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Literatura Portuguesa

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Prévia do material em texto

2010
Literatura Portuguesa
Prof. Célio Antonio Sardagna
Copyright © UNIASSELVI 2010
Elaboração:
Prof. Célio Antonio Sardagna
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
 869
S244l Sardagna, Célio Antonio.
 Literatura Portuguesa/ Célio Antonio Sardagna
 Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial, Grupo 
UNIASSELVI, 2010.x ; 266 p.: il
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-350-1
 1. Literatura Portuguesa 2. Brasil - Literatura 
 I.Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de 
Ensino a Distância III. Título
 
III
aPresentação
Como proposta de reflexão, leitura e estudo, apresentamos o caderno 
da disciplina de Literatura Portuguesa, objetivando o conhecimento das 
principais manifestações literárias portuguesas, tanto da lírica quanto da 
prosa, bem como os textos mais representativos, que vão do período medieval 
à contemporaneidade.
Num momento inicial (Primeira Unidade), nossa atenção se 
concentrará na visão geral acerca da literatura, no estudo das primeiras 
manifestações literárias de Portugal (Trovadorismo), com suas cantigas e 
novelas, e no Humanismo Português, principalmente o teatro de Gil Vicente.
Na sequência (Segunda Unidade), analisaremos a importância do 
Classicismo, do Barroco e do Arcadismo lusitanos, centrando a atenção em 
Camões – épico e lírico –, em Padre Vieira e em Bocage, por considerá-los 
colunas mestras na composição da literatura portuguesa dentro dos períodos 
a que pertencem.
 
Na última parte (Terceira Unidade), o olhar se volta para os períodos 
romântico, realista, moderno e para a contemporaneidade. Num primeiro 
momento, nesta unidade, as principais linhas de força se concentram nas 
manifestações literárias do século XIX, desenhadas pelo Romantismo, 
Realismo e Simbolismo. A parte final desta unidade terá como filão as 
manifestações literárias do século XX, ou seja, o período moderno e 
contemporâneo da Literatura Portuguesa. Nesta parte, as lentes voltar-se-ão 
especialmente às personalidades de Fernando Pessoa e José Saramago.
Na composição deste material, pensando em você, caro/a acadêmico/a 
de Ensino a Distância, optamos por uma metodologia que possa facilitar 
o autoestudo. Assim, inicialmente, enfocar-se-á historiograficamente e 
criticamente cada período literário, a fim de que você possa ter uma melhor 
compreensão de cada um dos períodos formativos da Literatura Portuguesa. 
Dentro de cada tópico, ainda, analisar-se-ão textos representativos de cada 
escola literária, com vistas a que se conheçam os textos literários dos autores 
mais expressivos, com os quais é possível trabalhar na sala de aula.
Há que se ressaltar que o estudo da Literatura Portuguesa não pode 
se limitar à pura leitura deste caderno. Você deveria, sim, ir além, ou seja, 
procurar outras obras e leituras críticas nas bibliotecas, na internet, assistir a 
filmes alusivos aos diferentes períodos etc. Enfim, colocamos em você nossas 
melhores apostas, confiamos na sua dedicação, cremos que você se valerá 
deste material da melhor maneira possível para a sua reflexão. Mãos à obra...
Prof. Célio Antonio Sardagna
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO 
PERÍODO MEDIEVAL ................................................................................................ 1
TÓPICO 1 – A FORMAÇÃO DA LITERATURA PORTUGUESA ................................................. 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 LITERATURA: A ESTÉTICA, A ESCRITURA E A IMAGEM ..................................................... 4
3 O MUNDO MEDIEVAL E A PENÍNSULA IBÉRICA.................................................................... 9
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 13
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 15
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17
TÓPICO 2 – O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA TROVADORESCA ................ 19
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19
2 AS CANTIGAS ..................................................................................................................................... 19
2.1 CANTIGAS DE GÊNERO LÍRICO ................................................................................................ 21
2.2 CANTIGAS DE GÊNERO SATÍRICO ........................................................................................... 27
3 AS NOVELAS DE CAVALARIA ........................................................................................................ 31
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 40
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42
TÓPICO 3 – A PROSA, A POESIA E O TEATRO: A ESTÉTICA DO HUMANISMO 
PORTUGUÊS ..................................................................................................................... 43
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43
2 A PROSA: HISTORIOGRAFIA ......................................................................................................... 44
3 A PROSA DIDÁTICA .......................................................................................................................... 48
4 LIRISMO: A POESIA MEDIEVAL PORTUGUESA ...................................................................... 51
5 TRADIÇÃO DRAMÁTICA: O TEATRO DE GIL VICENTE....................................................... 55
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 66
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................69
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 72
UNIDADE 2 – A PRODUÇÃO LITERÁRIA PORTUGUESA CLÁSSICA, BARROCA E 
ÁRCADE ......................................................................................................................... 75
TÓPICO 1 – O PERÍODO LITERÁRIO CLÁSSICO: CAMÕES ÉPICO E CAMÕES LÍRICO ...... 77
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77
2 ASPECTOS GERAIS DO CLASSICISMO ...................................................................................... 78
3 A ÉPICA PORTUGUESA: “OS LUSÍADAS” .................................................................................. 83
4 A POESIA LÍRICA DE CAMÕES ...................................................................................................... 105
5 OS POETAS MENORES DA LÍRICA QUINHENTISTA PORTUGUESA................................ 115
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 120
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 125
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 127
sumário
VIII
TÓPICO 2 – UMA ÉPOCA DE DUALISMOS: O BARROCO PORTUGUÊS ............................. 129
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 129
2 ASPECTOS GERAIS DA ESTÉTICA BARROCA .......................................................................... 130
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 140
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 142
TÓPICO 3 – AS LUZES DA RAZÃO: O ARCADISMO................................................................... 145
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 145
2 AS IDEIAS ILUMINISTAS E A ESTÉTICA NEOCLÁSSICA ..................................................... 146
3 BOCAGE: A EXPRESSÃO DO LIRISMO PORTUGUÊS ............................................................. 152
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 158
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 159
UNIDADE 3 – DO ROMANTISMO À CONTEMPORANEIDADE: A ESTÉTICA E A 
PRODUÇÃO LITERÁRIA .......................................................................................... 161
TÓPICO 1 – O ESPÍRITO CRIADOR E LIVRE: PERÍODO ROMÂNTICO ................................ 163
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 163
2 A ESTÉTICA DA POESIA E DA PROSA ROMÂNTICA ............................................................. 164
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 177
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 179
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 181
TÓPICO 2 – A REVOLUÇÃO DA MENTALIDADE E O CULTO AO ETÉREO: AS ESCOLAS 
REALISTA E SIMBOLISTA ............................................................................................ 183
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 183
2 ASPECTOS GERAIS DO REALISMO ............................................................................................. 185
3 ASPECTOS GERAIS DO SIMBOLISMO ........................................................................................ 196
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 204
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 206
TÓPICO 3 – LIBERDADE DE CONCEPÇÃO E EXPRESSÃO E A ATUALIDADE: A ERA 
MODERNA E A PRODUÇÃO LITERÁRIA CONTEMPORÂNEA ....................... 207
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 207
2 PANORAMA DO MODERNISMO E DA EXPRESSÃO LITERÁRIA CONTEMPORÂNEA .......208
3 EXPOENTES DA POESIA E DA PROSA MODERNA E JOSÉ SARAMAGO ......................... 217
4 MANIFESTAÇÕES DA LITERATURA PORTUGUESA ALÉM-PORTUGAL ......................... 239
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 243
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 245
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 247
TÓPICO 4 – A LITERATURA PORTUGUESA E O ENSINO: ALGUMAS IDEIAS .................. 249
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 249
2 A LITERTURA PORTUGUESA E O ENSINO: UM COMEÇO ................................................... 249
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 256
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 257
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 259
1
UNIDADE 1
LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS 
E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO 
MEDIEVAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, o/a acadêmico/a estará apto/a a:
• refletir acerca da literatura, estética literária e suas diferentes manifesta-
ções: escrita, imagem etc.;
• compreender o processo de formação da Literatura Portuguesa;
• refletir acerca das primeiras manifestações literárias portuguesas: cantigas 
e novelas;
• analisar as manifestações literárias clássica e barroca portuguesa e com-
preender sua importância e influência na formação dos primeiros perío-
dos literários brasileiros.
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você 
poderá dispor de atividades que o/a auxiliarão na fixação do conteúdo.
TÓPICO 1 – A FORMAÇÃO DA LITERATURA PORTUGUESA
TÓPICO 2 – O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA 
TROVADORESCA 
TÓPICO 3 – A PROSA, A POESIA E O TEATRO: A ESTÉTICA DO 
HUMANISMO PORTUGUÊS
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A FORMAÇÃO DA LITERATURA PORTUGUESA
1 INTRODUÇÃO
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente 
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.”
(PESSOA, Fernando. Autopsicografia, 1932.)
A função da Literatura e suas diferentes concepções foi, desde os tempos 
primordiais, objeto de muitas discussões. É sabido, porém, que, nas diferentes 
épocas em que ela se manifesta, lhe são atribuídas funções e naturezas diversas, 
em consonância com a sua realidade cultural e social.
