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1 A MEDIAÇÃO COMO MEIO DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS SOB A ÓTICA DO DIREITO DE FAMÍLIA NA FASE PRÉ-PROCESSUAL Natália Brito Neves Dias Graduanda em Direito – UNAERP, Campus Guarujá naty_brito91@hotmail.com Resumo: O presente texto aborda a mediação na fase pré-processual realizada no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania, no campo do Direito de Família. Com uma abordagem voltada aos meios de solução de conflitos consensuais, também, conhecidos como “equivalentes jurisdicionais”, consta de análise da mediação e seus reflexos, na fase pré-processual, destacando seus aspectos mais importantes e relativos ao propósito deste paper. A metodologia utilizada foi a bibliográfica, tendo como justificativa a relevância social e acadêmica do debate das questões, visto que a mediação ganhou um novo status no Código de Processo Civil de 2015. Com este trabalho, percebe-se que a mediação é um meio célere e eficaz para a solução dos conflitos especialmente no direito de família, uma vez que possibilita às próprias partes condições de decidirem pela escolha da melhor solução para os seus interesses e de seus filhos. Palavras-chave: Mediação. Pré-processual. Direito de Família. CEJUSC. Área de conhecimento: Humanas 1. Introdução. Em razão da inerente necessidade do homem conviver em sociedade, em grupos, pouco a pouco, estabeleceu-se a organização política da sociedade, surgindo então o Estado. O Estado tem o poder e a função de resolver conflitos, contudo, ele não é o único com a incumbência de pacificação social. Atualmente, existem os equivalentes jurisdicionais que atuam de forma linear à pacificação dos conflitos pelo Estado. Os equivalentes jurisdicionais são também conhecidos como meios adequados ou alternativos de solução de conflitos, sendo os dois últimos termos criticados por parcela da doutrina, críticas que serão abordadas no curso deste trabalho. Dentre os equivalentes jurisdicionais, há a mediação, meio que permite a intermediação de um terceiro que visa facilitar o diálogo entre os litigantes, sem, contudo, uma forte intervenção quanto às propostas conciliatórias, objetivando auxiliar a partes para que elas por si próprias cheguem à solução consensual do conflito e a restabeleçam o diálogo. 2 A mediação, neste texto, será analisada sob a seara familiar, ou seja, a mediação como forma de resolução dos conflitos decorrentes do divórcio ou da dissolução da união estável. Ainda, frustrados com o relacionamento rompido, os litigantes rompem não somente o relacionando, mas também o diálogo entre si, com isso torna-se difícil solucionar os conflitos existentes. A mediação como meio de pacificação de controvérsias familiares, objetiva, então, estimular o diálogo entre as partes, possibilitando-as chegarem a um consenso e estabelecerem o melhor para si, evitando que um terceiro assim o faça. O presente paper tem como recorte temático analisar a mediação na área da família, na fase pré-processual, que proporciona benefícios às partes, possibilitando que elas resolvam por si próprias seus conflitos, com o auxilio de um mediador capacitado para tal função, sem necessariamente a formação de um processo judicial. Quanto ao judiciário, a mediação pré-processual evita que os litígio sejam solucionados por meio de um processo com longas fases e que gera um volume para o Poder Judiciário, para que profira uma decisão que possa desagradar aos jurisdicionados, aumentando as chances do não cumprimento, e, por consequência, um novo litígio, e um novo processo. A fase pré-processual é um campo de solução de conflitos que evita a existência de um processo judicial, descongestionando o Poder Judiciário, para que ele, de forma qualitativa, ofereça à sociedade a prestação jurisdicional adequada, célere e eficaz. Nesse sentido, a pesquisa ora apresentada tem como justificativa a relevância social e a importância jurídica que esses métodos de solução de conflitos trazem à sociedade, possibilitando aos jurisdicionados resolverem seus conflitos de interesses de forma gratuita, célere e desburocratizada. 2. Objetivo. Portanto, seu objetivo é conscientizar a sociedade sobre tais questões e levantar o debate acadêmico e social de que é necessário abandonar a cultura litigiosa, agressiva, gladiadora, para desenvolver os aspectos positivos dos conflitos, com a disseminação da cultura da pacificação social e da solução amigável dos conflitos. 3. Método. A metodologia utilizada foi a bibliográfica, cuja pesquisa feita através da colheita e compilação de dados estatísticos que comprovam a eficácia da mediação pré-processual na seara da família. 3 4. Desenvolvimento. 4.1 A evolução dos equivalentes jurisdicionais. Nos três primeiros parágrafos do artigo 3º do Novo Código de Processo Civil estão elencados os “meios alternativos” de solução de conflitos, que para o autor Daniel Amorim Assumpção Neves, essa nomenclatura não é a mais coerente. O significado da palavra alternativo que segundo o dicionário é “o que tem alternação; que se pode escolher em vez de outro; sujeito a opção” (Lorousse Cultural, da Língua Portuguesa, 1999, p.44). Meios alternativos de solução de conflitos traz a ideia de meios subsidiários, como se não fossem importantes, ou eficazes. O que não é o correto, pois esses meios têm contribuído para o descongestionamento do Judiciário. Para uma parcela da doutrina esses meios são denominados como “meios adequados” de solução de conflitos. Segundo o dicionário o significado da palavra “adequado: apropriado, adaptado, que corresponde perfeitamente a um objetivo.” (Lorousse Cultural, da Língua Portuguesa, 1999). O autor faz críticas a esse conceito, “porque adequado é resolver o conflito, não se devendo afirmar a priori ser o meio mais adequado do que outro. Se esses são os meios adequados, o que seria a jurisdição? O meio inadequado de solução de conflitos?” