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Artigo12 - Parceria Publico-Privada - Fundamentos e Responsabilidades

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PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA – FUNDAMENTOS E RESPONSABILIDADES 
David Maurício Escobar Gomez1 
 
 
 
RESUMO 
O presente estudo tem por escopo uma análise da sustentação do instituto das 
parcerias público-privadas no sistema jurídico brasileiro, que e a fonte primária do 
conceito de PPP e determinante das principais características das três modalidades 
de concessão praticadas em nosso país: concessão patrocinada, concessão 
administrativa e concessão comum. Deste mesmo sistema legal surgem os 
contornos do objeto, limites e vedações, bem como examinadas cada uma das 
modalidades de extinção dos comumente chamados “contratos de concessão”, 
cuidando de efeitos da extinção das PPPs brasileiras. Também se faz uma reflexão 
sobre a limitação dos recursos públicos necessários para a implantação dos projetos 
de infraestrutura em áreas como transportes, saneamento e saúde e a falta de uma 
cultura de confiança entre os entes governamentais e a iniciativa privada, da qual 
dependem para uma repartição de riscos entre as partes que torne os projetos PPP 
viáveis, justas e atrativas, aumentando a possibilidade de sucesso das parcerias, 
 
PALAVRAS-CHAVE 
 
Parceria público-privada, licitação, contrato administrativo, concessão de serviço 
público, administração pública, risco, extinção. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Os problemas orçamentários que o Governo Brasileiro enfrenta atualmente, 
onde as despesas de custeio e o alto custo dos programas sociais, bem como o 
aumento exponencial das despesas com a Previdência, deixam pouquíssimo espaço 
 
1
 David Maurício Escobar Gomez – Advogado, com vasta atuação internacional, nas áreas de propriedade 
intelectual, direito societário e fusões e aquisições. Pós-graduado em Gestão de Negócios Internacionais. 
para os investimentos urgentes e indispensáveis em infraestrutura. Sem estes 
investimentos, o país em muito curto prazo será paralisado pela falta de energia 
elétrica, rodovias completamente deterioradas e portos e aeroportos sem condições 
de atender minimamente as necessidades dos próximos anos. 
Se a estagnação econômica segura um pouco desta demanda, qualquer 
tentativa de crescimento, para ser sustentável, terá de ser calcada em uma soma de 
recursos que torne capaz a realização das obras e serviços que necessitamos para 
possibilitar o nosso desenvolvimento futuro. 
Em ambiente de demandas sociais crescentes e competitividade global os 
governos procuram novos meios de financiar projetos, construir infraestrutura e 
disponibilizar serviços de interesse social. As parcerias público-privadas (PPPs) 
tornam-se instrumento moderno no esforço de unir forças dos dois setores. 
A definição legal do instituto da parceria público-privada consta no art. 2º da Lei 
Federal n. 11.079/2004: "é o contrato administrativo de concessão na modalidade 
patrocinada ou administrativa". No mesmo dispositivo ainda constam os conceitos de 
concessões patrocinadas e administrativas. 
O eminente jurista Marçal Justen Filho assim conceitua a PPP: 
“Parceria público-privada é um contrato organizacional, de longo 
prazo de duração, por meio do qual se atribui a um sujeito privado o 
dever de executar obra pública e (ou) prestar serviço público, com 
ou sem direito à remuneração, por meio da exploração da 
infraestrutura, mas mediante uma garantia especial e reforçada 
prestada pelo Poder Público, utilizável para a obtenção de recursos 
no mercado financeiro”.2 
Podemos definir também as parcerias público-privadas como contratos que 
estabelecem vínculo obrigacional entre a Administração Pública e a iniciativa privada 
visando à implementação ou gestão, total ou parcial, de obras, serviços ou 
atividades de interesse público, em que o parceiro privado assume a 
responsabilidade pelo financiamento, investimento e exploração do serviço, 
observando, além dos princípios administrativos gerais, os princípios específicos 
desse tipo de parceria. 
 
