Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

Prévia do material em texto

A LITERATURA SURDA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE 
SUJEITOS CRÍTICOS 
 
 
Letícia de Sousa, LEITE, UFU1 
Lúrian Kézia Leite, GUIMARÃES,UFU2 
 
 
 
Resumo: A discussão proposta centra-se na formação de sujeitos críticos e na 
contribuição da Literatura Surda nesse processo. Como aspectos introdutórios, 
pontuamos sobre a formação de leitores conscientes, críticos e autores na construção 
do seu próprio conhecimento.Destacamos sobre a importância de formar leitores a fim 
de promover uma sociedade brasileira que desenvolva a prática da leitura, a leitura do 
prazer. Nesse sentido, a escola é considerada como espaço principal de formação de 
leitores, capacitando todos os alunos, inclusives os surdos, a compreenderem a 
essência textual, estabelecendo relações e preenchendo lacunas que eventualmente 
possam surgir no ato de ler.Nessa perspectiva, o presente artigo objetiva analisar a 
inter-relação entre linguagem, cultura e identidade no processo de conto e reconto de 
histórias na Literatura Surda, enquanto fatores relevantes na formação do sujeito leitor. 
Quanto ao quadro teórico-metodológico, o estudo foi circunscrito na revisão 
bibliográfica da temática de estudo, quais sejam os textos referentes à cultura e 
identidade surda, à Literatura Surda e à formação de leitores. Os resultados dessa 
discussão lançam luz à necessidade de uma aprendizagem significada por meio da 
cultura e identidade surdas como aspectos primordiais no que tange à educação dos 
alunos surdos com vista a uma pedagogia bilíngue, e na formação de leitores críticos, 
autônomos e copartícipes em seu processo educativo. 
Palavras-chave:literatura surda, formação de leitores, identidade cultural. 
 
 
 
Introdução 
 
 
A arte de contar histórias é tão antiga quanto a humanidade. O homem, 
 
1
 Graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Ouro Preto. Intérprete de Libras da 
Universidade Federal de Uberlândia vinculada ao Centro de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento 
em Educação Especial – CEPAE e pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Estudos da Linguagem, Libras, 
Educação Especial e a Distância e Tecnologias (GPELEDT).leticia@faced.ufu.br 
 
 
2
Graduação em Letras, habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Uberlândia – 
UFU, Instituto de Letras e Linguística – ILEEL. Vinculada ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação 
a Docência – PIBID da Universidade Federal de Uberlândia – UFU. lurian.leite@gmail.com 
 
 
 
enquanto sujeito histórico, é constituído por sua cultura e pela sua maneira 
como este interage com o mundo. Nessa direção, a contação de histórias pode 
ser compreendida como vida que emana de nossas tradições históricas e 
sociais. Somos sujeitos históricos quando dialogamos com o conhecimento e 
produzimos novos saberes, seja através da oralidade, dos registros escritos ou 
da desconstrução de mitos. As histórias, contadas e recontadas no percurso da 
vida, nos ensinam a absorver e a dividir experiências, estimulam a criatividade, 
desenvolvem a autonomia, dentre outros aspectos relevantes. 
Não obstante, é preciso considerar que para acessar o mundo através 
dos contos e recontos de histórias por meio da literatura, as palavras 
apresentam mil faces secretas que precisam ser desveladas no sentido de que 
não representam um simples código escrito no papel; elas precisam ser 
acessadas pelo sujeito leitor. Ao considerar a linguagem enquanto processo 
cognitivo, é preciso ler nas entrelinhas o que está implícito. Não basta apenas 
ler o código, a leitura visa sempre a compreensão, portanto, ela ultrapassa a 
mera codificação, sendo necessário ter um significado para aquele que lê. 
É preciso formar leitores a fim de promover uma sociedade brasileira 
que desenvolva a prática da leitura, a leitura do prazer. Nesse sentido, a escola 
é considerada como espaço principal de formação de leitores, capacitando os 
alunos a compreenderem a essência textual, estabelecendo relações e 
preenchendo lacunas que eventualmente possam surgir no ato de ler. 
Fundamentando a ação de formar leitores críticos, os Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCNs) pensam em um ensino que promova a formação de sujeitos 
conscientes, críticos e autores na construção do seu próprio conhecimento. 
Contudo, quando pensamos no princípio básico de educação para todos, 
é preciso considerar a diversidade existente no contexto escolar. Para tanto, as 
estratégias de ensino necessitam promover o sucesso de todos os alunos. 
Nesse sentido, a formação de leitores críticos, autônomos e copartícipes em 
seu processo de ensino deve contemplar também as particularidades dos 
alunos surdos inseridos em sala de aula regular. Não obstante, destaca-se a 
necessidade de respeitar a aquisição de sua língua materna, a Língua 
Brasileira de Sinais, como sua primeira língua e consequentemente, a Língua 
 