A literatura é umaforma de manifestação da linguagem. Há autores que 
veem a linguagem a partir de uma ótica social, entre os quais poder-se-ia citar 
Roland Barthes, que a concebe como a expressão do poder social, ao qual toda 
a sociedade está submetida. Diz ele que “[...] esse objeto em que se inscreve o 
poder, desde toda eternidade humana, é a linguagem – ou, para ser mais preciso, 
sua expressão obrigatória: a língua.” (BARTHES, 1978, p. 2). Isto posto, percebe-
se que Barthes (1978) atribui à linguagem a expressão do pensamento humano, 
numa determinada época, ou período histórico.
Porém, no que diz respeito especificamente à literatura, diz o autor em 
questão que há maneiras de o ser humano libertar-se da submissão da linguagem, 
valendo-se, para isto, da própria língua. O crítico francês revela ainda que “[...] 
essa trapaça, salutar, essa esquiva [...], eu a chamo, quanto a mim: literatura.” 
(BARTHES, 1978, p. 16).
Diante do exposto, percebe-se que, na ideia de Barthes, a literatura é 
retratada como a maneira de se utilizar a linguagem sem a sujeição ao poder, 
distante da escravidão das regras. Assim, o autor (escritor literário) tem a 
liberdade de escolha e criação das palavras e estruturas, a fim de exprimir 
pensamentos, emoções e ideias. Na linguagem literária, as palavras adquirem 
novos significados, sabor diferente. 
É, pois, caro/a acadêmico/a, com esta visão que, nas próximas seções deste 
tópico, passaremos a refletir acerca da literatura e da estética literária, para focar, 
ao final, a manifestação literária portuguesa medieval.
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
4
2 LITERATURA: A ESTÉTICA, A ESCRITURA E A IMAGEM
Dentre as muitas manifestações da arte, está a literatura. Em relação 
às demais manifestações artísticas, ela apresenta muitas semelhanças e pontos 
distintivos. Talvez o elemento a partir do qual ela se distingue das outras artes 
seja o modo de expressar, a matéria-prima a partir da qual o artista trabalha. E 
aqui, passe-se a palavra a Alceu de Amoroso Lima:
A distinção entre a literatura e demais artes vai operar-se nos seus 
elementos intrínsecos, a matéria e a forma do verbo. De que se serve o homem de 
letras para realizar seu gênio inventivo? Não é, por natureza, nem do movimento 
como o dançarino, nem da linha como o escultor ou o arquiteto, nem do som 
como o músico, nem da cor como o pintor. E sim – da palavra. A palavra é, pois, 
o elemento material intrínseco do homem de letras para realizar sua natureza e 
alcançar seu objetivo artístico.
Por meio das palavras, o ser humano realizou registros de toda ordem: 
documentou, efetuou acordos, criou todo tipo de mensagem, catalogou dados 
etc. Muitos textos antigos chegaram às posteridades via palavra escrita. Obras 
das civilizações passadas perduram até hoje graças à escrita. 
Assim, há que se dizer que a literatura é uma das partes essenciais da 
cultura das civilizações. E a arte da escrita revela a criatividade e a imaginação 
que permeia a cultura dessas civilizações. Conforme você já estudou em outros 
cadernos durante o curso, somente utilizar palavras para fazer literatura não é o 
suficiente. A palavra adquire função literária na medida em que a intenção daquele 
que escreve passa a focalizar a mensagem em si, seja na combinação e seleção das 
palavras, seja na estrutura da mensagem. O que se requer é que as palavras sejam 
carregadas de significado, permitam a multiplicidade de interpretações, que 
encerrem em si o colorido, a sonoridade, que sejam aprazíveis ao leitor-receptor. 
Importante, aqui, que se dê voz a Umberto Eco (2003, p. 38): “Ora, é sabido que 
as obras literárias, sejam elas clássicas ou modernas, são abertas, ou ambíguas”, 
prestando-se, portanto a várias interpretações, o que expõe o leitor a um trabalho 
criativo, na medida em que tenta interpretá-las, compreendê-las. Uma vez que 
nem tudo está dado no texto de forma fechada, mas que a obra se organiza com 
uma ambiguidade fundamental em todos os níveis, isto é, “[...] abre-se numa 
potencialidade muito grande de sentidos, necessariamente, provoca um trabalho 
por parte do leitor.” (ECO, 2003, p. 38). Por isso, considera-se que, dentro da 
questão literária, as palavras vão além do limite de sua significação. Portanto, 
elas podem conquistar novos espaços e revelar novas possibilidades de se ver a 
realidade. 
Assim, caro/a acadêmico/a, você pode observar qual é o caminho que a 
literatura percorre. Observe que o artista sente, seleciona e manipula as palavras, 
organiza-as de tal modo que produzam um efeito que ultrapasse a sua significação 
primeira, avizinhando-as do imaginário.
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO DA LITERATURA PORTUGUESA
5
Não é a toa que se diz que a obra do escritor origina-se da sua imaginação, 
ainda que tenha como base elementos da realidade. A partir de sua aguçada 
percepção, o autor capta a realidade através de seus sentimentos. Ele consegue 
explorar as muitas possibilidades linguísticas e manipulá-las nos mais diversos 
níveis, entre os quais o fonético e o semântico.
Com as suas habilidades, o escritor é capaz de criar uma outra realidade, 
a dita realidade artística, a qual precisa ser concebida e analisada de modo 
diferente, não como se estivéssemos diante de seres dotados de vida, de carne e 
de osso. Ela “[...] é caracterizada pela ficção enquanto forma e conteúdo, isto é, 
enquanto conceito ou modelo.” (COMPAGNON, 2003, p. 38).
Anteriormente, em outra parte, você pôde perceber, caro/a acadêmico/a, 
que a literatura é a arte manifestada via linguagem, a qual procura levar ao 
máximo a ambiguidade dos termos. Assim, pode-se entender que a arte literária 
não se caracteriza puramente pela transmissão de informações, mas ela “[...] 
cria em cada ser aquilo que os sentidos o levam a interpretar. Através da leitura 
podemos vivenciar aquilo que lemos e criar dentro de nós a imagem proposta 
pelo texto.” (LAJOLO, 1995, p. 28). 
Vê-se, assim, que a literatura tanto pode ser percebida sob a ótica do 
verídico como pode ser concebida como ficção. As personagens, por sua vez, 
tanto poderiam ter existido como poderiam ter sido criadas pelo autor. Enfim, 
em literatura tudo é possível. Considere-se, entretanto, que, mesmo na ótica da 
ficção, há o fundamento real, no qual o autor se apoiou para criar a ficção. Por isso, 
há quem veja a literatura como uma imitação do real, entre os quais Aristóteles. 
Ele concebeu a arte literária como mimese, ou seja, imitação. Ela seria, assim, a 
arte que imita pela palavra.
Caro/a acadêmico/a de Letras! Ao estudar literatura é muito importante que 
você conheça o que se falou na antiguidade acerca dela. Talvez um dos primeiros a falar 
sobre a literatura como arte tenha sido Aristóteles, filósofo grego do quarto século antes de 
Cristo. Por isso, sugerimos que você leia a obra “Arte Poética”, na qual ele trata de diferentes 
gêneros textuais. 
IMPORTANT
E
Até aqui, foi possível compreender que a literatura está enraizada na arte 
da palavra, e que esta suscita uma multiplicidade de interpretações, considerando-
se, inclusive a etimologia. Literatura origina-se do termo latino littera, que remete 
à “arte da escrita”. 
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
6
Segundo autores como Eagleton (2001, p. 2), esta arte de escrever se dá 
dentro dos moldes da escrita já existentes e que “[...] intensificam a linguagem 
comum”, que poderiam sugerir algo diferente da linguagem comum, usual. Se 
esta linguagem pudesse ser intensificada, far-se-iam necessários certos recursos 
para dizer do que se trata. Assim, a aplicação da linguagem escrita de modo 
diferente constitui o que poderia ser chamado de valor estético. 
E a literatura lida com a estética por excelência. Conforme já mencionado, 
na literatura, a linguagem adquire status artístico. Essa maneira especial de 
combinar as palavras, de modo impressionar o leitor e aprazê-lo é que poderia ser 
chamada de estética literária.Vale aqui dizer-se que, segundo D’Onofrio (2002, 
p. 23), as funções da literatura são “[...] estética – arte da palavra e expressão do 
belo –, lúdica – provocar um prazer –, cognitiva – forma de conhecimento de uma 
realidade –, catártica – purificação dos sentimentos – e pragmática – pregação de 
uma ideologia.” 
Dentre as tantas funções das quais está imbuída a arte da literatura, a 
questão estética é a que cumpre a função de fazer com que o ato de escrever de 
modo literário seja diferente de todos os outros modos. Isto posto, concebe-se 
um texto como literário se este busca representar de um modo todo diferente, 
artístico, a realidade. No aspecto literário, portanto, há que se considerar a 
combinação forma e conteúdo.
Caro/a acadêmico/a, sugere-se que você assista aos seguintes filmes e observe 
que imbricações eles têm com a Literatura. Observe os aspectos literários ressaltados em 
cada um:
“Sociedade dos poetas mortos” e “O carteiro e o poeta”.
NOTA
No que se refere à questão estética, seja via palavra, seja via imagem, é 
importante considerar as palavras de Mikhail Bakhtin (2006, p. 84), no texto “O 
todo espacial da personagem e do seu mundo. Teoria do horizonte e do ambiente”. 
