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UMA INTRODUC¸A˜O A` TRANSFORMADA Z Roy Wilhelm Probst rwprobst@gmail.com Andre´s David Ba´ez Sa´nchez adavidbaez@gmail.com Simone Venturi si venturi@yahoo.com Departamento Acadeˆmico de Matema´tica Universidade Tecnolo´gica Federal do Parana´ Conteu´do Prefa´cio iv 1 Transformada Z 1 1.1 Definic¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.2 Regia˜o de Convergeˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.2.1 Se´rie Geome´trica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.3 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.3.1 Linearidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.3.2 Diferenciac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.3.3 Similaridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.3.4 Translac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.3.5 Convoluc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.3.6 Valor Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 1.3.7 Valor Final . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 1.4 Exerc´ıcios Resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 1.5 Exerc´ıcios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 1.5.1 Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2 Transformada Z Inversa 34 2.1 Me´todo de Se´rie de Poteˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 2.2 Me´todo de Frac¸o˜es Parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 2.3 Me´todo dos Res´ıduos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 2.3.1 Po´los e Res´ıduos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 2.3.2 Se´rie de Laurent e Teorema dos Res´ıduos . . . . . . . . . 54 2.4 Exerc´ıcios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 2.4.1 Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 3 Equac¸o˜es de Diferenc¸as 63 3.1 Definic¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 3.2 Resoluc¸a˜o de Equac¸o˜es de Diferenc¸as . . . . . . . . . . . . . . . . 65 3.3 Problemas envolvendo Equac¸o˜es de Diferenc¸as . . . . . . . . . . . 82 3.4 Exerc´ıcios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 3.4.1 Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 ii iii A Propriedades da Transformada Z 102 B Lista de Transformadas Z 103 Prefa´cio Uma introduc¸a˜o informal ao conceito de transformada de Z poderia ser feita, comparando a transformada Z a` uma versa˜o discreta da transforma de Laplace. Poderia ser dito tambe´m, que a transformada Z e´ equivalente, para equac¸o˜es de diferenc¸as, a` transformada de Laplace para equac¸o˜es diferenciais. De um ponto de vista estritamente matema´tico, a transformada Z pode ser definida como uma aplicac¸a˜o que leva sequeˆncias nume´ricas em func¸o˜es de varia´vel complexa atrave´s de uma se´rie de Laurent. No entanto, e´ pouco prova´vel que essa definic¸a˜o seja adequada para descrever a transformada Z na a´rea de ana´lise de sinais, onde a transformada Z pode ser definida como uma aplicac¸a˜o que converte um sinal digital discreto em uma representac¸a˜o complexa do sinal no domı´nio da frequeˆncia. Essa aparente dicotomia entre a definic¸a˜o do objeto matema´tico e sua apli- cac¸a˜o na˜o e´ um fenoˆmeno exclusivo da transformada Z. Conceitos relaciona- dos, como a transformada de Laplace ou a transformada de Fourier, sa˜o com frequeˆncia estudados em cursos de engenharia sem considerar a fundamentac¸a˜o matema´tica em profundidade, ou sa˜o abordados em cursos de matema´tica com um olhar estritamente teo´rico sem preocupar-se com as aplicac¸o˜es. Uma abor- dagem intermedia´ria, apresentando diversos aspectos da teoria e da pra´tica pode ser considerada mais enriquecedora, mas em qualquer caso, atingir a proporc¸a˜o desejada entre teoria e aplicac¸a˜o na apresentac¸a˜o de um conceito, certamente sera´ facilitado pela escolha de refereˆncias bibliograficas adequadas. No caso da transformada Z, comprovamos a partir de nossa experieˆncia em cursos de matema´tica para engenharias e cieˆncias exatas, a quase inexisteˆncia de material em L´ıngua Portuguesa que abordasse adequadamente os aspectos matema´ticos da transformada Z e que incluisse aplicac¸o˜es, sem precisar conhe- cimentos espec´ıficos sobre ana´lise de sinais. Estas notas sa˜o consequeˆncia dessa comprovac¸a˜o. O objetivo dessas notas e´ apresentar o conceito e propriedades da transfor- mada Z, considerando adequadamente seus aspectos matema´ticos e incluindo aplicac¸o˜es da transformada Z na resoluc¸a˜o de problemas de equac¸o˜es de di- ferenc¸as presentes em diversas a´reas. Ale´m do seu valor como refereˆncia bi- iv v bliogra´fica em L´ıngua Portuguesa para cursos superiores de matema´tica para engenharia, esse material tambe´m pode ser usado em disciplinas de matema´tica que considerem a formulac¸a˜o e resoluc¸a˜o de problemas em termos de fo´rmulas de recursa˜o ou equac¸o˜es de diferenc¸as. Pela simplicidade nos conceitos necessa´rios para tal tipo de formulac¸a˜o, parte destas notas podem servir de complemento para um curso de introduc¸a˜o a` modelagem matema´tica. No primeiro cap´ıtulo sa˜o estabelecidas as definic¸o˜es necessa´rias e as pro- priedades fundamentais da transformada Z. A seguir, no segundo cap´ıtulo, e´ introduzida a noc¸a˜o de transformada Z inversa e sa˜o considerados treˆs me´todos para seu ca´lculo. No terceiro cap´ıtulo, sa˜o consideradas as aplicac¸o˜es da trans- formada Z para a resoluc¸a˜o de equac¸o˜es de diferenc¸as. Sa˜o apresentados diver- sos exemplos, incluindo problemas aritme´ticos, geome´tricos, de probabilidade, de matema´tica financeira, entre outros. No final de cada cap´ıtulo e´ sempre in- clu´ıda uma lista de exerc´ıcios resolvidos e uma lista de exerc´ıcios propostos com soluc¸a˜o. Essas notas foram baseadas na dissertac¸a˜o de Simone Venturi [19]. Curitiba, 19 de Outubro de 2017. Roy Wilhelm Probst Andre´s David Ba´ez Sa´nchez Simone Venturi Cap´ıtulo 1 Transformada Z Algumas das ideias matema´ticas associadas com a transformada Z sa˜o conheci- das desde o se´culo XVIII [9]. A ideia de construir uma se´rie de poteˆncias usando como coeficientes os termos de uma sequeˆncia dada e´ justamente o conceito de func¸a˜o geratriz, que foi introduzido por DeMoivre em 1730 e utilizado ampla- mente por Laplace e outros no contexto de teoria da probabilidade durante o se´culo XIX [14]. No entanto, a forma em que a transformada Z e´ utilizada atualmente no contexto de ana´lise de sinais discretos pode ter sua origem trac¸ada ate´ o tra- balho de Hurewicz [8]. Os trabalhos de Barker [2] e Ragazzini e Zadeh [16] contribuiram para consolidar e difundir as ideias apresentadas por Hurewicz, sendo Barker o primeiro a apresentar uma tabela de transformadas e Ragazzini e Zadeh os primeiros a usar o termo transformada Z para referir-se a essa trans- formac¸a˜o [11]. Apo´s sua popularizac¸a˜o na a´rea de sinais, outras generalizac¸o˜es foram introduzidas e hoje faz parte fundamental das ferramentas da ana´lise de sinais em engenharia e outra a´reas [6, 9]. Neste cap´ıtulo sera´ apresentada a definic¸a˜o da transformada Z e suas propri- edades, com alguns exemplos e considerac¸o˜es ba´sicas. Os exemplos e notac¸o˜es consideradas ao longo destas notas seguem principalmente as seguintes refereˆn- cias: [1, 4, 15, 17]. 1.1 Definic¸a˜o A transformada Z pode ser vista como um operador que converte uma sequeˆncia xn em uma func¸a˜o X(z), onde z e´ uma varia´vel complexa. Sera´ usada tambe´m a notac¸a˜o Z{xn} para referir-se a esta func¸a˜o. Definic¸a˜o 1.1. A transformada Z de uma sequeˆncia xn = {x0, x1, x2, x3, . . .} e´ definida por: Definic¸a˜o 2 Z{xn} = X(z) = ∞∑ n=0 xnz −n = x0 + x1 z + x2 z2 + x3 z3 + · ·· . (1.1.1) E´ importante ressaltar que X(z) existe apenas para regio˜es do plano com- plexo em que o somato´rio (1.1.1) converge. A transformada acima e´ as vezes chamada tambe´m de transformada Z unilateral, em refereˆncia ao fato de con- siderar sequeˆncias da forma {x0, x1, x2, . . .}, em contraste com as denominadas sequeˆncias bilaterais da forma {. . . , x−2, x−1, x0, x1, x2, . . .}. Para este tipo de sequeˆncias e´ poss´ıvel considerar de forma ana´loga uma transformada Z bilateral [13]. Nessas notas sa˜o consideradas apenas sequeˆncias unilaterais. Uma sequeˆncia xn admite a transformada Z se a se´rie (1.1.1) e´ convergente para pelo menos um complexo z, definindo ass´ım uma func¸a˜o de varia´vel com- plexa com domı´nio na˜o vazio. Figura 1.1: Diagrama da Transformada Z e sua Inversa A seguir alguns exemplos simples de sequeˆncias e suas transformadas. Exemplo 1.1. Seja yn a sequeˆncia {2, 4, 6, 4, 2, 0, 0, 0, . . .}. A transformda de yn, detonada por Z{yn} = Y (z), e´: Y (z) = ∞∑ n=0 ynz −n = 2 + 4 z + 6 z2 + 4 z3 + 2 z4 + 0 z5 + 0 z6 + . . . = 2 + 4 z + 6 z2 + 4 z3 + 2 z4 , definida para todo z 6= 0. Definic¸a˜o 3 Exemplo 1.2. Seja a sequeˆncia delta dada por: δ(n− k) = { 1, se n = k 0, se n 6= k, onde k ∈ N. Calculando Z{δ(n− k)} tem-se: Z{δ(n− k)} = ∞∑ n=0 δ(n− k)z−n = z−k. Assim, Z{δ(n− k)} = z−k, para todo z 6= 0. Exemplo 1.3. Como um caso particular da sequeˆncia delta, para k = 0, tem-se: xn = { 1, se n = 0 0, se n 6= 0, isto e´, xn = {1, 0, 0, 0, 0, . . .