 
Portuguesa como sua segunda língua, na modalidade escrita. 
Essa ótica exige a utilização de estratégias que reconheçam as 
necessidades do aluno surdo no processo binômio de ensino e aprendizagem. 
Com efeito, o desafio está no desenvolvimento de ações pedagógicas que 
permitam incrementar a aprendizagem como uma experiência significativa para 
o aluno surdo. Sendo assim, a Literatura Surda surge nesse contexto como 
promotora da cultura e identidade surdas, contribuindo efetivamente no 
processo de ensinar e aprender. 
Nessa perspectiva, ao promover um diálogo entre o ensino das práticas 
literárias e a educação dos alunos surdos, o presente trabalho tem como 
objetivo geral articular linguagem, cultura e identidade surda no processo de 
criação do reconto de histórias na Literatura Surda. Especificamente, pretende-
se abordar os aspectos que caracterizam o reconto de histórias na Literatura 
Surda, descrever o contexto social em que o reconto acontece e discutir 
questões da identidade, cultura e linguagem daquele que reconta histórias e 
daquele que é o receptor. 
Somos motivados pelo desejo de entender melhor sobre a problemática 
da falta de contextualização nos processos de criação do reconto e a relação 
entre aquele que produz um texto e aquele que o interpreta. Nessa direção, o 
presente estudo se justifica pelo fato de constatarmos uma escassez de 
trabalhos e estudos voltados para o reconto de histórias contextualizado, na 
formação do sujeito leitor. 
Quanto ao quadro teórico-metodológico, o estudo foi circunscrito na 
revisão bibliográfica da temática de estudo, quais sejam os textos referentes à 
cultura e identidade surda, à Literatura Surda e a formação de leitores. A fim de 
buscar suporte à temática envolvida no presente estudo, trabalhos como os de 
Cafiero (2010), Chauí (2006), Skliar (2001), Wilcox (2005), Alves e Karnopp 
(2002), fundamentaram as nossas discussões. 
Para fins didáticos, esse artigo está organizado em quatro partes, sendo 
que primeiramente, explicitamos nossas leituras a respeito da temática 
envolvendo a inter-relação entre linguagem, cultura e identidade, considerando 
as suas implicações na Literatura Surda no processo de formação do sujeito 
 
 
leitor. Posteriormente, apresentamos os contos e recontos de histórias em 
língua de sinais, concebendo a contação de histórias como exercício da 
cidadania e a sua representação social para além do espaço escolar. Por 
último, nossas considerações e reflexões finais. 
 
