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AUTORES RODRIGO GAMBARO CHAVES THIAGO HENRIQUE NUNES FERREIRA LUCAS DUARTE TAVARES ESTRATÉGIAS DE RECUPERAÇÃO E CONTROLE DE CARGA DE TREINAMENTO ESTRATÉGIAS DE RECUPERAÇÃO E CONTROLE DE CARGA DE TREINAMENTO Conselho Regional de Educação Física da 4a Região – CREF4/SP Conselheiros Ailton Mendes da Silva Antonio Lourival Lourenço Bruno Alessandro Alves Galati Claudio Roberto de Castilho Erica Beatriz Lemes Pimentel Verderi Humberto Aparecido Panzetti João Francisco Rodrigues de Godoy Jose Medalha Luiz Carlos Carnevali Junior Luiz Carlos Delphino de Azevedo Junior Marcelo Vasques Casati Marcio Rogerio da Silva Marco Antonio Olivatto Margareth Anderáos Maria Conceição Aparecida Conti Mário Augusto Charro Miguel de Arruda Nelson Leme da Silva Junior Paulo Rogerio de Oliveira Sabioni Pedro Roberto Pereira de Souza Rialdo Tavares Rodrigo Nuno Peiró Correia Saturno Aprigio de Souza Tadeu Corrêa Valquíria Aparecida de Lima Vlademir Fernandes Wagner Oliveira do Espirito Santo Waldecir Paula Lima ESTRATÉGIAS DE RECUPERAÇÃO E CONTROLE DE CARGA DE TREINAMENTO Rodrigo Gambaro Chaves Thiago Henrique Nunes Ferreira Lucas Duarte Tavares 2019 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Agência Brasileira do ISBN - Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971 �&�����&KDYHV��5RGULJR�*DPEDUR�� (VWUDW«JLDV�GH�UHFXSHUD©¥R�H�FRQWUROH�GH�FDUJD�GH�� WUHLQDPHQWR���5RGULJR�*DPEDUR�&KDYHV��7KLDJR�+HQULTXH�1XQHV� )HUUHLUD�H�/XFDV�'XDUWH�7DYDUHV��ƃƃ�6¥R�3DXOR���&5()��63�� �2���� ����S�������FP��ƃƃ��&ROH©¥R�/LWHU£ULD��2�DQRV�GD�� ,QVWDOD©¥R�GR�&5()��63��� � ,QFOXL�ELEOLRJUDILD�� ,6%1������������������� � ���(VSRUWHV���7UHLQDPHQWR�����3HULRGL]D©¥R�GR�WUHLQDPHQWR�� I¯VLFR�����(VSRUWHV���&DUJDV�FRQFHQWUDGDV�GH�IRU©D��� ,��)HUUHLUD��7KLDJR�+HQULTXH�1XQHV��,,��7DYDUHV��/XFDV� 'XDUWH��,,,��7¯WXOR��,9��6«ULH�� � � &''��������� Comissão Especial da Coleção Literária 20 anos da Instalação do CREF4/SP Responsáveis, junto a diretoria do CREF4/SP, pela avaliação, aprovação e revisão técnica dos livros Prof. Dr. Alexandre Janotta Drigo (Presidente) Profa. Ms. Érica Beatriz Lemes Pimentel Verderi Prof. Dr. Miguel de Arruda Editora Malorgio Studio Coordenação editorial Paolo Malorgio Capa Felipe Malorgio Revisão Joice Chaves Imagens de capa Freepik.com Projeto gráfico e diagramação Rodrigo Frazão Copyright © 2019 CREF4/SP Todos os direitos reservados. Conselho Regional de Educação Física da 4a Região - São Paulo Rua Líbero Badaró, 377 - 3o Andar - Edifício Mercantil Finasa Centro - São Paulo/SP - CEP 01009-000 Telefone: (11) 3292-1700 crefsp@crefsp.gov.br www.crefsp.gov.br Sumário Apresentação .............................................................................................................. 7 Introdução ................................................................................................................... 9 Princípio da adaptação ............................................................................................ 11 Princípio da Sobrecarga .......................................................................................... 12 Princípio da Individualidade Biológica ................................................................ 19 Princípio da Acomodação ....................................................................................... 21 Princípio da Variabilidade ...................................................................................... 21 Princípio da Especificidade .................................................................................... 22 Desidratação e exercício .......................................................................................... 24 O que ingerir? ........................................................................................................... 29 Imersão em água fria (Crioterapia) ....................................................................... 36 Recuperação ativa .................................................................................................... 42 Alongamento ............................................................................................................ 44 Sono ............................................................................................................................ 48 O Monitoramento das Cargas no Treinamento ................................................... 53 Percepção Subjetiva do Esforço (PSE) ................................................................... 64 Impulsos de treinamento (TRIMP) ........................................................................ 73 Monitoramento de repostas neuromusculares ao treinamento esportivo .............. 80 Considerações finais ................................................................................................ 89 Referências ................................................................................................................ 91 7 Apresentação Esta é a segunda coleção literária que o Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região - CREF4/SP lança, dessa vez para comemorar os 20 anos da sua instalação. O fato histórico de referência é a Resolução 011 de 28 de outubro de 1999, publicada pelo CONFEF, que fixou em seis, o número dos primeiros CREFs e, entre eles, o CREF4/SP, com sede na cidade de São Paulo e jurisdição em nosso Estado. Nesse momento, remeto-me à luta que antecedeu essa conquista, e que se iniciou com a “batalha” pela regulamentação de nossa profissão, marcada pela apresentação do Projeto de Lei nº 4.559/84, mas que somente foi efetivada pela Lei 9.696/98, passados 14 anos do movimento inicial no Congresso Nacional. Logo após essa vitória histórica, a próxima contenda foi a de atender aos requisi- tos estabelecidos pelas normas do CONFEF para a abertura de nosso Conselho, que à época exigia o registro de 2 mil profissionais. Com muito orgulho me lem- bro da participação de minha cidade natal - Rio Claro - neste contexto, por meio do trabalho iniciado pelo Prof. José Maria de Camargo Barros, do Departamento de Educação Física da UNESP. Vários professores e egressos dos Cursos se mo- bilizaram para inscreverem-se e buscarem novas inscrições em nossa cidade, tarefa na qual me incluí, tendo número de registro 000200-G/SP. Atualmente o CREF4/SP é o maior Conselho Regional em número de regis- trados, com uma sede que, além de bem estruturada, está bastante acessível aos Profissionais que se direcionam para a capital, estando próximo às estações de metrô São Bento e Anhangabaú. Também conta com a Seccional de Campinas bem aparelhada e atuante em prol da defesa da sociedade e atendimento aos Profissionais de Educação Física. Tudo isso demonstra que esses 20 anos foram de muito trabalho e empenho para a consolidação de nossa profissão, e assim destaco a força de todos os Conselheiros do passado e do presente e dos valo- rosos empregados que ajudaram a construir esta realidade. Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 8 Por isso insistimos em comemorar, agora os 20 anos do CREF4-SP, ofere- cendo aos Profissionais de Educação Física, aos estudantes, às instituições de formação superior, bibliotecas e à sociedade uma nova Coleção Literária com- posta de 20 obras, uma para cada ano do aniversário. Buscamos permanecer “orientando o exercício profissional, agindo com excelência, justiça e ética”, uma das missões de nosso Conselho. Enquanto Presidente do Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região (CREF4/SP) apresento a Coleção Literária em Comemoração aos 20 Anos da Instalação do CREF/SP, composta por livros que procuraram acolher as neces- sidades do campo profissional, atendendo o quesito de diversificação de con- textos e de autores, priorizando temas inéditos em relação ao que vem sendo produzido por este Conselho. O faço na esperança de que os Profissionais de Educação Física leitores dessasobras demostrem o mesmo empenho e amor pela profissão que seus próprios autores dedicaram, oferecendo seu tempo e cedendo os direitos au- torais dessa edição, tanto em relação ao livro físico quanto à versão digital de forma voluntária. Com esse gesto entram em conformidade com os pioneiros do CREF4/SP que assim o fizeram, e de certa forma ainda fazem, afinal não é por acaso que nosso lema atual é: “Somos nós, fortalecendo a profissão!” Parabéns para nós Profissionais de Educação Física do Estado de São Paulo. Nelson Leme da Silva Junior Presidente do CREF4/SP 9 Introdução Ao pensar em treinamento esportivo, certamente irá se deparar com ques- tionamentos importantes que se leva a buscar instrumentos para melhorar a adequação da prescrição de exercícios. Ou seja, quais são os pilares relaciona- dos a prescrição de treinamento que podem interferir diretamente na resposta que o atleta dá? O conceito de carga de treinamento refere-se ao estresse ou determinado estímulo ao qual o atleta é submetido, independente da modalidade de exercí- cio empregada. Esses estímulos são caracterizados pelo volume e intensidade e são ainda divididos em dois aspectos: Carga externa de treinamento: refere-se a natureza da atividade desenvol- vida pelo atleta e pode ser quantificada pelo número de deslocamentos reali- zados pelo atleta em determinada atividade, além das ações referentes a velo- cidade, número de sprints etc. Essas informações podem ser classificadas sob a análise de 3 tipos (CASAMICHANA D., 2017): • tipo 1: distância percorrida total ou distâncias percorridas em diferentes faixas de velocidade; • tipo 2: ações que envolvem mudanças de velocidade, como número e frequência de acelerações e desacelerações; • tipo 3: dados relacionados a combinações das ações acima citadas e rela- cionados a sobrecarga, como player load, número de contatos etc. Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 10 Já a carga interna de treinamento refere-se diretamente à forma como de- terminado atleta recebe as ações vinculadas a carga externa, ou seja, baseia-se em seu nível de condicionamento físico, sua demanda metabólica e neuromus- cular proporcionada por determinada atividade (Buchhet et al., 2017). Para isso, podemos analisar o comportamento da frequência cardíaca, tem- peratura muscular com o uso da termografia, análises bioquímicas (lactato, creatina quinase etc.), relação de perda de peso corporal e, é claro, informações subjetivas como percepção subjetiva de esforço (PSE), escala de recuperação TQR, escala de suor etc. Exemplo: ao realizar uma prova de corrida de rua de 10 km, o atleta A completa essa atividade com uma velocidade média de 12 km/h, frequência cardíaca média de 152 bpm, o que representa 65% da sua frequência cardíaca máxima e 4 mmols de lactato. Já o atleta B completa a mesma prova com a mes- ma velocidade média (12 km/h), porém com uma frequência cardíaca média de 177 bpm e 7 mmols de lactato. Observe esses resultado no gráfico a seguir. Gráfico 1 Para a mesma atividade (prova de 10 km) e mesma velocidade média, te- mos respostas fisiológicas absolutamente diferentes e níveis de exigência física também distintos. Por essa razão, o olhar para a quantificação da sobrecarga deve-se combinar a relação entre cargas internas e externas. Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 11 Gabbet et al. (2017) apresenta um interessante ciclo de monitoramento do atleta, divididos em 4 passos. Passo 1: carga de trabalho externa ‒ o que o atleta fez de treinamento? Passo 2: qual é a resposta do atleta ao estímulo realizado? Passo 3: o atleta está respondendo de qual forma à carga de treinamento? Passo 4: o atleta está preparado para receber um novo estímulo? Para responder com segurança a essas perguntas, precisamos resgatar al- guns conceitos relacionados ao treinamento desportivo. Portanto veremos os princípios do treinamento físico (sobrecarga, individualidade biológica, aco- modação, especificidade e variabilidade) que interferem diretamente na mag- nitude do processo de adaptação ao treinamento e gerenciamento das cargas de treinamento. Princípio da adaptação Segundo BOMPA (2002), a adaptação ao treinamento é fruto de constan- tes transformações estruturais e fisiológicas ocorridas em virtude da repetição sistemática de exercícios, que resultam em uma exigência específica, baseada na combinação da dose de exercício prescrita, ou seja, baseado na relação entre volume, intensidade e frequência semanal de treinamento. O treinamento realizado de forma aguda, sistemática e frequente pode pro- porcionar adaptações crônicas que resultam em melhorias fisiológicas e orgâni- cas. Para Zatsiorky e Kraemer, adaptação significa um ajuste do organismo ao ambiente em que ele está inserido, o que sugere que há adaptações para viver melhor quando o meio muda. É importante dizer que as adaptações que ocorrem em função da prática sistemática de exercício não são frutos de um único estímulo ou sessão, e sim de adaptações sequenciais em razão do estresse causado por essa sessão aguda. Para isso, Zatsiorky e Kraemer (2008) conceituam 5 efeitos relacionados a pro- moção do processo adaptativo. São eles: 1. efeitos agudos: alterações fisiológicas que ocorrem durante a sessão de treinamento, exemplo: comportamento da frequência cardíaca, concen- tração de lactato, respostas hormonais. 2. efeitos parciais: são ajustes específicos que ocorrem fruto de treina- mentos mais simples e direcionados, exemplo: treinamento de força Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 12 específico para um determinado grupo muscular, como os isquioti- biais, promoverá adaptações específicas e localizadas naquele grupo muscular trabalhado e não de forma geral. 3. efeitos imediatos: são ajustes decorrentes da sessão de treinamento realizada e se manifesta imediatamente após o treinamento. São dire- tamente relacionados aos efeitos agudos impostos na sessão realizada, exemplo: aumento da frequência cardíaca pós treinamento se compa- rada a frequência cardíaca basal, aumento da sudorese, aumento do consumo de oxigênio após o exercício, quando comparado aos valores de repouso. 4. efeitos crônicos: efeitos do treinamento que são evidenciados a médio e longo prazo e são consequências das adaptações dos efeitos agudos e imediatos,exemplo: aumento da massa muscular, redução da frequên- cia cardíaca basal. 5. efeitos residuais: são aqueles que permanecem com a interrupção do treinamento. Princípio da Sobrecarga Esse é um dos princípios de treinamento mais antigos e aplicáveis. Conceitualmente, Hellebrant e Houtz em 1956, diagnosticaram que o de- sempenho aumentaria somente se os atletas trabalhassem com intensidades máximas ou próximas do máximo em relação as cargas de trabalho anterior- mente impostas. Com o passar do tempo, essa foi uma área muito estudada por fisiologistas e preparadores físicos e verificou-se que essas adaptações ao treinamento não acontecem somente com trabalhos em intensidades má- ximas, mas também em intensidades maiores aquelas que o organismo está adaptado. Ou seja, é necessário conhecer qualitativamente o treinamento aplicado para ter certeza que as cargas impostas estão de acordo com os ob- jetivos pré-estabelecidos. Segundo o ACSM, um dos mais renomados centros relacionados a prescri- ção de exercício, é necessário considerar quatro fatores ao elaborar um progra- ma de treinamento. São eles: 1. duração do exercício (contagem de minutos); 2. intensidade; 3. frequência semanal de treinamento (número de vezes); 4. tipo (modalidade de treinamento a ser realizada). Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 13 Ao considerar os tópicos acima, nós temos o que deve ser considerado e estudado para a elaboração da prescrição do treinamento, seja ele de curto, médio ou longo prazo. Abaixo, segue um exemplo das demandas físicas e exigências requeridas em um treino de futebolde um atleta profissional, com a análise das seguintes variáveis: 1. contagem total de minutos de treinamento; 2. estimativa de gasto calórico; 3. comportamento da frequência cardíaca, em valores absolutos e percentuais; 4. tempo de permanência (%) em cada uma das zonas de treinamento; 5. frequência cardíaca média; 6. distância percorrida total; 7. número de sprints; 8. tempo de permanência (%) em cada uma das zonas de intensidade (velocidade). Quadro 1 Demandas físicas e exigências de um treino de futebol para um atleta profissional Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 14 Vimos acima que uma simples sessão de treinamento promove diferentes adaptações e proporciona grande quantidade de informações que devem ser analisadas de modo qualitativo e quantitativo para adequar as próximas sessões de treinamento, com o intuito de promover as adaptações fisiológicas e morfo- funcionais para evolução do atleta e, obviamente, não expô-lo a risco de lesão. Essa interpretação passa pela análise e quantificação da sobrecarga imposta pelo treinamento, sendo essa, uma das área mais investigadas pela comuni- dade científica nos últimos anos. Ao aplicar um determinado estímulo, há de forma imediata um efeito catabólico em função da sobrecarga imposta. Ou seja, o exercício é absolutamente catabólico (I) e estressante para o organismo, com aumento da frequência cardíaca, consumo de oxigênio, alterações hormonais como inibição da produção de insulina e aumento da atividade do glucagon, redução dos estoques de glicogênio etc. Ao término do exercício, é necessário criar estratégias para reverter esse quadro catabólico imposto pela sessão de treinamento realizada. Veremos a seguir as diferentes estratégias para melhorar a adequação dessa etapa, com protocolos de recuperação e sugestão de alimentação e suplementação após o exercício. Esta fase tem como principal objetivo reverter o quadro de degrada- ção imposto pela atividade e favorecer o anabolismo (II). A sessão III da imagem reflete a combinação da sobrecarga imposta pelo treinamento (catabolismo) e aplicação das estratégias adequadas de recupera- ção pós-exercício (anabolismo). Se esta equação for bem equilibrada, teremos adaptações positivas em relação ao treinamento (supercompensação). Caso seja negativa pelo excesso de sobrecarga, ou baixa qualidade do processo de recuperação, ou ainda pelo pouco intervalo entre as sessões, o indivíduo estará mais exposto a incidência de lesão. Gráfico 2 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 15 Delgado; Bordonau & Mendez; Villanueva (2012) apresentam um exem- plo de organização semanal interessante para distribuição dos componentes de que devem ser trabalhados, especialmente em esportes coletivos. A análise foi feita para o futebol. Quadro 2 Carga de treinamento semanal As cargas de treinamento impostas em uma semana com 2 jogos (aos do- mingos) contempla períodos de recuperação após os jogos, com atividades em caráter regenerativo e baixas cargas de treinamento. A medida que o atleta se recupera do jogo, que é o estímulo mais intenso a que pode ser submetido na semana, ele passa por um período de aquisição das variáveis que devem ser contempladas ao jogador de futebol (força, resistência e velocidade) para, novamente, reduzir a carga de treinamento como estratégia supercompensa- tória e deixá-lo em ótimas condições para a próxima partida. Malone et al. (2017) demostram isso de forma ainda mais aplicada ao rela- cionar a distância percorrida total e em alta intensidade de jogadores ingleses em função da proximidade da partida seguinte. Domingo Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sábado Domingo Descanso Recuperação Força Jogo Jogo Ativação Velocidade Endurance Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 16 Gráfico 3 Carga semanal do microciclo competitivo Na imagem acima, os dias -4, - 3, -2 e -1 são referentes a sua distância até o dia da partida. Por exemplo, pode-se constatar que a 4 dias da partida (-4) é quando apresenta-se o maior volume de treinamento, com maior distância percorrida total e em alta velocidade. Ao se aproximar da partida, o volume de treinamento é reduzido com os objetivos de reduzir a sobrecarga e garantir a supercompensação. Esse fenômeno é denominado Tapering, que indica adequa- ções de carga de trabalho ao longo da semana caracterizadas por consequente redução de sobrecarga ao se aproximar do evento esportivo. Adequar a carga de treinamento é, certamente, uma das tarefas mais difí- ceis da organização e aplicação de treinamento físico. Avaliar, interpretar os resultados e prescrever o exercício são instrumentos relativamente comuns na rotina dos preparadores físico e fisiologistas nos mais diferentes esportes. Mas interpretar a sobrecarga que a dose de treinamento proposta imprimiu no atle- ta ou no grupo de atletas, é uma tarefa tão importante quanto o planejamento citado e gerenciar a carga, caso necessário, é também uma estratégia eficiente para minimizar os riscos impostos pelas atividades. Ao iniciar uma temporada, por exemplo, são necessários algumas semanas de treinamento com objetivo de recondicionar o grupo de treinamento e prepa- rá-los da forma mais adequada possível para o início da temporada. Entende-se como preparar da melhor forma possível a relação entre melhora do nível de condicionamento físico e redução da exposição a riscos de lesão muscular. A gestão inadequada das cargas de treinamento é um dos fatores de risco que predispõem os atletas a lesões. Entretanto, essa inadequação das cargas de 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 Distância percorrida total ■ -4 ■ -3 ■ -2 ■ -1 110 m/min 90 m/min 70 m/min 50 m/min Distância em metros/min Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 17 treinamento parecem impactar de forma individualizada os atletas, sendo que possíveis erros de gestão de carga podem aumentar a probabilidade em um atleta e em outro não. As características que permitem interpretar essa relação entre a resiliência de suportar a carga de treinamento imposta e minimizar seus possíveis efeitos prejudiciais são conhecidas como moderadores (Windt et al., 2017). Em um trabalho realizado com futebolistas do País de Gales, Windt et al. (2017) encontraram que a resistência cardiovascular medida pelo teste YoYo Recorery Test apresenta-se como um importante modulador do resultado da relação citada. Já Malone et al. (2017) descobriram que atletas que apresentam baixa capacidade cardiovascular apresentam, em geral, probabilidades de le- são até 2,5 vezes a mais que aqueles que possuem boa capacidade aeróbica. Vale ressaltar aqui que o YoYo Recovery Test é uma avaliação que mensura a capacidade aeróbica como objetivo principal mas, indiretamente a relaciona com níveis de força muscular, já que é uma avaliação que envolve constantes mudanças de direção, acelerações e desacelerações. Owen et al. (2015) demonstram a relação entre estímulos de alta intensi- dade, medidos pelo comportamento da frequência cardíaca e separados por zonas de intensidade e incidência de lesão muscular ao longo de uma tempo- rada. Para análise, utilizaram como zonas de alta intensidade entre 85 e 89% da frequência cardíaca máxima e acima de 90%, zona de altíssima intensidade. Gráfico 4 Intensidade de treinamento individual (tempo investido em diferentes zonas de intensidade cardiovascular) e frequência de lesões (em número) a cada mês. Fonte: Owen et al., 2015, p. 1708 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 18 Vejam que os períodos de maior incidência de lesão muscular são, justa- mente, os períodos de pretemporada, onde este atleta retorna de um processo de “destreinamento” (férias) e reinicia as atividades. Além disso, foi verificado que aqueles atletas com baixa capacidade de resistência aeróbica apresentam maior probabilidade de lesão diantede: 1. cargas semanais de distância percorridas em alta velocidade acima de 1.025 metros; 2. mudanças nas cargas semanais na distância percorrida em alta veloci- dade entre 300 e 600 metros/semana; 3. cargas semanais de distância percorrida em sprint maiores que 350 m. Além disso, há alguns indicadores que evidenciam a intensidade de exer- cício praticada como um dos indicadores de lesão muscular. Cross et al. (2015) demonstraram que o gerenciamento das cargas de trabalho é também um in- dicador de condicionamento e isso está diretamente relacionado a maior ou menor incidência de lesão. No gráfico abaixo, mostramos que atividades de baixa intensidade apre- sentam a mesma probabilidade de lesão muscular que atividade de alta inten- sidade. Já atividades de intensidade de moderada a alta demonstram ótima relação neste contexto, sendo caracterizada, portanto, como um mecanismo protetor do atleta. Ajustes de cargas com intensidades moderadas a alta servem como mecanismos protetores em relação a incidência de lesão. Cargas altas ou baixas apresentam a mesma relação para incidência de lesão. Gráfico 5 Atividades de baixa intensidade são associados a baixo risco de lesão. Enquanto que os níveis moderado a alto aumentam os riscos de lesão (Adaptado de Cross et al.,2005). Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 19 Gráfico 6 Relação entre a distância percorrida em alta velocidade (A) e a distância percorrida em sprint na semana (B) e a probabilidade de lesão na extremidade inferior de jogadores de futebol profissionais. Fonte: Malone et al., 2018. Princípio da Individualidade Biológica Este princípio do treinamento, tão comum, discutido amplamente no meio universitário, sugere que as prescrições de treinamento realizadas devem ter caráter individual, respeitando assim as necessidades específicas do praticante, os objetivos predeterminados e ainda, as experiências e habilidades já adquiri- das por ele na modalidade. Portanto, parece lógico que a prescrição do treinamento seja feita de forma personalizada, individual e com objetivos específicos, mesmo que baseada em modelos tradicionais de recomendação de exercício. Para isso, a avaliação física é de suma importância para diagnosticar o nível de condicionamento do indi- víduo, percentual de gordura e outras variáveis que o profissional de educação julgar importantes e a partir daí, adequar a carga de trabalho em busca dos objetivos discutidos. Dessa forma, tornaremos o treinamento eficiente. Caso não tenhamos a avaliação física como instrumento diagnóstico, pode- mos partir de modelos pré-estabelecidos para prescrição de treinamento, mas é fundamental adequar essa recomendação de exercício aos objetivos e neces- sidades do indivíduo. 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 A O dd s R isk (O R) < 674-m Between 675- 700-m Between 701- 750-m Between 750- 1025-m Weekly High Speed Running Distance (m) 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 B O dd s R isk (O R) < 165-m Between 165- 200-m Between 201- 350-m Between 350- 525-m Weekly Sprint Running Distance (m) Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 20 Mazzeti et al. (2000) evidenciaram a importância da adequação do trei- namento aos objetivos do indivíduo, mostrando que a partir de 7 sema- nas de treinamento, a prescrição de exercício adequada as necessidades e objetivos do indivíduo e supervisionada apresentam resultados mais eficientes do que aquelas prescrições genéricas para força de membros superiores e inferiores. Gráfico 7 Tr ai ni ng L oa d (k g/ se t) Weeks B A Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 21 Princípio da Acomodação Ao realizar o exercício, seja ele recreacional ou com fins competitivos, o indivíduo é submetido a adaptações vinculadas ao treinamento esportivo que são diretamente influenciadas pela dose de exercício (volume, intensida- de e frequência semanal). Para que haja evolução é necessário que tenhamos alterações nesses mecanismos para evitar um processo de estagnação de de- sempenho. Ou seja, submeter o indivíduo ao mesmo tipo de treinamento, com a mesma carga e intensidade parece não ser uma estratégia interessante, já que isso promoverá um processo chamado de acomodação. Esta acomodação gerará um platô de desempenho, em que o indivíduo es- tará fisiologicamente acomodado. Isso fica muito claro nas primeiras semanas de treinamento de força, por exemplo. Ao entrar na academia, um indivíduo apresenta ganhos de força significativos nas primeiras semanas de treinamen- to, sendo que essa evolução está sob responsabilidade da adaptação neural ao treinamento, e menos sob a hipertrofia muscular. Com o passar do tempo, caso não haja variações de volume e intensidade, esses ganhos percentuais irão re- duzir, em função do princípio da acomodação. Princípio da Variabilidade Gerenciar as variáveis que envolvem a prescrição da dose de exercício parece ser uma estratégia interessante quando se tem o objetivo de produzir aumentos progressivos de carga e melhora da condição física. O organismo busca sempre se adaptar aos estímulos oferecidos, a fim de sempre gerar um maior equilíbrio e um menor fator estressor ao organismo. Portanto, ao apresentar algum tipo de adaptação ao treinamento, um novo e diferente estímulo deverá ser aplicado para evitar o processo de acomodação (princí- pio já visto aqui). A variação de estímulos caracteriza-se pelo processo frequente e siste- mático de alteração das diferentes variáveis que interferem na dose aplica- da de exercício, seja pelas estratégias de volume, intensidade ou frequência de realização. Baseado nesse, e em outros princípios do treinamento esportivo, Malone et al. (2018) demonstraram o comportamento adaptativo de um atleta ao longo das semanas de treinamento, quando exposto a ações de velocidade máxima (sprints). Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 22 Podemos verificar que ao realizar esse modelo de atividade nas primeiras semanas de treinamento, o risco de incidência de lesão é alto. Porém, com a evolução das semanas de treinamento e sob constante processo de adaptação e com cargas variáveis de treinamento, podemos verificar que após 6 semanas de treinamento, realizar sprints acima de 24 km/h demonstra-se como um fa- tor protetor contra probabilidade de lesão. Portanto, o planejamento e geren- ciamento das cargas de treinamento são excelentes estratégias para melhora da condição física do indivíduo, seja ele atleta ou um simples praticante de atividade física recreativa. Gráfico 8 Relação entre exposições semanais a ação de máxima velocidade (em número de ações) e probabilidade de lesão na semana seguinte. Fonte: Malone et al., 2008. Princípio da Especificidade A especificidade da tarefa motora realizada, ou seja, exercícios específicos para uma modalidade esportiva, leva a modificações anatômicas e fisiológicas, que se relacionam as necessidades do desporto em questão. Esse conceito já foi bastante discutido na literatura. Ozolin em 1971 sugeriu que os meios de treinamento ou as ações motoras especiais utilizadas pelos atletas para obter resultados no treinamento, devem ter duas naturezas: exer- cícios do desporto que o atleta se especializou e exercícios para o desenvolvi- mento das capacidades biomotoras relacionadas ao desporto. Number of weekly Exposures to Maximal Velocity Li ke lih oo d of S ub se qu en t I nj ur y (% ) Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 23 Portanto, parece lógico que devemos aproximar os modelos de treina- mento propostos das modalidades e dos tipos de exercício específicos rela- cionados a elas. Malone et al. (2017) demonstraram o comportamento das variáveis de dis- tância percorrida total e distância percorrida em alta velocidade em atletas de futebol ingleses, em função da proximidade da partida seguinte. Pode-se notar que a 4 dias do evento competitivo (-4) é quando hámaior volume e intensidade de treinamento. Ao se aproximar da partida, esses níveis de exi- gência diminuem para garantir o processo de heterocronismo e garantir que o atleta chegue para ao jogo nas melhores condições possíveis. Essa organização dos modelos de prescrição devem ser pautadas nas ca- racterísticas da modalidade. Os mesmos autores evidenciaram a distribuição de cargas ao longo da semana, baseado na especificidade da modalidade e de acordo com as demandas exigidas pelo jogo. Gráfico 10 Carga de treinamento semanal em relação à exigência do jogo para um jogador real Fonte: elaboração própria Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 24 Portanto, parece razoável que essas adaptações provenientes do exercício sejam fruto da organização sistemática das variáveis que envolvem o treina- mento. Ou seja, conhecer e manipular de forma adequada as variáveis que envolvem a prescrição é um dos pilares para o sucesso do programa de trei- namento. Porém, após este momento agudo da prescrição, é imprescindível conhecer e adequar os diferentes modelos de recuperação pós-exercício para que o seu aluno ou atleta esteja apto a realizar um determinado estímulo na próxima sessão de treinamento. Para isso, veremos a seguir as variáveis que impactam esse processo e quais são as evidências científicas que sustentam os mais diferentes modelos de es- tratégia de recuperação pós-exercício. Desidratação e exercício Durante a prática de atividade física, realizada de maneira estruturada ou não, a perda líquida corporal sem o equilíbrio adequado dos compartimen- tos envolvidos, ou seja, a desidratação, é considerada como um dos principais fatores que interferem negativamente na performance, quadro que pode ser potencializado se houver aumento da temperatura corporal. O aumento da temperatura central reflete, ainda, aumentando 25 (vinte e cinco) vezes a intensidade e a frequência das contrações musculares envolvidas na prática da atividade, comparado ao estado de repouso do indivíduo (Herrera, 2001). Desse total de energia produzida, apenas 25 (vinte e cinco) por cento é transformada em trabalho, os outros 75 (setenta e cinco) por cento, são dissipados em forma de calor. Segundo MAUGHAN, o calor produzido pelo organismo pode ainda ser intensificado por fatores extrínsecos como temperatura ambiente, velocidade do vento e umidade relativa do ar, tendo como principal mecanismo regulador do processo a sudorese (Maughan, 1997). Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 25 Figura 1 Esquema da perda de calor Indicadores do estado de desidratação A sudorese é a resposta fisiológica mais eficaz quando um indivíduo está em atividade, pois o organismo se empenha em atenuar o aumento da temperatura corporal pela secreção da água para pele e consequente evapo- ração. Esta reposta vasodilatadora que favorece a evaporação é decorrente de uma resposta hipotalâmica, região que tem a finalidade de controlar a homeostase térmica (Shirrefs, 2000). Sendo este o meio mais eficaz para dis- sipar o calor produzido, a alteração no peso corporal do indivíduo torna-se um potente indicador do estado de hidratação, além da temperatura corpo- ral, diurese e fatores hormonais. A manifestação da sensação de sede é mais um importante indicador de desidratação. Segundo PHILLIPS & ROLLS a sede é caracterizada por al- terações fisiológicas decorrentes do processo de desidratação e reidratação inadequada. Este mecanismo é disparado principalmente por dois processos: Radiação térmica do céu Evaporação (suor) Convecção do sangue cutâneo Reserva metabólica Músculo em contração Condução Radiação Convecção Evaporação (respiratória) Radiação solar Temperatura do ar Umidade do ar Radiação térmica do solo Radiação solar refletida Velocidade da corrida Convecção do fluxo sanguíneo muscular Trabalho Centro do corpo SOL Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 26 a hipertonicidade celular e a diminuição do volume extracelular, ambos dire- tamente associados com a sudorese excessiva (Phylips et al., 2000). BROAD et al. (2006) afirma que outro importante marcador do estado de desidratação é a diurese. O controle do volume urinário e sua coloração são potentes marcadores do estado hídrico corporal do indivíduo quando apresentados antes, durante e depois do exercício. Em um dia normal os volumes urinários excretados por hora ultrapassam os valores de referên- cia, medidos em situação basal, que variam de 20 (vinte) a 50 (cinquenta) mililitros. Porém, durante a prática de exercício esses valores diminuem, principalmente em função da desidratação e das respostas hormonais ao exercício. Em recentes estudos, essa técnica de coleta de urina tem sido constantemente utilizada por ser considerado um método não invasivo e altamente eficaz. Frequência cardíaca, alterações hormonais e percepção subjetiva de esforço Quando um indivíduo, seja ele atleta ou não, está em atividade, é necessá- ria a ação extremamente eficaz do músculo cardíaco, enviando o aporte sanguí- neo adequado tanto para os músculos exigidos como também para as regiões periféricas, como a pele, por exemplo. Em ambientes com temperaturas mais amenas, o coração não encontra di- ficuldades em enviar o suprimento necessário para tais regiões, mesmo sendo em grande demanda, já que o fluxo adequado está, principalmente, na depen- dência da manutenção do volume sanguíneo (Sawka, 2001). Em ambientes quentes e úmidos, desfavoráveis para o rendimento es- portivo, a manutenção do volume sanguíneo fica bastante dificultada pelo excesso de suor produzido. A sudorese excessiva se dá principalmente pela tentativa do organismo em manter a temperatura corporal em valores ade- quados, levando à hipovolemia. A diminuição do volume sanguíneo ou hipovolemia é atenuada pelas re- postas dos hormônios antidiurético (ADH) e aldosterona, que diminuem a perda hídrica pela urina, reabsorvendo água e eletrólitos pelos túbulos re- nais. Porém, essas respostas hormonais não são suficientes para a manuten- ção do volume sanguíneo, já que a sudorese encontra-se em valores exage- rados. Essa incapacidade de manutenção dos líquidos corporais, acentuada pelo ambiente desfavorável, resulta na diminuição do volume sistólico e faz com que o músculo cardíaco necessite de um número maior de contrações para a manutenção do suprimento adequado de sangue, levando ao aumento significativo da frequência cardíaca (Acthen et al., 2001). Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 27 A combinação de exercício e ambientes desfavoráveis, ou seja, quentes e úmidos, torna o exercício ainda mais estressante para o organismo. As condi- ções ambientais citadas favorecem o aumento da secreção de alguns hormônios responsáveis pela manutenção da função imunológica, como as catecolaminas e o cortisol (Brenner, 2008). Há ainda a ação de outros hormônios, como o hor- mônio antidiurético (ADH) e aldosterona, porém esses exercem outras funções, como reabsorção de líquidos nos túbulos renais. Segundo CHAVES, NYBO & NIELSEN outra importante variável de fá- cil e rápida mensuração influenciada pela hipertermia corporal, é a percepção subjetiva de esforço, ou seja, a medida que há o aumento da temperatura cor- pórea, há também um aumento linear da percepção subjetiva frente ao esforço realizado (Nybo et al., 2001). Desidratação e desempenho O desequilíbrio hídrico corporal (desidratação) leva a diminuição da ca- pacidade de tolerar exercícios prolongados e de alta intensidade. Segundo a American College of Sports Medicine em seu último posicionamento sobre exercí- cio e hidratação, verificou-se um aumento desproporcional da frequência car- díaca associado à incapacidade de dissipar o calor produzido para o ambien- te, em indivíduos que apresentavam perda de 1% do peso corporal total. Já MOUNTAIN et al. (2008) verificou que indivíduos que apresentavam perda líquida corporal próximaa 5 (cinco) por cento do peso corporal total também tinham seus desempenhos diminuídos, principalmente em atividade que re- queriam esforços de alta intensidade. Há também estudos que reportam a diminuição da capacidade aeróbica máxima em situações de 1 (um) a 2 (dois) por cento da perda de líquido corpo- ral em ambientes quentes e úmidos, além do aumento nos níveis de concentra- ção de lactato sanguíneo e redução do tempo de exaustão (NSCA, 2000). Esses efeitos deletérios na performance são também refletidos nos aspec- tos cognitivos e de força voluntária. Segundo HERRERA & ROJAS atletas que exercitam-se em ambientes desfavoráveis e são induzidos ao processo de desidratação, apresentam os valores de velocidade de reação maiores que in- divíduos hidratados. Outros estudos verificaram que nas mesmas condições, ou seja, em ambientes quentes e úmidos, indivíduos desidratados apresenta- ram diminuição na força voluntária não pela incapacidade dos músculos de gerá-la, mas sim pela diminuição da capacidade de realizar o recrutamento adequado das unidades motoras (Nybo et al., 2001). Chmura et al. (2016) realizaram a análise da performance em todos os jogos da Copa do Mundo no Brasil. Foram 905 observações de 340 jogadores Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 28 das diferentes seleções nacionais participantes do torneio e o objetivo prin- cipal do estudo foi verificar a influência da temperatura e umidade relativa do ar no volume e intensidade dos atletas, ou seja, na relação entre distância percorrida e número de sprints. Quando analisamos a variável volume (distância percorrida), sob tem- peraturas amenas (22ºC) e umidade relativa do ar abaixo de 60%, a distância percorrida média nos jogos da copa do mundo 2014 foi de 10.540 metros. Ao manter a temperatura (22ºC) e alterar somente a umidade relativa (acima de 60%), a distância percorrida média reduziu de forma significativa para 9.830 metros. Quando analisamos a intensidade, esse mesmo comportamento se repete. Em temperaturas amenas e umidade relativa abaixo de 60%, o atleta realizou 20,74 e 19,74 sprints no primeiro e segundo tempo, respectivamente. Ao au- mentar a umidade relativa (acima de 60%), esses número reduzem para 16,90 sprints no primeiro tempo e 15,60 em média, no segundo tempo. Gráfico 11 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 29 O que ingerir? Segundo Melo-Marins et al. (2018), ajustes específicos nos modelos de in- gestão de líquidos durante o exercício parecem apresentar resultados interes- santes. Foram avaliados 11 ciclistas que realizaram exercício a 85% da frequên- cia cardíaca máxima em ambiente a 34ºC de temperatura e umidade relativa do ar a 40%, aproximadamente. Na figura abaixo, eles demonstram o comportamento do tempo de exaustão para aqueles atletas que consumiram água a vontade, com a situação controle e com a personalização do volume ingerido, ou seja, adequações individuais a frequência e volume de ingestão. Tabela 1 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 30 Gráfico 12 Ao finalizarmos o exercício, certamente devemos nos preocupar com as estratégias de recuperação com o principal objetivo de reverter essa demanda catabólica imposta pelo exercício. Para isso, temos algumas estratégias interessantes que se destacam na li- teratura em virtude de sua vasta popularidade científica e, especialmente, res- pectiva aplicação prática. São elas: preocupação com a recuperação dos esto- ques de glicogênio, crioterapia, roupas de compressão. Retrospectiva dos estudos relacionados ao comportamento do glicogênio antes, durante e depois do exercício A interpretação do comportamento do glicogênio é de atenção de grandes estudiosos há décadas. Há quase um século atrás, Krogh e Lindhard (1920) re- portaram evidências significativas da eficiência do carboidrato como fonte de combustível durante o exercício e demonstrou que a fadiga poderia ocorrer de forma precoce, caso o consumo desse macronutriente fosse baixo nos dias que precediam o exercício. Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 31 Já em 1960, com a introdução da biópsia muscular como técnica acessível aos laboratórios, esses mesmos pesquisadores demonstraram que o exercício é um importante consumidor de glicogênio e que altos consumos de diferen- tes tipos de carboidrato auxiliam na manutenção ou supercompensação dos estoque de glicogênio e que isso, pode ainda impactar de forma positiva no desempenho do exercício (Bergstrom et al., 1960, Bergstrom e Hultman, 1966, Hermansen et al., 1967) Nas décadas de 80 e 90, fortes evidências solidificaram o consumo de car- boidrato como estratégia eficaz na capacidade de manutenção da duração e intensidade do exercício. Atualmente, sabe-se que o glicogênio, em especial, é muito mais importante do que um simples estoque, pois atua como regulador (Coyle et al., 1986, Tsinztas et al., 1995 e Bosch et al., 1994). Atualmente, sabe-se que o glicogênio é muito mais importante do que um simples estoque de grandes quantidades de glicose. Barlett et al.( 2015) demonstram com clareza que o glicogênio atua como importante regula- dor de sensibilidade à insulina, processos contráteis, degradação protéica, entre outros. Gráfico 13 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 32 Ressíntese do glicogênio A restauração dos estoques de glicogênio é um fator determinante para a melhora ou a manutenção do volume e intensidade a serem prescritos na próxima sessão. Este processo inicia-se imediatamente após o exercício e apresenta maior eficiência nas primeiras 5 – 6 horas pós-exercício e é dividi- do duas fases: inicialmente, nos primeiros 30 a 60 minutos pós-encerramen- to da atividade, há um rápido aumento na velocidade de ressíntese de gli- cogênio e isso ocorre independente da concentração de insulina, sendo este hormônio fundamental para criação de um ambiente anabólico favorável, porém ainda está inibida pela ação da somatostatina (Hearris et al., 2018). A segunda fase e mais importante está associada ao aumento das concen- trações de glicose e insulina para acelerar a taxa de ressíntese de glicogênio muscular. Veremos a seguir algumas estratégias importantes relacionadas a ressíntese de glicogênio muscular. Quantidade de carboidrato ingerida Ao terminar o exercício, é importante reverter o quadro catabólico imposto pela atividade o mais rápido possível, passando assim a criação de um am- biente anabólico favorável a recuperação dos estoques consumidos anterior- mente. Para isso, a ingestão de 1.2 g.kg.h-1 durante o período de recuperação resulta em um aumento de 150% na síntese de glicogênio (de 17 para 45 mmol. kg.h-1) quando comparado ao consumo menor de carboidrato (0.8 g.kg.h-1) (Alghannan et al., 2018). O grau de depleção dos estoques de glicogênio (entre 25 e 255 mmol.kg- -1.h) parecem ser um importante sinalizador para determinar a velocidade da taxa de ressíntese (Tsintzas et al., 2003). Tipo de Carboidrato ingerido Ao consumir qualquer alimento durante o exercício, nos deparamos com dois fatores que interferem diretamente na qualidade e quantidade de nutrien- tes absorvidos durante a atividade. São eles: velocidade de esvaziamento gás- trico e absorção intestinal, assim dependendo do volume e dos tipos de macro- nutrientes envolvidos, esta estratégia será mais ou menos bem sucedida. Outro importante fator determinante na taxa de ressíntese de glicogênio muscular é a mediação da captação da glicose em função da atividade da insu- lina. A elevação da insulinemia em função do consumo de carboidratos de alto índice glicêmico implicam em maior velocidade de reposição de glicogênio, especialmente em intervalos curtos de tempo (< 6 horas). Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 33 A frutose altera de forma modesta o comportamento da insulina, quan- do comparado com glicose e sacarose, por exemplo. Como consequência,essa ingestão não estimula a ressíntese de glicogênio muscular com a mes- ma magnitude dos outros tipos de carboidratos acima citados. A combina- ção de glicose, glicose + frutose ou glicose + sacarose dentro dos valores preestabelecidos na recomendação de ingestão (a partir de 1.2 g.kg.h-1) parecem ter efeitos similares na taxa de ressíntese (Trommlen et al., 2016, Alghannam et al., 2018). Momento da ingestão de carboidrato A taxa de ressíntese de glicogênio muscular é aumentada de forma signifi- cativa, quando este ambiente anabólico é criado de forma rápida (nas primeiras 4 horas pós-exercício), gerando a absorção de, aproximadamente, 25 mmols. kg.h de glicogênio. Caso esse tempo ultrapasse mais 2 horas, essa taxa reduz para 14 mmols.kg.h-1, aproximadamente (Levenhagen, 2001). Quando o glicogênio é ingerido em intervalos frequentes de 15 a 30 mi- nutos, a taxa de ressíntese aumenta em 40%, quando comparado a oferta desse macronutriente a cada duas horas. Ou seja, parece que a oferta cons- tante de carboidratos pode ser um fator determinante na qualidade da res- síntese de glicogênio muscular (Jentjens et al., 2001; Van Loon et al., 2000; Wallis et al., 2008). Consumo de proteína e carboidrato Apesar de ser bastante fundamentado pela Literatura que o consumo iso- lado de carboidrato parece ser uma boa estratégia de ressíntese de glicogênio muscular (em função do comportamento da insulina), a combinação desse ma- cronutriente com a proteína parece ser também uma alternativa interessante e também eficiente. A ingestão de aminoácidos, especialmente a Leucina, parece exercer um papel interesse de insulinemia também. Além disso, é um componente chave para o estímulo da síntese protéica (entre 0.25 a 0.4 g.kg), em função da sua rápida velocidade de absorção (Heaton, 2017). A adição de 0.2 a 0.4 g.kg.h-1 está diretamente associada a uma maior resposta da insulina. O consumo de suplemento protéico (como whey protein) hidrolisado combinado com carboidrato apresenta ótima resposta a esse qua- dro, quando a ingestão de carboidratos for inferior a 0.8g.kg.h-1(Alghannan et al., 2018). Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 34 Gráfico 14 Taxa de ressíntese de glicogênio muscular em 18 diferentes investigações que mensuraram esse efeito durante intervalos curtos de recuperação (entre 2 e 6 horas). A adição da proteína ao carboidrato pode aceleram a taxa de ressíntese de glicogênio muscular e tornar-se uma ótima estratégia de recuperação pós- -exercício. Por exemplo, Betts et al., 2007 demonstraram que a adição de 0.3 g.kg.h-1 de proteína a um suplemento de carboidrato (0.8 g.kg.h-1) apresentou melhor eficiência na recuperação dos estoques de glicogênio, quando compa- rado a uma bebida a base de carboidrato de forma isolada. Porém, quando a quantidade de carboidrato isolado ingerida foi adequada à recomendação de ingestão, não houve diferença entre elas. A adição de 0.2 a 0.4 g.kg.h-1 de proteína ao carboidrato (3-4 CHO:1 PRO) parece ser uma estratégia interessante e eficiente na recuperação dos estoques de glicogênio. O consumo de aminoácidos pós-exercício, estimula de forma significativa o comportamento da síntese protéica (Kersick et al., 2008). Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 35 Gráfico 15 Taxa de ressíntese de glicogênio muscular em 18 diferentes investigações que mensuraram esse efeito durante intervalos curtos de recuperação (entre 2 e 6 horas) adicionando diferentes quantidades de proteína ao carboidrato em humanos. Consumo de álcool e recuperação dos estoques de glicogênio O consumo de grandes quantidades de álcool (1.5 g/kg, aproximadamen- te 12 doses) leva a uma instabilidade do quadro anabólico criado pela in- gestão combinada de diferentes tipos de carboidrato e proteína. O volume mencionado leva a inativação da via mTOR1, levando a consequente inibição da síntese protéica (Heaton, 2017; Parr et al., 2014; Duplanty et al., 2017, Hong Brown et al., 2012). Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 36 Imersão em água fria (Crioterapia) A imersão em água fria, popularmente conhecida como Crioterapia, é uma das estratégias mais comuns e populares no ambiente esportivo. Com objetivos variados, que vão desde a redução da temperatura corporal até a interpretação do impacto cardiovascular e consequente produção de força, essa estratégia se popularizou em função do baixo custo e limitados efeitos colaterais. O uso da redução da temperatura corporal com imersão em água fria para tratamento de lesões musculares é conhecido desde relatos da Grécia antiga, quando Hipócrates (470 a 370 AC) utilizada essa estratégia. Já Pursey (1908), utilizava a Crioterapia como estratégia para lesões na pele. O efeitos relacionados a aplicação de dessa estratégia impactam direta- mente o sistema nervoso central, sistema cardiovascular, temperatura cor- poral, remoção de metabólitos em âmbito muscular e a sensação de dor muscular. Gráfico 16 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 37 Impacto no Sistema Nervoso Central Fadiga do sistema nervoso central refere-se a diminuição da produção de força e redução da ativação voluntária, variáveis que são diretamente impacta- das pela hipertermia corporal. Enquanto um número grande de estudos demonstram que os efeitos da imersão em água fria reduzem a temperatura corporal pós-exercício e conse- quente aumento da performance na sessão subsequente, evidências envolven- do o impacto no sistema nervoso central foram demonstradas recentemente. Pointon et al. (2011) observou aumentos imediatos na contração voluntária má- xima e ativação voluntária após imersão em água fria (9 min a 9ºC, aproxima- damente), após 60 min de exercício intermitente em ambientes quentes. Minnet et al. (2014) encontraram resultados similares 1 hora após imersão em água fria. A alteração de neurotransmissores cerebrais, chamados de sistemas dopami- nérgicos e serotonérgicos, em função da imersão em água fria parecem explicar a atenuação da fadiga do sistema nervoso central e os resultados acima citados. Esses neurotransmissores (serotonina e dopamina) influenciam o estado de hu- mor, sono, emoções, estado de alerta e a percepção subjetiva de esforço, esta úl- tima facilmente mensurável para controle da carga de treinamento e percepção do estado de recuperação para a próxima sessão de treinamento ou competição. Figura 2 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 38 Impacto no Sistema Cardiovascular A exigência do sistema cardiovascular em ambientes quentes e úmidos au- mentam de forma desproporcional, já que o fluxo sanguíneo é redirecionado dos músculos exigidos na atividade para circulação cutânea, a fim de dissipar o calor produzido com maior eficiência. Esta migração do fluxo sanguíneo para a periferia leva a redução do fluxo central, causando um declínio de fluxo sanguíneo para o sistema muscular e consequente prejuízo na oferta de O2. A imersão em água fria leva a uma rápida vasoconstrição, redirecionando o fluxo sanguíneo de volta a cir- culação central. Hayashi et al. (2004) demonstrou a redução da frequência cardíaca em exercício submáximo após imersão em água fria por 5 min, somente. Outros tantos pesquisadores (Ihsan et al., 2016; Zhang et al., 2015; Broatch et al., 2014) refor- çam essa mesma hipótese, ou seja, que a imersão em água fria auxilia no processo de dissipação calor, levando a um menor estresse cardiovascular pós-intervenção. Impacto na remoção de metabólitos no sistema músculo– esquelético Exercícios de alta intensidade ou grande volume levam a formação e acúmu- lo de metabólitos (lactato, por exemplo), sendo isso um grande facilitador para o desenvolvimento da fadiga. A imersão em água fria parece impactar de forma positiva nessa relação (agache et al., 2004; Pointon et al., 2012; Vai Le et al., 2008) Figura 3 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento39 A remoção de lactato do músculo (circulação periférica) para a circulação central é facilitada pela combinação da pressão hidrostática da água e conse- quente vasoconstrição cutânea e periférica em função da redução da tempe- ratura. A hemodiluição refere-se a transição de fluídos do espaço intersticial para o intravascular. Ao deixar o ambiente intersticial, resulta em um aumen- to de fluídos em ambiente extracelular levando a uma diferença de gradiente osmótico e ao se expor em imersão em água fria, a vasoconstrição se torna um agente facilitador de remoção dos metabólitos originados em função da prática de exercício. Há outros estudos que não apresentam qualquer relação entre imersão em águia fria e alteração do PH e remoção de lactato . Parouty et al. (2010) não en- controu alteração significativa no acúmulo da concentração de lactato durante treinamentos de 100 m de natação, quando expôs os atletas ao protocolo de imersão em água fria entre as séries (5 min a 14-15ºC). Figura 4 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 40 Impacto na sensação de dor muscular O impacto da Crioterapia no sistema músculo-esquelético é bastante co- nhecido, especialmente quando tratamos de sua relação com a dor muscular tardia induzida pelo exercício. A imersão em água fria é sugerida como estratégia de recuperação pós- -exercício em função da redistribuição do fluxo sanguíneo, resfriamento e pres- são hidrostática e com isso, sugere redução do edema causado pelo exercício, mediada pelo processo de vasoconstrição. Como já mencionado anteriormente, os efeitos da vasoconstrição e pressão hidrostática aumentam a volemia na região central do corpo e com isso, há movimentação de fluídos do meio extra para o intravascular, levando assim a alterações de gradiente osmóticos importantes e a movimentações de células necrosadas da região periférica para região central. Tabela 2 Efeitos da imersão em água fria Os mais recentes achados mostram grande variabilidade no modo, duração, frequência e temperatura da água para aplicação. Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 41 Tabela 3 Características de estudos incluídos (A) e excluídos (B) Para maximizar o efeito terapêutico da Crioterapia, a redução da tempera- tura tecidual deve ser de 10º a 15ºC para promover analgesia e máxima redução da atividade metabólica. Em ações imediatamente após o exercício Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 42 Tabela 4 Recuperação ativa A recuperação ativa, também conhecida como “cool down” ou volta a calma, é uma modalidade de recuperação pós-exercício muito comum nos ambientes esportivo e fitness. No campeonato Francês de futebol, por exemplo, 81% das equipes de futebol profissional utilizam a recuperação ativa como estratégia de recuperação após as partidas e nos dias subsequentes. Esta estratégia envolve, geralmente, atividades aeróbicas de baixa inten- sidade (30 a 60% do VO2 máx), com volume entre 15 e 30 min, e é geralmente utilizada sob a justificativa de ser um importante mecanismo facilitador para remoção dos metabólitos gerados pelo exercício e regulador do Ph sanguíneo. Vale lembrar que a mensuração de lactato pós-exercício e, especialmente nos dias subsequentes, não mensura de forma qualitativa a recuperação, já que o consumo de oxigênio aumentado após atividade regula esta demanda de for- ma clara e objetiva. Andersson et al. (2010), investigaram os efeitos de 1 hora como estra- tégia de recuperação passiva, a 60% da frequência cardíaca pico em bici- cleta associado a um treinamento de força de baixa intensidade (50% de 1 RM) em atleta de futebol feminino. Foram realizados testes neuromotores Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 43 (counter movement jump, teste de velocidade de 20 metros e teste de força isocinética para extensores e flexores de joelho). Após 22 e 46 horas de recu- peração, a recuperação ativa não apresentou diferença