Para um bom entendimento do que o autor revela neste texto, a seguir, você, 
caro/a acadêmico/a, encontra alguns tópicos resumidos. Leia-os nas palavras do 
próprio autor e faça as devidas ligações com os aspectos tratados anteriormente 
acerca da literatura.
• A forma material, que determina se uma obra é de pintura, poesia ou música, 
determina de maneira substancial também a estrutura do objeto estético 
correspondente, tornando-o um tanto unilateral e acentuando um ou outro 
aspecto seu. Ainda assim, o objeto estético é multifacetado, concreto como 
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO DA LITERATURA PORTUGUESA
7
a realidade ético-cognitiva (o mundo vivenciável) que nele se justifica e 
se conclui artisticamente, cabendo observar que é na obra verbalizada 
(o menos possível na música) que esse mundo artístico é mais concreto e 
multifacetado. A criação verbalizada não constrói forma espacial externa, 
porquanto não opera com material espacial como a pintura, a escultura, o 
desenho: seu material é a palavra (a forma espacial da disposição do texto – 
estrofes, capítulos, figuras complexas da poesia escolástica etc. – sumamente 
insignificante), material não-espacial pela própria substância (o som na música 
é ainda menos espacial); no entanto, o próprio objeto estético, representado 
pela palavra, evidentemente não se constitui só de palavras, embora haja nele 
muito de puramente verbal, e esse objeto da visão estética possui uma forma 
espacial interna artisticamente significativa, representada pelas palavras da 
mesma obra (enquanto na pintura essa forma é representada pelas cores, 
no desenho pelas linhas, de onde tampouco se conclui que o objeto estético 
correspondente seja constituído apenas de linhas ou apenas [de] cores; trata-
se precisamente de criar um objeto concreto de linhas ou cores.
• Outra questão é saber como se realiza essa forma espacial: deve ela 
reproduzir-se numa representação puramente visual, nítida e completa, ou 
só se realiza o seu equivalente volitivo-emocional, o tom sensorial que lhe 
corresponde, o colorido emocional, sendo que a representação visual pode 
ser descontínua, fugidia ou até estar ausente, substituída pela palavra? (O 
tom volitivo-emocional, embora vinculado à palavra e como que fixado à 
sua imagem sonora tonalizante, evidentemente não diz respeito à palavra, 
mas ao objeto que esta exprime, mesmo que este não se realize na consciência 
como imagem visual; só pelo objeto assimila-se o tom emocional, mesmo 
que este se desenvolva junto com o som da palavra.) Um estudo detalhado 
da questão assim colocada está fora do alcance deste ensaio; seu lugar é na 
estética da criação verbalizada. No nosso caso, bastam algumas indicações 
sumaríssimas sobre essa questão. A forma espacial interna nunca se realiza 
com toda sua perfeição visual e plenitude (aliás, o mesmo se dá com a forma 
temporal com toda a sua perfeição sonora e sua plenitude) nem no campo 
das artes plásticas; a plenitude visual e a perfeição só são próprias da forma 
material externa da obra, cujas qualidades são como que transferidas para 
a forma interna (até as artes plásticas, a imagem visual da forma interna é 
consideravelmente subjetiva). A forma visual interna é vivenciada de modo 
volitivo-emocional, como se fosse perfeita e acabada, mas essa perfeição e 
esse acabamento nunca podem ser uma concepção efetivamente realizada. 
É claro que o grau de realização da forma interna da representação visual 
é diferente em modalidades diversas de criação verbalizada e em diversas 
obras particulares.
• Visto que o artista lida com a existência e o mundo do homem, lida também 
com a sua concretude espacial, com suas fronteiras exteriores como elemento 
indispensável dessa existência, e, ao transferir essa existência do homem para 
o plano estético, deve transferir para esse plano também a imagem externa 
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
8
dela nos limites determinados pela espécie do material (cores, sons etc.). 
O poeta cria a imagem, a forma espacial da personagem e de seu mundo 
com material verbal: por via estética assimila e justifica de dentro o vazio 
de sentido e de fora a riqueza factual cognitiva dessa imagem, dando-lhe 
significação artística.
• A imagem externa expressa em palavras, representada visualmente (até 
certo ponto no romance, por exemplo) ou apenas vivenciada de modo 
volitivo-emocional, tem significado de acabamento formal, ou seja, não é só 
expressiva, mas também artisticamente impressiva. Aqui se aplicam todas 
as teses que expusemos, o retrato verbal se subordina a elas assim como o 
retrato pictural. Também aqui, só a posição de distância cria o valor estético 
da imagem externa, a forma espacial expressa a relação do autor com a 
personagem; ele deve ocupar uma posição firme desta e de seu mundo e 
usar todos os elementos transgredientes à imagem externa da personagem.
• A obra de criação verbal é criada de fora para cada personagem, e, quando 
a lemos, é de fora e não de dentro que devemos seguir as personagens. Mas 
é justamente na criação verbal (e, acima de tudo, na música) que parece 
muito sedutora e convincente a interpretação puramente expressiva da 
imagem externa (da personagem e do objeto), porquanto a distância do 
autor-espectador não tem a precisão espacial como nas artes plásticas (a 
substituição das representações visuais pelo equivalente volitivo-emocional 
fixado à palavra). Por outro lado, a linguagem como material não é 
suficientemente neutra em face da esfera ético-cognitiva, onde é empregada 
como autoexpressão e comunicação, ou seja, como recurso expressivo, e nós 
transferimos essas habilidades expressivas da linguagem (de traduzir a si 
mesmo e designar o objeto) para a percepção das obras de arte verbal.
• O conteúdo (aquele que se insere na personagem, sua vida de dentro) e a 
forma não se justificam nem se explicam no plano de uma consciência, mas 
tão somente nas fronteiras de duas consciências: nas fronteiras do corpo 
realizam-se o encontro e a dádiva artística da forma. Sem essa atribuição de 
princípio ao outro como uma dádiva a que ele o justifica e o conclui (com 
a justificação estético-imanente), a forma, sem encontrar a fundamentação 
interna de dentro do ativismo do autor-contemplador, deve degenerar 
fatalmente em algo hedonicamente agradável, simplesmente “bonito” e 
imediatamente agradável para mim, assim como eu sinto diretamente frio 
ou calor: o autor cria tecnicamente o objeto do prazer, o contemplador se 
proporciona passivamente esse prazer.
FONTE: Extraído e adaptado de: BAKHTIN, Mikhail. O todo espacial da personagem e do seu 
mundo. Teoria do horizonte e do ambiente. In: ______. Estética da criação verbal. Tradução de 
Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes,2006. p. 84-90.
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO DA LITERATURA PORTUGUESA
9
Ao lermos alguns tópicos do texto de Bakhtin, percebemos o tratamento 
que ele dá à questão literária, seja enquanto palavra ou como imagem. O crítico 
russo dedica especial atenção à personagem e à linguagem literária enquanto 
artefatos literários que concorrem para deixar em aberto a relação da obra literária 
com o mundo, a qual é passível de uma multiplicidade de interpretações, de 
acordo com as leituras e de acordo com os leitores das diferentes épocas.
Caro/a acadêmico/a! Agora que tivemos a oportunidade de refletir acerca 
da literatura enquanto obra, linguagem, criação, estética e arte, passemos a uma 
reflexão acerca do contexto histórico e cultural da Península Ibérica do período 
medieval, ressaltando en passant os fatores que possibilitaram o surgimento das 
primeiras manifestações literárias. É importante que se destaque que a obra 
literária é fruto da inspiração individual do seu criador (artista), mas acima de 
tudo ela é um fenômeno social, graças ao seu idioma de criação, aos problemas e 
inquietações que ela retrata. Do mesmo modo, a Literatura Portuguesa também 
não foge a isto. Por isso, a ligação entre história literária, história política e 
história social é importante, evidenciando sempre que esta constitui o cenário 
que favoreceu a criação das primeiras manifestações literárias.
3 O MUNDO MEDIEVAL E A PENÍNSULA IBÉRICA
FONTE: De Giovanni (2007, p. 17)
FIGURA 1 – LISBOA, LARGO DE CAMÕES (PRINCÍPIOS DO SÉCULO XX)
Entre os muitos modos de conceber a literatura, está a visão de Antonio 
Candido (1997, p. 26) que a define “como um conjunto de textos escritos (muitas 
vezes também fixados na oralidade), esteticamente elaborados a partir da linguagem 
comum, que dão conta da especificidade cultural de uma comunidade. A comunidade, 
a propósito da presente seção, seria a Península Ibérica do período medieval”.
E dentro desta visão, está a literatura portuguesa, a qual se constituiu a partir 
de um espaço geográfico uno, ou seja, o território português. Sabe-se, outrossim, 
que ela se alargou pelas várias partes do mundo, via aventuras marítimas das 
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
10
grandes navegações, as quais resultaram nos descobrimentos ultramarinos, na 
ampliação do comércio, na concretização de interesses religiosos com a propagação 
do cristianismo, nos séculos XV e XVI. Tudo isto possibilitou que se concretizasse 
numa riquíssima tradição literária de viagens e que tivesse como consequência a 
expansão do falar português. E a tradição literária lusitana evolui juntamente com a 
estética da cultura ocidental, oriunda de uma matriz medieval que tem base latina, 
dentro da qual se constitui e se aperfeiçoa a língua literária.
