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Acidentes com animais peçonhentos Profª Patrícia Peres de Oliveira 2018 Acidentes por animais peçonhentos Envenamentos produzidos ativamente por picadas ou mordeduras de animais dotados de glândulas secretoras e aparelho inoculador de veneno. As alterações produzidas estão relacionadas à inoculação de uma complexa mistura de enzimas, que ocasionam imobilização ou morte da vítima, assim como processos de coagulação, proteólise e intoxicação neurológica. Os animais peçonhentos de importância para a saúde pública no Brasil são serpentes, aranhas, escorpiões, lagartas, abelhas, entre outros. Ofidismo Os ofídios, conhecidos também como cobras ou serpentes, são animais vertebrados e compõem o grupo dos répteis. Os quatro de importância médica. Bothrops (Jararaca, Jararacuçu, Urutu) Crotalus (Cascavel) Lachesis (Surucucu) Micrurus (Coral verdadeira) Epidemiologia No Brasil ocorrem por ano cerca de 28.000 casos de acidentes ofídicos. A maioria dos acidentes ocorre no verão, ou seja, entre Janeiro e Abril de cada ano. Os indivíduos do sexo masculino (74,84%), na faixa etária entre 15 e 49 anos e lavradores são os mais acometidos. Nestes casos trata-se de acidente do trabalho. As regiões do corpo mais acometidas são os membros inferiores (62,75%) , seguidas dos membros superiores (12,15%). Em que pese pequenas variações é possível estimar a gravidade dos acidentes ofídicos. Característica das serpentes venenosas As cascavéis, jararacas e surucucus possuem em comum a fosseta loreal, orifício localizado entre a narina e o olho, em cada lado da cabeça. Todas as serpentes destes gêneros são providas de dentes inoculadores bem desenvolvidos e móveis situados na porção anterior do maxilar . Fosseta loreal Têm função sensorial que permite às serpentes perceberem as diferenças de temperatura no ambiente e a presença de outros animais. A identificação entre os gêneros referidos também pode ser feita pelo tipo de cauda. Cauda lisa- Bothrops Guizo ou Chocalho- Crotalus Escamas eriçadas- Lachesis SERPENTES PEÇONHENTAS Região dorsal da cabeça coberta por pequenas escamas Região dorsal da cabeça de serpente do gênero Bothrops (jararacas): Corpo coberto por escamas em forma de casca de arroz Bothrops neuwiedi, monstrando as escamas em forma de quilha ou casca de arroz: JARARACA (Bothrops): Possui fosseta loreal, tendo a extremidade da cauda com escamas lisas e cor geralmente parda. É responsável por 90% dos acidentes. Algumas espécies são mais agressivas, encontram-se geralmente em locais úmidos. CASCAVEL (Crotalus): Possui fosseta loreal, a extremidade da cauda apresenta guizo ou chocalho e cor amarelada. É responsável por 9% dos acidentes. Essas serpentes são menos agressivas que as jararacas e encontram-se geralmente em locais secos. Serpentes venenosas • Jararaca(Bothrops) SURUCUCU (Lachesis): Possui fosseta loreal, a extremidade da cauda possui escamas e cor alaranjada com desenhos pretos no dorso. Encontrada em regiões de florestas tropicais (Amazônia e Zona da Mata). Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta). Foto por Paulo S. Bernarde. As corais verdadeiras são venenosas e não apresentam fosseta loreal e possuem dentes inoculadores pouco desenvolvidos e fixos na região anterior da boca. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS DADOS IMPORTANTES A SEREM AVALIADOS História clínica – condições do acidente Epidemiologia – ambiente, local do acidente, mês de ocorrência, local da picada, sexo do acidentado Quadro clínico – ações do veneno Necrosante Coagulante Vasculotóxico CLASSIFICAR O ACIDENTE LEVE, MODERADO OU GRAVE Jararaca ou Caissaca (Bothrops moojeni) . Foto Paulo S. Bernarde. Jararacuçu (Bothrops jararacussu) . Foto Paulo S. Bernarde. Acidente Bothrópicos GÊNEROS: Bothrops e Bothrocophias NOMES POPULARES: Jararaca, jararaca-pintada, jararaca-da-Amazônia, surucucu, caiçaca, jararacuçu, cotiara, urutu-cruzeiro ou cruzeira, jararaca-bicuda, bicode-papagaio ou papagaia, jararaquinha-do-rabo-branco. Ações do Veneno: Ação Proteolítica: as lesões locais como edema, bolhas e necrose, atribuídas inicialmente à “ação proteolítica”, Tem patogênese complexa. Possivelmente, decorrem da atividade de proteases, hialuronidases e fosfolipases, da liberação de mediadores da resposta inflamatória, da ação das hemorraginas sobre o endotélio vascular e da ação pró-coagulante do veneno. Ações do Veneno: Ação Coagulante: a maioria dos venenos botrópicos ativa, de modo