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1 TÍTULOS DE CRÉDITO TEORIA GERAL (1ª parte) Por Elizabete Moreira Dias 1. TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO.......................................................................2 2. CONCEITO................................................................................................................................3 3. PRINCÍPIOS..............................................................................................................................3 3.1. CARTULARIDADE.....................................................................................................4 3.2. LITERALIDADE.........................................................................................................4 3.3. AUTONOMIA.............................................................................................................4 3.3.1. INOPONIBILIDADE.............................................................................................5 3.3.2. ABSTRAÇÃO......................................................................................................6 3.3.3. INDEPENDÊNCIA...............................................................................................7 4. HISTÓRIA E NATUREZA JURÍDICA.......................................................................................7 4.1. HISTÓRIA..................................................................................................................7 4.2. NATUREZA JURÍDICA..............................................................................................9 5. CLASSIFICAÇÃO...................................................................................................................10 6. TÍTULO DE CRÉDITO FRENTE AO CÓDIGO CIVIL.............................................................12 6.1. ARTIGOS DO CÓDIGO CIVIL QUE SÃO CONTRÁRIOS À LEI UNIFORME DE GENEBRA...................................................................................................................................13 7. DECLARAÇÕES CAMBIAIS/ATRIBUTOS............................................................................14 7.1. SAQUE E EMISSÃO – (art. 1 a 10 da Lei Uniforme de Genebra) ...........................14 7.2. ENDOSSO - (art. 11 a 22 da Lei Uniforme de Genebra) ..........................................16 7.2.1. CONCEITO.........................................................................................................16 7.2.2. RESPONSABILIDADE DO ENDOSSANTE.......................................................17 7.2.3. RESPONSABILIDADE ENTRE ENDOSSANTE E PORTADOR EM CASO DE MÁ-FÉ.........................................................................................................................................17 7.2.4. ENDOSSOS NULOS..........................................................................................18 7.2.5. FIGURANTES....................................................................................................19 7.2.6. CLASSIFICAÇÃO...............................................................................................19 7.2.7. ENDOSSO PRÓPRIO........................................................................................19 7.2.7. ENDOSSOS IMPRÓPRIOS...............................................................................20 7.2.8. ENDOSSOS QUE LIMITAM A TRANSFERÊNCIA DO TÍTULO........................20 7.2.9. ENDOSSOS QUE LIMITAM A RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DO TÍTULO........................................................................................................................................22 7.2.10 OUTROS TIPOS DE ENDOSSO......................................................................25 7.3. AVAL - (art. 30 a 32 da Lei Uniforme de Genebra) ..................................................28 7.4. ACEITE - (art. 21 a 29 da Lei Uniforme de Genebra) ..............................................34 7.4.1. CONCEITO........................................................................................................34 8. REQUISITOS FORMAIS INDISPENSÁVEIS AO TÍTULO DE CRÉDITO...................36 2 1. TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO De um lado, o título de crédito possibilita uma negociação mais fácil do crédito decorrente da obrigação representada; de outro lado, a cobrança judicial de um crédito documentado por este tipo de instrumento é mais eficiente e célere. A doutrina costuma se referir aos atributos dos títulos de crédito, chamando-os, respectivamente, de: "Negociabilidade" (facilidade de circulação do crédito); "Executividade" (maior eficiência na cobrança). O crédito é, economicamente, a negociação de uma obrigação futura, sendo a utilização dessa obrigação futura para a realização de negócios atuais, ou seja, o crédito se verifica na troca de um valor presente e atual, por um valor futuro.1 O crédito apresenta dois elementos implícitos: a confiança e o tempo. Confiança significa que “o crédito importa um ato de fé, de confiança, do credor”. Daí a origem etimológica da palavra – creditum, credere.2 Tal confiança, no pagamento futuro, pode não derivar, exclusivamente, do devedor, mas de garantias pessoais (verbi gratia aval, fiança), ou reais (verbi gratia penhor, hipoteca), que o mesmo ofereça ao credor pelo referido pagamento.3 Tempo é o prazo concedido pelo credor ao devedor para saldar o seu débito. Ao direcionar a economia monetária a creditória, ampliou-se, decididamente, o conceito de troca.4 Mas, assim como a troca não gera mercadorias, o crédito não cria capitais, já sustentava Stuart Mill, pois o crédito redunda na permissão para se usar do capital alheio, o que, naturalmente, permite um melhor aproveitamento e disseminação deste capital. Com o desenvolvimento, na Idade Média, do tráfico mercantil, viabilizou-se a simplificação do meio circulante de capitais. Houve a separação do capital e pessoas. Gerou- se um aperfeiçoamento dos títulos de crédito, que, até aí, eram transmitidos por via de cessão, notificando-se o devedor, com o tratamento totalmente formal (Lei Paetelia Papiria). 1 BORGES, João Eunápio. Títulos de Crédito. 2. ed., 9. tiragem. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 7. 2 REQUIÃO, Ruben. Curso de Direito Comercial. 18. ed., São Paulo: Saraiva, v.2, 1992, p. 290. 3 Cf. BORGES, João Eunápio, Op. cit., p. 7. 4 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e Prática dos Títulos de Crédito. 12. ed., São Paulo: Saraiva, 1989, p. 2. 3 2. CONCEITO O conceito mais difundido e mais aceito, considerados por alguns perfeito5 é o de César Vivante, segundo o qual: A conceituação de Vivante para títulos de créditos é tão boa que vários países a incorporaram em suas legislações, positivando-a. No Brasil, essa definição foi adotada pelo CC-2002: 3. PRINCÍPIOS Com a definição de Vivante, conclui-se quais são os elementos caracterizadores dos títulos de crédito: a LITERALIDADE, a CARTULARIDADE (chamada pelo Prof. João E. Borges de INCORPORAÇÃO) e a AUTONOMIA. Estes são os característicos comuns aos títulos de crédito, entretanto, há algumas outras que são particulares a determinados títulos, por assim dizer lhes são acidentais (ABSTRAÇÃO E INDEPENDÊNCIA). 3.1. CARTULARIDADE Para a existência do título, há a necessidade de haver uma cártula, que é materialização do direito por intermédio do documento. Duas posições se apresentam, uma que entendem que o documento (título) incorpora o direito.6, entretanto, a tal entendimento se contrapõe Vivante7, segundo o qual o título de crédito se assenta, se materializa em um documento (cártula), sendo que para o exercício do direitoresultante do crédito impõe-se a apresentação do documento. Destarte, para se exigir ou exercitar qualquer direito oriundo do título de crédito, faz-se mister a apresentação do documento. 5 REQUIÃO, Rubens, Op. cit., p. 291. 6 Idem, p. 12. ALMEIDA, Amador Paes, Op. cit., p. 10. 7 Também endossado por Rubens Requião. Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. “Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado. ” 6 4 3.2. LITERALIDADE Vale no título apenas o que nele está escrito. É o conteúdo, a extensão e a modalidade do direito nele consubstanciado. É decisivo exclusivamente o teor do título. João Eunápio Borges, vislumbra na literalidade um duplo aspecto, a atuar contra e a favor das partes, que é positivo e negativo. Esclarece ele, in verbis: “Se, sob o aspecto positivo, somente do conteúdo ou teor do título é que resulta a individuação e a delimitação do direito cartular, sob o seu aspecto negativo, nem o subscritor, nem o portador poderá invocar contra o título, fato ou elemento não emergente do mesmo título.”8 3.3. AUTONOMIA As obrigações contraídas no título são autônomas e não se ligam. Ressalte-se que a mesma não guarda ligação à causa, ao nexo causal do título, como ás vezes se expõe. A autonomia dos títulos de crédito deriva de fato de que as co-obrigações (endosso, aval, etc.) que se estabelecem são autônomas, ou seja, não se ligam, nem vinculam, não há dependência, com relação às demais obrigações.9 Decorrente do princípio da autonomia das obrigações cambiárias, surgiu a regra da INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES10, onde o devedor do título não pode opor ao portador as suas exceções pessoais que tinha com o seu antigo credor, salvo se o portador, ao adquirir o título, agiu conscientemente em detrimento do devedor (má-fé), conforme versa o art. 17 da Lei Uniforme de Genebra: . Por este princípio, o devedor não pode se negar a cumprir o que consta do título de crédito, apresentando exceções pessoais referentes a anteriores portadores ou titulares da cártula, salvo se ficar cabalmente demonstrado que o atual titular recebeu a cártula de má-fé. Trata-se da manifestação processual do princípio da autonomia. Sobre o tema, confira-se o seguinte julgado do STJ em que se afastou a autonomia por conta da má-fé do portador da cártula: 8 BORGES, João Eunápio, Op. cit., p. 13. 9 Cf. ALMEIDA, Amador Paes, Op. cit., p. 10. REQUIÃO, Rubens, Op. cit., p. 291. BORGES, João Eunápio, Op. cit., p. 16. MARTINS, Fran, Op. cit., p. 13. 10 Cf. MARTINS, Fran, Op. cit., p. 17 e REQUIÃO, Rubens, Op. cit., p. 296. Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor. 5 EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. COMERCIAL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO. CHEQUES PÓS-DATADOS. REPASSE À EMPRESA DE FACTORING. NEGÓCIO SUBJACENTE. DISCUSSÃO. POSSIBILIDADE, EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS. - A emissão de cheque pós-datado, popularmente conhecido como cheque pré- datado, não o desnatura como título de crédito, e traz como única consequência a ampliação do prazo de apresentação. - Da autonomia e da independência emana a regra de que o cheque não se vincula ao negócio jurídico que lhe deu origem, pois o possuidor de boa-fé não pode ser restringido em virtude das relações entre anteriores possuidores e o emitente. - Comprovada, todavia, a ciência, pelo terceiro adquirente, sobre a mácula no negócio jurídico que deu origem à emissão do cheque, as exceções pessoais do devedor passam a ser oponíveis ao portador, ainda que se trate de empresa de factoring. - Nessa hipótese, os prejuízos decorrentes da impossibilidade de cobrança do crédito, pela faturizadora, do emitente do cheque, devem ser discutidos em ação própria, a ser proposta em face do faturizado. Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp 612423 / DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJ 26.06.2006 p. 132). 3.3.1. INOPONIBILIDADE. A inoponibilidade das exceções do titular está disposta no art. 104 do C.C., eis que, a validade do negócio jurídico requer agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita e não defesa em lei. A inoponibilidade das exceções do título está relacionada aos seus requisitos essenciais, já que a falta dos mesmos o invalida. Desta feita, é que, por via da inoponibilidade das exceções, a autonomia pode ser estudada sob dois aspectos.11 Num primeiro aspecto, é o que trata da oponibilidade pessoal que PODE ocorrer entre o portador do título e o devedor. Parece razoável a posição de João Eunápio Borges, segundo a qual nenhum título é criado despropositadamente, sem nenhum nexo causal.12. Assim sendo, o devedor do título poderá opor-se ao pagamento por exceções pessoais. Também poderá, em qualquer caso, opor-se por defeito de forma do título ou por má-fé do seu adquirente, visando prejudicar o devedor, devidamente comprovado, na última hipótese. 11 BORGES, João Eunápio, Op. cit., p. 14-6. 12 A hipótese levantada pelo Prof. Fran Martins, (Op. cit., p. 14), segundo a qual se emite uma lera de câmbio em seu próprio favor e, com o seu aceite, a faz circular, recebendo de um terceiro a quantia nela expressa, naturalmente por via de endosso, parece-nos que nada mais é do que um mútuo garantido pelo título. Sendo assim, o nexo causal é um contrato de mútuo, que nos termos do art. 1.262, do Código Civil, é um contrato gratuito, salvo expressa disposição contratual em contrário. 6 E no segundo aspecto, é nas relações entre o devedor e terceiros que se revela a autonomia do direito cartular. O fundamento da inoponibilidade, neste caso, é que, “num título de crédito, as obrigações são autônomas umas das outras." Por tal razão, o devedor não se pode escusar de cumprir a obrigação assumida alegando ao portador suas relações com qualquer obrigado anterior.13 Neste caso, o devedor não poderá opor suas exceções ao portador, que teria com outros co-obrigados, sendo que, em relação a ele, são res inter alios. Outros princípios dos títulos de crédito, mas não de todos, é a INDEPENDÊNCIA e ABSTRAÇÃO. 3.3.2. ABSTRAÇÃO. O título não se liga á causa que lhe deu origem. Decorre do fato que gerou o título estar desvinculado dele, cumpri-nos ressaltar que “a obrigação abstrata ocorre apenas quando o título está em circulação, isto é, quando põe em relação duas pessoas que não contrataram entre si, encontrando-se uma em frente da outra, em virtude apenas do título.”14Exemplo de títulos não abstratos é a duplicata antes de aceita, pois se liga a venda mercantil ou a prestação de serviço que lhe deu origem, e a nota promissória vinculada a contrato. 3.3.3. INDEPENDÊNCIA O título basta em si mesmo, ou seja, é per se stante, sem necessidade de outro documento para completá-lo (compiutezza)17-A. São exemplos a letra de câmbio e nota promissória. Ao contrário, dependentes, são a ação de uma S. A., que se liga ao seu estatuto e a cédula de crédito rural, ligada à Lei Orçamentária. Fran Martins evoca como elemento preponderante para a existência do título de crédito o formalismo,15 segundo ele, paraque o papel de caracterize como título de crédito é indispensável que o documento se revista das exigências legais, pois em caso contrário o mesmo não terá eficácia para incorporar os princípios dos títulos de crédito. Atualmente, inclinam-se a doutrina e a jurisprudência no sentido de não haver novação do crédito anterior por via cambial. (Carvalho de Mendonça, Rubens Requião, Paulo Lacerda, Saraiva e Arruda, bem como o STF.) 13 MARTINS, Fran, Op. cit., p. 18. 14 REQUIÃO, Rubens, Op. cit., p. 292. 17-A BULGARELLI, Waldirio, Op. cit. p. 56 15 MARTINS, Fran, Op. cit, p. 15-7. 7 Calha anotar uma analogia entre a abstração e a dependência. Enquanto que a abstração está voltada para dar mais segurança à circulação, a dependência pode decorrer: a) da vontade das partes; b) por imposição legal (ex: cédula de crédito rural e Lei do Orçamento); e c) da própria substância do negócio e do título (ações da S.A. e o seu Estatuto). Destarte, são títulos de crédito que não seguem o princípio da independência: a ação de uma S.A., pois depende de seu Estatuto, e a cédula de crédito rural, já que é dependente da Lei Orçamentária. 