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PCGO - DIREITO PENAL (PARTE ESPECIAL)

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INTENSIVO PCGO 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL 
 
Sumário 
1. Crimes contra a vida .............................................................................................................. 3 
2. Crimes de lesões corporais .................................................................................................. 25 
3. Periclitação da vida e da saúde ........................................................................................... 31 
4. Rixa ...................................................................................................................................... 43 
5. Crimes contra a honra ......................................................................................................... 55 
6. Crimes contra a liberdade individual .................................................................................. 66 
7. Crimes contra a inviolabilidade do domicílio ...................................................................... 80 
8. Crimes contra a inviolabilidade de correspondência .......................................................... 82 
9. Crimes contra a inviolabilidade dos segredos ..................................................................... 85 
→ CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ....................................................................................... 89 
1. Furto .................................................................................................................................... 89 
2. Roubo e da extorsão ......................................................................................................... 101 
3. Usurpação ......................................................................................................................... 112 
4. Dano .................................................................................................................................. 114 
5. Apropriação indébita ......................................................................................................... 117 
6. Estelionato e outras fraudes ............................................................................................. 122 
7. Receptação ........................................................................................................................ 134 
8. Disposições gerais ............................................................................................................. 138 
→ CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL ................................................................. 139 
1. Crimes contra a propriedade intelectual .......................................................................... 139 
→ CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .......................................................... 142 
1. Crimes contra a organização do trabalho ......................................................................... 142 
→ CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS ...... 150 
1. Crimes contra o sentimento religioso ............................................................................... 150 
2. Crimes contra o respeito aos mortos ................................................................................ 151 
→ CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL ........................................................................... 153 
1. Crimes contra a liberdade sexual ...................................................................................... 153 
2. Crimes contra vulnerável .................................................................................................. 158 
3. Disposições gerais ............................................................................................................. 165 
 
 
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4. Lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra forma de exploração 
sexual..................................................................................................................................... 166 
5. Ultraje público ao pudor ................................................................................................... 170 
→ CRIMES CONTRA A FAMÍLIA ............................................................................................. 173 
1. Crimes contra o casamento............................................................................................... 173 
2. Crimes contra o estado de filiação .................................................................................... 177 
3. Crimes contra a assistência familiar .................................................................................. 179 
4. Crimes contra o pátrio poder, tutela curatela .................................................................. 183 
→ CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA .................................................................. 185 
1. Crimes de perigo comum .................................................................................................. 185 
2. Crimes contra a segurança dos meios de comunicação e transporte e outros serviços 
públicos ................................................................................................................................. 194 
3. Crimes contra a saúde pública .......................................................................................... 199 
→ CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA ...................................................................................... 216 
1. Crimes contra a paz pública .............................................................................................. 216 
→ CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA ........................................................................................ 221 
1. Moeda falsa ....................................................................................................................... 221 
2. Falsidade de títulos e outros papéis públicos ................................................................... 224 
3. Falsidade documental ....................................................................................................... 227 
4. Outras falsidades ............................................................................................................... 236 
4. Fraudes em certames de interesse público ...................................................................... 240 
→ CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................................ 240 
1. Crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral .................. 241 
2. Crimes praticados por particular contra a administração em geral .................................. 258 
3. Crimes praticados por particular contra a administração pública estrangeira ................. 272 
4. Crimes contra a administração da justiça ......................................................................... 273 
5. Crimes contra as finanças públicas ................................................................................... 292 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL 
Aula 01. Crimes contra a pessoa. 
1. Crimes contra a vida 
I. Homicídio (art. 121). Modalidades: 
• Homicídio doloso simples 
• Homicídio doloso qualificado 
• Homicídio doloso privilegiado 
• Homicídio culposo 
• Homicídio culposo majorado 
• Homicídio doloso majorado 
a) Homicídio simples 
• Art. 121. Matar alguem: 
• Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
Pode ser hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, 
ainda que cometido por um só agente. 
→ Sujeito ativo 
Crime comum. 
Euclides Custódio da Silveira ➔ crime de homicídio praticado por irmãos xifópagos 
(siameses). 
Oirmão “A” cometeu o homicídio e o irmão “B” não. Se o irmão fosse ao cárcere ficará 
o irmão “B” preso? 
 
 
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• Doutrina: se a separação dos irmãos for cirurgicamente possível, e houver o consentimento 
do inocente, haverá a separação e o outro vai ao cárcere. 
• Se não for possível, não se imporá a pena ao irmão “A”. 
→ Sujeito passivo 
Qualquer pessoa. 
A pena é aumentada de 1/3 se o crime é cometido contra: 
• Menor de 14 anos 
• Maior de 60 anos 
→ Conduta 
É tirar a vida de alguém. 
Quando começa a vida extrauterina? 
Começa com o parto, quando se inicia o trabalho do parto. Isso se dá com o início das 
contrações expulsivas. No caso de uma gravidez de cujo nascimento se dê por cesariana, isto 
ocorrerá com o início da operação, com a incisão. 
→ Voluntariedade 
O homicídio doloso pode ser direto ou eventual. 
R. Sanches: 
• Se o agente portador do vírus HIV e tem relação sexual com sua esposa com a intenção de 
transmitir os vírus a ela, há tentativa de homicídio. 
• Caso use preservativo e o preservativo rasgue culposamente, lesão corporal culposa. 
STJ: indivíduo que intencionalmente transmite vírus HIV a parceiro pratica lesão 
corporal gravíssima, tendo em vista se tratar de enfermidade incurável. 
→ Consumação e tentativa 
Consuma-se com a morte. Crime material. 
 
 
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É crime plurissubsistente, podendo ocorrer com diversos atos. Ex.: facadas. 
Tentativa é plenamente possível. 
b) Homicídio privilegiado 
É o homicídio com uma causa de diminuição de pena de 1/6 a 1/3. 
Art. 121, §1º: 03 hipóteses em que o homicídio é privilegiado: 
• Relevante valor social: interesse de toda a coletividade. Ex.: matar estuprador de diversas 
crianças no bairro. 
• Relevante valor moral: interesse individual, havendo sentimento de misericórdia ou 
compaixão. Ex.: homicídio eutanásico. 
• Homicídio emocional: o sujeito ativo reage logo após injusta provocação de vítima, sob 
domínio de violenta emoção. 
Requisitos: 
o Domínio de violenta emoção 
o Reação imediata 
o Injusta provocação da vítima 
Os Tribunais entendem que o privilégio se faz presente enquanto estiver presente o 
domínio de violenta emoção. Não há tempo definido. 
→ Comunicabilidade do §1º 
No caso de concurso de pessoas, dada a natureza pessoal de minorante, não haverá 
comunicação ao coautor. 
Só há alteração da quantidade da pena, mas não na qualidade da pena. 
→ Natureza jurídica do privilégio 
O sujeito, tendo preenchido todos os requisitos do homicídio privilegiado, tem direito 
público subjetivo à diminuição de pena. 
c) Homicídio qualificado 
 
 
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É crime hediondo. 
Pena: de 12 a 30 anos de reclusão. 
→ Mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe 
• Paga: o pagamento vem antes. 
• Promessa de recompensa: o pagamento vem depois. 
• Motivo torpe: motivo vil, repugnante, abjeto. 
• Ex.: homicídio mercenário (crime de concurso necessário). 
STJ 
O reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de recompensa" em relação 
ao executor do crime de homicídio mercenário não qualifica automaticamente o delito em 
relação ao mandante, nada obstante este possa incidir no referido dispositivo caso o motivo 
que o tenha levado a empreitar o óbito alheio seja torpe (Inf. 575, STJ). 
Em outras palavras, o STJ decidiu que: 
i) A “paga ou a promessa de recompensa” é circunstância acidental do delito de homicídio, de 
caráter pessoal e, portanto, incomunicável automaticamente aos coautores; 
ii) É possível que esta circunstância se comunique entre o mandante e o executor do crime, 
caso o motivo que levou o mandante a encomendar a morte tenha sido torpe, desprezível 
ou repugnante; 
Ex: encomendou a morte para ficar com a herança da vítima; 
Ex: homem que contrata pistoleiro para matar o estuprador de sua filha. 
Executor ➔ responderá por homicídio qualificado (121, § 2º, I) 
Mandante ➔ responderá por homicídio simples, podendo até mesmo ser beneficiado 
com o privilégio do § 1º. 
 