isolado ou simultâneo, o fator X e a protrombina. Possuem também ação semelhante à trombina, convertendo o fibrinogênio em fibrina. Essas ações produzem distúrbios da coagulação, caracterizados por consumo dos seus fatores, geração de produtos de degradação de fibrina em fibrinogênio, podendo ocasionar incoagulabilidade sanguínea. Também podem levar a alteração da função plaquetária, bem como plaquetopenia. Ações do Veneno: Ação Hemorrágica: decorre da presença de hemorraginas, que provocam lesões na membrana basal dos capilares, associada à plaquetopenia e alterações da coagulação. Acidente Bothrópicos Acidente Bothrópicos Acidente Bothrópicos Acidente Bothrópicos Quadro Clínico: Manifestações Locais: dor e edema endurado no local da picada, de intensidade variável, geralmente de instalação precoce e caráter progressivo. Equimoses e sangramentos no ponto da picada são frequentes. Infartamento ganglionar e bolhas podem aparecer na evolução,acompanhados ou não de necrose Acidente Bothrópicos Manifestações Sistêmicas: sangramentos em ferimentos pré existentes; hemorragias à distância como gengivorragias, epistaxes, hematêmese e hematúria. Em gestantes, há risco de hemorragia uterina. Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial, hipotermia e mais raramente, choque. Nos acidentes causados por filhotes de Bothrops predominam as alterações de coagulação; dor e edema locais podem estar ausentes (filhotes <35cm possuem mais fração coagulante no venenos) Cascavel(Crotalus) Fosseta loreal, Extremidade da cauda com guizo ou chocalho Cor amarelada Encontram-se geralmente em locais secos.- Responsável por 9% dos acidentes. FÁCIES MIASTÊNICO OU NEUROTÓXICO Surucucu(Lachesis) Possui fosseta loreal Extremidades da cauda apresenta escamas eriçadas. Cor alaranjada com desenhos pretos no dorso. Encontrada em regiões de florestas tropicais(Amazônia e Zona da Mata). Coral Verdadeira (Micrurus) Não possui fosseta loreal Responsáveis por 1% dos acidentes, Pequena dimensão da boca, desprovidas de dentes inoculadores. Encontradas em tocas Não são agressivas Hábitos subterrâneos Serpentes não- peçonhentas Não possuem fosseta loreal. Algumas espécies , são de importância médica e podem causar acidentes. Jiboia Vive tanto em cima de árvores como no chão. Podem atingir de 2 a 4 metros de comprimento. Habita campos e matas Cobra Verde Pode atingir 1,5 metros de comprimento. Vive em árvores e no chão. Mordida provoca dor e edema local. Jararaquinha de jardim Serpente de pequeno porte. Habita o cerrado e pode ser encontrada em locais próximos a residência(Hortas e jardins). Coral-falsa Imita a coral verdadeira. Atinge cerca de 1 metro. Sua mordida pode provocar dor e inchaço no local atingido. Habita matas e vive no chão. Boipeva É muito comum no Brasil. Mede de 80 cm a 1,45m. Vive próximo a cursos d água. Quando acuada, achata seu corpo contra o chão. Caninana Habita matas e cerrado. Vive tanto em árvores como no chão. Pode atingir 2,5 metros de comprimento TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS INDICADAS Retirar anéis e alianças dos dedos Fazer imunoprofilaxia contra tétano Internar sempre o doente para avaliação tardia TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS CONTRA INDICADAS Fazer torniquete ou garrote acima do local da picada Fazer perfurações ou cortes no local da picada Realizar fasciotomia na presença de sangue incoagulável Dar beberagens aodoente (alcoólicas ou não) Realizar teste intradérmico antes de aplicar o soro Soro Antiofídico Polivalente Solução purificada e liofilizada de imunoglobulinas específicas, obtidas de soro de equídeos hiper imunizados com veneno de serpentes dos gêneros Bothrops e Crotalus. O soro é purificado por digestão péptica, concentrado, titulado, frente ao veneno de Bothrops jararaca e frente ao veneno Crotalus durissus terrificus (cascavel) e adicionado de 0,5% de fenol como preservativo. Cada mililitro do soro neutraliza 2,0 mg de veneno de Bothrops jararaca e 1,0 mg de veneno Crotalus durissus terrificus. Dosagem: De um modo geral recomenda-se o seguinte esquema: 1 - Casos leves: 01 (um) frasco reconstituído contendo 50 mL por via subcutânea em uma única dose. 2 - Casos moderados :01 (um) frasco reconstituído contendo 50mL, por via subcutânea e outro frasco de 50mL reconstituído por via endovenosa, em uma única dose. 3 - Casos graves: 01 (um) frasco reconstituído contendo 50mL, por via subcutânea e 03 frascos de 50mL reconstituído por via endovenosa em uma única