Historicamente, tem-se que a independência de Portugal foi resultado 
de uma luta gradativa contra os reinos cristãos da Península Ibérica, região 
que compreende os atuais territórios de Portugal e Espanha. Este processo de 
independência está ligado à diferenciação das atividades econômicas desta região 
e às rivalidades entre os diferentes grupos feudais. Por isso, é importante dizer-
se que “[...] foi o povo quem participou ativamente desse processo, através das 
organizações municipais, os conselhos populares. Havia neles maior liberdade e 
relações sociais mais avançadas, que levavam a população a lutar para afastar do 
país a servidão de outras regiões cristãs.” (ABDALA JÚNIOR; PASCHOALIN, 1985, 
p. 9). Após várias lutas, somente em 1143 negociou-se um tratado definitivo de paz, 
na chamada Conferência de Zamora. O título de rei a Afonso Henriques só foi dado 
pelo papa Alexandre III, em 1179. Portugal tornou-se uma nação autônoma, mas a 
luta para concretizar esta independência avançou ainda muitos anos, até o reinado 
de D. Afonso III (1248-1279), com a definitiva expulsão dos sarracenos.
Para seu maior conhecimento, caro/a acadêmico/a, sobre a Independência de 
Portugal, é importante lembrar que, em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha 
de Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques afirma-se como rei de 
Portugal, e com o apoio dos nobres portugueses, é aclamado como rei soberano. Nascia, 
assim, em 1139, o reino de Portugal e sua primeira dinastia e Casa Real: a Borgonha, com o 
rei Afonso I de Portugal (ex-D. Afonso Henriques). Só a 5 de outubro de 1143 é reconhecida 
a independência de Portugal pelo rei Afonso VII de Leão e Castela, no Tratado de Zamora, 
assinando-se a paz definitiva. Desde então, D. Afonso Henriques (Afonso I) procurou 
consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou 
diversos conventos. Dirigiu-se ao papa Inocêncio II e declarou Portugal tributário da Santa Sé, 
tendo reclamado para a nova monarquia a proteção pontifícia. Em 1179, o papa Alexandre III, 
através da Bula Manifestis Probatum, confirma e reconhece Portugal como país independente 
e soberano protegido pela Igreja.
Na continuação das conquistas, procurou também terreno ao sul, povoado, até então, por 
Mouros e, após ver malograda a primeira tentativa de conquistar Lisboa, em 1142, feito que 
só conseguiu realizar em 24 de outubro do mesmo ano, após conquistar Santarém, no dia 15 
de março, com o auxílio de uma poderosa esquadra com 160 navios e um contingente de 12 
a 13 mil cruzados, que se dirigiam para a Terra Santa.
FONTE: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa; Rio de Janeiro: Editorial 
Enciclopédia Limitada, 1978. v. 25. p. 317.
NOTA
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO DA LITERATURA PORTUGUESA
11
No que concerne à língua, esta tem origem no latim, já que os romanos 
chegaram à Península Ibérica em 61 a. C. Esta língua radicou-se na península 
até meados do século V, com a invasão dos bárbaros. Por causa das invasões 
árabes no século VII, ocorreu a decadência do latim. “O latim reduziu-se a falares 
vernáculos e quase desapareceu.” (PINHEIRO, 2007, p. 12).
O norte, região nunca conquistada pelos árabes, serviu de ponto de 
organização para prepararem o processo de reconquista do território, a qual 
assumiu caráter de Cruzada. Para o enfrentamento, apresentaram-se muitos 
cavaleiros cristãos. As lutas estenderam-se por muito tempo, inclusive após 
a morte de D. Afonso Henriques. A expulsão total se dá sob D. Sancho, o qual 
consolida a primeira dinastia portuguesa, a de Borgonha. 
Este fato possibilitou ao povo português a opção de não mais falar árabe, 
como também não mais se voltou a falar o latim. A nova língua passou a ser 
a mistura de falares da gente humilde, enquanto para a literatura adotou-se o 
galaico-português.
Usa-se a expressão galaico-português (ou galego-português ou ainda galécio-
português) para caracterizar “esta nova língua falada em Portugal”, composta por uma mescla 
de palavras entre uma língua e outra. A origem está em Galiza (Espanha) e Portugal.
NOTA
As primeiras palavras portuguesas de que se têm conhecimento aparecem 
em documentos do século IX e são redigidas em latim bárbaro, que seria o já 
futuro português. Não são propriamente textos literários, mas documentos de 
utilidade, como partilhas, testamentos, cartas de doação, cartas de quitação, 
instrumentos jurídicos de vários tipos.
Quanto às primeiras manifestações literárias portuguesas, estas são 
registradas em galego-português e ocorrem entre os séculos XII e XV. Esta foi 
a língua com que os rudes guerreiros das cruzadas manifestaram seus anseios 
amorosos e as suas aspirações ideais. Foi também esta língua que levou “[...] os 
trovadores a revelarem a sua vida interior e o jardim secreto de suas meditações. 
Foi também o bordão florido em que se apoiaram os primitivos poetas para o 
descobrimento e conquista da própria alma.” (FIGUEIREDO, 1980, p. 35).
Após estar solidificado o território português, como também definida a 
língua, já é possível empreender tempo para o povo desenvolver e cultivar a arte. 
No nosso caso, a arte literária que, viamanifestações poéticas, começa a aparecer 
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
12
na corte de D. Sancho. A data que se toma para marcar o início da atividade 
literária em Portugal é 1189 (ou 1198), quando o trovador Paio Soares Taveirós 
compõe uma cantiga, endereçada a Maria Pais Ribeiro, também chamada “A 
Ribeirinha”.
FONTE: De Giovanni (2007, p. 20)
FIGURA 2 – CANTIGA DA RIBEIRINHA OU CANTIGA DA GUARVAIA
Caro/a acadêmico/a, a composição do primeiro texto literário em língua 
portuguesa (A “Cantiga da Ribeirinha”, de Paio Soares de Taveirós) marca o 
início da primeira escola literária portuguesa, o Trovadorismo. Este assunto será 
tratado no próximo tópico.
A Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós, é também conhecida como 
“cantiga da guarvaia”. Guarvaia significa um vestido luxuoso usado na corte.
NOTA
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO DA LITERATURA PORTUGUESA
13
A LITERATURA PORTUGUESA
Massaud Moisés
Portugal ocupa especial posição geográfica no mapa da Europa. Reduzido 
território de menos de noventa mil quilômetros quadrados, limita-se com a 
Galiza ao norte, com a Espanha a leste, e com o Oceano Atlântico ao sul e ao 
oeste. Como empurrado contra o mar, toda a sua história, literária ou não, atesta 
o sentimento de busca dum caminho que só ele representa e pode representar. 
Tal condicionamento geográfico, enriquecido por exclusivas e marcantes 
influências étnicas e culturais (árabes, germânicas, francesas, inglesas etc.), havia 
de gerar, como gerou, uma literatura com características próprias e permanentes. 
A fatalidade de ser a língua portuguesa o seu meio de comunicação ajuda a 
completar e explicar o quadro.
Diante da angústia geográfica, o escritor português opta pela fuga ou pelo 
apego à terra de origem, matriz de todas as inquietudes e confidente de todas as 
dores, centro de inspiração e nutridora de sonhos e esperanças. A fuga dá-se pelo 
mar, o descobrimento, fonte de riqueza algumas vezes, de males incríveis e de 
emoção quase sempre; ou, transcendendo a estreiteza do solo físico, para o plano 
mítico, à procura de visualizar numa dimensão universal e perene a inquietação 
particular e egocêntrica.
Assim, a Literatura Portuguesa oscila entre posições externas, com 
certeza porque uma compensa a outra. Ao lirismo da raiz, por vezes carregado de 
pieguice e morbidez, corresponde um sentimento hipercrítico, exagerado, pronto 
a agredir, a ofender, a mostrar no “outro” a chaga ou a fraqueza. A sátira, não raro 
levando ao desbocamento e ao destempero pessoal, dialoga com o culto fetichista 
da sensação, do sentimento, exacerbado por atitudes de confessionalismo 
adolescente. Uma atitude esconde a outra, a tal ponto que na base íntima de todo 
satírico ou erótico se percebe logo o sentimental, o hipersensível, que defende 
suas tibiezas com o verniz do procedimento contrário. E vice-versa.
Vem daí que seja uma literatura rica de poetas: aquela ambivalência 
constitui o suporte do “fingimento poético”, na expressão feliz, e hoje tornada 
lugar-comum, de Fernando Pessoa. A poesia é o melhor que oferece a Literatura 
Portuguesa, dividida entre o apelo metafísico, que significa a vivência e a expressão 
de problemas fundamentais e perenes (a relação conflitiva com o divino, o ser e o 
não-ser, a condição humana, os valores eróticos etc.) e a atração amorosa da terra 
(representada por temas populares, folclóricos), ou um sentimento superficial, 
feito da confissão de estados da alma provocados pelos embates afetivos 
primários, tendo por fulcro o eterno “eu-te-gosto-você-me-gosta”, de que fala 
LEITURA COMPLEMENTAR
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
14
Carlos Drummond de Andrade. Não obstante essa derradeira tendência constitua 
polo permanente, a Literatura Portuguesa ocupa lugar de relevo no mapa literário 
europeu, graças a alguns poetas vocacionados para a contemplação metafísica, 
como Camões, Bocage, Antero, Fernando Pessoa, entre outros.
