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$XWRUD�� 0DULD�7HUH]LQKD�GD�6LOYD�6DFUDPHQWR��'UD� �� ������� $���� ���� 1 Cultura e teoria da cultura As primeiras informações sobre a cultura e a diversidade cultural vieram com o interesse dos colonizadores e das descobertas de novas terras nos séculos XV e XVI. Dos colonizadores e exploradores europeus saíram as cartas e relatos sobre povos exóticos e caçadores de cabeça na época das descobertas. Nenhum dos observadores e viajantes possuía instrução ou formação específica. O que viam e descreviam muitas vezes era confundido com anedotas que deformavam a realidade pelas ideias preconceituosas fabricadas pelas superstições dos europeus cristãos. Montaigne (1533-92) interessou-se pela comparação entre os costumes de seu país e os de povos nunca antes vistos. Seu estudo sobre os canibais inspirou Shakespeare a escrever a peça “A Tempestade”. Segundo Mair (1979, p. 25), esse empreendimento deu uma mostra do quanto grosseira era a interpretação dos europeus sobre o comportamento dos povos primitivos. Somente no final do século XVIII é que a Antropologia começou a se desenvolver e o estudo da cultura como disciplina científica deu impulso aos estudos e pesquisas comparativas. Até então existiam apenas algumas publicações com um pouco mais de critério, como a que o missionário jesuíta, Lafitau, publicou em 1724, comparando os costumes dos índios americanos com os povos antigos descritos pelos autores latinos e gregos. Outro estudo, escrito por Charles de Brosses em 1760, comparou a religião egípcia antiga com a religião da África ocidental. Já no século XIX, Ratzel procurou - entre os objetos encontrados em diversos lugares muito distantes- semelhanças que pudessem indicar a origem do homem. Em 1851, Lewis Morgan publicou “The League of the Iroquois”, o primeiro trabalho que descreveu o sistema político baseado nas linhagens autônomas. Foi aprendendo com os nativos sobre seu sistema social que Morgan descobriu que os nomes que eles empregavam para definir as relações de parentesco, por exemplo: pai, mãe, avô, avó, irmão, irmã, tio etc, abrangia uma rede de relações muito maior do que na cultura inglesa. Morgan ficou tão entusiasmado com suas descobertas que em 1871 publicou outro estudo, “Systems of Consanguinity and Affinity”, obra em que testa sua hipótese de que o sistema de parentesco amplo caracterizava a evolução da família, transitando da fase de promiscuidade para o casamento monogâmico. 2 Diversos estudos seguiram-se ao trabalho de Morgan, como o do jurista Bachofen, em 1861, o primeiro a indicar que a forma de organização da sociedade teria sido primeiramente matrilinear, ou seja, que toda a descendência partiria de um único antepassado do sexo feminino. Tanto Morgan quanto Bachofen inspiraram a obra de Friedrich Engels, “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”. Com Morgan e Engels, o investimento antropológico no conhecimento científico avança ao ponto de refutar a tese da degradação da humanidade. Para eles, a humanidade progride. Nesse ponto, Marx e Engels preservaram a conclusão de Morgan sobre a comunidade primitiva baseada na consaguinidade, evoluindo da família matriarcal para a patriarcal e desta para o contrato, evidenciando em cada uma dessas fases o núcleo dos modos de produção. Esses estudos foram evoluindo com uma geração de novos entusiastas da ciência do homem. Edward B. Tylor, por exemplo, foi chamado o pai da Antropologia inglesa. Na sua primeira publicação em 1871, “A Cultura Primitiva”, forneceu as bases para a superação do monismo, isto é,crença na existência de uma única cultura, que acompanhou os primeiros estudos do parentesco e da organização social. Deu um passo importante na fundação da ciência do homem pelo uso do que chamou “aritmética social”, formulando o primeiro método para dispor os dados em tabelas e estabelecer comparações. James Frazer tornou a Antropologia conhecida com seu livro “Golden Bough” (O Ramo de Ouro), ampliando a compreensão das práticas rituais dos primitivos, e explicou a magia e a proximidade desta com a ciência, o que tornou o seu livro um dos mais lidos sobre o assunto. Com a fundação da Antropologia e seu acolhimento pela academia, o estudo da cultura crescia e as fontes tradicionais, desprovidas de caráter científico, tornavam-se insuficientes. Uma vez acolhidos os estudos e descobertas mais sistemáticas sobre as diferenças culturais, essas também puderam ser vistas e recebidas como indagações provindas da Antropologia científica. Os problemas centrais que são colocados para a Antropologia passam a ser aquela conjunção de formas apreendidas pelo interesse antropológico de Morgan, Maine, Taylor, entre outros cientistas que se baseavam numa proposição evolucionista, mas ainda insuficientemente articulada para responder as questões relacionadas às semelhanças e diferenças culturais. Isso levou à necessidade de buscar uma 3 compreensão das semelhanças culturais, isto é, a maneira de pensar e de comunicar do