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Interrupção e suspensão da prescrição

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Primeiramente, devemos revisitar os conceitos de fato jurídico em sentido amplo, fato jurídico em sentido estrito, ato-fato jurídico e ato jurídico em sentido estrito, tendo por base o magistério de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (Novo curso de direito civil: Parte geral. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 293-308).
Por fato jurídico, em sentido amplo, temos como sendo todo acontecimento natural ou humano capaz de criar, modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas, o que, engloba, portanto, o fato jurídico em sentido estrito (acontecimento natural) e ação humana lícita ou ilícita (ato jurídico em sentido amplo [ato jurídico em sentido estrito/não negocial e negócio jurídico] e ato ilícito, respectivamente), bem como o ato-fato jurídico (ação humana que, embora desprovida de vontade, produz efeitos jurídicos). Conceituando as espécies acima mencionadas, temos que:
(a) fato jurídico em sentido estrito: todo acontecimento natural que produz efeitos jurídicos, pode ser ordinário (nascimento, morte etc.) ou extraordinário (caso fortuito e força maior);
(b) ato jurídico em sentido estrito: é a manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos. Ex.: fixação de domicílio, perdão, quitação etc.;
(c) negócio jurídico: é a declaração de vontade que, atendendo aos pressupostos de existência, validade e eficácia, destina-se a produção de efeitos jurídicos admitidos pela ordem jurídica e queridos pelo agente. Ex.: contrato de compra e venda;
(d) ato ilícito: ação humana voluntária, contrária ao direito e causadora de prejuízo moral e/ou material.
(e) ato-fato jurídico: é ação humana na qual a vontade é irrelevante para fins de produção de efeitos jurídicos. Ex.: compra de uma bala realizada por absolutamente incapaz.
No ato jurídico em sentido estrito há a participação humana, voluntária, consciente e lícita. No entanto, os efeitos são impostos pela lei e não pela vontade das partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. Não existe liberdade de escolha nos efeitos jurídicos produzidos, pois estes são automaticamente conferidos pela lei. Também é chamado de “ato não-negocial”. Exemplos mais comuns: reconhecimento de filho, fixação de domicílio, emancipação voluntária feita pelos pais, abandono, ocupação, percepção de frutos de uma árvore, atos de comunicação processual, como a notificação, etc.
As principais classificações dos negócios jurídicos da seguinte forma:
(a) quanto às manifestações /declarações de vontade dos envolvidos:
(a.1) unilaterais – aqueles em que a declaração de vontade é emanada de apenas uma das partes, com um objetivo único. Ex.: renúncia, testamento etc. Podem ser receptícios (aqueles em que a declaração de vontade tem de ser conhecida do destinatário para produzir efeitos) ou não receptícios (independem do conhecimento do destinatário para a produção dos seus efeitos).
(a.2) bilaterais – há duas manifestações de vontades que coincidem quanto ao objeto ou o bem jurídico tutelado, porém com interesses antagônicos. Ex.: contrato, casamento etc.
(a.3) plurilaterais – envolvem mais de duas partes com interesses coincidentes no plano jurídico. Ex.: contrato de sociedade.
(b) quanto às vantagens patrimoniais ou benefícios:
(b.1) gratuitos – constituem atos de liberalidade, nos quais há vantagens para a parte beneficiada sem obrigação de contraprestação. Ex.: doação pura.
(b.2) onerosos – há vantagens e sacrifícios para as partes. Ex.: compra e venda. Os negócios jurídicos onerosos podem ser comutativos (nos quais as vantagens econômicas são previamente conhecidas das partes) ou aleatórios (as vantagens econômicas são incertas ou não sabidas).
(b.3) neutros – aqueles em que há uma atribuição patrimonial determinada. Ex.: bem de família voluntário ou convencional. Para Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (Op. Cit., p. 512), os NJs neutros são aqueles desprovidos de conteúdo econômico, como a gestação em útero alheio.
(b.4) bifrontes – podem ser gratuitos ou onerosos, a depender da intenção das partes. Ex.: mandato, depósito etc.
(c) quanto aos efeitos no aspecto temporal ou quanto aos titulares:
(c.1) “inter vivos” – destinam-se à produção de efeitos de plano, ou seja, durante a vida dos negociantes ou interessados. Ex.: contratos em geral.
(c.2) “mortis causa” – destinam-se à produção de efeitos após a morte de determinada pessoa. Ex.: testamento ou legado.
(d) quanto à necessidade de solenidades ou formalidades:
(d.1) formais ou solenes – obedecem a uma forma ou solenidade prevista em lei para a sua validade e aperfeiçoamento. Ex.: casamento e testamento.
(d.2) informais ou não solenes – admitem forma livre, sendo a regra geral (art. 107, CC/2002). Ex.: locação.
(e) quanto à independência, autonomia ou importância:
(e.1) principais ou independentes – têm vida própria, não dependendo de outro NJ para possuírem existência e validade. Ex.: locação.
(e.2) acessórios ou dependentes – a existência está subordinada a um outro NJ, denominado principal. Ex.: fiança.
(f) quanto às condições pessoais especiais das partes:
(f.1) impessoais – independem de qualquer condição especial das partes, podendo a obrigação ser cumprida tanto pelos envolvidos quanto por terceiro. Ex.: compra e venda.
(f.2) personalíssimos ou “intuitu personae” – dependem de uma condição especial de um dos negociantes, havendo uma obrigação infungível.
(g) quanto à causa determinante:
(g.1) causais ou materiais – o motivo consta expressamente do seu conteúdo. Ex.: termo de divórcio.
