Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPÍTULO 6 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Identifi car as características educacionais das principais síndromes neurológicas. Socializar essas síndromes com os profi ssionais do contexto escolar no qual o aluno está inserido. 92 Defi ciência Mental 92 93 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS 93 Capítulo 6 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo tem por objetivo, caro aluno, elucidar as principais síndromes neurológicas, que têm como característica principal a defi ciência mental, com as quais vocês, possivelmente, irão se deparar no contexto educacional especializado, bem como na sala de aula comum. Vale lembrar que nem todas as síndromes neurológicas existentes estão relacionadas com a defi ciência mental . A proposta deste capítulo é apresentar alguns conceitos e elencar alguns aspectos importantes que designam as características físicas, mentais, comportamentais e educacionais, além da etiologia e de fatores de diagnóstico. TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, a categoria transtornos globais do desenvolvimento é referente aos transtornos que se caracterizam por prejuízos severos e invasivos em diversas áreas do desenvolvimento, como habilidades de interação social recíproca, habilidades de comunicação e presença de comportamentos, atividades e interesses estereotipados. O termo invasivo se refere a um processo patológico que invade rapidamente o organismo ou pode ser também o período do início de uma doença, caracterizado pelo aparecimento progressivo dos seus sintomas. Em geral, as alterações se manifestam nos primeiros anos de vida e podem aparecer associadas a alterações neurológicas ou quadros sindrômicos, variando em grau e intensidade de manifestações. Fazem parte desta categoria o transtorno autista, o transtorno de Asperger, transtorno de Rett e os transtornos desintegrativos da infância. A seguir, estudaremos o Autismo e a Síndrome de Asperger, devido ao fato de ambas poderem vir acompanhadas pela defi ciência mental e de apresentarem maior incidência em alunos em sala de aula. AUTISMO O autismo é descrito como uma síndrome comportamental com causas múltiplas, decorrente de um distúrbio de desenvolvimento. É caracterizado 94 Defi ciência Mental 94 por défi cit na interação social, ou seja, inabilidade para se relacionar com o outro, usualmente combinado com défi cit de linguagem e alterações de comportamento. Os sinais e sintomas aparecem antes dos três anos de idade, por meio de padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades. Além disso, podemos observar indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto, bem como falta de empatia social ou emocional. Algumas crianças podem não desenvolver habilidades de comunicação. Podemos observar estereotipias motoras e verbais, tais como se balançar, bater palmas repetitivamente, andar em círculos, como manifestações frequentes em alunos autistas. Em alguns casos, as difi culdades de relação da criança podem vir acompanhadas de hiperatividade, desatenção, agressividade e comportamentos automutilantes. Figura 1 – Criança autista Fonte: a autora. a) Quais são as causas do autismo? As causas do autismo são desconhecidas, mas diversas doenças neurológicas e/ou genéticas são descritas como sintomas do autismo. Problemas cromossômicos, gênicos, metabólicos e mesmo doenças transmitidas/adquiridas durante a gestação, durante ou após o parto, podem O autismo é descrito como uma síndrome comportamental com causas múltiplas. 95 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS 95 Capítulo 6 estar associados diretamente ao autismo. Entre 75 e 80% das crianças autistas apresentam defi ciência mental, o que pode estar relacionado aos mais diversos fatores biológicos. Portanto, a evidência de que o autismo tem suas causas em fatores biológicos é indiscutível, fazendo-nos reconsiderar a idéia inicial de ligarmos o quadro de autismo a alterações nas primeiras relações mãe-fi lho. Lembramos-nos, nesse momento, de Vygotsky (1995), que explicita uma nova visão sobre defi ciência, defi nindo como defi ciência primária aquela que surge como biológica, e como secundária, a social. Assim, a defi ciência primária corresponde às lesões orgânicas, malformações, alterações cromossômicas apresentadas pela pessoa com