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TCC História Estácio

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
BACHARELADO EM HISTÓRIA
LUCAS PIRES
REVOLUÇÃO RELIGIOSA NO SÉCULO XVI: O EMBATE ENTRE IGREJA CATÓLICA E REFORMA PROTESTANTE E A CISÃO DA CRISTANDADE
Florianópolis - SC
2019
LUCAS PIRES
REVOLUÇÃO RELIGIOSA NO SÉCULO XVI: O EMBATE ENTRE IGREJA CATÓLICA E REFORMA PROTESTANTE E A CISÃO DA CRISTANDADE
Artigo científico apresentado como exigência para a obtenção de grau em bacharel em História da Universidade Estácio de Sá.
Orientadora: Adriana de Souza Carvalho
Florianópolis - SC
2019
RESUMO
O presente trabalho apresentará um estudo sintético da atuação da Igreja Católica frente ao avanço das ideias protestantes, no século XVI. Ideias essas que eram contrárias a sua soberania, tanto política quanto teológica e cultural. O objetivo do estudo será demonstrar quais consequências surgiram desse conflito cultural, político e religioso para a Cristandade. Será demonstrado quais os métodos foram utilizados pela Igreja para impedir o avanço das ideias da Reforma e quais seus resultados. A análise se desenvolverá através de um estudo crítico e evitará, na medida do possível, os anacronismos e partidarismos. Será utilizado uma bibliografia séria e acadêmica para a elucidação e compreensão do tema, demonstrando que na História há rupturas e continuidades e também consequências que podem ser sentidas até os dias de hoje.
Palavras-chave: Igreja Católica. Reforma Protestante. Conflito. Cristandade.
Introdução
Todo período histórico é demasiadamente complexo de se analisar. Para cada fato histórico há uma grande cadeia de circunstâncias, causas e efeitos. É necessário entender o contexto histórico, político e econômico, tensões e relações sociais; valores, cultura e religião; aspectos geográficos, climáticos, etc. Ou seja, a realidade é um enredo que, muitas vezes, foge a compreensão humana. Para que se comece a entender alguns dos aspectos de um determinado estudo histórico é necessário fazer um recorte temporal e temático, com intenção de dar os primeiros passos na compreensão do grande quebra-cabeça que é a História. 
O presente estudo pretende apresentar um aspecto do conflituoso século XVI: a contenda entre a Igreja Católica e a Reforma Protestante. Também será analisado e se evidenciará a importância da imprensa para a rápida e impetuosa propagação das ideias protestantes, e a circulação de suas ideias. Em contraponto, será demonstrado os métodos reativos usados pela Igreja (denominada de Contrarreforma) e as tentativas de conciliação, a título de exemplo: Concílio de Trento, Inquisição Romana, Index Librorum Prohibitorum e Companhia de Jesus. 
Não se tem pretensão de levantar bandeiras em favor de quaisquer doutrinas ou ideologias, pois a posição do historiador deve ser a de compreender a História e não de julga-lá a partir de seu juízo de valor. Deste modo, preza-se pela análise crítica para entender esse complexo e emaranhado conflito cultural (muitas vezes bélico), demonstrando que a História não é uma constante homogênea e estável, mas que sofre grandes rupturas e que dessas rupturas surgem novas estruturas sociais, novos valores, uma nova cultura, sem deixar também de manter certas continuidades. 
Dessa maneira será demonstrado, em primeiro momento, a importância da imprensa para o sucesso e concretização dos ideais da Reforma. Logo após os antecedentes da Reforma, o que levou levou Martinho Lutero e outros a romperem com a Igreja. Em seguida, será apresentado as principais ideias protestantes e a, como circulavam e quais influências exerciam na sociedade. Após isso, será apresentado o impacto recebido pela Igreja, os recursos utilizados para combatê-las e, por fim, os resultados desse embate, para a Igreja e para a Cristandade como um todo. 
 O intuito será expor ao leitor que, desse embate, surgiram consequências religiosas, históricas e culturais que reverberam até os dias de hoje, trazendo uma melhor compreensão de diversos aspectos da História Ocidental moderna. 
Imprensa
Não se pode entender esse grande conflito cultural e nem o sucesso da circulação das ideias protestantes, no século XVI, sem antes compreender a importância fundamental da imprensa na divulgação dessas ideias. 
Antes da invenção da prensa móvel por Johannes Gutenberg, por volta de 1430, o método de produção de livros e de textos na Idade Média era o manuscrito. Isto é, para fazer uma cópia de um único livro era necessário transcrevê-lo à mão, do início ao fim. Este era um ofício praticado, principalmente, pelos monges copistas. Sem dúvidas o trabalho desses monges católicos foi fundamental para preservar boa parte da cultura humana desde a antiguidade que, caso contrário, provavelmente teria se perdido. Muitos autores clássicos sobreviveram até os nossos dias graças a esse trabalho como Platão, Aristóteles, Homero, Virgílio entre outros autores clássicos. Todavia, ao mesmo tempo em que foi essencial, também dava à Igreja Católica o monopólio da cultura existente, pois todas as obras passavam por suas mãos. Contudo, não se pode deixar de levar em conta as limitações da época, não sendo possível produzir livros em massa, pois demandava muito tempo dos monges para realizar uma única cópia. Alguns livros demoravam meses e até anos para serem produzidos, logo, os livros eram artigos para poucas pessoas, sendo que em sua maioria eram preservados em mosteiros e universidades. 