2
 JUSTEN Filho, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 549 
Estudos internacionais comprovam que a carência de infraestrutura limita o 
crescimento econômico e a competitividade global dos países. Comprovam também 
que investimentos em infraestrutura oferecem elevadas taxas de retorno que são 
distribuídas de modo positivo na sociedade: a evidência é que os mais pobres têm 
crescimento da renda e bem estar em taxas mais elevadas que os mais ricos 
quando há oferta de infraestrutura acessível à toda a população. 
A experiência brasileira com PPPs, apesar de relativamente recente, apresenta 
um grande dinamismo quanto a novos projetos e desafiadora em relação aos 
projetos já contratados. 
Há atualmente no Brasil mais de 60 contratos de parceria público-privada 
(PPP), prioritariamente em âmbito estadual e municipal. Uma parcela relevante 
desses contratos já superou a fase de construção e encontra-se em operação. 
O número de contratos de PPP segue crescendo. Aproximadamente 25 novos 
contratos foram assinados em 2013 e 2014. Estes projetos ainda não terminaram a 
fase de construção, tendo ainda um longo percurso pela frente para que os 
investidores alcancem suas expectativas de retorno. 
Dezenas de projetos estão em preparação e muitos deles poderão ser licitados 
ainda neste ano de 2015. Até os sérios problemas de recursos para investimentos 
que assola o Governo, em todos os níveis, pode ser um fator a favor das PPPs, 
desde que os indicadores econômicos negativos da economia brasileira não sejam 
suficientes para afugentar de vez o capital privado. 
De fato, a sustentabilidade dos programas de investimento privado em 
infraestrutura dependerá da capacidade dos governos e da iniciativa privada em 
desenvolver os mecanismos de preservação do equilíbrio econômico-financeiro dos 
contratos no longo prazo. Este equilíbrio é essencial para garantir condições 
adequadas de rentabilidade para o investimento privado, e para garantir que o 
governo alcance os objetivos de serviços de qualidade e de eficiência do gasto 
público. 
Idealmente as PPP permitiriam orientar o investimento e gestão privados para 
programas e projetos governamentais e, assim, liberariam recursos públicos para 
realizar outros interesses da sociedade. 
Neste cenário, sem condições de cumprir sozinho o papel de provedor da 
infraestrutura necessária ao funcionamento do pais o Estado Brasileiro, foi buscar na 
iniciativa privada - a exemplo do que fez a Grã-Bretanha, principalmente a partir da 
última década do século passado – seguida depois por muitos outros países após 
2003 (Estados Unidos, México, França, Canadá e Índia, apenas para citar alguns), 
os recursos de que não dispõe, através de uma nova forma de contrato 
administrativo, que define as parcerias como espécies de concessões de serviços 
públicos. 
Aqueles que se opõem às Parcerias Público-Privadas normalmente se baseiam 
no argumento da perda de controle por parte do poder público quando uma empresa 
privada se envolve no financiamento, construção ou entrega de serviços públicos. 
Segmentos vinculados aos prestadores de serviço envolvidos eventualmente podem 
criticar as parcerias público-privadas como fontes de desemprego ou perda de 
qualidade na prestação dos serviços. Outras críticas se referem aos riscos fiscais 
vinculados às parcerias público-privadas. 
Essas objeções não refletem as evidências encontradas pelas pesquisas feitas 
nessa área, as quais suportam a conclusão de serem as parcerias público-privadas 
bem elaboradas instrumentos eficientes para a promoção do interesse público e 
para a melhoria dos serviçosprestados à população. Não há evidência que sugira 
serem as parcerias público-privadas fontes de desemprego ou precarização da 
qualidade dos postos de trabalho, ao contrário: os padrões de serviço determinados 
nos contratos de PPP normalmente exigem maior qualificação técnica dos 
trabalhadores envolvidos e, consequentemente, investimentos em treinamento e 
formação de pessoal. 
A bem da verdade, a Lei 11.079/2004 se beneficiou da experiência 
internacional e impõe à Administração Pública diversos limites orçamentários, 
contábeis e financeiros à contratação de parcerias público-privadas. Esses limites 
existentes no Brasil não eram estabelecidos em muitos países europeus até 
recentemente, podendo se dizer que o Brasil é um dos precursores no atual 
movimento de responsabilidade fiscal nas PPPs. No Brasil as parcerias público-
privadas não oferecem riscos fiscais superiores às demais modalidades de 
contratação pública, ao contrário: exigem-se diversos estudos sobre a viabilidade 
econômico-financeira dos projetos que não são exigidos nas demais formas de 
contratação. 
Estes contratos, conhecidos como Parcerias Público-Privadas, serão o objeto 
deste nosso estudo. 
 
