Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 AP1 – 2019.2 DISCIPLINA: LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR Coordenação: Profª Ana Maria de Bulhões Carvalho Caro (a) aluno (a): Esta é uma avaliação individual e sem consulta. Leia os enunciados das questões e procure ser claro e objetivo na elaboração de suas respostas. Siga as instruções abaixo: Leia todas as questões; escreva com letra legível, em caneta azul ou preta – não escreva a lápis e não faça rascunho a lápis das questões deixando a prova suja; revise suas respostas e verifique se as ideias estão claras; responda usando as folhas de resposta. Por favor, não deixe que grampeiem a folha de respostas para não dificultar a correção. Boa prova! 2 GABARITO BASEADO EM BOAS RESPOSTAS COLHIDAS EM PROVAS. QUESTÃO 1 (2 PONTOS) – Sobre o filme O carteiro e o poeta (1,0 cada item). 1.1 Em relação à vida prática e cotidiana de Mário Ruppolo (Il Postino), isto é, à vida que levava na aldeia de pescadores onde vivia, como interfere a visita do poeta chileno Pablo Neruda à ilha? R: Mário não queria viver a vida que seu pai havia escolhido, de pescador. Para fugir disto buscou outro estilo de vida, aceitando o emprego de carteiro no Correio local e ficou encarregado da correspondência do poeta Pablo Neruda que se exilara na ilha. Entre os dois surgiu uma bela amizade, e os horizontes de Mário se abriram para o mundo, para a política e sobretudo para a poesia. Ou Pode-se afirmar que a chegada de Pablo Neruda à Ilha transformou a vida de Mario Ruppolo, ao apresentar-lhe a poesia e acabar com a monotonia em sua vida. Pablo Neruda apresenta ao carteiro o mundo das palavras, algo até então desconhecido para Mario, e o ensina a criar poemas, o que amplia os horizontes do carteiro, que antes vivia uma vida simples e pacata, sem grandes emoções. Pablo Neruda dá significado à vida por meio das palavras e transforma a maneira de Mário lidar com a linguagem, levando-o a se expressar através da poesia. 1.2 O filme é uma lição sobre vida e poesia, sobre como as duas dialogam com simplicidade. De que expedientes se vale Neruda para “ensinar” poesia a Mário? R: Neruda se vale de coisas simples, exemplos tirados da natureza, como as ondas do mar. Ele ensina por meio das metáforas que tanto encantam Mário, depois que ele descobre que, apesar do nome complicado, a metáfora era a graça da poesia, sua capacidade de criar imagens sobre as coisas. Ele descobre isso falando com Neruda sobre sua poesia, e nos poemas de Neruda que começa a ler. A forma simples da conversa e os exemplos dados por Neruda são suficientes para motivarem Mário a usar a poesia para conquistar sua amada Beatrice, com quem acaba se casando. Neruda ensina a Mario que o significado das palavras pode ir muito além daquilo que ele conhecia, quando se lida com metáforas. E que é necessária a sensibilidade para compreender a linguagem poética, carregada de artifícios para despertar emoções do leitor QUESTÃO 2 (2 PONTOS) Ainda sobre poesia (1,0 cada item). 2.1 Mário, o personagem de O carteiro e o poeta, é espontâneo e capaz de manifestar ideias próprias. Quando o poeta reclama com Mário de ele ter usado seus versos em escritos que faz para sua enamorada Beatrice Russo, ele diz a Don Pablo que “a poesia não é de quem escreve, mas de quem precisa dela”. Quer dizer, o leitor agrega as palavras lidas a seu repertório pessoal de ideias e imagens, para usar quando precisar. O que essa ideia de Mário tem a ver com intertextualidade? R: Intertextualidade é o diálogo entre textos distintos. Pode ser usada na criação literária, desde que realizadas da maneira correta para não se caracterizar como plágio. 3 É importante frisar que o leitor não tem o direito de se apropriar de outro texto como algo próprio, como Mario fez. O leitor pode usar outros textos como inspiração ou referência. Ou Esta passagem de partes de um texto a outro são procedimentos correntes na criação literária. Mário tinha intuitivamente esta noção. Mas exagerou no início, quando apenas copiou poemas de Neruda para entregar a Beatrice, como se fossem dele próprio. Este procedimento foi explicado por Neruda como não sendo honesto. Copiar do outro apenas é fazer plágio. A intertextualidade é mais sutil, se deixa entrever aqui e ali, ou é revelada por meio de uma citação direta, ou entre aspas, tendo a fonte original exposta. 2.2 Em que formas de poesia a intertextualidade pode ser usada de modo crítico? Justifique sua resposta. R: Por meio da paródia, da sátira, da ironia. Pode-se até mesmo copiar um poema, invertendo- lhe o sentido, trocando os termos principais, como no caso do que Murilo Mande fez com Gonçalves Dias, ao dizer que “minha terra tem macieiras da Califórnia”... Pode-se pensar também nas adaptações que se fazem para o teatro e para cinema, em que a obra referida serve de partida ou é completamente adaptada, quase literalmente, para outra linguagem. Muitas vezes o próprio autor colabora na adaptação. Outra forma textual que também possui esse caráter crítico são as charges. QUESTÃO 3 (2 PONTOS) Leia o poema abaixo, do modernista Oswald de Andrade, e responda às questões (1,0 cada item). Pronominais Oswald de Andrade Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. 