 Sem dúvidas a prensa foi uma das maiores invenções da humanidade e, com a introdução da imprensa, a quantidade de livros e informações divulgadas cresceu exponencialmente, dando ao cidadão comum (os alfabetizados) uma possibilidade muito maior tanto de se informar e de entrar em contato com outras formas de pensamento quanto para publicar suas ideias. Com essa chance cresceu-se grandemente as publicações em línguas vernáculas, comprometendo, como dito anteriormente, o poder da Igreja sobre a cultura, já que a maior parte das obras preservadas e publicadas pelos religiosos e acadêmicos eram em latim, dificultando o acesso do público comum ao debate intelectual. Voegelin (2014), por exemplo, atenta para o fato que já na época de Lutero o número de cópias de obras literárias tinham crescido de dezena de milhares para dezenas de milhões de livros, por conta da imprensa. A importância da imprensa, para esse período, pode ser resumida em:
Com o advento da imprensa, cresceu enormemente a possibilidade de circular novas ideias. Foi isso que, afinal, ajudou a abalar as antigas autoridades. Pois, quando a Bíblia, traduzida para as línguas vulgares, ficou facilmente disponível através da imprensa, a Igreja não pôde mais manter, de forma plausível, a sua tutela em matéria de fé. Quanto à instrução geral, as mesmas causas apressaram o retorno ao secularismo. A imprensa não só forneceu meio para difundir novas doutrinas políticas que criticavam a antiga ordem, mas também permitiu que os sábios humanistas publicassem edições das obras dos antigos. (RUSSELL, 2017, p. 223)
 É notório que a imprensa fez com que as novas ideias se espalhassem de modo rápido, produzindo uma quantidade de livros inimaginável para qualquer outra época, alcançando em poucas décadas mais livros publicados do que na Idade Média inteira. Ela serviu grandemente à causa protestante, onde se publicavam obras e panfletos em uma grande velocidade. Segundo Mircea Eliade (2011), um grande cientista das religiões,
“[...] mesmo uma descoberta tecnológica como a da imprensa teve importantes consequências religiosas; de fato, ela desempenhou papel essencial na propagação e no triunfo da Reforma. O luteranismo foi, ‘desde o início, filho do livro imprenso’: graças a esse veículo, Lutero pôde transfmitir, com força e precisão, sua mensagem de um extremo a outro da Europa” (p. 223)
 Lutero consideravaa tecnologia de impressão um dom de Deus, pois fez com que suas obras cobrissem a Europa em questão de meses. A Reforma ajudou a alavancar o mercado editorial, as obras de Lutero eram de enorme sucesso, na cidade de Wittenberg surgiram diversas gráficas e por onde se andava haviam livrarias cheias dos escritos de Lutero. Mas para que esses escritos causassem maior impacto na sociedade, era necessário que as pessoas fossem alfabetizadas. Nesse quesito a imprensa “alavancou os movimentos de alfabetização dos fiéis. O mundo foi mudando.” (BECKER, Elsbeth Léia Spode; BATISTA, Natália Lampert; FELTRIN, Tascieli, 2018, p. 3)
Os escritos de Lutero abalaram as instituições sociais e a Igreja Católica, que era a instituição mais influente do período. Segundo Voegelin (2014) a Reforma foi o primeiro movimento político e religioso que contou com o apoio da imprensa para a sua propagação. Não apenas a Reforma se beneficiou desta invenção, mas também os renascentistas, os cientistas e até pessoas que desejavam publicar suas opiniões. Segundo Aquino (2018, p. 410) “A invenção da imprensa no século XV facilitou enormemente a difusão dos textos clássicos”. É inegável que a imprensa foi uma peça fundamental para as mudanças desse período.
Reforma
A Reforma Protestante, chamada de Revolução Protestante por alguns historiadores, não foi um evento que aconteceu do dia para a noite, as sementes para essa crise já haviam se plantado séculos antes, mais especificamente entre os séculos XIV e XV.
A Igreja Católica, na era medieval, era a principal instituição existente. A Igreja reconstruiu a Europa ao longo dos séculos, após a queda do Império Romano, chegando a formar o Sacro Império Romano-Germânico. A Igreja era a base sagrada da existência da sociedade, dava segurança as pessoas, assegurava a unidade política. Chegou a formar, ao longo da Idade Média, o corpus Christianum. Nessa comunidade cristã todos eram responsável por todos e os trabalhadores se associavam em guildas para regulamentar o processo produtivo.