}, cuja transformada Z{xn} e´ dada por: X(z) = ∞∑ n=0 xnz −n = 1 + 0 z + 0 z2 + 0 z3 + . . . = 1, definida para todo z complexo. Assim, Z{xn} = 1. Nos exemplos anteriores as sequeˆncias consideradas tinham um nu´mero finito de termos diferentes de zero, e como consequeˆncia, a transformada Z foi expressa em cada caso como uma soma finita. Nos exemplos a seguir sera˜o consideradas sequeˆncias que tem infinitos termos na˜o nulos, e assim, o ca´lculo da transformada Z sera´ feito atrave´s de se´ries, em particular atrave´s da se´rie geome´trica. A se´rie geome´trica e sua relac¸a˜o com a transformada Z sera´ discutida com mais detalhe na pro´xima sec¸a˜o, mas sera´ usado por enquanto o seguinte resultado sobre a se´rie geome´trica de raza˜o x: ∞∑ n=0 xn = 1 + x+ x2 + . . . = 1 1− x se e somente se |x| < 1. Exemplo 1.4. Seja a sequeˆncia de Heaviside dada por: Hn−k = { 0, se n < k 1, se n ≥ k, Definic¸a˜o 4 onde k ∈ N. Calculando a transformada Z da sequeˆncia dada, tem-se que: Z{Hn−k} = ∞∑ n=0 Hn−kz−n = k−1∑ n=0 Hn−kz−n + ∞∑ n=k Hn−kz−n = 0 + 1 zk + 1 zk+1 + 1 zk+2 + . . . = 1 zk ( 1 + 1 z + 1 z2 + . . . ) , sempre que a se´rie em pareˆnteses for convergente. Essa se´rie e´ uma se´rie geome´trica de raza˜o 1/z e portanto converge para 1 1− 1 z se ∣∣∣∣1z ∣∣∣∣ < 1. Assim: Z{Hn−k} = 1 zk 1− 1 z = z zk(z − 1) , definida para |z| > 1. Exemplo 1.5. Como um caso particular da sequeˆncia de Heaviside, para k = 0, tem-se a sequeˆncia fn = {1, 1, 1, 1, . . .}. Sua transformada Z{fn} e´ dada por: F (z) = ∞∑ n=0 fnz −n = 1 + 1 z + 1 z2 + 1 z3 + . . . que corresponde a uma se´rie geome´trica de raza˜o 1/z. Assim: F (z) = 1 1− 1 z = z z − 1 , definida para |z| > 1. Regia˜o de Convergeˆncia 5 Exemplo 1.6. Dado a ∈ R, considere a sequeˆncia constante yn = {a, a, a, a, . . .}. A transformada Z{yn} = Y (z) e´ dada por: Y (z) = ∞∑ n=0 ynz −n = a+ a z + a z2 + a z3 + . . . = a ( 1 + 1 z + 1 z2 + . . . ) . Novamente, pelo crite´rio de convergeˆncia da se´rie geome´trica, tem-se que: Y (z) = a 1− 1 z = az z − 1 , definida para |z| > 1. 1.2 Regia˜o de Convergeˆncia Na sec¸a˜o anterior, va´rios exemplos ilustraram o fato de que a transformada Z de uma sequeˆncia fn, pode na˜o estar definida para todo complexo z. Em geral, a regia˜o do plano complexo para a qual a transformada F (z) existe e´ definida como a regia˜o de convergeˆncia (RDC) da transformada F (z). Para estabelecer a RDC de algumas transformadas e´ importante considerar a se´rie geome´trica e sua regia˜o de convergeˆncia. 1.2.1 Se´rie Geome´trica Considere uma progressa˜o geome´trica (PG) de raza˜o r ∈ C e primeiro termo a ∈ C, ou seja, uma sequeˆncia da forma: {a, ar, ar2, ar3, . . . , arn . . .}. A se´rie geome´trica S correspondente a essa progressa˜o, e´ definida como a soma dos termos da PG, isto e´: S = ∞∑ n=0 arn = a+ ar + ar2 + ar3 + . . . Dependendo dos valores de a e r essa soma pode ou na˜o convergir. Para determinar os poss´ıveis valores que essa soma pode tomar, sera´ considerada a Regia˜o de Convergeˆncia 6 soma parcial ate´ o n−e´simo termo e depois sera´ analizado o que ocorre com a soma parcial quando n tende ao infinito. A soma dos n primeiros termos da PG e´ dada por: Sn = a+ ar + ar 2 + ar3 + ...+ arn−1. Se r = 1 esta´ expressa˜o torna-se igual a na. Se r 6= 1, e´ possivel obter uma expressa˜o simplificada para esta soma. Multiplicando por r em ambos os lados da igualdade, tem-se que: rSn = ar + ar 2 + ar3 + ar4 + ...+ arn e subtraindo Sn − rSn: Sn − rSn = a+ ar + ar2...+ arn−1 − (ar + ar2 + ar3 + ...+ arn) = a− arn, isto e´, Sn(1− r) = a(1− rn) e assim Sn = a(1− rn) 1− r , se r 6= 1. Pore´m, o objetivo e´ notar o que ocorre com a soma Sn quando n tende ao infinito. Tem-se que: lim n→∞Sn = a 1− r quando |r| < 1, pois: lim n→∞ r n = 0 se e somente se |r| < 1. Conclui-se que a soma de uma progressa˜o geome´trica, dado primeiro termo a ∈ C e raza˜o r ∈ C, converge quando |r| < 1. A desigualdade |r| < 1 representa uma regia˜o do plano complexo, conforme Figura 1.2. Utilizando o conceito de convergeˆncia para se´ries geome´tricas, sera˜o consi- derados alguns exemplos relacionados a` sequeˆncia dada pelas poteˆncias de um nu´mero. Exemplo 1.7. Para a ∈ C, seja xn = an, com n ∈ N. Tem-se que X(z) = Z{xn} e´ dada por: X(z) = ∞∑ n=0 anz−n = 1 + a z + a2 z2 + a3 z3 + . . . Regia˜o de Convergeˆncia 7 Figura 1.2: Regia˜o correspondente a |r| < R. Logo, se |a/z| < 1, enta˜o: X(z) = 1 1− a z = z z − a. Assim, a regia˜o de convergeˆncia de X(z) e´ dada por |a/z| < 1, ou seja, |z| > |a|. Diferentes possibilidades para a regia˜o de convergeˆncia sa˜o ilustradas na Figura 1.3 para a ∈ R. Regia˜o de Convergeˆncia 8 Figura 1.3: RDC da forma |z| > |a|. Exemplo 1.8. Para xn = e an, n ∈ N e a ∈ C, tem-se que X(z) = Z{xn} e´ dada por: X(z) = ∞∑ n=0 eanz−n = 1 + ea z + ( ea z )2 + ( ea z )3 + . . . = 1 1− e a z = z z − ea . Assim, tem-se uma se´rie geome´trica de raza˜o r = ea/z, cuja RDC e´ dada Propriedades 9 por |ea/z| < 1, isto e´, |z| > |ea|. 1.3 Propriedades A seguir, sera˜o apresentadas algumas propriedades ba´sicas da transformada Z, seguidas de suas demonstrac¸o˜es e exemplos. 1.3.1 Linearidade Teorema 1.1. Sejam a e b nu´meros complexos dados, xn e yn sequeˆncias, e X(z) a transformada Z de xn, para |z| > R1 e Y (z) a transformada Z de yn, para |z| > R2. Enta˜o Z{axn + byn} = aX(z) + bY (z), para |z| > max{R1, R2}. Demonstrac¸a˜o: Z{axn + byn} = ∞∑ n=0 (axn + byn) z −n = ∞∑ n=0 axnz −n + ∞∑ n=0 bynz −n = a ∞∑ n=0 xnz −n + b ∞∑ n=0 ynz −n = aX(z) + bY (z) para todo n ∈ N. Exemplo 1.9. Seja yn = sen(θn), para n ∈ N e θ ∈ R. Pela fo´rmula de Euler tem-se que { eiθ = cos θ + i sen θ e−iθ = cos θ − i sen θ e portanto: cos θ = eiθ + e−iθ 2 e senθ = eiθ − e−iθ 2i . Assim e´ poss´ıvel calcular a transformada Z de sen(θn) usando a propriedade de linearidade da seguinte forma: Propriedades 10 Z{sen(θn)} = Z { eiθn − e−iθn 2i } = 1 2i (Z{eiθn} − Z{e−iθn}) = 1 2i ( z z − eiθ − z z − e−iθ ) = z(z − e−iθ)− z(z − eiθ) (z − eiθ)(z − e−iθ)2i = z(z − e−iθ − z + eiθ) 2i(z − eiθ)(z − e−iθ) = z(−e−iθ + eiθ) 2i(z − eiθ)(z − e−iθ) = z sen θ (z − eiθ)(z − e−iθ) = z sen θ z2 − ze−iθ − zeiθ + 1 = z sen θ z2 − z(e−iθ + eiθ) + 1 = z sen θ z2 − 2z cos θ + 1 . (1.3.2) Na deduc¸a˜o anterior, foram usadas as transformadas de eiθn e de e−iθn. Do Exemplo 1.8, para xn = e an, tem-se que a RDC e´ dada por |z| > |ea|. Assim, como |eiθ| = |e−iθ| = 1 para θ ∈ R, tem-se que Z{sen(θn)} converge quando |z| > 1. Exemplo 1.10. Seja fn = sen(npi/2), para n ∈ N, o que gera a sequeˆncia fn = {0, 1, 0,−1, 0, 1, 0,−1, . . .}. Pode-se encontrar Z{fn} atrave´s da definic¸a˜o (1.1.1): F (z) = 0 z0 + 1 z1 + 0 z2 − 1 z3 + 0 z4 + . . . = 1 z − 1 z3 + 1 z5 − 1 z7 + . . . . (1.3.3) Tem-se enta˜o em (1.3.3) uma PG de primeiro termo a = 1/z e raza˜o r = Propriedades 11 −1/z2. Utilizando a fo´rmula da soma de uma PG: F (z) = 1 z 1− ( − 1 z2 ) = z z2 + 1 . Alternativamente, pode-se substituir θ = pi/2 em (1.3.2): Z { sen (npi 2 )} = z sen pi 2 z2 − 2z cos pi 2 + 1 = z z2 + 1 . A RDC e´ dada por |z| > 1, conforme exemplo 1.9. 1.3.2 Diferenciac¸a˜o Teorema 1.2. Se a transformada X(z) = Z{xn} existe para |z| > R enta˜o a transformada Z{nxn} tambe´m existe para |z| > R e tem-se: Z{nxn} = −z d dz X(z). Demonstrac¸a˜o: Se a transformada X(z) = Z{xn} existe para |z| > R, tem-se pela con- vergeˆncia uniforme da se´rie dentro de sua RDC que: d dz X(z) = d dz ∞∑ n=0 xnz −n = ∞∑ n=0 d dz xnz −n = ∞∑ n=0 −nxnz−n−1 = − ∞∑ n=0 nxnz −n−1 = − ∞∑ n=0 nxn z−n z = −1 z ∞∑ n=0 nxnz −n = −1 z Z{nxn}. Propriedades 12 Assim, d dz X(z) = −1 z Z{nxn}, ou seja: Z{nxn} = −z d dz X(z). Generalizando o teorema anterior para k ∈ N, tem-se: Z{nkxn} = ( −z d dz )k Z{xn}. (1.3.4) Exemplo 1.11. Seja xn = n, n ∈ N, ou seja, a sequeˆncia xn = {0, 1, 2, 3, 4, 5, . . .}. Sua transformada Z{xn} pode ser obtida utilizando a propriedade de diferen- ciac¸a˜o da seguinte forma: Z{n} = Z{n.1} = −z d dz Z{1} = −z d dz ( z z − 1 ) = −z [ (z − 1)− z (z − 1)2 ] = −z(z − 1) + z2 (z − 1)2 = z (z − 1)2 . (1.3.5) Assim Z{n} = z (z − 1)2 , com RDC |z| > 1. Exemplo 1.12. Seja yn = n 2. A transformada Z{n2}, pode ser obtida utili- zando a propriedade de diferenciac¸a˜o da seguinte forma: Propriedades 13 Z{n2} = Z{n.n} = −z d dz (Z{n}) = −z d dz z (z − 1)2 = −z ( (z − 1)2 − 2z(z − 1) (z − 1)4 ) = z(z2 − 1) (z − 1)4 = z(z + 1)(z − 1) (z − 1)4 = z(z + 1) (z − 1)3 . Logo, tem-se que Z{n2} = z(z + 1) (z − 1)3 , com RDC |z| > 1. Exemplo 1.13. Seja fn = na n, para a ∈ C. A transformada Z{fn} pode ser encontrada utilizando a propriedade de diferenciac¸a˜o. Lembrando que Z{an} = z z − a , a transformada Z{na n} e´ dada por: Z{nan} = −z d dz Z{an} = −z d dz ( z z − a ) = az (z − a)2 . Portanto Z{nan} = az (z − a)2 , com RDC |z| > |a|. 