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Linguistica geral - Unidade II

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3 O ESTRUTURALISMO E O GERATIVISMO: CONCEITOS BÁSICOS
Nesta unidade, você entrará em contato com os conceitos mais relevantes das correntes linguísticas 
denominadas Estruturalismo e Gerativismo, que tiveram, respectivamente, em Ferdinand de Saussure 
e Noam Chomsky os seus representantes maiores. Vamos, também, aprofundar alguns itens já apontados 
na unidade anterior.
O Estruturalismo teve suas bases apresentadas no livro Curso de Linguística Geral, obra póstuma de 
Ferdinand de Saussure. Sabemos ainda que, no Brasil, o impacto do Estruturalismo foi muito grande. 
Ocorreu nos anos 1960, coincidindo com o momento em que a linguística passava a ser reconhecida 
como uma ciência autônoma. Vejamos, nesta unidade, como essa corrente linguística explica os 
fenômenos língua, fala, linguagem, dentre outros.
Alguns conceitos do movimento linguístico conhecido como Estruturalismo já foram vistos em 
seções anteriores. Apesar de já apresentados, serão retomados visando a uma melhor compreensão do 
tema.
Nesta unidade, você também terá contato com a corrente linguística chamada de Gerativismo. 
“O gerativismo (...) teve uma influência enorme, não apenas em linguística, mas também em filosofia, 
psicologia e outras disciplinas preocupadas com a linguagem” (LYONS, 1982, p. 211).
Gerativismo é o termo utilizado para se referir à teoria da linguagem desenvolvida por Noam Chomsky 
no final da década de 1950. Essa teoria nasceu com o nome de gramática gerativo-transformacional.
A gramática gerativa, de acordo com o pensamento de Chomsky, estava interessada, entre outras 
questões, em mostrar que, ao se analisar um enunciado, era preciso levar em conta os diferentes níveis 
da estrutura gramatical, denominados superficial e profundo.
Conto com a sua participação para que essa viagem por dois paradigmas importantíssimos da 
linguística seja bem produtiva.
3.1 O estruturalismo – conceitos básicos
Para iniciar o assunto, que tal relembrar o pensamento de Saussure? O linguista afirmava que “o 
ponto de vista cria o objeto”. Portanto, prossiga a leitura considerando tratar-se aqui de “um ponto 
de vista” sobre o objeto. Um ponto de vista que analisa e interpreta seu objeto de estudo a partir de 
considerações científicas. Afirma Martinet (1978, p.3), ao contrapor a ciência linguística à gramática 
normativa:
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A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um 
estudo é científico quando se baseia na observação dos fatos e se abstém 
de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de certos princípios 
estéticos ou morais. “Científico” opõe-se, portanto, a “prescritivo”.
Com isso em mente, é importante reconhecer que a principal característica do estruturalismo, ou 
abordagem estrutural da língua, é a definição de língua como um “sistema de relações”. Isso significa que todas 
as línguas são constituídas por elementos linguísticos, por exemplo, fonemas e morfemas. Esses elementos 
constituem subsistemas da língua, ou seja, são conjuntos organizados de elementos linguísticos. Conjuntos 
organizados porque os elementos de cada subsistema são inter-relacionados (conforme a definição de sistema 
vista anteriormente). A organização diz respeito à inter-relação entre os vários elementos daquele conjunto. 
Os subsistemas da língua, por sua vez, são inter-relacionados entre si, constituindo um conjunto organizado 
de subsistemas da língua, que constitui o “sistema linguístico”. Consideremos o que segue:
Quadro 9 – Sistema linguístico
• fonemas: sons específicos de uma língua. Exemplo de fonema: /o/, /f/;
• morfemas: menores elementos da língua com significado – uma palavra ou parte de uma 
palavra. Exemplo: flor, florido, florescer;
• conjunto organizado de fonemas: sistema fonológico – subsistema da língua;
• conjunto organizado de morfemas: sistema morfológico – subsistema da língua;
• o conjunto organizado de subsistemas: sistema linguístico – língua.
O que regula o funcionamento das unidades que compõem o sistema linguístico 
são normas que internalizamos muito cedo e que começam a se manifestar 
na fase de aquisição da linguagem. Trata-se de um conhecimento adquirido 
no social, na relação que mantemos com o grupo de falantes do qual fazemos 
parte. (...) O sistema fonológico de uma língua pode ser expresso não a partir 
de uma substância sonora, mas, por exemplo, a partir de sensações visuais 
(movimento dos lábios). (...) A substância não determina de modo algum as 
regras do jogo linguístico, que são independentes do suporte físico – som, 
movimento labial, gestos etc. – em que se realizam (COSTA, 2009, p.115).
Que tal um passeio pela internet?
Se você for a um site de busca e nele inserir a palavra “Saussure”, notará uma grande quantidade 
de textos sobre o linguista. Certamente você deverá estar atento ao que dizem esses textos, pois muitos 
apresentam ideias desconexas ou até mesmo incorretas. No entanto, uma coisa é certa: todos os textos 
que encontrar permitirão a você confrontar seus conhecimentos aos apresentados, retomando as 
discussões saussureanas. Ou seja: a tarefa maior é questionar os textos disponíveis, articulando-os ao 
que você sabe ou tem discutido no curso. Então, mãos à obra!
Há em Saussure um aspecto muito interessante a ser discutido: as dicotomias apresentadas em sua 
teoria. A primeira coisa a pensar é: “Afinal, o que são dicotomias?”
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Essa é sua tarefa: procure o significado de dicotomia e experimente relacioná-la a Saussure.
 Saiba mais
Leia um pouco mais sobre as dicotomias saussureanas. Para isso, sugerimos:
As Dicotomias Saussureanas. Disponível em: <http://semiotica-unicv.
blogspot.com/2010/05/as-dicotomias-saussureanas.html>. Acesso em: 
20.Out.2010.
Saussure e a Língua Portuguesa. Disponível em: <http://www.filologia.
org.br/viisenefil/09.htm> Acesso em: 20.Out.2010.
Costa (op. cit., p.115) afirma ainda: “A abordagem estruturalista entende que a língua é forma 
(estrutura) e não substância (a matéria a partir da qual ela se manifesta)”.
Afirma Weedwood (2002) que o termo estruturalismo entendido de acordo com o pensamento 
europeu corresponde a se pensar que existe uma “estrutura relacional abstrata” subjacente a todo e 
qualquer enunciado real. Essa estrutura abstrata subjacente ao comportamento linguístico do falante é 
que se constitui no objeto de estudos dos linguistas.
3.2 Os conceitos dicotômicos em Saussure 
Antes de iniciarmos as discussões sobre as dicotomias saussureanas, focalizamos o conceito de signo 
linguístico, pois é a partir de sua compreensão que todos os demais conceitos poderão ser melhor 
compreendidos, inclusive as dicotomias.
3.2.1 O signo linguístico 
Para Saussure, a língua é um sistema de signos. Não se esqueça de que por sistema entendemos 
um conjunto organizado de elementos que estabelecem relações entre si, caracterizadas pela 
interdependência. Nesse sentido, Saussure considera a língua um conjunto organizado de signos 
linguísticos. Mas o que são, efetivamente, esses signos linguísticos? Vejamos:
Signo linguístico: 
• um objeto linguístico dotadosimultaneamente de forma e sentido (TRASK, 2009, p.266).
• essencialmente psíquicos, não são abstrações; o signo – ou unidade – linguístico é uma entidade 
dupla, produto da aproximação de dois termos, ambos psíquicos e unidos pelo laço da associação; 
une, com efeito, não uma coisa a um nome, mas um conceito a uma imagem acústica (DUBOIS et 
al., 1973, p.542).
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 Observação
Atenção! Signo não é palavra.
Para entender melhor a teoria dos signos, vamos iniciar retomando o que afirma a Semiótica (ou 
Semiologia) sobre signos. Ela faz distinção entre dois tipos de signos: os denominados naturais e os 
denominados convencionais. Um signo natural pode ser, por exemplo, a fumaça de uma fogueira feita no 
meio da selva para indicar que um grupo de escoteiros está naquele local, ou o cheiro de um churrasco, as 
passadas de alguém na neve etc. O que caracteriza um signo natural é, na verdade, o indício de que existe 
uma determinada coisa conhecida em um dado contexto. Já os signos denominados convencionais são mais 
complexos porque estão relacionados à cultura de um povo. Esses signos têm características relacionadas ao 
contexto antropológico e são, a um só tempo, produto e instrumento da ação do homem no contexto.
Saussure (apud CARVALHO, 2002, p.27) preferiu adotar a palavra signo e não símbolo linguístico por 
acreditar que
o símbolo tem como característica não ser jamais completamente arbitrário; 
ele não está vazio (...). O símbolo da justiça, a balança, não poderia ser 
substituído por um objeto qualquer, um carro, por exemplo.