A Igreja preservou, por meio de obras, a cultura antiga; era responsável pela educação, difundia os valores, as ciências e a filosofia, influenciava as artes, a literatura, a arquitetura; mediava conflito entre reinos, etc. Ou seja, a Igreja estava no centro da vida da sociedade medieval, a vida privada era indissociável da vida religiosa. A Igreja era vista como um baluarte em meio ao caos. Todavia, por volta do século XIV, os valores cristãos começaram a ser questionados e a Igreja passou a se envolver em escândalos.
O século XIV foi um período de crise para a sociedade medieval: as pestes, a fome e calamidades começaram a se espalhar pela Europa. A Igreja que era vista como uma “tábua de salvação” em meio a tempos de crise, passou a se envolver com intrigas políticas. Entre os anos 1309-1377, a Igreja viveu o período conhecido como “Exílio de Avignon”, onde Felipe IV, o Belo, levou Clemente V, pressionado, para residir em Avignon, fazendo que os interesses da França sobrepusesse os da Igreja, enquanto o Estado Pontifício estavam em crise na Itália. 
Outro grande período de crise para a Igreja ficou conhecido como “O Grande Cisma do Ocidente”, que iniciou-se em 1378, onde chegou a coexistir três papas (um papa e dois antipapas), um em Roma, outro em Avignon e o terceiro em Pisa. Essa confusão durou até 1417, quando foi resolvida no Concílio de Constança. 
Entretanto, toda essa crise prejudicou a imagem da Igreja, ela não era mais vista como infalível. Por conta disso, começaram a se espalhar tendências nacionalistas na França, Alemanha, Espanha, Inglaterra entre outros lugares, que iam contra a unidade do Império. Diversos valores e dogmas passaram a ser questionados, encabeçados por precursores de Lutero, como João Wycliffe, Jan Hus, Guilherme de Ockham, entre outros. A heresia do Conciliarismo também estava em voga, pois a autoridade do papa estava abalada. A Igreja passou a se envolver, além de escândalos políticos e em casos de corrupção. 
Com o declínio do mundo medieval, surgiu o Renascimento. Houve um reflorescimento cultural, mais precisamente o resgate da cultura greco-romana, não apenas para imitá-la mas para servir de base para uma nova visão de mundo que contrastava, segundo os renascentistas, com a “Idade das Trevas”. Os renascentistas começaram a questionar diversos dogmas, e com seu humanismo influenciou os reformadores. 
Os papas da Renascença abriram caminho para a Reforma. Eram homens que não se esforçavam para parecerem homens religiosos, estavam preocupados com riquezas e questões territoriais e políticas. Muitos eram imorais, avarentos e vaidosos, como o emblemático Alexandre VI, o papa Bórgia. Também houveram outros como Sisto IV, Júlio II e Leão X. Tudo isso formou um “caldo de cultura favorável à revolução.” (AQUINO, 2017, p.15) 
Essa revolução teve seu estopim com Lutero, o pai da Reforma. Lutero nasceu em 1483, em Eisleben, numa família tradicional e católica. Em 1501 entrou para a Universidade de Erfurt, lá foi muito influenciado pela filosofia de Guilherme Ockham, frade franciscano que tinha tendências conciliaristas e grande divulgador do Nominalismo, filosofia essa que pregava as verdades da fé são inalcançáveis pela razão, mentalidade essa que pode ter inspirado Lutero a formar a sua tese da “Sola fide”. 
Lutero ao longo dos anos foi formando sua doutrina, que em muitos pontos divergia da Igreja. Até que em 1517, “a pregação das indulgências em Wittenberg foi uma oportunidade para Lutero publica a ‘sua doutrina’, amadurecida há anos. Em 31 de outubro de 1517 afixou suas 95 teses na igreja do castelo de Wittenberg.” (AQUINO, 2017, p. 40)
O caso das indulgências foi o ponto crítico que deu início a Reforma. O Papa Leão X permitiu a venda de indulgências em 1513, e fez um acordo com Alberto de Brandemburgo, arcebispo de Mainz, onde acordaram em dividir os lucros da arrecadação. Parte da coleta seria destinada à construção da nova Basílica de São Pedro. Alberto deu a Tetzel o encargo de vender as indulgências. Tetzel era um grande orador e agitador, utilizava-se de sua retórica para convencer os fiéis a comprarem as indulgências com promessas de grandes bençãos, perdão de pecados e salvação das almas (inclusive dos mortos). Segundo Lindberg (2017, p. 102) “a mentalidade popular, induzida por alguns pregadores, distorcia o significado de indulgência [...] multidões de contemporâneos ansiosos criam que podiam comprar dele [Tetzel] a salvação.” Lutero ficou furioso ao ver como as pessoas eram atraídas por esse discurso, “ele desprezava a forma como Tetzel explorava financeiramente seus conterrâneos em Wittenberg.” (WOODBRIDGE e JAMES III, 2017, p. 136)
Toda essa situação impulsionou Lutero a publicar suas teses. As teses, que originalmente tinham sido publicadas em latim, foram traduzidas para o alemão e distribuídas por toda a Alemanha. Essas traduções não foram feitas por Lutero, mas por alguém desconhecido, e a distribuição das teses pela Alemanha demonstrou o poder da imprensa. A fama de Lutero se alastrou pois ele foi considerado um adversário, não só na questão religiosa, mas também à influência romana nos negócios e na política alemã. Lutero enviou uma cópia das teses para Alberto de Brandemburgo, questionando a prática da venda das indulgências. Todavia esse ato foi interpretado pela Igreja como um desafio a autoridade de Roma e do papado. 