A Literatura Surda e a formação de leitores críticos 
 
Ao conceber a leitura como exercício da cidadania onde o leitor interage 
com o autor através da maneira como lê o mundo e também as palavras, traz 
implicações para o ensino da leitura no contexto escolar onde o grande desafio 
que se formaé vivenciar na sala de aula as práticas sociais de leitura que 
ocorrem para além dos muros da escola.Nessa nova concepção do ensino da 
leitura os professores são os agentes mediadores dessa conquista gradativa 
que acompanhará o leitor para toda a vida; seja lendo e relendo, interpretando 
e tecendo novos significados, criando um novo mundo de palavras e 
interagindo com a sociedade letrada da qual fazemos parte. 
Cafiero (2010) conclama que “Ensinar a ler é ensinar estratégias”. Nessa 
perspectiva, o ambiente e as interações influenciam diretamente na 
aprendizagem do indivíduo. Dessa maneira, o aluno que tem contato com um 
ambiente literário, que interage com diversos tipos de leitura, que é motivado a 
ler, obviamente este trará para a sua realidade em sala de aula um 
conhecimento prévio que significará o seu ensino. Assim, é preciso que o 
educador leve em conta que cada aluno é diferente do outro ao mesmo tempo 
em que todos estão inseridos no mesmo espaço. 
Incentivar a contação de histórias pelos próprios alunos a partir da leitura 
de imagens, aproveitar o conhecimento prévio através dos gêneros literários 
que estes já conhecem, promover atividades lúdicas que desenvolvam o 
processo de significar socialmente a escrita, todas essas são estratégias que 
poderão ser utilizadas a fim de promover uma alfabetização literária com a 
proposta do letramento. Um texto literário pode apresentar diversos sentidos e 
interpretações a partir da visão de quem o lê. Logo, é essencial que o professor 
enquanto mediador do saber adote uma postura reflexiva e crítica que 
 
 
contribua na formação do sujeito leitor. 
Na discussão sobre a relevância da leitura na formação de sujeitos 
críticos, retomamos Cafiero (2010) quanto esta pontua que “Cada texto pede 
uma leitura diferente, já que o leitor não usa sempre os mesmos modos de ler”. 
Essa afirmativa pressupõe o leitor enquanto indivíduo letrado sabendo quais 
estratégias devem ser utilizadas para interpretar cada gênero textual. Assim, no 
sentido de efetivar a proposta do letramento é necessário oferecer aos alunos 
momentos oportunos onde estes signifiquem a escrita e a leitura. Nesse 
sentido, para uma leitura ser transformadora é preciso que o leitor crie o seu 
próprio caminho para significá-la. 
Entende-se que o ato de ler não compreende apenas a decodificação de 
símbolos linguísticos, pelo contrário, vai além da interpretação da palavra, é 
uma prática que desenvolve a postura do leitor, onde este participa de modo 
crítico e autônomo. Contudo, essa tarefa não é fácil e nem é formada de um 
momento para o outro. Torna-se necessário uma mudança de postura dos 
professores mediadores que devem estar atentos às especificidades de cada 
aluno, à maneira como este lê o mundo, valorizando o conhecimento prévio e, 
desde os primeiros anos escolares, inserir a prática do alfabetizar letrando 
através de leituras que signifiquem o saber. 
Contudo, ao refletir sobre a educação dos alunos surdos por meio de 
uma aprendizagem significativa, é preciso levar em conta que o sujeito surdo 
se apropria dos conhecimentos por meio da experiência visual e da vivência 
com os seus pares. O compartilhamento entre pares e com outros sujeitos 
pressupõe o papel da linguagem em relação à identidade e, segundo Gesueli 
(2006, p. 281 inGeraldi, 1996) “a língua e o sujeito constituem-se nos 
processos interativos. Isto implica quenão há um sujeito dado, pronto, que 
entra em interação, mas um sujeito se completando e seconstruindo nas suas 
falas e nas falas dos outros”, neste caso o outro surdo. 
Nesse processo de construção de identidade do sujeito surdo e a sua 
relação com os seus pares, a contação de histórias e a Literatura Surda se 
constituem enquanto fatores relevantes promovendo a reflexão, a criticidade, a 
autonomia, dentre a consolidação de outras aprendizagens. Ao considerar a 
 