1.3.3 Similaridade Teorema 1.3. Seja a ∈ C, a 6= 0 e X(z) a transformada Z de xn, para |z| > R. Tem-se que Z{anxn} = X(z/a), para |z| > |a|R. Propriedades 14 Demonstrac¸a˜o: Z{anxn} = ∞∑ n=0 anxnz −n = ∞∑ n=0 xn z−n a−n = ∞∑ n=0 xn (z a )−n = X (z a ) . Se Z{xn} = X(z) para X(z) e´ |z| > R, enta˜o a RDC de X(z/a) e´ dada por |z/a| > R, ou ainda |z| > |a|R. Exemplo 1.14. Seja Z{nan} a transformada Z de nan. Como Z{n} = z (z − 1)2 pela propriedade de similaridade, tem-se: Z{nan} = z a(z a − 1 )2 = z a( z − a a )2 = z a a2 (z − a)2 = az (z − a)2 . Portanto Z{nan} = az (z − a)2 , com RDC |z| > |a|, conforme Exemplo 1.13 visto na sec¸a˜o anterior. Exemplo 1.15. Seja Z{eαn} a transformada Z de eαn. Como Z{1} = z z − 1 e utilizando a propriedade de similaridade: Propriedades 15 Z{eαn} = Z{(eα)n} = z eα z eα − 1 = z eα z − eα eα = z z − eα . (1.3.6) Logo Z{eαn} = z z − eα , com RDC |z| > e α, conforme Exemplo 1.8. O exemplo a seguir mostra como e´ poss´ıvel combinar va´rias propriedades para determinar a transformada de sequeˆncias mais complexas. Exemplo 1.16. A transformada Z{2n(n2−n)} pode ser determinada utilizando as propriedades de linearidade e similaridade. Calculando inicialmente Z{n2 − n} tem-se que: Z{n2 − n} = Z{n2} − Z{n} = z(z + 1) (z − 1)3 − z (z − 1)2 = 2z (z − 1)3 , para |z| > 1. Portanto, Z{2n(n2 − n)} = 2 z 2(z 2 − 1 )3 = 8z (z − 2)3 , para |z/2| > 1. Assim, Z{2n(n2 − n)} = 8z (z − 2)3 , definida para |z| > 2. 1.3.4 Translac¸a˜o Nesta sec¸a˜o sera˜o apresentadas as propriedades da transformada Z relaciona- das a` translac¸a˜o (ou deslocamento) dos termos de uma sequeˆncia. Considere inicialmente as seguintes sequeˆncias descritas explicitamente: Propriedades 16 {1, 3, 9, 27, 81, . . .} e {3, 9, 27, 81, 243, . . .}. Claramente as duas sequeˆncias esta˜o relacionadas com as poteˆncias de 3, mas o termo inicial da primeira sequeˆncia e´ 1 = 30, enquanto que o termo inicial da segunda sequeˆncia e´ 3 = 31. Para a primeira sequeˆncia, o termo geral pode ser escrito como 3n para n ∈ N. Esta mesma expressa˜o poderia ser usada para descrever a segunda sequeˆncia se o ı´ndice n iniciasse a partir de 1, mas para usar os mesmos valores de n = 0, 1, 2, . . ., a expressa˜o adequada para a segunda sequeˆncia e´ 3n+1, isto e´: 3n = {1, 3, 9, 27, 81, . . .} e 3n+1 = {3, 9, 27, 81, 243, . . .}. Assim, a relac¸a˜o entre as duas sequeˆncias e´ que a sequeˆncia 3n+1 corresponde a um deslocamento a` esquerda da sequeˆncia 3n. No mesmo sentido, a sequeˆncia {9, 27, 81, 243, 729, . . .}, que corresponde a dois deslocamentos a` esquerda a partir da sequeˆncia 3n, pode ser descrita com o termo geral 3n+2, isto e´, 3n+2 = {9, 27, 81, 243, 729, . . .}. Em geral, dada uma sequeˆncia xn, as notac¸o˜es xn+1, xn+2 ou xn+k, corres- pondem a`s sequeˆncias obtidas por 1, 2 ou k deslocamentos a` esquerda, respec- tivamente. Assim, dada uma sequeˆncia xn = {x0, x1, x2, x3, . . .}, a sequeˆncia xn+k, k ∈ N, e´ dada por xn+k = {xk, xk+1, xk+2, xk+3, . . . }. Exemplo 1.17. Seja a sequeˆncia xn = 4 + 3n. Descreva explicitamente os termos das sequeˆncias xn+1, xn+2, e xn+5 e determine os termos gerais dessas sequeˆncias. Considerando xn e os deslocamentos correspondentes a` esquerda, tem-se: xn = {4, 7, 10, 13, 16, . . .}, xn+1 = {7, 10, 13, 16, 19, . . .}, xn+2 = {10, 13, 16, 19, 22, . . .} Propriedades 17 e xn+5 = {19, 22, 25, 28, 31, . . .}. Como xn = 4 + 3n, pode-se verificar que os termos gerais das sequeˆncias xn+1, xn+2, e xn+5 correspondem a xn+1 = 4 + 3(n+ 1) = 7 + 3n, xn+2 = 4 + 3(n+ 2) = 10 + 3n, e xn+5 = 4 + 3(n+ 5) = 19 + 3n. Assim como foi considerado o deslocamento a` esquerda dos termos de uma sequeˆncia, e´ possivel considerar tambe´m o deslocamento a direita. No entanto, este deslocamento implica que novos termos precisam ser acrescentados no in´ıcio da sequeˆncia. Estas posic¸o˜es tera˜o o valor zero, pois uma sequeˆncia unilateral pode ser interpretada como uma sequeˆncia bilateral cujos termos associados a ı´ndices negativos sa˜o todos iguais a zero. Sera´ usada a notac¸a˜o xn−k para denotar a sequeˆncia obtida a partir de k deslocamentosa` direita dos termos da sequeˆncia xn. Assim, dada uma sequeˆncia xn = {x0, x1, x2, x3, . . .}, a sequeˆncia xn−k, k ∈ N, e´ dada por xn−k = {0, 0, 0, . . . , 0,︸ ︷︷ ︸ k posic¸o˜es x0, x1, x2, . . . }. Exemplo 1.18. Seja a sequeˆncia xn = a n para a ∈ R, a 6= 0. Descreva expli- citamente os termos das sequeˆncias xn−1, xn−2 e xn−4 e determine os termos gerais dessas sequeˆncias. Considerando xn e os deslocamentos correspondentes a` direita, tem-se: xn = {1, a, a2, a3, a4, . . .}, xn−1 = {0, 1, a, a2, a3, . . .}, xn−2 = {0, 0, 1, a, a2, . . .} e xn−4 = {0, 0, 0, 0, 1, a, a2, . . .}. Note que, embora xn = a n, o termo geral da sequeˆncia xn−1 na˜o e´ an−1, pois a posic¸a˜o correspondente a n = 0 na˜o satisfaz a igualdade, isto e´, 0 6= a0−1. Contudo, o termo geral da sequeˆncia xn−1 pode ser descrito como: Propriedades 18 xn−1 = { 0 se n = 0 an−1 se n ≥ 1. De forma ana´loga, os termos gerais das sequeˆncias xn−2 e xn−4 sa˜o: xn−2 = { 0 se n = 0, 1 an−2 se n ≥ 2 e xn−4 = { 0 se n = 0, 1, 2, 3 an−4 se n ≥ 4. Agora que esta˜o estabelecidas as notac¸o˜es para os deslocamentos a` direita e a` esquerda, sera˜o consideradas as transformadas Z destas sequeˆncias e sua relac¸a˜o com a transformada da sequeˆncia original sem deslocamentos. Teorema 1.4. Seja X(z) a transformada Z de xn, para |z| > R. Enta˜o: (i) Translac¸a˜o para Direita Z{xn−k} = z−kX(z), para |z| > R e k ∈ N. (ii) Translac¸a˜o para Esquerda Z{xn+k} = zkX(z)− k−1∑ n=0 xnz k−n, para |z| > R e k ∈ N. Demonstrac¸a˜o: (i) Para k ∈ N e |z| > R tem-se: Z{xn−k} = 0 z0 + 0 z1 + · · · 0 zk−1 + x0 zk + x1 zk+1 + x2 zk+2 + · · · = 1 zk (x0 z0 + x1 z1 + x2 z2 + · · · ) = z−kX(z). (ii) Para k ∈ N e |z| > R, tem-se: Z{xn} = ∞∑ n=0 xnz −n = k−1∑ n=0 xnz −n + ∞∑ n=k xnz −n. Propriedades 19 Fazendo uma mudanc¸a de ı´ndice considerando n = m + k no segundo somato´rio: Z{xn} = k−1∑ n=0 xnz −n + ∞∑ m+k=k xm+kz −(m+k) = k−1∑ n=0 xnz −n + z−k ∞∑ m=0 xm+kz −m = k−1∑ n=0 xnz −n + z−kZ{xm+k}. Logo, Z{xn} = k−1∑ n=0 xnz −n + z−kZ{xn+k}. Ou seja, Z{xn+k} = zk [ Z{xn} − k−1∑ n=0 xnz −n ] = zkX(z)− k−1∑ n=0 xnz k−n. Em particular para k = 1, 2, 3, o Teorema 1.4 assume o seguinte formato: (i) Z{xn−1} = z−1X(z) Z{xn−2} = z−2X(z) Z{xn−3} = z−3X(z) (ii) Z{xn+1} = zX(z)− x0z Z{xn+2} = z2X(z)− x0z2 − x1z Z{xn+3} = z3X(z)− x0z3 − x1z2 − x2z Exemplo 1.19. Seja xn = 2 n, ou seja, xn = {1, 2, 4, 8, 16, . . .}. Encontre as transformadas de xn−2 e xn+1. Conforme estabelecido no Exemplo 1.7: Z{xn} = X(z) = z z − 2 , para |z| > 2. Propriedades 20 Do Teorema 1.4, tem-se: Z{xn−2} = z−2X(z) = z−2 z z − 2 = 1 z(z − 2) e Z{xn+1} = z1X(z)− x0z1 = z z z − 2 − 1z = 2z z − 2 . Exemplo 1.20. Seja yn = e αn, para α ∈ R. Tem-se que: Z{eαn} = Y (z) = z z − eα , para |z| > eα. Pode-se encontrar a transformada de yn+2, utilizando a propriedade de translac¸a˜o a` esquerda: Z{yn+2} = Z{eα(n+2)} = z2Y (z)− y0z2 − y1z = z2 z z − eα − z 2 − eαz = e2αz z − eα , para |z| > eα. Ou ainda, encontrar a transformada de yn−2, utilizando a propriedade de translac¸a˜o a` direita: Z{yn−2} = Z{eα(n−2)} = z−2Y (z) = z−2 z z − eα = 1 z(z − eα) , para |z| > eα. Propriedades 21 1.3.5 Convoluc¸a˜o A convoluc¸a˜o de duas sequeˆncias xn e yn, denotada por xn ∗ yn, e´ uma nova sequeˆncia wn, cujo n-e´simo termo e´ dado por: wn = xn ∗ yn = n∑ k=0 xn−kyk = n∑ k=0 xkyn−k. Mais infomac¸o˜es sobre convoluc¸a˜o podem ser encontradas em [20]. A pro- priedade a seguir mostra que a transformada da convoluc¸a˜o e´ o produto das transformadas. Teorema 1.5. Se Z{xn} = X(z), para |z| > R1 e Z{yn} = Y (z), para |z| > R2, enta˜o Z{xn ∗ yn} = X(z)Y (z), para |z| > max{R1, R2}. Demonstrac¸a˜o: Z{xn ∗ yn} = ∞∑ n=0 [ n∑ k=0 xkyn−k ] z−n = n∑ k=0 ∞∑ n=0 xkyn−kz−n = ∞∑ k=0 xk ∞∑ n=k yn−kz−n. Tomando r = n− k, tem-se: Z{xn ∗ yn} = ∞∑ k=0 xk ∞∑ r=0 yrz −kz−r = ∞∑ k=0 xkz −k ∞∑ r=0 yrz −r = X(z)Y (z). Esta propriedade da transformada Z e´ considerada uma das mais importan- tes [1]. Nos exemplos a seguir, esta propriedade sera´ usada para determinar a sequeˆncia correspondente a uma certa func¸a˜o na varia´vel z. Esta situac¸a˜o cor- responde a` determinac¸a˜o da transformada Z inversa da func¸a˜o. Este conceito sera´ explorado com maior profundidade no pro´ximo cap´ıtulo. Exemplo 1.21. Seja F (z) = z2 (z − 1)3 . Propriedades 22 Quer-se encontrar fn tal que Z{fn} = z 2 (z − 1)3 , utilizando a propriedade de convoluc¸a˜o. Conforme Exemplos 1.5 e 1.11, tem-se que: Z{1} = z z − 1 e Z{n} = z (z − 1)2 . Assim, F (z) = z2 (z − 1)3 = z z − 1 · z (z − 1)2 = Z{1}Z{n}. Logo, pela propriedade de convoluc¸a˜o: Z{1 ∗ n} = Z{1}Z{n} = z 2 (z − 1)3 . Utilizando a definic¸a˜o de convoluc¸a˜o, 1 ∗ n = n∑ k=0 1.k = 0 + 1 + 2 + 3 + · · ·+ n = n(n+ 1) 2 . Logo, Z { n(n+ 1) 2 } = z2 (z − 1)3 . Exemplo 1.22. Seja Y (z) = az2 (z − 1)(z − a) . Quer-se encontrar yn tal que Z{yn} = az 2 (z − 1)(z − a) . Propriedades 23 Como visto anteriormente nos exemplos 1.6 e 1.7, tem-se que: Z{a} = az z − 1 e Z{an} = z (z − a) . Assim, Y (z) = az2 (z − 1)(z − a) = az z − 1 · z z − a = Z{a}Z{an}. Logo, pela propriedade de convoluc¸a˜o, Z{a ∗ an} = Z{a}Z{an} = Y (z). Utilizando a definic¸a˜o de convoluc¸a˜o: a ∗ an = n∑ k=0 a.ak = a n∑ k=0 ak = a ( 1− an+1 1− a ) . Logo, Z { a(1− an+1) 1− a } = az2 (z − 1)(z − a) . 