Literatura pobre em teatro, eis outra afirmação indiscutível. Decorrência 
natural do arraigado lirismo egocêntrico e sentimental, a dramaturgia portuguesa 
só poucas vezes alcançou sair do nível mediano ou razoável. Tirante Gil Vicente, 
Garret (sobretudo o de Frei Luís de Sousa) e alguma coisa de Antônio José da 
Silva e Bernardo Santareno, tudo o mais vive no esquecimento. O grande surto 
teatral operado nos dias que correm, embora prometedor e já realizador de peças 
notáveis, é ainda muito recente para permitir afirmar que a atividade cênica de 
Portugal conhece uma época de reviravolta e mudança radical. 
[...] Assim sendo, compreende-se que este panorama histórico da atividade 
literária de Portugal esteja dividido nos seus fundamentais momentos evolutivos. 
No tocante às datas empregadas para os delimitar, constituem somente pontos 
de referência, pois nunca se sabe com precisão quando começa ou termina um 
processo histórico: funcionam, na verdade, como indício de que alguma coisa de 
novo está acontecendo, sem caracterizar a morte definitiva do padrão velho até 
aí em voga.
[...] A data que se tem utilizado para marcar o início da atividade literária 
em Portugal é a de 1189 (ou 1198), quando o trovador Paio Soares de Taveirós 
compõe uma cantiga (celebrizada como “cantiga da garvaia”, vocábulo este 
que designava um luxuoso vestido de Corte), endereçada a Maria Pais Ribeiro, 
também chamada A Ribeirinha, favorita de D. Sancho I.
A cantiga, oscilando entre ser de amor e de escárnio, revela tal 
complexidade na estrutura da arte de poetar. Decerto houve, antes dessa cantiga, 
considerável atividade lírica, infelizmente desaparecida: no geral, os trovadores 
memorizavam as composições que interpretavam, fossem suas ou alheias, e só 
em alguns casos as transcreviam em cadernos de notas, que podiam extraviar-se, 
perder-se ou ser descartados.
Por isso, toda uma anterior produção poética – cujo volume e cujos 
limites jamais poderão ser fixados – desapareceu por completo. Em vista de tal 
circunstância, compreende-se que se tome a cantiga de Paio Soares de Taveirós 
como o marco inicial da Literatura Portuguesa, pois trata-se do primeiro documento 
literário que se conhece em vernáculo, o que de forma alguma significa negar a 
existência duma intensa atividade poética antes de 1198.
FONTE: Adaptado de: MOISÉS, Massaud. Introdução. A Literatura Portuguesa. São Paulo: 
Cultrix, 2008. p. 17-22.
15
Caro/a acadêmico/a, no presente tópico, você teve oportunidade de 
estudar aspectos importantes relacionados à Literatura Portuguesa, os quais 
revemos, resumidamente, a seguir:
• Nas diferentes épocas em que a Literatura se manifesta, são atribuídas funções 
e naturezas diversas a ela, em consonância com a sua realidade cultural e social.
• A literatura é uma forma de manifestação da linguagem. Há autores que veem 
a linguagem numa ótica puramente social, entre os quais citamos Roland 
Barthes, que a concebe como a expressão do poder social, ao qual toda a 
sociedade está submetida.
• Na linguagem literária, as palavras adquirem novos significados, sabor 
diferente. O elemento a partir do qual a literatura se distingue das outras artes 
é o modo de expressar, a matéria-prima a partir da qual o artista trabalha. 
• A literatura é uma das partes essenciais da cultura das civilizações. E a arte 
da escrita revela a criatividade e a imaginação que permeiam a cultura dessas 
civilizações.
• A palavra adquire função literária na medida em que a intenção daquele que 
escreve passa a focalizar a mensagem em si, seja na combinação e seleção das 
palavras, seja na estrutura da mensagem. Por meio das palavras, o ser humano 
realizou registros de toda ordem: documentou, efetuou acordos, criou todo 
tipo de mensagem, catalogou dados etc.
• O artista sente, seleciona e manipula as palavras, organiza-as de tal modo que 
produzam um efeito que ultrapasse a sua significação primeira, avizinhando-
as do imaginário.
• Aobra do escritor origina-se da sua imaginação, ainda que tenha como base 
elementos da realidade. A partir de sua aguçada percepção, o autor capta 
a realidade através de seus sentimentos. Ele consegue explorar as muitas 
possibilidades linguísticas e manipulá-las nos mais diversos níveis, entre os 
quais o fonético e o semântico.
• O escritor é capaz de criar uma outra realidade, a dita realidade artística, a qual 
precisa ser concebida e analisada de modo diferente, não como se estivéssemos 
diante de seres dotados de vida, de carne e de osso.
RESUMO DO TÓPICO 1
16
• A literatura tanto pode ser percebida sob a ótica do verídico como pode ser 
concebida como ficção. Por sua vez, as personagens tanto poderiam ter existido 
como poderiam ter sido criadas pelo autor. Enfim, em literatura tudo é possível.
• A literatura é vista também como uma imitação do real, como Aristóteles. Ele 
concebeu a arte literária como mimese, ou seja, imitação. Ela seria, assim, a 
arte que imita pela palavra. Ela está enraizada na arte da palavra e suscita uma 
multiplicidade de interpretações, considerando-se, inclusive, a etimologia. 
Literatura origina-se do termo latino littera, que remete à “arte da escrita”. 
 
• A literatura lida com a estética por excelência. O autor (de literatura) tem o 
cuidado de selecionar e combinar as palavras, colocando em evidência o 
lado palpável, material dos signos. Ao selecionar e combinar de um modo 
todo particular e especial os termos, o autor procura obter alguns elementos 
fundamentais no que diz respeito à linguagem, entre os quais o ritmo, a 
sonoridade, o belo, o inusitado das imagens. 
• A maneira especial de combinar as palavras, de modo a impressionar o autor e 
aprazê-lo é que poderia ser chamada de estética literária. A questão estética é a 
que cumpre a função de fazer com que o ato de escrever de modo literário seja 
diferente de todos os outros modos.
• A obra literária é fruto da inspiração individual do seu criador (artista), mas 
acima de tudo ela é um fenômeno social, graças ao seu idioma de criação, aos 
problemas e inquietações que ela retrata.
• A história da literatura lusitana evolui juntamente com a estética da cultura 
ocidental, oriunda de uma matriz medieval que tem base latina, dentro da qual 
se constitui e se aperfeiçoa a língua literária.
• A nova língua (português) passou a ser a mistura de falares da gente humilde, 
enquanto para a literatura se adotou o galaico-português.
• As primeiras palavras portuguesas de que se tem conhecimento aparecem em 
documentos do século IX e são redigidas em latim bárbaro, que seria o já futuro 
português.
• A data que se toma para marcar o início da atividade literária em Portugal é 
1189 (ou 1198), quando o trovador Paio Soares Taveirós compõe uma cantiga, 
endereçada a Maria Pais Ribeiro, também chamada “A Ribeirinha”.
17
Caro/a acadêmico/a, para que você possa melhor fixar o conteúdo deste 
tópico, apresentamos, a seguir, uma atividade. Procure resolvê-la com base no 
que você estudou.
1 Releia o texto de Mikhail Bakhtin. Nele você pode observar as diferentes 
maneiras de o artista representar esteticamente as imagens, os objetos, 
ambiente, personagens. Assim, comente como o artista que lida com a 
palavra (escritor) representa esteticamente os objetos.
2 No primeiro capítulo deste tópico são apresentadas muitas definições de 
Literatura. Caro/a acadêmico/a, utilize a internet ou livros e pesquise outra 
definição de Literatura. Em seguida, transcreva-a e socialize-a com os demais 
acadêmicos no próximo encontro.
3 Conforme apresentado na terceira seção, a língua portuguesa foi levada, via 
navegações e descobrimentos, às diferentes partes do mundo. Pesquise os 
diferentes locais em que, no mundo, é falada a língua portuguesa.
AUTOATIVIDADE
18
19
TÓPICO 2
O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA 
TROVADORESCA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Como um país realmente autônomo, Portugal surge na primeira metade 
do século XII. É nesse período que aparecem as primeiras manifestações da 
Literatura Portuguesa, através da poesia. Na verdade, são manifestações orais, 
quem sabe até sem provas concretas sobre a sua origem. No entanto, toma-se 
o ano de 1189 (ou 1198) como a data provável do aparecimento do primeiro 
documento literário. Trata-se da já citada cantiga de amor escrita por Paio Soares 
de Taveirós, em galego-português, conhecida como Cantiga da Ribeirinha (ou da 
Guarvaia). É dirigida a Maria Pais Ribeiro (a Ribeirinha). De acordo com o que 
observa Fujyama (1970, p. 11), “poder-se-ia até crer na existência de uma tradição 
lírica, oral, até de longa data, haja vista perceber-se na cantiga uma composição já 
bastante avançada e complexa”.
O início da literatura portuguesa traz a marca do lirismo trovadoresco, 
antecedendo a prosa, para a qual o processo evolutivo será mais lento. Veem-se, 
assim, dois períodos marcando o surgimento da literatura portuguesa: o primeiro, 
lírico, que cultivou a poesia lírica (cantigas), e o segundo, a prosa, trazendo as 
novelas de cavalaria, originárias das canções de gesta, que eram composições 
poéticas em forma de canções que narravam feitos heróicos.
A seguir, caro/a acadêmico/a, você terá oportunidade de estudar 
separadamente cada um destes períodos e, ao mesmo tempo, apreciar alguns 
textos representativos de ambas as épocas.