 
literatura como instrumento essencial na formação do imaginário do sujeito 
surdo, o contar e recontar histórias por meio da Língua Brasileira de Sinais 
possibilita significar a fantasia e produzir novos conhecimentos na 
ressignificação de outros contextos, utilizando a sua língua natural. 
A expressão “Literatura Surda” é utilizada para caracterizar histórias que 
apresentam em sua narrativa a questão da identidade e da cultura surda, além 
da presença da língua de sinais (KARNOPP, 2006). Para essa autora, a 
Literatura Surda é um artefato cultural que não se opõe à ouvinte, sinalizando o 
hibridismo cultural. É nessa perspectiva que as culturas dialogam entre si, sem 
manter a neutralidade, onde todas são híbridas e heterogêneas. De acordo 
com tal conceito, entende-se que este contribui para o entendimento da surdez 
como uma experiência de natureza visual, gestual, cultural e linguística. 
Assegurar a educação bilíngue para surdos requer o direito de tais 
alunos em ter o seu pleno desenvolvimento na língua de sinais antes e no 
decorrer da aprendizagem de quaisquer conteúdos. Considerando as suas 
particularidades, o seu direito está fundamentado na aquisição de sua língua 
materna, a Língua Brasileira de Sinais, antes de iniciar a aprendizagem da 
língua portuguesa em sua modalidade escrita. Nessa perspectiva bilíngue, a 
Literatura Surda contribui efetivamente para significar a aprendizagem dos 
alunos surdos no que tange à sua primeira língua, além de atuar como 
facilitadora no processo de construção de sua identidade. 
Embora os surdos já utilizassem a prática de contar e recontar as suas 
narrativas e diferentes gêneros literários nas comunidades surdas, a análise 
em relação a essa temática é algo recente. A Europa e os Estados Unidos, 
principalmente os que reuniam mais escolas de surdos, foram precursores na 
formação deste artefato cultural. Em um primeiro momento, a Literatura Surda 
passou a ser significada na Gallaudet University, em Washington D.C., quando 
alunos surdos, acadêmicos e pesquisadores passaram a disseminá-la não 
somente no campus, como também nos mais diversos ambientes nos quais a 
comunidade surda interage: associações, escolas e encontros de surdos. 
Conceitos advindos destas primeiras interações chegaram às 
comunidades surdas de outras localidades, através dos alunos que retornavam 
 
 
às suas cidades-natal, e também através de congressos ou quaisquer outros 
eventos acadêmicos que propunham a troca de conhecimento. No caso do 
segundo ambiente, também ocorria distribuição de material a respeito da 
Literatura Surda, como livros e recursos midiáticos. Nesse contexto, Strobell 
assegura que: 
 
A literatura surda refere-se às várias experiências pessoais do povo 
surdo que, muitas vezes, expõem as dificuldades e/ou vitórias das 
opressões ouvintes, de como se saem em diversas situações 
inesperadas, testemunhando as ações de grandes líderes e militares 
surdos, e sobre a valorização de suas identidades surdas. 
(STROBEL, 2009, p. 62). 
 
 
Diante do exposto até aqui, não há como dissociar a interdependência 
entre os conceitos de linguagem, cultura e identidade, ressaltando que tais se 
encontram intrinsecamente ligados à Literatura Surda. 
 