1.3.6 Valor Inicial A propriedade seguinte esta´ relacionada com o comportamento assinto´tico da transformada Z. Teorema 1.6. Se a transformada Z{xn} = X(z) existe para |z| > R enta˜o: lim z→∞X(z) = x0 = limn→0 xn. Propriedades 24 Demonstrac¸a˜o: lim z→∞X(z) = limz→∞ ∞∑ n=0 xnz −n = lim z→∞ ( x0 + x1 z + x2 z2 + x3 z3 + . . . ) = lim z→∞x0 + limz→∞ x1 z + lim z→∞ x2 z2 + lim z→∞ x3 z3 + . . . = x0 + 0 + 0 + 0 + . . . = x0 = lim n→0 xn. Exemplo 1.23. Seja fn = 1 uma sequeˆncia dada por fn = {1, 1, 1, 1, . . .}. Como visto no Exemplo 1.5, sua transformada e´ dada por: F (z) = z z − 1 . A propriedade do Valor Inicial pode ser verificada notando que o primeiro termo da sequeˆncia e´ : f0 = lim z→∞ z z − 1 = 1 ou, f0 = lim n→0 fn = lim n→0 1 = 1. Exemplo 1.24. Seja xn = n a sequeˆncia vista no Exemplo 1.11, cuja transfor- mada e´ dada por: X(z) = z (z − 1)2 . Pode-se verificar a propriedade do Valor Inicial, notando que seu termo ini- cial e´ dado por: x0 = lim z→∞ z (z − 1)2 = 0 ou, x0 = lim n→0 xn = lim n→0 n = 0. Propriedades 25 1.3.7 Valor Final A seguinte propriedade estabelece uma relac¸a˜o entre o limite da sequeˆncia e sua transformada Z. Teorema 1.7. Se a transformada Z{xn} = X(z) existe para |z| > R, e se lim n→∞xn existe, enta˜o: lim n→∞xn = limz→1 (z − 1)X(z). Demonstrac¸a˜o: Z{xn} = ∞∑ n=0 xnz −n = X(z). Pela propriedade de Translac¸a˜o para Esquerda vista anteriormente: Z{xn+1} = zX(z)− zx0. E pela propriedade de Linearidade: Z{xn+1 − xn} = zX(z)− zx0 −X(z). Assim, aplicando o conceito de limite em ambas as partes da igualdade: lim z→1 [Z{xn+1 − xn}] = lim z→1 [zX(z)− zx0 −X(z)] lim z→1 ∞∑ n=0 (xn+1 − xn)z−n = lim z→1 (z − 1)X(z)− lim z→1 zx0 ∞∑ n=0 xn+1 − xn = lim z→1 (z − 1)X(z)− x0 −x0 + lim n→∞xn = limz→1 (z − 1)X(z)−x0, pois: ∞∑ n=0 xn+1 − xn = (x1 − x0) + (x2 − x1) + (x3 − x2) + . . .+ (xn − xn−1) + . . . = −x0 + lim n→∞xn. Logo lim n→∞xn = limz→1 (z − 1)X(z). Exemplo 1.25. Seja fn = (1/2) n e sua transformada dada por: F (z) = z z − 12 . Exerc´ıcios Resolvidos 26 Pode-se verificar que: lim z→1 (z − 1) z z − 12 = 0 = lim n→∞ ( 1 2 )n . Para facilitar a consulta, encontra-se no Apeˆndice A um resumo das propri- edades vistas e no Apeˆndice B alguns pares de transformadas. 1.4 Exerc´ıcios Resolvidos A seguir exemplos da aplicac¸a˜o da transformada Z utilizando sua definic¸a˜o e propriedades para determinar a transformada Z de algumas sequeˆncias. Exemplo 1.26. Seja xn = (n − 1)an−2, a ∈ R, calcule Z{(n − 1)an−2} e de- termine sua regia˜o de convergeˆncia. Pela propriedade de Linearidade, Z{(n− 1)an−2} = a−2(Z{nan} − Z{an}). Pela propriedade de Similaridade, Z{an} = Z{an.1} = z a z a − 1 = z z − a, para |z| > |a|. Pela propriedade de Diferenciac¸a˜o, Z{nan} = −z d dz ( z z − a ) = −z ( z − a− z (z − a)2 ) = az (z − a)2 , para |z| > |a|. Logo, Z{(n− 1)an−2} = a−2(Z{nan} − Z{an}) = a−2 ( az (z − a)2 − z z − a ) = az − z(z − a) a2(z − a)2 = az − z2 + az a2(z − a)2 = 2az − z2 a2(z − a)2 , para |z| > |a|. Exerc´ıcios Resolvidos 27 Exemplo 1.27. Seja yn = a n sen θn, θ ∈ R, calcule Z{an sen θn}. Como visto anteriormente, Z{sen θn} = z sen θ z2 − 2z cos θ + 1 . Pela propriedade da Similaridade, Z{an sen θn} = z a sen θ ( z a )2 − 2z a cos θ + 1 . Multiplicando denominador e numerador por a2, Z{an sen θn} = az sen θ z2 − 2az cos θ + a2 . Nos exemplos anteriores, as regio˜es de convergeˆncia das transformadas en- volvidas no processo de ca´lculo eram iguais e portanto a regia˜o de convergeˆncia resultante permaneceu igual. Em situac¸o˜es mais complexas, a regia˜o de con- vergeˆncia resultante pode ser a intersec¸a˜o das regio˜es de convergeˆncia das trans- formadas consideradas. Exemplo 1.28. Calcule Z{fn} onde fn = cosh(βn), com β ∈ R. Lembrando que coshβ = eβ + e−β 2 , tem-se: Z {coshβn} = Z { eβn + e−βn 2 } . Pela propriedade da Linearidade, Z { eβn + e−βn 2 } = 1 2 (Z{eβn}+ Z{e−βn}). Conforme Exemplo 1.8 (ou 1.15), tem-se: Z{eβn} = 1 1− e β z = z z − eβ , para |z| > eβ. E do mesmo modo, para Z{e−βn}, tem-se: Z{e−βn} = z z − e−β , para |z| > e−β. Exerc´ıcios Resolvidos 28 Logo, se |z| > max{eβ , e−β}, enta˜o: Z{coshβn} = 1 2 (Z{eβn}+ Z{e−βn}) = 1 2 ( z z − eβ + z z − e−β ) = 1 2 ( z(z − e−β) + z(z − eβ) (z − eβ)(z − e−β) ) = z2 − z ( e−β + eβ 2 ) z2 − 2z ( e−β + eβ 2 ) + 1 = z2 − z coshβ z2 − 2z coshβ + 1 . Assim, Z{coshβn} = z 2 − z coshβ z2 − 2z coshβ + 1 , para |z| > max{eβ , e−β}. Nos exemplos a seguir, sera˜o aplicadas a`s propriedades da transformada Z para sequeˆncias que esta˜o escritas em termos de uma ou va´rias sequeˆncias na˜o definidas explicitamente. Assim, a transformada resultante tambe´m dependera´ das transformadas Z das sequeˆncias desconhecidas. Este tipo de situac¸a˜o sera´ utilizada na soluc¸a˜o de equac¸o˜es de diferenc¸as (Cap´ıtulo 4). Exemplo 1.29. Considere uma sequeˆncia yn com transformada Z{yn} = Y (z). Calcule Z{yn − 4yn−1}. Pela propriedade de Linearidade, Z{yn − 4yn−1} = Z{yn} − 4Z{yn−1}. Pela definic¸a˜o e propriedade de Translac¸a˜o para Direita, Z{yn} − 4Z{yn−1} = Y (z)− 4z−1Y (z) = Y (z)[1− 4z−1]. Portanto, Z{yn − 4yn−1} = Y (z)[1− 4z−1]. Exemplo 1.30. Seja xn uma sequeˆncia com transformada Z{xn} = X(z). Calcule Z{e−2(n−2)xn−2}. Exerc´ıcios Resolvidos 29 Pela propriedade de Linearidade, Z{e−2(n−2)xn−2} = e4Z{e−2nxn−2}. Pela propriedade de Translac¸a˜o para Direita, Z{xn−2} = z−2X(z). Chamando z−2X(z) = A(z) e pela propriedade de Similaridade, Z{e−2nxn−2} = A ( z e−2 ) = A(ze2) = (ze2)−2X(ze2) = X(ze2) z2e4 . Logo, Z{e−2(n−2)xn−2} = e4Z{e−2nxn−2} = e4 X(ze2) z2e4 = X(ze2) z2 . Portanto, Z{e−2(n−2)xn−2} = X(ze 2) z2 . Exemplo 1.31. Seja fn uma sequeˆncia com transformada Z{fn} = F (z). Cal- cule Z{3(n− 1)fn−1}. Pela propriedade de Linearidade, Z{3(n− 1)fn−1} = 3Z{(n− 1)fn−1} = 3(Z{nfn−1} − Z{fn−1}). Pela propriedade de Translac¸a˜o para Direita, Z{fn−1} = z−1F (z). Exerc´ıcios Resolvidos 30 Pela propriedade de Diferenciac¸a˜o, Z{nfn−1} = −z d dz Z{fn−1} = −z d dz [z−1F (z)] = −z [ −F (z) z2 + 1 z d dz F (z) ] = F (z) z − d dz F (z). Logo, Z{3(n− 1)fn−1} = 3(Z{nfn−1} − Z{fn−1}) = 3 ( F (z) z − d dz F (z)− F (z) z ) = −3 d dz F (z). Portanto, Z{3(n− 1)fn−1} = −3 d dz F (z). Exemplo 1.32. Seja xn uma sequeˆncia com transformada Z{xn} = X(z) e x0 = 1. Calcule Z{an+2xn+1}, com a ∈ R. Pela propriedade de Linearidade, Z{an+2xn+1} = a2Z{anxn+1}. Pela propriedade de Translac¸a˜o para Esquerda, Z{xn+1} = zX(z)− 1−1∑ r=0 xrz 1−r = zX(z)− x0z1. Chamando A(z) = zX(z)− x0z1 e pela propriedade de Similaridade, Z{anxn+1} = A (z a ) = z a X (z a ) − z a x0 = z a [ X (z a ) − x0 ] . Exerc´ıcios Propostos 31 Logo, Z{an+2xn+1} = a2Z{anxn+1} = a2 {z a [ X (z a ) − x0 ]} . Substitu´ındo x0 = 1 e simplificando, Z{an+2xn+1} = az [ X (z a ) − 1 ] . Exemplo 1.33. Seja yn uma sequeˆncia com transformada Z{yn} = Y (z). Cal- cule Z{2n− yn + 3e−n}. Pela propriedade de Linearidade, Z{2n− yn + 3e−n} = 2Z{n} − Z{yn}+ 3Z{e−n}. Pela propriedade de Diferenciac¸a˜o, Z{n} = Z{n.1} = −z d dz ( z z − 1 ) = z (z − 1)2 . Seja Z{1} = z z − 1 = A(z) e pela propriedade de Similaridade, Z{e−n} = A ( z e−1 ) = A(ze) = ze ze− 1 . Logo, Z{2n− yn + 3e−n} = 2Z{n} − Z{yn}+ 3Z{e−n} = 2 z (z − 1)2 − Y (z) + 3 ze ze− 1 . Portanto, Z{2n− yn + 3e−n} = 2z (z − 1)2 − Y (z) + 3ze ze− 1 . Exerc´ıcios Propostos 32 1.5 Exerc´ıcios Propostos A seguir exerc´ıcios propostos em relac¸a˜o a` definic¸a˜o e propriedades da Trans- formada Z, e regia˜o de convergeˆncia. Pode-se utilizar a lista de transformadas elementares (Apeˆndice B), como aux´ılio. 1. Calcule as transformadas, identificando a Regia˜o de Convergeˆncia: (a) Z {( −2 3 )n} . (b) Z{ne−4n}. (c) Z{1− (−5)n}. (d) Z{2 + 3e−2n}. (e) Z { cos (npi 2 )} . (f) Z{e−an sen(αn)}. (g) Z{3n sen(2n)}. 2. Mostre que: (a) Z{cos(βn)} = z(z − cosβ) z2 − 2z cosβ + 1, para |z| > 1. (b) Z{senh(αn)} = zsenhα z2 − 2z coshα+ 1, para |z| > max{e α, e−α}. 3. Calcule: (a) Z{2e−n + 3e−0,5n}. (b) Z{5(0, 8)n − 4(1, 1)n}. (c) Z{n sen(2n)}. (d) Z{2n(n2 − n)}. (e) Z{2n− 3(n− 1)xn−1}. 1.5.1 Respostas 1. (a) z z + 23 , para |z| > 2 3 . (b) e4z (e4z − 1)2 , para |z| > |e −4|. (c) 6z (z − 1)(z + 5) , para |z| > 1. (d) z ( 3e2 e2z − 1 + 2 z − 1 ) , para |z| > 1. Exerc´ıcios Propostos 33 (e) z2 z2 + 1 , para |z| > 1. (f) eaz senα e2az2 − 2eaz cosα+ 1, para |z| > |e −a|. (g) 3z sen 2 z2 − 6z cos 2 + 9, para |z| > 3. 2. Utilizar a fo´rmula de Euler. 