Buscar

Divisão da Estilística na Língua Portuguesa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Língua Portuguesa: 
Estilística e Estudos 
Semânticos
Divisão da Estilística
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Celso Antônio Bacheschi
Revisão Textual:
Profa. Ms. Silvia Augusta Albert. 
5
Trataremos, nesta unidade, da divisão da Estilística de acordo com a modalidade da língua 
(escrita e falada) e dos diferentes tipos de recursos expressivos. Também conheceremos a 
divisão da disciplina de acordo com o nível de análise e estudaremos a Estilística Fônica.
Para obter um bom desempenho, você deve percorrer todos os espaços, materiais e atividades 
disponibilizadas na unidade.
Nesta unidade da disciplina de Língua Portuguesa – Estilística e Estudos 
Semânticos, estudaremos a divisão da Estilística de acordo com a modalidade 
da língua (escrita e falada) e os diferentes tipos de recursos expressivos. 
Também conheceremos a divisão da disciplina de acordo com o nível de 
análise e estudaremos a Estilística Fônica.
Para um bom aproveitamento na disciplina, é muito importante a interação 
e o compartilhamento de ideias para a construção de novos conhecimentos. 
Divisão da Estilística
 · Divisão da Estilística (1)
 · Divisão da Estilística (2)
 · Combinação sonora
6
Unidade: Divisão da Estilística
Contextualização
Antes de iniciarmos nossos estudos na disciplina Língua Portuguesa – Estilística e Estudos 
Semânticos, convidamos você a ler o texto pluvial / fluvial, de Augusto de Campos:
 p
 p l
 p l u
 p l u v
 p l u v i
 p l u v i a
 f l u v i a l
 f l u v i a l 
 f l u v i a l 
 f l u v i a l 
 f l u v i a l 
f l u v i a l 
No texto, notamos que o autor utiliza apenas duas palavras (dispostas graficamente de modo 
conveniente) para descrever o ciclo da água. O que possibilita que as palavras sejam dispostas 
de modo a cruzarem-se é a semelhança de sonoridade, com alternância apenas dos fonemas 
[p] e [f].
Nesta unidade, vamos estudar as divisões da Estilística e o aproveitamento da sonoridade 
das palavras para fins estilísticos.
7
Divisão da Estilística (1)
A Estilística pode ser dividida em subáreas, levando-se em consideração diferentes aspectos. 
Pode-se diferenciar a abordagem de acordo com o objeto de análise, o qual pode ser um texto 
escrito ou falado. As características de cada uma das modalidades da língua implicam diferentes 
recursos de expressividade, como veremos.
Vamos imaginar duas pessoas que conversam frente a frente e analisar os recursos de que 
elas dispõem durante a conversação. Em primeiro lugar, pensemos nas expressões faciais, que 
podem ser usadas para manifestar diversas emoções, como serenidade, admiração, nervosismo 
etc., que serão captadas pelo interlocutor. Além disso, há os gestos, que também nos servem 
de indicação a respeito do estado de espírito dos falantes. Embora esses elementos sejam parte 
integrante de toda conversação face a face, não são linguísticos, porém visuais.
Além desses recursos, o tom de voz do falante pode transmitir-nos outras informações 
(involuntariamente ou, até, de modo fingido), como o cansaço, sonolência, disposição etc. 
Esses traços são chamados paralinguísticos.
 Tratemos dos elementos linguísticos. Sabemos que podemos dizer um mesmo enunciado 
com diferentes entonações, produzindo, assim, diferentes impressões em nosso(s) ouvinte(s). 
Isso ocorre porque há vários recursos, chamados de prosódicos (ou suprassegmentais), que 
podem provocar diferentes efeitos de sentido. A seguir, vamos analisar alguns desses recursos, 
como o alongamento de vogais e as pausas. Para isso, utilizaremos uma transcrição de um 
diálogo real do Projeto NURC/SP1 :
L2 acaba
 sendo uma loucura... e/eu agora falo depressa... é tudo
correndo... não é mais assim aquela pessoa admirável 
aquelas pessoas cal::mas
[
Doc. tranqui::la
L2 tranqui::las... que:: dificilmente... perdem a cal::ma
perdem o contro::le... falam falam pausadamen::te que
não tem aquele rosto sua::do assim:: e agora não eu estou
estou sempre correndo estou sempre falando tudo
depressa porque não dá tempo...