homem, contra o que Kaplan e Manners(1988, p. 15) denominaram de “unidade psicobiológica do homem”. Nesse sentido, o que permanece imutável e o que varia passaram a ser considerados como objetos específicos e intercomplementares do que vieram a se tornar os diversos campos da Antropologia: Antropologia física ou biológica e Antropologia social ou cultural. O passo decisivo da efetivação da Antropologia cultural foi o desenvolvimento do conceito de cultura, que garantiu critérios mínimos na construção do pensamento antropológico, como observam e definem Hoebel e Frost (1976, p. 4). Cultura é o sistema integrado de padrões de comportamento aprendidos, os quais são característicos dos membros de uma sociedade e não o resultado da herança biológica. Os resultados daí provenientes classificaram os antropólogos pelas teorias que desenvolveram a partir de seus estudos e pesquisas de campo. Essas teorias serão analisadas na seção seguinte. Teoria da cultura Com a instituição da Antropologia como ciência do homem, a teoria da cultura assumiu um contorno mais nítido. Os estudos realizados por Morgan, Bachofen, McLenann e todos que se interessaram pelas diferenças e semelhanças culturais proporcionaram as evidências para a formulação de uma explicação e teorização da cultura. Morgan, por exemplo, desenvolveu em “Ancient Society” (Sociedade Antiga), escrito em 1877, um complexo estudo sobre o desenvolvimento social humano e construiu, entre as suas diversas obras, uma teoria da cultura, que colocou o estudo da família como uma das mais importantes contribuições ao elucidar os princípios da estrutura familiar e sua evolução. Morgan lançou as bases da antropologia da religião e da família e toda a trajetória da teoria da cultura, de certa forma, reflete a importância desse tema na contemporaneidade. Para muitos dos antropólogos contemporâneos, a definição de cultura de Tylor continua tendo receptividade no meio acadêmico até os dias de hoje.(LEAF, 1988; KLUCKHOHN, 1972). Os estudos de Tylor, entretanto, colocaram no centro da sua preocupação os mesmos temas tratados por Morgan, mas, ao atender às exigências científicas do século XIX, seu estudo sobre a religião agregou novos elementos que 4 atestam a relacionalidade da família e da religião com a organização social. Para Tylor em seu livro “Cultura Primitiva”, publicado em 1871, (apud LEAF, 1988, p. 133) Cultura ou Civilização, tomada em seu amplo sentido etnográfico, é aquele todo que inclui o conhecimento, a fé, a arte, a moral, asleis, os costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridospelo homem enquanto membro da sociedade. Tylor, nessa definição, avançou do evolucionismo para uma teoria da cultura que relativiza o conceito de conhecimento ao mesmo tempo que reduz a supremacia do conceito de civilização, trazendo-o para o âmbito da cultura. Isso não significa dizer que Tylor era relativista. Assim, a teoria da cultura de Tylor recusa a diferença entre culturas superiores e inferiores. A coerência da postura do antropólogo pode ser verificada na expressão “sobrevivência” que ele introduziu na sua teoria da cultura. Numa interpretação aproximada dos seus intérpretes, essa expressão significa traços culturais que veiculam através do tempo por entre os costumes, crenças, opiniões e rituais. Isso mostra que Tylor superou as preocupações originárias da tradição colonialista de buscar semelhanças e diferenças entre o homem primitivo e o civilizado para se deter na causalidade do comportamento. A influência dos estudos de Tylor em torno do animismo como uma síndrome religiosa primitiva também está no conceito de totemismo, tornando-se uma das fontes mais importantes da teoria da organização social. O animismo é uma forma de religião que se funda na crença de que espíritos habitam seres vivos e objetos sem vida, tais como árvores, rochas, nuvens, ventos ou animais. Tylor fechou o ciclo conceitual sobre ciência e causalidade quando concebeu as crenças, ou seja, cultura, como esquemas de comunicação. Na tradição de Tylor, J.G Frazer comungou da interpretação de queos povos primitivos revelam certo nexo e, em seu livro“Golden Bough”, ele concluiu sobre o interesse universal pela religião, descobrindo também uma relação entre religião e a fertilidade dos homens, o que ele chamou de senso radical lógico. Reuniu um volume significativo de dados sobre mitos e rituais de origem grega e latina passando a observar o fenômeno da religião e suas características diferenciais entre os povos primitivos em todo o mundo. Um dos seus mais importantes legados foi a teoria da magia simpática, chamando a atenção para o caráter simbólico dos ritos mágicos. Em seus estudos, mostrou que os rituais imitavam o efeito desejado, mas Frazer interpretou 5 esse fenômeno, como um processo inverso de raciocínio. Explicou que a magia lida com as forças em ação nos fenômenos da natureza. Assim concluiu que a magia transforma-se em religião quando essas forças são externalizadas, adquirindo formas humanas. A evolução desse processo