 
1. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA – MATRIZ 
PRINCIPIOLÓGICA 
 
As práticas reiteradas da sociedade refletem diretamente no Direito. Para 
entendermos o que se entende por “princípios” vamos recorrer a Dworkin, que 
considera que um princípio é standard e “deve ser observado por exigência da 
justiça, da equidade, ou de alguma outra dimensão da moralidade”3 
Os princípios atuam sob duas formas: como termos referenciais, diretrizes que 
orientam e justificam a tomada de posição e auxiliam a resolver as lacunas no 
ordenamento jurídico, como normas jurídicas que ordenam e impõem condutas. 
De acordo com Joel de Menezes Niebuhr,4 os princípios diferenciam-se das 
regras, pois estas “têm sua incidência restrita aos respectivos pressupostos de fato, 
sendo aplicadas disjuntivamente, uma vez que, se há exceções, devem enunciá-las 
no próprio corpo normativo ou, ao menos, é possível fazê-lo”. 
Atenta, ainda, para o fato de que elas se aplicam sob a lógica do tudo ou nada, 
não admitindo ponderação. Os princípios, por sua vez, “são normas de elevada 
abstração e generalidade, não cingidos a pressupostos de fato”. Por tal razão, é 
impossível prever todas as exceções a um princípio, que recebem ponderação e 
otimização dos valores. 
As diretrizes a serem observadas na contratação das parcerias público-
privadas estão dispostas no art. 4º da Lei das Parcerias Público-Privadas. Além dos 
princípios gerais consagrados no ordenamento jurídico, a celebração do contrato 
deve observar alguns preceitos específicos. 
O diploma legal das parcerias público-privada não somente reforçou 
determinados princípios como o da eficiência, da responsabilidade fiscal e da 
transparência dos procedimentos e decisões, presentes em diversos textos legais 
 
3
 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução de Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 
p. 80. 
 
4
 NIEBUHR, Joel de Menezes. Princípio da isonomia na licitação pública. Florianópolis: Editora Obra Jurídica, 
2000, p. 40. 
vigentes, como inovou ao determinar a repartição dos riscos de acordo com a 
capacidade dos parceiros em gerenciá-los. 
Não obstante, na contratação deve ser observada a sustentabilidade financeira 
e vantagens socioeconômicas do projeto de parceria (inciso VII, art. 4º). Isto quer 
dizer, o contrato celebrado entre o Poder Público e o particular deve tanto observar a 
viabilidade econômica e o retorno financeiro como atender ao interesse público. 
Os princípios pelos se devem pautar todas as ações da Administração Pública 
estão insculpidos no artigo 37 da Constituição Federal. Legalidade, Impessoalidade, 
Moralidade, Publicidade e Eficiência são os princípios que devem, obrigatoriamente, 
estar presentes quando da prática de todos os atos envolvendo a administração 
pública. A esses, somam-se o princípio licitatório constante do Inciso XXI, do mesmo 
artigo e os da legitimidade e da economicidade que encontramos no Art. 70 da CF. 
No âmbito das PPP temos o envolvimento de dois segmentos diferentes, no 
aspecto teórico, mas que na prática, ocorre a convergência de objetivos, direitos e 
deveres, de forma que os princípios que norteiam essas parcerias devem ser 
igualmente observados pelos dois segmentos. 
O princípio da Legalidade é o esteio do Estado Democrático do Direito e da 
Administração Pública. O art. 5º da nossa Constituição informa que a Administração 
Pública deve praticar atos determinados em lei, visto que a lei é o seu único 
parâmetro, ou seja, o administrador público somente pode fazer aquilo que a lei 
expressamente autoriza, submetendo o exercício do poder às normas, prevenindo 
atos de favoritismo e perseguição, garantindo que a administração seja voltada para 
a vontade e o bem estar de todos, impedindo a criação de normas inferiores, como 
decretos, portarias e regulamentos que não estejam expressamente previstas em lei. 
Dessa forma o princípio da legalidade traz como corolário o da Impessoalidade, 
também conhecido como princípio da finalidade, que “impõe ao administrador 
público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele 
que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de 
forma impessoal.”5 Isto significa que a administração deve pautar-se por critérios 
objetivos sem distinção baseada em critérios pessoais. Todos os seus atos deve 
visar, primordialmente a finalidade pública. 
 