 (Projeto NURC/SP, D2/ 360, linhas 120-129)2 
O alongamento das vogais – representado pelos dois-pontos (:) – é um recurso prosódico, 
que, aliado às pausas, produz um efeito de intensificação, acentuando a ideia de calma e 
tranquilidade, pois é uma forma de reproduzir o modo de falar de uma pessoa despreocupada. 
No trecho que segue (iniciado por “e agora não”), a ausência de pausas transmite a ideia 
oposta, ou seja, de uma pessoa atarefada, que faz tudo às pressas.
1 No Brasil, o Projeto NURC foi desenvolvido em cinco capitais – São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Porto Alegre – com 
o objetivo de coletar dados para análise da norma urbana culta (daí a sigla). Para isso, realizaram-se milhares de horas de gravação. Parte das 
gravações foi transcrita e publicada em livros (veja bibliografia ao final da unidade).
2 No trecho, estão transcritas as falas do locutor 2 (L2) e do documentador (Doc.), responsável pela gravação. As reticências (...) 
indicam pausas, o colchete ( [ ) indica que as falas foram simultâneas, a barra ( / ) indica interrupção, e os dois-pontos (:), que se repetem (::), 
indicam alongamento da vogal.
8
Unidade: Divisão da Estilística
Outro recurso prosódico ocorre no trecho a seguir, em que o falante trata das opções de lazer 
dos paulistanos:
congestionamento eu principalmente não... deTESto ir para
Santos... por vários problemas eu:: não suPORto a:: a
Via Anchieta na hora de volta...
(Projeto NURC/SP, DID/161, linhas 845-847).
Nesse trecho, as letras maiúsculas em “deTESto” e “suPORto” indicam o acento de insistência, 
ou seja, que o falante pronunciou essas sílabas com intensidade bem superior à das demais 
sílabas do enunciado. Esse acento transmite um conteúdo emocional, que, no caso, é a irritação 
do falante diante da rodovia congestionada.
Considerando os recursos de que tratamos até aqui, podemos formar o quadro a seguir 
(adaptado de Urbano, 1997):
Recursos 
Expressivos
Não linguístico Gestos, expressões faciais e etc..
Paralinguístico Tom, propriedade da voz etc..
Linguístico
Prosódicos Entonação, acento etc.
Verbais Ordem das palavras
De todos os recursos apresentados, vamos nos concentrar nos linguísticos. Entre eles, 
podemos notar que os prosódicos são exclusivamente da língua falada, embora a escrita 
disponha de recursos gráficos, como as reticências e o ponto de exclamação, para representá-
los (com grandes limitações).
Os recursos verbais são comuns à língua escrita e à língua falada, porém podem-se realizar 
de modo bastante diferente em uma e outra modalidade, devido a características próprias de 
cada uma.
Segundo Mattoso Câmara (2004: 114), a expressividade é “a capacidade de fixar e atrair 
a atenção alheia em referência ao que se fala ou escreve, constituindo objetivo essencial do 
esforço estilístico”. 
Ao refletirmos bem a respeito dessa afirmação, notaremos que a língua escrita é o lugar 
próprio do “esforço estilístico” a que se refere o autor, uma vez que nela é possível se planejar 
detalhadamente a construção do texto; e o autor, de acordo com a sua criatividade e o seu 
domínio do idioma, pode analisar diferentes opções quanto ao vocabulário, à construção dos 
enunciados, explorando a sonoridade das palavras etc. Além disso, sempre existe a possibilidade 
de uma ou mais revisões antes que se chegue à versão final.
Na língua oral, ao contrário, o planejamento e a produção do texto são praticamente 
simultâneos, impedindo que haja uma elaboração mais refletida, um “esforço estilístico” mais 
demorado. Por isso, a expressividade na língua falada se dá não por meio dos mesmos recursos 
utilizados na escrita; mas por meio da utilização, mais ou menos original e criativa, de meiospertencentes a um “celeiro comum”. Da mesma forma que se emprega um provérbio que se 
amolda a uma determinada situação, o falante vai entremeando, em seu discurso, recursos 
padronizados, cujos efeitos de sentido são reconhecíveis pelo interlocutor, atingindo assim 
determinados resultados expressivos.