 
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Há ainda uma discussão sobre a necessidade de a recompensa ter natureza econômica 
ou não. O entendimento prevalente é no sentido de que essa recompensa deve ter natureza 
econômica. 
STJ e STF 
Vingança poderá ou não constituir motivo torpe, a depender das peculiaridades do 
caso concreto. 
Exemplos de motivação de homicídio torpe: 
• Preconceito 
• Canibalismo e Vampirismo 
• Motivação econômica 
• Intenção de ocupar o cargo da vítima 
• Matar por prazer 
• Preso que mata outro por integrar facção criminosa rival 
→ Motivo fútil 
• Caracteriza-se pela desproporcionalidade entre a resposta e a provocação. 
• Cuidado para não com ausência de motivo. O homicídio sem motivo aparente é homicídio 
simples. 
Ex. de motivo fútil: matar em razão de dívida de 5 reais. 
• STJ: a qualificadora do motivo fútil é incompatível com o dolo eventual, tendo em vista a 
ausência do elemento volitivo (Info 583). 
• Doutrina: não é possível a concomitância entre motivo torpe e fútil no crime de homicídio. 
STJ: não incide a qualificadora de motivo fútil, na hipótese de homicídio supostamente 
praticado por agente que disputava "racha", quando o veículo por ele conduzido, por conta 
de choque com outro automóvel também participante do "racha", tenha atingido o veículo 
da vítima, terceiro estranho à disputa automobilística. Não há aqui motivo fútil. O acidente 
 
 
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teve causa em comportamento imprudente do agente, que não foi resposta à ação ou omissão 
da vítima. Na verdade, não há nenhum motivo. 
→ Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso 
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum 
• Circunstâncias que têm natureza objetiva, pois se relacionam ao meio empregado. 
• Possível a interpretação analógica. 
▪ Insidioso: é o meio dissimulado 
▪ Cruel: é o emprego de meio desnecessário para obter o seu resultado. 
▪ Veneno: substância biológica ou química capaz de perturbar ou destruir as funções vitais do 
organismo humano. 
▪ Magalhães Noronha: toda substância pode ser veneno, como é o caso do diabético que 
ingere alto teor de açúcar, assim como a pessoa que ingere substância da qual tem alergia. 
▪ Só haverá essa qualificadora por veneno (venefício) se a pessoa desconhecer que está 
ingerindo veneno. 
R. Sanches ➔ do contrário, será a qualificadora do meio cruel, pois traz sofrimento 
desnecessário. 
▪ Tem-se crime impossível por absoluta ineficácia do meio quando a substância não poderia, 
nem mesmo em altíssimas doses, provocar a morte de um ser humano. 
▪ No caso do emprego de tortura, somente haverá a qualificadora do homicídio, se a intenção 
do agente, ao torturar a vítima, era alcançar o resultado morte. 
▪ Se o agente queria apenas torturar e a morte resulta de conduta culposa, haverá o crime de 
tortura qualificado pelo resultado (art. 1º, §3º, da Lei 9.455/97). 
→ À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte 
ou torne impossível a defesa do ofendido 
• Há interpretação analógica. 
• Trata-se de qualificadora quanto ao modo de execução (circunstância objetiva). 
 
 
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Atenção 
A premeditação não é qualificadora do crime de homicídio, podendo ser cometido por 
meio de traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, mas não qualifica, por si só, o 
crime. 
STJ 
A qualificadora de homicídio praticado por meio de traição, emboscada, ou mediante 
dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido é 
incompatível com o dolo eventual. 
→ Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime 
Aqui há conexão. Essaconexão poderá ser: 
• Conexão teleológica: para assegurar a execução de um crime futuro. 
• Conexão consequencial: para assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem de crime 
passado. 
Se o homicídio foi praticado para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou 
vantagem de contravenção penal, não haverá essa qualificadora, mas poderá haver outra, 
como o motivo torpe ou fútil. 
→ Feminicídio 
É a morte da mulher por conta da sua condição de pertencer ao sexo feminino. 
São duas as hipóteses em que haverá razões de condição de sexo feminino, quando 
houver: 
• Violência doméstica e familiar 
• Menosprezo ou discriminação à condição de mulher 
*Matar mulher, por si só, não é feminicídio. 
➢ O autor poderá ser homem ou poderá ser mulher. 
Conceito de violência doméstica e familiar 
 
 
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Art. 5º da Lei Maria da Penha: 
Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento 
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 
• No âmbito da unidade doméstica: espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem 
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; 
• No âmbito da família: compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou 
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; 
• Em qualquer relação íntima de afeto: na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a 
ofendida, independentemente de coabitação. 
Perceba: o feminicídio fundado em violência doméstica é uma norma penal em branco 
imprópria heterovitelina. 
É possível figurar como vítima de feminicídio o transexual? 
Transexual: pessoa que sofre dicotomia entre o sexo físico e o psicológico. 
Há duas correntes: 
1ª: como geneticamente não é mulher, não poderá sofrer feminicídio. 
2 (Majoritária): É plenamente possível, se o transexual mudar o sexo de forma 
irreversível. Assim, passa a ter outra realidade morfológica, tanto que a jurisprudência 
considera possível a troca de nome. 
Atenção! 
A qualificadora do feminicídio incide quando o homicídio se dá por conta das razões de 
sexo feminino. Ou seja, o transexual deverá ser morto por ser mulher. Se for morto por ser 
transexual, não será caso de feminicídio. 
• Sanches sustenta que essa qualificadora é de ordem subjetiva. 
→ Contra autoridade ou agente de segurança pública (homicídio funcional) 
Inciso VII: o homicídio será qualificado quando cometido contra: 
 
 
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• Autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF, integrantes do sistema prisional e da 
Força Nacional de Segurança Pública no exercício da função ou em decorrência dela; 
• Ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau, em razão dessa 
condição. 
▪ O art. 142 da CF trata das Forças Armadas. 
▪ O art. 144 da CF trata das polícias em geral, incluindo o corpo de bombeiros militares. 
• O homicídio praticado contra guarda municipal ou metropolitana, em razão da sua função, é 
qualificado? 
Sanches entende que sim. O §8º do art. 144 descreve a guarda municipal como uma das 
autoridades. 
E se o homicídio é praticado contra agentes de segurança viária, tal como os agentes do 
DETRAN? 
Sanches entende que sim. Fundamento: o art. 144, §10º, da CF, diz que a segurança 
viária compreende a fiscalização de trânsito. Se está no art. 144, está abrangido pela 
qualificadora. 
• Vale lembrar! Essa qualificadora tem natureza subjetiva e é incompatível com o privilégio. 
→ Pluralidade de circunstâncias qualificadoras 
Fernando Capez: é inapropriado falar em homicídio duplamente ou triplamente 
qualificado. Basta uma circunstância para qualificar o homicídio. Neste caso, as demais seriam 
valoradas como: 
1ªC: como circunstâncias judiciais. 
2ªC: como agravantes. Caso não haja previsão como agravante, será valorada como 
circunstância judicial. 
→ Homicídio qualificado-privilegiado 
É possível o homicídio qualificado-privilegiado, desde que a qualificadora tenha 
natureza objetiva. 
 
 
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Ex.: matou, valendo-se de meio cruel, mas logo após a injusta provocação da vítima e 
sob o domínio de violenta emoção. 
Neste caso, o crime seria hediondo ou não? 
1ªC: o homicídio qualificado-privilegiado não é hediondo. 
2ªC: o homicídio qualificado-privilegiado permanece sendo qualificado, sendo 
hediondo. 
STJ: o homicídio qualificado-privilegiado não é hediondo. 
d) Homicídio doloso majorado 
§4º, art. 121: aumenta-se a pena do homicídio de 1/3, quando o crime é praticado 
contra: 
• Menor de 14 anos 
• Maior de 60 anos 
É indispensável que o autor tenha o conhecimento dessa condição. 
e) Milícia privada ou grupo de extermínio 
A pena do homicídio será aumentada de 1/3 quando é praticado por milícia privada, 
sob pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. 
A lei não conceitua esses institutos. Doutrina: 
• Grupo de extermínio: pessoas que se reúnem, formando “justiceiros”, que atuarão na 
ausência do poder público, a fim de matar pessoas consideradas marginais ou perigosas. É 
reflexo do direito penal subterrâneo (ocorre quando as milícias são efetuadas pelos próprios 
agentes estatais). 
• Milícia armada: grupo de pessoas, civil ou não, tendo a finalidade de devolver a segurança da 
população mais carente que perdeu a paz. 
Quantas pessoas devem integrar um grupo de extermínio ou milícia privada? 
A lei não diz. Há duas correntes: 
 