(g.2) abstrato ou formal – a razão não se encontra inserida no conteúdo, decorrendo dele naturalmente. Ex.: termo de transmissão de propriedade.
(h) quanto ao momento do aperfeiçoamento:
(h.1) consensuais – os efeitos são gerados a partir do momento em que há o acordo de vontade das partes. Ex.: compra e venda pura (art. 482, CC/2002);
(h.2) reais – os efeitos são produzidos a partir da entrega do objeto. Ex.: comodato.
(i) quanto à extensão dos efeitos:
(i.1) constitutivos – geram efeitos ex nunc, a partir da sua conclusão, pois constituem positiva ou negativamente determinados direitos. Ex.: compra e venda.
(i.2) declarativos – geram efeitos ex tunc, a partir do momento do fato que constitui o seu objeto. Ex.: partilha de bens no inventário
(j) quanto à duração:
(j.1) instantâneos – os efeitos se exaurem num único momento. Ex.: compra e venda à vista.
(j.2) de duração/trato sucessivo – os efeitos são protraídos no tempo. Ex.: compra e venda em prestações.
(l) quanto à extensão dos interesses das partes:
(l.1) interssubjetivos – são aqueles que contam com apenas uma pessoa em cada um dos polos da relação. Ex.: mandato.
(L.2) plúrimos – quando em cada um ou ambos os polos contam com mais de uma pessoa. Ex.: prestação de serviços por duas ou mais pessoas.
(l.3) individuais homogêneos – quando há a presença de uma entidade, regularmente autorizada, representando o interesse de uma das partes, consubstanciando o interesse de um grupo determinado de pessoas, previamente determinadas ou determináveis.
(m) quanto ao exercício de direitos:
(m.1) negócios de disposição – quando autorizam o exercício de amplos direitos, inclusive de alienação, sobre o objeto transferido. Em regra, são negócios translativos. Ex.: doação.
(m.2) negócios de administração – admitem apenas a simples administração e uso do objeto cedido. Ex.: comodato ou mútuo.
(n) quanto ao conteúdo:
(n.1) patrimoniais – relacionados a bens e direitos aferíveis pecuniariamente. Ex.: negócios reais.
(n.2) extrapatrimoniais – relacionados a direitos sem conteúdo econômico. Ex.: direitos de personalidade.
(o) quanto ao número de atos necessários:
(o.1) simples – constituem-se por ato único.
(o.2) complexos – resultam da fusão de vários atos sem eficácia independente. Compõem-se de várias declarações de vontade, que se completam, emitidas pelo mesmo sujeito ou diferentes sujeitos, para a obtenção dos efeitos
jurídicos pretendidos na sua unidade. Ex.: alienação de um imóvel em prestações, que se inicia pela celebração de um compromisso de compra e venda, e se completa com a outorga da escritura definitiva.
(o.3) coligados - são os que se compõem de vários outros negócios jurídicos distintos. Ex.: arrendamento de posto de gasolina, coligado pelo mesmo instrumento ao contrato de locação das bombas, de comodato de área para funcionamento de lanchonete, de fornecimento de combustível, de financiamento etc.
BREVE RESUMO DOS VÍCIOS/DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
ESTADO DE PERIGO (art. 156)
"O estado de perigo ocorre no momento em que se declara a vontade, assumindo obrigação excessivamente onerosa, por conta da necessidade de salvar a si ou a alguém a quem se liga por vínculo afetivo. O agente somente assume a obrigação por conta do perigo atual ou iminente, que atua como verdadeiro fator de desequilíbrio, não aniquilando a vontade por completo, mas, verdadeiramente, limitando a liberdade de manifestação." (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito civil: teoria geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, pp. 640-641).
DOLO (arts. 145 a 150)
"Enquanto no erro há uma (espontânea) falsa impressão das circunstâncias do negócio, no dolo tem-se um vício através do qual o agente é induzido a se equivocar em razão de manobras astuciosas, ardilosas e maliciosas perpetradas por outrem. [...]
O dolo, assim, é todo e qualquer artifício empregado por uma das partes, ou por terceiro, com fito de induzir outrem à prática de um ato." (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Op. Cit., p. 627).
LESÃO (art. 157)
Ocorre quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Ela é sempre um prejuízo resultante da exagerada desproporção das prestações existentes nos negócios jurídicos; está ligada aos abusos econômicos/ onerosidades excessivas.
ERRO (arts. 138 a 144)
Conforme as lições de Flávio Tartuce (Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2011, p. 201), "o erro é um engano fático, uma falsa noção, em relação a uma pessoa, ao objeto do negócio ou a um direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico."
Simulação, na qual se tem uma incompatibilidade entre a vontade declarada e a interna, havendo, portanto, um descompasso entre a essência e a aparência (TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 8. ed. São Paulo: Método, 2018, p. 292).
Referido vício é causa de nulidade absoluta do negócio jurídico, embora o CC/2002 preveja, em seu art. 167, caput, que se houver validade quanto à substância e à forma, prevalecerá a parte que se dissimulou (simulação relativa).
No mais, temos a previsão do § 1° do art. 167 do CC/2002 que traz, em rol exemplificativo, os casos de simulação, verbis:
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1° Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2° Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
Ademais, as nulidades absolutas podem ser alegadas por qualquer interessado ou pelo MP, quando lhe couber intervir, conforme redação do art. 168, caput, a
Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.
Interrupção e suspensão da prescrição:
Regra para a suspensão:
Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários não aproveita os outros, salvo se a obrigação for indivisível
 