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção, 2015, p. 29). Os meios consensuais de conflitos não são perfeitos, como demonstra o significado da palavra adequado, pois há conflitos que por terem certas peculiaridades, não podem ser resolvidos por esses meios, e necessitam que um terceiro imparcial dê a prestação jurisdicional que eles merecem, se esses meios fossem perfeitamente adequados, chancelaríamos a falência do Poder Judiciário. De modo que para o autor chamá-los de “meios alternativos” não é o mais coerente, pela ideia da subsidiariedade, soando como insignificantes, contudo chamá-los de “meios adequados”, traz à ideia de desprezo à jurisdição. Para ele o preferível é denomina-los de “equivalentes jurisdicionais”. A palavra equivalente segundo o dicionário Aurélio significa: “do mesmo valor; que tem igual valor a outro; que pode substituir outro produzindo os mesmos efeitos ou tendo igual virtude, igual significa”. (https://dicionariodoaurelio.com/equivalente - acesso em 20/05/16) Como observamos os significados das palavras alternativo, adequado e equivalente, é possível compreender que o termo “equivalente” é o mais coerente para determinar a nomenclatura dos meios consensuais de solução de conflitos, pois eles têm o mesmo valor, produzem os mesmos resultados e podem ser substituídos pela jurisdição estatal. Percebendo a necessidade de se incentivar essas modalidades de equivalência jurisdicional é que o Legislativo no Novo Código de Processo Civil estabeleceu expressamente a importância desses métodos na busca pela pacificação social dos conflitos. No parágrafo 1.º do artigo 3º do NCPC está previsto a permissão da arbitragem, na forma da lei. Em seguida no parágrafo 2.º há a recomendação de 4 que o Estado promova, sempre que possível, a solução consensualdos conflitos, enquanto que no parágrafo 3.º se estabeleceu que a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por magistrados, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. Ao analisar o paragrafo 3º do artigo 3º do NCPC a autora Fernanda Tartuce, faz críticas ao verbo “estimular” que tem os seguintes significados: 1. dar incentivo a; despertar o ânimo, o interesse, o brio de; encorajar, incentivar, incitar; 2. empenhar-se para que (algo) seja criado, realizado, ou intensificado; impulsionar, promover; 3. submeter à ação de um estímulo; ativar, excitar; 4. tornar(-se) ofendido ou agastado; ofender(- se); aborrecer(-se); 5. picar animal com aguilhão ou aguilhada, para incitá-lo; aguilhoar. (MICHAELIS) Por permitir mais de uma interpretação, a autora teme que os diversos significados dê margem a julgamentos morais diversos e equivocados, como por exemplo, ao se deparar com resistência a utilização dos métodos consensuais de solução de conflitos por parte das partes, o condutor ao se amparar pelos diversos significados do verbo estimular, insista de forma excessiva e inoportuna pela escolha da utilização dos métodos consensuais de solução de controvérsias. Se for o juiz quem estiver na função de estimular a tentativa de abordagem consensual, por conta da autoridade que detém, torna-se ainda mais perigosa à vasta interpretação que a terminologia apresenta. A autora acrescenta que alguns juízes ao perceber que há a possibilidade de acordo, buscam “incentiva-los” de forma a proferir ameaças, no tocante que se não fizerem acordo a sentença será pior ou igual às propostas ofertadas. A autora proclama por mudanças, contudo se essas atitudes persistirem comprometerá negativamente a credibilidade do Poder Judiciário e consequentemente geram desconfianças em relação à utilização e às vantagens de aderir aos meios consensuais. Portanto, a autora acredita que seria interessante substituir o verbo estimular, pelos verbos “informar”, “promover” e “esclarecer”, pois estes evitariam equívocos e incentivos irrazoáveis e exacerbados no direcionamento aos meios consensuais. De modo que os juízes devam explicar e esclarecer, o que são os métodos consensuais, bem como se é pertinente a sua utilização ao caso concreto, possibilitando que as partes por eles optem. Acredita também que os meios consensuais sejam apenas utilizados quando for possível, pertinente e adequado para o perfil das partes, bem como ao conflito, para que eles não sejam utilizados com propósito protelatório. 4.2 A mediação e a conciliação. Dentre outros incentivos às formas consensuais, o NCPC dedicou à mediação e a conciliação uma seção inteira de um capítulo, saindo da teoria abstrata de antes do “conciliar é Legal” para disciplinar de forma concreta as formas consensuais de solução de conflitos. 