9
Podemos encontrar novamente em Mattoso Câmara (1975: 
138) uma forma interessante de se pensar nessa questão. O autor 
considera, de um lado, a língua escrita culta (representada na 
figura de Rui Barbosa3) e, de outro, a língua falada (representada 
na linguagem de um motorista de táxi), afirmando que “aquele 
[Rui Barbosa] tem estilo (que dúvida! me dirão) [...]; mas este [o 
motorista] também tem um ‘estilo’, que é justamente a ‘gíria’, de 
que a cada passo se serve”.
Para finalizar estas considerações, é preciso levar em conta 
que não se pode estabelecer uma contraposição entre língua 
escrita e língua falada, como se fossem dois polos opostos, pois 
há gêneros da fala em que a linguagem se aproxima da escrita, 
como uma conferência; e, da mesma forma, há gêneros da escrita 
em que a linguagem se aproxima da fala, como um bilhete.
Divisão da Estilística (2)
Todos os elementos que fazem parte do processo de comunicação têm um potencial expressivo. 
Segundo Koch e Oesterreicher (2007: 168), “os diferentes EFEITOS DE EXPRESSIVIDADE se 
alcançam graças a diversos PROCEDIMENTOS, que podem proceder dos níveis léxico, de 
formação de palavras, morfológico e sintático (destaques dos autores)”. Desse modo, vamos 
abordar o fenômeno da expressividade sob todos os aspectos da análise linguística. Inicialmente, 
trataremos da Estilística Fônica ou Fonoestilística.
Estilística fônica
A expressividade ligada à sonoridade da língua relaciona-se diretamente com uma questão: 
há motivação no signo linguístico? Em termos mais simples, há relação entre uma palavra, 
como “céu”, e seu significado, “firmamento”, “espaço em que se movem os astros”? Em que 
essa relação se basearia?
Essa é uma questão muito antiga. Ela já aparece em um dos diálogos do filósofo grego 
Platão, o Crátilo, em que se defende a ideia de que as palavras são motivadas. Outros filósofos 
da mesma época (século IV a. C.) discordavam do grande pensador. Na verdade, essa questão 
ainda não está definitivamente resolvida até hoje, pois há argumentos (ainda que insuficientes) 
a favor da motivação.
No início do século XX, Saussure (s/d) lançou as bases da Linguística contemporânea, 
defendendo que as palavras sofrem alterações em sua sonoridade e em seu significado, o que 
impediria a permanência da relação entre palavra (significante) e significado. Cressot (1970) dá-
nos um exemplo claro a esse respeito, citando a palavra francesa pigeon, “pombo”, que provém 
do latim vulgar pipio, “pássaro jovem”, a qual se associa claramente ao som produzido pelos 
pássaros (no latim), mas perdeu essa relação no francês. A palavra pigeon, do inglês (idêntica 
na grafia e no significado), tem a mesma origem.
3 Grande intelectual brasileiro, autor de obra extensa e diversificada.
Fo
nt
e:
 W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
10
Unidade: Divisão da Estilística
A teoria da motivação não se sustenta diante de uma questão bastante simples: se há uma 
relação entre a palavra “céu” e seu significado, por que, em outras línguas, o conceito de 
“céu” corresponde a palavras tão diferentes? Em inglês, por exemplo, “céu” corresponde a 
duas palavras, sky e heaven (nada semelhantes ao português). Vamos um pouco além? Por 
que palavras como finestra (italiano), ventana (espanhol) e window (inglês) correspondem ao 
português “janela”, já que essas palavras soam tão distintas? O argumento de que uma palavra 
como “cuco” (nome de um passarinho) é muito semelhante em várias línguas, como italiano, 
alemão, espanhol, francês, inglês, entre outras, também não se sustenta, dado que todas tiveram, 
em sua origem, a palavra cuculus (do latim, “idem”).
