destacar o código de processo civil de 2015 que teve 1 ano de vacatio legis para que o judiciário e os advogados se adaptassem e o conhecessem plenamente. Além disso, no vacatio legis, alguma norma inconstitucional pode ser revista e alterada sem maiores danos à sociedade. A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância inclui a data da publicação e o último dia do prazo, de modo que a entrada em vigor ocorre no dia subsequente à sua consumação integral (parágrafo 1º do art. 8º da Lei Complementar 95/1998). A lei, entrada em vigor, é obrigatória para todos os seus destinatários, não podendo o juiz negar-se a aplica-la ao caso sub judice. Ou seja, entrando a lei em vigor, ninguém pode alegar sua ignorância. Tanto é assim que está à disposição do art. 3º da LINDB. Isso ocorre porque se a aplicação da lei dependesse de seu efetivo conhecimento, não haveria segurança nas relações jurídicas, afinal, como o conhecimento é subjetivo, não se poderia provar falsa a alegação de sua ignorância. Entretanto, é importante sabermos que o fato de uma norma existir no papel não significa necessariamente que haverá a sua aceitação pela sociedade. Isso demonstra a possibilidade de ineficácia social da lei. 4 1.2. Validade da norma Para que uma norma jurídica seja obrigatória, é necessário que ela preencha alguns requisitos de validade. De acordo com o mestre Miguel Reale, esses requisitos devem ser analisados sob três aspectos: • Validade formal ou técnico-jurídica: é a vigência da lei; • Validade social: é a sua eficácia social; • Validade ética: é o seu fundamento. Para que uma norma seja válida, ela deve também emanar do órgão competente. Tanto é assim, que podemos encontrar uma norma que até tenha eficácia social, mas, no entanto, é inválida. É o caso, por exemplo, de normas que nascem do convívio social. Estas normas só se tornaram jurídicas com a sua inserção no ordenamento. Muitas vezes o que ocorre é que o ordenamento jurídico cria normas com sanções, em um sistema de coação, para que a eficácia da norma possa ser garantida na sociedade. A questão da eficácia das normas ganha maior importância nas normas constitucionais, conforme a doutrina desenvolvida por José Afonso da Silva, que veremos a seguir. CAI NA PROVA! Normas constitucionais de eficácia plena: produção de efeitos desde a entrada em vigor da CF, com incidência direta e imediata sobre a matéria que regula. APLICABILIDADE DIRETA, IMEDIATA E INTEGRAL. Exemplo: Art. 62, CF – Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. Normas constitucionais de eficácia contida: a produção de efeitos ocorre desde a entrada em vigor da CF, mas existem certos meios ou conceitos que As normas constitucionais possuem classificação quanto a sua eficácia e aplicabilidade. Essa teoria, desenvolvida pelo doutrinador brasileiro José Afonso da Silva comumente é cobrada em provas e concursos públicos, por isso essa classificação deve ser analisada e estudada com atenção. 5 permitem manter sua eficácia contida em certos limites. APLICABILIDADE DIRETA E IMEDIATA, MAS POSSIBILIDADE DESTA NÃO SER INTEGRAL. Exemplo: Art. 5º, VIII, CF – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se acumprir prestação alternativa, fixada em lei. Normas constitucionais de eficácia limitada: mesmo com a entrada em vigor da CF, não produzem seus efeitos, pois não houve estabelecimento de normatividade, o que caberá ao legislador ordinário ou outro órgão. APLICABILIDADE INDIRETA, MEDIATA E REDUZIDA. Exemplo: Art. 32, § 4º, CF – Lei federal disporá sobre a utilização pelo Governo do Distrito Federal das policias civil e militar e do corpo de bombeiros militar. CAI NA PROVA! A questão sobre a eficácia das normas é de suma importância no dia a dia das pessoas e também impacta nas mudanças legais ocorridas no ordenamento jurídico. Vejamos um exemplo nesta notícia recentemente veiculada na imprensa que trata de um assunto recente muito comentado, os impactos e a efetividade das mudanças trazidas pela Reforma Trabalhista de 2017: Ministro suspende norma que admite que trabalhadoras grávidas e lactantes desempenhem atividades insalubres O ministro Alexandre de Moraes (Figura 01), do Supremo Tribunal Federal (STF), deferiu liminar na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5938 para suspender norma que admite a possibilidade de trabalhadoras grávidas e lactantes desempenharem atividades insalubres em algumas hipóteses. A ação foi ajuizada no Supremo pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos. O relator As normas constitucionais podem ainda ser classificadas pela eficácia e aplicabilidade como: Normas constitucionais autoaplicáveis ou autoexecutáveis: são aplicáveis desde logo, estão completa e definitivamente regulando a matéria que tratam; Normas não autoaplicáveis ou não autoexecutáveis: precisam de regulamentação posterior para possuir aplicabilidade. 6 verificou que estão presentes no caso os requisitos da plausibilidade jurídica do direito e do perigo de demora, necessários para a concessão da cautelar. A confederação questiona expressões contidas nos incisos II e III do artigo 394-A da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) com a redação conferida pelo artigo 1º da Lei 13.467/2017 (Reforma Trabalhista). A norma admite que trabalhadoras gestantes exerçam atividades consideradas insalubres em grau médio ou mínimo e, lactantes desempenhem atividades insalubres em qualquer grau, exceto quando apresentarem atestado de saúde emitido por médico de confiança da mulher que recomende o afastamento durante a gestação e a lactação. Tal permissão legal, segundo a entidade autora, afronta à proteção que a Constituição Federal atribuiu à maternidade, à gestação, à mulher, ao nascituro, aos recém-nascidos, ao trabalho e a meio ambiente do trabalho equilibrado. 