Para entender melhor como Saussure trabalhou e pensou os signos linguísticos, precisamos conhecer 
as característica do signo e a forma como Saussure as definiu. Também a partir daqui podemos apontar 
como significativos os conceitos dicotômicos, presentes na teoria de Saussure.
 Lembrete
Conceitos dicotômicos são os conceitos linguísticos que podem 
ser definidos de forma independente, porém são complementares ou 
interdependentes entre si.
Pressupomos, neste momento, que você já tenha feito sua excursão pela internet e já tenha se 
apropriado do significado de termos como dicotomia. Vamos, então, avançar nessa discussão. Há 
quatro dicotomias na teoria saussureana: significado x significante, língua x fala, sincronia x diacronia 
e paradigma x sintagma.
3.2.2 Significado e significante/arbitrariedade e linearidade do signo linguístico 
Considerando a noção de signo, como proposta, vejamos as considerações de Saussure sobre ela: a 
imagem acústica em um dado signo foi denominada significante e o conceito, significado. Importante 
saber, ainda, que Saussure enfatiza que a imagem acústica não pode ser confundida com o som; ela é 
psíquica e não física. Ela é a imagem que fazemos do som em nosso cérebro. 
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Lembre-se ainda: o significado e o significante estão em nosso cérebro, onde um se une ao outro. 
Dessa união resulta o signo linguístico. O signo linguístico é da língua, é da coletividade, e será 
transformado em som quando tiver início o processo de produção vocal (nas pregas vocais – como será 
visto adiante).
significante [flor] (imagem acústica que está em nossa mente)
Signo “flor” 
significado (conceito: o que é uma flor? O que a caracteriza? Que propriedades ela tem? 
etc.)
Se esses conceitos parecem, em princípio, difíceis de entender, convém lembrar, mais uma vez, 
que se trata de um ponto de vista sobre a linguagem, do ponto de vista de Saussure e daqueles que 
compartilham desse pensamento estruturalista. Visto dessa forma, como uma verdade possível dentro 
da ciência linguística, fica mais fácil sua compreensão.
Significado 
= conceito
Significante 
= imagem acústica
Signo 
linguístico+ =
O signo linguístico é a associação entre significado e significante. Não existe signo linguístico sem 
significado. Não existe signo linguístico sem significante. Na constituição do signo linguístico, o significado 
e o significante são como as duas faces de uma moeda: não é possível separar a cara da coroa.
Significado e significante são interdependentes e complementares. Interdependentes, pois um está 
associado ao outro para a constituição do signo linguístico. Complementares, pois a definição do signo 
depende da definição de cada um deles – significado e significante. Logo, significado e significante são 
conceitos dicotômicos. Veja a figura:
Campo dos objetos Campo orgânico
Pé de mesa
Pé humano
Significado
Significante
Signo Pé
Figura 3 - Significante e significado5
5 Adaptado de: http://1.bp.blogspot.com/_-3S3ok9nP0/R_UXQtYvJYI/AAAAAAAAAA0/yzdiIry_F1Q/s1600-h/funcoes 
_da_linguagem_03.gif. Acesso em: 15 set. 2010.
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No entanto, é importante salientar que a dicotomia estabelecida é diferente em cada caso:
• em relação à sincronia e à diacronia, a interdependência e a complementaridade referem-se ao 
fato de que a diacronia da língua é constituída de diferentes estados sincrônicos que se sucedem 
no tempo; a sincronia, por sua vez, é o resultado das transformações diacrônicas;
• em relação à língua e à fala, a interdependência e a complementaridade dizem da possibilidade 
de realização de cada um desses elementos;
• em relação ao significado e ao significante, a interdependência e a complementaridade dizem da 
constituição do signo linguístico.
 Saiba mais
É interessante que, a esta altura, você leia e aprofunde sua compreensão 
sobre signo linguístico. Sugerimos a leitura do seguinte texto:
FIORIN, José Luiz. “Teoria dos Signos”. In: _________ (org.) Introdução à 
Linguística. I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002. (p. 55-74)
Costuma-se pensar que as palavras existem para nomear ou referir-se às coisas existentes no 
mundo. A língua, nesse sentido, é “entendida como uma nomenclatura” (PIETROFORTE, 2002, p.85), 
“uma coleção de nomes para as coisas do mundo”. Na definição de Saussure, o que está sendo dito é que 
de um lado está o mundo, com suas coisas. De outro lado está a língua, com seus signos constituídos 
de significados e significantes. Os signos são definidos na relação com os outros signos que constituem 
o sistema linguístico. Esse sistema pode ser descrito nele mesmo, sem depender das coisas do mundo.
Ao mesmo tempo, ao dizer que os signos se definem dentro do sistema, está sendo dito que “o que 
significa são os signos em suas relações uns com os outros e não a relação entre as palavras e as coisas 
do mundo” (PIETROFORTE, p.85). Logo, “esse sistema compreende uma visão de mundo”. É, assim, uma 
“interpretação do mundo” – um princípio de classificação (PIETROFORTE, p.86). Resumindo:
Desse modo, pode-se afirmar que é a partir de uma língua que se veem as coisas do mundo e não 
o contrário. Enquanto na concepção da língua como uma nomenclatura são as coisas do mundo que 
determinam as “coisas” da língua, na concepção da língua como um princípio de classificação é a língua 
que determina as coisas do mundo (PIETROFORTE, p.86).
O conceito ou o significado (do mundo – modo de compreender o mundo) deve associar-se ao 
significante, que é a maneira de expressá-lo. Isso explicae justifica porque cada língua tem seu próprio 
sistema de signos: a “maneira de ver o mundo varia de língua para língua”. O mundo físico está ali. O que 
muda é a maneira de interpretá-lo, que se faz por meio da língua.
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Temos, aqui no Brasil, várias palavras que designam uma mesma coisa: aipim, macaxeira, mandioca. 
Essa mesma raiz comestível é conhecida em outros países, por exemplo, apenas como mandioca. Por 
que será?
Os esquimós possuem várias palavras para designar neve, enquanto nós só temos uma. Tente pensar 
em uma explicação para isso.
As culturas ou o contexto no qual os signos linguísticos circulam são determinantes no sentido 
da existência de tais signos. No caso dos esquimós, as diferentes palavras que designam neve indicam 
diferentes tipos de neve. Para os esquimós, deve ser importante diferenciar tipos de neve em sua vida 
diária, em virtude do ambiente gelado em que vivem. Já no Brasil, país tropical, não há necessidade 
dessa diferenciação. No caso dos brasileiros, as diferentes palavras que designam mandioca indicam as 
diferentes comunidades nas quais a palavra circula.
Essa diferença de princípios de categorização da realidade evidentemente não impede a 
tradução de uma língua em outra, mas é justamente por sua causa que se discutem, entre os 
profissionais da tradução, os graus de tradutibilidade entre diferentes línguas (PIETROFORTE, 
2002, p.86).
Toda essa discussão que retoma a questão da convenção que existe em relação a cada signo 
linguístico nos leva diretamente ao que afirmava Saussure sobre a arbitrariedade do signo linguístico 
e a linearidade do significante.
Afirmar que a arbitrariedade caracteriza o signo linguístico é o mesmo que afirmar que não há 
uma relação natural e necessária entre o significante – a imagem acústica – e o significado – o conceito 
– atribuídos a um dado signo linguístico. Em outras palavras, o signo linguístico não existe de uma 
determinada forma por motivação de um falante ou porque esse falante assim o escolheu, mas existe 
em função de uma dada cultura e de um grupo linguístico. Saussure (1973) insiste em afirmar que, 
em relação a um dado signo linguístico, sua existência não é determinada por um laço natural com a 
realidade.
Para refletir
— Pois bem – explicou o Gato –, um cachorro rosna quando está com raiva 
e balança a cauda quando está contente, compreende? Enquanto eu rosno 
quando estou satisfeito e balanço a cauda quando estou com raiva, está 
entendendo? Portanto eu sou louco.
— Não chamo a isso rosnar, mas ronronar.
— Chame como quiser – disse o Gato.
(Lewis Carroll, 1980, p.83 – Alice no País das Maravilhas)
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Tomemos um exemplo: o signo linguístico gato. Um falante do português brasileiro diz “gatu”: 
um significante (imagem acústica produzida na mente do falante por gatu) e um significado 
(conceito desse animal: representação mental das características desse animal). O significante 
é a “imagem acústica” que o falante do português brasileiro tem para expressar o determinado 
conceito. O conceito, ou significado, unido a esse significante, pode ser qualquer gato.
Independentemente de ser um ou outro o conceito, a relação que se estabelece entre o 
significante e o significado é totalmente arbitrária. Arbitrária porque é imotivada. Não existe 
uma razão natural, motivada para que a esse conceito se associe o significante [gatu]. A não ser 
o fato de os falantes dessa língua terem, por convenção, feito tal associação. Isso explica porque 
as línguas possuem significantes diferentes para esse mesmo conceito. Exemplo:
• inglês – “cat”
• francês – “chat”
Se a relação fosse natural, isso não poderia acontecer. Como se lê em Saussure (1973, p.87): “(...) não 
existe motivo algum para preferir soeur a sister ou a irmã, ochs a boeuf ou a boi”. Vale o mesmo quando 
pensamos em gato: “não há motivo algum para preferir cat, chat ou gato. 