Proponho que aceitemos a ideia de que não há motivação para que associemos uma palavra 
como “céu” (nem outra qualquer) a seu significado . Aí nos vem outra questão: isso significa que 
não podemos fazer qualquer relação entre o modo como que as palavras soam e o conteúdo 
que exprimem? Também não, pois, às vezes, as palavras nos permitem (por uma sorte do acaso) 
intuir, de certa forma, o que expressam. Dito de outro modo, às vezes, as palavras “se casam” 
perfeitamente com a noção que elas nos transmitem. Por exemplo, a palavra “transatlântico” – 
com todas essas sílabas – parece combinar-se perfeitamente com a ideia de algo bem grande.
Fonte: iStock / G
etty im
ages
Da mesma forma, a palavra “guri” (“menino”, mais frequente no Sul do Brasil) parece sugerir-
nos a noção de pequenez. Ainda além, numa palavra como “roer”, a presença do fonema [r] 
parece nos sugerir a ação de desgastar alguma coisa lentamente com os dentes.
 Isso nos permite concluir que, em uma obra literária, a habilidade do autor pode levá-lo 
a selecionar certas palavras com base na harmonia entre elas e o efeito de sentido que ele quer 
provocar nos leitores, ou seja, ele pode buscar um modo de “casar” o que quer expressa com 
o que a sonoridade das palavras sugestiona ao leitor. Esse objetivo foi o alvo principal de um 
estilo literário de grande vigor na França, conhecido como Simbolismo.
Vejamos agora, como podemos analisar na língua as sugestões sonoras utilizadas como 
recursos expressivos na literatura por muitos autores de diferentes épocas.
11
O potencial expressivos dos fonemas
A seguir, apresentaremos alguns exemplos de associação entre sonoridade e sentido que 
foram colhidos da obra da professora Nilce Martins (2008).
1. Vogais Orais
O [a] é o fonema mais sonoro do nosso sistema fonológico, logo traduz sons fortes e nítidos, 
como se observa em interjeições e onomatopeias que sugerem:
 » risadas, vozes altas, tagarelice: quá-quá-quá, blá-blá-blá, gargalhada, algazarra, 
matraca etc.
 » batidas bem audíveis: pá, plaft, craque etc.
 » claridade, brancura, amplidão: claro, alvo, vasto, alvorada etc.
As vogais [e], [é] e [i] são próprias para expressar sons agudos, estridentes, como em grito, 
trilo, apito, pio, estrídulo, estrépito, berro.
O estreitamento bucal da vogal [i] se coaduna com a expressão de pequenez, estreiteza: 
mínimo, estrito, fio, fino, espinho, formiga etc.
As vogais [o], [ó] e [u] sugerem ideia de fechamento, escuridão, tristeza, morte, além de 
ruídos surdos: murmúrio, queixume, sussurro, gruta, choro, fúnebre, luto, túmulo etc.
2. Vogais nasais
As vogais nasais tendem a exprimir sons prolongados e sugerem ideia de distância, lentidão, 
monotonia: longe, distante, manso, pranto, lamento etc.
3. Consoantes
As labiodentais [f] e [v] sugerem ideia de sopro, como em voz, vento, fala, fofoca.
As alveolares [s] e [z] são próprias para imitação de sons sibilantes: sibilo, assovio, cicio, 
suspiro, zunido, zumbir etc.
As fricativas palatais [x] e [ch] são também denominadas chiantes devido à sugestão de 
chiado: chuá, enxame, cochilo, xixi, esguicho etc.
A vibrante [R] ajusta-se à noção de vibração, atrito, rompimento, abalo, como em rachar, 
ranger, rasgar, romper, roer, ruir, arranhar, etc.
As consoantes nasais [n], [m], [nh] expressam ideia de suavidade delicadeza, como em 
ameno, manso, mole, mimoso, meigo, ninar, melodia, harmonia, ninho, sonho etc.
12
Unidade: Divisão da Estilística
 
 
Fonte: iStock / G
etty im
ages
E essas associações entre sonoridade e sentido, podem não ocorrer de forma isolada. Vejamos 
como elas se combinam.
Combinação sonora
A sonoridade das palavras pode gerar efeitos muito interessantes para atrair a atenção dos 
ouvintes (ou leitores) para o conteúdo que se pretende expressar. Pensemos em como é fácil 
memorizar o conteúdo de provérbios como o que segue:
 » Água moleem pedra dura (1)
 » tanto bate até que fura (2).