4. HISTÓRIA E NATUREZA JURÍDICA 4.1. HISTÓRIA Origem remota – Romanos conheceram o contrato de câmbio, mas não exercitou pela letra de câmbio Origem lógica – A partir da Idade Média, sec. XIII o Multiplicidade de Estados italianos com moedas diversas o Mercados e exigência de moeda local, risco e dificuldade de transportar moedas Cambio manual Cambio Trajectio – por meio da carta (littera ou quirógrafo) o Banqueiro aleatório podia não ser encontrado e a carta era usada no comércio (endosso) o O comerciante exigia que algum conhecido garantisse o pagamento (aval) Período Francês o Código comercial de 1808 até o séc. XIX– Assemelha-se a um contrato devido ao lastro indicado Surge o endosso, cláusulas “a ordem” e “não a ordem”. Aceite era obrigatório Reconhecida a inoponibilidade pelo “endosso sem restrições” Não há requisito da literalidade, Havia indicação do lastro (razão da emissão – provisão de fundos no sacado) Período Alemão – (papel moeda do comércio) – influenciou vários países o Abstração – sem indicação da provisão ou lastro o Valor mesmo antes do aceite Período atual – uniformização 1930 Lei Uniforme de Genebra o EUA e Inglaterra – LC liberdade de forma, se aperfeiçoa com a entrega o Pouca ou nenhuma utilização da LC, preferência pela NP o Cartões magnéticos, transferências eletrônicas, assinaturas criptografadas “A ideia de recolocar a letra de câmbio, como a nota promissória, como direito comum a todos os povos, tal como se originou na Idade Média, teve seu início de concretização no século XIX. Os esforços nesse sentido se iniciaram em 1873, com a fundação do Instituto de Direito Internacional, em Gand. Reuniões internacionais se sucederam, o que levou, afinal, à Conferência Diplomática de Haia, de que resultou um projeto de lei uniforme. 8 Embora os trabalhos fossem adiantados, não se concretizou, tendo a matéria sido retomada, sob os auspícios da Sociedade das nações, após a I Guerra Mundial”. Nesse ínterim, buscou-se um consenso quanto a essa uniformidade, o que culminou, no dia 07 de junho de 1930, na assinatura de três convenções por diversos países, inclusive o Brasil, quais sejam: Convenção para doção de uma lei uniforme sobre letras de câmbio e notas promissórias; Convenção destinada a regular certos conflitos de leis em matéria das letras de câmbio e notas promissória e protocolo; e Convenção relativa ao direito de selo em matéria de letras de câmbio e notas promissórias. Entretanto, o Brasil já possuía nesse período um direito cambiário bastante evoluído, em especial no que tange o Decreto nº 2.044, de 1908, para muitos melhor tecnicamente que a LUG, uma vez que já adotava o sistema alemão anteriormente descrito, o que faz a doutrina pátria entender como fator relevante para a demora no cumprimento da Convenção de Genebra, uma vez que o Brasil possuía aparato legislativo bastante atualizado, e, apesar de o Brasil ser signatário de tais Convenções, só veio a cumprir o quanto convencionado em 1966, com o Decreto nº57.663, que “promulga as Convenções para a adoção de uma Lei Uniforme em matéria de letras de câmbio e notas promissórias”, ressalvada as “reservas” feitas, bem como por meio do Decreto nº 57.595, se promulgou as Convenções para Adoção de uma Lei Uniforme em Matéria de Cheques, sendo que através desses dois decretos do Presidente da República, é que se colocaram em vigor aquelas. Insta mencionar que, diante de tal vigência, instalou-se, no meio jurídico, certa dubiedade quanto à regulamentação da letra de câmbio, da nota promissória e do cheque, uma vez que estava vigendo no país a Convenção de Genebra e nossa lei interna, ao mesmo tempo, sobre a mesma matéria. No caso da letra de câmbio e da nota promissória, a lei 2048, 2044 de 1908 e a lei do cheque, uma lei de 1912. Essa situação só se resolveu quando o Supremo Tribunal Federal se pronunciou no sentido de que efetivamente estavam em vigor no Brasil as Convenções de Genebra. A LUG aponta requisitos essenciais, sem o qual o título não será cambiário (nota promissória e letra de câmbio), bem como versa sobre os cheques, quanto à duplicata, Fazzio Junior (2004) destaca que havia uma rejeição quanto ao formalismo e abstracionismo evocado pelas normas regulamentadoras da letra de câmbio e da nota promissória, entretanto a LUG também serviu de norma geral para a Lei de Duplicatas. 4.2. NATUREZA JURÍDICA CRIAR um título de crédito é a sua feitura material. EMITIR um título de crédito é efetivamente colocá-lo em circulação. 9 No que tange à criação do título de crédito, cumpre-nos ressaltar a sua diferença da emissão do título de crédito. A criação do título ocorre com a sua feitura material, é quando se dá vida a ele, sendo que o momento mais importante é quando o sacador assina o título. Já a emissão, dá-se pelo ato de por o título em circulação, transferindo-lhe do sacador para o tomador. A legislação pertinente aos títulos de créditos não tende apenas para uma destas teorias. Ao que tudo indica, para cada caso e para cada título há filiação maior para cada uma delas. Nos filiamos a ambas. Veja-se o art. 905 do Código Civil parece adotar a teoria da criação: A Teoria da criação, indica que mesmo que o título tenha sido roubado, ele é devido conforme o Art. 906: Mas, outras disposições mostram que o devedor poderá deixar de pagar por eventual título roubado. É a teoria da emissão. Caso do Art. 909: A lei garante a obtenção de medida judicial que impeça o pagamento a outrem. Teoria da emissão de novo. Nosso Código Civil contempla ambas as teorias. Pode-se dizer que o Direito Brasileiro não se filiou a nenhuma das teorias acima, porquanto o Código Civil brasileiro contempla dispositivos que abarcam tanto uma quanto outra teoria. Art. 905. O possuidor de título ao portador tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor. Parágrafo único. A prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente. Art. 906. O devedor só poderá opor ao portador exceção fundada em direito pessoal, ou em nulidade de sua obrigação. Art. 909. O proprietário, que perder ou extraviar título, ou for injustamente desapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos. Parágrafo único. O pagamento,feito antes de ter ciência da ação referida neste artigo, exonera o devedor, salvo se se provar que ele tinha conhecimento do fato. 10 5. CLASSIFICAÇÃO Quanto à classificação dos títulos de crédito, a mais difundida16 é a de Vivante. Em relação à pessoa do emitente, os títulos serão públicos, quando emitidos por entes públicos, ou privados, todos os emitidos por pessoas privadas, naturais ou jurídicas. Quanto à forma de circulação os títulos de crédito se classificam em nominativos, à ordem e ao portador. Quanto aos títulos emitidos ao portador, que não revelam o nome das pessoas beneficiadas, tal forma de circulação resta relativamente vedada pela legislação brasileira para Bônus do tesouro e para cheque de valor superior a R$100,00: Os títulos nominativos são emitidos em favor de um pessoa cujo nome conste do registro do emitente, para haver a transmissão do título impõe-se que se faça mediante endosso em preto, efetuando-se o competente registro no livro do emitente, ou se faça mediante cessão do título de crédito.17 Os títulos à ordem são aqueles emitidos “em favor de pessoa determinada, transferindo-se pelo endosso. Diferenciam-se, portanto, dos títulos nominativos porque são transferíveis pelo simples endosso, sem qualquer outra formalidade.”18 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS POR VIVANTE Quanto à natureza ou conteúdo: Propriamente ditos (letra, n.p. - circulam crédito); 16 ALMEIDA, Amador Paes, Op. cit., p. 7. 17 Cf. BORGES, João Eunápio, Op. cit., p. 34-5. REQUIÃO, Rubens, Op. cit., p. 301. 18 REQUIÃO, Rubens, Op. cit., p. 301. Lei nº 8.088, DE 31 DE OUTUBRO DE 1990 Dispõe sobre a atualização do Bônus do Tesouro Nacional (...) Art. 19. Todos os títulos, valores mobiliários e cambiais serão emitidos sempre sob a forma nominativa, sendo transmissíveis somente por endosso em preto. (...) § 2° A emissão em desobediência à forma nominativa prevista neste artigo torna inexigível qualquer débito representado pelo título, valor mobiliário ou cambial irregular. Lei nº 9.069 de 29 de Junho de 1995 - Dispõe sobre o Plano Real, (...) Art. 69. A partir de 1º de julho de 1994, fica vedada a emissão, pagamento e compensação de cheque de valor superior a R$ 100,00 (cem REAIS), sem identificação do beneficiário. Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional regulamentará o disposto neste artigo. 