Porém, de acordo com Orlandi (2002, p.23), “...é claro que, uma vez que se atribua esse nome, ele 
passa a ter um valor na língua”. Em seus cérebros, os falantes associam ao conceito “gato” a imagem 
acústica de sua língua, de seu pelo macio etc. A arbitrariedade do signo, segundo Carvalho (2002, p.32), 
“repousa no fato de que o falante não pode mudar aquilo que o seu grupo linguístico já consagrou”.
Outra característica do signo linguístico é a linearidade ou o caráter linear do significante. A 
linearidade do significante diz respeito ao seu desenvolvimento no tempo. É um contínuo sonoro: os 
vários sons que constituem os diferentes signos sucedem-se no tempo ou no espaço. Não é possível 
produzir dois sons da fala ao mesmo tempo, dois signos ao mesmo tempo ou duas palavras ao mesmo 
tempo. É como se fosse uma linha no tempo.
Essa é uma característica relevante na distinção entre os signos linguísticos e os signos visuais. 
Os signos visuais co-ocorrem no espaço. Um quadro, por exemplo, apresenta vários signos visuais ao 
mesmo tempo, transmitindo determinada mensagem para quem o vê: cor, tamanho, luminosidade, 
figura de fundo e outras. 
3.2.3 Língua/fala e linguagem 
Retomando o que foi exposto na unidade anterior, mais especificamente, ao tratar da prioridade 
da língua sobre a fala nos estudos da ciência linguística, a linguagem é constituída de duas partes: a 
língua e a fala.
Na abordagem estrutural, a linguagem é vista como uma faculdade do ser humano, uma atividade 
mental complexa, que envolve múltiplos fatores. Tem início em uma intenção de falar, que leva o sistema 
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nervoso central a emitir comandos para várias áreas distintas, envolvendo músculos, nervos e órgãos 
diversos, que participarão desde a escolha do idioma a ser utilizado, em função do ouvinte, a alterações 
na inspiração do ar pelo falante e no posicionamento dos órgãos envolvidos na articulação dos sons. 
Esses sons serão levados para o ouvinte através das ondas sonoras. Isso tudo ocorre considerando-se o 
falante e não o processo de decodificação da mensagem que envolve o ouvinte. 
Parafraseando Saussure, pode-se dizer que: o ponto de partida do circuito de comunicação situa-se 
no cérebro da loirinha, considerando que ela começou a falar. Em seu cérebro, ela codifica a mensagem. 
Esse fenômeno é inteiramente psíquico, seguido, por sua vez, de um processo fisiológico” (SAUSSURE, 
1973, p. 19). Ou seja, o cérebro transmite aos órgãos da fonação um comando para que eles se preparem 
para a emissão da mensagem, a articulação. A mensagem articulada (falada) vai da boca da moça até o 
ouvido do rapaz por meio de ondas sonoras (processo físico). A mensagem, ao ser captada pelo ouvido 
do rapaz (ouvinte), é encaminhada para seu sistema nervoso central – cérebro do ouvinte (transmissão 
fisiológica), onde será decodificada (processo psíquico). Se o rapaz responder à loirinha, o circuito todo 
se repete.
Adaptado de: Saussure (1973, p.19).
Observe o esquema da comunicação humana, apresentado por Saussure:
A B
Figura 4
Fonte: Saussure (1973, p.19).
A língua é o resultado da transformação da mensagem em um código. Codificar a mensagem 
significa transformar a mensagemem um código que seja comum aos dois, falante e ouvinte, de modo 
que a mensagem transmitida por um seja compreendida pelo outro. O processo psíquico de codificação 
é individual, porém, o código será o mesmo para o falante e o ouvinte para que a comunicação possa 
acontecer. O ouvinte vai decodificar a mensagem, ou seja, compreendê-la se, e somente se, tiver 
conhecimento desse código usado pelo falante. Logo, o código é comum aos dois. Em outras palavras, 
“a língua é uma convenção” (Saussure, op. cit., p.18). O código pertence ao coletivo. É social. 
A fala é a execução do processo psíquico. O processo fisiológico diz respeito aos comandos emitidos 
pelo cérebro que fazem com que a mensagem seja articulada, produzida, de uma ou outra forma, 
dependendo de fatores emocionais, físicos ou sociais envolvidos. A execução do processo psíquico e do 
processo fisiológico é particular de cada indivíduo. A fala é individual.
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A língua, ou o código, não sofre interferência de fatores não linguísticos. Podemos notar, 
assim, que à língua está sendo atribuída a função de assegurar a comunicação entre as pessoas. 
E mais: que a comunicação é a função principal da língua (esse assunto será retomado em outro 
momento). Isso justifica a língua ser tanto a parte essencial da linguística quanto seu objeto de 
estudo prioritário.
Se um falante estiver acamado e fraco com uma gripe muito forte, poderá falar mais devagar, sem 
muita força, com a voz nasalizada. Mesmo assim, pelo fato de usar o mesmo código linguístico, ou a 
mesma língua, será compreendido pelo ouvinte. A comunicação, dessa forma, será possível.
Língua e fala são conceitos dicotômicos, pois esses dois objetos, embora apresentem características 
diferentes, estão estreitamente ligados e se implicam mutuamente, são interdependentes.
a lingua é 
necessária para que 
a fala seja inteligível 
e produza todos os 
seus efeitos;
a fala é necessária 
para que a lingua 
se estabeleça
Figura 5 
Adaptado de: Saussure (op. cit., p.27).
Além disso, continua Saussure:
(...) é ouvindo os outros que aprendemos a língua materna; ela se deposita em 
nosso cérebro somente após inúmeras experiências (SAUSSURE, op. cit., p.27).
 Lembrete
Língua  Fala
Existe, pois, interdependência da língua e da fala; 
aquela é ao mesmo tempo o instrumento e o 
produto desta (SAUSSURE, 1973, p.27).
Foi dito anteriormente que a execução do processo psíquico é a fala. Isso significa que algo ocorre 
nesse processo, algo que antecede a execução, levando a outro conceito da abordagem estruturalista, o 
signo linguístico, e à dicotomia que o envolve.
Em resumo, de acordo com Saussure, podemos depreender três concepções para língua:
• Língua como acervo linguístico: Saussure (apud Carvalho, 2005, p.50) afirmava no Curso de 
Linguística Geral que a língua como acervo linguístico “é o conjunto de hábitos linguísticos 
que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compreender” (p.92) e que “as associações 
ratificadas pelo consentimento coletivo, e cujo conjunto constitui a língua, são realidades que 
têm sua sede no cérebro” (p.23).
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• Língua como instituição social: para Saussure (apud Carvalho, op cit., p.50), a língua é, ao 
mesmo tempo, uma realidade psíquica e uma instituição social. Ele afirmava: “a língua é, ao 
mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções 
necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” 
(p.17) e “parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la 
nem modificá-la; ela não existe senão em virtude de uma espécie de contrato estabelecido entre 
os membros da comunidade” (p.22).
• Língua como realidade sistemática e funcional: para Saussure, a língua é um sistema 
de signos que correspondem a ideias distintas, e a única coisa essencial que existe nesse 
sistema é o fato de haver sempre um sentido unido a uma imagem acústica, para exprimir 
uma ideia.
A fala, como já afirmamos, ao contrário da língua, se constitui de atos individuais e é repleta de 
imprevisibilidade, motivo pelo qual não pode ser reduzida a algo sistemático. 
Vejamos um quadro comparativo entre língua e fala, de acordo com Carvalho (2005, p.59) e 
Pietroforte (2002, p.81-82).
Quadro 10 – Relação Língua - Fala
Língua Fala
Coletiva
Social
Homogênea
Sistemática
Abstrata
Constante
Duradoura
Conservadora
Virtual
Permanente
Supra-individual
Essencial
Psíquica
Instituição
Essência
Potencialidade
Fato social
Unidade
Forma
Busca ser constante
Produto
Indivíduo subordinado
Instrumento e produto da fala
Sistema
Adotada pela comunidade
Potencialidade ativa de produzir a fala
Necessária para a inteligibilidade e execução da fala
Competência
Fatos da língua relacionados à estrutura do sistema linguístico
Particular
Individual
Heterogênea
Assistemática
Concreta
Variável
Momentânea
Inovadora
Real
Ocasional
Individual
Acidental
Psicofísica
Práxis (ação)
Existência
Realidade
Ato individual
Diversidade
Substância
Pauta-se na circunstancialidade
Produção
Indivíduo “senhor”
Língua em ação
Realização
Surge no indivíduo
Faz evoluir a língua
Necessária para que a língua se estabeleça
Desempenho
Fatos da fala relacionados ao uso do sistema linguístico
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3.2.4 Sincronia e diacronia 
Considerando-se a convicção da abordagem estrutural, retomemos os conceitos denominados 
sincronia e diacronia, lembrando que Saussure estabeleceu a prioridade do primeiro sobre o segundo, 
contrapondo-se à visão da linguística histórica.