é contínua segundo Frazer, e ele revelou numerosos cultos e histórias que atestam a sobrevivência da interação do homem com a natureza através dos cultos como a dança do sol, que muitos povos ainda praticam. Dessa lógica derivam, segundo o autor, os tabus alimentares e do corpo. Por exemplo: em algumas culturas certos animais servem para alimentar o homem; em outras, são proibidos ou reprovados, como em grande parte da cultura ocidental são tabus o cão, o gato, assim como é a vaca para os indianos. A contribuição teórica de Frazer ganhou destaque quando concluiu que a religião, assim como os ritos mágicos, não são meras “tolices”, mas revelam como funciona a mente humana. Os estudos de Frazer tiveram continuidade nas pesquisas de diversos antropólogos, como Marcel Mauss. Assim como o estudo da teoria do raciocínio por analogiaseria retomado, mais tarde, pelo antropólogo Francês Lèvi-Strauss. É importante notar que, na trajetória da Antropologia cultural, o interesse pelos processos mentais vai se distanciando das explicações de causalidade psicobiológica ou de raça. Nesse curso, observam Kaplan e Manners, (1981, p. 200), que a teoria da cultura, ao contrário da psicologia, que esteve inicialmente preocupada com a personalidade individual, volta-se para a personalidade de grupo. Nesse sentido, a teoria da cultura vê a relação da cultura com a personalidade como coisas intimamente relacionadas e interdependentes. Franz Boas ,nascido na Alemanha, migrou para os Estados Unidos, onde liderou a fundação da Antropologia. Boas (2004) estudou a relação entre a geografia e etnologia para compreender e identificar as características culturais de cada povo. Viveu um ano entre os esquimós como descreve as atividades que desenvolveu junto daquele povo: Costumava ficar nas aldeias dos esquimós e examinar os arredores. Assim que terminava o trabalho, passava para a próxima vila. Andei ao longo de toda a costa. Nas aldeias, vivia com os esquimós nas suas casas de neve. Em geral, propunha a um homem que conhecia bem a região que me acompanhasse por alguns dias. (BOAS, 2004, p.68). 6 O estudo da etnologia ganhava destaque e com ela as regras de comportamento. Boas observou que o ambiente físico dos esquimós determinava a forma de vida e o pensamento daquele povo. Mas a convivência com os esquimós acabou impulsionando- o para o estudo de outros povos, de onde concluiu que existe uma interdependência entre a estrutura e o funcionamento dos fatos sociais. Na avaliação de Leaf (1981, p. 191), Boas acabou revelando sua tendência ao difusionismo na medida em que desprezou o método comparativo para adotar o método histórico. Assim, ampliou suas pesquisas coletando, entre os esquimós de Labrador, os índios do Oeste, e as tribos do Alasca, indicadores que pudessem revelar uma linha uniforme de evolução para as sociedades humanas. A partir desses estudos etnográficos, defendeu que as tribos deveriam ser estudadas uma em relação à outra e concluiu que algumas tribos de índios norte-americanos imitavam seus vizinhos. Com isso, Boas chamou a atenção para a relação étnica entre os esquimós e os índios americanos e inaugurou o método etnográfico e uma concepcão da cultura como uma teoria construída pelo próprio nativo. Nesse sentido, o trabalho do etnólogo seria a reconstituição histórico-conjectural de cada povo, trabalho que faria coletando pormenorizadamente o material de campo e, apreendendo os fenômenos no próprio contexto, Boas contribuiu com a Antropologia física e linguística. Na mesma linha da etnologia de Boas, o antropólogo polonês Bronislaw Malinowski, professor da London School of Economics, foi considerado o fundador da Antropologia Social na Grã- Bretanha, tornando-se uma das mais importantes referência no método etnográfico. Em 1914, Malinowski seguiu viagem para o Pacífico Sul para estudar os habitantes das Ilhas Trobriands, somente saindo de lá em 1918. Nos seus experimentos com o método etnográfico, revelou os perigos da dedução de atitudes psicológicas em face dos eventos religiosos. Foi rigoroso com o método de pesquisa de campo. Procurou desvendar, no pensamento desse povo, os processos através dos quais ele identificaria a ordem no pensamento e no comportamento. No livro “Uma Teoria Científica da Cultura” Malinowski (1975, p. 42) definiu cultura como: O todo integral constituído por implementos e bens de consumo, por cartas constitucionais e para os vários agrupamentos sociais, por ideias e ofícios humanos, por crenças e costumes. Quer consideremos uma cultura muito simples ou primitiva, ou extremamente complexa e desenvolvida, deparamo-nos com uma vasta aparelhagem, em 7 parte material em parte humana, em parte espiritual, com a ajuda da qual o homem é capaz de lidar com os problemas concretos, específicos, com que se defronta. Malinowski conseguiu em seus relatos publicados (MALINOWSKI, 1983, 1997), responder a muitas indagações, como, por exemplo, concluiu que a cultura forma um todo integrado e que portanto não poderia ser decomposta para fins