11 Destinados à aquisição de direito real sobre determinada coisa (cédula pignoratícia); Atribuem a qualidade de sócio (ação de S.A).; Impropriamente ditos – dão ao titular algum serviço (bilhete de viagem – não circulam crédito). Quanto à pessoa do emitente: - Público (TDA – título de dívida agrária); - Privado. Quanto ao modelo: Vinculados – Cheque (BC), duplicata (Cons. Monet. Nac.) Livres: letra de Câmbio e notas promissórias (desde que atenda os requisitos essenciais) Quanto a estrutura Ordem de pagamento: Geram três situações jurídicas distintas (cheque, duplicata e letra de câmbio): Sacador: emitente que ordenou o pagamento Sacado: (quem paga) para quem a ordem foi dirigida Tomador: (quem recebe) beneficiário da ordem Promessa de pagamento: Gera apenas duas situações (nota promissória Subscritor: (emitente) assume pagar a quem o detenha Quanto à circulação: Nominativos – trazem o nome do beneficiário, mas transmitem por cessão ou termo de transferência, ou por endosso em preto; À Ordem – trazem o nome do beneficiário, mas transmitem por mero endosso; Ao Portador – cláusula “ao portador” ou não revela o nome; Disposições do Código Civil Art. 921. É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente. Art. 922. Transfere-se o título nominativo mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente. Art. 923. O título nominativo também pode ser transferido por endosso que contenha o nome do endossatário. 12 Não À Ordem – cessão de direitos de crédito. 6. Título de crédito frente ao Código Civil: O Código Civil disciplina no LIVRO I - PARTE ESPECIAL - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES. O TÍTULO VIII – Capítulo I, regula as DISPOSIÇÕES GERAIS, e o Capítulo II, o TÍTULO AO PORTADOR, À ORDEM e NOMINATIVO. ” Por resultado, temos hoje, na codificação civil, um conjunto de preceitos de direito cambiário de importância nenhuma26-A. Consoante o art. 903 do C.C., somente regem-se pelo Código Civil, os títulos de crédito não regulados por lei especial. Ora, senão todos, a maioria dos quirógrafos são regulados por lei especial, o que torna raríssimas as situações em que os títulos serão regulados pelo Código Civil. O que mudou frente ao Novel Código Civil. Praticamente nada, mas duas mudanças foram significativas. Permita-se transcrever o preceito do art. 903 do Código Civil: Acontece que os títulos de crédito, quase que em sua totalidade, são regidos por lei especial, o que leva ao entendimento que as Leis Adjetivas inerentes aos títulos não sofreram nenhuma alteração. As modificações introduzidas pelo Novo Código Civil são apenas duas. A primeira, a disposição do art. 1647, III, que exige a vênia conjugal ao aval, exceto se o regime de bens for o da separação absoluta, contudo, a exigibilidade da vênia conjugal ao aval, está restrita aos títulos de crédito inominados/atípicos, disciplinados somente pelo CC-2002, como se verá adiante. E a segunda, a do art. 202, tendo em vista que a prescrição da pretensão, que ocorrerá agora uma única vez, se dará tanto pelo protesto judicial, quanto pelo protesto cambial. De resto, nada mudou. Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste código. Disposições do Código Civil Art. 904. A transferência de título ao portador se faz por simples tradição. Art. 905. O possuidor de título ao portador tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor. 13 6.1. Artigos do Código Civil que são contrários à Lei Uniforme de Genebra Alguns artigos do código civil são contrários às regras expressas na maioria das leis especiais dos títulos de créditos. A exemplo temos vedação ao aval parcial prevista no Código Civil, contrária às regras previstas nas leis da maioria dos títulos especiais, estes que admitem o aval parcial: A conclusão é que a regra do Código Civil só vale para os títulos que não tem regência própria sobre o aval. O mesmo ocorre com o endosso, para o Código Civil o endosso só gera responsabilidade ao endossante se ele expressamente assumir a responsabilidade, nos termos infra: Em senti contrário ao Código Civil, as leis especiais, da maioria dos títulos de crédito, rezam que o endossante se obriga ao pagamento, se tornando devedor solidário, por uma simples assinatura, sem exigir cláusula especial. 7. DECLARAÇÕES CAMBIAIS/ATRIBUTOS Por declaração cambial entende-se a manifestação de vontade do signatário (aquele que assina como emitente, avalista, endossante ou aceitante) no sentido de criar, completar, garantir ou transferir o título de crédito. Trata-se de um ato jurídico unilateral, que independe da vontade da outra parte. Toda e qualquer declaração cambial concretiza-se pela assinatura do declarante que, por ela, fica responsável pelo pagamento no título de crédito se tiver capacidade para tanto.No caso do declarante ser incapaz, o signatário não se obriga, mas sua assinatura não invalida o título e nem afeta as outras obrigações válidas, de agentes capazes. Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título. § 1 o Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário. Art. 897, Parágrafo único. É vedado o aval parcial. 14 Pelo princípio da cartularidade, as declarações cambiais devem ser lançadas no próprio título, pois se estiverem fora dele afiguram-se imprestáveis para fins cambiais, de modo que sem assinatura não há obrigação cambial alguma e, consequentemente, não haverá declaração cambial. As declarações cambiais podem ser: a) declaração cambial necessária ou originária: saque ou emissão. b) declarações cambiais eventuais ou sucessivas: aceite, endosso, aval e protesto. 7.1 SAQUE E EMISSÃO (art. 1 a 10 da Lei Uniforme de Genebra) O título pode ser emitido ou sacado, sendo que o saque acontece em títulos que são ordens de pagamento e a emissão em promessas de pagamento. Ambos são termos que buscam identificar a criação do título de crédito. Nesse caso é declaração cambial necessária, essencial e completa-se forçosamente pela assinatura do declarante. A assinatura do declarante corresponde à declaração principal, porque sem ela não existirá o título. A assinatura, atendidos os requisitos legais, poderá constituir uma promessa direta de pagamento (ex., na nota promissória) ou numa promessa indireta de pagamento (ex., na letra de câmbio). É a assinatura o requisito mais importante de qualquer declaração cambial, pois dela decorre a obrigação do signatário. A exemplo, temos a declaração cambial que cria a nota promissória chama-se emissão e se completa pela assinatura do emitente. Essa declaração corresponde a uma promessa direta de pagamento que o emitente faz a favor do beneficiário da declaração. Em caso de assinatura falsa, ou se o signatário for incapaz a obrigação cambial não subsiste apenas para o falsificado e para o incapaz. Contudo, havendo outras assinaturas verdadeiras e de pessoas capazes, o título não se invalida pela assinatura falsa ou da assinatura do incapaz criando o título. As obrigações dos demais signatários permanecem válidas. Mesmo o portador de boa-fé nada poderá exigir do incapaz ou daquela cuja assinatura foi falsificada, podendo exigir dos signatários capazes, que respondem perante ele. 15 EMISSÃO NÃO A ORDEM IMPLICA EM “ENDOSSO PROÍBIDO” Os títulos de crédito são, por essência, endossáveis, entretanto, no momento da emissão é admissível a inclusão da cláusula “não à ordem”, que impede a circulação por via de endosso, só podendo ser operada a circulação pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de crédito, regulada pelo Código Civil. Somente o emitente do título pode inserir a cláusula “não à ordem. ” Exemplo prático de uma cadeia com emissão “não à ordem”, causando “endosso proibido”: A B C D No caso, B , recebeu o título com cláusula não a ordem, ou proibitiva de novo endosso. B decide transferir o título a C e, neste caso, ante a proibição, deverá fazer a transferência com uma cessão de crédito e assim também fará C e D. C e D – Não podem invocar contra A o que tinha contra os seus endossantes. C e D não podem cobrar de A, porque recebeu o título como cessão de crédito. Esquema de Luiz Emygdio F. da Rosa Art. 11., 2º paragrafo - Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras "não à ordem", ou uma expressão equivalente, a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. 