As teses de Lutero foram assunto de muitos debates, tendo defensores e condenadores. Em diversos momentos a Igreja tentou se reconciliar com Lutero para evitar um cisma, mas sem sucesso. Depois de diversas tentativas, em 1520, foi enviado a Lutero a bula Exsurge Domine, onde apontava 41 erros de Lutero e dava-lhe o prazo de 60 dias para se retratar ou ser excomungado. Todavia, Lutero decidiu se rebelar e queimou a bula numa fogueira, diante da população de Wittenberg. Com isso Lutero foi excomungado. 
Em 1521, Lutero foi convocado para se apresentar diante do sacro imperador romano, Carlos V, e de mais de 200 nobres,no evento conhecido como “A Dieta de Worms”. Já no próprio percurso para Worms, podia-se notar a repercusão dos ideais da Reforma. Segundo Aleandro, nuncio papal enviado a Worms, em uma carta ao papa escreveu: “Nove-décimos das pessoas gritam ‘Lutero’, e o outro décimo grita: “Fora com o Papa!” (LINDBERG, 2017, p. 115-116). Inclusive Aleandro chegou a ser ameaçado pelas ruas, e notou que as livrarias estavam cheias de livros escritos por Lutero. Entretanto, Lutero não mudou sua posição e continuou a defender sua doutrina, com isso, além de excomungado, Lutero tornou-se inimigo do Estado.
O edito de Worms foi severo. Ele não apenas proclamava Lutero um criminoso, mas também proibia qualquer um de lhe prestar qualquer ajuda. Sob pena de morte. Todos os seus livros também foram banidos. Pelo resto da vida, Lutero foi declarado um herético pela Igreja e um criminoso pelo estado. (WOODBRIDGE e JAMES III, 2017, p. 152)
Porém o “estrago” já estava feito, muitos nobres aderiram a causa de Lutero, se rebelaram contra Igreja e passaram a defender os princípios luteranos. Em Wittenberg, por exemplo, cresceu-se uma grande rejeição a autoridade papal em favor da autoridade bíblica. Sacerdotes passaram a se casar (inclusive Lutero, com a ex-monja cisterciense Catarina de Bora), a eucaristia foi substituída pela “ceia do Senhor”; houve um surto de iconoclastia, onde imagens passaram a serem violadas, e ocorreu destruição de diversos símbolos da fé católica. “Cidades e Estados inteiros da Alemanha substituíram os ritos tradicionais de culto pela ‘missa alemã’ e a ordem de serviço divino de Lutero que ele publicara em 1526.” (VIEIRA, Carla, 2016, p. 347)
As ideias de Lutero influenciaram outros reformadores, como Zuínglio, Calvino e Melâncton. Segundo Russell (2017), os reformadores eram intelectualmente inferiores aos humanistas, mas, em contrapartida, tiveram o ímpeto revolucionário que faltou a esses sábios. 
Seus ideais não se espalharam só pela Alemanha mas também por grande parte da Europa, como Noruega, Dinamarca, Suécia, Islândia, Suíça, Inglaterra, entre outros. Esses países romperam com a Igreja e com a unidade do Sacro Império. Contudo os reformadores se deram contra de um problema, eles
[...] perceberam que, rejeitando a autoridade da Igreja, estavam dando ocasião à anarquia doutrinal. Procuraram então um substitutivo para isso. Lutero partiu da ideia de que a religião sendo religião do Estado, como foi o Cristianismo desde os imperadores Romanos, Constantino e Teodósio, o Estado deveria zelar pela preservação das verdades da fé ou pela autoridade da Bíblia tal como Lutero a interpretava. (AQUINO, 2017, p. 52)
Com isso, os Estado nacionais tomaram o lugar da Igreja, o soberano da nação seria como um bispo, predominando portanto, os interesses políticos sobre os religiosos. 