Isso decorre de dois fatos: o paralelismo – o número de sílabas é igual em (1) e (2) – e a 
rima (harmonia sonora entre “dura” e “fura”).
Além da rima, outros recursos estilísticos de grande efeito são a aliteração e o homeoteleuto. 
Vejamos exemplos. A aliteração é a repetição de fonemas no início das palavras, que se percebe 
nos “jogos de palavras” de brincadeiras infantis, como “um prato de trigo para três tigres tristes”, 
ou como no seguinte trecho, de Fernando Pessoa:
 » O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas...
 » Brandas, as brisas brincam nas flâmulas. (Obra Completa. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.)
Você deve ter notado o efeito da repetição do encontro consonantal “br” em “brandas”, 
“brisas” e “brincam”.
13
O homeoteleuto é um recurso que consiste na repetição dos fonemas finais das palavras, como 
ocorre em expressões como “fulano, sicrano e beltrano”. Ele também foi bastante explorado 
pelos poetas simbolistas, como se percebe, a seguir, no trecho de Eugênio de Castro:
 » Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...
 » O sol, celestial girassol, esmorece...
 » (Obras Poéticas. Lisboa: Parceria A. M. Pereira 1968.)
O homeoteleuto difere da rima porque a repetição da sonoridade não ocorre somente na 
palavra final de cada verso.
Onomatopeia
A onomatopeia é a formação de palavras que consiste na imitação de sons que não 
pertencem à linguagem verbal. Por exemplo, a palavra “zumbir” imita o som produzido por 
um inseto voando, assim como “pio” é uma reprodução aproximada do som produzido pelos 
passarinhos. Essa definição, aparentemente simples, oculta-nos uma série de “casos nebulosos” 
e claramente divergentes, como nos ensina o professor Herculano de Carvalho (1973), cuja 
consulta é altamente recomendada.
Já que o que nos interessa, no momento, é a exploração da sonoridade afetiva das palavras, 
tomaremos um exemplo de um poeta modernista, que nos fornecerá elementos que nos levarão à 
compreensão de que a onomatopeia é um poderoso recurso estilístico. Vamos à leitura que segue:45
Soldados Verdes
1 O cafezal é a soldadesca verde
 que salta morros na distância iluminada
 um dois um dois, de batalhão em batalhão,
 na sua arremetida acelerada
5 contra o sertão!
 Manhã de terra roxa.
 manhã de estampa, ou cromo, onde a fumaça
 de um trem que passa risca o céu de fogaréu.
 Parece que há, nos clarins da alvorada,
10 alguma coisa de marcial. Longas palmeiras
 lembram lanças fincadas na paisagem,
 como se andasse galopando em plena serrania
 uma legião alvorotada de bandeiras.
 Como um zunzum de mamangava4 ouve-se o estrondo da cachoeira
15 a vida inteira a bater bumbo, a bater bumbo, a bater bumbo.
 Avanhandava5 .
 Um grande exército colorido de imigrantes,
 de enxadas a brilhar ao sol revolve o chão
 dando a ilusão de que a lavoura é sangue vivo
4 Espécie de abelha.
5 Município situado no estado de São Paulo
14
Unidade: Divisão da Estilística
20 e a terra nova revolvida é um coração...
 Um dia de verão, em luminosa pincelada,
 inaugurou agora mesmo a nova estrada.
 Acompanhando a estrada em douda disparada
 os postes de carvão como espantalhos
25 levam seus fios telegráficos sobre os ombros.
 As casas dos colonos são cartazes muito brancos
 encarreirados no silêncio dos barrancos.
 Bate o sol no tambor de anil do céu redondo.
 O dia general que amanheceu com o punho azul cheio de estrelas,
30 com dragonas6 de sol nos girassóis
 comanda os cafeeiros paralelos
 de farda verde e botões rubros e amarelos.
 Soa nos morros o clarim vermelho da manhã.
 Soldados verdes! rataplã.
(Cassiano Ricardo. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964.)
