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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp As síndromes metabólicas são resistência à insulina, diabetes tipo II, esteatose hepática, aterosclerose, hipertensão arterial, acidente vascular cerebral (AVC), etc. Elas são derivadas, muitas vezes, de da obesidade e da inflamação decorrente dessa obesidade. A obesidade é uma doença que apareceu em níveis exorbitantes no final do século XX e já existem países onde o número de obesos supera muito o número de desnutridos (Epidemia de Obesidade). Os fatores que contribuem para a obesidade são dietas pobres em nutrientes e ricas em gorduras, sedentarismo, influências socioeconômicas, doenças genéticas etc. O indivíduo obeso tem muito mais propensão de desenvolver outras doenças do que o indivíduo sadio. A obesidade contribui para o aparecimento de síndromes metabólicas (acima), aparecimento de tumores, asma, apnéia do sono, osteoartrite, doenças neurodegenerativas, doenças da vesícula biliar etc. Todos esses fatores contribuem para a morte prematura do indivíduo. 1. TECIDO ADIPOSO E OBESIDADE O tecido adiposo possui 3 tipos de células: célula adiposa marrom, bege e branca. A marrom converte energia em calor para proteção contra a hipotermia e por isso está presente em maior quantidade nos recém-nascidos. A bege é uma célula imatura do tecido adiposo branco que tem como objetivo maturar-se numa célula adiposa branca. Esta, por sua vez, é a que estoca lipídeos na forma de gordura e por isso possuem uma gotícula enorme, ocupando todo o citoplasma celular. O tecido adiposo não tem função passiva de ser um simples estoque de gordura, ele também tem função endócrina importante. O adipócito secreta citocinas inflamatórias, como TNF-alfa e IL-6, que atraem as células imune para o local, causando uma inflamação. Secreta também adipocinas, como adiponectina, leptina, resistina, que são hormônios que agem em diversos órgãos. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp ➢ OBESIDADE No caso da obesidade, ocorre uma inflamação acentuada desse tecido adiposo. Em condições normais, o tecido adiposo não deve estar hipertrofiado e nem inflamado. Quando ganhamos muito peso os adipócitos se hipertrofiam e atrai células do sistema imune que se infiltram nesse tecido. As principais células imune que ficam infiltradas são os macrófagos (principalmente), linfócitos e neutrófilos. Essa é uma resposta inflamatória de baixo grau, se comparada com a inflamação de um artrite. Apesar disso, essa inflamação que origina a resistência a insulina e outras doenças metabólicas. É importante saber que quando identificamos um macrófago no tecido adiposo hipertrofiado já temos um sinal precoce de associação, com inflamação (doença crônica). No tecido adiposo obeso, a hipertrofia dos adipócitos causa aumento da célula e hipóxia, entrando em apoptose. A lise do adipócito (estoura) libera os ácidos graxos que estavam presos no vacúolo (FFA – ácidos graxos livres). Esses FFA induzem a liberação de quimiocinas pelos outros adipócitos, causando infiltração das células imune ali e produção de citocinas pró-inflamatórias. - Macrófagos Outra mudança que a obesidade promove é a transformação dos macrófagos M2 (antiinflamatórios) em M1 (pró-inflamatórios). Os indivíduos magros são sensíveis a insulina e possuem muito mais macrófagos M2, que a todo momento estão inibindo inflamações do tecido adiposo (IL-10). Já os indivíduos obesos são geralmente resistentes à insulina e possuem muito mais macrófagos M1, que contribuem para a inflamação do tecido adiposo. Essa transformação do M2 em M1 é causada pela secreção intensa de FFA e quimiocinas Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp pelos adipócitos que chama muito mais os macrófagos M1 e por oferta vs demanda, os macrófagos M2 se convertem em M1 para ajudar. Esse processo é chamado de “mudança de fenótipo dos macrófagos”. 2. CONSEQUÊNCIAS DA OBESIDADE As consequências da obesidade são diversas, causando resistência à insulina, esteatose hepática, placa aterosclerótica etc. Isso ocorre por mediadores inflamatórios e pró-aterogênicos (Proteína C reativa) que são liberados tanto pelo tecido adiposo inflamado quanto pelo fígado, pois as citocinas e quimiocinas liberadas pelo tecido adiposo agem nele. Na obesidade ocorrem mudanças no funcionamento do tecido adiposo e essas mudanças se tornam sistêmicas pelo fato de ter uma comunicação endócrina entre os adipócitos, músculo esquelético e fígado, por exemplo. Como vimos, ocorre hipertrofia dos adipócitos, recrutamento de macrófagos M1, citocinas inflamatórias e ácidos graxos livres. Não contente com isso, os adipócitos migram para o músculo e aumenta o tecido adiposo ectópico, com captura de ácidos graxos livres e ativação de macrófagos ali também. Além disso, migram para as células hepáticas também, causando a esteatose hepática (gordura no fígado). Esses adipócitos ativam os macrófagos ali residentes, produzem citocinas inflamatórias e Fetuína A. Tudo isso que foi produzido cai na corrente sanguínea e agem nos receptores de insulina. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A Fetuína A (FetA) se liga aos ácidos graxos livres (FFA) e juntos se ligam no receptor TLR4 de diferentes células e promove uma cascata de reações que culmina na transcrição de genes pró-inflamatórios e secreção de citocinas inflamatórias que auxiliam na resistência à insulina. INSULINA → em condições normais a insulina é liberada pelas células pancreáticas e se liga ao seu receptor (IR) que está em quase todas as células (menos SNC, hemácias). Causa uma sinalização intracelular que promove a exposição de receptores GLUT4 na membrana plasmática que permitem a captação de glicose do sangue. Quando o indivíduo é obeso, a liberação dos FFA no sangue permite que eles se ligem aos TLR4, receptores que promovem a resistência a insulina em diversas células. Ocorre produção de vários mediadores intracelulares, dentre eles o NF-kappaB, que promove a secreção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6 e TNF-alfa). Essas citocinas se ligam a outros receptores de membrana e causam a resistência a insulina nos músculos, principalmente. Os mediadores intracelulares também reagem com o receptor para insulina, diminuindo o transporte de glicose para dentro da célula. Com isso, vemos que a resposta inflamatória mediada pelos FFA, TNF-alfa e IL-6 tem vias promíscuas (se misturam). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Assim, o aumento da resistência à insulina causado pela obesidade interfere em muitas outras coisas, como reduzindo os níveis do colesterol HDL e aumentando espécies reativas de oxigênio (ROS). ➢ EFEITO DO EXERCÍCIO SOBRE A RESPOSTA INFLAMATÓRIA O exercício físico age em diversos órgãos, como no SNC, músculos, tecido adiposo e órgãos linfoides. No SNC, ocorre estimulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal com produção de mais adrenalina e cortisol pela Glândula Adrenal, aumentando a diferenciação de macrófagos M2 e a produção de citocinas anti-inflamatórias. No músculo, o exercício ajuda no aumento da produção de IL-6, que é uma citocina de ação dúbia: pode ter efeito inflamatório ou anti-inflamatório. No músculo, essa citocina Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp tem ação antiinflamatória, transformando macrófagos M1 em M2 e diminuindo as citocinas pró-inflamatórias liberadaspor eles. No tecido adiposo, o exercício contribui para diminuição dos macrófagos M1, aumento dos M2, oxidação de gordura e redução do tamanho dos adipócitos (tamanho, não número). Isso contribui para diminuição da citocina IL-6 (aqui é pró-inflamatória) e TNF-alfa, bem como aumento da citocina anti-inflamatória IL- 10. Já nos órgãos linfoides temos aumento da diferenciação dos linfócitos T em Treg (ação imunossupressora, inibe a inflamação) e redução da expressão de receptores para quimiocinas. Isso aumenta a secreção de IL-10 e a diferenciação em macrófagos M2. ➢ SÍNDROME METABÓLICA É um conjunto de doenças que tem como base a obesidade associada à resistência à insulina. Essas doenças estão muito associadas a doenças cardiovasculares, pois existe um risco aumentado de desenvolver doenças crônicas importantes. Os critérios para considerar o indivíduo obeso e com possíveis síndromes metabólicas é a circunferência da cintura, hipertensão arterial, glicemia, triglicérides e níveis do colesterol HDL. Também é considerado a presença de resistência à insulina. ➢ ATEROSCLEROSE É a principal síndrome metabólica associada à obesidade com resistência insulínica. O fator de risco para aterosclerose é o mesmo dos fatores de risco para doenças cardiovasculares no geral (imagem). Sabemos que os lipídeos (colesterol, fosfolipideos, triglicérides) são o principal componente das membranas celulares, são essenciais para a solubilização das vitaminas lipossolúveis e são precursores na biossíntese de esteroides (hormônios). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp São transportados no sangue por meio de proteínas específicas, as lipoproteínas, pois são insolúveis no plasma. O principal lipídeo associado à aterosclerose é o colesterol. Há vários tipos conforme a lipoproteína que o carrega pelo sangue, como quilomícron, VLDL, IDL, LDL e HDL. Essas proteínas estão presentes no plama sanguíneo, são esféricas e contém um centro hidrófobo composto por triglicérides e colesterol. A parte proteica das lipoproteínas fica exposta na superfície e é chamada Apolipoproteína, que podem ser grandes ou pequenas. Essas lipoproteínas são classificadas com base na sua densidade, como High Density Lipoprotein (HDL). As lipoproteínas tem funções diversas, dependendo da sua densidade. O HDL