5
 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 24ª ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p.85. 
Por sua vez, a iniciativa privada e regida pelo princípio da autonomia da 
vontade das partes, que diz que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa senão em virtude de lei.” Como se vê, tudo o que não é proibido, é 
permitido por lei. Entretanto, este princípio, assim como tantos outros, tem hoje um 
sentido relativo, para acompanhar as mudanças provocadas pelos direitos sociais, 
que vieram redefinir os conceitos de propriedade, bem estar social e tantos outros. 
O princípio da Moralidade exige que a atuação do administrador seja pautada 
pela observância da de padrões éticos, morais de honestidade, lealdade e da boa-fé. 
Em outras palavras o administrador deve pautar seus atos pelos padrões éticos de 
conduta, evitando que esses atos sejam considerados imorais, ilícitos e inválidos no 
mundo jurídico. 
Este princípio exige que também o particular que se relacionar com a 
Administração deve observá-lo, para que estejamos livres dos imensos prejuízos de 
que pode ser vítima toda a sociedade em função dos conluios, fraudes e toda a sorte 
de ilegalidades que só são possíveis com a conivência de administradores e 
administrados. 
A publicidade é um dos pressupostos elementares da administração pública. 
Segundo este princípio, a Administração Pública não comporta atos obscuros, à 
revelia da sociedade e dos órgãos de controle, devendo divulgar suas ações de 
forma ética e democrática. Um dos principais objetivos do princípio da publicidade é 
mostrar a toda a sociedade os atos praticados pelos gestores públicos. 
As normas contratuais gerais estão submetidas ao princípio da boa-fé objetiva, 
claramente insculpido no nosso Código Civil, que em seu artigo 422 dispõe: “Os 
contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em 
sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 
O princípioda boa-fé compreende o significado de cláusula geral, ou seja, 
constitui uma disposição normativa que utiliza, no seu enunciado, uma linguagem 
aberta, vaga, de tal forma que o juiz que diante do caso concreto, crie, complemente 
ou desenvolva normas jurídicas, que poderá fazer uso de elementos que estejam 
fora do sistema, o que evidencia a importância da fundamentação das decisões. 
O princípio da boa-fé busca o equilíbrio contratual entre as partes, em todos os 
aspectos contratuais. 
Já o princípio da função social orienta os contratos para que estes não se 
tornem, única e tão somente, instrumentos de circulação de riquezas, mas também 
de desenvolvimento social, devendo ser, portanto, expressão da racionalidade 
negocial contemporânea. 
O princípio da função social potencializa o equilíbrio dos pactos reorientando 
interesses individuais e coletivos, definindo, a um só tempo, limites e possibilidades, 
tanto em relação à autonomia privada, quanto em relação à manifestação de 
vontade, a função social do contrato nos demonstra que há bens maiores que 
devem ser observados ao se realizar um pacto escrito, sob pena de este ser 
invalidado ou nulo. Bens que a sociedade protege, como o meio ambiente, a saude, 
o trabalho, a segurança, bem como todos os direitos e garantias individuais 
positivados na Constituição. 
O princípio da preponderância do interesse público sobre o interesse do 
particular pode ser associado ao bem de toda a coletividade. 
Nas parcerias público-privadas, o princípio da preponderância do interesse 
público sobre o particular há que ser entendido num contexto próprio, objetivando 
dispor parâmetros justos entre as partes contratuais. 
Este princípio está intimamente ligado ao princípio da proporcionalidade, que 
determina que medidas adotadas pelos entes da Administração Pública devem ser 
proporcionais, buscando sempre a providência menos gravosa, na obtenção de um 
resultado. 
Os princípios constitucionais da livre concorrência e da livre iniciativa estão 
intimamente ligados, pois efetivam a liberdade de produção no mercado de trabalho 
aos indivíduos, em todo o sistema econômico. Estes princípios sustentam a 
ideologia de um país neoliberalista e garantem o desenvolvimento da economia de 
mercado. 
O princípio constitucional da livre concorrência, pressupõe uma economia de 
mercado baseada no modelo concorrencial. 
Nos contratos de parcerias público-privadas, o princípio da livre concorrência 
busca um equilíbrio formal e material entre as partes. 
O princípio da livre iniciativa se traduz pelo ideal de liberdade econômica de um 
país. A afirmação deste princípio sugere o reconhecimento de uma ordem jurídica 
segura à coletividade na livre escolha das suas atividades econômicas e a atuação 
do Estado na economia restrita, com o escopo de garantir uma ordem econômica 
justa. 
O princípio da eficiência determina que a Administração deve agir de modo 
rápido e preciso, a fim de atingir os interesses da coletividade. 
Um dos pilares que orientam as parcerias público-privadas é a busca pela 
eficiência, normalmente encontrada na gestão privada. Portanto, este deve ser um 
princípio sustentador de qualquer objeto de PPP. 
 As parcerias público-privadas são contratos administrativos, e como tais, 
necessariamente devem estar norteados pelos princípios administrativos 
constitucionais, e os parceiros envolvidos devem aplicá-los, a fim de alcançar a 
administração plena das PPP. 
 