Nesse texto, o poeta faz referência ao desenvolvimento da cultura do café em São Paulo, 
personificando os cafezais como “soldados verdes”, que marcham em direção ao interior do estado.6
Entre os vários recursos expressivos do texto, destacamos a exploração da sonoridade em 
“zunzum” (linha 14), que se associa ao estrondo da cachoeira. Note, também, o efeito da 
aliteração em “a bater bumbo, a bater bumbo, a bater bumbo”, que nos sugere a queda d’água 
soando continuamente. Finalmente, a forma onomatopeica “rataplã” é um fato bastante raro, 
pois não é uma palavra dicionarizada, é uma criação do autor, exclusiva para a ocasião. Seu 
objetivo é sugerir, provavelmente, o som do rufo dos tambores militares que convocam os 
soldados ao amanhecer.
 Nesta unidade, vimos que o objeto de estudo da Estilística pode ser dividido segundo 
diferentes critérios. Primeiramente, considerando o objeto da análise, o interesse pode ser 
dirigido à fala espontânea ou à escrita (sobretudo aos textos literários). Em segundo lugar, pode-
se delimitar o estudo de acordo com o nível de análise linguística que se põe em posição central.
Glossário
Interjeição: classe de palavras que exprimem sentimentos ou sensações, como espanto, dor, 
admiração, alegria etc.
Onomatopeia: processo de formação de palavras por meio da imitação de um som natural, como 
“pio”, “miau” etc.
i
6 Peça ornamental de uniformes militares, que se usa sobre os ombros.
15
Material Complementar
Para aprender mais a respeito das questões apresentadas nesta unidade, faça as seguintes leituras:
 GUIRAUD, Pierre. A Estilística. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
MARTINS, Nilce Sant’anna. Introdução à Estilística: a expressividade na Língua Portuguesa. 
São Paulo: Edusp, 2008.
Obras disponíveis online
DUARTE, Paulo Mosânio Teixeira. Estilística ou estilísticas? Disponível em: 
•	 http://www.filologia.org.br/revista/34/05.htm - Acesso em 27 jan. 2015.
LOSS, Andréa Cristina Portella. A Estilística do Som. Disponível em:
•	 http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ2_05.htm. Acesso em 24 jan. 2015.
ROMUALDO, Edson Carlos. A Expressividade fônica e o trabalho do professor de língua 
portuguesa. Disponível em:
•	 http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/viewFile/22/539 - Acesso em 27 
jan. 2015.
SILVA, Gustavo Adolfo Pinheiro da. Aspectos da estilística portuguesa: Disponível em 
http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/08.htm. Acesso em 23 jan. 2015.
16
Unidade: Divisão da Estilística
Referências
CASTILHO, Ataliba Teixeira de; PRETI, Dino (orgs.). A Linguagem Falada Culta na Cidade 
de São Paulo: v. II – Diálogos entre dois informantes. São Paulo: T. A. Queirós, 1987.
CRESSOT, Michel. O Estilo e as suas Técnicas. Lisboa: Edições 70, 1980.
HERCULANO DE CARVALHO, José G. Teoria da Linguagem: Natureza do fenômeno 
linguístico e a análise das línguas. t. 1. 5. ed. Coimbra: Atlântida, 1973.
KOCH, Peter; OESTERREICHER, Wulf. Lengua Hablada na Romania: español, francés, 
italiano. Madrid: Gredos, 2007.
MATTOSO CÂMARA JR., Joaquim. Dicionário de Linguística e Gramática. 25. ed. 
Petrópolis: Vozes, 2004.
________. Considerações sobre o estilo. In: MATTOSO CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. 
Dispersos. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1975.
PRETI, Dino; URBANO, Hudinílson. A Linguagem Falada Culta na Cidade de São Paulo: 
v. III – Diálogos entre informante e documentador. São Paulo: T. A. Queirós, 1988.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 11. ed. São Paulo: Cultrix, s. d.
URBANO, Hudinílson. A expressividade na língua falada de pessoas cultas. In: PRETI, Dino 
(org.). O Discurso Oral Culto. 2. ed. São Paulo: Humanitas, 1997.
Referências Bibliográficas (disponível para consulta)
MARTINS, Nilce Sant’anna. Introdução à Estilística: a expressividade na Língua Portuguesa. 
São Paulo: Edusp, 2008
17
Anotações

Continue navegando