5 Ainda que tal seção seja limitada a regulamentar a mediação e a conciliação no curso do processo, enquanto que o ideal seria que esses métodos evitassem que eles existissem. Neste sentido, o CPC/2015 é revolucionário ao criar uma estrutura e um procedimento que possam impulsionar a conciliação e a mediação como método de solução de conflitos e, por conseguinte a extinção do processo por sentença homologatória. O autor entende que é de suma importância a iniciativa do legislador, pois se há essas formas consensuais de solução de conflitos, que sejam regidas por uma estrutura organizada e com procedimentos definidos para que se possa aproveita-los ao máximo. Entretanto, ele não vislumbra que a mediação e a conciliação seja a solução para todos os problemas no campo dos conflitos de interesses. Admite a relevância dessas formas de solução de conflitos, em determinadas áreas do direito em especial as crises do direito de vizinhança e de família. Quando as partes manifestam sua vontade para a composição de um acordo a pacificação social é facilmente obtida, sendo mais benéfico e eficaz do que pela imposição de uma decisão judicial (ou arbitral). Sendo assim, quanto mais conflitos forem solucionados fora do judiciário, haverá menos processos, e Poder Judiciário poderá funcionar de maneira mais célere, proporcionado maior acesso à ordem jurídica justa. A valorização da conciliação nos remete ao ditado de que “vale mais um acordo ruim do que um bom processo” revela o desrespeito ao direito material e chancela a falência do Poder Judiciário. Pois, no direito consumerista a conciliação não traz bons frutos na sua maioria, tendo em vista que para o litigante contumaz (fornecedor) detentor de poder econômico é mais vantajoso seguir as agruras de um processo, do que para o litigante eventual (consumidor), que na maioria das vezes aceita propostas bem inferiores ao seu pleito por ato de necessidade e não por ato de vontade. 4.3 A mediação. A mediação é um método equivalente de resolução consensual de conflitos, que vem ganhando espaço nos ordenamentos jurídicos modernos, pois assim como a conciliação, visam retirar do Poder Judiciário a exclusividade na composição dos litígios. Humberto Theodoro Junior ensina a esse respeito que, ninguém melhor que as próprias partes é capaz de alcançar a solução mais satisfatória para suas próprias contendas. Kazuo Watanabe entende que os métodos de solução de conflitos não devem ser analisados “como solução para a crise de morosidade da Justiça e sim como um método para se dar tratamento mais adequado aos conflitos de interesses que ocorrem na sociedade”. (WATANABE, 2013, p. 243 apud HUMBERTO, 2015, p. 596) Para o ator deve-se repudiar o que ele chama de “cultura da sentença”, que engrandece excessivamente a resolução das controvérsias por meio do Poder Judiciário, para criar a “cultura da pacificação”, 6 prestigiando a solução amigável pelos próprios litigantes, com a ajuda dos mediadores e conciliadores. Humberto Theodoro Junior conceitua a mediação como um método consensual, que proporciona o diálogo entre as partes, com a finalidade de pôr fim ao conflito de forma consensual. Para isso, há o auxilio de um terceiro imparcial, na figura de mediador, sem qualquer poder de decisão, por meio de técnicas de negociação, incentivar e auxiliar aos litigantes, por si próprios, alcançarem uma solução pacífica e adequada ao conflito que os envolvem. Para Daniel Amorim Assumpção Neves (2015), mediação é uma forma alternativa de solução de conflitos, baseada no exercício da vontade das partes, que não pode ser confundida com a autocomposição, pois, enquanto nesta haverá sacrifício total ou parcial dos interesses de uma das partes, já na mediação a solução não traz nenhum sacrifício aos interesses das partes envolvidas no conflito. Portanto, a mediação não é focada no conflito em si, mas em suas causas, o que torna a mediação muito interessante, sob o ponto de vista da pacificação social que ela produz. Por sua vez, o mediador diferente do conciliador, não propõe nenhum tipo de solução ao conflito, apenas conduz as partes a descobrirem as causas que o gerou, de forma a possibilitar que essas causas sejam removidas e assim cheguem à solução do litígio. Assim, as partes envolvidas por si próprias, alcançam a solução consensual do conflito, sendo a tarefa do mediador apenas induzi-las a tal resultado. Para o referido autor, outro ponto que torna a mediação bastante atraente é o sentimento de capacidade que ela proporciona as partes, pois elas tornam-se protagonistas de suas próprias vidas. O NCPC foi inovador em trazer as distinções entre mediação e conciliação, de modo que no artigo 165, parágrafo 3º traz a informação de que o mediador atuará preferencialmente nos casos em que houvervínculo anterior entre as partes, auxiliando aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles obtenham o restabelecimento da comunicação e identifiquem por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos. A definição do NCPC corroborou com as definições feitas por vários juristas da área da mediação. Se não vejamos: Juan Carlos Vezzulla (VEZZULLA, p. 15, 1994), define mediação como uma técnica de resolução de conflitos, não adversarial, que sem imposições de sentenças ou laudos, e com um profissional devidamente qualificado, para auxiliar as partes a encontrarem seus verdadeiros interesses e a preservá-los num acordo criativo em que as duas partes ganhem. Maria de Narareth Serpa (TAVARES, 1998, p. 28 apud SERPA, Maria de Nazareth, Op. Cit. P.157), salienta que o termo mediação vem do latim mediare, que significa mediar, dividir ao meio ou intervir, se colocar no meio. Essas expressões ensejam a interpretações modernas do termo mediação que é um processo pacífico e não adversarial de acerto de conflitos, no qual um terceiro age 7 tão somente para encorajar e facilitar a resolução de uma disputa sem prescrever qual a solução. Para Roberto Portugal Bacellar (BACELLAR, p. 36 apud VICENTINI, 2012, p.14), a mediação é recomendável para situações de múltiplos vínculos, sejam eles familiares, de amizade, de vizinhança, decorrentes