defi ciência e a defi ciência secundária estaria atrelada ao desenvolvimento que o indivíduo apresenta baseado nas interações sociais. Portanto, a defi ciência passa a ser determinada de acordo com sua posição nas relações sociais. Como podemos perceber, a ideia de defi ciência está na interação social, ou seja, na forma com que a sociedade se relaciona. Desta maneira, é viável que a pessoa com defi ciência possa constituir-se a partir de relações sociais variadas, pois a difi culdade não lhe é inerente. Neste sentido, fi ca claro que a defi ciência do indivíduo pode ser determinada de acordo com suas relações sociais. Diante desta afi rmação, vale ressaltar as condições em que muitas vezes uma criança com diagnóstico de Autismo se encontra, visto que tal situação poderá promover uma diminuição de sua função social, em decorrência de sua defi ciência, fi cando prejudicada com relação à compensação, já que esta se origina socialmente, causando o que Vygotsky chama de “sentimento de inferioridade”. Podemos listar uma série grande de doenças das mais diferentes ordens, envolvidas nos quadros autísticos, como: • Infecções pré-natais: rubéola congênita, sífi lis congênita, toxoplasmose, citomegaloviroses; Hipóxia neonatal (defi ciência de oxigênio no cérebro durante o parto). • Infecções pós-natais: herpes simplex; défi cits sensoriais: difi culdade visual (degeneração de retina) ou diminuição da audição (hipoacusia) intensa. • Espasmos infantis: Síndrome de West. • Doenças degenerativas: doença de Tay-Sachs. Defi ciência primária corresponde às lesões orgânicas, malformações, alterações cromossômicas apresentadas pela pessoa com defi ciência e a defi ciência secundária estaria atrelada ao desenvolvimento que o indivíduo apresenta baseado nas interações sociais. 96 Defi ciência Mental 96 • Doenças gênicas: fenilcetonúria, esclerose tuberosa, neurofi bromatose, Síndromes de Cornélia De Lange, Willians, Moebius, Mucopolissacaridoses, Zunich. • Alterações cromossômicas - Síndrome de Down ou Síndrome do X frágil (a mais importante das doenças genéticas associadas ao autismo), bem como alterações estruturais expressas por deleções, translocações, cromossomas em anel e outras. • e, por fi m, intoxicações diversas. Cabe abordar aqui, que as síndromes citadas anteriormente podem apresentar alguma relação com o Autismo; no entanto, isso não pode ser considerado uma regra no processo de diagnóstico. Se você quiser obter mais informações sobre as síndromes apresentadas poderá consultar os seguintes sites: • www.scielo.br • www.defnet.org.br • www.rayrawest.com • www.defi cientesolidario.com.br • www.aacd.org.br • www.coladaweb.com • www.biblioteca.universia.net • www.lookfordiagnosis.com Para aprofundamento sobre o autismo, você poderá consultar as seguintes obras: SOUZA, Victor M. de Andrade et al. Síndrome de West, Autismo e Displasia Cortical Temporal: Resolução da Epilepsia e Melhora do Autismo com Cirurgia. Journal Of Epilepsy And Clinical Neurophysiology, Porto Alegre, p. 33-37. 15 fev. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/jecn/v14n1/a08v14n1.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2009. FONTENELLE, Lúcia; ARAÚJO, Alexandra P. Q. C.; FONTANA, Rosiane S. Síndrome de Moebius: relato de caso. Arquivos de Neuropsiquiatria, [S.l.], v. 59, n. 3B, p. 812-814, 2001. 97 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS 97 Capítulo 6 DIAGNÓSTICO Os critérios atualmente utilizados para diagnosticar autismo são aqueles descritos no Manual Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM- IV. DSM-IV: Manual estatístico e diagnóstico dos transtornos mentais. Os critérios de diagnóstico utilizados, atualmente, são os seguintes (ASSOCIAÇÃO DE AMIGO DO AUTISTA, 2009): A. Um total de seis (ou mais) itens de (1), (2), e (3), com pelo menos dois de (1), e um de cada de (2) e (3). 1. Marcante lesão na interação social, manifestada por pelo menos dois dos seguintes itens: a) Destacada diminuição no uso de comportamentos não-verbais múltiplos, tais como contato ocular, expressão facial, postura corporal e gestos para lidar com a interação social. b) Difi culdade em desenvolver relações de companheirismo apropriadas para o nível de comportamento. c) Falta de procura espontânea em dividir satisfações, interesses ou realizações com outras pessoas, por exemplo: difi culdades em mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse. d) Ausência de reciprocidade social ou emocional. 