2 AS CANTIGAS 
O primeiro período da literatura portuguesa, marcado pelo florescimento 
das chamadas cantigas, recebe o nome de Trovadorismo, por serem estas cantigas 
poemas criados com o objetivo de que fossem cantados, acompanhados por 
instrumentos musicais, entre os quais a flauta, a viola, o alaúde além de outros 
utilizados na época. Os autores de tais cantigas eram conhecidos por trovadores, 
enquanto aos que as apresentavam de maneira cantada chamavam-se jograis.
“A, senhor, ide rogar mia senhor,
Por Deus que haja mercee de mi.”
(D. Dinis)
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
20
O Dicionário Houaiss trata como jogral o artista medieval que cantava e recitava 
poesia. A partir do século X, os jograis começaram, juntamente com os menestréis, a divulgar 
a poesia trovadoresca, cantando-a acompanhados de música.
NOTA
Há quem atribua a origem deste tipo de poesia ao movimento das cruzadas, 
já que os fiéis cruzados encontravam-se em Lisboa, que era a área portuária mais 
próxima para embarcar com destino a Jerusalém. Junto com todo este movimento 
de chegada e partida dos cruzados, havia os jograis, os quais introduziram a nova 
moda literária em Portugal. Conforme explica Massaud Moisés (2008, p. 24), em 
Portugal, esta modalidade poética encontrou terreno fértil, haja vista já haver ali 
uma “[...] espécie de poesia popular de velha tradição. A íntima fusão de ambas 
as correntes (a provençal e a popular) explicaria o caráter próprio assumido pelo 
trovadorismo”. 
 
Poder-se-ia até imaginar que um papel fundamental era desempenhado 
pelos jograis, já que estes eram como que os atuais artistas ambulantes, que 
animavam festas, romarias, feiras, torneios, valendo-se para isto das melodias 
e canções. Eles levavam, assim, “[...] de cidade em cidade, de castelo em castelo 
essa nova forma de arte, que fez do amor e da saudade a fonte de uma expressão 
poética que adquiriu diferentes formas ao longo do tempo.” (TUFANO, 1990, p. 
111).
 
Considerando-se as condições em que foram compostas, geralmente uma 
tradição oral ou, se escritas, provisoriamente anotadas, principalmente por não 
haver intenção de registrá-las, muitas das cantigas foram perdidas. Mas, há que 
se considerar a existência de documentos que trazem coletâneas de cantigas de 
diferentes tipos e autores variados – são os chamados cancioneiros. Pela sua 
importância, no que concerne ao conhecimento do Trovadorismo português, são 
relevantes os seguintes cancioneiros:
• Cancioneiro da Ajuda: sua composição parece datar do século XIII, no reinado 
de Afonso III. Contém 310 cantigas, a maiorparte delas de amor.
• Cancioneiro da Biblioteca Nacional: conhecido também pelo nome dos dois 
italianos que o possuíram – Cancioneiro Collocci-Brancuti –, contém 1.647 
cantigas, de todos os tipos, cujos autores datam dos reinados de Afonso III e D. 
Dinis. Trata-se de uma cópia italiana do século XVI.
• Cancioneiro da Vaticana: também constitui uma cópia italiana do século XVI e 
contém uma coletânea de 1.205 cantigas, dos mais diversos tipos: amor, amigo, 
escárnio e maldizer. Foi localizado em 1840, na Biblioteca do Vaticano. 
 
TÓPICO 2 | O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA TROVADORESCA
21
No seu conjunto, as cantigas são distribuídas em dois gêneros maiores e 
subdivididas em quatro modalidades, conforme segue:
1) Gênero lírico: cantigas de amor e cantigas de amigo.
2) Gênero satírico: cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.
FONTE: De Giovanni, 2007, p. 23
FIGURA 3 – D. DINIS (1279-1325)
2.1 CANTIGAS DE GÊNERO LÍRICO
Este grupo compreende as cantigas de amigo e as de amor. “As cantigas 
de amigo compreendem uma manifestação poética cujas raízes estão nas próprias 
manifestações populares da Península Ibérica.” (TUFANO, 1981, p. 9). Portanto, 
surgiram do próprio sentimento popular. Caracterizam-se pela expressão 
do sentimento feminino, apesar de terem autoria masculina. São vivências, 
principalmente amorosas. Nelas, na maior parte das vezes, aparece o termo 
amigo, no primeiro verso da cantiga. O poeta assume o papel do eu lírico feminino, 
fazendo esta “mulher”, via tal estratagema, confidências à pessoa amada. 
Deste modo, observa-se na letra destas cantigas o sofrimento do eu lírico 
por causa da ausência do “amigo” (namorado, pessoa amada), o que é confessado 
à mãe, às irmãs, às amigas, ou ainda à natureza de um modo geral – campo, mar, 
rio, fonte, árvore, flores. No que concerne à ausência do amado, poderia tratar-se 
da sua partida para alguma batalha, a espera pelo seu regresso.
Outras vezes, as cantigas de amigo revelam estados de ânimo mais 
diversificados, como a alegria pela chegada do amigo, a ansiedade pelo seu 
regresso, o desejo de vingança, ciúmes. Já no que diz respeito às personagens 
que tomam parte na estrutura da cantiga, temos: a amiga, que constitui a própria 
voz poética. Poderia ser vista como ingênua, narcisista, com um comportamento 
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
22
esquivo ou vingativo, a mãe, a qual representa a norma social do caráter proibitivo, 
as confidentes, representadas pela figura da mãe, ou uma amiga, a irmã, noivas, 
a natureza (flores, ondas, mar), o amigo, representando o namorado, geralmente 
ausente.
Com o objetivo de estimular o conhecimento deste tipo de cantiga, caro/a 
acadêmico/a, passemos à leitura de uma dentre as muitas cantigas de amigo, 
seguida de alguns comentários:
Ai flores
(D. Dinis)
Ai flores, ai flores do verde pino,
Se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
Se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
Aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
Aquel que mentiu do que mi há jurado!
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss’amado?
E eu bem vos digo que é san’e vivo:
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss’amado?
E eu bem vos digo que é viv’e sano:
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é san’e vivo,
E seerá vosc’ant’o prazo saído:
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é viv’e sano
E seerá vosc’ant’ o prazo passado:
Ai Deus, e u é?
FONTE: BRAGA (2005 p. 186) 
TÓPICO 2 | O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA TROVADORESCA
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Efetuada a leitura da cantiga de amigo, seria de bom alvitre que 
se observassem no texto alguns aspectos importantes, como a estrutura 
paralelística, a qual pode ser comprovada já a partir dos dois primeiros versos 
das duas primeiras estrofes – “Ai flores, ai flores”/“Se sabedes novas”. No final 
destes versos, alternam-se as expressões, aparecendo – “verde pino”/“verde 
ramo” e “meu amigo”/“meu amado”. As demais estrofes também apresentam 
paralelismos. Faça você mesmo, acadêmico/a, esta análise.
No final de cada uma das quatro estrofes, repete-se a expressão “Ai Deus, 
e u é?”, a qual poderia ser considerada refrão, como ocorre também nas músicas 
atuais.
Caro/a acadêmico/a, no que concerne às cantigas de amigo, estas apresentam 
uma estrutura um tanto formalizada e com certa rigidez, no que diz respeito às repetições. 
Veja-se, por exemplo:
1) Paralelismo: repetição da mesma ideia em duas estrofes sucessivas, nas quais só mudam 
as palavras finais.
2) Leixa-pren: repetição dos segundos versos de um par de estrofes como primeiros versos 
do par seguinte.
3) Refrão: verso ou versos repetidos ao final de cada estrofe.
NOTA
A seu turno, as cantigas de amor exprimem um sentimento masculino 
e são ambientadas em palácios. Sua origem é provençal e mostram um homem 
apaixonado, na condição de vassalagem, ou seja, apaixonado por uma dama de 
classe social superior. Eis por que, nestas cantigas, o tratamento dado pelo eu 
lírico masculino à dama é “senhor” (senhora). Estes homens (eu lírico) vivem 
uma paixão insatisfeita, pois não são correspondidos pelas mulheres amadas, 
o que ocasiona sofrimento amoroso. Diante disto, por vezes, estes homens se 
colocam em situação de serventia.
Caro/a acadêmico/a, quando falamos em origem provençal, fazemos referência 
à região da Provença, sul da França, ou seja, alguém que é natural ou habitante desta região, 
bem como àquilo que é originário desta região.
NOTA
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
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A mulher cantada pelos trovadores nas cantigas de amor é idealizada, 
é alguém dotada de perfeição, não possuidora de defeitos, é colocada acima de 
todas as coisas. A mulher amada é alguém inacessível, que parece não atender aos 
seus apelos, principalmente porque é superior (nobre), enquanto ele (o homem 
que ama), um fidalgo, um decaído. Na caracterização das cantigas, importante 
que se faça eco às palavras de Massaud Moisés: “Os apelos do trovador a colocam 
no alto (a mulher), num plano de espiritualidade, de idealidade ou contemplação 
platônica, mas que se entranham no mais fundo dos sentidos.” (2008, p. 25). Vê-
se, assim, que o poeta sofre; seu sofrimento é pior que a morte, e o amor é sua 
única razão de viver.