16 7.2 ENDOSSO - (art. 11 a 22 da Lei Uniforme de Genebra) 7.2.1. CONCEITO: O endosso é meio pelo qual se transfere a propriedade de um título, podendo constituir-se também em simples mandato. Endosso = in dorso = nas costas O endosso é, assim, o meio pelo qual se processa a transferência do título de crédito de um credor para outro, redundando em sua circulação. É um instituto típico do direito cambiário. Art. 11. Toda letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula à ordem, é transmissível por via de endosso. O endosso pode ser feito mesmo a favor do sacado, aceitando ou não, do sacador, ou de qualquer outro coobrigado. Estas pessoas podem endossar novamente a letra. Art. 14. O endosso transmite todos os direitos emergentes da letra. 7.2.2. RESPONSABILIDADE DO ENDOSSANTE: Endosso é sempre dado com a garantia do endossante, art. 15 da LUG, salvo endossos impróprios. Apenas eventuais títulos, regidos pelo Código Civil, se submetem ao art. 914 CC, onde se afirma que o endossante não responde pelo pagamento, salvo cláusula expressa em contrário. De modo que o endosso só gera responsabilidade ao endossante, se ele expressamente assumir a responsabilidade, nos termos infra: Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título. § 1 o Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário 17 Em sentido contrário, as leis especiais, da maioria dos títulos de crédito, rezam que o endossante se obriga ao pagamento, se tornando devedor solidário, por um simples endosso, sem exigir a cláusula especial referida no Código Civil. 7.2.3. RESPONSABILIDADE ENTRE ENDOSSANTE E PORTADOR EM CASO DE MÁ- FÉ A responsabilidade do endossante pelo pagamento é flexibilizada em caso de má-fé do portador. Em regra, o portador pode acionar qualquer dos antecessores (subscritor/emitente, endossantes e avalistas) para que realizem o pagamento do título, não podendo os mesmos alegarem a relação causal para se desvincularem da obrigação expressa no título. Assim, a relação causal só pode ser arguida perante o credor com quem está relacionado diretamente no título. Entretanto, caso este portador tenha agido de má-fé, poderá ter recusado o pagamento do título com fundamento em exceções pessoais, causais, referente a qualquer dos codevedores. O art. 17, in fine da LUG estabelece a não proteção ao terceiro adquirente de má-fé, aquele que adquiriu o título para propositalmente prejudicar o devedor. Portanto, esse terceiro de má-fé adquire apenas o direito derivado, e não o originário, ficando sujeito às exceções que o devedor pode arguir com base na relação causal, como se vê da leitura dos artigos da LUG: Art. 16. O detentor de uma letra é considerado portador legitimo se justifica o seu direito por uma serie ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco. Os endossos riscados consideram-se, para este efeito, como não escritos. Quando um endosso em branco é seguido de um outro endosso, presume-se que o signatário deste adquiriu a letra pelo endosso em branco. Se uma pessoa foi por qualquer maneira desapossada de uma letra, o portador dela, desde que justifique o seu direito pela maneira indicada na alínea precedente, não é obrigado a restituí- la, salvo se a adquiriu de má-fé ou se, adquirindo-a, cometeu uma falta grave. Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor. 18 O Código Civil, da mesma forma, consagraa boa-fé como requisito para a responsabilização solidária dos devedores, bem como a má-fé como forma de eventual exoneração de responsabilidade: 7.2.4. ENDOSSOS NULOS PARCIAL – ART 12, segunda linha - endosso parcial é nulo CONDICIONAL - Art. 12. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado considera-se como não escrita RISCADO - Art. 16. O detentor de uma letra é considerado portador legitimo se justifica o seu direito por uma serie ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco. Os endossos riscados consideram-se, para este efeito, como não escritos. 7.2.5. FIGURANTES: ENDOSSANTE: quem transmite o título (transmitente) ENDOSSATÁRIO: quem recebe o título (novo credor) 7.2.6. CLASSIFICAÇÃO: O endosso pode ser próprio (translativo da propriedade) ou impróprio. O endosso próprio pode ser em branco ou em preto; já o endosso impróprio pode ser: endosso-procuração (ou endosso-mandato), endosso-caução (ou endosso-pignoratício) e endosso-fiduciário. 7.2.7. ENDOSSO PRÓPRIO: Art. 901. Fica validamente desonerado o devedor que paga título de crédito ao legítimo portador, no vencimento, sem oposição, salvo se agiu de má-fé. Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé. Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados. Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé. 19 É o endosso clássico, que transfere a propriedade do título e o endossante se torna também responsável pelo seu pagamento, bastando uma simples assinatura, podendo ser na forma “em branco” ou “em preto” e nunca pode trazer uma condição de validade. No ENDOSSO EM BRANCO, apõe-se, simplesmente, a assinatura do endossante, sem se designar o beneficiário do endosso, neste caso o título passa a circular como se fosse ao portador. Como se vê no art.12, 13 e 14 da LUG. No ENDOSSO EM PRETO o endossante designa, acima da sua assinatura, o nome do endossatário, a quem se destina o endosso. O endosso em preto pode ser concedido tanto no dorso como na face da letra, pois a Lei Uniforme somente ao endosso em branco exigiu que fosse conferido no verso.”19 7.2.7. ENDOSSOS IMPRÓPRIOS: São as formas de endosso tidas por irregulares, também chamado de “endosso impropriamente dito”, sendo aquele que, na verdade, não transfere a propriedade do título do endossante ao endossatário, ou aquele em que o endossante não assume ou limita a responsabilidade pelo pagamento, e podemos como exemplos, citar o endosso-mandato e o endosso-caução, explicados a seguir: 19 REQUIÃO, Rubens. Op. cit.. p. 333. Art. 12. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado considera-se como não escrita. O endosso parcial é nulo. O endosso ao portador vale como endosso em branco. Art. 13. O endosso deve ser escrito na letra ou numa folha ligada a esta (anexo). Deve ser assinado pelo endossante. O endosso pode não designar o benefício, ou consistir simplesmente na assinatura do endossante (endosso em branco). Neste último caso, o endosso para ser válido deve ser escrito no verso da letra ou na folha anexa. Art. 14. O endosso transmite todos os direitos emergentes da letra. Se o endosso for em branco, o portador pode: 1º) preencher o espaço em branco, quer com o seu nome, quer com o nome de outra pessoa; 2º) endossar de novo a letra em branco ou a favor de outra pessoa; 3º) remeter a letra a um terceiro, sem preencher o espaço em branco e sem a endossar 20 7.2.8. ENDOSSOS QUE LIMITAM A TRANSFERÊNCIA DO TÍTULO: a) ENDOSSO-PROCURAÇÃO ou ENDOSSO-MANDATO transmite ao mandatário- endossatário, que passa a ter, também, a posse do título, o poder de efetuar a cobrança, dando a devida quitação. Com o endosso-procuração a posse do título, mas não a disponibilidade do crédito pertencente ao endossante. O endossatário para levar a protesto o título deve ser investido de poderes especiais. O endossante que recebe o título por mandato só transfere o poder que recebeu, ou seja, seu endosso apenas transfere poderes de procurador. O endosso mandato se difere das procurações em geral, eis que nesta modalidade, ainda que sobrevinda a morte do endossante mandatário, o continua responsável. Neste caso a representação é objetiva, independe de vontade. Explicando melhor, no endosso mandato não ocorre como nos contratos, a relação não é “institui personae”, mas sim de natureza objetiva. De modo que, se o mandante morre extingue o contrato, aqui a relação é de representação, se o endossante morrer não se extingue, é de natureza objetiva, mas se morrer lá no mandato extingue o contrato. Aqui a relação não termina, ela se prolonga no tempo. Exemplo prático de uma cadeia com endosso mandato: A B C D E F No caso, E, recebeu um endosso mandato de D. A, B, e C - Podem invocar contra E o que tinha contra o seu endossante Art. 18. Quando o endosso contém a menção "valor a cobrar" (valeur en recouvrement), "para cobrança" (pour encaissement), "por procuração" (par procuration), ou qualquer outra menção que implique um simples mandato, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador. Os