Regra para a interrupção:
A interrupção por um credor não aproveita os outros
A interrupção contra o codevedor ou seu herdeiro não prejudica os outros
 
Exceções:
Interrupção por um dos credores solidários aproveita os outros
Interrupção efetuada contra um devedor solidário aproveita os demais e seus herdeiros
Interrupção contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os demais herdeiros ou devedores, salvo se trate de obrigações ou direitos indivisíveis
A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador
 
P.s.: a prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado
Prescrição:
Perde-se o direito à ação
Tem origem na lei
É renunciável (renúncia expressa ou tácita, somente após a consumação da prescrição)
É passível de impedimento, suspensão e interrupção
Os prazos não podem ser alterados
Não corre prescrição contra menores de 16 anos (cuidado: na CLT é 18 anos)
 
Decadência:
Perde-se o direito
Tem origem na lei ou por convenção das partes
É nula a renúncia à decadência legal (convencional pode renunciar)
Não é passível de impedimento, suspensão e interrupção
Juiz pode conhecer de ofício a decadência legal
A parte a quem aproveita pode alegar a decadência convencional em qualquer grau de jurisdição (o juiz não pode suprir a alegação)
Não corre decadência contra menores de 16 anos (cuidado: na CLT é 18 anos)
Prescrição CONTRA ABSOULTAMENTE incapazes -> NÃO corre.
Prescrição CONTRA RELATIVAMENTE incapazes -> CORRE normalmente.
Prescrição A FAVOR de incapazes (absoluta ou relativamente) -> CORRE normalmente.
Suspensão: suspensa a prescrição A FAVOR de um dos credores SOLIDÁRIOS, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.
Interrupção: a prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.
A interrupção produzida CONTRA o principal devedor PREJUDICA o fiador.
Interrupção       
POR um credor NÃO aproveita aos outros.                      
 CONTRA o codevedor ou seu herdeiro NÃO prejudica os demais coobrigados.
Interrupção      
POR um dos credores SOLIDÁRIOS APROVEITA AOS OUTROS                   
CONTRA o devedor SOLIDÁRIO ENVOLVE os demais e seus herdeiros.
A interrupção CONTRA um dos herdeiros do devedor solidário NÃO prejudica os herdeiros ou devedores senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.
Nulidade:
Hipóteses de nulidade:
• Agente absolutamente incapaz
• Objeto ilícito, impossível ou indeterminável
• Motivo determinante ilícito, comum a ambas as partes
• Negócio sem a forma prescrita em lei
• Objetivo de fraudar a lei
• Quando a lei taxativamente declarar o negócio nulo, ou proibir a prática, sem cominar sanção
• Negócio simulado (o dissimulado subsiste)
Quem pode alegar a nulidade:
• Qualquer interessado
• MP, quando lhe couber intervir
• Juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou seus efeitos e as nulidades estiverem provadas, não sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes
Negócio nulo não pode ser confirmado e nem convalesce pelo decurso do tempo.
Conversão do ato nulo: se o negócio nulo tiver requisitos de outros, poderá subsistir o negócio convertido, quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se soubessem da nulidade.
Anulabilidade:
Hipóteses de anulabilidade:
• Agente relativamente incapaz
• Vício resultante de:
→ Erro
→ Dolo
→ Coação
→ Estado de perigo
→ Lesão
→ Fraude contra credores
O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo o direito de terceiro.
A confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo, bem como pode ser:
• Expressa
• Tácita: quando o negócio é cumprido pelo devedor, ainda que ciente do vício
Quem pode alegar a anulabilidade:
• Qualquer interessado (só aproveita quem alega, salvo no caso de solidariedade
de indivisibilidade)
A anulabilidade só tem efeito depois da sentença e não pode ser alegada de ofício pelo juiz!!
Prazo decadencial para requerer a anulação do negócio: 4 anos
Mas, se a lei disser que determinado ato é anulável, mas não estabelece o prazo, este será de 2 anos.

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