3. (a) 3 √ ez√ ez − 1 + 2ez ez − 1 . (b) 5z(10z − 23) 50z2 − 95z + 44. (c) z(z2 − 1) sen 2 (z2 − 2z cos 2 + 1)2 . (d) 8z (z − 2)3 . (e) 2z (z − 1)2 + 3 d dz X(z). Cap´ıtulo 2 Transformada Z Inversa Neste cap´ıtulo sera´ considerada a seguinte situac¸a˜o: dada uma func¸a˜o X(z), e´ poss´ıvel determinar uma sequeˆncia xn tal que Z{xn} = X(z)? A resposta nem sempre e´ afirmativa para uma func¸a˜o arbitra´ria X(z), mas quando existe tal sequeˆncia xn, ela e´chamada de transformada Z inversa de X(z) e denotada por Z−1{X(z)}. Exemplo 2.1. Dada a func¸a˜o X(z) = z z − 2 , determine a transformada inversa Z−1{X(z)}. No cap´ıtulo anterior foram calculadas as transformadas de va´rias sequeˆncias (resumidas no Apeˆndice B), entre elas a transformada da sequeˆncia an, com a ∈ C: Z{an} = z z − a, se |z| > |a|. A func¸a˜o X(z) = z z − 2 corresponde a esta expressa˜o justamente quando a toma o valor 2, e assim, parece natural considerar a sequeˆncia 2n como a transformada Z inversa da func¸a˜o X(z). Estritamente falando, seria preciso destacar adicionalmente que esta relac¸a˜o so´ e´ va´lida na regia˜o de convergeˆncia da transformada Z{2n}, ou seja: Z−1 { z z − 2 } = 2n, para |z| > |2|. Mas, como nessa situac¸a˜o na˜o ha´ motivo para confusa˜o, e´ poss´ıvel simples- mente escrever: Z−1 { z z − 2 } = 2n, ficando subentendido que a igualdade e´ va´lida somente na regia˜o de convergeˆncia da transformada Z da sequeˆncia. Me´todo de Se´rie de Poteˆncias 35 Exemplo 2.2. Determine a transformada Z inversa de X(z) = z z + 2 + z (z − 3)2 . Usando os resultados do cap´ıtulo anterior, resumidos nos apeˆndices A e B, e´ poss´ıvel estabelecer que: Z {(−2)n} = z z + 2 e Z {n3n} = 3z (z − 3)2 . Pela linearidade da transformada Z tem-se que: Z { (−2)n + 1 3 n3n } = z z + 2 + z (z − 3)2 , e portanto, a transformada Z inversa de X(z) e´ dada pela sequeˆncia (−2)n + 1 3 n3n, isto e´: Z−1 { z z + 2 + z (z − 3)2 } = (−2)n + 1 3 n3n = (−2)n + n3n−1. Nas situac¸o˜es simples consideradas nos exemplos anteriores, a func¸a˜o X(z) pode ser identificada imediatamente ou com ajuda de uma tabela de transfor- madas, como a transformada de uma certa sequeˆncia. Em outros casos, sera´ preciso decompor a func¸a˜o dada em termos de func¸o˜es mais simples ou ainda utilizar a pro´pria definic¸a˜o da transformada Z para determinar termo a termo a sequeˆncia Z inversa de X(z). Nessas notas sera˜o considerados os seguintes treˆs me´todos para obter a transformada Z inversa de uma func¸a˜o: • Se´rie de Poteˆncias, • Frac¸o˜es Parciais, • Res´ıduos. O primeiro me´todo baseia-se na pro´pria definic¸a˜o da transformada Z, o se- gundo me´todo utiliza manipulac¸o˜es alge´bricas para decompor a func¸a˜o dada em func¸o˜es mais simples e o terceiro me´todo utiliza uma te´cnica geral base- ada em resultados fundamentais da teoria de integrac¸a˜o de func¸o˜es de varia´vel complexa. Me´todo de Se´rie de Poteˆncias 36 2.1 Me´todo de Se´rie de Poteˆncias Neste me´todo, o objetivo e´ obter a transformada Z inversa a partir de uma expansa˜o de X(z) em se´ries de poteˆncias de z−1. Assim, ao obter uma expressa˜o da forma X(z) = ∞∑ n=0 xnz −n, para |z| > R, a transformada Z inversa e´ determinada como a sequeˆncia dos coeficientes xn. Se X(z) esta´ na forma de uma func¸a˜o racional X(z) = g(z) h(z) , onde g(z) e h(z) sa˜o polinoˆmios em z, e´ poss´ıvel usar o processo de divisa˜o de g(z) por h(z) para obter termo a termo a se´rie de poteˆncias de z−1 correspon- dente a X(z). Com esta te´cnica e´ poss´ıvel, em teoria, determinar quantos termos da sequeˆncia forem necessa´rios, mas nem sempre e´ fa´cil determinar uma fo´rmula geral fechada para os termos da sequeˆncia inversa. Exemplo 2.3. Seja X(z) = z(z + 1) (z − 1)2 . Determine a transformada inversa Z−1{X(z)}. Dividindo o polinoˆmio z2 + z por z2 − 2z + 1, tem-se: z2+z |z2 − 2z + 1 −z2 + 2z − 1 1 3z − 1 Usualmente, o processo de divisa˜o terminaria neste esta´gio. Pore´m, e´ poss´ıvel continuar a divisa˜o para eliminar termos no resto e gerar novos termos no quo- ciente. Por exemplo, para eliminar o termo 3z no resto e´ poss´ıvel multiplicar o polinoˆmio z2 − 2z + 1 por 3z−1 e subtrair, isto e´: z2+z |z2 − 2z + 1 −z2 + 2z − 1 1 + 3z−1 3z − 1 −3z + 6− 3z−1 5− 3z−1 De forma ana´loga, e´ poss´ıvel eliminar o termo 5 no resto, multiplicando o polinoˆmio z2 − 2z + 1 por 5z−2 e subtraindo. Este processo pode ser realizado de forma sucessiva: Me´todo de Se´rie de Poteˆncias 37 z2+z |z2 − 2z + 1 −z2 + 2z − 1 1 + 3z−1 + 5z−2 + 7z−3 + . . . 3z − 1 −3z + 6− 3z−1 5− 3z−1 −5 + 10z−1 − 5z−2 7z−1 − 5z−2 −7z−1 + 14z−2 − 7z−3 9z−2 − 7z−3 O quociente da divisa˜o e´ uma se´rie de poteˆncias de z−1: X(z) = 1 + 3z−1 + 5z−2 + 7z−3 + 9z−4 . . . . Assim, xn = {1, 3, 5, 7, 9, . . .}, o que sugere que a sequeˆncia procurada e´ dada por xn = 2n+ 1. Para mostrar que xn = 2n+ 1 e´ a expressa˜o correta, basta provar que Z{2n+ 1} = X(z) = z(z + 1) (z − 1)2 . De fato, Z{2n + 1} = 2Z{n} + Z{1} pela propriedade de linearidade e observando os itens 1 e 5 na lista de transformadas: Z{2n+ 1} = 2Z{n}+ Z{1} = 2z (z − 1)2 + z z − 1 = z(z + 1) (z − 1)2 = X(z). Logo, xn = 2n+ 1 e´ a transformada Z inversa de X(z). Exemplo 2.4. Considere X(z) = z2 (z + 1)2 e determine xn tal que Z{xn} = X(z), isto e´, determine a transformada Z inversa de X(z). Tem-se que z2 (z + 1)2 = z2 z2 + 2z + 1 e assim e´ poss´ıvel determinar xn fazendo a divisa˜o correspondente da seguinte forma: Me´todo de Se´rie de Poteˆncias 38 z2 |z2 + 2z + 1 −z2 − 2z − 1 1− 2z−1 + 3z−2 − 4z−3 + 5z−4 . . . −2z − 1 2z + 4 + 2z−1 3 + 2z−1 −3− 6z−1 − 3z−2 −4z−1 − 3z−2 4z−1 + 8z−2 + 4z−3 5z−2 + 4z−3 −5z−2 − 10z−3 − 5z−4 −6z−3 − 5z−4 ... Logo tem-se como quociente da divisa˜o a se´rie dada por X(z) = 1− 2z−1 + 3z−2 − 4z−3 + 5z−4 . . . Observando os termos da sequeˆncia {1,−2, 3,−4, 5, ...} pode-se conjecturar que xn = (−1)n(n+ 1). Para mostrar que de fato Z{(−1)n(n+ 1)} = z 2 (z + 1)2 basta observar que (−1)n(n+1) = n(−1)n+(−1)n e ao considerar a linearidade e as transformadas anteriormente estabelecidas tem-se: Z{(−1)n(n+ 1)} = Z{n(−1)n}+ Z{(−1)n} = (−1)z (z + 1)2 + z z + 1 = −z + z(z + 1) (z + 1)2 = −z + z2 + z (z + 1)2 = z2 (z + 1)2 . Logo xn = (−1)n(n+ 1) e´ a a transformada Z inversa de X(z) = z 2 (z + 1)2 . O exemplo seguinte mostra que embora seja poss´ıvel usar a divisa˜o de po- linoˆmios para achar a se´rie de poteˆncias de z−1 e assim determinar quantos termos da sequeˆncia inversa forem necessa´rios, nem sempre e´ o´bvio como deter- minar uma fo´rmula para o termo geral. Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 39 Exemplo 2.5. Seja X(z) = z2 z2 + z + 1 . Determine Z−1 {X(z)}. Usando a divisa˜o de polinoˆmios, tem-se: z2 |z2 + z + 1 −z2 − z − 1 1− z−1 + z−3 − z−4 + z−6 − z−7 . . . −z − 1 z + 1 + z−1 z−1 −z−1 − z−2 − z−3 −z−2 − z−3 z−2 + z−3 + z−4 z−4 −z−4 − z−5 − z−6 −z−5 − z−6 z−5 + z−6 + z−7 z−7 ... Ao analizar cuidadosamente o res´ıduo 1− z−1 + z−3 − z−4 + z−6 + z−7 . . . nota-se que algumas poteˆncias de z−1 na˜o aparecem (z−2, z−5, z−8, . . .), ou seja, os coeficientes destes termos sa˜o iguais a zero. Assim, pode-se conjecturar que a sequeˆncia xn inversa de X(z) e´ da forma: xn = {1,−1, 0, 1,−1, 0, 1,−1, 0, . . .}. Embora esta sequeˆncia seja aparentemente simples, seria surpreendente con- seguir conjecturar a partir dela que seu termo geral e´ dado por: xn = 2 sen [ 2pi(n+1) 3 ] √ 3 . Esta sequeˆncia sera´ considerada novamente no Exemplo 2.12 da pro´xima sec¸a˜o e sera´ mostrado como e´ poss´ıvel deduzir a fo´rmula para o termo geral utilizando nu´meros complexos. Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 40 2.2 Me´todo de Frac¸o˜es Parciais A ideia fundamental deste me´todo e´ decompor uma func¸a˜o X(z) em soma de expresso˜es mais simples cuja transformada Z inversa seja mais fa´cil de determi- nar. Usualmente o me´todo e´ aplicado a expresso˜es da forma X(z) = A(z) B(z) onde A(z) e B(z) sa˜o polinoˆmios em z e o objetivo enta˜o e´ reescrever estaexpressa˜o como uma soma de frac¸o˜es mais simples, chamadas de frac¸o˜es parciais. A ideia de decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais e´ usada tambe´m na integrac¸a˜o de func¸o˜es racionais como pode ser visto em diversos livros de Ca´lculo [5, 7, 18]. A forma particular em que as te´cnicas de frac¸o˜es parciais sa˜o usadas no contexto da transformada Z, levam em considerac¸a˜o o tipo de frac¸o˜es que podem ser reconhecidas como transformada Z de alguma sequeˆncia. E´ comum que as frac¸o˜es correspondentes a transformadas Z tenham pelo menos um termo z no numerador e este fato pode ser aproveitado para obter frac¸o˜es parciais fa´ceis de identificar. Isto e´ ilustrado nos pro´ximos exemplos. Exemplo 2.6. Seja X(z) = z (z − 2)(z − 3) . Determine a transformada Z inversa de X(z). Se fosse poss´ıvel expressar X(z) na forma z (z − 2)(z − 3) = αz z − 2 + βz z − 3 , para α, β ∈ R, enta˜o seria poss´ıvel determinar a inversa de X(z) imediatamente, pois os termos na soma correspondem a`s transformadas Z de sequeˆncias da forma an. Mais precisamente, se X(z) = z (z − 2)(z − 3) = αz z − 2 + βz z − 3 , enta˜o Z−1{X(z)} = α2n + β3n. Uma forma de facilitar a determinac¸a˜o dessa decomposic¸a˜o em frac¸o˜es par- ciais para X(z) e´ considerar inicialmente X(z) z , determinar uma decomposic¸a˜o simples para esta expressa˜o e finalmente obter a decomposic¸a˜o para X(z) multiplicando por z. Este procedimento e´ ilustrado a seguir. Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 41 Considere X(z) z = 1 (z − 2)(z − 3) . O objetivo e´ determinar uma decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais da forma: 1 (z − 2)(z − 3) = α z − 2 + β z − 3 . (2.2.1) Note que: α z − 2 + β z − 3 = α(z − 3) + β(z − 2) (z − 2)(z − 3) = (α+ β)z − (3α+ 2β) (z − 2)(z − 3) . (2.2.2) Assim, ao analisar o numerador de (2.2.2) e comparar com o numerador da primeira frac¸a˜o em (2.2.1), pode-se concluir que para obter a igualdade os coeficientes α e β devem satisfazer α+ β = 0 (coeficiente de z) −(3α+ 2β) = 1 (termo independente). Resolvendo este sistema linear por qualquer me´todo, e´ poss´ıvel obter os coe- ficientes α e β da decomposic¸a˜o. Tem-se assim que α = −1 e β = 1 e portanto: X(z) z = 1 (z − 2)(z − 3) = −1 z − 2 + 1 z − 3 . Multiplicando por z, obteˆm-se uma decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais para X(z) da forma X(z) = z (z − 2)(z − 3) = −z z − 2 + z z − 3 , e pode-se concluir finalmente que a inversa de X(z) e´ Z−1{X(z)} = −2n + 3n. Exemplo 2.7. Seja X(z) = z2 (z − a)(z − b) onde a, b ∈ C e a 6= b. Determine Z−1{X(z)}. Aplicando a decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais em X(z)/z: X(z) z = z (z − a)(z − b) = α z − a + β z − b = α(z − b) + β(z − a) (z − a)(z − b) = (α+ β)z − (bα+ aβ) (z − a)(z − b) . Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 42 Pela igualdade dos polinoˆmios em z nos numeradores, z = (α+ β)z− (bα+ aβ), tem-se o sistema linear a seguir: α+ β = 1 (coeficiente de z) −(bα+ aβ) = 0 (termo independente), cuja soluc¸a˜o e´ α = −a b− a e β = b b− a. Assim, X(z) z = −a b− a z − a + b b− a z − b e portanto X(z) = ( −a b− a )( z z − a ) + ( b b− a )( z z − b ) . Logo xn = Z−1{X(z)} = Z−1 {( −a b− a )( z z − a ) + ( b b− a )( z z − b )} = −a b− aZ −1 { z z − a } + b b− aZ −1 { z z − b } = −a b− aa n + b b− ab n = −an+1 + bn+1 b− a = bn+1 − an+1 b− a . Portanto: Z−1 { z2 (z − a)(z − b) } = bn+1 − an+1 b− a . Os exemplos a seguir consideram expresso˜es da forma X(z) = A(z) B(z) onde o polinoˆmio B(z) tem uma raiz de multiplicidade dois. Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 43 Exemplo 2.8. Seja X(z) = z2 (z + 5)2 , Determine Z−1 {X(z)}. Aplicando a decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais em X(z)/z: X(z) z = z (z + 5)2 = A z + 5 + B (z + 5)2 = A(z + 5) +B (z + 5)2 = Az + 5A+B (z + 5)2 . Pela igualdade dos polinoˆmios em z nos numeradores, z = Az + 5A + B e tem-se o sistema linear: A = 1 (coeficiente de z) 5A+B = 0 (termo independente), cuja soluc¸a˜o e´ A = 1 e B = −5. Assim, X(z) z = 1 z + 5 − 5 (z + 5)2 e portanto X(z) = z z + 5 − 5z (z + 5)2 . Analisando os itens 2 e 9 na lista de transformadas: Z{(−5)n} = z z + 5 e Z{n(−5)n} = − 5z (z + 5)2 , logo xn = Z−1{X(z)} = Z−1 { z z + 5 − 5z (z + 5)2 } = Z−1 { z z + 5 } −Z−1 { 5z (z + 5)2 } = (−5)n + n(−5)n. Portanto, Z−1 { z2 (z + 5)2 } = (−5)n(1 + n). Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 44 Exemplo 2.9. Determine a transformada inversa Z−1 de X(z) = z (z − 3)(z − 2)2 . Seja X(z) z = z z(z − 3)(z − 2)2 = 1 (z − 3)(z − 2)2 . Usando a decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais: X(z) z = 1 (z − 3)(z − 2)2 = A z − 3 + B z − 2 + C (z − 2)2 = A(z − 2)2 +B(z − 2)(z − 3) + C(z − 3) (z − 3)(z − 2)2 = (A+B)z + (−4A− 5B + C)z2 + (4A+ 6B − 3C) (z − 3)(z − 2)2 . Pela igualdade dos polinoˆmios em z nos numeradores: 1 = (A+B)z + (−4A− 5B + C)z2 + (4A+ 6B − 3C), tem-se o sistema linear: −4A− 5B + C = 0 (coeficiente de z2) A+B = 0 (coeficiente de z) 4A+ 6B − 3C = 1 (termo independente), cuja soluc¸a˜o e´ A = 1, B = −1 e C = −1. Assim, X(z) z = 1 z − 3 − 1 z − 2 − 1 (z − 2)2 e portanto X(z) = z z − 3 − z z − 2 − z (z − 2)2 . Considerando novamente os resultados anteriores sobre transformada resu- midos no Apeˆndice B, tem-se: xn = Z−1{X(z)} = Z−1 { z z − 3 − z z − 2 − 2z 2(z − 2)2 } = Z−1 { z z − 3 } −Z−1 { z z − 2 } −Z−1 { 2z 2(z − 2)2 } = 3n − 2n − n2 n 2 . Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 45 Portanto: Z−1 { z (z − 3)(z − 2)2 } = 3n − 2n 2 + n 2 . No exemplo a seguir e´ apresentada uma decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais para X(z) sem a divisa˜o pre´via por z. Exemplo 2.10. Determine a transformada inversa Z−1 de X(z) = z + 3 (z + 1)(z + 2) . Usando a decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais: X(z) = z + 3 (z + 1)(z + 2) = A z + 1 + B z + 2 = A(z + 2) +B(z + 1) (z + 1)(z + 2) = (A+B)z + (2A+B) (z + 1)(z + 2) . Pela igualdade dos polinoˆmios em z nos numeradores, tem-se o sistema li- near: A+B = 1 (coeficiente de z) 2A+B = 3 (termo independente), cuja soluc¸a˜o e´ A = 2 e B = −1. Assim, X(z) = 2 z + 1 − 1 z + 2 . Analisando o item 3 na lista de transformadas: Z{(−1)n−1} = 1 z + 1 e Z{(−2)n−1} = 1 z + 2 , logo xn = Z−1{X(z)} = Z−1 { 2 z + 1 − 1 z + 2 } = 2Z−1 { 1 z + 1 } −Z−1 { 1 z + 2 } = 2(−1)n−1 − (−2)n−1. Portanto, xn = Z−1 {X(z)} = 2(−1)n−1 − (−2)n−1. Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 46 A vantagem de utilizar a decomposic¸a˜o em frac¸o˜es parciais e´ que muitas vezes os termos resultantes sa˜o func¸o˜es de z muito simples de inverter. Pode- se observar, entretanto, que na aplicac¸a˜o da te´cnica de frac¸o˜es parciais para a obtenc¸a˜o da transformada Z inversa de X(z) = A(z) B(z) , nos exemplos considerados ate´ aqui, o polinoˆmio B(z) sempre aparece fatorado em termos das suas ra´ızes. Caso contra´rio, e´ preciso fatorar o polinoˆmio antes de utilizar o me´todo de frac¸o˜es parciais. Embora em teoria sempre seja poss´ıvel realizar esta fatorac¸a˜o, no caso de polinoˆmios de grau 2 com ra´ızes complexas ou de polinoˆmios de grau maior que 2, este processo de fatorac¸a˜o pode na˜o ser imediato. Exemplo 2.11. Seja X(z) = z2 z2 + 10z + 25 + z2 z2 − z − 6 . O denominador da primeira frac¸a˜o z2 z2 + 10z + 25 pode ser fatorado imediatamentenotando que z2 +10z+25 = (z+5)2 e portanto z2 z2 + 10z + 25 = z2 (z + 5)2 , cuja inversa ja foi calculada no exemplo 2.8. O denominador da segunda frac¸a˜o z2 z2 − z − 6 tambe´m pode ser fatorado e tem-se z2 z2 − z − 6 = z2 (z − 3)(z + 2) , cuja expressa˜o ja´ foi considerada de forma geral no exemplo 2.7. Assim, apli- cando os resultados obtidos nos exemplos 2.7 e 2.8, pode-se calcular a transfor- Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 47 mada inversa de X(z) como: Z−1{X(z)} = Z−1 { z2 z2 + 10z + 25 + z2 z2 − z − 6 } = Z−1 { z2 z2 + 10z + 25 } + Z−1 { z2 z2 − z − 6 } = Z−1 { z2 (z + 5)2 } + Z−1 { z2 (z − 3)(z + 2) } = (−5)n(1 + n) + 3 n+1 − (−2)n+1 3− (−2) = (−5)n(1 + n) + 3 n+1 − (−2)n+1 5 O exemplo seguinte considera um caso em que o polinoˆmio no denomina- dor tem ra´ızes complexas. Mesmo neste caso e´ poss´ıvel utilizar o me´todo de frac¸o˜es parciais, mas ha´ complicac¸o˜es inerentes ao fato de lidar com nu´meros complexos. Caso o objetivo seja determinar os coeficientes da sequeˆncia inversa sem necessariamente obter uma forma fechada para o termo geral, o me´todo da se´rie de poteˆncia pode ser mais conveniente. Caso seja necessa´rio uma fo´rmula fechada para o termo geral e o me´todo da se´rie de poteˆncias na˜o fornece uma conjectura sobre ela (vide Exemplo 2.5), enta˜o o me´todo das frac¸o˜es parciais ou o me´todo dos res´ıduos sa˜o mais apropriados. Exemplo 2.12. Seja X(z) = z2 z2 + z + 1 . Determine Z−1 {X(z)}. Este mesmo problema foi considerado no Exemplo 2.5 da sec¸a˜o anterior, cuja conclusa˜o e´ que xn = Z−1 {X(z)} deve ser da forma: xn = {1,−1, 0, 1,−1, 0, . . .}. Ale´m disso, apresenta sem demonstrar uma fo´rmula geral para xn: xn = 2 sen [ 2pi(n+1) 3 ] √ 3 . (2.2.3) Este problema sera´ considerado agora utilizando o me´todo das frac¸o˜es par- ciais. Note que o denominador da frac¸a˜o z2 z2 + z + 1 Me´todo de Frac¸o˜es Parciais 48 na˜o pode ser fatorado da forma usual, pois as ra´ızes de z2 + z + 1 na˜o sa˜o nu´meros reais. Aplicando a fo´rmula quadra´tica para z2 + z + 1 e´ poss´ıvel obter as ra´ızes a = −1 2 + √ 3i 2 e b = −1 2 − √ 3i 2 . Assim, a fatorac¸a˜o em termos das ra´ızes e´: z2 z2 + z + 1 = z2[ z − ( − 12 + √ 3i 2 )] [ z − ( − 12 − √ 3i 2 )] = z2 (z − a)(z − b) . Uma vez obtida esta fatorac¸a˜o, e´ poss´ıvel usa´-la para determinar a inversa, pois este tipo de func¸a˜o X(z) ja´ foi considerada de forma geral no exemplo 2.7. Assim: Z−1{X(z)} = Z−1 { z2 z2 + z + 1 } = Z−1 { z2 (z − a)(z − b). } = bn+1 − an+1 b− a = ( − 12 − √ 3i 2 )n+1 − ( − 12 + √ 3i 2 )n+1 −√3i , logo xn = ( − 12 + √ 3i 2 )n+1 − ( − 12 − √ 3i 2 )n+1 i √ 3 . (2.2.4) A expressa˜o (2.2.4) e´ uma fo´rmula geral, mas certamente parece muito mais complicada do que a fo´rmula geral anunciada anteriormente em (2.2.3) para a sequeˆncia xn = {1,−1, 0, 1,−1, 0, . . .}, obtida no exemplo 2.5. E´ poss´ıvel mostrar que (2.2.3) e (2.2.4) sa˜o equivalentes utilizando a iden- tidade sen θ = eiθ − e−iθ 2i e a forma polar dos nu´meros complexos −1 2 − √ 3i 2 = cos ( 4pi 3 ) + i sen ( 4pi 3 ) = ei 4pi 3 = e−i 2pi 3 Me´todo dos Res´ıduos 49 e −1 2 + √ 3i 2 = cos ( 2pi 3 ) + i sen ( 2pi 3 ) = ei 2pi 3 . Assim: xn = ( − 12 + √ 3i 2 )n+1 − ( − 12 − √ 3i 2 )n+1 i √ 3 = ( ei 2pi 3 )n+1 − ( e−i 2pi 3 )n+1 i √ 3 = ei 2pi 3 (n+1) − e−i 2pi3 (n+1) i √ 3 = 2 sen [ 2pi(n+1) 3 ] √ 3 . Portanto: xn = Z−1 {X(z)} = 2 sen [ 2pi(n+1) 3 ] √ 3 = {1,−1, 0, 1,−1, 0, . . .}. 