de análise comparativa. Essa conclusão para alguns dos seusintérpretes colocaria em cheque a teoria difusionista como a que se fez referência anteriormente entre as teses que orientou a teoria da cultura de Boas. Na teoria da cultura de Malinowski, todos os costumes possuem um significado vivo e vigente para os membros de uma sociedade. Na linha do sociólogo francês Émile Durkheim, defendeu que os costumes são praticados não por meras crenças, mas porque essas cumprem uma função social. Confirmou essa tese ao identificar uma relação entre a forma como um povo organiza a sua vida em sociedade e suas necessidades biológicas. Argumentou, nesse sentido, que o alimento, o abrigo, o casamento e a família seriam constitutivos de um todo organizado e dotado de linguagem (palavras) e pensamento. E, no mesmo sentido que seus antecessores negaram a inferioridade das culturas primitivas, afirmou que esse todo seria o mais importante legado; um sistema de conhecimento, valores e regras de conduta que se aperfeiçoariam continuamente com as novas gerações. Radcliffe-Brown operou no mesmo sentido a analogia entre o sistema biológico e a organização social, mas apostou na ideia de que os costumes, as cerimônias e crenças teriam uma função social e não psicológica. O argumento do autor, valendo-se da força que as instituições sociais exercem na vida das pessoas, levá-lo-ia à conclusão de que a função das crenças seria manter viva na mente do indivíduo a dependência deste da sociedade. Mas é preciso também esclarecer que a contribuição de Radcliffe-Brown foi mais além ao separar o significado da função, o que será levada adiante por seus seguidores. No estudo das instituições tanto quanto no estudo do parentesco, afirmava ele, o valor e a validade dependem do alcance dos conceitos e dos fundamentos teóricos. Nos estudos sobre parentesco e casamento na África (MELATTI, 1979, p. 63), Radcliffe-Brown concluiu que um sistema de parentesco e casamento pode ser definido como “um arranjo que capacita as pessoas para a conjugalidade e cooperação umas com as outras dentro da vida social ordenada”.Assim, o que une as pessoas é a convergência de 8 interesses e sentimentos. Da mesma forma, concluiu que o vínculo entre pais e filhos pode ser estabelecido não apenas pelo nascimento, mas também pela adoção. Embora muitos dos seus críticos o acusem de não ter sido suficientemente claro quanto ao que seria essa estrutura, há um consenso em torno do reconhecimento do que essa separação representou para as teorias. É o caso de Kaplan e Manners (1981, p. 154) quando analisaram criticamente as teorias da cultura, afirmando que estas não dão a devida atenção ou que negligenciam o todo tomando apenas a parte, como é o caso das teorias técnoeconômicas. Assim, esclareceram o que seja o sentido empregado por Radcliffe-Brown como sendo a estrutura de qualquer entidade – um átomo, uma molécula, um cristal, um organismo, uma sociedade - referindo-se às relações mais ou menos duradouras entre as partes. Quando escreveu sobre as tribos aborígenes da Austrália, Radcliffe-Brown situou dois elementos básicos: 1) a família, ou seja, o grupo formado por um homem e uma mulher e seus filhos; 2) a horda, um pequeno grupo que possui e ocupa um território definido como área de caça. Desenvolveu, a partir desses dois núcleos, uma teoria sobre as organizações sociais e sobre os sistemas de parentescos mais complexos. No transcorrer do século XX, diversas teorias da cultura surgiram em torno do mesmo estruturalismo, porém com novos elementos. Seriam exemplos Edmund Leach, que viu o conjunto de regras ou normas ideais como estrutura; e Lévi-Strauss, que via a estrutura como modelos construídos a partir da realidade. O casamento e o sistema de parentesco continuaram como um dos temas mais importantes do estudo da cultura, ganhando destaque no livro de Claude Lèvi-Strauss, “As Estruturas Elementares do Parentesco” (1982). Incluiu-se entre seus temas de destaque o estudo dos mitos, das artes e da linguística. Seu trabalho sobre o sistema de parentesco foi considerado um dos trabalhos teórico mais substancial sobre o tema. A teoria da cultura de Lévi-Strauss perseguiu a natureza inconsciente dos fenômenos coletivos tomando a estrutura como a lei que organiza os sistemas. Concluiu que a linguagem e a cultura têm relações lógicas. A linguagem como fato cultural seria o meio de perpetuar as formas da vida social, mas também um produto da cultura. Na antropologia contemporânea, Clifford Geertz, antropólogo americano, é considerado um dos mais lidos teóricos da cultura. Seguindo os passos de Weber, (1991),definiu a cultura como um sistema de significados e a antropologia como uma ciência interpretativa. (GEERTZ,1978). Considerado um dos maiores defensores do 9 relativismo, dedicou-se ao estudo da cultura do Islã e dos rituais, os quais considerou como textos etnográficos, ou seja, modos de comunicação utilizados pela cultura. Em seu livro “Saber Local”(1997, p. 48), Geertz reafirmou sua conclusão de que a