 
2. HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA COM PARCERIA 
PÚBLICO-PRIVADA (PPP) 
 
O primeiro contrato de PPP federal foi firmado em 25 de maio de 2010, na 
modalidade de Concessão Administrativa, pelo Consórcio Datacenter (formado pelo 
Banco do Brasil S.A. e a Caixa Econômica Federal) visando a disponibilização e o 
gerenciamento de um Complexo Datacenter de alto padrão, em regime de "co-
location" por 15 anos, em Brasília, DF. 
O investimento inicial é da ordem de R$ 260 milhões, feito integralmente pela 
GBT S/A, empresa de propósito específico, constituída pelas empresas GCE, 
Termoeste e BVA, vencedoras da concorrência. O Complexo Datacenter terá uma 
área construída de 29 mil m², com espaços específicos para o Banco do Brasil, 
Caixa Econômica Federal e para o gestor do projeto. 
O objeto deste contrato é o arrendamento de áreas do Complexo Datacenter às 
duas instituições financeiras, incluindo toda a infraestrutura predial, consumo de 
energia elétrica, condicionamento de ar, cabeamento estruturado e todos os serviços 
condominiais. 
O valor total do projeto, incluindo a infraestrutura predial, manutenção e 
serviços condominiais é de cerca de R$ 880 milhões, sendo R$ 660 milhões do 
Banco do Brasil e R$ 220 milhões da Caixa, desembolsados ao longo de 15 anos. 
No Brasil, há muito já ocorria a associação entre Estado e particular visando à 
satisfação de interesses públicos; isso significa que, em relação à experiência 
jurídica brasileira, o instituto da parceria público-privada não importou substancial 
alteração. Asim, as inovações apresentadas pela Lei Federal n. 11.079/2004 
limitam-se à formação do conceito legal de contrato de parceria público-privada, à 
definição das respectivas modalidades e à previsão de características peculiares do 
instituto. 
Ao longo dos anos 90 do século passado, por exemplo, o país passou por 
inúmeras privatizações, revivendo o modelo das concessões e experimentamos sua 
multiplicação em diversos setores estratégicos, em que grandes empresas estatais 
foram privatizadas, observando-se uma redução da atuação do Estado, sobretudo 
no cenário econômico. 
Por intermédio das privatizações, almejava-se, além dos recursos que seriam 
obtidos com as vendas, diminuir os gastos públicos com tais atividades, de modo 
que, seja pelo lado do incremento da receita, seja pelo lado da redução das 
despesas, tivesse o Estado mais recursos para aplicação em infraestrutura. 
Além do mais, por força dos contratos de concessão, as empresas adquirentes 
normalmente tinham o dever de fazer investimentos consideráveis na área que 
acabavam de receber, o que também alavancava a infraestrutura do setor. 
Apenas a título de exemplo, somente com a venda de 19% das ações da 
Telebrás – Telecomunicações Brasileiras S.A., a União arrecadou 22 bilhões de 
reais, tendo o sistema elétrico recebido ainda investimentos no valor de 
aproximadamente 135 bilhões. Acrescente-se ainda nessa conta o valor das 
despesas a cargo do ente federal antes da privatização e se terá o montante que foi, 
ou ao menos poderia ter sido, injetado na infraestrutura do setor apenas por essa 
operação. 
Foi, portanto, sob a forma do chamado regime geral de concessões que se 
deram os investimentos em infraestrutura nesse período, tais como os ocorridos no 
setor elétrico (privatização do sistema Telebrás), setor de telecomunicações 
(telefonias móvel e fixa) e rodovias. 
A principal característica desse regime jurídico é que a remuneração do 
parceiro privado se dava exclusivamente pelo pagamento de tarifas a cargo dos 
usuários do serviço. Em que pese pequenas vozes em sentido contrário, a maioria 