de relações comerciais ou até mesmo trabalhistas, dentre outras. Diz também que a mediação procura preservar as relações, de modo que, se bem conduzida possibilita a manutenção dos demais vínculos. Carlos Eduardo de Vasconcellos define a mediação como um meio na maioria das vezes não hierarquizado de solução de conflitos, em que duas ou mais pessoas com a colaboração de um terceiro, o mediador, que por sua vez deve ser apto, imparcial, independente e livremente escolhido ou aceito, pelas partes, com a função de escutar o problema exposto por elas, auxilia-las a escutar um ao outro, e ao serem questionadas, a dialogarem construtivamente para que possam identificar os interesses em comum, opções e, eventualmente, firmar um acordo. (VASCONCELOS, p. 36, 2008, apud VICENTINI, 2012, p14). No mesmo sentido, Águida Arruda Barbosa (2014) entende que a mediação, diferente da conciliação, atua na origem do conflito, portanto, não visa ao acordo, pois este é mera consequência, mas visa tão somente à compreensão, e a retomada do diálogo entre os conflitantes com o objetivo de manter harmoniosa a continuidade do vínculo. Acrescenta ainda que a mediação é fundada na intersubjetividade, ou seja, é baseada nos relacionamentos entre os indivíduos, viabilizando a comunicação entre as pessoas, com técnicas adequadas para promover a escuta mútua, que poderá resultar no reconhecimento de seus respectivos sofrimentos, projetando o caminho para a solução consensual do conflito. Pois, como já mencionado, o mediador, não intervém, não sugere, não induz, não força as partes a nada, tão somente visa instigar a recuperação da responsabilidade dos mediandos a fazerem suas escolhas, sejam elas boas ou não, conscientizando-os que os sofrimentos e decepções devem ser deixados no passado, visto que a nova comunicação tem por foco o futuro. Sob esse aspecto pode-se compreender a mediação, não somente como um método facilitador do diálogo, mas como um método que ajuda no desenvolvimento do comportamento humano. Feitas as considerações sobre a definição da mediação, conclui-se que mediação é um meio facilitador de diálogos que busca a solução para as causas que ensejaram ao conflito, que terá o auxilio de um mediador que de forma imparcial e sigilosa induzirá as partes por si próprias encontrem a solução que melhor satisfaça seus interesses. Para que a mediação se realize, é necessário o complemento por objetivos e técnicas variáveis, conforme será adiante exposto. 4.4. A sessão de mediação. O processo de mediação, assim como outros métodos de solução de conflitos visam o contraditório, possibilitando que todas as partes atuem na tentativa de resolver a controvérsia. 8 Na mediação o que se busca como já tratado anteriormente é que as próprias partes cheguem à solução do conflito, ou seja, a solução não é dada por um terceiro. O que diferencia o processo de mediação também é ausência de formalidades, visto que a mediação se adapta conforme a participação e os interesses das partes. Contudo, é um processo contínuo e com certas peculiaridades, visto que não se pode visualiza-lo em etapas. Mesmo que haja várias fases no processo de mediação, o que se verifica é um prosseguimento altamente variável conforme a relação pessoal das partes. Com isso, pelo cunho informal que impera no processo mediativo, não é possível estabelecer com exatidão como se dará o seu desenrolar e em que modo ele irá terminar. O processo de mediação pode ser dividido em cinco fases, tais são: i) declaração de abertura; ii) exposição de razões; iii) identificação de questões, interesses e sentimentos; iv) esclarecimentos acerca de questões, interesses e sentimentos; e v)resolução de questões. Veremos a seguir no que consiste as referidas etapas de forma sucinta. A fase de declaração de abertura tem por objetivo apresentar as partes o processo de mediação, explicando-lhes como se dá o seu desenvolvimento, quais são as regras inerentes, sempre com vistas a deixa-las confortáveis. Outro importante propósito nessa fase é fazer com que as partes adversarias acostumem-se a sentar lado a lado em um mesmo ambiente. A segunda fase no processo de mediação é o de exposições de razões, na qual todos os envolvidos no conflito tem a oportunidade de expor seus pontos de vista e a expressar seus sentimentos sem quaisquer interferências ou interrupções, gerando nas partes o sentimento de respeito a elas, pois elas sentem-se ouvidas atentamente. Ainda nessa fase o mediador deverá iniciar a identificação dos pontos controvertidos. A terceira fase no processo de medição é a de identificação de questões, interesses e sentimentos, como o nome já diz o mediador identificará quais são os reais interesses das partes e os sentimentos que precisam ser trabalhados, ainda que em de sessões individuais. Feito isto, as partes debaterão sobre o que foi colocado pelo mediador, sendo o início da próxima fase. Na quarta fase do processo de mediação são realizados os esclarecimentos acerca das questões, interesses e sentimentos envolvidos no conflito, momento este que as partes com o auxílio do mediador discutirão a respeito das principais questões e necessidades, tal fase é essencial para o avanço do processo mediativo, pois elas começam a perceber as perspectivas e necessidades da outra parte. Ainda, nesta fase, o mediador atuará intensamente para que as partes passem a ver o outro não mais como um adversário, e sim como alguém disposto a resolve o conflito. Assim elas passam a perceber que há interesses convergentes entre si. Na quinta e última fase do processo de mediação, as partes já encontram- se aptas para resolver as questões, de modo que deverão identificar e avaliar juntas tudo o que foi exposto, para que a partir de seus interesses, realizem as 9 negociações necessárias, desenvolvendo-as, bem como testando-as, e verificando sua viabilidade em relação as propostas apresentadas. Nesta fase o acordo vai ser moldado conforme a vontade conjunta das partes, pois elas já têm uma nova perspectiva a cerca do conflito. É o momento ideal para concretizar todo o sucesso adquirido no processo de mediação. Passo seguinte o acordo será formalizado em um documento escrito com todos os termos estabelecido pelas partes. 