 
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• 1ªC: deve ser aplicado o art. 288 do CP (3 ou mais pessoas); 
• 2ªC: deve ser aplicado o conceito de organização criminosa (4 ou mais pessoas - Lei 
12.850/13). 
f) Majorante do feminicídio 
121, § 7º: A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o 
crime for praticado: 
• I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; 
• II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; 
• III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. 
• No caso do inciso I: o agente responderá pelo feminicídio majorado, em concurso formal 
impróprio ou em concurso material, com o aborto, se sabia que a vítima estava gestante. 
• No caso do inciso III, R. Sanches: a expressão “na presença de” está abrangida pela 
transmissão por meio de vídeo. Trata-se de uma interpretação extensiva conferida à 
majorante. 
g) Homicídio culposo 
O agente, por negligência, imprudência ou imperícia, dá causa ao resultado morte. 
h) Homicídio culposo majorado 
Causa de aumento será de 1/3, se o homicídio culposo: 
• Resulta de inobservância de regra técnica ou profissão, arte ou ofício 
Não se confunde com a imperícia, eis que, neste caso, o indivíduo não tem aptidão para 
realizar o ato. No caso da inobservância de regra técnica ou profissão, arte ou ofício, o sujeito 
tem aptidão para o exercício de arte, profissão ou ofício, mas atua com descaso, com 
displicência. 
Flávio Monteiro de Barros 
 
 
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• Se o cirurgião cardíaco mata a vítima porque, no momento da cirurgia, não presta atenção em 
algum ponto ➔ cometeu homicídio culposo majorado (inobservou técnica). 
• Se um médico, recém formado, realiza uma cirurgia cardíaca e mata a vítima por imperícia, 
não incide a majorante, porque ele não tem aptidão para o exercício daquela cirurgia. 
Perceba: não há bis in idem. 
• Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as 
consequências de seu ato ou foge para evitar prisão em flagrante 
➢ A pena será aumentada de 1/3. 
➢ Aqui há omissão de socorro. O agente deixa de prestar socorro à vítima quando podia e não 
havia risco pessoal. 
STJ: no homicídio culposo, a morte instantânea da vítimanão afasta a causa de 
aumento de pena de 1/3, a não ser que o óbito seja evidente, perceptível por qualquer 
pessoa. 
i) Perdão judicial 
• Houve fato típico, ilícito, culpável, mas a pena torna-se desnecessária: princípio da bagatela 
imprópria. 
• É causa extintiva da punibilidade. 
O perdão judicial, diferentemente do perdão do ofendido, não precisa ser aceito pelo 
infrator para produzir seus efeitos. 
Qual é a natureza jurídica da sentença do perdão judicial? 
É declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito 
condenatório (Súmula n° 18 do STJ). 
STJ: para aplicar o perdão judicial, é preciso uma das seguintes situações: 
• Que a vítima tenha relação de parentesco com o agente do crime 
• Que vítima tenha relação de afeto com o agente do crime 
 
 
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• Que o agente do crime tenha sofrido sequelas físicas 
➢ STJ não admite sequelas morais para justificar o perdão judicial. 
j) Ação penal 
A ação penal nos crimes de homicídio é pública incondicionada. 
k) Princípio da especialidade 
No caso de a vítima do homicídio ser Presidente da República, Presidente do Senado, 
Presidente da Câmara ou Presidente do STF e o agente tiver motivação ou objetivos políticos, 
o crime será o do art. 29 da Lei de Segurança Nacional, pois atinge os poderes da República. 
II. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122) 
• Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: 
• Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, 
se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
• Parágrafo único - A pena é duplicada: 
• I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
• II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. 
a) Sujeito do crime 
O crime é comum. 
• Suicídio: é a eliminação direta e voluntária da própria vida. O delito exige que a pessoa tenha 
capacidade de discernimento. 
Apenas quem tem capacidade de discernimento poderá ser sujeito passivo do crime. 
• Se não houver capacidade de discernimento, o agente terá cometido o crime de homicídio. 
• Exige-se que a conduta seja dirigida à pessoa determinada ou a várias pessoas 
determinadas. 
• O induzimento genérico não é enseja o crime de induzimento ao suicídio. 
 
 
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Ex.: obra literária que promova o suicídio não é capaz de incriminar o autor do livro. 
a) Conduta 
São 3 as formas de realizar o crime: 
• Induzimento: é de cunho moral. 
• Instigação: também é de cunho moral. 
• Auxílio: é uma prestação material, como fornecer a arma. 
➢ É possível que o agente induza, instigue e auxilie a vítima a se suicidar. Tipo misto alternativo, 
de conduta múltipla ou de conteúdo variado. 
A multiplicidade da conduta pode ter reflexo na dosimetria da pena. 
• A maior parte da doutrina entende que o auxílio moral e material somente pode ser 
praticado de forma comissiva. Não falar nada não é induzir ao suicídio. 
• Porém a conduta omissiva pode ser considerada como induzimento, instigação ou auxílio a 
suicídio, quando o autor tinha o dever jurídico de evitar o resultado. Dessa forma, o agente 
poderia praticar o crime por meio de conduta omissiva. 
Que crime comete o agente que, depois de ter induzido alguém a se suicidar, tenha, no 
momento culminante do ato, interferido na sua execução, causando a morte de quem tentava 
se suicidar? 
• Doutrina: responde o agente apenas pelo homicídio. 
• Responde também por homicídio o agente que, depois de auxiliar, vê a vítima, após a prática 
do ato, pedir a ajuda do agente, mas dolosamente impede intervenção salvadora. 
➢ CP, art. 146, §3º, II: não configura constrangimento ilegal a coação exercida para impedir 
suicídio. 
b) Voluntariedade 
Somente é punível a título de dolo. 
 
 
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Alguns entendem que é possível a prática do crime mediante dolo eventual. Não é 
pacífico na Doutrina. 
c) Consumação e tentativa 
Consuma-se no momento em que a vítima morre ou sofre lesões de natureza grave. 
Isto é uma condição objetiva de punibilidade, Não admite o crime de induzimento, 
instigação ou auxílio ao suicídio a forma tentada. 
d) Majorantes da pena 
A pena é duplicada quando: 
• Crime cometido por motivo egoístico 
• Crime é cometido contra menor 
• Crime é cometido contra quem tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de 
resistência 
➢ Atenção: ainda que seja menor, é necessário que seja dotada de algum grau de discernimento. 
Do contrário, não haveria induzimento ao suicídio, e sim homicídio. 
e) Duelo americano, roleta russa e pacto de morte (ambicídio) 
Duelo americano: duas pessoas, diante de duas armas, e apenas uma delas está 
carregada. Elas combinam de tirar a sorte para escolher a arma e logo após dar um tiro na sua 
própria cabeça. Quem sobreviver responderá pelo crime do art. 122. 
Roleta russa: praticamente a mesma coisa. As pessoas colocam uma munição na arma 
e vão atirando até que chega o momento em que o projétil é disparado na própria cabeça da 
vítima. Os sobreviventes responderão pelo crime do art. 122. 
Ambicídio ou pacto de morte: as duas pessoas combinam de tirar a própria vida 
conjuntamente. Caso não dê certo e um deles sobreviva, responderá por induzimento ao 
suicídio. 
Neste último caso, é possível que o sobrevivente responda por homicídio. 
 
 
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R. Sanches exemplifica: casal de namorados combina de se matar, situação em que eles 
se fecham numa sala com gás. No caso, o namorado abriu a torneira de gás. Supondo que o 
namorado sobreviva, ele não responderá pelo induzimento ao suicídio, e sim por homicídio. 
Se a namorada sobreviver, ela responderá pelo induzimento. 
Atenção: 
No caso, se os dois sobreviverem, o namorado responderá por tentativa de homicídio e 
a namorada não responderá por crime algum, salvo se o namorado sofrer lesão corporal de 
natureza grave, situação em que a namorada responderá pelo induzimento ao suicídio. 
f) Ação penal 
A ação penal do crime é pública incondicionada. 
III. Infanticídio 
• Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou 
logo após: 
• Pena - detenção, de dois a seis anos 
a) Sujeito ativo 
A genitora. Trata-se de crime próprio. 
Admite-se coautoria e participação. A condição pessoal é elementar e, portanto, 
comunica-se ao coautor que não estava em estado puerperal. 
b) Sujeito passivo 
Somente poderá ser sujeito passivo o sujeito nascente ou recém-nascido. 
c) Conduta 
Matar, durante o parto ou logo após: circunstância de tempo, submetida a juízo de valor 
do magistrado. 
Doutrina: “logo após” compreende todo o período do estado puerperal. 
 