cultura é a concepção única, ou seja, uma teoria de cada povo sobre o dever ser, desde a organização social, o sistema de parentesco, o comércio, as leis, a administração da água, a mitologia, a arquitetura, o status, o poder, a autoridade, o governo etc. O trabalho do antropólogo consiste na interpretação dessa teoria ou o que ele chama de texto. Apesar das diversas possibilidades de explicação, a escolha das categorias culturais (palavras, símbolos), segundo Geertz, não depende da escolha do antropólogo porque é própria da cultura do grupo cultural que ele está estudando. Nesse sentido, a explicação do antropólogo deve conectar a ação ao seu significado e ambas ao local. O método,que Kaplan e Manners(1981) denominaramde ecologia cultural, teve repercussão importante nos trabalhos de Lèvi-Straus. No final do século XX, a palavra cultura tornou-se o lugar comum dos debates sobre a interação em escala global. O interesse pelo estudo da cultura não se restringiu às formas como um povo distingue-se dos outros ou a totalidade e especificidade da sua vida em sociedade. Passaram a se denominar também de cultura certas especificidades ou diferenças de grupos contra outras características de grupos, dentro de uma mesma sociedade. O fenômeno passou a ser chamado de “globalização da cultura”, (WARNIER, 2003; TOURAINE, 2006). Touraine (2006) até mesmo propôs um novo paradigma para se compreenderem as relações e os novos atores sociais hoje. Mas ele não reconheceu, na interação entre povos de culturas diferentes, tendência à universalização da cultura. Os estudos sobre a globalização não acompanharam o otimismo, de Marshal McLuhan, que chamou de “aldeia global” o que lhe pareceu despontar como uma cultura universal mais democrática, integrada pala mídia. Berger e Huntington (2004), em estudos sobre o processo de globalização em diversos países, concluíram que a interação entre culturas depende do grau de aceitação e rejeição e de coexistência de culturas diferentes até a possibilidade de síntese. Immanuel Wallerstein (1994), por exemplo, viu o raciocínio binário como tendência mundial, ou seja, uma linha imaginária que na sua interpretação divide o grupo e não 10 unifica. A distinção estrutural entre ideal e real, antiga e existente em diversas civilizações, seria uma invenção social, para Wallerstein (1994, p. 41). Em resumo, o imbricamento das teorias da cultura e da globalização faz parte de um novo projeto científico que não apenas atualiza a teoria da cultura como investiga se há ou não um processo de interação que possa representar algum tipo de efeito deletério à singularidade de uma cultura,isto é, a maneira de pensar, os valores ou costumes de um povo. Outra questão é se a globalização e o estilo de vida cosmopolita do homem no nosso século estariam modificando a composição sociológica da família, da religião, das classes sociais, a organização do trabalho e do poder político. Entretanto, quando se analisam os acontecimentos que têm transcorrido nos últimos dez anos, vê-se que os problemas do mundo são os mesmos e que nem as importantes transformações da tecnologia resolvem muito menos insinuam o fim dos conflitos étnicos, políticos, das crises sociais e econômicas. O conflito entre Palestina e Israel, a crise política da Síria, a crise econômica, a miséria, a violência em todo o mundo abrem uma escalada de reivindicações que se inscrevem nesse projeto como movimentos culturais e marco histórico de transição cultural da humanidade. O tema da cultura nesse processo transformou-se numa questão ética ao mesmo tempo em que as respostas para a escassez de alimento, de água, de terra, de segurança, de saúde e, sobretudo, a questão da sustentabilidade apresentam-se como um dos maiores desafios para todas as áreas do conhecimento. Identidade e relações étnicas e culturais Todas as vezes que alguém se refere a outrem o faz sempre se referindo ao nome, à cor da pele, à profissão, ao sexo, ao estado civil, ou à nacionalidade.A necessidade de conferir traços diferenciais, de referir-se a alguém pela profissão, pela nacionalidade, tipo físico ou característica física, faz parte do processo de socialização. Como bem observou o sociólogo Norbert Elias (1994, p.13), a sociedade não é uma unidade, um amontoado de pessoas. Quando nos referimos à sociedade estamos sempre nos referindo a um grupo, apontando no mapa ou pensando em algum lugar do planeta. Nesse momento poderíamos estar nos referindo ao Brasil, à China, à Índia ou a qualquer outro país por suas diferenças culturais: valores, tipos físicos, religião, política ou economia. Isso porque o homem, independente de onde viva, nasce e cresce vivendo como 11 membro de uma sociedade, sendo criado por um pai, mãe, parente ou comunidade, pertencendo a um país, sendo portador de uma cidadania e tendo deveres e obrigações para com seu povo ou nação. O sociólogo Harold Garfinkel (1964), reconhecido como o pai da etnometodologia (apud SCOTT, 2010), estudou aprofundadamente como se dão as interações humanas, não