dose. Araneísmo É o acidente causado por picada de aranha. Principais aranhas venenosas no Brasil Aranha Armadeira(Phoneutria) Responsável por 75% dos acidentes Muito agressiva Hábitos vespertinos e noturnos Encontrada em bananeiras e folhagens, - Recoberta por pelos marron-acidentados - Dor intensa no local da picada. Aranha Marrom(Loxoceles) Acidentes pouco frequentes Pouco agressiva Hábitos noturnos Encontra-se em pilhas de tijolos, telhas, barrancos e residências, Dor na hora da picada, após 12-24 horas, dor local com inchaço, mal estar geral, náuseas e febre e pode causar necrose local. Tarântula(Lycosa) Acidentes frequentes, 18% dos casos Pouco agressiva Hábitos diurnos Encontrada em barrancos, gramados e residências. Cor marrom- acinzentada no dorso e desenho negro em ponta de flecha. Dor local podendo evoluir para necrose local Carangueijeiras Acidentes pouco frequentes, Atingem grandes dimensões, Algumas são muito agressivas, Possuem ferrões Grandes responsáveis por ferroadas dolorosas. Viúva Negra(Latrodectus) Acidentes pouco frequentes Aranhas pequenas com 2cm de envergadura Cor vermelha e preta Pouco agressivas Constroem teias Veneno neurotóxico e provoca quadros muito dolorosos. ACIDENTE LOXOSCÉLICO Ações do veneno – Proteolítico e Hemolítico Na forma cutânea, após 12 a 24 horas do acidente, instalam-se no local da picada, dor discreta do tipo queimação, edema e eritema, podendo haver mal-estar geral, febre e exantema do tipo escarlatiniforme. A forma cutâneo-visceral tem manifestações sistêmicas e instala-se em pequeno número de casos, principalmente em crianças. A ação hemolítica do veneno se manifesta por icterícia e hemoglobinúria. A urina torna-se escura, cor de “coca cola”. TRATAMENTO O tratamento específico do loxoscelismo é feito à base de soro antiloxoscélico. Está indicado nos acidentes com até 36 horas de evolução. Casos leves – acompanhamento clínico até 72 horas após a picada. Casos moderados – 5 ampolas de soro anti-loxoscélico + prednisona (adultos 40 mg/dia, crianças 1 mg/kg peso durante 5 dias ). Casos graves – 10 ampolas de soro anti-loxoscélico + prednisona (adultos 40 mg/dia, crianças 1 mg/kg peso durante 5 dias). O tratamento complementar consiste na limpeza local com antisépticos (permanganato de potássio) e hidratação do doente. Deve-se avaliar a função renal diariamente. ABELHAS – Apis mellifera ACIDENTES COM ABELHAS E VESPAS ABELHAS: Apis mellifera ( abelha africanizada ) VESPAS: Polibia paulista (paulistinha), Polister versicolor (marimbondo cavalo), Stenopolybia vicina (caçununga) CONDUTA -Remoção dos ferrões – cuidado para não comprimir o ferrão - Compressas frias nos locais -Controle da dor (meperidina – 2 mg/kg peso corporal ) -Combate a reações alérgicas (aminofilina, adrenalina, corticosteroides) -Medidas gerais de suporte (manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e cuidados com a insuficiência respiratória) -Complicações – (cuidados específicos contra Insuficiência respiratória, insuficiência renal aguda e choque anafilático. Escorpionismo Causada por picada de escorpião • O escorpionismo divide-se em : benigno: é o acidente que após 2 horas não apresenta desordens respiratórias, náuseas e vômitos ou acentuada hipotermia. Grave: além dos sintomas acima, dor violenta e convulsões. No adulto raramente produz problemas Principais Escorpiões venenoso no Brasil Escorpião Preto( Tityus bahiensis) Escorpião Amarelo( Tityud serrulatus) São poucos agressivos Hábitos noturnos Acidentes por Lagartas(Erucismo) Bastante comuns A maioria provoca somente reações cutâneas dolorosas. Acidentes por Lagartas(Erucismo) Lagarta Lonomia ou rugas Provoca quadros hemorrágicos Verdes ou marrons, recobertas por cerdas duras Pode levar a vítima a morte. Neste caso procurar Serviço Médico. Referência Bibliográfica Martini, A.C.T, Manual de Primeiros Socorros, São Paulo : Corpus,2007. Brasil, Ministério da Saúde, Vigilância em saúde: zoonoses, Brasilía,2009. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n.198/GM, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente emBrasil. Ministério da Saúde. Ato Portaria n. 1.996/GM, de 20 de agosto de 2007. Dispõe sobre as diretrizes para a implementação da política nacional de educação permanente em saúde e dá outras providências. Brasília, 2007. Ceccim RB, Feuerwerker LCM. O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social. Physis, v.14, n.1, p.41-65 , 2004. Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Brasília, 2004.