Não houve apenas uma cisão religiosa e política, ocorreu também uma profunda cisão cultural, que ao longo do tempo cada vez mais distanciava católicos e protestantes. Foi um verdadeiro abalo para a Cristandade, o que se construiu por séculos “rachou” em poucos anos. “A dimensão do fato foi muito maior no contexto laico do que no religioso, porque, sobretudo, provocou profundas transformações na sociedade da época”. (BECKER, Elsbeth Léia Spode; BATISTA, Natália Lampert; FELTRIN, Tascieli, 2018, p. 2) 
Como reação a Igreja Católica desenvolveu meios para, em primeiro momento, impossibilitar a expansão protestante e de sua propaganda, e em segundo momento uma tentativa de reconciliação. Nasce desse conflito o rumo que seguiria a modernidade.
CONTRARREFORMA
A Contrarreforma foi uma resposta ao avanço protestante, ainda que tardia. Por mais que as teses da Reforma causaram grandes debates entre os acadêmicos, demorou para Roma se posicionar a respeito.
Inicialmente o papado e os monarcas católicos estavam preocupados com as disputas entre Francisco I da França e Carlos V, em vez de se preocupar com um “monge alemão bêbado”. Todavia o protestantismo era um movimento agressivo, que começou a varrer a Europa católica. Já em 1522, o Imperador Carlos V tentou convencer o Papa Clemente VII da necessidade de um concílio para resolver as controvérsias com os protestantes, todavia o papa se opôs por estar hesitante por conta da heresia do conciliarismo. (WOODBRIDGE e JAMES III, 2017)
Com isso Roma viu a emergência de se tomar uma atitude contra o protestantismo, todavia, ao mesmo tempo em que precisava combater o protestantismo a Igreja necessitava uma reforma interna. Segundo Carter Lindberg (2017, p. 387),
Foi durante o pontificado de Paulo IV que o movimento de renovação católico centralizou-se em repressão e ganhou o rótulo de Contrarreforma. Duas de suas ferramentas foram o Index librorum prohibitorum (Índice de Livros Proibidos) e a Inquisição. 
Mas antes disso, no pontificado do Papa Paulo III (1534-49), chegou-se a conclusão da necessidade de um concílio, apesar do medo do conciliarismo e da rejeição do clero. O decreto convocando o concílio foi emitido em 1537, mas por conta da guerra, só deu-se início ao concílio de fato em 1545, na cidade de Trento, que deu nome ao concílio. 
4.1 Concílio de Treto
Àquela altura as diferenças religiosas já haviam se endurecido, apesar de que em alguns momentos houveram participação de protestantes, porém sem sucesso em chegar a um acordo. Segundo Mircea Eliade (2011) a aproximação entre católicos e protestantes, no concílio, foi inútil. O concílio serviu mais para resolver os problemas internos e definir as diretrizes que a Igreja iria seguir. Além de se posicionar contra as proposição protestantes (respondendo a cada questão protestante) também serviu para uma revitalização da Igreja. 
As ordens religiosas ajudaram a renovar as forças da Igreja, como os carmelitas, jesuítas, capuchinhos, entre outros, principalmente nas figuras de São João da Cruz, Santa Teresa d’Ávila e Santo Inácio de Loyola. Após o concílio é possível se dizer que surgiu uma nova Igreja Católica. Todavia 
“quando o Concílio de Trento terminou o seu trabalho em 4 de dezembro, 1563, toda a esperança de reconciliação com os protestantes se esvaiu e a cristandade voltou a ficar dividida.” (WOODBRIDGE e JAMES III, 2017, p. 253)
Como resultado da Contrarreforma, além do Concílio de Trento, fundou-se a Companhia de Jesus, colocou-se em prática o Index e restaurou-se a Inquisição Italiana, mais conhecida como Inquisição Romana, só que dessa vez com jurisdição sobre toda a cristandade. 
4.2 Companhia de Jesus
A Companhia de Jesus foi institucionalizada em 1540, pelo Papa Paulo III. Era lidera por Inácio de Loyola, seguido de seus companheiros Francisco Xavier e Diego Laynes. Se a Inquisição Romana representava uma medida defensiva da Igreja contra o protestantismo, os jesuítas representava uma medida ofensiva. Ao longo do desenvolvimento da ordem, eles estabeleceram três atividades principais. Primeiro, estabelecer escolas e universidades. Segundo, comprometimento com atividades missionários. Terceiro, combater o avanço protestante. Com isso foram extremamente bem-sucedidos, chegando a frear e até reverter os avanços protestantes em alguns países (Ibidem, 2017).
Além de combater o protestantismo na Europa, conseguindo retomar alguns territórios, a Igreja planejou tomar a dianteira na catequização do Novo Mundo. A Companhia de Jesus foi incumbida de realizar expedições missionárias pelas Américas espanhola e portuguesa, que, além de trazer a fé cristã, tentavam moldar a sociedade indígena aos moldes europeu. No Brasil, os jesuítas chegaram em 1549, na liderança do padre Manoel de Nóbrega. 
Em contrapartida o protestantismo, apesar das tentativas de colonizações francesas e holandesas no século XVI e XVII, apenas se consolidou no século XIX, inicialmente no Rio de Janeiro.