2. Marcante lesão na comunicação, manifestada por pelo menos um dos seguintes itens: a) Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral, sem ocorrência de tentativas de compensação através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas. b) Em indivíduos com fala normal, destacada diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas. c) Ausência de ações variadas, espontâneas e imaginárias ou ações de imitação social apropriadas para o nível de desenvolvimento. 98 Defi ciência Mental 98 3. Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes itens: a) Obsessão por um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse que seja anormal tanto em intensidade quanto em foco. b) Fidelidade aparentemente infl exível a rotinas ou rituais não funcionais específi cos. c) Hábitos motores estereotipados e repetitivos, por exemplo: agitação ou torção das mãos ou dedos, ou movimentos corporais complexos. d) Obsessão por partes de objetos. B. Atraso ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início antes dos 3 anos de idade: 1. Interação social. 2. Linguagem usada na comunicação social. 3. Ação simbólica ou imaginária. a) Atendimento educacional especializado com o aluno com Transtornos do Desenvolvimento No atendimento educacional especializado a alunos com diagnóstico de Autismo seria importante desenvolver um trabalho que explore a atividade simbólica e a exploração funcional dos objetos conjuntamente. A meu ver, podemos fazer com que a criança passe a utilizar a linguagem oral não apenas como forma de comunicação, mas também que ela compreenda o principio básico da comunicação, que é seu caráter interacional. Também considero importante realizar um trabalho junto à escola que este aluno frequenta, para que ela também seja um ambiente estimulador de suas habilidades de comunicação e de aprendizagem. Para que isto aconteça, cabe fornecer orientações aos professores sobre condutas a serem adotadas frente a alguns comportamentos específi cos, como: movimentos estereotipados e atividades monológicas, e também sobre formas de estimulação da comunicação e da linguagem e de aprendizagem. A fala com características monológicas é aquela em que o aluno produz ecolalia (repetição da fala do adulto) e não interage com o outro por meio dela. 99 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS 99 Capítulo 6 Outro objetivo importante a ser estimulado no atendimento educacional especializado seria o desenvolvimento do contato ocular do aluno com o professor, lembrando a importância da imitação para o aprendizado e o estabelecimento de comportamentos adequados. SÍNDROME DE ASPERGER Alguns pesquisadores acreditam que a Síndrome de Asperger seja a mesma coisa que um autismo de alto funcionamento, isto é, com inteligência preservada. Outros julgam que no autismo de alto funcionamento há atraso na aquisição da fala, e na Síndrome de Asperger não. Vamos refl etir a respeito desta questão? A seguir, você terá oportunidade de estudar alguns dos principais aspectos comportamentais, educacionais e efetivo-emocionais desses alunos: • Linguagem: tríade - comunicação, interação social - imaginação. • Fala lúcida antes de 4 anos - gramática e vocabulário normalmente bons; • As conversas se incidem ao redor do ego. • No processo de aprendizagem: • Obcecados por tópicos complexos, como padrões, música, história, etc. • muitos manifestam dislexia; • alterações no comportamento; • apresentam difi culdades em pensamentos de alto nível e habilidades de compreensão, além de possuírem abstração pobre e memória mecânica. • podem ter vida produtiva, se tornar independentes e excelentes profi ssionais. Sugestões que podem ser úteis no atendimento educacional especializado: • minimizar as transições, ou seja, mudanças bruscas de ambiente, de atividade e de profi ssionais que atuam com eles; • preparação prévia do aluno para a atividade; 100 Defi ciência Mental 100 • evitar surpresas; • trabalhar em cima das áreas de interesse do aluno; • usar as fi xações da criança como um caminho, para abrir seu repertório de interesses; • trabalhar com sinalizações não-verbais juntamente com as verbais; • trazer a criança para o mundo real, deixando a fantasia para trás; • oportunizar a interação com outras crianças. Sugere-se um trabalho voltado ao desenvolvimento da atenção, concentração, comunicação (linguagem e fala), leitura e escrita (no momento adequado), interação, coordenação motora fi na, elaboração conceitual (no momento adequado), memória, minimização de seus medos e ansiedades e, por fi m, a organização do pensamento. LOUCOS de amor. Produção de James Acheson, Ronald Bass, Boaz Davidson, Frank DeMartini, Robert Law. Estados Unidos: Califórnia fi lmes, 2005. 