A inter-relação entre linguagem, cultura e identidade 
Ao discutir as questões referentes à linguagem, cultura e identidade na 
Literatura Surda, é importante considerar que a língua faz parte da cultura de 
um povo. E a cultura, por sua vez, é manifesta por ela. É uma relação de 
imbricação, haja vista que a identidade cultural é constituída por meio de 
atributos que encontram significados por meio da apropriação de uma língua. 
Se pensarmos a linguagem enquanto língua e fala em seu sentido amplo, essa 
discussão nos leva aos ensinamentos deChauí (2006, p.155) explicando que: 
 
A linguagem é nossa via de acesso ao mundo e ao pensamento, ela 
nos envolve e nos habita, assim como a envolvemos e a habitamos. 
Ter experiência da linguagem é ter uma experiência espantosa: 
emitimos e ouvimos sons, escrevemos e lemos letras, mas, sem que 
saibamos como, experimentamos e compreendemos sentidos, 
significados, significações, emoções, desejos, ideias. [...] 
É que a linguagem tem a capacidade especial de nos fazer pensar 
enquanto falamos e ouvimos, de nos levar a compreender nossos 
próprios pensamentos tanto quanto os dos outros que falam conosco. 
As palavras nos fazem pensar e nos dão o que pensar porque se 
referem a significados, tanto os já conhecidos por outros quanto os já 
conhecidos por nós, bem como os que não conhecíamos e que 
descobrimos por estarmos conversando. 
 
 
 
 
A esse respeito, na área da surdez, a língua de sinais confere significado 
às palavras escritas na língua portuguesa, contribuindo para a concepção da 
cultura e identidade surdas. Nesse sentido, Skliar (2001) afirma que a 
identidade cultural surda se vincula à “forma como cada sujeito é inventado, 
traduzido, interpelado e interpretado no contexto no qual vive”. O ponto de 
partida é o entendimento da cultura surda como a maneira do sujeito surdo de 
entender e interagir com o mundo a partir de suas percepções visuais; 
promovendo a inter-relação entre linguagem, cultura e identidade surda. 
Contanto e recontando histórias 
 
Ao conceber a contação de histórias como exercício da cidadania, onde 
o receptor interage com o contador através da maneira como este lê o mundo e 
também as palavras, traz implicações para o ensino da leitura no contexto 
escolar, onde o grande desafio que se forma é vivenciar na sala de aula as 
práticas sociais da leitura e do reconto de histórias que ocorrem para além dos 
muros da escola. Nessa nova concepção do ensino da leitura, os contadores 
de histórias são os agentes mediadores dessa conquista gradativa que 
acompanhará o receptor para toda a vida; seja lendo e relendo, interpretando e 
tecendo novos significados, criando um novo mundo de palavras e interagindo 
com a sociedade letrada da qual fazemos parte. 
A arte de contar histórias faz parte não somente do universo surdo, mas 
contempla a trajetória da civilização humana. É através da contação de 
histórias que as crianças são estimuladas no desenvolvimento de sua 
criatividade, onde a imaginação flui naturalmente em consonância com um 
novo saber. Ao considerar esta afirmativa também para as crianças surdas, é 
fato que as palavras somente serão significadas através da língua de sinais. 
Nesse sentido, a aquisição de sua língua materna – como primeira língua - e 
do português escrito – como segunda língua - pressupõe a utilização de 
estratégias que contemplem as particularidades do aluno surdo. Assim, é 
importante lembrar que, de acordo com Wilcox (2005) o convívio no meio social 
com os ouvintes faz com que a comunidade surda seja bilíngue. 
 