significativa, quando comparada a recuperação passiva. Além disso, não apresentou diferença significativa para os marcadores subjetivos de dor muscular e, bioquímicos (creatina quinase, ureia e ácido úrico). Em um estudo recente, Yamagishi e Brabaj (2019) verificaram o efeito da recuperação ativa em ciclo ergômetro a 40% do VO2 máx após sprints em má- xima intensidade e encontraram que esta estratégia pode apresentar resultados interessantes, quando comparado a recuperação passiva. Gráfico 16 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 44 Portanto, parece que a recuperação ativa como estratégia de recuperação não apresenta parâmetros confiáveis de sua eficácia. Diferentes modalidades de aplicação, tempo e intensidade dos protocolos dificultam um melhor en- tendimento e formatos de aplicação dessa estratégia (Yamagishi e Brabaj, 2019; Andersson et al. 2010; Andersson et al., 2008; Andersson et al., 2010). Alongamento A prática de alongamento é utilizada sob a justificativa da importância do aumento da amplitude de movimento, redução da rigidez músculo-ten- díneo e prevenção de lesões. Na Premier League, um dos campeonatos de fu- tebol mais competitivos do mundo, por exemplo, e nas principais equipes do Campeonato Francês de futebol, o alongamento estático é a técnica mais popular utilizada, entre os diferentes tipos de alongamento, variando entre 2 e 5 séries de até 31 segundos de duração. Figura 5 Representação de corte seccional do músculo Em uma meta-análise com 12 artigos sobre o tema, Herbert et al. (2011) atestam que o alongamento não apresenta efetividade como estratégia de recuperação, especialmente quando nos referimos a sensação de dor mus- cular. Nesse mesmo estudo, evidencia ainda que ao combinar exercício ex- cêntrico e alongamento, pode-se reduzir a produção de força concêntrica e Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 45 excêntrica, quando comparado com exercício excêntrico isolado. Ou seja, apesar de ser amplamente utilizado em diferentes situações e nas mais di- ferentes modalidades esportivas, parece que o alongamento não apresenta melhora qualitativa do estágio de recuperação do atleta em questão. Tabela 5 Roupas de compressão Roupas de compressão são utilizadas como estratégia de recuperação pós- -exercício em função da aplicação de pressão nas extremidades inferiores do corpo com o intuito de melhorar a eficiência do retorno venoso (Siegel, 1975). Nos últimos anos, essa estratégia se popularizou entre os atletas de alto rendimento, especialmente aqueles envolvidos em atividades coletivas. Porém, ao associarmos o uso deste tipo de vestimenta a mecanismos de controle de performance, como potência, força muscular, capacidade de sustentar sprin- ts repetidos, não há evidências científicas que associam o uso de roupas de Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 46 compressão a melhora qualitativa do processo de recuperação (Duffield et al., 2007; Duffield et al., 2008; Davies et al., 2009; Duffield et al., 2010). Figura 6 Ao compararmos o efeito desta estratégia com as demais citadas neste livro (recuperação ativa, massagem e imersão em água fria), não há evidências cien- tíficas suficientes que sugiram o uso desse instrumento, apesar de não apresen- tar nenhum efeito negativo ao seu uso (Jakeman et al., 2010; Gill et al., 2006 e French et al., 2008). Gráfico 17 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 47 Gráfico 18 Estimulação elétrica A eletroestimulação é outro tipo de estratégia de utilização com o intui- to de melhorar qualitativamente o processo de recuperação. Na França, 13% das equipes que disputam o campeonato nacional utilizam essa estratégia para esse fim. Envolve a transmissão de impulsos elétricos sob diferentes frequên- cias para estimular os motoneurônios, gerando assim contrações musculares. A frequência, intensidade e tipo de corrente elétrica utilizada interferem naaplicação da estimulação elétrica, sendo a estimulação de baixa frequência a mais utilizada com o caráter de recuperação pós-exercício. Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 48 Babault et al. (2011) verificaram os benefícios relacionado a eletroesti- mulação e sua respectiva correlação com a melhora dos parâmetros físicos pós-exercício e não encontrou relação significativa entre o uso de baixas fre- quências de estimulação e melhora do quadro de recuperação. Somente 1 es- tudo dos 12 analisados, verificou melhora de alguns parâmetros bioquími- cos, como creatina quinase e lactato (Tessitore et al., 2008; Cortis et al., 2010, Butterfield et al., 1997; Vanderthommen et al., 2007; Hevman et al., 2009). Portanto, parece não haver evidências científicas suficientes que justifi- quem o uso de eletroestimulação em baixas frequências como estratégia efi- ciente para recuperação após os jogos e treinamentos. Sono A qualidade e quantidade do sono são fatores fundamentais para o sucesso do processo de recuperação. Boas noites de sono impactam de forma positiva e significativa na fase anabólica e de recuperação. • Estágio 1 e 2 (sono leve): esses são os estágios iniciais para o sono. Du- rante eles, o atleta inicia o processo de sonolência, passando do estágio de consciência para uma leve dormência. Neste momento, os múscu- los começam um processo de relaxamento e inicia-se o processo de redução da frequência cardíaca e pressão arterial. Como é um estágio de sonolência inicial, é comum ocorrer breves despertares. • Estágio 3 e 4 (sono profundo): nessa fase, há a redução da frequência respiratória e continuação da redução linear da frequência cardíaca e pressão arterial. São nessas fases que há aumento da secreção de hor- mônios anabólicos, com objetivo principal de recuperação tecidual. Para aqueles atletas que despertam muito ao longo da noite, ou seja, tem dificuldade em permanecer nas fases 3 e 4, possivelmente irão apresentar sensação de cansaço e irritação ao longo dos dias. Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 49 Gráfico 19 Para aqueles que acordam várias vezes ao longo da noite de sono, esse com- portamento impacta de forma negativa na performance do atleta. A privação do sono ou suas constantes interrupções promovem alterações importantes na recuperação dos estoques de energia, bem como na recuperação muscular e sistema imune. Skein et al. (2011) mostraram que 30 horas de privação de sono impactam de forma negativa na recuperação dos estoques de glicogênio muscular quando comparado a uma noite de sono padrão. Essa redução se dá, provavelmente, pela adaptação do organismo em despender mais energia para manter as funções nessas condições adversas. Um detalhe importante é que isso ocorre (redução dos estoques de glicogênio) mesmo que a dieta seja devidamente equilibrada ao atleta. Além disso, a redução das horas de sono leva ao aumento da concentração de cortisol e reduz a atividade do hormônio do crescimento, representando aumento do estado catabólico já influenciado pela dose de exercício prescrita. Esse cenário pode levar ainda a redução da síntese protéica. Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 50 Tabela 6 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 51 Quadro 3 Massagem Massagem corresponde a manipulação mecânica do tecido corporal com pressão e ritmo, com o objetivo de promover saúde e bem-estar (Goats et al., 1994). Esse tipo de estratégia de recuperação é muito comum, especialmente no futebol profissional. Os benefícios esperados incluem aspectos fisiológicos e biológicos. Mori et al. (2004) realizaram análise via ultrassom e Doppler da massagem manual e não encontraram alterações significativas no fluxo sanguíneo em diferentes agru- pamentos musculares. Além disso, não foi evidenciado melhora na remoção de lactato, íons de H+ e neutrófilos. Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 52 Com relação aos benefícios psicológicos, a literatura não demonstra fortes evidências que a prática da massagem promove alterações positivas e signi- ficativas, porém há alguns estudos interessantes relacionados a sensação de dor muscular. Weinberg et al. (ano) observou relação positiva entre a técnica e estado de humor. Outros dois estudos (Fart et al., 2002; Zainudinn et al., 2005) mostram diminuição da sensação de dor muscular pós-exercício quando a massagem é realizada 1 hora após a atividade. Na mesma linha, Hilbert et al. (2003) demonstraram que a sensação de dor muscular foi significativamente menor para aqueles atletas que realizaram a prática da massagem, quando comparado com o grupo controle, 40 horas pós-exercício. Gráfico 20 Em conclusão, apesar de ser uma técnica amplamente utilizada (78% dos clubes franceses de futebol utilizam tal estratégia), a maioria das evidências sugere que a massagem pode ser uma estratégia interessante quando nos re- ferimos a sensação subjetiva de percepção de dor muscular em função do exercício, apesar dos efeitos fisiológicos serem pouco claros e sustentáveis na literatura. Talvez, essa inconsistência encontrada na literatura seja pela Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 53 dificuldade de padronização dos trabalhos científicos frente as diferentes técnicas de massagem existente no mercado. Sugerimos que futuros estudos bem controlados (tipo de técnica envolvida, duração e período de aplicação) possam trazer mais informações e elucidar o papel real da massagem como estratégia de recuperação. Gráfico 21 O monitoramento das cargas no treinamento Ao prescrever exercícios ou montar uma periodização para atletas amado- res ou profissionais, as avaliações são essenciais para nortear mudanças nesse programa, sejam elas na intensidade, no volume, no intervalo, na densidade ou nos métodos utilizados. Essas avaliações podem ser dividas em: • diagnóstica ‒ avaliação feita no início do programa de treinamento,- determina uma análise dos pontos fortes e