4.3 Index
Ao notar o grande poder propagandístico e cultural que a imprensa impulsionava a Reforma, a Igreja decidiu emitir, em 1559, o Index Librorum Prohibitorum (Índice de livros proibidos). O foco era prevenira disseminação das heresias protestantes e também doutrinas dúbias, que prejudicavam a moral. A função dos religiosos era analisar as obras que publicadas para tentar impedir a infiltração de ideias hereges, principalmente as protestantes. Dentre elas: livros proibidos pelo Papas ou Concílios, livros hereges ou de heresiarcas; traduções da Bíblia feita por hereges, tratados de superstições entre outros.
Em 1571, a congregação especial do Index foi delegada ao Santo Ofício, com isso os resultados foram positivos nos países católicos, conseguindo barrar a influência protestante. Segundo Menchi, a repressão e censura “afetou a dissidência religiosa na Itália como a lava destruiu Pompeia no ano 79. O movimento filo-protestante foi sufocado ainda em sua fase de fermentação.” (1993, p.13, apud LINDBERG. 2017, p. 388)		
4.4 Inquisição Romana e “Inquisições” protestantes
O tema “inquisição” provavelmente seja o assunto mais controverso da história do cristianismo, incitando acaloradas discussões. Existiram quatro principais inquisições católicas: a Inquisição Medieval, a Inquisição Espanhola, a Inquisição Portuguesa e a Inquisição Romana, sendo essa última o objeto de análise deste subcapítulo.
Em 1542, através da bula Licet ab initio, Paulo III instaura a Inquisição Romana ou Tribunal de Santo Ofício, com objetivo de impedir a propagação protestante. 
O concílio é o lugar onde os cristãos resolviam seus problemas, mas nesse contexto, por conta da guerra da Alemanha, a Inquisição Romana foi instaurada, três anos antes do início do Concílio de Trento, para responder à ameaçada luterana. As novas ideias alemãs já estavam influenciando o clero e se espalhando pelos conventos, como por exemplo parte da congregação beneditina cassiense e os agostinianos-eremitas estavam pregando posições semelhantes as luteranas (AQUINO, 2016; CAMMILLERI, 2018). 
Apesar de que a Inquisição Romana tenha sido instaurada sobre toda a cristandade, praticamente só atuou em partes da Itália. A França nunca aceitou, em vários Estados italianos houve resistência e alguns nunca aceitaram, como Nápoles; Espanha e Portugal já tinham suas próprias inquisições. Basicamente o Santo Ofício só teve apoio nos Estados Pontifícios. No fim do século XVI, o Santo Ofício tinha apenas quinze tribunais operando, a maioria na Itália (CAMMILLERI, 2018). Em 1559, com a morte do Papa Paulo IV, em Roma ocorreu um tumulto e uma invasão a sede do Santo Ofício, onde foi destruído e queimados diversos arquivos do tribunal, o que ocasiona uma dificuldade de se estudar esse tribunal inquisitorial. Todavia, pode-se dizer que metade dos processos estavam relacionados ao protestantismo, a outra parte estava investigando hereges desinformados, livros proibidos, blasfemadores, padres que abusavam dos penitentes nos confessionários entre outros casos. Boa parte dos processos se tratavam de casos de superstições, como o emblemático caso de Menocchio. 
Menocchio é um dos exemplos de julgamento do Santo Ofício. Em seu prefácio Ginzburg (2006) afirma que uma pessoa como Menocchio é fruto de dois grandes eventos: a Reforma e a invenção da imprensa. A imprensa deu-lhe meios para comparar os livros com a tradição oral. Já a Reforma lhe deu coragem para confrontar a Igreja. 
Menocchio foi um exemplar vivo das mudanças de pensamento que estava ocorrendo já no século XVI. Ele era uma pessoa que queria divulgar suas ideias livremente, sem sentir medo da repressão; queria debater sobre questões religiosas com liberdade, questionar as autoridades políticas e eclesiásticas. Por conta disso, Menocchio foi denunciado, pela primeira vez, ao Tribunal do Santo Ofício em 1583. A princípio, foi considerado como louco e atraia a curiosidade dos inquisidores, mas ao fim do primeiro processo foi, primeiramente, condenado a prisão perpétua, todavia após alguns anos, a pena foi afrouxada e exigiu-se o cumprimento de algumas penitências. Já na segunda denúncia, em 1599, foi condenado a morte na fogueira por ser relapso.
Voltando a Inquisição Romana, era um tribunal gerido por uma comissão central de seis cardeais com soberania direta do papa. Foi o tribunal inquisitorial mais brando instaurado pela Igreja. “Só excepcionalmente houve penas corporais graves e execuções. Registraram-se mesmo numerosos casos de absolvições contrários às expectativas.” (AQUINO, 2016, p. 125)
Apesar de que “inquisição” seja um termo falho para designar os tribunais civis em países protestantes, o modo de se agir era parecido. Os tribunais protestantes não eram criteriosos iguais aos tribunais católicos. Eram, muitas vezes, muito mais ríspidos em seus julgamentos.