 
No processo do reconto de histórias na Literatura Surda, pesquisas 
consideram que estes são caracterizados por contos tradicionalmente voltados 
para ouvintes, onde ocorreu uma adaptação a fim de contextualizar uma nova 
história totalmente inserida no contexto cultural do surdo (ALVES, KARNOPP, 
2002). Como exemplo, podem ser citados os livros: “Cinderela Surda” 
(HESSEL; ROSA; KARNOPP 2003), “Rapunzel Surda” (SILVEIRA; ROSA; 
KARNOPP 2003), “Adão e Eva” (ROSA; KARNOPP 2005) e “Patinho Surdo” 
(ROSA; KARNOPP 2005), dentre outros. 
Nos recontos supracitados, a cultura surda, a identidade surda e a 
realidade da vida dos surdos são consideradas na adaptação cultural das 
referidas histórias. Pensando assim, em vista das obras literárias aqui 
investigadas, é possível constatar que ao vivenciar a Libras como questão da 
identidade e da cultura surda, a Literatura Surda escrita e recontada por um 
surdo se difere das produções literárias escritas por ouvintes. 
Ao analisar a questão do contexto social em que o reconto acontece, 
utilizamos novamente os apontamentos de Alves e Karnopp afirmando que o 
ato político, social, mental e linguístico constitui o entendimento da natureza da 
leitura e do reconto de histórias. Sob a ótica de uma prática social, o uso da 
língua também se encontra inserido nesse contexto que, por meio das 
condições sócio históricas, contribuem para as condições de produção e 
recepção do reconto de histórias. Ou seja, “Surdos recontam histórias para 
outros surdos e reconstroem, através da língua e da cultura, os sentidos 
veiculados pelo texto que serviu como ponto de partida para a criação de um 
outro texto”. (ALVES E KARNOPP, 2002). 
Conforme os autores supracitados, no âmbito do reconto de histórias é 
preciso considerar as questões referentes à identidade do interlocutor como um 
elemento deste processo. Nessa direção, outro aspecto relevante que deve 
ser analisado diz respeito ao perfil e à identidade de quem conta a história, e a 
sua relação com o texto recontado. O locutor sempre traz consigo as marcas 
identitárias como influência de sua cultura, da linguagem, do contexto social em 
que se encontra inserido, dentre outros fatores. Deste modo, a seleção das 
histórias a serem recontadas necessita uma análise prévia que considere as 
 
 
particularidades dos interlocutores. Nessa interação, outro fato que não pode 
ser negligenciado é o conhecimento do gênero discursivo em foco, visando ao 
desenvolvimento da leitura e da escrita do português como segunda língua. 
Outro aspecto que merece ser discutido se refere ao desenvolvimento 
do processo narrativo no reconto de histórias pressupondo a relevância da 
configuração de mãos e das expressões não manuais. Chamamos a atenção 
para o fato de que a utilização de classificadores é imprescindível no sentido de 
evitar que haja um comprometimento na compreensão do contexto. Além disso, 
é importante considerar que a contação de histórias em Libras deve obedecer a 
estrutura dessa língua, não se configurando como um português sinalizado do 
reconto. Cabe esclarecer que além de ser produzida com as mãos, a língua de 
sinais conta também com o apoio da face e do corpo para apresentar a 
narrativa da história apresentada. 
 
Considerações finais 
Ao retomar o objetivo geral proposto nesse trabalho, articulamos 
linguagem, cultura e identidade com a Literatura Surda, enquanto fatores 
relevantes na formação do sujeito leitor. Nessa direção, concordamos com 
Skliar (2001) ao afirmar sobre o vínculo da identidade cultural surda 
interpretada à luz do contexto onde o sujeito se encontra inserido. Durante o 
presente trabalho foram abordados os aspectos característicos do reconto de 
históriascontribuindo para a formação de sujeitos críticos, promovendo as 
discussões referentes à identidade de quem conta a história e sua interação 
com o interlocutor. Desse modo, retomando os pressupostos de Alves e 
Karnopp (2002), enfatizamos que o reconto de histórias é constituído de um ato 
político, social, mental e linguístico. 
No que tange à leitura de mundo por meio de uma experiência visual, 
retomamos Cafiero (2010) quanto esta pontua que “Cada texto pede uma 
leitura diferente, já que o leitor não usa sempre os mesmos modos de ler”.Ao 
conceber a leitura também como exercício da cidadania onde o leitor interage 
com o autor através da maneira como lê o mundo e as palavras e ao priorizar a 
concepção interacionista da língua e da leitura, isso traz implicações para o 
 