4.5 A mediação pré-processual como o meio célere e eficaz e o centro judiciáriode solução de conflitos e cidadania. Com o avanço da tecnologia e a globalização, a sociedade evolui constantemente, sendo necessário criar meios alternativos para a solução de conflitos, gerada pela grande massa da sociedade. Contudo, com o excesso de formalismo a justiça não vem conseguindo acompanhar tal evolução, ocasionando a morosidade no judiciário e congestionamentos, no qual a conciliação e a mediação tem sido de suma importância, para auxiliar o sistema judiciário trazendo celeridade processual. Os meios alternativos de soluções de conflitos tem sido um facilitador para esfera judiciária, transferindo para instâncias não judiciais, também conhecidos como Núcleos de Conciliações, diversos processos, onde as partes apresentam- se de modo informal para uma autocomposição harmônica, resultando, muitas vezes em acordo entre os envolvidos. Visando aprimorar os meios de solução consensual de conflitos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou em 29 de novembro de 2010 a Resolução nº 125, que instituiu a Política Nacional de tratamentos dos conflitos de interesses, com vistas a assegurar a todos os cidadãos à solução consensual por meios adequados à sua natureza e peculiaridades. Incumbe aos órgãos judiciários, nos termos do artigo 334 do Novo Código de Processo Civil cumulado com o artigo 27 da Lei n.º 13.140 de 2015, oferecer outros meios de solução de controvérsias em especial a mediação e conciliação antes da solução adjudicada mediante sentença, de forma a prestar atendimento de qualidade aos cidadãos e a orienta-los com vistas a disseminar a “cultura da pacificação social”. Diz o art. 334 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015: Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. Prevê o art. 27 da Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015, que “se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de mediação”. Prevê, também, no artigo 2º da referida Resolução que na implementação da Política Judiciária Nacional serão observados a centralização das estruturas judiciárias; a adequada formação e treinamento de servidores, conciliadores e mediadores; bem como o acompanhamento estatístico específico para observar o 10 desenvolvimento desses métodos, como veremos em linhas seguintes a demonstração dessas estatísticas de um Centro de Solução de Conflitos e Cidadania objeto deste trabalho. A Resolução prevê ainda que compete ao Conselho Nacional de Justiça auxiliar aos tribunais na organização e gestão dos serviços implementados pela Política Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, bem como na criação dos Centros de Solução e Conflitos e Cidadania, possibilitando a parceria de entidades públicas e privadas na capacitação de mediadores e conciliadores, seu credenciamento nos termos artigo 167, parágrafo 3º do NCPC, e, também, a realização de mediações e conciliações, na forma do artigo 334 do mesmo diploma legal. Diz o § 3o do art. 167 da Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015: Do credenciamento das câmaras e do cadastro de conciliadores e mediadores constarão todos os dados relevantes para a sua atuação, tais como o número de processos de que participou, o sucesso ou insucesso da atividade, a matéria sobre a qual versou a controvérsia, bem como outros dados que o tribunal julgar relevantes. Os programas para incentivos à autocomposição de conflitos e à pacificação social por meio dos métodos de solução consensual em especial a mediação e a conciliação, contarão com a participação de todos os órgãos do Poder Judiciário e por entidades públicas e privadas parceiras inclusive universidades e instituições de ensino como acontece entre a Universidade de Ribeirão Preto Campus Guarujá e o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. O Tribunal de Justiça de São Paulo, cumprindo a Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça, criou através do Provimento nº 1868/2011 o Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, dentre suas funções está a promover a instalação dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCs). Nos Centros Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania - CEJUSC, atuam mediadores e conciliadores formados pelo curso de capacitação e aperfeiçoamento de conciliação e mediação nos moldes do Anexo I da Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça, que utilizam de técnicas e instrumentos que contribuem para a obtenção da resolução dos conflitos e da pacificação social. A Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça atribui aos CEJUSCs que, atendam aos Juízos ou Varas com competência nas áreas cível, fazendária, previdenciária, de família ou dos Juizados Especiais Cíveis e Fazendários, realizando as sessões e audiências de mediação e conciliação, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão. É atribuição dos CEJUSCs realizar as sessões de mediação e conciliação pré-processuais, sendo que estas, obrigatoriamente serão realizadas nos próprios Centros, ao passo que excepcionalmente, as sessões de mediação e conciliação processuais poderão ser realizadas nos próprios Juízos, Juizados ou Varas designadas, desde que sejam por mediadores e conciliadores cadastrados junto ao Tribunal, supervisionados pelo Juiz Coordenador do Centro. 