Para Saussure, a explicação sincrônica é estrutural e não causal. Ou seja, ao descrever-
se um sistema linguístico em determinado ponto do tempo, levando em conta todas as suas 
partes constituintes e a maneira como se relacionam, podemos encontrar explicações para o 
funcionamento desse sistema.
Em síntese, afirma Saussure que para descrever esse estado de língua, ou como ele está naquele 
ponto do tempo, não há necessidade de recorrer às suas transformações históricas. Lyons (1982) ilustra 
a diferença entre a explicação sincrônica e diacrônica por meio de um exemplo: duas respostas são 
possíveis para a pergunta: “Por que um motor de um Rolls Royce de tal modelo e tal ano é como é?” 
Duas respostas são possíveis:
1. uma resposta que leve em conta a explicação diacrônica, ou seja, a explicação dada por meio de 
todas as mudanças que ocorreram ao longo do tempo em cada uma das partes componentes do motor;
2. uma resposta que leve em conta a explicação sincrônica, ou seja, a explicação do papel 
desempenhado por cada um dos componentes do motor daquele modelo particular, como ele se 
encontra naquele ponto no tempo, naquele exato momento (adaptado de LYONS, 1982, p.203).
Podemos resumir o exposto dizendo que, ao estabelecer a prioridade do estudo sincrônico sobre o 
diacrônico, Saussure o fez com base em sua concepção de que em cada momento no tempo a língua é um 
sistema integrado de relações (LYONS, 1979). Esse “estado de língua” – sincrônico – é o resultado de todas 
as transformaçõesno período de tempo que o antecedeu – diacrônico – e é, por sua vez, o precursor das 
transformações seguintes. Em outras palavras, na linha do tempo podemos descrever vários estados de língua 
em um estudo sincrônico, ou estudar as mudanças operadas entre os vários estados em um estudo diacrônico. 
Assim, podemos dizer que a língua se apresenta sempre como sincronia e diacronia. O estudo linguístico é que 
poderá ser sincrônico – a descrição de um estado – ou diacrônico – o estudo de suas evoluções.
Em vista do exposto, sincronia e diacronia são conceitos dicotômicos: “A cada instante, a linguagem 
implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela é uma instituição 
atual e um produto do passado” (SAUSSURE, 1973, p.16). O estado de língua e suas transformações são 
complementares entre si.
Um aspecto importante em se tratando da distinção entre um fato sincrônico e um fato diacrônico 
da língua é o que afirma Pietroforte (2002, p.80): “os fatos sincrônicos estabelecem princípios de 
regularidade” na língua.
Um exemplo disso é o que acontece com os verbos em nossa língua, que possuem morfemas de 
modo e tempo, e de número e pessoa. Vejamos: o verbo andar possui um radical and, e quando utilizado 
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nos diferentes tempos, recebe vogal temática – and a remos –, indicativa da segunda conjugação, o 
morfema re – indicativo do tempo futuro do presente –, e o morfema mos – indicativo da 1a pessoa do 
plural.
3.2.5 Relações sintagmáticas e paradigmáticas 
Ao estudar a língua com foco na sincronia, Saussure observou que os signos estão relacionados 
entre si a partir de dois domínios diferentes, designados por ele de domínio sintagmático e domínio 
paradigmático. 
Vamos observar um trecho do poema de Manoel Bandeira, “Trem de Ferro”:
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
(...)
Oô..
Foge, bicho
 Foge, povo 
A
Passa ponte
Passa poste
Passa pato
Passa boi
Passa boiada
 Passa galho 
B
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
(...)
Vou depressa
Vou correndo
 Vou na toda 
C
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
Podemos observar em cada um dos trechos destacados que a relação entre os elementos linguísticos 
depende de dois aspectos: de uma seleção – a partir dos elementos bicho e povo (em A), ponte, poste, 
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pato, boi, boiada e galho (em B), depressa, correndo e na toda (em C); e de uma combinação entre esses 
elementos – indicada por foge ____ (em A), passa ____ (em B) e vou ____ (em C). Isso nos mostra 
claramente que em qualquer ação de linguagem precisamos decidir como preencher esses dois eixos: o 
eixo que permite selecionar um entre vários elementos linguísticos, e o eixo que permite combinar dois 
elementos linguísticos. 
O eixo que permite selecionar um entre vários elementos linguísticos recebe o nome de eixo 
paradigmático; o eixo que permite combinar vários elementos linguísticos chama-se eixo sintagmático.
O eixo sintagmático nos mostra relações que destacam o caráter linear dos signos linguísticos, ou 
seja, os elementos se sucedem um após outro, linearmente, na cadeia da fala. 
Essa relação linear, feita de escolhas do falante, recebeu de Saussure o nome de sintagma. Para 
ele (SAUSSURE, apud CARVALHO, 2002, p.86), “o sintagma se compõe de duas ou mais unidades 
consecutivas”. 
São exemplos de sintagmas: relembrar (prefixo re + verbo lembrar); que menino cara de pau! (formado 
das palavras que, menino, cara, de, pau); replanejamento (prefixo re +radical planej + sufixo mento).
O que importa nas relações sintagmáticas é entender que elas obedecem a uma composição linear e 
que uma vez trocada essa ordem, o sintagma pode mudar de significado ou até mesmo não corresponder 
a nenhum significado convencional. É só pensarmos, por exemplo, no sintagma replanejamento. O que 
seria dele se, na composição, mudássemos a ordem dos elementos: “rementoplaneja”? 
Importante nas relações sintagmáticas: o valor de cada elemento se dá pelo contraste que estabelece 
com aquele elemento que o precede ou sucede, ou ambos.
Já em relação ao eixo das seleções, denominado eixo paradigmático, e para Saussure, o eixo das 
associações, sabemos que uma vez escolhido um signo linguístico, outros são desprezados. 
Quando queremos dizer, por exemplo, que um cachorro mordeu um menino, podemos, dependendo 
do contexto onde está ocorrendo o discurso, afirmar que: “um cão mordeu um guri” ou “um canídeo 
mordeu um garoto” ou, ainda, “o Totó mordeu um bacuri”. Veja quantas seleções diferentes podemos fazer 
para representar “um cachorro mordeu um menino”. O que nos permite essa diferentes possibilidades é 
o eixo paradigmático, ou seja, o eixo das oposições, substituições e seleções de elementos linguísticos. 
Saussure afirma que as palavras disponíveis aos falantes se encontram em sua memória e é na 
memória mesmo que elas se associam para formar grupos e representar o que o falante deseja. Esses 
grupos são formados por unidades da língua que aparecem em um mesmo conceito, daí a possibilidade 
de o falante fazer suas escolhas. O eixo paradigmático traz também a ideia de relação entre unidades 
alternativas da língua.
Há diferentes maneiras de um signo linguístico associar-se a outros. A primeira delas é por meio de 
seu significado: é possível escolher entre dois signos linguísticos sinônimos ou antônimos (que seria 
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a relação de oposição). Como exemplo, podemos pensar na escolha da palavra “ensino” em lugar de 
“educação”, ou “aprendizagem” em lugar de “desenvolvimento”. 
A segunda maneira de associação é por meio do significante. É o caso, por exemplo, de uma rima em 
um poema: passa ponte, passa poste. 
A terceira maneira é por meio de outros signos, a partir de processos morfológicos comuns. Como 
exemplo, podemos citar a escolha de um substantivo e outras palavras com o mesmo radical.
Você pode, agora, observar o esquema a seguir, representativo dos eixos sintagmático e paradigmático:
Quadro 11
Eixo paradigmático - seleções
 Eixo sintagmático - combinações
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
3.3 O estruturalismo e o método descritivo de análise 
Como vimos anteriormente, a gramática normativa privilegia a língua escrita em detrimento da 
língua falada. Trata-se, portanto, de uma gramática resultante da descrição de textos escritos particulares, 
considerados os bons textos. Fala-se, assim, de descrição. 
Uma diferença entre a gramática normativa e a descrição da abordagem estruturalista está no 
objeto de análise, ou seja, no objeto descrito: para a primeira, os bons textos escritos; para a segunda, 
a linguagem como ela é efetivamente falada, sem apreciação de valor, a língua natural como é falada 
pelas pessoas.
Outra diferença está na finalidade dessa descrição: para a primeira, estabelecer as regras de como as 
pessoas devem falar; prescrever regras do bom uso da língua. Para a linguística, descrever a gramática 
natural daslínguas naturais, para entender o funcionamento das línguas. Para o estruturalismo, a 
descrição dos fatos da língua é uma explicação de seu funcionamento, já que envolve descrever os 
elementos do sistema e as relações estabelecidas entre eles.