 
19 
 
• Obs.: a depender do grau de desequilíbrio fisiopsíquico oriundo do parto, pode a gestante 
ser considerada portadora de doença ou perturbação da saúde mental, aplicando-se as 
disposições do art. 26, caput ou parágrafo único, do CP, caso tenha retirado total ou 
parcialmente sua capacidade de entendimento ou de autodeterminação. 
d) Voluntariedade 
O delito é punido a título de dolo, direto ou eventual. 
E se a mãe, por equívoco, acaba por matar filho de outra pessoa (confunde com seu 
próprio filho)? 
Responde por infanticídio, como se tivesse praticado o delito efetivamente contra seu 
filho. Trata-se de erro sobre a pessoa (art. 20, §3º do CP). 
e) Consumação e tentativa 
Consuma-se com a morte da criança. A tentativa é possível. 
f) Ação penal 
A ação é pública incondicionada. 
IV. Aborto 
É a interrupção da gravidez, com a destruição do produto da sua concepção (Mirabete). 
• Doutrina majoritária brasileira:o termo inicial do aborto é o começo da gravidez, ou seja, a 
partir do momento em que a gestação tem início sendo considerado como tal o momento da 
nidação (momento em que o óvulo fecundado é implantado no útero da mulher). 
No entanto, existe intensa discussão sobre quando se inicia a vida e qual é o status 
jurídico do embrião durante a fase inicial da gestação. Há 02 posições principais: 
• 1ªC: existe vida desde a concepção (nidação), desde que o espermatozoide fecundou o óvulo, 
dando origem à multiplicação das células. 
• 2ªC: antes da formação do sistema nervoso central e da presença de rudimentos de 
consciência (o que geralmente se dá após o terceiro mês da gestação) não é possível falar-se 
em vida em sentido pleno. 
 
 
20 
 
• Dado científico: 
Nos 3 primeiros meses, o córtex cerebral (que permite que o feto desenvolva 
sentimentos e racionalidade) ainda não foi formado nem há qualquer potencialidade de 
vida fora do útero materno. 
• Com base nessa premissa científicas, diversos países do mundo adotam como critério que a 
interrupção voluntária da gestação não deve ser criminalizada, desde que feita no primeiro 
trimestre da gestação. Ex.: Alemanha, Bélgica, França e Uruguai. 
1ª Turma do STF 
A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada pela própria 
gestante (art. 124) ou com o seu consentimento (art. 126) não é crime. 
• É preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos arts. 124 a 126 do CP para excluir 
do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro 
trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher, 
bem como o princípio da proporcionalidade. (Inf. 849). 
STJ 
• Iniciado o trabalho de parto, não há crime de aborto, mas sim homicídio ou infanticídio, 
conforme o caso. 
• Para configurar o crime de homicídio ou infanticídio, não é necessário que o nascituro tenha 
respirado, notadamente quando, iniciado o parto, existem outros elementos para demonstrar 
a vida do ser nascente. Ex.: batimentos cardíacos. 
a) Aborto provocado pela gestante ou com consentimento da gestante 
• Há aqui uma exceção à teoria monista: quem pratica o aborto com o consentimento da 
gestante pratica o crime do art. 126 e a gestante que consentiu com o aborto pratica o crime 
do art. 124. 
• Art. 124: provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque. Pena de 
detenção, de 1 a 3 anos. 
Veja: pena mínima não superior a 1 ano, caberá sursis (art. 89 LJE). 
 
 
21 
 
→ Sujeitos do crime 
Pode ser sujeito ativo do crime apenas a gestante. 
• Cezar Roberto Bitencourt: o crime é de mão própria. 
• Rogério Sanches e doutrina majoritária: trata-se de crime próprio. Portanto, se a gestante e o 
namorado decidem realizar em conjunto as manobras abortivas, haveria a possibilidade de 
coautoria. 
Sujeito passivo: o óvulo, o feto ou o embrião. 
Se a mulher estiver grávida de trigêmeos, quantos crimes cometeu? 3 crimes de aborto 
em concurso formal, pois atinge 3 vítimas (fetos). 
→ Voluntariedade 
O crime de aborto só é punível a título de dolo. 
→ Consumação 
Consuma-se no momento em que o feto é morto, ou seja, no momento em que há a 
interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção (crime material). 
→ Ação penal 
A ação penal é pública incondicionada. 
b) Aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante 
Art. 125: provocar aborto, sem o consentimento da gestante. 
Pena será de reclusão, de 3 a 10 anos. 
→ Sujeitos do crime 
• Sujeito ativo: qualquer pessoa 
• Sujeito passivo: a genitora e o feto (dupla subjetividade passiva). 
→ Voluntariedade 
O crime é praticado de forma dolosa. 
 
 
22 
 
• Atenção: se o sujeito matar uma mulher grávida, sabendo dessa condição, responderá pelo 
crime de homicídio em concurso formal com o crime de aborto. 
→ Ação penal 
A ação penal é pública incondicionada. 
c) Aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante 
• Art. 126: provocar aborto com o consentimento da gestante 
• Pena: reclusão, de 1 a 4 anos. 
Veja: também admite a suspensão condicional do processo. 
§ único: aplica-se a pena do aborto sem o consentimento da gestante (reclusão de 3 a 
10 anos), se: 
• A gestante não é maior de 14 anos 
• A gestante é alienada ou débil mental 
• O consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência 
Há aqui um dissenso presumido pela lei. 
→ Sujeitos do crime 
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). 
Sujeito passivo: é o feto apenas. 
→ Ação penal 
A ação penal é pública incondicionada. 
d) Aborto majorado pelo resultado 
Art. 127: as penas cominadas ao aborto provocado por terceiro com consentimento da 
gestante e o crime de aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante: 
• São aumentadas de 1/3: se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para 
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; 
 
 
23 
 
• São duplicadas: se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
Trata-se de crimes preterdolosos. 
• Essa causa de aumento de 1/3 ou duplicação das penas não se aplica ao aborto provocado 
pela gestante ou pelo crime de consentimento para que lho provoquem. 
• Para que incida a majorante do art. 127, não é indispensável que o aborto ocorra. Se a vítima 
sofrer lesão corporal de natureza grave ou morrer, mas o feto se salvar, haverá a incidência 
da majorante. O artigo diz que haverá o acréscimo quando as lesões ou a morte constituírem 
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo (ainda que o aborto não 
ocorra). 
• Logo, é possível tentativa de aborto majorado. 
• Caberia tentativa de crime preterdoloso? 
Em regra, não. Mas Frederico Marques afirma que é possível, quando a parte frustrada 
recai sobre a conduta dolosa. A figura da tentativa deverá recair sobre o aborto. 
e) Aborto legal 
Art. 128: não se pune o aborto praticado por médico: 
• se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
• se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, 
quando incapaz, de seu representante legal. 
Na verdade, trata-se de uma excludente de ilicitude, apesar de mencionar que “não se 
pune”. 
O dispositivo prevê duas situações distintas: 
• Aborto necessário (ou terapêutico): visa salvar a vida da gestante. 
• Aborto sentimental (humanitário ou ético): é resultante de estupro. 
→ Aborto necessário (ou terapêutico) 
Há aqui 3 condições para ser considerado legal: 
 
 
24 
 
• Que o aborto seja praticado por médico 
• Que haja perigo de morte da gestante 
• Que seja impossível o uso de outro meio para salvar a vida da gestante 
Preenchidos esses requisitos, não se exige nem mesmo a autorização da gestante ou 
autorização judicial. 
→ Aborto sentimental (humanitário ou ético) 
Há também necessidade de preencher 3 requisitos: 
• Aborto ser praticado por médico 
• Gravidez resultar de estupro 
• Consentimento da gestante, ou, caso seja incapaz, autorização do representante legal 
Aqui também não há necessidade de autorização judicial. 
→ Aborto de feto anencefálico 
• Feto anencéfalo: é um embrião, feto ou recém-nascido que não possui uma parte do seu 
sistema nervoso central, não possuindo os hemisférios cerebrais. Não há possibilidade de vida 
extrauterina. 
• STF: houve uma derrotabilidade da norma, fazendo uma interpretação conforme, para que 
compreender que o aborto é crime, salvo nas hipóteses de aborto necessário, humanitário 
e do feto anencéfalo. Ou seja, a norma do crime de aborto é constitucional, mas ela é 
derrotada para o aborto de fetoanencéfalo. 
Homenagem ao princípio da dignidade da pessoa humana, da legalidade, liberdade de 
decisão sobre o próprio corpo e autonomia da vontade. 
→ Aborto de feto no primeiro trimestre 
STF, 1ª Turma: o aborto cometido até o 3º mês não é crime, visto que não haveria 
sistema nervoso central. 
 
 
25 
 
• Se a lei diz que a vida termina quando há o fim das atividades cerebrais, já que os órgãos 
podem ser doados, é preciso fazer uma leitura a contrario sensu, de modo a entender que a 
vida não começa quando não houver a formação desse sistema. Portanto, como não há vida 
até o 3º mês de gravidez, é possível o aborto sem ser crime neste caso. 
 