11 4.6 O Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania do Guarujá. O Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania do Guarujá foi instalado no Munícipio em 19 de dezembro de 2013, através de uma parceria entre a Universidade de Ribeirão Preto e o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Na cerimônia de instalação o Presidente do Tribunal do Estado de São Paulo, na época o Doutor Desembargador Ivan Ricardo Garisio Sartori, nomeou como Juíza Coordenadora a Doutora Maria Cecília dos Santos Blanco Peres. O Centro Judiciário de Soluções de Conflito e Cidadania (CEJUSC) em tela cumpre, exatamente, as orientações do Conselho Nacional de Justiça, realizando as sessões de mediação e conciliação processuais e pré-processuais, prestando, ainda, atendimentos e orientações à população do Guarujá, bem como faz o controle estatístico das referidas sessões. Atualmente, o CEJUSC - Guarujá conta com dezenove conciliadores e mediadores cadastrados no órgão competente, que atuam nas conciliações e mediações processuais e pré- processuais. Exercem a nobre função de conciliação e mediação de forma voluntária visto que ainda há discussões a cerca da remuneração da função de conciliador e mediador. O setor de conciliação pré-processual do CEJUSC atende conflitos que ainda não foram ajuizados na forma de processos perante o Poder Judiciário. Podem ser objeto de conciliação ou mediação pré-processual, desde que estejam em total acordo as partes, as causas cíveis em geral acidentes de trânsito, cobranças, dívidas bancárias, conflitos de vizinhança, conflitos acerca de relação de consumo, exceto causas trabalhistas. São realizados na área de família, divórcios, reconhecimento e dissolução de união estável, fixação, exoneração e revisão de alimentos, regulamentação de guarda, reconhecimento de paternidade, exceto partilha de bens e ações sucessórias. Caso a mediação e a conciliação tenha êxito, na forma de acordo, este será homologado pelo Juiz coordenador e terá eficácia de título executivo judicial. A fase pré-processual é toda informatizada com o Sistema de Automoção da Justiça – Saj, a parte interessada dirige-se ao CEJUSC, levando os documentos que serão digitalizados elançados no sistema, à informatização nessa fase é muito importante, pois evita que se crie processo em papel, economizando material e tempo. 4.7 A mediação pré-processual e sua eficácia na área da família. As pessoas que procuram o CEJUSC muitas vezes são encaminhadas pela Defensoria Pública ou são atendidas diretamente no Centro, esclarecendo o que as levaram a procurar atendimento. No atendimento são esclarecidos como se opera o procedimento da mediação pré-processual, que consiste em um procedimento extrajudicial que depende da voluntariedade da parte contrária comparecer na sessão, que não haverá a interferência de um terceiro na solução do conflito, bem como, este 12 terceiro o mediador tão somente irá facilitar o diálogo entre as partes que por si próprias chegarão à solução que melhor atenda seus interesses de suas famílias. Diante da possibilidade do pedido, é feita uma carta convite para a outra parte com as informações da audiência, se a esta resultar frutífera, ou seja, se houver acordo, lavrar-se-á um termo que será subscrito pelo mediador e por todas as partes envolvidas. Após o prazo de trinta dias, o acordo será homologado pelo juiz coordenador e tornar-se-á título executivo judicial, nos casos de divórcio será lavrado mandado de averbação e encaminhado ao cartório que realizou o casamento para que as devidas averbações sejam realizadas. Nas ações de alimentos após a homologação do acordo, será expedido ofícios para aberturas de contas de forma gratuita, bem como para o desconto da pensão alimentícia diretamente da folha de pagamento do alimentante, caso esteja empregado com registro em carteira. Sendo infrutífera a audiência, as partes são orientadas a procurar a Defensoria Pública, para a propositura da ação judicial. Esse método de solução de conflitos tem maior eficácia, pois ninguém melhor que as próprias partes para resolverem os conflitos em que estão inseridas. A mediação pré-processual é realizada de forma gratuita pelos Centros Judiciários de Solução de Conflitos, e tem gerado grandes resultados com altos índices de acordos na área da família, pois proporciona as partes o poder de decisão de suas próprias vidas. Nos casos de fixação de alimentos quem melhor que o próprio alimentante para dizer suas possibilidades financeiras para contribuir com a subsistência dos filhos, ao passo que ninguém melhor que a mãe para mensurar o quanto eles necessitam. Nos casos de divórcios, as partes na sua maioria, já estão separadas de fato há muitos anos, porém não resolveram a situação matrimonial por falta de condições financeiras ou até mesmo por não suportarem a ideia de se enfrentar as agruras de um processo judicial com todas as formalidades, burocracias e demais desconfortos que ele gera. Quanto à eficácia faremos uma análise de gráficos estatísticos que retratam os resultados da mediação pré-processual nas áreas cíveis, JEC e da família, no entanto somente nessa última ceara a mediação pré-processual obtêm melhores resultados, visto que nas demais áreas a mediação ou conciliação não geram muitos resultados. Nas causas cíveis em geral (acidentes de trânsitos, cobranças de dívidas, etc.), principalmente as em que figuram como parte empresas, na sua grande maioria, elas nem ao menos comparecem as sessões, pelo conhecimento de que trata-se de um procedimento extrajudicial que não às obrigam a comparecer, nem tão pouco as punem pela ausência na sessão, diferente no processo judicial, sendo este o fator que inviabiliza os resultados da conciliação na fase pré- processual nestes casos. 