Atente-se, a seguir, aos dois exemplos de cantigas de amor:
1) Cantiga da Ribeirinha
(Paio Soares de Taveirós)
No mundo non me sei parelha
mentre me for como me vai,
cá já moiro por vós-e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mau dia me levantei,
que vos entom no vi fea!
E, mia senhor, dês aquel di’, ai!
Me foi a mi mui mal,
e vós, filha de Don Paai
Moniz, e bem vos semelha
d’aver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós houve nem ei
valia d’ua correa.
 
FONTE: Braga (2005, p. 182)
TÓPICO 2 | O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA TROVADORESCA
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Veja-se como ficaria a tradução, para o português moderno, da “Cantiga da 
Ribeirinha”, efetuada pelo professor Stélio Furlan, da UFSC – Universidade Federal de Santa 
Catarina:
No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a minha continuar como vai,
porque morro por vós, e ai!
Minha senhora de pele alva e faces rosadas,
quereis que vos retrate (que me afaste)
quando vos vi em manto! (na intimidade)
Maldito dia! Me levantei
que não vos vi feia!
E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
Tudo me foi muito mal,
e vós, filha de Don Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia,
pois eu, minha senhora, como mimo
nunca de vós recebe
algo, mesmo sem valor.
NOTA
2) Tão grave dia
(D. Afonso Sanches)
Tam grave dia que vos conhoci
por quanto mal me vem por vós, senhor!
Ca ma vem coita, nunca vi mayor,
sem outro bem, por vós, senhor, des i
por este mal que mh’a mim por vós vem,
como se fosse bem, vem-me por em
gran mal a quem nunca o mereci.Ca, mia senhor, porque vos eu servi,
sempre digo que sode’la milhor
do mund’e trobo polo vosso amor,
que me fazedes gram bem e assy
veedd’ora mha senhor do bom sen,
este bem tal se cumpre em mi rrem,
senon, se valedes vós mays per y.
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
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Mais eu, senhor, em mal dia naci,
del que non tem, nem é conhecedor
do vosso bem, a que non fez valor
Deus de lho dar, que lhy fezo bem y,
per, senhor, assy me venha bem,
deste gram bem, que El por bem non tem,
muy pouco Del seria grand’a mi.
Poys, mha senhor, razon é, quand’alguen
serv’e non pede, já que rem lhi den;
eu servi sempr’e nunca vos pedi.
FONTE: Braga (2005, p. 183)
Nesta cantiga, importante observar a presença de um tipo de 
comportamento comedido por parte do eu lírico, caracterizado pela obediência 
à senhora, o desejo de servi-la, o que serviria para retratar o amor cortês, 
característica importante da poesia trovadoresca. Vê-se clara a presença do eu 
lírico que confessa seu amor pela mulher amada, assumindo que ela é superior 
a ele, afirmando que nada quer, a não ser viver o seu próprio sentimento, sem 
interesse. Porém, fica sentido porque ela não corresponde aos seus amores.
Em vários momentos, caro/a acadêmico/a, durante o nosso estudo das cantigas 
até aqui, citamos os trovadores. Ao que parece, na lírica medieval, o trovador era o artista de 
origem nobre do sul da França que, geralmente acompanhado de instrumentos musicais, 
como o alaúde ou a cistre, compunha e entoava cantigas. Já nos nossos dias trovador é 
entendido como aquele que divulga, cantando ou declamando, poemas próprios ou alheios 
(a referência é feita a qualquer poeta).
NOTA
TÓPICO 2 | O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA TROVADORESCA
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FONTE: Duby; Perrot (1990, p. 26)
FIGURA 4 – MULHER MEDIEVAL
2.2 CANTIGAS DE GÊNERO SATÍRICO
No que se refere às cantigas de gênero satírico, nestas o eu lírico tem o 
objetivo de criticar o outro, procurando ridicularizar essa pessoa de forma sutil 
ou grosseira. Há, dentro desse gênero, dois tipos de cantigas: as de escárnio e as 
de maldizer. As cantigas de escárnio encerram um tipo de ironia que é realizada 
por meio do sarcasmo, valendo-se de uma linguagem de sentido ambíguo, velada, 
mas sem deixar de lado certo humor. O objetivo sempre é satirizar alguém ou 
então comentar jocosamente alguma situação.
Ao falarmos em jocoso, amigo/a acadêmico/a, segundo o Dicionário Houaiss, 
fazemos referência àquilo que provoca o riso, que é engraçado, divertido, cômico.
NOTA
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
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De um modo geral, poder-se-ia até pensar o escárnio como uma zombaria, 
uma forma de menosprezo, de desdém. Ao escarnecer, o trovador jamais 
revela o nome do destinatário da crítica (sátira) e não utiliza também palavrões 
exagerados. Veja-se, a seguir, um exemplo de cantiga em que a pessoa satirizada 
não é nomeada:
Cantiga de escárnio
(João Garcia de Guilhade)
Ai, dona fea! Fostes-vos queixar
Que vos nunca louv’em meu trobar;
Mais ora quero fazer um cantar
Em que vos loarei toda via
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus me perdon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe em esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
Em meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já um bom cantar farei
Em que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
FONTE: Braga (2005, p. 191)
Já as cantigas de maldizer satirizam de modo mais agressivo, de 
modo direto, mais desvelado. Mais do que isto, o cunho destas cantigas é até 
difamatório, ocorrendo, inclusive, uma intenção de vituperar, com o uso de 
palavrões e xingamentos. Dito de outro modo, as cantigas de maldizer seriam 
como uma espécie de praga proferida contra alguém em específico para provocar 
maledicência e injúria.
Ao efetuar uma sátira com uma cantiga, neste caso com a de maldizer, isto 
se dava de modo direto, ocorrendo citação explícita dos nomes das pessoas em 
questão. Estas cantigas valiam-se, entre muitos, de temas como o amor interesseiro 
ou ilícito, o adultério, temas da política. Os assuntos tratados nestas cantigas, na 
época, despertavam grandes comentários por parte do público e possivelmente 
também entre os trovadores.
TÓPICO 2 | O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA TROVADORESCA
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Tais sátiras atingiam a vida social e a política da época, valendo-se de um 
tom de irreverência e vasta riqueza, haja vista seu considerável vocabulário, em 
muitos casos, o uso de trocadilhos, o que conferia certa riqueza em termos de 
recursos poéticos, e, de um modo geral, havia a fuga às normas rígidas adotadas 
nas cantigas de amor.
Caro/a acadêmico/a, veja a seguir um exemplo de cantiga de maldizer. 
Procure você mesmo/a analisar o modo de elaboração, o assunto tratado, o nome 
da pessoa satirizada, o uso de certos “palavrões”, tipo de crítica efetuado pelo 
autor-trovador Afonso Eanes do Coton. Coloque-se no lugar dos cidadãos da 
época. Será que você, vivendo na época deste autor, seria uma pessoa que gostaria 
de tê-lo como inimigo?
Bem me cuidei
Bem me cuidei eu, Maria Garcia,
em outro dia, quando vos fodi, 
que me non partiss’eu de vós assi
como me parti já, mão vazia,
vel por serviço muito que vos fiz;
que me non deste, como x’omen diz,
sequer um soldo que ceass’um dia.
Mais desta seerei eu escarmentado
de nunca foder já outra tal molher,
se m’ant’algo na mão non poser,
ca non ei porque foda endoado;
sabedes como: ide-o fazer
com quen teverdes vistid’e calçado.
Ca me non vistides nem me calçades
nem ar sel’eu enovosso casal,
nen avedes sobre min non pagades;
ante mui bem e mais vos en direi:
nulho medo, grad’a Deus, e a El-Rei,
non ei de força que me vós façades.
E, mia dona, quen pregunta non erra;
e vós, por Deus, mandade preguntar
polos naturaes deste logar
se foderan nunca em paz nen em guerra,
ergo se foi por alg’ou por amor.
Id’adubar vossa prol, ai senhor,
c’avedes, grad’a Deus, renda na terra.
FONTE: Braga (2005, p. 191)
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
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Caro/a acadêmico/a, para seu melhor entendimento da cantiga, eis um 
pequeno glossário para uma melhor elucidação da cantiga:
vel: em troca de; como x’omen diz: como se diz; ceass’: suficiente; seerei: sairei; se m’ant’algo: 
antes me algo; ca: pois; ei: hei, há; endoado: de graça; teverdes: tiverdes; vistid’e: vestido; 
nem ar: novamente: eno: na; vosso casal: vossa casa; nen avedes: tendes; nulho: nenhum; 
grad’a: graças; ergo: salvo.
NOTA
Como você teve a oportunidade de perceber, a cantiga revela um trovador 
(ou o autor da poesia) que se lamenta com a mulher – Maria Garcia – pelo fato de 
lhe ter prestado serviços prazerosos (sexuais) e, no caso dela, nada lhe ofereceu 
como retorno (pagamento, troca), seja dinheiro, seja roupa. Por esse motivo, ele 
diz que não repetirá tal favor. Diz ainda que ela, sob nenhuma hipótese poderia 
obrigá-lo a tal ação. E mais, afirma que não existe força que o obrigue a prestar-
lhe tal obséquio. O homem revela à mulher (Maria Garcia) que nenhum homem 
se presta a isso gratuitamente, salvo quando se trata de amor.