A ideia de tolerância religiosa só surgiu muito a frente, no século XVIII com os iluministas. “A ideia de tolerância como indiferença com relação ao fenômeno religioso estava tão distante da mente dos protestantes quanto o estava da dos católicos.” (CAMMELLERI, 2018, p.111)
Uma das “inquisições” protestantes mais famosas se dá na perseguição aos católicos, durante o reinado de Henrique VIII, na Inglaterra. Estima-se que tenham sido morto mais de setenta mil pessoas, dentre elas a de Thomas More (CAMMELLERI, 2018). Em Genebra, de Calvino, também teve uma forte vigilância estatal, onde os estatutos do velho testamento eram obrigatórios por lei. Muitas pessoas foram condenadas por descumprirem as leis. Sem contar a forte perseguição aos católicos.
Outro caso emblemático aconteceu na América dos Pilgrim Fathers, que eram peregrinos calvinistas, episódio esse conhecido como “Bruxas de Salém”. Nesse episódio dezenas de pessoas, em maioria mulheres, foram condenadas a morte por bruxaria.
DIVISÃO DA CRISTANDADE
Segundo o historiador Christopher Dawson (2014, p. 43),
De todas as divisões entre cristãos, a existente entre católicos e protestantes é a mais profunda e a mais prenhe de consequências históricas. É tão profunda que não podemos ver solução alguma no período presente e nas circunstâncias históricas existentes.
Existe um enorme vácuo de compreensão entre os dois tipos de pensamentos. Após séculos de guerra e disputas políticas, o resultado é não compartilharem mais de uma experiência social comum, mesmo nos países e cidades onde católicos e protestantes convivem juntos (DAWSON, 2014). A exemplo dos Estados Unidos, onde teve uma predominante colonização puritana, e mais tarde uma grande migração de católicos irlandeses. Boston foi o lugar onde mais conviveram juntos. Mesmo nesses lugares onde partilhavam de uma mesma cidadania, e vivessem numa cultura secular e laica, ainda sim permaneciam separados por uma barreira cultural. A principal barreira era não existir contato intelectual entre as partes.
Dawson (2014) está convencido de que o principal obstáculo à unidade cristã são fatores culturais e não teológicos. Não apenas a teologia é conflitante, mas o modo de vida é muito diferente entre as sociedades católicas e protestantes. No mundo católico a religião ocupava o centro do palco na história, onde o clero tinha poder de mover reis e exércitos. O catolicismo participava ativamente da vida social, já o protestantismo separou os assuntos de fé da vida social tratando-os, cada vez mais, como assunto individual. A cultura barroca católica do século XVI, incorporou o humanismo com a cultura popular e ascetismo com misticismo pela arte e liturgia, criando assim um mundo imaginativo, simbólico e artístico. Já a cultura protestante era derivada da Bíblia e da pregação da palavra, excluindo os elementos simbólicos e artísticos católicos, acentuando as diferenças, tornando a separação maior.
Que contraste poderia ser mais nítido do que a cultura popular da Europa católica – com peregrinações, festivais e espetáculos teatrais sacros, todos centrados nas grandes igrejas barrocas, os palácios coloridos dos santos -, e a austrera vida religiosa do laborioso artesão e do comerciante protestante, cuja única expressão exterior era a frequência semanal a um local de reunião, sem adornos, para ouvir as longas pregações dos clérigospuritanos e cantas longos salmos metrificados, porém muito distantes das versões poéticas? (DAWSON, 2014, p. 55)
O único padrão de crença e conduta dos protestantes, mais precisamente a figura dos puritanos, era a Bíblia, em ênfase, o Antigo Testamento. Isso representava um retorno cristão ao judaísmo: a lei mosaica substitui o direito canônico católico e os personagens do Antigo Testamento substituem os santos católicos (DAWSON, 2014). Nos países calvinistas a Reforma renegou os tesouros artísticos, os símbolos religiosos e destruíram o caráter religioso da cultura popular, que vinham da tradição medieval, como: os ciclos de festas, os jejuns anuais, o teatro sacro e as peregrinações, que, por sua vez, foram substituídas por uma piedade individualista. 
Tratando-se do modus operandi havia uma grande diferença entre o mundo protestante e católico. No catolicismo imperava uma sociedade de príncipes, nobres, monastérios, grandes catedrais etc., era uma cultura antieconômica, que visava gastar seus recursos para glória de Deus e para os ornamentos, dando pouco espaço para os mercadores. Condenava, muitas vezes, algumas práticas econômicas, como a usura. Já o protestantismo teve sucesso entre a burguesia. Segundo Dawson (2014), há uma afinidade natural entre o puritanismo e a burguesia, que fez o protestantismo cair nas graças dos comerciantes e dos industriais. 