2.3 Me´todo dos Res´ıduos Nesta sec¸a˜o e´ considerado o me´todo dos res´ıduos para o ca´lculo da transformada Z inversa. Este me´todo e´ um procedimento geral que em teoria permite deter- minar a Z inversa para va´rios tipos de func¸o˜es, mas neste texto o me´todo sera´ aplicado principalmente a func¸o˜es racionais. O me´todo dos res´ıduos esta´ fun- damentado em conceitos e resultados importante da ana´lise complexa que sera˜o considerados sem as respectivas demonstrac¸o˜es, que podem ser encontradas em [3, 10]. 2.3.1 Po´los e Res´ıduos Os conceitos desenvolvidos nesta subsec¸a˜o sa˜o independentes da transformada Z e podem ser estudados em textos de varia´veis complexas. A aplicac¸a˜o destes conceitos para o ca´lculo da transformada Z inversa e´ considerada na Subsec¸a˜o 2.3.2. Definic¸a˜o 2.1 (Po´lo). Considere uma func¸a˜o F (z) da forma: F (z) = a−m (z − z0)m + · · ·+ a−1 z − z0 + ∞∑ n=0 an(z − z0)n, a−m 6= 0. (2.3.5) Neste caso, z0 e´ chamado de po´lo de ordem m da func¸a˜o F . Me´todo dos Res´ıduos 50 Note que a definic¸a˜o de po´lo so´ faz sentido se a func¸a˜o pode ser escrita na forma (2.3.5). Nem toda func¸a˜o pode ser escrita nesta forma para algum z0, isto e´, ha´ func¸o˜es que na˜o possuem nenhum po´lo (por exemplo, func¸o˜es polinomiais e em geral func¸o˜es anal´ıticas em todo o plano C). Quando uma func¸a˜o F (z) tem um po´lo de ordem m em z0 enta˜o o o produto (z − z0)mF (z) tem limite finito e diferente de zero quando z → z0. Exemplo 2.13. Considere a func¸a˜o F (z) = z + 2 (z − 5)3 . Mostre que F (z) tem um po´lo de ordem 3 em z0 = 5. Para poder concluir que z0 = 5 e´ um po´lo de ordem 3 de F (z) a partir da Definic¸a˜o 2.1, e´ preciso reescrever F (z) na forma (2.3.5), isto e´, como uma soma de poteˆncias negativas e na˜o negativas de de (z−5). Note que o numerador (z + 2) pode ser reescrito como: z + 2 = 7(z − 5)0 + (z − 5)1. Esta forma de escrever a func¸a˜o z+2 pode parecer artificial, mas nada mais e´ do que a se´rie de Taylor de z+ 2 ao redor de z = 5. Com isso, a func¸a˜o F (z) pode ser escrita como: F (z) = z + 2 (z − 5)3 = F (z) = 7(z − 5)0 + (z − 5)1 (z − 5)3 = 7 (z − 5)3 + 1 (z − 5)2 . Esta expressa˜o esta´ na forma (2.3.5) considerando z0 = 5, m = 3, a−3 = 7, a−2 = 1 e an = 0 para n ≥ −1. Assim, pode-se concluir que 5 e´ um po´lo de ordem 3 de F (z). Exemplo 2.14. Considere F (z) = z2 + z z2 + 2z + 1 . Mostre que F (z) tem um po´lo de ordem 1 (po´lo simples) em z = −1. Para facilitar a ana´lise, e´ mais conveniente fatorar o numerador e denomi- nador de F (z): F (z) = z2 + z z2 + 2z + 1 = z(z + 1) (z + 1)2 = z z + 1 . Notando que o numerador z pode ser escrito em termos de z + 1 como z = −(z + 1)0 + (z + 1)1, tem-se: F (z) = z z + 1 = −(z + 1)0 + (z + 1)1 z + 1 = −1 (z + 1)1 + 1 (z + 1)0 , e assim, pode-se concluir que z = −1 e´ um po´lo de ordem 1 de F (z). Me´todo dos Res´ıduos 51 Os exemplos anteriores sugerem que os po´los de uma func¸a˜o racional esta˜o relacionados com os zeros do denominador de F (z). Note que no primeiro exemplo, z = 5 e´ um po´lo de ordem 3 de F (z) e z = 5 e´ tambe´m uma raiz de multiplicidade 3 do denominador de F (z). No segundo exemplo, z = −1 e´ um po´lo de ordem 1 de F (z) e embora inicialmente z = −1 pode ser considerado uma raiz de multiplicidade 2 do denominador, apo´s a fatorac¸a˜o e a simplificac¸a˜o do termo (z+1), z = −1 tornou-se uma raiz de multiplicidade 1 do denominador resultante. Estes fatos podem ser formalizados no resultado a seguir. Teorema 2.1. Seja F (z) = H(z) G(z) , onde H(z) e G(z) sa˜o func¸o˜es polinomiais e z0 ∈ C tal que H(z0) 6= 0. Enta˜o z0 e´ um po´lo de ordem m de F (z) se e somente se z0 e´ uma raiz de multiplicidade m de G(z). Do resultado anterior, e´ poss´ıvel identificar os po´los de uma func¸a˜o racional. Inicialmente, identificar as ra´ızes z0 do denominador G(z). Se z0 tambe´me´ uma raiz do numerador H(z), considerar as poss´ıveis simplificac¸o˜es do termo (z − z0). Se apo´s simplificac¸o˜es z0 ainda e´ uma raiz do denominador resultante e na˜o e´ uma raiz do numerador, enta˜o z0 e´ um po´lo de F (z) cuja ordem e´ dada pela multiplicidade de z0 como raiz do denominador resultante. Exemplo 2.15. Determine os po´los da func¸a˜o F (z) = z3 + 2z2 z(z + 3)2 . Ao analizar o denominador z(z + 3)2, note que z = 0 e´ uma raiz de multi- plicidade 1 e z = −3 e´ uma raiz de multiplicidade 2. No entanto, o numerador z3 + 2z2 tambe´m se anula em z = 0. Assim, e´ preciso fatorar e simplificar este termo: F (z) = z3 + 2z2 z(z + 3)2 = z2(z + 2) z(z + 3)2 = z(z + 2) (z + 3)2 . Com isso, z0 = −3 e´ a u´nica raiz do denominador e tem multiplicidade 2. Como o numerador z(z + 2) na˜o se anula em z = −3, esta˜o satisfeitas as condic¸o˜es do Teorema 2.1 e pode-se concluir que z0 = −3 e´ o u´nico po´lo de F (z) e e´ um po´lo de ordem 2. Exemplo 2.16. Determine os po´los da func¸a˜o F (z) = z3 + 2z2 + 1 z2(z − 1)(z + 2)3 . As ra´ızes do denominador z2(z − 1)(z + 2)3 sa˜o: z = 0 com multiplicidade 2, z = 1 com multiplicidade 1 e z = −2 com multiplicidade 3. Me´todo dos Res´ıduos 52 O numerador z3 + 2z2 + 1 na˜o anula-se para nenhum desses valores. Assim, pelo Teorema 2.1, a func¸a˜o F (z) tem po´lo de ordem 2 em z = 0, po´lo simples em z = 1 e po´lo de ordem 3 em z = −2. O exemplo seguinte mostra que os po´los de uma func¸a˜o tambe´m podem ser nu´meros complexos. Exemplo 2.17. Determine os po´los da func¸a˜o F (z) = z z2 + 1 . As ra´ızes do denominador sa˜o z = i e z = −i, logo F (z) pode ser escrita como: F (z) = z (z − i)(z + i) . Como o numerador na˜o se anula em z = i, nem em z = −i, pode-se concluir que z = i e z = −i sa˜o po´los simples de F (z). Definic¸a˜o 2.2 (Res´ıduo). Seja F (z) = a−m (z − z0)m + · · ·+ a−1 z − z0 + ∞∑ n=0 an(z − z0)n, a−m 6= 0. O coeficiente a−1 e´ chamado de res´ıduo de F no po´lo z0, e denotado Res z=z0 F (z). Os res´ıduos podem ser calculados de forma simples. Quando z0 e´ um po´lo simples, tem-se: F (z) = a−1 z − z0 + a0 + a1(z − z0) + . . . logo (z − z0)F (z) = a−1 + a0(z − z0) + a1(z − z0)2 + . . . e portanto o res´ıduo a−1 pode ser obtido como Res z=z0 F (z) = a−1 = lim z→z0 [(z − z0)F (z)]. (2.3.6) Considere agora que z0 e´ um po´lo duplo: F (z) = a−2 (z − z0)2 + a−1 z − z0 + a0 + a1(z − z0) + . . . logo (z − z0)2F (z) = a−2 + a−1(z − z0) + a0(z − z0)2 + . . . e d dz [(z − z0)2F (z)] = a−1 + 2a0(z − z0) + 3a1(z − z0)2 + . . . e portanto o res´ıduo a−1 pode ser obtido como Res z=z0 F (z) = lim z→z0 d dz [(z − z0)2F (z)]. (2.3.7) Me´todo dos Res´ıduos 53 Generalizando o procedimento anterior, se z0 e´ po´lo de ordem m de uma func¸a˜o F , enta˜o o res´ıduo de F em z0 pode ser calculado como: Res z=z0 F (z) = 1 (m− 1)! limz→z0 dm−1 dzm−1 [(z − z0)mF (z)]. (2.3.8) A expressa˜o (2.3.8) coincide com a expressa˜o (2.3.6) quando m = 1 inter- pretando a 0−e´sima derivada de uma func¸a˜o simplesmente como a func¸a˜o sem derivar. Exemplo 2.18. A func¸a˜o F (z) = z2 (z + 3)(z − 1)2 tem um po´lo simples em z = −3 e um po´lo duplo em z = 1. Assim, os res´ıduos correspondentes podem ser calculados da seguinte forma: Res z=−3 F (z) = lim z→−3 [(z + 3)F (z)] = lim z→−3 [(z + 3) z2 (z + 3)(z − 1)2 ] = lim z→−3 z2 (z − 1)2 = 9 16 e Res z=1 F (z) = lim z→1 d dz [(z − 1)2F (z)] = lim z→1 d dz [(z − 1)2 z 2 (z + 3)(z − 1)2 ] = lim z→1 d dz [ z2 z + 3 ] = lim z→1 (z + 3)2z − z2 (z + 3)2 = 7 16 . Exemplo 2.19. Determine os res´ıduos de F (z) = z z2 + 1 Me´todo dos Res´ıduos 54 em cada um dos seus po´los. No Exemplo 2.17 foi mostrado que z = i e z = −i sa˜o po´los simples de F (z). Assim: Res z=i F (z) = lim z→i [(z − i)F (z)] = lim z→i [ (z − i) z (z − i)(z + i) ] = lim z→i z (z + i) = i 2i = 1 2 e Res z=−i F (z) = lim z→i [(z + i)F (z)] = lim z→−i [ (z + i) z (z − i)(z + i) ] = lim z→−i z (z − i) = −i −2i = 1 2 . 2.3.2 Se´rie de Laurent e Teorema dos Res´ıduos A expressa˜o (2.3.5) considerada na definic¸a˜o de po´lo de uma func¸a˜o F (z) na realidade e´ um caso particular de uma expressa˜o chamada se´rie de Laurent de uma func¸a˜o. A seguir e´ enunciada a definic¸a˜o e um resultado fundamental sobre a se´rie de Laurent. Teorema 2.2 (Se´rie de Laurent). Se F (z) e´ anal´ıtica em r < |z − z0| < R, enta˜o F (z) pode ser escrito como F (z) = ∞∑ n=−∞ an(z − z0)n, (2.3.9) onde an = 1 2pii ∮ C F (z) (z − z0)n+1 dz (2.3.10) Me´todo dos Res´ıduos 55 e C e´ qualquer curva simples fechada que separe |z − z0| = r de |z − z0| = R. A se´rie definida por (2.3.9) e (2.3.10) e´ chamada Se´rie de Laurent de F (z) ao redor de z0. A seguir sa˜o estabelecidas algumas relac¸o˜es entre os conceitos de po´lo, res´ıduos e se´rie de Laurent com o problema do ca´lculo de transformada Z inversa. Dada uma sequeˆncia fn, pela definic¸a˜o da transformada Z, tem-se: F (z) = ∞∑ k=0 fkz −k. Multiplicando ambos os lados da equac¸a˜o por zn−1, tem-se: zn−1F (z) = ∞∑ k=0 fkz n−k−1 = f0z n−1 + f1zn−2 + . . .