Retornando ao argumento central deste capítulo, poder-se-ia dizer 
que, de um modo geral, as cantigas de cunho satírico (de escárnio e maldizer) 
apresentam, acima de tudo, um interesse histórico, principalmente por tratar-se 
de textos que conseguem documentar a vida social da época, notadamente da 
corte. Tais textos trazem à tona as reações dos cidadãos frente a certos fatos da 
vida política, desnudam detalhes da vida íntima das classes aristocráticas, dos 
próprios trovadores e dos jograis, enfim, fazem chegar aos nossos dias “fofocas” 
e desvelam vícios considerados muitas vezes ocultos da sociedade portuguesa 
medieval.
Após os estudos que você teve oportunidade de efetuar acerca das 
cantigasde escárnio e maldizer, é muito oportuno que se dê voz ao crítico de 
literatura Massaud Moisés (2008), o qual nos oferece algumas palavras valiosas 
acerca deste tipo de cantigas:
Essas duas formas de cantiga satírica, não raro escritas pelos próprios 
trovadores que compunham a poesia lírico-amorosa, expressavam, como é fácil 
de depreender, o modo de sentir e de viver peculiares de ambientes dissolutos, e 
acabaram por ser canções de vida boêmia e marginal, que encontrava nos meios 
frascários e tabernários o seu lugar ideal. A linguagem em que eram vazadas 
admitia, por isso, expressões licenciosas ou de baixo calão: poesia “maldita”, 
descambando para a pornografia ou o mau gosto, possui escasso valor estético, 
mas em contrapartida documenta os meios populares do tempo, na sua linguagem 
e nos seus costumes, com uma flagrância de reportagem viva. 
TÓPICO 2 | O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA TROVADORESCA
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“Visto constituir um tipo de poesia cultivado notadamente por jograis 
de má vida, era natural que propiciasse e estimulasse o acompanhamento 
de soldadeiras (= mulheres a soldo), cantadeiras e bailadeiras, cuja vida atirada e 
dissoluta fazia coro com as chulices presentes nos versos das canções.” (MOISÉS, 
2008, p. 28).
Isto posto, há que se ressaltar que, com o transcorrer do tempo, a sociedade 
e a economia portuguesas se desenvolveram, modificando-se consequentemente. 
Atrelada a estas mudanças, veio também a transformação da arte, da literatura. 
Transitava, assim, a Península Ibérica, de uma estrutura tipicamente feudal para 
um sistema econômico mercantil, com a consequente valorização da vida cortês 
(principalmente no reinado de D. Dinis – 1279-1325), a criação das primeiras 
universidades, a sustentação do espírito guerreiro e aventureiro do tempo das 
lutas pela Reconquista, a grande influência que o clero exercia: todo este conjunto 
de situações fomenta e cria as condições ideais para que se desenvolva, dentro da 
literatura portuguesa, a prosa, entre os séculos XII e XIV. 
 
A prosa medieval portuguesa se manifesta primeiramente através das 
chamadas novelas de cavalaria, as quais têm sua origem na França e derivam das 
canções de gesta – poemas da Idade Média, cantados em linguagem popular e 
que retratavam os feitos heroicos dos guerreiros. Dentro da literatura portuguesa, 
têm grande destaque enquanto obras de ficção escritas em prosa.
As Novelas de Cavalaria marcam a segunda etapa da literatura portuguesa 
do período medieval, as quais, caro/a acadêmico/a, você terá o prazer de estudar 
na seção a seguir. 
3 AS NOVELAS DE CAVALARIA
O desenvolvimento da vida cortesã e do amor cortesão na Europa, 
principalmente na França e na Inglaterra, a partir do século XII, impulsionou a 
difusão das novelas de cavalaria. Estas têm sua origem nas canções de gesta, a 
saber, poemas que tratam de aventuras de guerreiros. Transformados em prosa, 
foram traduzidos para diferentes línguas e rapidamente ganharam popularidade 
em toda a Europa, chegando também a Portugal. 
 
A tradição europeia da cavalaria estava em franca decadência e obteve 
nestas narrativas a sua compensação, já que estas novelas tratavam justamente 
de aventuras de cavaleiros andantes. Neste ponto, a respeito destas narrativas, 
poder-se-ia afirmar que se trata de uma “[...] novela a serviço do movimento 
renovador do espírito da cavalaria andante, nela o herói também está a serviço, 
não do senhor feudal, mas de sua salvação sobrenatural: uma brisa de teologismo 
varre a narrativa de ponta a ponta” (MOISÉS, 2008, p. 37). Ou seja, estas narrativas 
trazem em si traços de misticismo, de um desejo claro do herói pela busca de 
perfeição, pelo alcance de um ideal utópico de vida.
UNIDADE 1 | LITERATURA PORTUGUESA: ORIGENS E ESCOLAS LITERÁRIAS DO PERÍODO MEDIEVAL
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Nas narrativas destes cavaleiros, os heróis (cavaleiros) são sempre valentes, 
cuja vida é posta em constante perigo, o que destaca a coragem e o destemor destes 
valentes jovens heróis. Estes se colocam a serviço de belas damas e envolvem-se 
em aventuras amorosas, o que excita ainda mais os leitores medievais.
Estas aventuras amorosas perigosas destes destemidos guerreiros 
caracterizam o amor cortesão (ou fino amor). Este tipo de amor desenvolve-se 
geralmente fora do casamento, um amor que geralmente não se efetiva no plano 
real, pois é um amor virtual, adúltero. O cavaleiro geralmente se coloca diante 
da mulher como se estivesse diante de seu rei ou seu senhor, numa situação de 
vassalagem amorosa. Não raro, tal amor revela uma mulher que se encontra num 
patamar superior e inacessível, e um homem em situação de serventia (vassalo), 
como nas cantigas de amor.
Essa ideologia de amor cortesão mantém-se viva até fins do século 
XV, para ser retomado “[...] por uma forma absolutamente nova, o romance” 
(LUKÁCS, 2000, p. 39). O romance romântico tenta reaver nas suas narrativas o 
modelo cortesão, via mulher idealizada, amor platônico, sofrimento, final feliz.
Caro/a acadêmico/a! A propósito dos cavaleiros e suas aventuras, você poderia 
assistir a filmes como Excalibur, As Brumas de Avalon, Lancelot, entre os muitos que existem. 
Observe como são retratados os cavaleiros, as mulheres, as aventuras amorosas nas aventuras 
dos cavaleiros andantes.
NOTA
Para retomar o assunto que constitui o filão deste capítulo, muitas 
personagens citadas nas novelas de cavalaria tornaram-se famosas, e entre estas 
citem-se Lancelot, Tristão, Isolda, Galaaz. Em todos eles, observa-se a presença 
de um guerreiro concebido pela Igreja: herói casto, fiel, dedicado, escolhido para 
uma peregrinação mística, em luta por Deus e por sua dama.
Ainda dentro do assunto das novelas, em vista de uma questão didática, 
convencionou-se dividi-las em ciclos, como é demonstrado no quadro que segue:
TÓPICO 2 | O PERÍODO MEDIEVAL: A POESIA E A PROSA TROVADORESCA
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CICLO ÉPOCA CARACTERÍSTICAS OBRAS
Carolíngio Império de 
Carlos Magno
As novelas tratam das batalhas 
entre os muçulmanos e os saxões, 
as aventuras de Carlos Magno e 
Os Doze Pares de França.
Canção de Rolando, 
Crônica de Turpin e 
Maynete.
Clássico Império de 
Alexandre 
Magno
Abordam temas retomados 
da antiguidade greco-romana 
(Troia, vida de Alexandre, 
aventuras de Eneias.
Romance de Tebas, 
Romance de Troia, 
Romance de Eneias.
Bretão ou 
arturiano
Século XII Exaltação religiosa, lirismo, 
sentimentalismo, devoção 
amorosa.
José de Arimateia, 
História de Merlim, 
A Demanda do 
Santo Graal.
FONTE: O autor 
QUADRO 1 – DIVISÃO DA NOVELA EM CICLOS
Caro/a acadêmico/a, com o intuito de instigar o espírito da leitura, 
oferecemos, a seguir, o resumo comentado de uma das novelas do Ciclo Clássico, 
Romance de Troia. Leia-o para sentir-se impelido/a à leitura de mais textos destas 
novelas.
ROMANCE DE TROIA
O Romance de Troia, que se compõe de mais ou menos trinta mil versos, 
remonta ao ano de 1160, cuja autoria pertenceria, segundo alguns pesquisadores, 
ao trovador Benoît de Sainte-Maure. O poema presta uma homenagem à obra de 
Homero, nomeadamente, à Ilíada e à Odisseia, dois poemas épicos da Antiguidade 
clássica grega, cujos temas heroicos fazem parte da origem desta obra.
E aqui poderia ser lembrada a intertextualidade, que se caracteriza por 
relações que um texto mantém com outros textos que o precedem. Neste caso, o 
Romance de Troia é antecedido pela Ilíada e pela Odisseia, o que permite dizer 
que existe uma relação intertextual entre ambos.
Retornando ao assunto do romance, o termo roman, na França, designava, 
nessa época, uma narração em verso e, mais tarde, em prosa escrita, em romance 
ou romanço, e contava as aventuras fabulosas ou os amores de heróis imaginários 
ou idealizados. Ao contrário das canções de gesta, que eram para ser cantadas, os 
romances eram para ser lidos, em voz alta, perante um grupo de pessoas.
O Romance de Troia é um dos primeiros romances medievais, escritos 
no reino de Leonor de Aquitânia, que se debruça sobre as lendas e os

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