coobrigados, neste caso, só podem invocar contra o portador as exceções que eram oponíveis ao endossante. O mandato que resulta de um endosso por procuração não se extingue por morte ou sobrevinda incapacidade legal do mandatário. Endosso mandato 21 F não pode cobrar de E ou de D, porque recebeu por procuração, pois E só tem poderes para dar procuração. Se D morrer não extingue os poderes de E. b) ENDOSSO-CAUÇÃO teve resolvida a divergência que existia acerca de sua habilidade com a introdução do art. 19, L.U.G., que o admite. Com esta forma de endosso, dá-se o título em garantia ao endossatário que poder exercitar todos os direitos do mesmo emergentes, mas o endosso realizado por ele vale apenas como endosso-procuração. Exemplo prático de uma cadeia com endosso caução: A B C D E F No caso, E, recebeu um endosso caução de D. E pode cobrar de A, B, C, para efetivar a garantia. F só pode receber o título de E se for endosso procuração. Pois E não tem a propriedade do título, que continua sendo de D. Endosso-caução e endosso-mandato. A semelhança entre estes dois tipos de endosso consiste em serem modalidades de endosso impróprio, ou seja, não opera a transferência da propriedade do título, que remanesce em poder do endossante, mas tão- somente transfere o exercício dos direitos decorrentes do título. Por isso, no endosso-caução e no endosso-mandato o endossante não fica vinculado cambiariamente ao endossatário como Art. 19. Quando o endosso contém a menção "valor em garantia", "valor em penhor" ou qualquer outra menção que implique uma caução, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas um endosso feito por ele só vale como endosso a título de procuração. Os coobrigados não podem invocar contra o portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais delescom o endossante, a menos que o portador, ao receber a letra, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor. Endosso caução 22 responsável pelo pagamento e aceite da letra de câmbio. Assim, o endossatário não tem ação contra o endossante baseada no título objeto de endosso-mandato e endosso-caução (ação cambiária), mas apenas em face dos devedores diretos e de regresso anteriores ao endossante-mandante e ao endossante-caucionante. Tanto no endosso-mandato, quanto no endosso-caução. 7.2.9. ENDOSSOS QUE LIMITAM A RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DO TÍTULO: a) ENDOSSO SEM GARANTIA está previsto na parte inicial do artigo 15 da LUG, O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra, e diverge do art. 914 do Código Civil, conforme sobredito. O endossante que insere tal cláusula em seu endosso pode eximir-se da responsabilidade tanto pelo pagamento, como pelo aceite. Ele restringe a sua responsabilidade, perante a pessoa a quem ele endossou e os seguintes. A forma de realização deste endosso se faz utilizando qualquer palavra que implique na restrição: “endosso sem garantia”, “endosso sem responsabilidade”, “endosso sem ser devedor” etc. Exemplo prático de uma cadeia, com endosso sem garantia: A B C D E F No caso, E, recebeu um endosso de D, com cláusula sem garantia. D não é obrigado a pagar E, nem F. F e F só podem cobrar dos antecedentes de D, ou seja, de A, B e C, pois D excluiu a sua garantia. Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra. O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada. Endosso sem garantia 23 D pode invocar contra E e F as exceções, pessoais e negociais, que tem contra C. Esquema de Luiz Emygdio F. da Rosa b) ENDOSSO PROÍBIDO também está previsto no art. 15 da LUG, mas na parte final, O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada., e também diverge do art. 914 do Código Civil, conforme sobredito. O endossante que insere tal cláusula em seu endosso pode eximir-se da responsabilidade tanto pelo pagamento, como pelo aceite. Mas a diferença em relação ao endosso “sem garantia” é que ele restringe a sua responsabilidade, não perante a pessoa a quem ele endossou, mas em relação ao terceiro que o recebeu por meio de outro endosso, quando este estava proibido. Exemplo prático de uma cadeia, com endosso proibido: Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra. O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada. Endosso sem garantia 24 A B C D E F No caso, E, recebeu um endosso de D, com cláusula de proibição de novo endosso. D continua obrigado a pagar E, mas não se obriga perante F, pois proibiu novo endosso. F só pode cobrar de E, A, B e C. D pode invocar contra F as exceções, pessoais e negociais, que tem contra C. Esquema de Luiz Emygdio F. da Rosa A cláusula proibitiva de novo endosso não se confunde com a cláusula excludente da responsabilidade, que também pode ser inserida por endossante (LUG, art. 15). A cláusula sem garantia exonera o endossante que a insere da responsabilidade cambiária perante qualquer portador. Enquanto a cláusula proibitiva de novo endosso não afasta a responsabilidade do endossante para com o seu endossatário, porque só não responde perante os portadores subsequentes a este endossatário. 7.2.10 OUTROS TIPOS DE ENDOSSO: ENDOSSO TARDIO: ocorre após o vencimento do título, tem os mesmos efeitos do anterior ao vencimento (art. 20, L.U.G.). Todavia, apenas no caso do endosso posterior ao protesto, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz os efeitos de uma cessão de crédito. É bom ressaltar que o endosso sem data, presume-se (júris tamtum) que tenha ocorrido antes do prazo fixado pata o protesto. 25 ENDOSSO SEM DATA: considera-se endossado o título antes do vencimento. COMPARAÇÃO ENTRE ENDOSSO E CESSÃO: Antes de delinear as diferenças, objetiva-se a cessão de crédito, que está prevista nos arts. 286 e seguintes do Código Civil, Conceito: Negócio jurídico bilateral, pelo qual o credor transfere a outrem seu direito na relação obrigacional. - Figuras: CEDENTE: credor que transfere seus direitos CESSIONÁRIO: terceiro que recebe o crédito CEDIDO: devedor Endosso Cessão de Crédito O endossante responde pela existência do crédito O cedente responde apenas pela validade do crédito. O endossante responde, em regra, como coobrigado. A outra diferença reside em que o endossante não precisa comunicar ao devedor que ocorreu a transferência do crédito. O cedente, caso ocorra a transferência, deverá comunicá-la ao cessionário. O endosso é ato unilateral que impõe forma solene: a escrita O título vira cessão quanto o portador da cambial, na emissão do título, não permitir que o mesmo circule mediante endosso. Esta cláusula se insere no bojo do mesmo, a “cláusula não à ordem”, contudo ele poderá circular ainda, mediante o instituto da cessão civil de crédito, em que o cedente transfere o crédito Art. 20. O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. Salvo prova em contrário, presume-se que um endosso sem data foi feito antes de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto. 26 ao terceiro, que denomina-se cessionário. É um ato bilateral que gera efeitos para ambas as partes envolvidas. Figuras intervenientes: emitente, beneficiário – endossante – endossatário Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável perante o cessionário, pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé (art. 295 do CC). É direito autônomo em relação ao crédito transferido. Figuras intervenientes: A – emitente, Beneficiário - cedente e C – cessionário A nulidade de um endosso não afeta a validade e eficácia dos outros endossos existentes na cártula. Já na cessão civil, esta é vinculada ao crédito transferido e por esta vinculação, caso haja a nulidade de algumas delas, esta seqüela da nulidade atinge a todas. O endossatário pode cobrar a dívida de todos os coobrigados, não existe o benefício de ordem, neste caso. Somente do emitente (devedor), pode o cessionário cobrar a dívida. Caso o devedor seja executado, nada poderá ser alegado como matéria de defesa em relação ao endossante. Já na cessão, o devedor poderá alegar na defesa matéria em relação ao cessionário. Segundo dispõe o artigo 912 do Código Civil, é nulo o endosso parcial. Já na cessão civil, poderá ocorrer a cessão parcial do crédito. BRUNO, Rachel Direito Empresarial – Coleção Tópicos de Direito, vol. 8, Rio de Janeiro: Editora LúmenJúris, p.177. 