Com o objetivo de descrever a língua, a Linguística desenvolveu uma metodologia que visa analisar 
as frases efetivamente realizadas reunidas num corpus representativo (conjunto de dados organizados 
com uma finalidade de investigação). O corpus não é constituído apenas de frases ‘corretas’ (como a 
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gramática normativa); também inclui as expressões ‘erradas’, desde que apareçam na fala dos falantes 
nativos da língua (PETTER, 2002, p.21).
3.3.1 Os limites da análise estruturalista: a frase (a exclusão da fala – sujeito – e do contexto 
sócio-histórico) 
“A linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma” 
(SAUSSURE, 1973, p.271). Com essa frase, encerra-se o Curso de Linguística Geral, como foi intitulado 
o livro que, segundo seus organizadores, traduz o pensamento de Saussure sobre a ciência linguística, 
conforme exposto em suas aulas.
Ao mesmo tempo em que essa afirmação elevou a linguística ao status de ciência, ela resume 
um dos grandes motivos de críticas por adeptos de outras abordagens teóricas, gerando uma série 
de equívocos, não somente no que se refere ao estudo das línguas, mas também em relação aos 
métodos de ensino. Isso ocorreu, por exemplo, com os adeptos das chamadas teorias do texto, 
dentre as quais pode-se citar a linguística textual, a sociolinguística, a análise do discurso e a 
pragmática. Para essas abordagens, a abordagem estruturalista implica:
• analisar a língua em si mesma e por si mesma, excluindo dessa análise todo e qualquer fator não 
linguístico;
• analisar a língua, e não a fala;
• excluir a fala da análise linguística;
• atribuir ao falante um status passivo no circuito da comunicação;
• tomar as produções linguísticas como produtos acabados excluídos de suas condições de produção.
Um dos problemas apontados e decorrentes do exposto é a dificuldade em dar conta de 
questões semânticas, das significações e dos sentidos sem recorrer a outros elementos que não 
estão presentes no linguístico propriamente dito. Por exemplo, a frase “que moça bonita” pode ser 
um elogio ou uma ironia, dependendo do tom da voz do falante (lembrando que o tom de voz não 
é um elemento linguístico!).
Outro problema, diretamente relacionado ao que foi dito agora, refere-se à unidade linguística 
tomada por análise em uma abordagem estrutural: a frase, como é produzida por seus falantes, 
sem levar em conta suas condições de produção. Isso é bem ressaltado nas teorias do texto, ou seja, 
nas teorias linguísticas que tomam o texto por unidade de análise, o texto entendido como processo, 
envolvendo todas as suas condições de produção: os interlocutores, a situação de fala, o contexto 
histórico-político-social, dentre outras.
Agora que você já entrou em contato com as principais ideias do estruturalismo e com as ideias 
de Saussure sobre signo, analise as duas tirinhas apresentadas a seguir e reflita sobre o papel do signo 
(significado e significante).
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Figura 6
Fonte: <http://www.monica.com.br/comics/tirinhas.htm/>.
Figura 7
Fonte: Jornal Estadão
4 O ESTRUTURALISMO AMERICANO E A PSICOLOGIA BEHAVIORISTA NA 
EXPLICAÇÃO SOBRE A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM 
O estruturalismo americano, também chamado de distribucionalismo ou linguística distribucional, 
teve o linguista Leonard Bloomfield como seu maior expoente. Não é intenção aprofundar as 
discussões sobre essa abordagem linguística neste texto, a não ser naquilo que ela apresenta de 
relevante para as discussões sobre aquisição de linguagem, pois é importante refletir sobre as 
consequências de diferentes abordagens sobre a aquisição de linguagem pela criança, no processo de 
ensino/aprendizagem de língua materna. 
Apesar de considerar-se como certo que a aprendizagem de língua estrangeira, ou segundas línguas, 
na escola ou em ambiente natural, seja diferente do que se entende por aquisição da língua materna, 
discussões e explicações sobre esta última repercutem nos estudos de linguística aplicada ao ensino das 
primeiras.
O foco dos trabalhos de Bloomfield sempre esteve na elaboração de um sistema de 
conceitos que permitisse a descrição sincrônica de qualquer língua. Para isso, o autor adotou 
um enfoque behaviorista para a análise linguística, definindo a linguagem em termos de 
respostas a estímulos.
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De acordo com a concepção da linguística distribucional, para que possamos estudar uma língua, 
faz-se necessário:
• constituição de um corpus, isto é, a reunião de um conjunto, o mais variado possível, de enunciados 
efetivamente emitidos por usuários de uma determinada língua em uma determinada época;
• a elaboração de um inventário, a partir desse corpus, que permita determinar as unidades 
elementares em cada nível de análise, assim como as classes que agrupam tais unidades;
• a verificação das leis de combinação de elementos de diferentes classes;
• a exclusão de qualquer indagação sobre o significado dos enunciados que compõem o corpus.
Fonte: COSTA (2009, p.124)
Isso revela que o estruturalismo de Bloomfield era analítico e descritivo, centrando-se no estudo da 
morfologia e da sintaxe, partindo sempre da frase, para decompô-la em unidades menores, analisáveis.
4.1 Implicações para o ensino de língua materna e língua estrangeira 
Tanto o estruturalismo europeu como o estruturalismo americano tomam a língua por um sistema 
virtual de elementos linguísticos que pode ser considerado/descrito fora do sujeito. As razões para o 
estruturalismo americano afastar os fatores não linguísticos de sua análise deve-se ainda mais e em 
grande parte ao fato de terem adotado a visão behaviorista de ciência. 
Bloomfield assumiu os princípios do behaviorismo, ou da psicologia comportamental americana, 
adotada por muitos psicólogos americanos e linguistas até a década de cinquenta, aproximadamente. 
O behaviorismo nega qualquer explicação sobre os comportamentos humanos (incluindo a 
linguagem) que faça uso da interioridade do homem. Para os adeptos do behaviorismo, todos os 
comportamentos do homem podem ser descritos e explicados com base no esquema estímulo/
resposta (ORLANDI, 2002). 
Somente é aceito como científicas as explicações baseadas em fatos e processos físicos observáveis, 
sem recorrer a nada que diga respeito, por exemplo, à mente humana. Isso não significa dizer que não é 
aceita a existência da mente; diz apenas do modo de desenvolver estudos científicos.
Segundo os behavioristas, tudo o que é comumente descrito como produto 
da mente humana – inclusive a linguagem – pode ser satisfatoriamente 
explicado em termos do reforço e do condicionamento de reflexos puramente 
fisiológicos: em última instância, em termos de hábitos, ou padrões de 
estímulo-e-resposta, constituídos pelo mesmo tipo de condicionamento 
que permite aos psicólogos experimentais treinar ratos de laboratório paracorrer através de um labirinto (LYONS, 1983, p.212).
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A aprendizagem da linguagem, do ponto de vista do behaviorismo, foi proposta por Skinner, em obra 
intitulada Comportamento verbal (Verbal Behavior), publicada pela primeira vez em 1957, nos Estados 
Unidos.
Essa abordagem pode ser explicada, resumidamente, como segue:6
Ao nascer, o bebê apresenta apenas comportamentos reflexos. O bebê chora 
como uma resposta reflexa ao mal-estar sentido pela fome, por exemplo. A 
fome é um estímulo para o choro – resposta.
A mãe satisfaz às necessidades do bebê, amamentando-o. Esse 
comportamento da mãe é um reforço para o choro do bebê.
O choro, então, torna-se um comportamento aprendido. O bebê vai chorar 
toda vez que sentir aquele mal-estar.
Aos poucos, a mãe não vai mais aceitar esse choro como um comportamento 
para o bebê receber o alimento. A mãe está, assim, modelando os 
comportamentos da criança que deverão aproximar-se cada dia mais dos 
comportamentos aceitáveis pelo adulto.
Ao nascer, o bebê é uma “tabula rasa”, ou seja, como um quadro em branco. Os comportamentos 
reflexos apresentados pelo recém-nascido, se reforçados pelo meio ambiente externo à criança, se 
transformarão em comportamentos aprendidos preenchendo esse quadro em branco. O preenchimento 
desse quadro aproxima o recém-nascido do adulto. 
Trata-se, assim, de uma mudança quantitativa: quanto mais comportamentos socialmente aceitos 
aprendidos, mais próximo do ser humano adulto.
Vejamos como Santos (2002) retoma o pensamento de Skinner:
Assim, para Skinner, o aprendizado linguístico era análogo a qualquer 
outro aprendizado (o que, naquela época, significava dizer que todo 
comportamento/aprendizado – linguístico ou não – era visto como 
aprendido por reforço e privação) (SANTOS, 2002, p.217).
Ao mesmo tempo, o ser humano, que constitui o mundo em volta desse bebê, vai modelando seus 
comportamentos para que estes se aproximem cada vez mais daqueles socialmente aceitos. A modelagem 
dos comportamentos faz-se pelo reforço positivo dos comportamentos que devem ser aprendidos ou 
mantidos, e pelo reforço negativo ou punição dos comportamentos indesejáveis.