devidamente valorizadas,tendo em vista as rotinas do cotidiano, que são indiscutíveis. Observou que o comportamento das pessoas no simples contato diário segue ritos tão rigorosos que podem ser percebidos pela regularidade e generalidade dos gestos, das palavras, da entonação da voz, o que, segundo ele, evidenciam também a diversidade da cultura. Mas o ponto forte de sua análise foi mostrar como a cultura condiciona nossa personalidade. Uma maneira de ver com clareza como a cultura influencia na construção da nossa identidade é observar como opera a educação e o processo de socialização dos primeiros meses de vida. O processo de formação do nosso self e de dominação dos nossos desejos mais instintivos é chamado socialização. Por meio da socialização, vamos aprendendo a viver em sociedade, assimilando os valores, seguindo as regras e, assim, somos transformados em pessoas ou membros de uma sociedade. Isso é feito pela internalização de costumes, valores e regras de convivência. É dessa forma que a cultura fornece a imagem de quem somos. Cada pessoa em determinado momento da vida ocupa um espaço e um tempo sociológico. Esse tempo é o que define a função social dos membros da sociedade. A infância, a adolescência, a velhice são, como afirma Elias (1994, p.21), o que define cada passante e sua função na sociedade. Há tempo para brincar, para adquirir a propriedade, ter uma profissão, trabalhar. Assim, o indivíduo aprende também a selecionar e construir expectativas em relação a nós e aos outros. Essa seleção é operada por imagens de comportamento e padrões aceitáveis, que são projetados sobre nossas predisposições e que são moldados pela cultura. Quando analisamos a identidade sobre o prisma da interação, a imagem de quem somos e o que pensamos definem o tipo de interação. Isso implica construir uma noção mais pluralista de identidade. Nesse ponto, a identidade define-se por certas características que um indivíduo atribui ao outro e se autoclassifica como portador de uma cultura. Esses atributos, entretanto, não são escolhidos de forma arbitrária. Giddens (2003, p. 42) chama de “marcadores” aqueles traços herdados e adquiridos. O idioma, a maneira de vestir, os hábitos e as convenções de cada grupo fazem parte da cultura; portanto, são 12 aprendidos. Giddens (2001), Hall (2006), Habermas (2000), Chatterjee (2000), Verdery (2000) e Mann (2000) fizeram leituras diferentes do papel da cultura na configuração das identidades no mundo contemporâneo, mas não se distanciaram da concepção de que a identidade se relaciona com a compreensão que as pessoas têm da sua cultura. Estudos mais recentes sobre a cultura urbana e de minorias étnicas mostram que são aplicadas formas de conhecimento para subjugar grupos ou pessoas de menor poder. Nos últimos anos tem, inclusive, aumentado o número de conflitos interétnicos e intensificado rótulos de identidade. A questão colocada por François Jullien, no seu livro “Diálogo entre as Culturas” (JULLIEN, 2009), chega muito a propósito para preencher uma lacuna na concepção jurídica de Direitos Humanos e nas discussões sobre identidade e as relações étnicas na contemporaneidade. Observa o filósofo que, na reunião de Viena, em 1993, quando 180 Estados assinariam reafirmando a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, sequer um terço assinou o documento. A conclusão desse estudo é que a cultura nacional, tomada nesse sentido pela posição particular de cada país, prevaleceu sobre o universal. Muito próximo dessa conclusão está o conceito de nacionalidade de Acton (2000) como contraponto à ideia de globalização, quando conclui que o vínculo de um povo com o Estado não é meramente físico, mas ético. Diz ele que o sentimento de pertencimento à nação ou à pátria é, na vida política, o que representa a fé na religião. Ernest Gellner (2000) encaminha sua analise da identidade a partir do prisma das desigualdades de acesso ao progresso e a tecnologia. Argumenta que a expansão da tecnologia, associada a uma nova modalidade de trabalho menos físico, na comunicação impessoal e numa nova modalidade de emprego menos estável, cria um campo de tensão entre as culturas, opondo culturas superiores e inferiores. Relações étnicas e culturais A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam, sempre, as operações de incluir e de excluir. Michel Foucault sugere que as identidades são formadas por modelos discursivos ou por formas de representação da ideia que fazemos das pessoas e de seu comportamento. Disso deduz Foucault (1988) que, historicamente, as identidades operadas na forma de estigma do tipo “loira burra”, “ mulher histérica”, “sogra megera” etc, podem ser vistas não como tipos essenciais de self, mas como 13 rótulos construídos pela forma predominante de discurso em contextos sociais e históricos particulares. Ainda que as identidades sejam formadas a partir de fontes primárias, as crenças, as ideologias, os valores são fontes de identidade. Essa pluralidade de identidades sociais também pode ser fontes potenciais