6 ibidem, p.177. 21 www.pidcc.com.br QUADRO COMPARATIVO DE ENDOSSO E CESSÃO: ENDOSSO CESSÃO é circulação dos títulos (lei cambiária) é transferência de direitos (Código Civil) não solene (mera assinatura) solene circula o bem corpóreo (título) transmite bem incorpóreo (crédito) Inoponível exceções pessoais Oponível as exceções pessoais é total pode ser total ou parcial Não exige notificação exige notificação do devedor Forma – mera assinatura no verso notificação Forma: incluir no endosso os termos: “não a ordem” ou “proibido novo endosso” 27 7.3. AVAL – art. 30 a 32 da Lei Uniforme de Genebra - Aval = “a valle” = valere = “à valoir” = “ao pé” ou “embaixo de” Conceito: “Entende-se por aval a obrigação cambiária assumida por alguém no intuito de garantir o pagamento nas mesmas condições de um outro obrigado. “ O aval é a obrigação cambiária assumida por alguém no intuito de garantir o pagamento do título nas mesmas condições de um obrigado. Responsabilidade: art. 32 L.U.G Avalista é igual o avalizado: O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada (art. 32, primeira parte). Nulidade da obrigação: A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer razão que não seja um vício de forma (art. 32, segunda parte). Sub-rogação e direito de regresso: e se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra (art. 32, terceira parte). Local: art. 31, primeira, segunda e terceira parte. Tipos, Branco ou preto: art. 31, quarta parte. É uma garantia pessoal, que reforça o pagamento da letra. Art. 31. O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa. Exprime-se pelas palavras "bom para aval" ou por qualquer fórmula equivalente; e assinado pelo dador do aval. O aval considera-se como resultante da simples assinatura do dador aposta na face anterior da letra, salvo se se trata das assinaturas do sacado ou do sacador. O aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta de indicação, entender-se-á pelo sacador. 28 Pode se prestada por um estranho ou mesmo por quem já anteriormente tenha se obrigado.”20 O avalista é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele avalizada,21 ou seja, o avalista se equipara ao avalizado . Por isso que em certas ocasiões é chamado de co-aceitante, co-endossante eco-sacador. “A simples assinatura do próprio punho do avalista, ou de seu mandatário especial é suficiente para a validade do aval.”22 (Prof. Rubens Requião). O art. 31 da L.U.G. diz que o aval se considera como resultante da simples assinatura do dador aposta na face anterior da letra, salvo as assinaturas do sacado ou do sacador. Se o aval foi dado no verso, deve vir com a expressão “em aval de” ou outra semelhante41 (Prof. Fran Martins). Na prática, deve-se inserir a expressão para não se confundir com o endosso em branco, que, nessa situação, o Prof. Fran Martins41, Silva Pinto, Mossa, Supino, De Semo e Arminjon et Carry, consideram a assinatura como ineficaz . Frise-se que não se considera a firma como inexistente ou nula, mas ineficaz de produzir efeitos cambiários, portanto, sem afronta ao princípio de que em títulos de crédito não existem assinaturas inúteis. O aval deve ser dado no próprio título. Não existe obrigatoriedade no sentido de se exigir uma ordem cronológica ao aval. O aval antecipado é a obrigação a que o avalista pretende equiparar-se, dada a autonomia das obrigações cambiárias. Divergências surgem quanto à eficácia do aval antecipado na hipótese de não se verificar a existência da obrigação principal. “Para autores como J. X. Carvalho de Mendonça, Lacerda e Margarino Torres, que vêem no aval antecipado uma obrigação condicional, cuja validade fica dependente da existência da obrigação avalizada, não produz nenhum efeito cambial. João Eunápio Borges23 conclui, entretanto, que é válido o aval em favor do sacado, antes do aceite. De acordo com o entendimento do TJDFT e do STJ, a exigência da vênia conjugal, exceto se o regime de bens for o da separação total , prevista no Art. 1.647, III C.C-2002, em relação ao aval, não se aplica aos títulos de crédito típicos/nominados, disciplinados por lei especial, como a nota promissória, letra de 20 MARTINS, Fran. Op. cit. p. 205. 21 A tradução da L.U.G., neste caso, cometeu um erro trocando a palavra avalisada por afiançada, entretanto, com vistas ao texto original em francês, constata-se o erro na tradução: lê denneur d’aval est tenu de la même maniére que celui dont il s’est porte garant. 22 REQUIÃO, Rubens. Op. cit.. p. 343. 41 MARTINS, Fran. Op. Cit. p.159/160. 23 BORGES, João Eunápio. Do Aval. Rio de Janeiro: Forense, 1955. 29 câmbio e outros. Nesse caso, o mencionado dispositivo, aplica-se aos títulos de crédito inominados/atípicos, disciplinados somente pelo CC-2002. In vervis: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CAMBIÁRIO E CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. AMEAÇA DE CONSTRIÇÃO PATRIMONIAL. CABIMENTO. ARTIGO 674 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ANULAÇÃO DE AVAL POR AUSÊNCIA DE OUTORGA UXÓRIA OU MARITAL. ARTIGO 1647, INCISO III, DO CÓDIGO CIVIL. DISPOSIÇÃO RESTRITA AOS TÍTULOS DE CRÉDITO INOMINADOS OU ATÍPICOS. OBRIGAÇÃO CAMBIÁRIA TÍPICA. NULIDADE INEXISTENTE. ARTIGO 903 DO CÓDIGO CIVIL. INCIDÊNCIA DO NORMATIVO ESPECIAL. LEI UNIFORME DE GENEBRA. PRINCÍPIOS NORMATIVOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO. OBRIGAÇÃO E RESPONSABILIDADE DO AVALISTA. ENUNCIADO 114 DO CONSELHO DE JUSTIÇA FEDERAL. SENTENÇA REFORMADA. (...) 2. O aval é ato cambiário pelo qual o avalista se compromete a adimplir obrigação estampada em título de crédito, nas mesmas condições do avalizado, devedor do título, consubstanciando-se, pois, em garantia pessoal à satisfação do crédito. 3. Consoante disciplina inserta no artigo 903 do Código Civil, aos títulos de crédito regidos por lei específica, as disposições do Código Civil são aplicadas apenas em caráter subsidiário. 4. A exigência de outorga conjugal para o aval - artigo 1.647, III, do Código de Processo Civil - deve ficar restrita aos títulos de crédito inominados ou atípicos, não regulados por norma especial, sob pena de descaracterizar o instituto, voltado a conferir segurança ao cumprimento da obrigação inserto no título de crédito. (...) 6. Segundo o Enunciado 114 do Conselho de Justiça Federal, o aval não pode ser anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o inciso III do artigo 1.647 do Código Civil apenas caracteriza a inoponibilidade do título ao cônjuge que não assentiu. 7. Apelo conhecido e provido. (Acórdão n.1093598, 20170310062833APC, Relator: SIMONE LUCINDO 1ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 02/05/2018, Publicado no DJE: 09/05/2018. Pág.: 367-376) Figurantes: AVALISTA: quem dá a garantia AVALIZADO: pessoa a quem é dada a garantia Aval Parcial 30 É possível o aval parcial, nos termos do art. 30 da L.U.G, onde “O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval. ” Apesar do art. 897, parágrafo único C.C. dispor da vedação do aval parcial, dispõe o art. 903 que “Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código. ” Sendo assim, somente aplica-se o Código Civil no silêncio da Lei Especial, o que não é caso, em se tratando de Letra de Câmbio e Nota Promissória. No mesmo sentidoautorizando o aval parcial, anote-se: “COMERCIAL E CIVIL. AVAL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INEXISTÊNCIA DE BENEFÍCIO DE ORDEM. INADIMPLÊNCIA DO DEVEDOR. DESCONTOS EM CONTA CORRENTE. AVALISTA. LIMITAÇÃO. PREVISÃO CONTRATUAL. ADMISSIBILIDADE. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA. (...) III - Havendo previsão na cédula de crédito bancário de que os descontos na conta corrente do avalista deveriam respeitar o limite de 30% (trinta por cento) da sua renda líquida mensal, essa cláusula deve ser respeitada, em homenagem ao pacta sunt servanda e ao princípio da dignidade da pessoa humana. IV - Deu-se parcial provimento ao recurso.” (Acórdão n. 557549, 20100110287542APC, Relator JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA, 6ª Turma Cível, Julgado em 14/12/2011, DJ 12/01/2012 p. 173). Avalista Simultâneo e Avalista Sucessivo: AVALSITAS SIMULTÂNEOS AVALISTAS SUCESSIVOS AVAL AVAL AVAL AVAL A A B B Se A paga, só poderá cobrar a metade de B. Se B paga, pode cobrar tudo de A, mas não o contrário. Art. 30. O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra. Súmula 189 STF: Avais superpostos em branco são tipos como simultâneos e não sucessivos. 