Aula 02. Dos crimes contra a pessoa: Das lesões corporais. Periclitação da vida e da saúde. 
2. Crimes de lesões corporais 
I. Crime de lesão corporal (art. 129) 
• Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
• Pena - detenção, de três meses a um ano. 
Infração de menor potencial ofensivo 
A lesão corporal poderá ser: 
• Leve 
• Culposa 
• Grave 
• Gravíssima 
• Seguida de morte 
Lesão corporal leve e l. c. culposa são infrações de menor potencial ofensivo. L. c. grave 
admite sursis processual. 
a) Sujeitos do crime 
Crime bicomum. 
b) Voluntariedade 
Pode ser cometido na forma dolosa, culposa e preterdolosa. 
II. Lesão corporal de natureza grave 
 
 
26 
 
Art. 129, §1º: são lesões corporais de natureza grave, ensejando pena de 1 a 5 anos, 
caso resultem em: 
• Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias; 
Envolve qualquer atividade corporal costumeira. 
Art. 168, §2º, do CPP: a gravidade da lesão será comprovada por um laudo médico 
complementar após o trigésimo dia a contar da data da lesão. Caso não haja laudo, cabível 
prova testemunhal. 
• Perigo de vida; 
Probabilidade séria de morte (colocou em risco a vida da vítima). 
Deve ser atestado, e não presumido. 
É necessário que a conduta seja culposa. Caso contrário, há tentativa de homicídio. 
• Debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
Debilidade: diminuição ou enfraquecimento da capacidade funcional da vítima, no 
tocante a membro, sentido ou função. 
Ex.: perda do movimento de um olho. 
STJ: a lesão corporal que provoca na vítima a perda de 2 dentes tem natureza grave, e 
não gravíssima. 
• Aceleração de parto; 
Há um parto prematuro. 
Se provocar o aborto, não é lesão corporal de natureza grave, e sim de natureza 
gravíssima. 
Para incidir essa qualificadora, é necessário que o agente saiba da gravidez da vítima. 
III. Lesão corporal de natureza gravíssima 
Pena: reclusão de 2 a 8 anos, desde que resulte: 
• Incapacidade permanente para o trabalho; 
 
 
27 
 
A vítima não poderá mais trabalhar. 
Doutrina e jurisprudência prevalentes: a incapacidade deverá ser para qualquer 
espécie de trabalho. Caso possa trabalhar em outra função, não caberá a qualificadora. 
• Enfermidade incurável; 
Doutrina: enfermidade que não tem cura provável ou tratamento certo pela medicina, 
ainda que seja possível tratamento experimental. 
➢ Nucci: condenado o indivíduo por lesão gravíssima e vindo o ofendido a ser curado da 
enfermidade que era incurável (desenvolvimento da medicina), a qualificadora se mantém. A 
impossibilidade de cura é aferida no momento da condenação. 
➢ Porém, STJ: a aferição da possibilidade de cura ou não da enfermidade deverá ser analisado 
com base no momento da consumação do crime, e não no momento da condenação. 
➢ STJ: o indivíduo que tenha a intenção de transmitir vírus HIV a parceiro/a pratica lesão 
corporal de natureza gravíssima, tendo em vista se tratar de enfermidade incurável. 
• Perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
Perda da função por inteiro. 
Ex.: pessoa que ficou cega dos dois olhos. 
Ex.2: perda de um braço ou de uma perna 
Sanches: gravíssima lesão que causa impotência generandi ou coeundi 
• Deformidade permanente; 
É o dano estético, capaz de constranger a vítima, assim como quem a vê. 
STJ 
A qualificadora “deformidade permanente” do crime de lesão corporal não é afastada 
por posterior cirurgia estética reparadora que elimine ou minimize a deformidade na vítima. 
O fato criminoso é valorado no momento de sua consumação (Inf. 562). 
• Aborto; 
 
 
28 
 
Trata-se de crime preterdoloso. 
O sujeito causa o aborto na mulher grávida por conta da lesão, acreditando que essa 
lesão não levaria ao aborto. 
O indivíduo deve saber que a mulher está grávida. 
IV. Lesão corporal seguida de morte 
Conhecida também como homicídio preterdoloso. 
§3º: a pena será de reclusão, de 4 a 12 anos, se da lesão corporal resultar morte e as 
circunstâncias evidenciarem que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de 
produzi-lo. 
Vale lembrar: em regra, crime preterdoloso não admite tentativa. 
STJ: o crime de lesão corporal seguida de morte é compatível com a agravante de 
delito cometido à traição ou emboscada. 
V. Lesão corporal dolosa privilegiada 
§4º do art. 129: se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor 
social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação 
da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3. 
Portanto, haverá l. c. dolosa privilegiada quando o agente atua com: 
• Relevante valor social 
• Relevante valor moral 
• Injusta provocação da vítima, sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta 
provocação da vítima. 
VI. Lesão corporal dolosa ou preterdolosa majorada 
§7, art. 129: a lesão corporal terá sua pena aumentada de 1/3, quando: 
• O crime for praticado contra menor de 14 anos 
• O crime for praticado contra maior de 60 anos 
 
 
29 
 
• O crime for praticado por milícia privada, sob pretexto de prestação de serviço de segurança 
• O crime for praticado por grupo de extermínio 
VII. Substituição da pena 
§5º - A pena de detenção poderá ser substituída pela pena de multa, caso, não sendo 
graves as lesões, estejamos diante de uma das seguintes hipóteses: 
• Ocorrer qualquer das hipóteses da lesão dolosa privilegiada (§4º); ou 
• Ocorrer reciprocidade de lesões 
VIII. Lesão corporal culposa 
Lesão corporal culposa: é a ofensa a integridade física de outrem por negligência, 
imprudência ou imperícia. 
§6º: no caso da lesão corporal culposa, a pena será de detenção, de 2 meses a 1 ano 
(IMPO). 
A intensidade da lesão é irrelevante para efeito de tipificação, podendo ter 
consequências na dosimetria da pena. 
IX. Lesão corporal culposa majorada 
A lesão corporal culposa será majorada de 1/3, quando: 
• O crime resultar de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício 
• O agente deixar de prestar imediato socorro à vítima 
• O agente não procura diminuir as consequências do seu ato 
• O agente fugir para evitar prisão em flagrante 
X. Perdão judicial 
Admite-se o perdão judicial no caso de lesão corporal culposa, nas mesmas 
circunstâncias em que se admite perdão judicial no crime de homicídio culposo. 
STJ ➔ para aplicar o perdão judicial, é preciso que estejamos diante de uma das 
seguintes situações: 
 
 
30 
 
• Vítima tenha relação de parentesco com o agente do crime 
• Vítima tenha relação de afeto com o agente do crime 
• Agente do crime tenha sofrido sequelas físicas 
XI. Violência doméstica e familiar 
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou 
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente 
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (A lesão corporal leve no âmbitodoméstico e familiar é qualificada) 
*Art. 129, §9º, do CP não trata apenas da lesão contra a mulher. 
Atenção 
• Sendo a lesão corporal de natureza grave ou gravíssima e cometido o crime contra uma das 
pessoas do §9º (vulneráveis), a pena será aumentada de 1/3 (§10 do art. 129). 
• Se a lesão corporal de natureza leve é cometida dentro do ambiente doméstico, ela será 
qualificada. Mas se estivermos diante de lesão de natureza grave ou gravíssima no ambiente 
doméstico, temos uma causa de aumento de pena. 
XI. Violência doméstica e familiar contra pessoa portadora de deficiência 
Se a lesão decorrente de violência doméstica e familiar se der em face de pessoa 
portadora de deficiência, a pena será aumentada de 1/3 (§11). 
XII. Lesão corporal contra autoridade ou agente de segurança pública 
§12º: se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 
da CF, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício 
da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente 
consanguíneo até 3º grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de 1/3 a 2/3. 
Esse aumento incide em qualquer uma das lesões corporais dolosas (leve, grave, 
gravíssima ou seguida de morte), não incidindo na lesão corporal culposa. 
 
 
31 
 
Atenção: Lei 8.072/90 traz as modalidades de lesão corporal gravíssima e a seguida de 
morte, desde que cometidas contra essas autoridades de segurança pública. 
Portanto, são crimes hediondos: 
• Lesão corporal gravíssima funcional 
• Lesão corporal seguida de morte funcional 
XIII. Ação penal 
Ação penal pública incondicionada. 
Caso seja lesão corporal de natureza leve ou culposa, a ação será pública condicionada 
à representação da vítima. 
Em se tratando de violência doméstica e familiar contra homem, seguirá a regra da ação 
penal pública condicionada à representação. 
Caso a lesão corporal seja cometida por violência doméstica e familiar contra a mulher, 
e sendo de natureza leve ou culposa, a ação penal será pública incondicionada 
STF: não se aplica os ditames da Lei 9.099/95 a esses casos. 
Súmula 542 do STJ: a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de 
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. 
 