Podemos ver, assim, a ação do meio ambiente externo inteiramente responsável pela aprendizagem 
(“aumento quantitativo”) de comportamentos por uma criança inteiramente passiva. 
6 Adaptado de <http://office.microsoft.com/pt-br/clipart>. Acesso em: 6 mar. 2007.
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Isso se aplica a todo aprendizado, linguístico ou não linguístico.
A contra-argumentação linguística a essa abordagem sobre a aquisição de linguagem veio, 
principalmente, de Chomsky, outro linguista norte-americano que será estudado a seguir. 
A abordagem behaviorista surtiu um grande impacto, pois resultou em um ensino em que o professor é o 
principal responsável pela aprendizagem de um aluno passivo no processo. O professor deve estar atento para 
reforçar as respostas desejadas e punir as indesejadas (mediante atribuição de notas, por exemplo). 
O audiolingualismo dominou o ensino de línguas até o início da década 
de 1970. Bloomfield, no campo da linguística, Skinner, no da psicologia, 
Nida, Fries e Lado, no da metodologia, são alguns dos grandes nomes do 
movimento (LEFFA, 1988, p.219).
Além disso, ao considerar a língua como um conjunto de hábitos adquiridos, o ensino de línguas 
tornou-se fortemente apoiado em exercícios de repetição até a automatização da resposta desejada. O 
ensino de línguas estrangeiras, ou segundas línguas, foi a base da chamada abordagem audio-lingual. 
O erro, nessa abordagem, significa “aprendizagem errada” ou “falta de aprendizagem”. Portanto, deve-se 
evitar o erro para que ele não se torne um comportamento aprendido pelo aluno. Isso resultou em um 
ensino gradual de estruturas linguísticas apresentadas aos poucos (LEFFA, 1988).
 Saiba mais
Se você tiver interesse em aprofundar mais seus conhecimentos sobre 
a abordagem audiolingual, procure o texto de Vilson J. Leffa, Metodologia 
do Ensino de línguas (1988).
5 O GERATIVISMO: VISÃO INATISTA DE AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM
Gerativismo, como já foi salientado na abertura da unidade, é o termo utilizado para se referir à 
teoria da linguagem desenvolvida por Noam Chomsky no final da década de 1950. Essa teoria nasceu 
com o nome de gramática gerativo-transformacional.
A gramática gerativa estava interessada, entre outras questões, em mostrar que, ao se analisar 
um enunciado, era preciso levar em conta os diferentes níveis da estrutura gramatical, denominados 
superficial e profundo.
Veja como essa questão era pensada por Chomsky: tomando-se, por exemplo, as frases “João está 
ávido por agradar” e “João é fácil de agradar” (WEEDWOOD, 2002, p. 132) percebemos que, em um 
primeiro momento, a análise de ambas é idêntica (gramatical e sintaticamente, os elementos exercem, 
nas duas frases, os mesmos papéis). No entanto, as frases carregam um significado subjacente, que as 
torna muito diferentes, pois, na primeira, João quer agradar alguém, ao passo que, na segunda, alguém 
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estaria envolvido em agradá-lo. Essa questão remete ao que pensava Chomsky: há dois níveis de análise: 
um superficial (que parece relacionar-se à própria estrutura do sistema linguístico) e outro profundo 
(relacionado à funcionalidade da estrutura gramatical).
Todo o trabalho de Chomsky se desenvolveu para oferecer meios para se analisar enunciados 
considerando-se o nível subjacente à estrutura gramatical. A teoria foi sofrendo modificações e 
adaptações e, atualmente, é conhecida como a Teoria de Princípios e Parâmetros.
O objetivo do gerativismo é construir uma gramática que dê conta dos chamados universais 
linguísticos, ou daquilo que é comum a todas as línguas, ou da gramática universal (GU). Essa gramática, 
construída pelo linguista, deve dar conta de descrever as línguas humanas, ou mais especificamente, 
ela deve dar conta do conhecimento linguístico inato que é da espécie humana e é universal, pois é 
comum a todos os membros dessa espécie (SCARPA, 2001).
Em outras palavras, trata-se de uma gramática por meio da qual é possível “gerar” todos os enunciados 
possíveis em qualquer língua natural e apenas os enunciados possíveis. É possível construir, assim, um 
conjunto de regras que dê conta de todas as línguas do mundo, ou um conjunto de princípios que dê 
conta da GU.
Assim, podemos dizer nesta língua:
• os menino jogam bola
• os meninos jogam bola
• os menino joga bola
• jogam bola os meninos
Não é possível dizer nesta língua:
• bola jogam meninos os
De acordo com o gerativismo, as línguas não podem ser interpretadas como um comportamento 
socialmente condicionado.
Para compreender melhor esses termos ou conceitos e alguns dos pressupostos do gerativismo, a seção a seguir 
discutirá a visão inatista de aquisição de linguagem, considerada por Noam Chomsky (SCARPA, 2001, p.206).
5.1 Contra-argumentos do gerativismo (Chomsky) à visão behaviorista de 
aprendizagem da linguagem 
O gerativismo desenvolveu-se em grande parte como reação ao behaviorismo, que prevalecia na 
psicologia, eao estruturalismo americano, que prevalecia na linguística dos Estados Unidos da América. 
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Em 1959, em uma revista chamada Language, Chomsky publicou uma resenha intitulada Resenha 
do comportamento verbal de B. F. Skinner (Review of B.F. Skinner´s Verbal Behavior). Nesta publicação 
foi apresentanda uma série de contra-argumentos à proposta behaviorista de aquisição de linguagem, 
obtendo uma enorme repercussão em todas as áreas de estudos da linguagem. 
Destacaremos neste tópico aquilo que diz respeito à aquisição da linguagem ou à natureza da linguagem.
5.1.1 Capacidade inata: meio ambiente fornece modelos linguísticos para um sujeito 
competente 
Para Chomsky, a linguagem é adquirida a partir de um dispositivo inato inscrito na mente humana, 
que é desencadeado a partir da exposição da criança aos modelos linguísticos de sua comunidade. A 
linguagem, assim, é uma dotação genética, específica da espécie. Essa abordagem é conhecida como 
“inatismo”, pois a criança nasce dotada dessa capacidade (SCARPA, 2001). Isso não significa que a 
criança nasça com uma gramática na cabeça, ou com palavras, ou frases ou textos de diferentes línguas, 
mas que a criança nasce dotada de:
um mecanismo ou dispositivo inato de aquisição de linguagem (em inglês, 
LAD, language acquisition device), que elabora hipóteses linguísticas sobre 
dados linguísticos primários (isto é, a língua a que a criança está exposta) e 
gera uma gramática específica, que é a gramática da língua nativa da criança, 
de maneira relativamente fácil e com um certo grau de instantaneidade. 
Isto é, esse mecanismo inato faz ´desabrochar` o que ´já está lá, através da 
projeção, nos dados do ambiente, de um conhecimento linguístico prévio, 
sintático por natureza (SCARPA, 2001, p.207).
5.1.2 Capacidade específica da espécie
Uma criança é sempre dotada de um conhecimento linguístico, ou competência linguística, 
inato (genético, biológico). Este é um forte contraponto à criança considerada tábula rasa na 
corrente behaviorista, ou seja, enquanto para esta última todos os comportamentos são aprendidos 
após o contato com o meio, para aquele a criança já nasce com os conhecimentos linguísticos. 
São vários os contra-argumentos apresentados por Chomsky à visão behaviorista:
• não é possível transpor os resultados obtidos com animais em laboratório para a linguagem 
humana (SCARPA, 2001);
Sobre a criatividade, é possível dizer que
o enunciado que alguém profere em dada ocasião é, em princípio, não 
previsível, e não pode ser descrito apropriadamente, no sentido técnico 
desses termos, como uma resposta a algum estímulo identificável, linguístico 
ou não linguístico (LYONS, 1983, p.213).
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• o esquema estímulo-resposta proposto por Skinner (teoria behaviorista) não dá conta da 
complexidade e sofisticação do conhecimento linguístico (SCARPA, 2001).
5.1.3 Criatividade linguística 
Para Chomsky, a criatividade é a principal característica do comportamento linguístico humano. 
É ela que mais distingue a linguagem humana do sistema de comunicação animal. A linguagem, ao 
contrário do que se tem no behaviorismo, é independente do estímulo. Isso se relaciona à chamada 
“criatividade” linguística, ou à liberdade do falante em produzir enunciados imprevisíveis: “uma qualidade 
peculiarmente humana, que distingue os homens das máquinas e, até onde sabemos, de outros animais” 
(LYONS, 1983, p.213).
Ainda segundo Chomsky, uma vez considerada a criatividade como principal característica da 
linguagem humana, então é preciso abandonar o modelo teórico do behaviorismo, pois nele não há 
espaço para eventos criativos.