31 O esquema acima desenha o direito de regresso de um avalista que paga ao portador. No aval simultâneo, a relação entre os avalistas é extracambiária (direito comum ou civil), posto que o que pagou só pode cobrar a metade do outro. Já no aval sucessivo, a relação entre os avalistas é cambiariforme (direito cambiário), pois o segundo que pagou pode cobrar integralmente o primeiro. Em outra situação, onde o portador detenha um título com avais simultâneos ou sucessivos, pouco importa a posição dos avais, eis que poderá acionar um ou outro ou todos ao mesmo tempo (avalistas e avalizado), pois há a solidariedade cambiária e o princípio da equiparação. COMPARAÇÃO ENTRE AVAL x FIANÇA: Tanto o aval como a fiança são garantias pessoais, também chamadas de garantias fidejussórias, do latim fidejussio. A garantia fidejussória não se confunde com a garantia fiduciária (alienação fiduciária em garantia, onde: CREDOR → domínio resolúvel e posse indireta da coisa móvel; DEVEDOR → posse direta e depósito – art. 1º do Dec-Lei 911/69). O aval é instituto típico do direito cambiário, não se confundindo com instituto da fiança, pois enquanto esta é uma garantia acessória, aquele, como toda obrigação cambiária, é autônomo em relação a qualquer outra. QUADRO COMPARATIVO DE AVAL E FIANÇA: AVAL FIANÇA Garantia cambiária Entrega sem garantia do regresso Parcial Limitada e comporta exoneração Inoponibilidade das exceções Oponível as exceções Inexiste o benefício de ordem Há o benefício de ordem, em regra Não há solidariedade passiva Há solidariedade passiva Equipara-se ao devedor principal É subsidiário ao principal. Não há autorização para penhora do bem de família Há expressa autorização para penhora do bem de família (L. 8.009/90) 32 7.4. ACEITE - (art. 21 a 29 da Lei Uniforme de Genebra) 7.4.1. CONCEITO: Art. 25 da LUG O aceite é escrito na própria letra. Exprime-se pela palavra "aceite" ou qualquer outra palavra equivalente; o aceite é assinado pelo sacado. Vale como aceite a simples assinatura do sacado aposta na parte anterior da letra Art. 28. O sacado obriga-se pelo aceite pagar a letra à data do vencimento. Entende-se por aceite o ato formal segundo o que o sacado se obriga a efetuar, no vencimento, o pagamento da ordem que lhe é dada.24 Com a assinatura do aceitante no título, o mesmo se torna o principal obrigado pelo pagamento do título. O aceite é puro e simples, bastando a assinatura do sacado no anverso, ou no verso desde que precedido da palavra “aceito”, no entanto, admite-se que o sacado limite o aceite a uma parte da importância sacada, porém, constitui recusa qualquer modificação introduzida pelo aceite ao enunciado do título. O aceite pode ser parcial, o art. 26 da LUG afirma que o aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da importância sacada. O aceite modificado tem o mesmo efeito do limitado, pois a linha 2 do art. 26 da LUG afirma que “qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da letra equivale a uma recusa de aceite”, entretanto, o aceitante fica “obrigado nos termos do seu aceite”. Tanto no caso do aceite parcial, quanto no caso do modificado, a consequência será equivalente à recusa do aceite, com o vencimento antecipado do título e o retorno da obrigação ao sacador. O aceite informado significa que o aceite também pode ser feito em documento separado, pois o art. 29, linha 2 da LUG informa que se o sacado tiver informado por escrito o portador ou qualquer outro signatário da letra de que aceita, fica obrigado para com estes, nos termos do seu aceite. 24 MARTINS, Fran. Op. cit. p. 180 33 O aceite riscado é nulo. Nos termos do art. 29 da LUG, se o sacado, antes da restituição da letra, riscar o aceite que tiver dado, tal aceite é considerado como recusado. Salvo prova em contrário, a anulação do aceite considera-se feita antes da restituição da letra. “O ato de submeter a letra ao reconhecimento do sacado chama-se apresentação.”25 Sendo que a apresentação deve ser efetuada no domicilio do sacado e até a data do vencimento. Assim, como o endossante pode estipular que a letra deve ser apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo, salvo se ela tiver sido declarada não aceitável pelo sacador. Apresentação apenas para pagamento ocorre quando o título é sacado à vista, posto que o ato de apresentar, o título com vencimento à vista, dificilmente se compreende para aceitação, mas sim para pagamento. Assim, compreendemos que a apresentação para aceite se dá, geralmente, em títulos que vencem e serão pagos a prazo. Caso o título já tenha vencido a apresentação se faz para o pagamento. São várias as formas de datar o aceite. O sacador pode estipular que a apresentação ao aceite não poderá efetuar-se antes de determinada data, numa data certa, até o vencimento, ou a certo termo de vista. Assim temos várias formas de estipular o prazo do aceite: Até o vencimento – art. 21 da LUG Data certa – linha 3 do art. 22 da LUG Não aceitável – linha 2 e 4 do art. 22 da LUG A certo termo de vista – art. 23 da LUG O aceite deve ser aposto no próprio título, “não valendo em relação a terceiros a promessa feita em documento separado. ” 26 O art. 29 da Lei Uniforme de Genebra (L.U.G) introduziu importante alteração no direito cambiário pátrio, na medida em que passou a admitir o aceite mediante a informação por escrito ao portador ou a qualquer signatário de que aceita o título, ficando obrigado perante eles, nos termos de seu aceite. A recusa do aceite, total ou parcialmente, ou o aceite modificado, gera o vencimento antecipado do título, provando-se por via de protesto (art. 43, L.U.G.). Conforme registra o Prof. Amador Paes de Almeida: “Recusando-se ao aceite, todavia, não se obrigará cambialmente o sacado, só ensejando ao credor ação ordinária em que se faz referência à origem do débito.”27 25 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 18. ed., São Paulo: Saraiva, 1992, v. 2, p. 336. 26 REQUIÃO, Rubens. Op. cit.p. 337. 27 ALMEIDA, Amador Paes. Teoria e Prática dos Títulos de Crédito. 12. ed., São Paulo: Saraiva, 1989, p. 30. 34 O direito brasileiro foi inovado, também, pelo surgimento da cláusula non acceptable dos franceses. Entretanto, a lei exclui a cláusula “sem-aceite” ou de “não-aceitação” nos casos em que se tratar de um título cujo pagamento deva ser realizado no domicílio de terceiro ou em localidade diferente da do domicílio do sacado.28 O emérito professor paranaense lembra que as “letras sacadas a certo termo de vista não podem, evidentemente, dispensar a apresentação ou aceite que se determina o termo do prazo de vencimento.”29 Assim, para evitar o vencimento antecipado do título o art. 22, linha 4, da LUG permite que o sacador estipule a cláusula não aceitável, afirmando que todo endossante pode estipular que a letra deve ser apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo, salvo se ela tiver sido declarada não aceitável pelo sacador. 8. REQUISITOS FORMAIS INDISPENSÁVEIS AO TÍTULO DE CRÉDITO A Lei Uniforme e Genebra – LUG – dispõe sobre os requisitos básicos, comuns a maioria dos títulos de créditos, são eles: LETRA DE CÂMBIO – ART. 1º NOTA PROMISSÓRIA – ART. 75 A palavra “Letra de Câmbio” A palavra “Nota Promissória” A ORDEM de pagar O PROMESSE de pagar O nome do beneficiário O nome do beneficiário A época do pagamento A época do pagamento O lugar do pagamento O lugar do pagamento O lugar e a data onde foi passado O lugar e a data onde foi passado O nome de quem deve pagar - sacado A assinatura de quem passa A assinatura de quem passa Omissões – A ausência dos requisitos formais gera nulidade, salvo: Falta de data de pagamento – considera-se a vista Falta do local de pagamento – considera-se o local do devedor principal, em contrário o § 2º do art. 889 CC. Local de emissão – Considera-se o local do emitente 28 Cf. REQUIÃO, Rubens. Op. cit. p. 338. 29 REQUIÃO, Rubens. Op. cit. p. 338. STF Súmula nº 387 - A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.