3. Periclitação da vida e da saúde 
Aqui são tratados os crimes de perigo. 
Os crimes de perigo podem ser subdivididos em: 
• Crime de perigo concreto: é indispensável que se comprove a situação de perigo. 
• Crime de perigo abstrato: é desnecessário que se comprove a situação de perigo. 
I. Perigo de contágio venéreo 
 
 
32 
 
• Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio 
de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: 
• Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa (IMPO). 
• § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: 
• Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa (cabe sursis processual). 
• § 2º - Somente se procede mediante representação. 
• Se o indivíduo sabe ➔ dolo direto. 
• Se o indivíduo deve saber ➔ dolo eventual. 
• Bem jurídico: a incolumidade física e da saúde da vítima. 
a) Sujeitos do crime 
Sujeito ativo: qualquer pessoa contaminada por moléstia venérea. 
Sujeito passivo: qualquer pessoa que não tenha essa moléstia venérea. 
Se a mulher sabe que o parceiro tem a moléstia venérea e consente que o agente pratique 
o ato sem o uso de preservativo, haverá crime da mesma forma: bem indisponível. 
Atenção: AIDS não é considerada moléstia venérea, podendo configurar tentativa de lesão 
corporal de natureza gravíssima, por se tratar de uma enfermidade incurável. 
Exemplo de moléstia venérea seria a sífilis. 
b) Voluntariedade 
• Conduta dolosa. Dolo de perigo. 
Esse dolo poderá ser direto ou eventual. 
• Se o agente se relaciona com a intenção de transmitir a doença, o dolo não é mais de perigo, 
e sim dolo de dano, havendo o crime qualificado do §1º. 
• O agente somente responderá pelo crime se não alcançar o intento danoso que tinha. Caso 
tenha alcançado, haverá outro crime, que é o de lesão corporal (aplica-se o princípio da 
consunção). 
 
 
33 
 
c) Consumação e tentativa 
Trata-se crime de perigo abstrato. 
Basta que se comprove a prática do ato sexual, ainda que a vítima não tenha sido 
contaminada. Cuida-se de crime formal. 
• Há uma presunção de perigo, mas se ficar demonstrado que, por meio do ato sexual, a vítima 
não foi posta em perigo em momento algum, pois era impossível o seu contágio, não haverá 
o crime. 
Ex.: o agente usou preservativo. Neste caso, o sujeito não agiu com dolo direto e nem com 
dolo eventual. 
Atenção 
• Haverá crime impossível se a vítima já estava contaminada. Se a vítima já possui a moléstia, o 
contágio é impossível. 
Como é tratada a situação em que se pratica o ato de libidinagem e há o contágio da vítima? 
Supondo que o dolo fosse de perigo (art. 130), situação na qual o contágio efetivamente 
aconteceu. 
Doutrina majoritária: o contágio é o mero exaurimento do tipo penal, considerado no 
momento da dosimetria. 
Admite-se a tentativa? 
1ªC: é impossível, pois somente é possível expor ou não a vítima a risco. 
2ªC (Sanches): é possível, visto se tratar de crime plurissubsistente (admite o fracionamento 
da conduta), podendo ser interrompida a execução, impedindo-se que o perigo ocorra por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Ex.: ato sexual frustrado por conta da chegada do ex-namorado da vítima. 
d) Ação penal: é pública condicionada à representação 
II. Perigo de contágio de moléstia grave 
 
 
34 
 
Aqui já não se fala mais em moléstia venérea. 
• Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, 
ato capaz de produzir o contágio: 
• Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
➢ Cabível a suspensão condicional do processo. 
➢ O tipo exige o especial fim de agir (elemento subjetivo do tipo). 
• Observe: não é necessário que o ato se dê por meio sexual, podendo ser qualquer ato capaz 
de produzir o contágio. 
• Bem jurídico: incolumidade física e da saúde. 
a) Sujeitos do crime 
• Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
• Sujeito passivo: qualquer pessoa que não tenha essa moléstia grave. Do contrário, haveria 
crime impossível. 
Ex. de moléstia grave: febre amarela, tuberculose, poliomielite... 
b) Voluntariedade 
Crime punido a título de dolo. Mas perceba: há um dolo de dano. O sujeito quer transmitir a 
doença, agindo com o especial fim de agir. 
Há um crime de perigo com dolo de dano. Este é o elemento subjetivo, o especial fim de agir. 
Não se admite o dolo eventual, por conta da exigência do dolo específico. 
c) Consumação e tentativa 
• Consumação: dá-se com a prática do ato perigoso, ainda que não ocorra a transmissão da 
moléstia grave. Crime formal. 
• A tentativa é possível, se houver conduta plurissubsistente. 
• Os crimes de tendência interna transcendente são crimes formais. 
 
 
35 
 
• Se o contágio ocorrer e resultar em lesão corporal leve, esta ficará absorvida pelo crime de 
perigo de contágio de moléstia grave. Se resultar em lesão corporal grave ou em morte, o 
sujeito responderá por lesão corporal de natureza grave ou pelo homicídio preterdoloso 
(princípio da consunção). 
d) Ação penal 
É pública incondicionada. 
III. Perigo para a vida ou saúde de outrem 
Crime de perigo. 
• Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: 
• Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. (IMPO e 
subsidiariedade expressa) 
Parágrafo único. A pena é aumentada de um1/6 a 1/3 se a exposição da vida ou da saúde de 
outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em 
estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. A ideia é 
proteger os “boias frias”. 
Objeto jurídico: é incolumidade da vida e da saúde das pessoas. 
a) Sujeitos do crime 
Qualquer pessoa. Crime comum. 
O ofendido deve ser uma pessoa determinada. Se a infração coloca em risco um número 
indeterminado de pessoas, o sujeito ativo responde por crime de perigo comum (art. 250 e 
seguintes do CP). 
b) Voluntariedade 
Crime doloso (dolo direto ou eventual). Dolo de perigo. 
c) Consumação e tentativa 
Consumação: dá-se quando há o efetivo risco, ou seja, quando a pessoa é exposta a situação 
de risco a sua saúde ou a sua vida. 
 
 
36 
 
Se da conduta perigosa sobrevier dano à pessoa, deverá ser verificado se o dano é mais grave 
ou mais leve do que o crime em apreço. Sendo mais leve, o sujeito responde pelo crime de 
perigo. Sendo mais grave, o indivíduo responde pelo crime mais gravoso. 
A tentativa é admissível quando o crime for subsistente. 
d) Ação penal 
A ação penal é pública incondicionada. 
IV. Abandono de incapaz 
• Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, 
por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: 
• Pena - detenção, de seis meses a três anos (cabe sursis processual). 
*O sujeito passivo pode ser um menor, um ébrio, um doente etc. 
Hipóteses preterdolosas: 
• § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: 
• Pena - reclusão, de um a cinco anos. (cabe sursis processual) 
• § 2º - Se resulta a morte: 
• Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
• § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: 
• I - se o abandono ocorre em lugar ermo; 
• II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. 
• III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos 
Observe: não está escrito companheiro, motivo pelo qual não será considerado, sob pena de 
analogia in malam partem. 
a) Sujeitos do crime 
 
 
37 
 
• Sujeito ativo: somente pode ser quem tenha a autoridade sobre o incapaz ou que o tenha sob 
seus cuidados ou vigilância. Trata-se de crime próprio. 
• Sujeito passivo: somente pode ser quem está sob a vigilância ou autoridade do sujeito ativo. 
Também é próprio. 
b) Voluntariedade 
O crime exige um dolo de perigo: dolo de abandonar, colocando o incapaz em uma situação 
de risco. 
O dolo de dano altera a natureza da infração penal; Se o sujeito abandona a criança para que 
ela morra, o dolo será de matar (homicídio). 
Não se admite o crime na forma culposa. 
c) Consumação e tentativa 
Consumação: dá-se no momento do abandono, colocando a vítima em uma situação de risco 
concreto. É necessária a demonstração de que a vítima foi submetida a situação de perigo. 
• Caso tenha sido praticado mediante ação, admite-se a tentativa. 
• Mas caso praticado por meio de omissão, não se admite a tentativa. 
d) Ação penal 
A ação penal será pública incondicionada. 
V. Exposição ou abandono de recém-nascido 
• Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria (especial fim de 
agir): 
• Pena - detenção, de seis meses a dois anos (IMPO). 
• § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: 
• Pena - detenção, de um a três anos (cabe sursis proc.). 
• § 2º - Se resulta a morte: 
• Pena - detenção, de dois a seis anos. 
 