 
ensino da leitura no contexto escolar onde o grande desafio que se forma é 
vivenciar na sala de aula as práticas sociais de leitura queocorrem para além 
dos muros da escola. 
Por meio da pesquisa bibliográfica constatou-se que embora ocorra uma 
expansão na produção da Literatura Surda, notamos uma tímida atenção no 
que tange aos estudos sobre o reconto de histórias. Nesse sentido, a 
relevância dessa pesquisa aponta caminhos para um posterior estudo 
considerando a referida temática. Esperamos que o estudo aqui desenvolvido 
tenha revelado a importância da disseminação da Cultura Surda e dos seus 
artefatos culturais através da Literatura Surda, no entanto, percebe-se como 
pungente a necessidade de futuras investigações que contemplem a interação 
entre os sujeitos envolvidos no processo do reconto de histórias. 
Diante deste cenário, pretendemos continuar os nossos estudos, 
contribuindo na aplicabilidade pedagógica que subsidiarão as situações 
práticas do reconto de histórias no Atendimento Educacional Especializado de 
Libras, em Libras e por consequência, no ensino de Língua Portuguesa como 
segunda língua, em sua modalidade escrita, para os alunos surdos.Nessa nova 
concepção de uma pedagogia bilíngue por meio da Literatura Surda, os 
professores são os agentes mediadores dessa conquista gradativa que 
acompanhará o leitor para toda a vida; seja lendo e relendo, interpretando e 
tecendo novos significados, criando um novo mundo de palavras e interagindo 
com a sociedade letrada da qual fazemos parte. 
Com efeito, a Literatura Surda contribui para significar a aprendizagem 
do aluno surdo por meio do uso social da leitura e da escrita. Uma leitura que 
encanta ao contar e contar histórias por meio da sua língua natural, capturando 
a atenção dos seus aprendizes ao ensiná-los a descortinar o mundo fascinante 
das palavras. Um saber que flui assim como a vida, de maneira natural e 
espontânea, mas com força e vigor. 
Referências 
ALVES, A. C.; KARNOPP, L. O surdo como contador de histórias. In: LODI, 
A. et al. Letramento e Minorias. Porto Alegre: Mediação: 2002. 
 
 
 
CAFIERO, D. Letramento e leitura: formando leitores críticos. In: BRASIL. 
Língua Portuguesa. Ensino Fundamental. Brasília: MEC, 2010. p. 85-106. 
(Coleção Explorando o Ensino, vol. 19) 
CHAUÍ, M. A linguagem. In: Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002. p. 
136-151. 
GESUELI, Z. M.Lingua(gem) e identidade: a surdez em questão. Educação e 
Sociedade, Campinas, vol.27, n. 94, p. 277-292, 2006. 
HESSEL, C., ROSA, F., KARNOPP, L. B. Cinderela Surda. Canoas: ULBRA, 
2003. 
KARNOPP, L. Literatura Surda. In: Literatura, Letramento e práticas 
educacionais - Grupo de estudos surdos e Educação. Campinas: ETD – 
Educação Temática Digital, v.7, n.2, p.98-109, jun. 2006. 
ROSA, F.; KARNOPP, L. Adão e Eva. Ilustrações de Maristela Alano. Canoas: 
ULBRA, 2005. 
_______. Patinho Surdo. Ilustrações de Maristela Alano. Canoas: ULBRA, 
2005. 
SILVEIRA, C. H., ROSA, F., KARNOPP, L. B. Rapunzel Surda. Canoas: 
ULBRA, 2003. 
SKLIAR, C. (2001). Perspectivas políticas e pedagógicas da educação bilíngue 
para surdos, in: Silva, S., Vizim, M. (orgs). Educação especial: múltiplas 
leituras e diferentes significados. Mercado de Letras: Campinas. 
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. 2. ed. 
Florianópolis: UFSC, 2009. 
WILCOX, S., & WILCOX.P. P. Aprender a ver. Rio de Janeiro: Editora Arara 
Azul, 2005.

Mais conteúdos dessa disciplina