5.1.4 Complexidade x tempo de aquisição
Um período relativamente curto, de 18 a 24 meses, aproximadamente, é o que leva uma criança, 
a partir do nascimento, em condições normais, para apresentar domínio de um conjunto complexo de 
regras ou princípios básicos que constituem a gramática internalizada do falante (SCARPA, 2001). Fala-
se também na espantosa facilidade com que as crianças pequenas aprendem não só uma, mas duas ou 
três línguas, simplesmente pelo fato de estarem expostas a elas (ELGIN, 1986).
O acúmulo de conversas que uma criança ouve e o tipo de fala e de situações de fala às quais está exposta 
varia radicalmente de criança para criança; no entanto, todas as crianças aprendem sua língua materna. 
 Lembrete
Todas as crianças em condições ditas normais, físicas, psíquicas e sociais, 
desenvolvem linguagem.
Da “pobreza de estímulo”, conforme apresentado por Scarpa (op.cit.), tira-se esta que é uma das 
questões centrais para os gerativistas:
Este é também chamado de “problema lógico da aquisição de linguagem”: 
como, logicamente, as crianças adquirem uma língua se não têm informação 
suficiente para a tarefa? A resposta lógica é que trazem uma enorme 
quantidade de informações a que Chomsky chama de Gramática Universal 
(SCARPA, 2001, p.209).
Outra questão diz respeito ao período crítico de aquisição de linguagem. Apesar da falta de 
consenso entre os autores, é apontado por alguns como argumento a favor de uma abordagem 
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inatista para a aquisição de linguagem. O chamado período crítico é apresentado tanto para 
referir-se à dificuldade, ou quase impossibilidade, de aquisição de linguagem por crianças após a 
puberdade, bem como à facilidade com que crianças aprendem uma segunda língua em relação à 
dificuldade dos adultos.
Uma das interpretações é a de que a GU só estaria disponível para a criança. Outra é, por exemplo, a 
de Lenneberg (1967), para quem existem momentos cruciais no desenvolvimento da linguagem: o início 
depende de vários índices de maturação do cérebro e, uma vez completada essa maturação física, por 
volta da puberdade, a aprendizagem torna-se muito mais difícil. Sobre este tema, sugerimos a leitura de 
Scarpa (2001, p.220-224).
Na primeira versão da hipótese inatista, Chomsky considerou a existência de um dispositivo de 
aquisição de linguagem composto de regras gramaticais e de estratégias que permitem à criança, ao ser 
exposta à língua de sua comunidade, construir hipóteses e chegar às regras que compõem a gramática 
dessa língua. Em outras palavras, as pessoas apresentam suas manifestações linguísticas, produzem 
frases ao redor da criança e esta, ao observar a forma como a linguagem se organiza nos adultos, 
elabora suas hipóteses para a construção de frases. 
Esse conjunto de frases que a criança ouve constitui o chamado input linguístico. A criança 
aplica seu dispositivo inato sobre essas frases e descobre como é a gramática de sua língua nativa. Essa 
gramática construída pela criança constitui sua gramática internalizada. A partir daí, a criança pode 
começar a apresentar suas próprias manifestações/produções linguísticas, que constituem seu output 
linguístico (SCARPA, 2001).
5.1.5 Capacidade linguística inata, específica da espécie e universal 
Numa versão mais recente do gerativismo, Chomsky mantém sua visão inatista, mas o dispositivo 
inato é dotado de princípios e parâmetros. Os princípios são os universais linguísticos, aquilo que 
constitui agramática universal – GU, aquilo que é comum a todas as línguas. A criança nasce também 
dotada de um conjunto de parâmetros que permitirá a ela constatar aquilo que é específico da língua 
de sua comunidade, aquilo que é particular dessa língua:
No entanto, a tarefa não é tão simples como parece. Muitas questões ainda 
hoje estão por ser respondidas no que diz respeito aos parâmetros: (...) o 
que desencadearia a parametrização? (...) A criança só faz uso das sentenças 
ouvidas (evidência positiva) ou também leva em conta o fato de nunca ter 
ouvido uma sentença (evidência negativa)? (...) (SANTOS, 2002, p. 221).
Explorando um pouco mais essa questão, podemos pensar no sujeito de frases em português e em 
inglês. Uma criança exposta ao português poderá internalizar que o parâmetro considerado na língua 
portuguesa é “o sujeito pode ser omitido”. Caso a criança seja exposta à língua inglesa, o parâmetro 
marcado será “o sujeito deve ser preenchido”. Basta lembrarmos que em português, usualmente, dizemos 
“está chovendo”, enquanto em inglês dizemos it is raining.
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Você pode notar que nestas duas versões, é mantida a ideia de um componente inato, específico 
para a linguagem, que depende apenas de a criança ser exposta a modelos linguísticos. Não depende, 
diretamente, de outros conhecimentos cognitivos ou comportamentais (SCARPA, 2001), como é o caso 
de hipóteses cognitivistas ou sociointeracionistas que serão vistas em outro momento:
A relação entre a língua e outros sistemas cognitivos, como a percepção, a memória e a inteligência, 
é indireta, e a aquisição de linguagem – ou o desencadeamento da Gramática Universal junto com a 
fixação de parâmetros – não depende, necessariamente, de outros módulos cognitivos, muito menos de 
interação social (SCARPA, 2001, p.209).
Quadro 12
It is raining
It is a dog
It is a cat
He is a boy
She is a girl
Está chovendo
Ele é um cachorro / É um cachorro
Ele é um gato / É um gato
Ele é um menino / É um menino
Ela é uma menina / É uma menina
Esta proposição de um componente específico para a linguagem é o que difere a proposta de Chomsky 
da proposição de outras abordagens, também consideradas inatistas. É o caso do cognitivismo ou 
construtivismo, pois para o cognitivismo a linguagem é parte da cognição humana geral. Outras propostas 
de aquisição de linguagem, como já dito, serão objetos de discussão em outro momento do curso.
Ao contrário do que foi visto com relação ao behaviorismo, na hipótese chomskiana a criança é 
a principal responsável por seu desenvolvimento linguístico, pois traz em sua composição genética, 
biológica, aquilo que a torna ativa nesse processo. Ao meio ambiente externo, cabe à criança apenas 
apresentar modelos de frases da língua.
5.1.6 Os conceitos de aquisição x aprendizagem de linguagem 
Neste ponto, cabe um esclarecimento sobre a terminologia empregada. Você deve ter notado a 
mudança no uso dos termos “aprendizagem” e “aquisição”, usados, deliberadamente: o primeiro, ao se 
tratar da hipótese behaviorista, vista na unidade II; e o segundo, para a hipótese inatista, nesta unidade 
III. A literatura da área faz essa distinção justamente porque o termo aprendizagem está associado à 
teoria behaviorista e, apesar de o termo “aquisição” implicar “vir a ter algo que não se tinha antes” – 
e, portanto, não ser o mais adequado para a teoria de Chomsky –, é o mais usado em todas as outras 
hipóteses, não behavioristas, por ser considerado mais neutro (LYONS, 1983).
 Lembrete
“O termo ‘aquisição da linguagem’ é normalmente usado sem ressalvas 
para o processo que resulta no conhecimento da língua nativa (ou línguas 
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nativas)” (LYONS, 1983, p.231). O termo aprendizagem é em geral usado 
para o processo que resulta no conhecimento de uma língua, via ambiente 
não natural, como é o ambiente escolar.
Ao tratar da teoria linguística como formulada por Chomsky, parece haver necessidade de abordar 
seu princípio inatista de aquisição de linguagem, pois 
(...) a criança que aprende sua língua nativa é uma imagem a que Chomsky 
retorna repetidamente, desde seus primeiros escritos, de maneira que se 
torna difícil discriminar sua teoria da linguagem de sua visão de aquisição 
de linguagem (SCARPA, 2001, p.207). 
Volta-se, assim, a partir do exposto, para os conceitos básicos da teoria da linguagem proposta por 
Noam Chomsky.
Muitos pesquisadores, principalmente aqueles voltados ao ensino de segunda língua, discutem 
a questão da gramática universal por esta sustentar o ensino de línguas em diferentes situações e 
momentos. Destacamos aqui um texto sobre Gramática Universal, elaborado pela pesquisadora Vera 
Lucia Menezes de Oliveira e Paiva, linguista da UFMG, que poderá ajudá-lo a compreender melhor os 
conceitos chomskyanos.
 Saiba mais
Não deixe de ler e discutir mais sobre o tema em:
PAIVA, Vera Lucia Meneses de Oliveira e. Modelo da gramática universal. 
Disponível em http://www.veramenezes.com/gu.pdf. Acesso em: 18 set. 2010.