O calvinismo deu às classes médias um suportes espiritual e moral que lhes permitiu afirmar a independências social e a construir uma nova ordem com base no esforço individual e na iniciativa, em vez de confiar na responsabilidade corportavia e na sanção social hereditária. (DAWSON, 2014, p. 236)
 Os reformadores acabaram com o pensamento dualista medieval a respeito do trabalho, onde o trabalho sagrado era destinado a ministros, monges e freiras, e era entendido como uma espécie de trabalho superior que só aqueles que tinham o chamado de Deus o desempenhava. Em contrapartida, o trabalho secular era visto como algo inferior, menos agradável a Deus. Os reformadores entendiam que qualquer trabalho comum dignifica o homem pois criam que com isso cada um servia a seu próximo. O protestantismo e a economia tinham uma estreita ligação, principalmente com a vertente calvinista. Calvino via a prosperidade como uma benção de Deus e a pobreza como uma expressão da ira de Deus (LINDBERG, 2017). O protestantismo prestou uma grande cooperação e tinha uma íntima ligação com o espírito capitalista. 
Outro grande fator fundamental, que desuniu profundamente os católicos e protestantes, foram as guerras. As controvérsias entre as duas vertentes causou guerras civis e dividiu a cristandade em dois campos armados, “não poderia haver reconciliação espiritual enquanto católicos e protestantes estivessem cortando as gargantas uns dos outros.” (DAWSON, 2014, p. 50)
Desses conflitos que foi preparado o caminho para a secularização da cultura europeia. O destino da civilização moderna foi determinado pelo estado de guerra entre os cristãos. Essa tragédia religiosa mudou o rumo da história e até hoje o mundo cristão está dividido em fronteiras religiosas estabelecidas na época das contentadas (DAWSON, 2014). Como exemplo das principais contendas bélicas, pode se notar a famigerada Noite de São Bartolomeu, em 1572, e a Guerra dos Trinta Anos, que ocorreu entre 1618 e 1648. 
As diferenças políticas chegaram ao fim no Tratado de Vestfália, mas até hoje as diferenças religiosas e culturais existem. Por mais que tenham ocorrido tentativas de aproximações é difícil, a longo prazo, vislumbrar uma união entre essas duas vertentes. “A Europa moderna, que começou a existir com a Paz de Vestfália nasceu com a alma dividida. [...] O grande ideal da Cristandade europeia ficou definitivamente abandonado.” (AQUINO, 2018, p. 224) 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 O tema abordado é demasiadamente complexo, necessitando uma análise crítica, tanto de fontes protestantes quanto das fontes católicas, sendo difícil manter uma linha tênue entre uma real interpretação e uma divulgação religiosa. Dependendo do objeto de estudo, cada vertente tem sua própria interpretação. A exemplo das inquisições e do Index. 
No primeiro exemplo os protestantes tendem a enxergar como uma grande atrocidade e acusam a Igreja de ser autoritária. Por outro lado os católicos não negam os erros das inquisições, todavia apresentam dados que demonstram uma certa “brandura” colocando em xeque as acusações protestantes, taxando-os de divulgadores da “Lenda Negra”. No caso do Index, os católicos tentam justificar a prática argumentando que dificilmente uma obra era totalmente censurada e que era para o bem da sociedade. Já os protestantes os acusam de intolerantes. 
Católicos tendem a enxergar a Reforma de modo injustificável, já os protestantes de que era necessária. É necessário muita reflexão e cautela na análise dos fatos, só assim pode-se chegar a uma conclusão sensata e imparcial. De tudo isso fato é que desse conflito o destino da Europa, a partir do século XVI, foi mudado completamente. Novas estruturas sociais surgiram, antigas desapareceram e outras foram renovadas. 
Foi demonstrado, durante todo o trabalho, o trajeto conflituoso entre católicos e protestantes, evidenciando que, da cisão da cristandade, surgiram culturas diferentes e, em muitos aspectos, incomunicáveis. Aspectos esses que não se resumiram apenas ao século XVI, mas se prolongaram até os dias de hoje, estando presente na nossa cultura, mesmo ela sendo laica e secular. Diferenças essas que transcendem aspectos políticos, estando mais evidente nos aspectos culturais. 
Anseio, com esse trabalho, que os leitores tenham tido uma compreensão maior sobre esse tema e que possa servir estímulo para novas pesquisas e elucidação desse assunto. 
REFERÊNCIAS
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CAMMILLERI, Rino. A verdadeira história da Inquisição. Campinas, SP: Ecclesiae, 2018.
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GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Leitras, 2006.
LINDBERD, Carter. História da Reforma. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.
RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental. 21ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
VIEIRA, Carla Sewald. Homem: o centro e a medida de todas as coisas
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WOODBRIDGE, John D.; JAMES III, Frank A. História da Igreja: da Pré-Reforma aos dias atuais. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2017. 2 v.

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