captura o excesso de colesterol periférico e leva para o fígado, retirando dos vasos (“bom”). O VLDL e IDL levam triglicérides para o cérebro e músculos, enquanto o LDL (“mau”) leva colesterol para os tecidos, podendo deixar uma excesso de colesterol livre. - Evolução da placa de aterosclerose Em situações patológicas onde ocorre uma lesão no endotélio vascular, o LDL pode adentrar no tecido e ficar retido na túnica íntima dos vasos. Essa alteração do endotélio Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp que permite a entrada de LDL é comum nos indivíduos diabétidos não compensados, que possuem muita glicose no sangue e quando elas passam perto do endotélio causam glicosilação que é como se fossem “cacos de vidro passando pelo sangue e cortando o endotélio”. Assim, o LDL retido na túnica íntima sofre modificações, como oxidação por metaloproteinases, que fazem com que ele seja reconhecido como um antígeno estranho. Com isso, eles são fagocitados pelos macrófagos ali residentes que aumentando muito a quantidade de fagossomos com lipídeos, sendo chamados agora de “células Espumosas”. Há produção de citocinas inflamatórias que estimulam o endotélio, quimiocinas que atraem outras células imune para o local e proteínas de adesão são expostas na superfície do endotélio para facilitar a diapedese. Com isso, chegam monócitos do sangue que ao entrar na túnica íntima se diferenciam em macrófagos e começam a fagocitar os LDL oxidados, se transformando em mais células espumosas. Essas células espumosas secretam mais citocinas inflamatórias, quimiocinas, células de adesão e o processo se repete aumentando cada vez mais. Começa o dano tecidual causado pela fagocitose e começa a chegar os linfócitos, atraídos pelas qumiocinas. O principal linfócito que participa na formação da placa de ateroma é o Th1, liberando IFN-gama que contribuem ainda mais para a inflamação e promovem o remodelamento da túnica muscular. As células musculares lisas do vaso migram para perto da superfície do lúmen e fazem uma cápsula fibrosa, cobrindo a inflamação como um vulcão tampado (pois o processo inflamatório continua a todo vapor lá dentro). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A placa vai crescendo mesmo com a cápsula fibrosa cobrindo por proteases, fatores pró-trombóticos. O crescimento se dá em direção ao lúmen, ocluindo-o parcialmente ou totalmente. Quando começam a diminuir o lúmen dos vasos cardíacos (coronárias), chamamos de Angina. Essas placas podem se romper e formar os famosos trombos. O rompimento das placas de ateroma ocorre na base, principalmente por alta produção de metaloproteinases, que degradam e diminuem a produção de colágeno que sustenta a cápsula fibrosa. Quando essas placas se rompem o conteúdo fica exposto e as plaquetas se juntam ao trombo para impedir possível hemorragia. Com isso, podem piorar mais ainda e ocluir o lúmen totalmente. O lúmen dos vasos pode ser obstruído pelo trombo com a inflamação ocorrendo a todo valor (explicado acima – Ruptura da Placa), por estenose por placa fibrosa (calcificação da túnica média) ou por erosão do endotélio. Portanto, aterosclerose é uma doença inflamatória crônica que acomete os vasos sanguíneos, não é causada por “colesterol entupindo artéria”. Como há aumento da túnica média pelo processo inflamatório, na clínica o cardiologista pede a medição da espessura da túnica média. Branda Riscar Branda Riscar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Quando o processo inflamatório cessa, ocorre deposição de cálcio (calcificação). Assim, a placa aterosclerótica que evoluiu bem é a que possui deposição de cálcio, pois significa que está quietinha, não vai aumentar e não vai formar trombo. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp → Caso Clínico - Homem, 52 anos, empresário, encaminhado ao ambulatório de Cardiologia para exames de rotina depois de ter feito uma Tomografia Computadorizada do Coração/coronárias. - Sem história de doença cardiovascular, relatou praticar exercícios regularmente sem sintomas de angina. Não fumante por longo tempo, sem medicações. - Histórico familiar: pai com infarto do miocárdio com 52 anos. Pressão: 110/75. Sobrepeso: IMC 27. Colesterol total: 206 mg/dL (VR <190), HDL 46 mg/dL (>40), trig. 178 mg/dL(<150), LDL-C: 124 mg/dL (<130), glicose: 86 mg/dL (70- 99); hemoglobina glicada 5,6% (<5,7). - Risco estimado em 10 anos: 3,7% - Escore de cálcio (CAC): 120 (<100), percentil 75 para sua idade, gênero e raça (87% da população tem CAC abaixo de 120). - Resultado da TCC (figura): identificação de aspectos de placas vulneráveis que o CAC não pega. → Pergunta: Além de maximizar os exercícios e perder peso, o que seria recomendado para este paciente? R: Modificação de fatores de risco por utilização de baixa dose de aspirina e estatina.
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