fracos do indivíduo e ajuda o profissional a calcular as necessidades dos indivíduos e elaborar um planejamento de atividades adequados para ele, tendo como base essas necessidades, visando facilitar o processo de assimilação da tarefa pro- posta (Charro, 2010); Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 54 • formativa ‒ avaliação feita durante o programa de exercícios, informa sobre o progresso dos indivíduos, no decorrer do processo de treina- mento, dando informações tanto para os indivíduos quanto para os profissionais. Este tipo de avaliação é realizada quase que diariamente, quando o desempenho do atleta é obtido, avaliado e em seguida é feita uma readequação da atividade (Charro, 2010); • somativa ‒ avaliação realizada ao final do período de treinamento ou um pouco antes do dia da competição, pode ser definida como a soma de todas as avaliações realizadas, com o objetivo de obter um quadro geral da evolução do indivíduo (Charro, 2010). Esses três tipos de avaliações fazem parte do processo de treinamento, que por sua vez, é uma atividade sistemática que visa proporcionar alterações morfológicas, metabólicas e funcionais que possibilitem o consequente incre- mento dos resultados competitivos (Nakamura, 2010). Por ser um processo tão complexo e sistemático é de real importância que esse processo seja controla- do, por métricas e dados sensíveis a diagnosticar, prever, evitar os fenômenos associados a ele. Portanto, é imperativo que toda a periodização possua em sua construção períodos de avaliações, que podem estar contidos dentro dos microciclos ou mesociclos de treinamento (Bompa, 2013). Porém, correremos um risco muito alto se nos ativermos somente a es- ses períodos de avaliações e é em virtude de todo esse contexto que o moni- toramento e controle do treinamento vem se popularizando e as evidências sobre o assunto aumentando a cada ano. O monitoramentodo treinamento pode ser entendido como a quantificação do nível de estresse, tanto de ordem fisiológica como psicológica, induzido pelo treinamento, identificado por instrumentos objetivos e subjetivos (Mc.Guigan, 2017). O monitoramento do treinamento, além de essencial e moderno, pode trazer ao treinador algumas vantagens essenciais: 1. minimiza os erros – por meio de critérios e métricas, sejam elas objeti- vas ou subjetivas, baseadas em evidências científicas podemos diminuir a chance de erros na prescrição do treinamento; 2. diferencial de trabalho – embora o processo de monitoramento do trei- namento venha crescendo ao longos dos anos, não são todos os profis- sionais, principalmente no Brasil, que conhecem e dominam com clare- za essas ferramentas, portanto, o profissional que dominá-las, terá um infinito de possibilidades no seu dia a dia da prescrição do treinamento, além de aumentar a chance de obtenção dos resultados com seus atletas; Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 55 3. periodização moderna – existem diversos modelos de periodização hoje disponíveis para que o treinador possa escolher o mais adequado, baseado em diversos fatores: nível de experiência do atleta, especiali- dade do atleta, tempo de trabalho, estrutura, entre outros. A Literatura Científica possui, desde modelos lineares, ondulatórios, polarizados até modelos mais complexos formados por blocos de força a fim de buscar a melhora do desempenho do atleta, porém, a melhor ferramenta para se alcançar o objetivo final do desempenho atlético é individualizar a periodização. Por meio do monitoramento conseguimos direcionar de forma individual as cargas e os períodos de descanso dos atletas, au- mentando as chances do bom desempenho do atleta (Bompa, 2013); 4. carga interna – com ferramentas de monitoramento pode-se coletar os dados da carga interna de treinamento, uma variável importante por meio da qual se denota outras variáveis que auxiliam a guiar melhor o treino do atleta. Sem um bom processo de monitoramento, baseado nessas avaliações for- mativas, corremos o risco de aumentar a chance de erro na prescrição de exer- cício e de não alcançar os objetivos dos nossos atletas dentro de um programa de treinamento. Sendo assim, o processo de monitoramento e controle do treinamento, seja do atleta ou do praticante de exercícios físicos tornou-se uma ferramenta essencial para a prescrição do treinamento com a vantagem de integrar toda a preparação do indivíduo. A importância desse processo é tão grande e com o aumento do número de pesquisas nessa área, muitas novas tecnologias desenvolvidas por em- presas começaram a visar o mercado de monitoramento de atletas, por aplicativos e programas de computador, sendo assim, o treinador ou professor que não se ha- bituar as ferramentas de controle e monitoramento de cargas e não acompanhar o ritmo da tecnologia que envolve o mundo esportivo, correrá o risco de diminuir sua chance de sucesso profissional, além de se tornar um profissional obsoleto que continuará trabalhando de forma empírica, ou seja, simplesmente repetindo as prescrições de treinamento bem sucedidas feitas por colegas anteriormente. A ciência do monitoramento e controle, principalmente da carga externa nas últimas décadas, vem coletando uma grande quantidade de informações sobre os atletas. Por exemplo, o monitoramento usando tecnologias como sistemas de posicionamento global (GPS) é agora amplamente difundido no esporte de elite, principalmente nos esportes coletivos (Buchheit, 2017). Na natação, o monitoramento das velocidades nadadas abaixo ou acima dos limia- res, pelo controle da intensidade e de parâmetros bioquímicos, como o lactato, Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 56 frequência cardíaca também são extremamente utilizados (Jean-St-Michel, 2011). Como resultado, profissionais precisam, pelo menos, de uma compreen- são básica dessas tecnologias e processos. As pesquisas sobre esse assunto vêm ganhando tamanha importância que os estudos associados as lesões ao proces- so de monitoramento também vêm aumentando (Gabbett, 2018). Podemos observar esse crescimento no Gráfico 22, mas essa análise deve ser feita com cautela para evitar reunir e analisar dados infundados e sim reali- zar um procedimento em que todas as informações sejam úteis para a melhora do desempenho. A preocupação de monitorar o treino não é novo, há muitos anos interesse em quantificar a carga de treinamento vem sendo registrado, por exemplo: O treinador de natação James “Doc” Counsilman (1920-2004) era conhecido por manter registros detalhados dos treinos e competições de seus atletas e por ajustar seus programas de treinamento com base nessas informações (Maglisho, 2010). Ainda na natação, diversos técnicos de seleção brasileira anotavam seus treinamentos em uma agenda ou caderno para depois realizarem suas análises, dois técnicos brasileiros que possuem suas agendas até hoje com todas as suas anotações, inclusive de atletas recordistas mundiais, são os Professores Alberto Bernardo Klar e William Urizzi de Lima. No início desse capítulo, discutiu-se brevemente sobre os tipos de avalia- ção, para que possamos associar o processo de monitoramento e controle como parte do processo de avaliação formativa da periodização do treinamento. Todo esse cuidado pode fornecer informações valiosas sobre a resposta dos atletas ao estresse a que são submetidos no dia a dia de treinamento e dados da fase específica que ele se encontra na periodização. Vale lembrar que esse processo é contínuo e constante, ou seja, se o espaço entre esses períodos de avaliação for muito longo (maior que 6 semanas), o treinador pode perder informações cruciais sobre as respostas psicofisiológicas do atleta (Bourdon, et al.., 2017). Segundo Mc.Guigan (2017), essa rotina é im- portante por fornecer informações como: • dados objetivos sobre os efeitos do programa de treinamento; • avalia o impacto de um tipo específico de intervenção; • ajuda o treinador a tomar decisões sobre mudanças no programa de treinamento; • identifica as forças e fraquezas do atleta. É importante enfatizar que o período de monitoramento e de avaliações dependerá de diversas informações, uma delas é quais capacidades físicas Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento 57 estamos monitorando, por exemplo, capacidades físicas como força e potência, podem mudar rapidamente, principalmente em atletas iniciantes (Hubal, 2005). Para demonstrar essa informação um estudo clássico (Hubal et al.) mostrou que ganhos de força em 1 repetição máxima (1RM) podem mudar até 250% após 12 semanas de treinamento resistido, ou seja, um treinador que deseja prescrever o treinamento resistido baseado no teste de 1RM, precisará monitorar regular- mente e constantemente os níveis de força adquirido dos atletas. Em suma, o monitoramento regular do treinamento fornece aos treinado- res informações detalhadas para prescrever e organizar melhor seus programas. Obviamente que não garante o sucesso, mas, certamente pode contribuir para minimizar os erros da prescrição. Os dados coletados do monitoramento também podem ajudar a realizar relatórios de análises sobre todo o processo para forne- cer um feedback mais preciso para o atleta, além disso, com esse procedimentos pode-se ter dados suficientes que visem rever os erros e acertos da periodização para um possível ajuste na próxima, sem falar no alto poder de curiosidade que irá despertar, pois caso o programa de treinamento falhe é possível pesquisar, estudar novos conceitos baseados na observação dos diversos comportamentos mostrados pelo atleta e buscar o aprimoramento profissional dia após dia. Gráfico 22 Ano de publicação Figura 1: Adaptado de Tim J. Gabett, 2018 160 140 120 100 80 60 40 20 0 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 Estratégias de recuperação e controle de carga de treinamento
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