1 DVD (90 min.) son., color. Legendado. Port. Esse fi lme refl ete o relacionamento de dois jovens com Síndrome de Arperger. Donald (Josh Hartnett) é um motorista de táxi sem sorte, que ama os pássaros e tem uma habilidade fora do comum com os números. Como muitos portadores da Síndrome de Asperger, ele gosta de padrões e rotinas. Mas, quando a bela e complicada Isabelle (Radha Mitchell) se une ao seu grupo de ajuda, sua vida sai dos padrões. SÍNDROME DE DOWN Várias anormalidades genéticas são reconhecidas na Síndrome de Down, como a Trissomia 21, que se caracteriza pela presença de 47 cromossomos, em razão de um cromossomo extra no grupo 21. Importante ressaltar a vocês, caros alunos, que a trissomia 21 acontece em 95% dos casos de Síndrome de Down. O excesso de material genético, proveniente do cromos somo 21, pode ocorrer de três formas diferentes: trissomia livre em todas as células do indivíduo, trissomia livre em parte das células do indivíduo (Mosaicismo) 101 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS 101 Capítulo 6 e através de translocação cro mossômica, mais especifi camente as Translocações Robertsonianas (Snustad, 2001). Segundo conceitos genéticos, há três tipos principais de anomalias cromossômicas ou variantes, na síndrome de Down: • Trissomia simples (padrão): um cromossomo 21 extra em todas as células do organismo. 90 a 95% dos casos de trissomia 21 são trissomias simples.A causa da trissomia simples do cromossomo 21 é a não disjunção cromossômica. • Esta divisão irregular também pode ocorrer em outros cromossomos. Se a Trissomia for do cromossomo 13, o indivíduo terá a Síndrome de Patau; se for do cromossoma 18, terá a Síndrome de Edwards. Estas síndromes são bem mais raras que a Síndrome de Down, apresentando características próprias. • Translocação: Ocorre quando um pedaço do cromossomo 21 está localizado em outro cromossomo, ou seja, o cromossomo extra do par 21 fi ca “grudado” em outro cromossomo. Nos casos de Translocação o individuo tem cariótipo com 46 cromossomos, porém material cromossômico de 47 cromossomos. O indivíduo tem todas as características da síndrome de Down. • Mosaicismo: a alteração genética compromete apenas parte das células, ou seja, algumas células têm 47 e outras 46 cromossomos (ocorre em cerca de 2% dos casos de Síndrome de Down). Os casos de mosaicismo podem originar-se da não disjunção mitótica nas primeiras divisões de um zigoto normal. É importante saber, que no caso da Síndrome de Down por translocação, os pais devem submeter-se a um exame genético, pois eles podem ser portadores da translocação e têm grandes chances de ter outro fi lho com Síndrome de Down. O diagnóstico pode ser realizado antes do nascimento por meio da aminiocentese, amostra de vilocorial, ultrassom morfológico, translucência nucal. A aminiocentese consiste na coleta do líquido amniótico através da aspiração, por meio de uma agulha inserida na parede abdominal até o útero. A amostra de vilocorial consiste na retirada de um pedaço de tecido placentário obtido por via vaginal ou através do abdômen. 102 Defi ciência Mental 102 A translucência nucal é um acúmulo de líquido na região cervical, que é fi siológica na fase entre 10 e 14 semanas e deve ser medida para o rastreamento de síndromes fetais; para ser considerada normal deve medir no máximo 2,5 mm de espessura. Ainda não se conhece a causa dessa alteração genética. Sabe-se que não existe responsabilidade do pai ou da mãe para que ela ocorra. Sabe-se também que problemas ocorridos durante a gravidez, como fortes emoções, quedas, uso de medicamentos ou drogas não são causadores da Síndrome de Down, pois esta já está presente logo na união do espermatozóide (célula do pai) com o óvulo (célula da mãe). Um aluno com síndrome de Down é facilmente identifi cado por meio das características físicas; porém, vocês devem observar presença de hipotonia, face com perfi l achatado, orelhas pequenas, arredondadas e displásicas, prega única das palmas, refl exo de moro hipoativo, olhos com pálpebras estreitas e levemente oblíquas, com prega de pele no canto interno, cavidade orla pequena, com projeção de língua e palato ogival (profundo). Figura 2 – Criança com Síndrome de Down Fonte: a autora. O OITAVO dia. Direção de Jaco van Dormaelé. Barueri, São Paulo: Polygram, 1996. 