13 O gráfico a seguir retrata o total de audiências agendadas no ano de 2015 nas áreas cíveis, família e as dos Juizados Especiais Cíveis realizadas no Centro de Solução de Conflitos e Cidadania de Guarujá. Com esse demonstrativo percebemos a discrepância entre as audiências agendadas que não foram realizadas na fase pré-processual nas áreas cíveis e dos Juizados Especiais, para as processuais realizadas nas mesmas áreas. Figura 1 – Total de sessões agendas processual e pré-processuais nas áreas cíveis, família e JEC Fonte: Controle do Movimento Judiciário de Primeiro Grau – CEJUSC-Guarujá – extraído do e-Saj. A seguir, serão apresentados os números estatísticos referentes ao total de audiências agendadas no Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania do Guarujá, por áreas sendo demonstradas mês a mês. Vale salientar que os meses de julho e dezembro de 2015 há a diminuição de sessões agendadas, por se tratar de meses em que ocorrem os recessos, de modo que o CEJUSC onde se realizam as sessões pré-processuais, têm suas atividades reduzidas, tendo em vista o recesso escolar da Universidade de Ribeiro Preto. No mais, o mês de dezembro ocorre o recesso forense do Judiciário. 14 Figura 2. Sessões agendas por áreas. Fonte: Controle do Movimento Judiciário de Primeiro Grau – CEJUSC-Guarujá – extraído do e-Saj. A seguir, analisar-se-á os dados estatísticos dos acordos obtidos nas fases processual e pré-processual, contabilizados por áreas. Através deste gráfico é possível vislumbrar que o pré-processual representa quase a metade dos acordos obtidos, lembrando que neste universo a área da família é a que detém o maior número de resultados, corroborando com o apresentado a cima, de forma a caracterizar a eficácia da mediação na fase pré- processual. 15 Figura 3 – Acordos pré-processual e processual das áreas da família, cível e JEC. Fonte: Controle do Movimento Judiciário de Primeiro Grau – CEJUSC-Guarujá – extraído do e-Saj. O gráfico estátistico a seguir pormenizará os dados referentes as audiências de mediação pré-processual agendadas no Centro de Solução de Conflitos e Cidadania do Guarujá, contando com um percentual elevado de acordos de quase 70% (setenta por cento), sendo que os 30% (trinta por cento) restantes estão englobados as sessões infrutíferas, canceladas e as prejudicadas ante a ausência das partes. Considerando que os cancelamentos em sua maioria refere-se ao reatamento da relação amorosa, obtendo assim, além da resolução do conflito, a pacificação entre as partes. Nas sessões que resultam infrutíferas as partes são orientadas a procurar a Defensoria Pública para a propositura da ação judicial, ou ainda se assim 16 quiserem, a qualquer tempo podem retornar ao Centro, para uma nova tentativa de resolução do conflito por meio da mediação, na forma consensual. Figura 4 – Audiências agendadas pré-processual na área da família. Fonte: Controle do Movimento Judiciário de Primeiro Grau – CEJUSC-Guarujá – extraído do e-Saj. Por fim, o gráfico a seguir trata do percentual de acordos realizados através da mediação no processo judicial na área da família. 17 Figura 5 – Audiências agendadas no processo judicial na área da família. Fonte: Controle do Movimento Judiciário de Primeiro Grau – CEJUSC-Guarujá – extraído do e-Saj. Com as demonstrações apresentadas pelos gráficos acima é possível compreender que a mediação pré-processual é bem aceita pela população local no tocante aos grandes níveis de acordos que sobrevém com a utilização adequada no método. Vale ressaltar esses índices de acordo no ano de 2014 eram bem maiores e chegavam a 93% (noventa e três por cento), e por consequência do cenário de crise em que vive o país, acarretou a diminuição dos índices de acordos obtidos. (Controle do Movimento Judiciário de Primeiro Grau – CEJUSC-Guarujá – extraído do e-Saj). Os dados mencionados acima estão apresentados na planilha a seguir que retrata os altos índicesde acordos na fase pré-processual. 18 Figura 6 – Total de acordos nas áreas família, JEC e pré-processual. Fonte: Controle do Movimento Judiciário CEJUSC – GUARUJÁ de Janeiro/2014 a Abril/2015. Portanto, a mediação pré-processual é desprovida de rituais, prima pela celeridade, busca o acordo e a resolução do conflito em toda a sua profundidade é mais do que vencer ou perder, substitui o confronto pela harmonia e pelo consenso, a guerra pela paz (e não apenas a pacificação momentânea), educando os contendedores a resolver seus próprios problemas baseado no diálogo e respeito ao outro. (PAUMGARTTEN, 2015, pp. 478,479). 