2.1. O poema é modernista. Eleja dois traços desta vinculação ao modernismo, explique e exemplifique com trechos do poema. Dois traços: o primeiro é o uso livre do verso branco, quer dizer, sem preocupação com a rima, como em cigarro/gramática/aluno/sabido em que não há rima nem ritmo marcados. O segundo traço se vê na própria linguagem que está sendo endossada pelo poeta, a linguagem simples e popular do “me dá uma cigarro”. Por este aspecto pode-se falar até em metalinguagem, pois o poema funciona como uma proposta modernista. O Modernismo na poesia se configura como a criação de poemas de maneira mais 4 livre, utilizando-se uma linguagem mais simples, sem se prender às formas estruturais da poesia e suas métricas, como se vê no poema de O. Andrade. 2.2. Que relação se pode estabelecer a crítica implícita no poema e o pensamento de Aníbal Machado quando afirma que “não sabemos definir o que queremos, mas sabemos discernir o que não queremos”? A reposta pode ser simples: podemos distinguir o tipo de linguagem que preferimos usar, a despojada do “me dá um cigarro” ou a sofisticada do “dá-me um cigarro”. Podemos não conhecer muitas opções, mas sabemos pelo menos como queremos nos expressar. Ou A relação que podemos estabelecer entre a crítica implícita no poema e o pensamento de Aníbal Machado é que o povo não está preocupado com o emprego correto do pronome átono. Ou Podemos estabelecer que assim como na afirmação de Aníbal Machado, o poema evidencia uma crítica ao uso da linguagem formal em detrimento do uso daquela mais próxima do povo e do dia a dia. Sendo assim, Oswaldo revela, através de seus veros, o que para ele seria o “não querer”. QUESTÃO 4 (4 PONTOS, 1,0 cada item) Leia o poema abaixo, da poeta Gilka Machado, uma das pioneiras da poesia feminina no Brasil, nascida em 1893. E depois o poema Retrato, de Cecília Meireles. O retrato fiel Gilka Machado Não creias nos meus retratos, Nenhum deles me revela, ai não me julgues assim! Minha cara verdadeira Fugiu às penas do corpo, Ficou isenta da vida. Toda minha faceirice E minhavaidade toda Estão na sonora face; Naquela que não foi vista E que paira, levitando, Em meio aos mundos dos cegos. Os meus retratos são vários E neles não terás nunca O meu rosto de poesia. 5 Não olhes os meus retratos, Nem me suponhas em mim. (De: Velha poesia). 4.1 Pode-se dizer que a voz poética busca no dado concreto do retrato a justificativa para uma outra forma de aproximação do “Retrato fiel” da poeta? Onde estaria seu verdadeiro rosto? Justifique. R: A poeta deixa claro que o retrato do pintor ou o retrato da máquina (uma fotografia) não refletem o que ela realmente é. Daí dizer que “não confiem nos meus retratos”. Para ela seu rosto está em sua imaginação, seu retrato é retrato de poeta, cuja poesia a revela “a sonora face”. Ou A poeta expressa que sua verdadeira face não estaria presente nas fotografias nem nas imagens dos retratos, mas sim em suas obras, em sua maneira de expressar seus sentimentos ou emoções. 4.2 Como então se explica o título do poema? Pode-se ler no título uma certa ironia que desconstrói o que está dito: na verdade não há retrato físico fiel, só o abstrato, o poema pode ser fiel ao que a poeta pensa e sente. Este poema pode ser comparado ao poema “Retrato”, de outra poeta moderna, brasileira, Cecília Meireles. 4.3 Leia os dois poema e aponte as diferenças básicas entre a relação que uma e outra poeta estabelecem com o retrato. R: Gilka Macahdo passa pelos retratos que expressam suas diversas aparências e diz que elas não a representam. Somente sua poesia poderia representar esse “retrato fiel”. De algum modo, neste particular, as duas se encontram. Assim como G. Machado, é por meio de um poema que Cecília diz quem é, já que quando se vê hoje retratada, num espelho, por exemplo, não se reconhece mais como a jovem que era. Cecília refere-se mais à figura aparente da pessoa. 4.4 Além da diferença de postura em relação ao retrato, comente duas diferenças formais na composição dos poemas. R: Machado usa livremente 5 tercetos (estrofes de três versos) e um dístico para fazer sua elegia do retrato [que não é] fiel. Cecília Meireles, Moderna, usa duas quadras (estofes de quatro versos) e um terceto (de três versos) para comentar um retrato que ela vê de si mesma hoje, provavelmente ao se olhar num espelho. A partir da ideia do que não está, faz seu Retrato em versos livres, e numa forma que mantém alguma regularidade rítmica que se traduz pela repetição de termos como “eu não tinha”/”nem”/”tão”. Retrato Cecília Meireles Eu não tinha este rosto de hoje, 6 assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta lembranças, Tão simples, tão certa, tão fácil. - Em que espelho ficou perdida a minha face?
Compartilhar