1 DVD (118 min.) son., color. Legendado. Port. O argumento do fi lme “O Oitavo Dia” trata da negação da humanidade frente àquele que não é a nossa imagem. Esse susto no espelho é representado por um portador da Síndrome de Down. Assista ao fi lme. Você vai rir e chorar, vai se chocar e se envergonhar e vai se interrogar sobre as razões do véu de 103 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS 103 Capítulo 6 silêncio que envolveu seu lançamento: quase nenhuma crítica, retirada rápida dos cinemas, nenhum comentário sobre o tema fundamental abordado - o narcisismo humano; possivelmente elas são, parcialmente, as suas próprias razões desse susto no espelho. Aborda, pela primeira vez no cinema, o mundo construído a partir do ponto de vista de alguém que é visto como limitado e rude pela cultura ocidental: a pessoa com defi ciência mental. O encontro desse mundo com o mundo empresarial, representado por um alto executivo da área de recursos humanos, setor de vendas, coloca em choque todo o sistema de vida deste (e, portanto, de nossa escala de valores ocidental) e serve de ponto de partida para uma exposição de situações diversas decorrentes do fechamento psicológico ao insólito e a tentativa, tão ocidental, de formatação do ser humano. Atividade de estudo: Sugiro agora que você procure em sua comunidade escolar, um aluno com Síndrome de Down. Experimente caracterizá-lo fi sicamente e observar seu comportamento e seu desenvolvimento no processo de ensino-aprendizagem. Se não encontrarem em sua comunidade escolar, busquem em outras unidades, e tracem um reconhecimento real deste aluno com tudo que vocês aprenderam a respeito da Síndrome de Down e da defi ciência mental até o momento. ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ SÍNDROME DE WILLIANS Primeiramente, quero ressaltar que a etiologia desta síndrome é desconhecida. A síndrome de Williams apresenta, como uma das manifestações clínicas, a defi ciência mental. Em relação comportamento, crianças com esse quadro geralmente são amáveis e expansivas, embora algumas possam apresentar irritabilidade e distúrbios de comportamento. (SANVITO, 1997) Vale, porém, ressaltar que grande parte dessa irritabilidade é proveniente de um extremo egocentrismo por parte da criança com síndrome de Williams. 104 Defi ciência Mental 104 Figura 3 – Criança síndrome de Williams Fonte: a autora. Atividade de estudos: Estudo de caso T.L, de 14 anos, frequenta uma turma do 7º ano do Ensino Fundamental e tem a Síndrome de William. É de um meio sócioeconômico desfavorecido. Sua mãe é responsável pelo sustento familiar e seu pai trabalha, ocasionalmente, na construção civil. T.L. é o mais novo de uma família de três irmãos. Fisicamente, tem aparência de um menino de 8 ou 9 anos e manifesta difi culdades na motricidade fi na. Segundo os professores de T.L. da sala comum e do Atendimento Educacional Especializado, o aluno apresenta um atraso na linguagem. No entanto, quando interage com os professores, demonstra que pode utilizar estratégias de conversação efi cazes, de tal forma que seu atraso de linguagem se apresenta bem menos evidente. T.L. se desloca muito em sala de aula, sem justifi cativa aparente, principalmente durante as atividades em grupo. Nessas ocasiões ele demonstra muita difi culdade em se concentrar na tarefa e raramente cumpre o que lhe é solicitado. Ele se comunica pouco com os colegas, mantendo maior contato com a professora. É sempre convidado a participar dos grupos, apesar de ser pouco respeitado pelos colegas, que o ridicularizarem, porque o acham medroso. 