6 CONCEITOS BÁSICOS DO GERATIVISMO E ANÁLISE GERATIVISTA 
Chomsky apresentou sua proposta teórica em um livro intitulado Estruturas sintáticas (Syntatic 
structures), publicado na década de 1960. A partir daí essa teoria sofreu uma série de reformulações. Não 
temos por objetivo, aqui, tratar profundamente das questões dessa teoria e dos motivos que levaram a 
suas revisões e reformulações. O propósito é apresentar linhas gerais da corrente denominada gerativismo, 
oferecendo condições básicas para que você acompanhe as disciplinas da área da linguística que constituem 
a grade curricular de um curso voltado para a linguagem, como é o caso do curso de Letras. 
 Lembrete
As duas teorias apresentadas neste texto – o estruturalismo e o 
gerativismo – constituem bases teóricas muito importantes nos estudos 
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da linguística. A partir delas muitas outras teorias foram construídas, 
permitindo o crescimento das discussões científicas sobre a linguagem.
Na primeira apresentação de sua teoria, Chomsky definiu a linguagem como um conjunto de 
sentenças formadas por elementos linguísticos. A quantidade de sentenças possíveis em uma língua é 
infinita. Pense você: em um único dia de sua vida, quantas sentenças diferentes você ouve e quantas 
outras podem ser criadas a partir das ouvidas? 
No entanto, nem todas as combinações possíveis de elementos da língua resultam em sentenças 
possíveis dentro da língua. Basta lembrar o exemplo já apresentado “bola jogam meninos os”. Podemos 
notar que existem regras para a constituição dessa sentença e que essas regras foram ignoradas. Podemos 
dizer, entre outras possibilidades:
• Os meninos jogam bola.
• Os meninos que gostam de futebol jogam bola.
• Os meninos que gostam de futebol e torcem pela Ponte Preta jogam bola.
• Victor disse que os meninos que gostam de futebol e torcem pela Ponte Preta jogam bola.
• Rachel contou que Victor disse que os meninos que gostam de futebol e torcem pela Ponte Preta 
jogam bola.
Podemos perceber, a cada sequência apresentada, que fica mais difícil produzir e compreendê-las. 
Issosignifica que, apesar de a quantidade de sentenças ser infinita, a extensão de cada uma delas 
é limitada. Você pode notar, no entanto, que nesse caso a limitação é decorrente de limitações da 
memória e não de fatores propriamente linguísticos. Ou seja, a limitação da memória afeta o uso, 
não o conhecimento.
Para Chomsky, o linguista deve ser capaz de construir uma gramática por meio da qual seja possível 
gerar todas as sentenças possíveis de uma língua e apenas as possíveis. Ou seja, o linguista deve ser 
capaz de, por meio de sua gramática, dizer o que pertence àquela língua e o que não pertence; o que 
pode ser dito e o que não pode ser dito naquela língua; quais das “sequências finitas são sentenças e 
quais não são” (PETTER, 2002, p.15).
 Lembrete
O gerativismo também se trata de uma teoria, um conjunto de hipóteses 
empíricas sobre o que é a linguagem; ou seja, um outro ponto de vista 
sobre o objeto. Volte às páginas anteriores e estabeleça um paralelo entre 
o que está sendo dito sobre esta teoria da linguagem e o que foi dito sobre 
o estruturalismo.
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Além do mais, sendo a linguagem uma capacidade inata e específica da espécie humana (já que 
transmitida geneticamente), devem existir propriedades universais da linguagem. Cabe aos linguistas, 
portanto, encontrar essas propriedades universais de modo a ser capaz de descrever uma teoria geral 
da linguagem.
6.1 Competência e desempenho 
 Observação
O desempenho pressupõe a competência, ao passo que a competência 
não pressupõe o desempenho (PETTER, 2002, p.14).
A teoria geral da linguagem em seu momento inicial, de acordo com Chomsky, apoiava-se numa 
distinção fundamental entre o “conhecimento que uma pessoa tem das regras de uma língua e o uso 
efetivo dessa língua em situações reais” (WEEDWOOD, 2002, p.133), entre competência e desempenho, 
ou competence e performance. 
Por competência entende-se o conhecimento que um falante tem de um dado sistema linguístico (e 
de suas regras), que permite a ele produzir um conjunto infinitamente grande de sentenças, constituindo, 
assim, a língua. Desempenho significa a maneira como o falante faz uso de sua competência linguística 
com base, por um lado, em tudo o que é convencionado socialmente, em fatores emocionais, e por outro, 
no “funcionamento dos mecanismos psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção de enunciados” 
(LYONS, 1983, p.236). Trata-se de uma distinção entre conhecimento e uso da linguagem, muito 
importante na teoria, “sendo o conhecimento sempre muito maior que sua manifestação” (SCARPA, 
2001, p.208).
 Lembrete
Neste momento, da dicotomia saussureana língua/fala, distinção 
apresentada pelo linguístico entre ambas, e de um dos motivos que levam 
a língua a ser estabelecida como prioridade em relação à fala nos estudos 
linguísticos.
A separação estrita entre conhecimento e uso é decorrência direta da 
postulação de conhecimento tácito, biológico, de cunho linguístico, 
independente dos fatores ambientais, culturais, psicológicos ou histórico-
sociais determinantes da aquisição da língua materna. O uso da linguagem 
foge à alçada da teoria linguística (SCARPA, 2001, p.208).
O linguista deixa de lado, deliberadamente, todos os fatores que não são linguísticos e que 
constituem o desempenho: motivação, interesse, limitações de atenção e de memória, crenças, atitudes 
emocionais, mecanismos de ordem fisiológica e psicológica, entre outros (PETTER, 2002, p.14). Isso não é 
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da teoria linguística. Mesmo sendo pertinentes ao desempenho, esses fatores não são importantes para 
a formulação de declarações gerais sobre a linguagem (LYONS, 1983).
A língua – sistema linguístico socializado – de Saussure aproxima a linguística da sociologia ou da 
psicologia social; a competência – conhecimento linguístico internalizado – aproxima a linguística da 
psicologia cognitiva ou da biologia (PETTER, 2002, p.14).
Em síntese, tanto Chomsky quanto Saussure tinham em mente a necessidade de separar o que é 
linguístico do que não é linguístico. Saussure procura fazer essa distinção ao apresentar langue e 
parole como uma dicotomia, enfatizando os estudos da língua e não da fala. Chomsky faz a distinção ao 
apresentar os conceitos de competência e de desempenho para enfatizar os estudos sobre a competência.
A competência linguística é o conhecimento do sistema linguístico que o 
falante possui e que lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua 
língua. É o resultado da aplicação de sua capacidade, ou dispositivo inato, 
sobre as sentenças que ouviu desde bebê. “A tarefa do linguista é descrever 
a competência, que é puramente linguística, subjacente ao desempenho” 
(PETTER, 2002, p.14).
Assim, cabe ao linguista debruçar-se sobre as questões da língua para descrever a competência, que é algo 
puramente linguístico e que subjaz ao desempenho, ou seja, que dá condições ao falante para que use a língua.
6.2 Gramaticalidade e aceitabilidade
Considerando que todos os falantes possuem uma gramática internalizada, que é a gramática do 
sistema linguístico de sua comunidade de fala, e considerando ainda que todos os falantes obedecem a 
essa gramática ao produzirem suas sentenças, pode-se concluir que todas as sentenças produzidas pelos 
falantes de uma língua são sentenças gramaticais. 
Em outras palavras, por definição, todas as sentenças produzidas são gramaticais ou bem formadas 
(LYONS, 1983, p.67). Assim se define o conceito de gramaticalidade: as sentenças são formadas em 
conformidade com a gramática do sistema linguístico.
 Observação
Quando falamos em gramaticalidade, estamos considerando um 
“conhecimento implícito, inconsciente e natural acerca da língua que todos 
os falantes nativos possuem, e não das regras da gramática normativa que 
aprendemos na escola” (KENEDY, 2009, p.133).
O conceito de gramaticalidade não pode ser confundido com o conceito de aceitabilidade nem 
com o conceito de significação. Tomando o exemplo clássico de Chomsky, podemos dizer que as 
sequências produzidas a partir de uma gramática recebem o nome de sequências gramaticais, 
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Unidade II
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enquanto que as que são produzidas sem que sejam levadas em conta as questões de organização 
linguística inerentes ao conhecimento implícito da gramática são chamadas sequências 
agramaticais. Essa gramática pode ser a gramática internalizada pelo falante ou a gramática 
construída pelo linguista.
Você ouve com frequência algo como: “pessoa escreveu que livro você conhece vende”? Pois é. 
Essa é uma frase denominada agramatical em nossa língua, pois “não está bem formada fonológica e 
sintaticamente” (LOPES, 1975, p.197).
Por outro lado, bem provavelmente você já tenha ouvido algo assim: “Vocês vai lá hoje?” Pois é. Essa 
é uma frase considerada “gramatical”, embora não corresponda à norma culta.
 Saiba mais
Observe: “Ideias verdes incolores dormem furiosamente” (Colorless 
green ideas sleep furiously) – essa é uma frase gramatical, embora cause 
um certo estranhamento em relação ao que quer dizer.
Para saber mais sobre essa frase, que tal uma rápida pesquisa? Vá ao 
endereço

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