 
38 
 
*A ideia é desmotivar o aborto, pois a pena do crime é muito + leve. 
• Em qualquer um desses casos (§§ 1º e 2º), o crime será preterdoloso, causando o resultado 
culposamente. 
• Bem jurídico: a incolumidade física e a saúde do recém-nascido. 
a) Sujeitos do crime 
• Cezar Roberto Bitencourt: somente a mãe pode ser o sujeito ativo do crime. 
• Doutrina majoritária: tanto a mãe quanto o pai podem ser sujeito ativo do crime, pois ambos 
poderão abandonar o recém-nascido para ocultar desonra própria. 
Ex.: sujeito casado que abandona o recém-nascido para que não se descubra a gravidez gerada 
pela gravidez da amante. 
b) Conduta 
Expor ou abandonar o recém-nascido, colocando em risco concreto para ocultar uma desonra 
própria. 
É indispensável que haja honra a se preservar. Se não há, não se pode invocar o art. 134 do 
CP. Por isso, doutrina dirá que a prostituta não poderia praticar este crime. 
c) Voluntariedade 
Crime doloso. Exige-se o elemento subjetivo do tipo: o fim de ocultar desonra própria. 
Se o marido da mulher que o traiu abandona o recém-nascido adulterino (filho resultante 
do adultério), ele não pratica o crime do art. 134, pois ele não age para ocultar desonra 
própria, mas age para ocultar desonra alheia. Ou seja, o indivíduo estaria cometendo o crime 
do art. 133, que é mais grave do que esse. 
VI. Omissão de socorro 
• Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança 
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e 
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: 
• Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa (IMPO). 
 
 
39 
 
• Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal 
de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte (AINDA ASSIM IMPO). 
Trata-se de dever imposto a todos, e não dever jurídico específico. 
a) Sujeitos do crime 
Sujeito ativo: qualquer pessoa. Crime comum. 
• Esse dever de assistência recai sobre todas as pessoas. Por isso a doutrina vai dizer que esse 
crime não admite coautoria. 
• Diante de situação em que várias pessoas podem ajudar alguém, mas omitem socorro, cada 
uma pratica um crime de omissão de socorro. Porém, se apenas uma delas ajudar a vítima, 
nenhuma das outras cometerá o crime, pois desaparece a obrigação. 
Sujeito passivo: 
• Criança (pessoa com menos de 12 anos) abandonada ou extraviada 
• Inválido ou ferido desamparado 
• O que se achar em grave e iminente perigo 
b) Conduta 
A conduta pode ocorrer de duas formas: 
• Deixar de atender determinada norma, sendo um crime omissivo 
• Deixar de solicitar socorro à autoridade pública, sendo um caso de assistência mediata 
Se o crime é omissivo próprio, não admitirá tentativa. 
c) Voluntariedade 
A omissão deve ser dolosa. Não se admite a conduta culposa. 
d) Consumação 
Dá-se no momento da omissão. Crime omissivo próprio. 
e) Majorante de pena 
 
 
40 
 
O crime tem a sua pena aumentada de: 
• Metade: resultar lesão corporal de natureza grave. 
• Triplicada: resultar em morte. 
Se a morte do periclitante for inevitável, responderá o agente pela omissão do comportamento 
devido, apesar de este não ter a capacidade de evitar o resultado danoso? 
Não responderá. 
Exige-se para a incidência da qualificadora que se prove, no caso concreto, que a conduta 
omitida seria capaz de impedir o resultado mais gravoso. 
Ex.: se a morte da vítima se deu por lesões no cérebro, cuja assistência prestada jamais 
impediria a superveniência do evento letal, não há como atribuir esse resultado ao agente. 
VII. Condicionamento de 
atendimento médico-hospitalar emergencial 
Objetivo: impedir condutas abusivas em hospitais particulares. 
• Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o 
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento 
médico-hospitalar emergencial: 
• Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. 
• § único. Apena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão 
corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. 
a) Sujeitos do crime 
Somente podem ser sujeito ativo do crime: administradores de hospitais particulares, 
funcionários de hospitais particulares... 
*hospital público não pode exigir garantia. 
• G. Nucci: há duplo requisito cumulativo no tipo, devendo haver prestação de garantia e o 
preenchimento de formulário. 
 
 
41 
 
• Entendimento prevalente: tanto a exigência de um como a exigência do outro tipifica o 
crime. 
Situação emergencial. 
• A situação de urgência é uma situação de menor imediatidade do que a emergência. 
• Há o entendimento de que a situação de urgência está abrangida pelo tipo penal. 
b) Voluntariedade 
Crime doloso. 
Elemento subjetivo do tipo: exige-se a garantia ou o preenchimento de formulário como 
condição para viabilizar o atendimento médico emergencial. 
c) Consumação e tentativa 
• Consuma-se com a exigência indevida, condicionando o atendimento emergencial à prestação 
de uma garantia ou à prestação de um formulário. 
• É crime de perigo concreto, devendo provar a situação de perigo e que ela não foi atendida. 
• A tentativa é possível, desde que, antes que se exija a garantia ou o preenchimento de 
formulário, alguém atenda ao paciente sem impor esta condição. 
d) Ação penal 
A ação penal é pública incondicionada. 
VIII. Maus-tratos 
• Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou 
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de 
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou 
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: 
• Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa (IMPO). 
 
 
42 
 
Portanto, há 3 condutas possíveis para o crime de maus-tratos, quando o sujeito expõe a 
perigo de vida ou a saúde de pessoa sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para fim de 
educação, ensino, tratamento ou custódia: 
• Privando de alimentação ou cuidados indispensáveis 
• Sujeitando a trabalho excessivo ou inadequado 
• Abusando de meios de correção ou disciplina 
• § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: 
• Pena - reclusão, de um a quatro anos (cabe sursis processual) 
• § 2º - Se resulta a morte: 
• Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
• § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 
(catorze) anos. 
a) Sujeitos do crime 
• Sujeito ativo: pessoa que tenha autoridade, vigilância ou guarda em relação à vítima da 
infração penal (crime próprio). 
Discussão: companheiro de quem tem essa relação de ascendência pode praticar o crime em 
face do descendente? 
Ex.: companheiro da mãe da vítima pratica esse crime em face do seu enteado? 
• 1ªC: é possível, desde que comprove que a vítima estava sob a sua autoridade, vigilância ou 
guarda. 
• 2ªC: não é possível, pois o agente não tem o poder correicional sobre o enteado. Pela 
legalidade estrita, não é possível. 
b) Voluntariedade 
O crime é de ação múltipla, ou de conteúdo variado, podendo ser cometido pela privação de 
alimentos, sujeição a trabalhos excessivos, abuso dos meios de correção. 
 
 
43 
 
No caso do abuso do meio corretivo ou disciplinar, o meio empregado para expor a perigo, a 
vida ou a saúde do corrigido ou do disciplinado deve ser idôneo. 
Se não se verificar que houve a exposição a perigo da vida ou da saúde da vítima punida 
gravosamente, ainda que seja vexatória a punição, não há que se falar em crime de maus-
tratos. 
Ex.: mãe que raspa os cabelos da filha não comete o crime de maus-tratos, pois não houve 
perigo à vida da filha neste caso. 
c) Consumação e tentativa 
Atenção: a conduta de maus-tratos não se confunde com o crime de tortura, previsto no art. 
1º, II, Lei 9.455/95. 
• No caso da tortura: a vítima é submetida a intenso sofrimento físico ou mental. A intenção do 
agente é causar intenso sofrimento físico ou mental na vítima. 
• No crime de maus-tratos: basta a exposição à situação de perigo à saúde ou à vida da pessoa. 
A intenção do agente pode ser a disciplina, mas a exerce abusando desse poder regular do 
direito. 
A consumação se dá no momento em que o agente cria o perigo real, visto que há perigo 
concreto: deve ser demonstrada a situação de perigo para que fique tipificado o delito. 
 
Aula 03. Dos crimes contra a pessoa: Da rixa. Dos crimes contra a honra. Crimes contra a 
liberdade individual (crimes contra a liberdade pessoal). 
4. Rixa 
Rixa: briga entre mais de duas pessoas, em que cada um age por sua conta, não havendo 
grupos determinados. 
• Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: 
• Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa (IMPO) 
 
 
44 
 
• Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da 
participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos (rixa qualificada - IMPO). 
Bem jurídico tutelado: incolumidade física ou mental da pessoa humana. 
I. Sujeitos do crime 
• Crime é comum. 
• O agente, no crime de rixa, será sujeito ativo e simultaneamente sujeito passivo. 
• O crime é de concurso necessário: exige ao menos 3 pessoas brigando entre si.. Computa-se 
o inimputável. 
• A participação da rixa pode ser material ou moral, como no caso do indivíduo que incentiva 
os demais a brigarem. 
II. Voluntariedade 
Conduta dolosa ➔ dolo de perigo: vontade consciente de tomar parte na briga. 
III. Consumação e tentativa 
Consuma-se no momento em que tem início o conflito, sendo um crime de perigo presumido. 
Trata-se de crime unissubsistente, logo prevalece que o crime de rixa não admite tentativa. 
Há legítima defesa na rixa? 
Via de regra: não se admite legítima defesa em caso de rixa. 
Fundamento: no caso da rixa, todos estão agredindo injustamente. Logo, não há falar em 
legítima defesa. 
Exceção: quando a rixa tiver um padrão, mas um dos rixosos não o observar. 
Ex.: a briga é de socos e chutes, mas um dos indivíduos pega uma arma de fogo. Logo após, 
sofre uma pedrada de um dos indivíduos, havendo legítima defesa. 
IV. Qualificadora 
Ocorrendo lesão grave ou morte, a pena da rixa passará a ser de detenção de 6 meses a 2 
anos. 
 