105 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS 105 Capítulo 6 No recreio, ele prefere o contato com os professores e funcionários e recusa sistematicamente interagir com os outros alunos; não tem sequer um amigo na escola. Nas atividades de linguagem escrita, T.L. demonstra pouco interesse, prestando pouca atenção às tarefas que lhe são solicitadas. A situação é bem diferente nas atividades de matemática. Ele fi ca muito atento e trabalha de forma interessada. Afi rma que adora contas de soma e subtração. Embora T.L. demonstre interesse pelas atividades de matemática, apresenta também atraso nessa área. Ao longo dos primeiros anos de escolaridade demonstrou grandes difi culdades para construir noção de quantidade (cardinal). Tem progredido e hoje atinge um nível de aprendizagem equivalente ao início do terceiro ano. Consegue adicionar e subtrair, embora com difi culdades.Na aprendizagem escolar, a principal difi culdade de T.L. refere-se ao domínio da linguagem escrita. Ele não consegue ler, apesar de todos os esforços do seu professor, e não demonstra qualquer motivação por esse tipo de aprendizagem. Consegue reconhecer e reproduzir apenas as vogais e algumas consoantes. O aluno se encontra no nível pré-silábico. Diante das questões seguintes, pesquise e refl ita: 1) Primeiro identifi que a etiologia, incidência e características principais dos alunos com Síndrome de Willians. ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 2) Agora identifi que as potencialidades e difi culdades de T.L., de acordo com o desenvolvimento e funcionamento cognitivo e linguagem, ambiente, aprendizagens escolares, desenvolvimento afetivo-social e interações sociais, além de desenvolvimento psicomotor e saúde. ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 3) Procure compreender como o aluno com defi ciência mental estabelece relação com o conhecimento, entendendo as diversas possibilidades de expressão de sua aprendizagem. 106 Defi ciência Mental 106 ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 4) Finalmente, elabore um plano de Atendimento educacional especializado, que corresponda às especifi cidades de aprendizagem e desenvolvimento do aluno em questão, considerando as possibilidades de parcerias, quando pertinentes. ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ AJURIAGUERRA, J. Manual de Psiquiatria Infantil. São Paulo: Masson 1982. CAMBIER, J. M.; DEHEN, H. Manual de Neurologia. Paris: Masson, 1988. DYNSKI, Martha Klin. Atlas de Pediatria. LIPPI, J. R. da, CRUZ, A. R (ORGS). Neurologia Infantil: Estudo Multidisciplinar. São Paulo: Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil, 1987, 210 p. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Caro(a) pós-graduando(a), devemos ter o cuidado ao rotularmos as difi culdades observadas no aluno com as síndromes estudadas, pois esse rótulo poderá gerar diferentes níveis de frustração, tanto por parte do aluno, quanto do professor do atendimento educacional especializado. Temos que procurar compreender o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, e elaborar estratégias de atuação das potencialidades desse aluno. Alunos, tomem muito cuidado com as argumentações utilizadas para justifi car o não aprendizado dos alunos com alguma síndrome, para que o mesmo não se resuma na justifi cativa do “ritmo mais lento de aprendizagem”. 107 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS 107 Capítulo 6 Nessa perspectiva, consideramos que os alunos com determinada síndrome neurológica se desenvolvem de maneiras diferentes em relação ao aspecto cognitivo, habilidades sociais e peculiaridades comportamentais. Sugiro agora, para fi nalizarmos nosso estudo, que vocês pesquisem outras síndromes neurológicas, utilizando, para isto, livros, artigos de revistas, textos da Internet (utilizem um site seguro e confi ável para estas informações), entre outros. Procurem discutir com seus colegas de trabalho ou de curso, para que tais informações não fi quem apenas como registro próprio. Bom trabalho! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO DE AMIGO DO AUTISTA. Aprendizado. Disponível em: <http://www.ama.org.br/html/apre.php>. Acesso em: 13 jul. 2009. ASSOCIATON, American Psychiatric. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4ª Ed. Ed Artmed: 2002. SANVITO, Vilson Luiz. Síndromes Neurológicas. 2ª Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 1997. SNUSTAD, D.Peter; SIMMONS, Michael J. Fundamentos da Genética. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro: 2001. VYGOTSKI, L. S. Fundamentos de defectologia. Obras completas V. 2 ed. Tradução: Maria Del Carmen Ponce Fernández. Ciudad de la Habbana, Cuba: Editorial Pueblo y Educación, 1995.
Compartilhar