de conflito. O sociólogo inglês Anthony Giddens (2005) lembra que por mais de 25 anos o mundo foi segregado pela rivalidade global entre os paísesda União Soviética e do leste Europeu e os países capitalistas do Ocidente mais o Japão. Conhecida como Guerra Fria, a rivalidade velada entre esses países motivou a construção de identidades compartilhadas baseadas em ideologias. Em abril de 2011, o Senado francês aprovou a lei que proíbe o uso do véu islâmico, em público, na França. Essa medida causou estranhamento em boa parte do mundo. Os conflitos étnicos são antigos na história da humanidade. O país Basco, por exemplo, com sua língua própria, preserva sua cultura e suas fronteiras, independente da Espanha e da França. Os judeus lutam pela preservação do seu território, motivo das tensões entre Israel e Palestina. Os conflitos étnicos nos Bálcãs envolveram a Iugoslávia formada por diversas nacionalidades: sérvios, croatas, eslovenos macedônios, albaneses e húngaros. Essa região reúne uma complexa composição étnica, envolvendo três grupos religiosos – muçulmanos, cristãos ortodoxos e católicos romados, além de cinco idiomas diferentes: sérvio-croata, esloveno, albanês, húngaro e macedônio. Em junho de 1991, após violentos conflitos, a Eslovênia e a Croácia declaravam independência da Iugoslávia. Há, todavia, que considerar que os estudos de identidade não se resumem nos conflitos étnicos. Outro aspecto da identidade seria o estudo de desvios de comportamento, conhecido nas ciências sociais pelo trabalho de Goffman e Becker ( 2008), que partem das regras sociais como a fonte dos padrões de comportamento. Essas fontes forneceriam, segundo a lógica do interacionismo, critérios classificatórios de comportamentos desejáveis e reprováveis. Quando uma pessoa infringe o critério estipulado pelos padrões aceitos pelo grupo, ela é considerada o que Becker, (2008, p. 140) chama de outsiders, aqueles que se desviam dos padrões de identidade seguidos pelo grupo. Por exemplo, o homosexualismo e a prostituição são algumas das infrações de regras e também marcadores de identidade. À medida que as regras dos grupos entrechocam-se, é estabelecido um desacordo e a 14 consequência é a acusação por um comportamento ou atitude desviada das regras do grupo. Em anos mais recentes, os estudos da identidade passaram a considerar também a influência dos meios de comunicação de massa na consciência identitária. A conclusão é que cada vez mais, nas culturas ocidentais contemporâneas, o self torna-se multifacetado, instável e fragmentado. Em resumo, boa parte desses estudos sobre a identidade volta-se para a socialização. Um exemplo é o caso do comportamento padrão estipulado pela ética profissional. Aprender a se vestir, portar-se, e as sutilezas do ambiente ocupacional tornaram-se tão importante quanto possuir habilidades técnicas. Chegamos ao ponto de retorno da tradição sociológica da solidariedade, conceito que Durkheim (1999; 2002) havia desenvolvido referindo-se à identificação das pessoas com outros membros do grupo de pertencimento. Marx (1976), referindo-se à solidariedade da classe trabalhadora, cunhou a identidade do proletariado, que encontrou sua expressão máxima na organização dos sindicatos, ao passo que Georg Simmel (2006) acrescentou que o senso de solidariedade entre os membros de sociedades secretas seria mais intenso. A formação do povo brasileiro O povo brasileiro originou-se da história do Brasil, colônia de Portugal. E essa é a história da expansão territorial dos portugueses que, valendo-se de indígenas, os primeiros habitantes deste território, e dos negros africanos, desbravaram as terras, os mares e os rios deste Brasil. Assim, o interesse econômico esteve associado às conquistas territoriais e essas conquistas deram-se a um preço muito elevado. O historiador brasileiro Helio Vianna, escrevendo sobre a conquista da Amazônia (1977), destaca a luta contra os indígenas e o aprisionamento desses povos. Com a justificativa de expandir as zonas de incursões luso-brasileiras, as chamadas tropas de resgate subiam os rios em canoas para aprisionarem os indígenas, devastando as suas aldeias e, à força, traziam os seus moradores para o trabalho forçado nos povoados, fazendas e engenhos. A necessidade de mão de obra, que crescia com a extensão da agricultura colonial, intensificou a submissão das populações indígenas ao trabalho escravo, bem como o tráfico de homens e mulheres que, na condição de escravos trazidos da África, serviam aos nobres e aos senhores de fazendas e engenhos. 