4.8 A mediação pré-processual e a celeridade. Os atendimentos realizados as partes no Centro de Solução de Conflitos e Cidadania do Guarujá é altamente céleres. Inicialmente as partes procuram a Defensoria Pública instalada na comarca, e já neste atendimento são orientados dos benefícios que a mediação pré-processual traz, além de serem gratuitos os serviços prestados pelo CEJUSC, as partes obtêm a solução da controvérsia em dois meses, sem custas nem mesmo com cópias, pois toda a documentação necessária para a realização da sessão é digitalizada não necessitando de papel. Outra peculiaridade que esse método apresenta que proporciona maior celeridade é a desnecessidade de se realizar a intimação da outra parte por meio de oficial de justiça ou pelos correios, de modo que a própria parte que procura o setor realiza a entrega da carta convite, convidando a outra parte a comparecer a sessão pré-processual. Em contrapartida todo o trâmite da mediação processual leva de seis a sete meses. Ao chegarem ao CEJUSC é realizado o atendimento, sendo possível a mediação pré-processual, ou seja, se ambas as partes estiverem dispostas a dialogarem em relação ao conflito, é marcada a sessão de mediação pré- processual para o próximo mês subsequente. Na mediação processual esse intervalo pode durar de 3 a 4 meses para apenas designar a primeira audiência de mediação. 19 Sendo frutífera a sessão de mediação pré-processual, dentro de um prazo trinta dias o acordo será homologado e disponibilizado para que as partes o retirem. Em sendo divórcio o próprio setor do CEJUSC encaminha ao cartório de Registro Civil, desde que dentro da comarca do Guarujá, o mandado de averbação para realizar as devidas anotações no assento civil da pessoa física. Contudo, a mediação processual após a homologação, mesmo sendo acordo aguarda-se o trânsito em julgado da sentença homologatória pelo prazo de trinta dias, além do tempo em que a serventia do cartório leva para cumprir a sentença que, na sua maioria é a expedição de ofícios, lavraturas de mandados de averbação etc. Portanto, a mediação pré-processual na área da família tem-se mostrado altamente célere, sob o ponto de vista do processo judicial que além de ser moroso é oneroso, exceto a aqueles que se beneficiam da justiça gratuita, caso contrário devem arcar com as custas processuais, comparecer ao fórum por algumas vezes e ter a paciência de ver o processo se findar. 5. Conclusão. O presente texto abordou o instituto da mediação e seus desdobramentos, sendo necessário observar sua origem e a forma como ela surgiu no ordenamento brasileiro. Concluiu-se que a terminologia mais adequada para os meios de solução de conflitos consensuais é chama-los de “equivalentes jurisdicionais”, por conta das críticas realizadas as terminologias “adequado” e “alternativo”, que sugeririam, no primeiro caso, por exemplo, que a resolução dos conflitos por meio do poder judiciário é inadequada, já que a contrário senso, por meio da mediação, o conflito é solucionado de forma “adequada”. Dentre os equivalentes jurisdicionais, há a mediação, conceituada como um meio que permite a intermediação de um terceiro, a fim de facilitar tão somente o diálogo entre os litigantes, sem, contudo, uma forte intervenção quanto às propostas conciliatórias, objetivando auxiliar as partes para que elas por si próprias cheguem à solução consensual do conflito e a restabelecem o diálogo. A mediação, neste paper, foi abordada sob a seara familiar, e se mostrou eficaz para promover a solução dos conflitos neste campo, pois ela devolve as partes e preparam as mesmas para o protagonismo de suas vidas, conscientizando-as que que a decisão de um magistrado não é a melhor solução para seus interesses. Isto porque, nas relações de família os laços demoram para se romper, como nos casos de divórcio sem partilha, em que as partes ainda terão assuntos para tratarem ao longo da vida, ou nos casos de oferta, fixação ou revisão de alimentos, em que as partes mantém o vínculo de continuidade, de modo que se o litigio for solucionado no formato “ganha-ganha”, o vínculo será mantido de forma integra, sem potencializar os litígios e animosidades. O mesmo ocorre em relação aos casos relacionados ao exercício do direito de visitas. Neste texto o recorte objetivo das matérias foi feito em relação à fase pré- processual, de modo que a aplicabilidade e eficácia da mediação junto ao Poder 20 Judiciário não foi analisada. E, a junção da mediação e do direito de família à fase pré-processual, de acordo com as pesquisas e os dados colhidos, demonstram ser a mediação nesta fase altamente eficaz e célere, sendo positiva não só pela diminuição da animosidade entre os litigantes que possuem vínculo de continuidade, mas também através dos índices de acordos demonstrados pelos gráficos explanadas e apresentados ao longo da pesquisa. Em suma, seguindo à problemática proposta inicialmente, conclui-se que a mediação é um meio de solução de conflitos, em crescente utilização, principalmente pelo enfoque que ganhou junto ao Novo Código de Processo Civil, que demanda uma mudança de padrões e paradigmas por parte dos operadores do direito, principalmente se aplicadas à seara do direito de família e na fase pré- processual, eis que seus resultados são positivos e alcançam o maior objetivo do Estado, que é a solução pacífica e no prazo razoável do litigio. 6. Referências. BARBOSA, Águida Arruda - Guarda Compartilhada E Mediação Familiar - Uma Parceria Necessária, 2015. (http://www.fernandatartuce.com.br/wp- content/uploads/2016/01/Aguida-Arruda-Barbosa-Guarda-Compartilhada-e- media%C3%A7%C3%A3o-familiar-parceria.pdf– acessado em mai/2016) BRASIL. Constituição 1824 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm (acesso em 03.03.2016) BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. 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