 
45 
 
Existem alguns sistemas que vão justificar a 
punição dos rixosos no tocante às outras infrações: 
• Sistema da solidariedade absoluta: todos os participantes da rixa vão responder também pelo 
outro crime mais grave, lesão corporal grave ou homicídio. 
• Sistema da cumplicidade correspectiva: havendo morte ou lesão grave, e não sendo possível 
apurar quem foi o autor da morte ou da lesão, todos responderão pelo crime. No entanto, a 
pena será a média da sanção do autor e do partícipe. Há uma pena atenuada para aqueles que 
participaram da rixa, mas não causaram o resultado agravador. 
• Sistema da autonomia: a rixa é punida por si só, independentemente do resultado agravador. 
➢ Caso tenha ocorrido, haverá qualificação do crime de rixa. 
➢ Pelo resultado agravador, só responderá aquele que o praticou. 
Ex.: João, José, Carlos e Antonio participaram de uma rixa. Antonio morreu. Os outros 3 
respondem por rixa qualificada. Mas se João foi quem matou, apenas ele responderá por rixa 
qualificada e pelo homicídio. Este é o sistema adotado. 
*Se houver vários homicídios, a rixa qualificada será uma só, sendo os demais homicídios 
delitos autônomos. 
• Caso o agente tenha participado da rixa, mas tenha deixado o local antes da ocorrência do 
resultado morte, ele responderá pela rixa qualificada.Fundamento: a participação do indivíduo deu condições para que o evento morte ou lesão 
corporal grave viesse a ocorrer. 
• Por outro lado, se João entrar na rixa após a morte de José, João não responderá pela rixa 
qualificada, eis que não contribuiu para que o desfecho morte ocorresse. 
V. Ação penal: é pública incondicionada. 
Crimes contra a honra 
I. Introdução 
A honra se subdivide em: 
 
 
46 
 
• Honra objetiva: reputação do sujeito, boa fama. É como o indivíduo é visto pela sociedade. 
Calúnia e difamação atinge a honra objetiva. 
• Honra subjetiva: é como o sujeito se vê. É a autoestima. É o juízo de valor que o indivíduo faz 
de si mesmo. A injúria atinge a honra subjetiva. 
• Os crimes contra a honra são, na verdade, crimes de dano, e não de perigo. 
• Todavia, dispensa-se o resultado naturalístico: basta que a ofensa seja irrogada e alcance a 
vítima para que se considere consumado o crime. É dispensável que a honra seja abalada ou 
afetada. 
I. Calúnia 
• Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: 
• Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa (IMPO). 
• § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. 
• § 2º - É punível a calúnia contra os mortos (sujeito passivo: a família do morto). 
Exceção da verdade 
• § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: 
• I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado 
por sentença irrecorrível; 
Fundamento: APPrivada objetiva proteger a vítima, não expô-la contra sua vontade. 
• II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; 
*Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro. 
• III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença 
irrecorrível. 
Fundamento: ação pública ➔ o Estado tem total interesse em saber se aconteceu o fato. 
a) Sujeitos do crime 
Crime comum. 
 
 
47 
 
Não podem ser autores do crime de calúnia, por conta da inviolabilidade funcional: 
• Senador 
• Deputado federal 
• Deputado estadual 
• Vereador, nos limites da circunscrição municipal 
Advogados somente têm a inviolabilidade no tocante à difamação e à injúria, quando realizá-
la no exercício profissional. 
No caso do crime de calúnia, os advogados não possuem a inviolabilidade. 
STF (Inf. 831, 2016) 
A imunidade parlamentar material protege os Deputados Federais e Senadores, qualquer 
que seja o âmbito espacial (local) em que exerçam a liberdade de opinião. No entanto, para 
isso, é necessário que as suas declarações tenham conexão com o desempenho da função 
legislativa ou tenham sido proferidas em razão dela. 
Sujeito passivo: pessoa física ou jurídica. 
O menor poderá ser vítima da calúnia, ainda que não cometa crime, porque o que é tipificado 
na calúnia é a conduta de imputar a alguém fato definido como crime. 
Dessa forma, o menor, a pessoa jurídica ou inimputável poderá ser vítima de calúnia. 
• No caso da calúnia contra os mortos, o sujeito passivo é a família. 
• Se alguém imputar falsamente contra alguém fato definido como contravenção penal, não 
haverá calúnia, mas sim difamação. 
• Havendo o consentimento da vítima, o delito ficará excluído, eis que a honra é bem disponível, 
até porque o crime é de ação penal privada. 
b) Voluntariedade 
Dolo de dano: vontade de ofender e macular a honra objetiva. 
 
 
48 
 
Admite-se que o dolo seja dolo direto ou eventual. Mas no tocante ao §1º, o dolo deverá ser 
direto. 
c) Consumação e tentativa 
• No momento em que uma terceira pessoa toma conhecimento do fato imputado à vítima. 
• Delito formal: não é necessário que a honra da pessoa seja atingida. 
• Admite-se a tentativa quando se der por meio escrito. 
d) Exceção da verdade 
É um incidente processual. Forma de defesa indireta, pois permite ao ofensor provar a 
verdade da sua imputação. 
Não poderá levantar a exceção da verdade quando: 
• Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por 
sentença irrecorrível 
• Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141 
• Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença 
irrecorrível 
• Art. 85 do CPP: se o excepto tiver foro por prerrogativa de função, ela será processada perante 
o Tribunal competente. 
Ex.: excepto Senador ➔ exceção da verdade processada no STF. 
e) Exceção da notoriedade 
Art. 566 do CPP levanta essa possibilidade. 
Trata-se de oportunidade em que se confere ao réu a possibilidade de provar que o fato é de 
domínio público, ou seja, que todos sabem do fato. Admite-se na calúnia e na difamação. Se 
o fato já é de domínio público, não há um atentado à honra objetiva. 
f) Princípio da especialidade 
 
 
49 
 
• Se houver calúnia contra o Presidente da República, Presidente do Senado, Presidente da 
Câmara ou Presidente do STF, e a motivação do crime ser política, haverá o crime contra a 
segurança nacional (art. 26 da Lei 7.170/83). 
• Sendo cometido na propaganda eleitoral ou visando fins eleitorais, haverá crime eleitoral do 
art. 324, sendo de ação penal pública incondicionada. 
III. Difamação 
• Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: 
• Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa (IMPO). 
Exceção da verdade 
• Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público 
e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. 
a) Consumação e tentativa 
Quando terceira pessoa toma conhecimento do fato falso. 
A tentativa é possível se for escrita a difamação. 
b) Exceção da verdade 
• Regra: não cabe. 
• Exceção: se o ofendido for funcionário público e a difamação se der no uso de suas funções. 
Ou seja, admite-se que se prove que o fato imputado ao sujeito é verdadeiro. 
Prevalece o entendimento de que, se o fato for verdadeiro, há a exclusão da ilicitude e não 
da tipicidade. 
• Fundamento: o art. 139 não se exige que o fato seja falso. Basta que se impute fato ofensivo 
à reputação da vítima. A necessidade de que o fato seja falso só se exige quando a ofensa seja 
proferida contra funcionário público e a tenha ocorrido por conta do exercício de suas 
funções. 
Sendo o fato verdadeiro, não haverá uma difamação por uma excludente de ilicitude, já que 
a falsidade da afirmação não é elementar do tipo. 
 
 
50 
 
Exposição de Motivos, item 49: a disposição não alcança o Presidente da República e o Chefe 
de Governo Estrangeiro. 
c) Exceção de notoriedade 
É admitida. 
d) Princípio da especialidade 
Se houver difamação contra o Presidente da República, Presidente do Senado, Presidente da 
Câmara ou Presidente do STF, e a motivação do crime ser política, haverá o crime contra a 
segurança nacional (Lei 7.170/83). 
IV. Injúria 
Atinge a honra subjetiva da vítima. 
• Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 
• Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
• § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: 
• I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; 
• II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. 
• § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio 
empregado, se considerem aviltantes: 
• Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à 
violência. 
Ex.: se a injúria consistiu em um tapa na cara. 
• § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, 
origem ou

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