15 A coroa portuguesa incumbiu os primeiros governadores de receberem e fixarem as primeiras famílias trazidas de toda Europa. Os governadores tinham a tarefa de fixar essas famílias de imigrantes europeus para atender a um projeto da coroa portuguesa de promover a organização social, econômica e política nos moldes do patriarcado ibérico e assim consolidar a ocupação portuguesa. O regime de capitanias hereditárias foi determinante para as condições de desigualdade social que configura as classes sociais e a concentração do poder da política brasileira. Cultura e identidade nacional A formação do povo brasileiro não provém de uma única matriz étnica. Ao longo da pré-história os povos de etnias diferentes mesclaram-se ao longo do litoral e também se isolaram no interior, formando um país de diversas nações: povos de língua, cor, tipo humano, religião e costumes diversos. A identidade do povo brasileiro está associada diretamente à pluralidade dessa formação. Cada povo forma uma nação, cada nação tem a sua língua, suas crenças, seu Deuse o seu território. Para se construir uma nação, é necessário que exista uma cultura. Mas a nação brasileira é uma profusão de culturas. O povo brasileiro, como definia o antropólogo Darcy Ribeiro (2006), é um povo mestiço. A colonização portuguesa produziu a fusão de raças e etnias sob a influência e força da cultura europeia. A fusão do branco com o índio e o negro deu origem ao mestiço. Holanda (1963), em sua obra “Raízes do Brasil”, chega a dizer que o povo brasileiro desconhece fronteiras. Ele vem de diversas matrizes e, assim, descende dos aventureiros e dos povos coletores, caçadores e lavradores. O povo brasileiro é uma mistura de raças e de culturas. O escritor Machado de Assis (1999), ao se referir à posição do Brasil no mundo, classificou- o como “fora do lugar”. Essa metáfora traduz a condição ambígua de uma cultura que se apoiava economicamente na mão de obra escrava e na subjugação dos povos indígenas enquanto parte das elites políticas do país pretensamente se diziam adeptos da ideologia liberal. Os representantes dessa elite frequentavam os círculos intelectuais da Europa, embora a situação econômica do Brasil representasse um importante atraso em relação àquele continente. O paradigma da colonização alimentou por muitos anos a problemática da soberania na vida política nacional. O tema do progresso e do subdesenvolvimento atormentou os governos brasileiros até recentemente. A integração nacional, outro tema presente na cultura política e econômica do Brasil, orientou o governo brasileiro na sua marcha para 16 o Oeste. A inauguração de Brasília, em 1960, foi um marco simbólico da identidade nacional. Em 1964, a tomada do poder pelos militares foi o marco decisivo da centralização da política, da economia e da administração pública no Brasil. O tema do progresso e da modernidade continuava um tema constante na esfera intelectual. A luta pela redemocratização do Brasil foi também um movimento de demarcação das identidades regionais. Os estados e as regiões puderam manifestar-se através da identidade política com um modelo federalista que, para Oliven, (2002), foi também uma reivindicaçãodo reconhecimento das diferenças culturais. Concluiu Oliven que o revigoramento do modelo federativo deu-se a partir de um movimento, que ressaltava – no momento em que o país encontrava-se integrado do ponto de vista político – as diferenças dos estados regionais, a vocação da economia regional, a sua diversidade cultural, ambiental e política. As populações que marcavam as diferenças étnicas dos imigrantes precisavam enviar uma mensagem para o país de que a identidade nacional passava antes pela identidade regional. As festas e comemorações, os hábitos e costumes do povo brasileiro hoje promovem a economia local e regional. A identidade étnica dos povos indígenas, os negros, os imigrantes alemães, italianos, franceses, holandeses e todas as demais etnias formam a nação brasileira e consolidam a identidade nacional e a cultura brasileira. A força dessa pluralidade étnica tem sido decisiva na redemocratização do país. A consciência nacional, impulsionada por uma maior consciência dos direitos civis, abre espaço para reivindicações e reconhecimento de novas identidades como, por exemplo, os jovens, os idosos, os homosexuais, as mulheres, os negros, as populações vulneráveis das favelas. O número de igrejas por todo Brasil criou um padrão cultural pela crescente organização dos movimentos de representação política. As identidades regionais, ao mesmo tempo que definiram as fronteiras das diferenças étnicas e culturais, entrelaçaram as diferenças pelos direitos políticos e civis. O movimento negro deu sua contribuição à identidade nacional brasileira e continua sendo relevante na construção da nova agenda para a consolidação dos direitos humanos. Os movimentos indígenas, ao reivindicarem seus direitos à terra, ensinam ao homem branco como preservar a natureza e o sentido da terra, do ar e da água nas suas culturas. Ensejam a sustentabilidade pela preservação das florestas e da sua biodiversidade. 17 Sugerem novas formas de pensar o mundo através de uma nova racionalidade técnica na prática do artesanato e da indústria química. A música, uma vocação que vem dos negros e dos povos indígenas, é um dos mais importantes bens simbólicos de exportação. O fluxo de bens culturais que veiculam no mercado externo é a maior riqueza brasileira.
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