01 Alexandre de Moraes, Ministro do Supremo Tribunal Federal. Liminar Na análise da plausibilidade jurídica do pedido (fumus boni juris), o relator observou que as normas impugnadas expõem as empregadas gestantes a atividades insalubres de grau médio ou mínimo e as empregadas lactantes a atividades insalubres de qualquer grau e impõem a elas o ônus de apresentar atestado de saúde como condição para o afastamento. Em análise preliminar da matéria, ele entendeu que as expressões impugnadas não estão em consonância com diversas garantias constitucionais, entre elas a proteção à maternidade, que norteia outros direitos sociais, como a licença-maternidade, o direito à segurança no emprego assegurado à gestante e normas de saúde, higiene e segurança, “os quais representam não apenas normas de proteção à mulher gestante ou lactante, mas também ao nascituro e recém-nascido lactante”. Segundo o ministro Alexandre de Moraes, a proteção da mulher gravida ou lactante em relação ao trabalho insalubre caracteriza-se como direito social 7 protetivo tanto da mulher quanto da criança. “A proteção à maternidade e a integral proteção à criança são direitos irrenunciáveis e não podem ser afastados pelo desconhecimento, pela impossibilidade ou pela própria negligencia da gestante ou lactante em juntar um atestado médico, sob pena de prejudica-la e prejudicar o recém-nascido”, ressaltou. O perigo da demora (periculum in mora), outro requisito para a concessão de liminar, está demonstrado em razão de as expressões questionadas permitirem a exposição de empregadas grávidas e lactantes a trabalho em condições insalubres, o que, segundo o relator, deve ser obstado de imediato. “Mesmo em situações de manifesto prejuízo à saúde da trabalhadora, por força do texto impugnado, será ônus desta a demonstração probatória e documental dessa circunstância, o que obviamente desfavorece a plena proteção do interesse constitucionalmente protegido, na medida em que sujeita a trabalhadora o maior embaraço para o exercício de seus direitos”, destacou. A decisão cautelar suspende a eficácia da expressão “quando apresentar atestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o afastamento”, contida dos dispositivos impugnados. (Informações do Site do Supremo Tribunal Federal). Exercícios 1. (TÉCNICO ADMINISTRATIVO – MPU – CESPE – 2010) As normas de eficácia plena não exigem a elaboração de novas normas legislativas que lhes completem o alcance e o sentido ou lhes fixem o conteúdo; por isso, sua aplicabilidade é direta, ainda que não integral. CERTO ( ) ERRADO ( ) 2. (ANALISTA EM C&T JÚNIOR – INCA – CESPE – 2010) Normas constitucionais de aplicabilidade reduzida ou de eficácia ilimitada são aquelas normas que necessitam da promulgação de uma lei infraconstitucional para produzir seus efeitos, podendo ser classificadas em normas constitucionais de princípio institutivo e normas constitucionais de princípio programático. CERTO ( ) ERRADO ( ) 8 Gabarito 1. ERRADO, pois é integral e imediata. A norma de eficácia plena sempre terá caráter integral e imediatista. 2. CERTO, veja como exemplo o art. 37, II, CF: a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei livre de nomeação e exoneração. Resumo Nesta apostila, estudamos o conceito de eficácia da lei. Vimos como a lei produz efeitos no mundo fático, estudamos como está questão é tratada no ordenamento jurídico brasileiro, mais precisamente na Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro e aprendemos sobre a vacatio legis, que é o conceito do tempo anterior à produção de efeitos da lei. Terminamos nossos estudos conhecendo as teorias sobre efetividade (que tem por observar que a lei aplica-se a todo e qualquer membro da sociedade), validade (que depende da comprovação da vigência, fundamento e eficácia social) e executoriedade (aplicação efetiva da lei) de dois importantes estudiosos do Direito no Brasil, Miguel Reale e José Afonso da Silva. Para que uma norma jurídica seja obrigatória, ela precisa possuir alguns requisitos de validade, analisados sob os aspectos da validade formal, social e ética. Para José Afonso da Silva as normas podem se aplicar de pronto ou não, e ainda tem eficácia plena, contida ou limitada, significando que a lei pode começar a produzir efeitos de pronto ou não, a depender da forma como ela foi produzida pelo legislador. Vimos também que o Judiciário tem o poder de suspender a eficácia de uma lei, se entender que a mesma será prejudicial à sociedade, como no exemplo da suspensão de uma inclusão feita na lei trabalhista através da reforma de 2017, que permitia o trabalhoinsalubre para gestantes e lactantes. 9 Referências bibliográficas FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Coleção Concursos: técnico e analista: questões comentadas – São Paulo: Saraiva, 2014. Disponível em: <www.lelivros.love>. Acesso em: 11/03/2019 às 15h42min. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do direito. 6ª ed. reestruturada. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1973. MEDEIROS, Almir de Araújo; GOMES, André. Imperatividade das normas jurídicas e o direito contemporâneo. Disponível em: <http://www.arcos.org.br/artigos/-imperatividade-das-normas-juridicas-e-o-direito- contemporaneo/>. Acesso em: 01/03/2019 às 11h30min. REALE, Miguel. Lições preliminares do Direito. 27ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. Disponível em: <www.lelivros.love>. Acesso em: 11/03/2019 às 08h00. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=409885>. Acesso em: 06.05.2019 às 21h30min. Referências imagéticas Figura 01: Alexandre de Moraes. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=409885>. Acesso em: 06.05.2019 às 21h30min.
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