+ fnz−1 + fn+1z−2 + . . . , que pode ser considerada como um desenvolvimento em se´rie de Laurent de zn−1F (z) em torno de z0 = 0. Note que fn e´ o coeficiente de z−1. Pelo teorema da se´rie de Laurent, o coeficiente do termo z−1 pode ser calculado como: fn = 1 2pii ∮ C zn−1F (z)dz. (2.3.11) Esta igualdade mostra que e´ poss´ıvel calcular o termo fn a partir da func¸a˜o F (z), bastando calcular a integral de linha em (2.3.11). Embora do ponto de vista teo´rico isto significa que e´ poss´ıvel calcular qualquer termo fn, ainda seria preciso calcular em cada caso uma integral de linha para tal fim. O pro´ximo teorema mostra que e´ poss´ıvel calcular este tipo de integral de linha usando os res´ıduos de uma func¸a˜o. Teorema 2.3 (Teorema do Res´ıduo). Se C e´ uma curva fechada simples ori- entada positivamente tal que F (z) e´ anal´ıtica sobre C e no seu interior exceto nos pontos z1, . . . , zk, enta˜o 1 2pii ∮ C F (z)dz = k∑ j=1 Res z=zj F (z). (2.3.12) O teorema do res´ıduo permite calcular integrais da forma 1 2pii ∮ C F (z)dz como a soma dos res´ıduos de F (z) nos po´los no interior da curva C. Note que a integral de linha em (2.3.11) e´ similar, mas com zn−1F (z) no lugar de F (z). Assim, (2.3.11) pode ser calculada como a soma dos res´ıduos de zn−1F (z) em cada po´lo no interior da curva C, considerando uma curva C que contenha todos Me´todo dos Res´ıduos 56 os po´los. Transformada Z inversa via me´todo dos res´ıduos. Seja fn uma sequeˆncia e F (z) sua transformada Z. Para cada n, tem-se: fn = k∑ j=1 Res z=zj zn−1F (z), (2.3.13) onde z1, . . . , zk sa˜o os po´los de z n−1F (z). A fo´rmula (2.3.13) permite calcular o termo fn, para cada n, somando os res´ıduos da func¸a˜o zn−1F (z) em seus po´los. Em alguns casos as func¸o˜es zn−1F (z) tem sempre os mesmos po´los e da mesma ordem, sem importar o valor de n. Nesta situac¸a˜o os res´ıduos podem ser escritos em termos de n e e´ poss´ıvel obter uma forma geral para o termo fn imediatamente. Em outras situac¸o˜es as func¸o˜es zn−1F (z) tem po´los diferentes ou de diferentes ordens dependendo do valor de n. Nesse caso, e´ preciso calcular os res´ıduos separadamente para cada valor de n que corresponda a um comportamento especial dos po´los de zn−1F (z). Exemplo 2.20. Seja F (z) = z − 1 z − 2 . Para determinar a transformada inversa de F (z) pelo me´todo dos res´ıduos multiplica-se F (z) por zn−1:zn−1F (z) = zn−1(z − 1) z − 2 . Esta func¸a˜o sempre tem um po´lo simples em z = 2 para qualquer n ≥ 0. Note tambe´m que a func¸a˜o tem um po´lo simples em z = 0 so´ quando n = 0. Assim, os casos n = 0 e n ≥ 1 precisam ser considerados separadamente: f0 = Res z=0 z−1F (z) + Res z=2 z−1F (z) = Res z=0 (z − 1) z(z − 2) + Resz=2 (z − 1) z(z − 2) = lim z→0 z(z − 1) z(z − 2) + limz→2 (z − 2)(z − 1) z(z − 2) = 1 2 + 1 2 = 1. Me´todo dos Res´ıduos 57 e para n ≥ 1 fn = Res z=2 zn−1F (z) = Res z=2 zn−1(z − 1) (z − 2) = lim z→2 (z − 2)zn−1(z − 1) (z − 2) = 2n−1. Logo, Z−1{F (z)} = fn = { 1 para n = 0 2n−1 para n ≥ 1, gerando a sequeˆncia fn = {1, 1, 2, 4, 8, . . .}. Exemplo 2.21. Sendo a e b nu´meros complexos distintos, para determinar a transformada inversa de X(z) = z (z − a)(z − b) considera-se zn−1X(z) = zn (z − a)(z − b) , que tem dois po´los simples em z = a e z = b para n ≥ 0. Assim, xn = Res z=a zn−1X(z) + Res z=b zn−1X(z) = Res z=a zn (z − a)(z − b) + Resz=b zn (z − a)(z − b) = lim z→a(z − a) zn (z − a)(z − b) + limz→b(z − b) zn (z − a)(z − b) = lim z→a zn z − b + limz→b zn z − a = an a− b + bn b− a = −an b− a + bn b− a = bn − an b− a . Logo, Z−1{X(z)} = xn = b n − an b− a , para n ≥ 0. Me´todo dos Res´ıduos 58 Exemplo 2.22. Para determinar a transformada inversa de X(z) = 1 z − 1 considera-se zn−1X(z) = zn−1 z − 1 , que tem um po´lo simples em z = 1 para n ≥ 0 e um po´lo simples em z = 0 quando n = 0. Assim, se n = 0 tem-se: x0 = Res z=1 z0−1X(z) + Res z=0 z0−1X(z) = Res z=1 1 z(z − 1) + Resz=0 1 z(z − 1) = lim z→1 (z − 1) 1 z(z − 1) + limz→0 z 1 z(z − 1) = lim z→1 1 z + lim z→0 1 z − 1 = 1− 1 = 0. e para n ≥ 1, tem-se: xn = Res z=1 zn−1X(z) = lim z→1 (z − 1)zn−1X(z) = lim z→1 zn = 1. Logo, Z−1{X(z)} = xn = { 0, para n = 0 1, para n ≥ 1, que corresponde a` sequeˆncia xn = {0, 1, 1, 1, . . .}. Exemplo 2.23. Para determinar a transformada inversa de F (z) = z2 (z + 3)2 tem-se zn−1F (z) = zn+1 (z + 3)2 , Me´todo dos Res´ıduos 59 que tem um po´lo de segunda ordem em z = −3 para todo n ≥ 0. Assim, fn = Res z=−3 zn−1F (z) = Res z=−3 zn+1 (z + 3)2 = lim z→−3 d dz (z + 3)2 zn+1 (z + 3)2 = lim z→−3 d dz zn+1 = lim z→−3 (n+ 1)zn = (n+ 1)(−3)n. Logo, Z−1{F (z)} = fn = (n+ 1)(−3)n, para n ≥ 0. Exemplo 2.24. Para determinar a transformada inversa de Y (z) = 1 (z + 1)(z + 2) tem-se zn−1Y (z) = zn−1 (z + 1)(z + 2) , que tem um po´lo simples em z = 0 quando n = 0, mas na˜o para n ≥ 1. A func¸a˜o tem po´los simples em z = −1 e z = −2 para todo n ≥ 0. Assim, os casos n = 0 e n ≥ 1 precisam ser considerados separadamente: y0 = Res z=0 z−1Y (z) + Res z=−1 z−1Y (z) + Res z=−2 z−1Y (z) = lim z→0 z z(z + 1)(z + 2) + lim z→−1 z + 1 z(z + 1)(z + 2) + lim z→−2 z + 2 z(z + 1)(z + 2) = 1 2 − 1 + 1 2 = 0 e para n ≥ 1 yn = Res z=−1 zn−1Y (z) + Res z=−2 zn−1Y (z) = lim z→−1 (z + 1)zn−1 (z + 1)(z + 2) + lim z→−2 (z + 2)zn−1 (z + 1)(z + 2) = (−1)n−1 − (−2)n−1, n ≥ 1. Exerc´ıcios Propostos 60 Logo, Z−1{Y (z)} = yn = { 0 para n = 0 (−1)n−1 − (−2)n−1 para n ≥ 1. Exemplo 2.25. Sendo a e b nu´meros complexos distintos, para determinar a transformada inversa de Y (z) = 1 (z − a)(z − b) tem-se zn−1Y (z) = zn−1 (z − a)(z − b) , que tem um po´lo simples em z = 0 quando n = 0, mas na˜o para n ≥ 1. A func¸a˜o zn−1Y (z) tem po´los simples em z = a e z = b para todo n ≥ 0. Assim, os casos n = 0 e n ≥ 1 precisam ser considerados separadamente: y0 = Res z=0 z−1Y (z) + Res z=a z−1Y (z) + Res z=b z−1Y (z) = lim z→0 z z(z − a)(z − b) + limz→a z − a z(z − a)(z − b) + limz→b z − b z(z − a)(z − b) = 1 ab + 1 a(a− b) + 1 b(b− a) = 0 e para n ≥ 1 yn = Res z=a zn−1Y (z) + Res z=b zn−1Y (z) = lim z→a (z − a)zn−1 (z − a)(z − b) + limz→b (z − b)zn−1 (z − a)(z − b) = an−1 a− b + bn−1 b− a. Logo, Z−1{Y (z)} = yn = 0 se n = 0bn−1 − an−1 b− a se n ≥ 1. Exerc´ıcios Propostos 61 2.4 Exerc´ıcios Propostos 1. Utilize o me´todo de Se´rie de Poteˆncias para calcular Z−1{X(z)} tal que: (a) X(z) = 2z z2 + z + 1 . (b) X(z) = z z2 + 1 . 2. Utilize o me´todo de Frac¸o˜es Parciais para calcular Z−1{Y (z)} tal que: (a) Y (z) = 2z3 (z − 2)3 . (b) Y (z) = z (z − 3)2 . 3. Utilize o me´todo dos Res´ıduos para calcular Z−1{F (z)} tal que: (a) F (z) = z(z − 1) (z + 1)(z + 2) . (b) F (z) = z − 2 (z − 1)(z + 3) . (c) F (z) = 2z2 − z (z + 1)2(z − 2) . 4. Calcule: (a) Z−1 { 6z2 − 10z + 2 z2 − 3z + 2 } . (b) Z−1 { z z2 − 2z + 4 } . (c) Z−1 { 10z(z + 5) (z − 1)(z − 2)(z + 3) } . (d) Z−1 { 4z 3z2 − 2z − 1 } . (e) Z−1 { z2 + 2z (z + 3)(z − 4) } . (f) Z−1 { z2 z2 + 1 } . (g) Z−1 { z2 z2 − z + 1 } . (h) Z−1 { z z2 − 4z + 1 } . (i) Z−1{z(e 1z − 1)} Exerc´ıcios Propostos 62 2.4.1 Respostas 1. (a) xn = 4 sen ( 2pin 3 ) √ 3 = {0, 2,−2, 0, 2,−2, . . .}. (b) xn = sen (npi 2 ) = {0, 1, 0,−1, 0, 1, . . .}. 2. (a) yn = 2 n(n+ 1)(n+ 2). (b) yn = n3 n−1. 3. (a) fn = 3(−2)n − 2(−1)n. (b) fn = 0 se n = 05(−3)n − 3 12 se n ≥ 1. (c) fn = 2n − 3(−1)nn− (−1)n 3 . 4. (a) xn = { 6 se n = 0 3 · 2n + 2 se n ≥ 1. (b) xn = 2n sen ( npi 3 ) √ 3 . (c) xn = (−3)n + 14 · 2n − 15. (d) xn = 1− (−3)−n. (e) xn = (−3)n + 3 · 22n+1 7 . (f) xn = cos (npi 2 ) . (g) xn = 2 sen [ pi(n+1) 3 ] √ 3 . (h) xn = (2 + √ 3)n − (2−√3)n 2 √ 3 . (i) xn = 1 (n+ 1)! . Cap´ıtulo 3 Equac¸o˜es de Diferenc¸as Uma importante aplicac¸a˜o da transformada Z e´ a resoluc¸a˜o de equac¸o˜es de diferenc¸as. As equac¸o˜es de diferenc¸as podem ser estudadas de um ponto de vista estritamente matema´tico ou tambe´m como parte de problemas de modelagem matema´tica em diversas a´reas (processamento digital de sinais, momentos de flexa˜o, crescimento populacional, matema´tica financeira, computac¸a˜o, etc.). 3.1 Definic¸a˜o A seguir e´ apresentada uma definic¸a˜o do conceito de equac¸a˜o de diferenc¸as e alguns exemplos elementares. Definic¸a˜o 3.1. Uma equac¸a˜o de diferenc¸as e´ uma equac¸a˜o descrevendo uma relac¸a˜o entre os termos de uma sequeˆncia de nu´meros. Uma sequeˆncia e´ cha- mada de soluc¸a˜o da equac¸a˜o de diferenc¸as quando os termos da sequeˆncia sa- tisfazem a equac¸a˜o. Exemplo 3.1. Considere a sequeˆncia xn = {1, 3, 5, 7, . . .}. E´ poss´ıvel estabelecer va´rias relac¸o˜es entre os termos da sequeˆncia, por exemplo, e´ poss´ıvel afirmar que cada termo da sequeˆncia somado ao nu´mero 2 e´ igual ao termo seguinte da sequeˆncia. Para descrever esta relac¸a˜o em linguagem matema´tica, e´ usada a notac¸a˜o xn para representar tanto a sequeˆncia como o n−e´simo termo da sequeˆncia. Com isso a relac¸a˜o entre os termos pode ser escrita como: xn + 2 = xn+1 para n = 1, 2, 3, . . . (3.1.1) Assim, a equac¸a˜o 3.1.1 e´ uma equac¸a˜o de diferenc¸as e xn = {1, 3, 5, 7, . . .} e´ uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o. Exemplo 3.2. Mostre que a sequeˆncia xn = 2 n 64 e´ uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o de diferenc¸as xn+1 = 2xn. A equac¸a˜o de diferenc¸as estabelece que um termo qualquer da sequeˆncia mul- tiplicado por 2 e´ igual ao termo seguinte da sequeˆncia. Note que a sequeˆncia xn = 2 n = {0, 2, 4, 8, 16, . . .} satisfaz esta relac¸a˜o e isto pode ser mostrado formalmente
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