da doutrina entendia ser impossível nesse sistema a combinação de tarifas e 
aportes diretos do Poder Público, tendo sido inclusive vetado dispositivo que 
permitiria tal cláusula (art. 24 da Lei n. 8.987/95). 
Além do mais, as garantias e a repartição dos riscos no regime geral de 
concessões eram bastantes semelhantes às existentes nos contratos em geral, 
inexistindo qualquer condição diferenciada que servisse como atrativo aos 
investimentos privados. No que tange às garantias, inclusive, só havia a previsão de 
garantias do parceiro privado faceao Poder Público e não o contrário. 
Nesse contexto, o que se verificou foi uma verdadeira falência do modelo de 
concessões então existentes, ao menos para fins de atração de investimentos para 
grandes projetos de infraestrutura. 
Por outro lado, visando fomentar a iniciativa privada e a celebração de 
parcerias, o governo federal editou várias leis nesse sentido, dentre as quais se 
ressalta: Lei n. 8.666 de 21 de junho de 1993, que instituiu normas para licitações e 
contratos da Administração Pública; Lei n. 8.987 de 13 de fevereiro de 1995, que 
dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos; 
e Lei n. 9.074 de 07 de julho de 1995 que estabeleceu normas para outorga e 
prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos. 
 Assim, foi nesse contexto de fomentação da iniciativa privada, bem como na 
busca de concretização de parcerias entre o setor público e o privado, que houve a 
criação no Brasil das Parcerias Público Privadas (PPPs), inseridas no país pela Lei 
11.079 de 30 de dezembro de 2004. Tal lei conceitua parceria público-privada como 
sendo o contrato administrativo de concessão, nas modalidades patrocinada e 
administrativa, que veremos adiante 
 Há de se ressaltar ainda que tal modelo de PPPs foi criado pela Inglaterra em 
meados dos anos 90 do século passado, sendo que lá era denominado de project 
finance initiative (PFI), e posteriormente chamado de public-private partnerships. 
Mais tarde, dito modelo se irradiou pelo mundo, alcançando países como França, 
Portugal, Itália, Espanha, Austrália, África do Sul, Irlanda, dentre outros. 
 Interessante dizer também que, no Brasil, mesmo antes de haver a Lei n. 
11.079 que instituiu as parcerias público-privadas no âmbito federal, já havia leis 
estaduais que previam tal instituto. 
O Estado pioneiro a legislar sobre as PPPs foi Minas Gerais, mediante a Lei n. 
14.686 de 16 de dezembro de 2003, seguido por Santa Catarina (Lei n. 12.930 de 04 
de fevereiro de 2004), São Paulo (Lei n. 11.688 de 19 de maio de 2004), Goiás (Lei 
n. 14.910 de 11 de agosto de 2004) e Bahia (Lei n. 9.290 de 27 de dezembro de 
2004. Todavia, necessário se faz dizer que desde o advento da Lei n. 11.079/2004, 
inúmeros outros Estados já criaram leis versando acerca das PPPs. 
Por fim, conclui-se que o surgimento das parcerias público-privadas no âmbito 
mundial, tal como ocorreu no Brasil, não foi um evento repentino ou casuístico, e sim 
fruto de uma longa evolução do Estado, desde a Revolução Francesa até a 
contemporaneidade. Ademais, originaram-se de uma necessidade imperativa de se 
criar mecanismos por meio dos quais o ente público, por intermédio de parcerias 
celebradas com a iniciativa privada, pudesse reestruturar a infraestrutura básica e os 
serviços prestados à população, objetivando promover ao máximo o bem estar 
social. 
 
 
3. NATUREZA CONTRATUAL E LEGITIMIDADE DAS PPPs 
 
A Lei 11.079 prevê expressamente que os contratos de PPP deverão conter os 
requisitos gerais da Lei 8.987 aplicáveis aos contratos de concessão comum, tais 
como: mecanismos de ajuste de tarifas; parâmetros e métodos de avaliação, 
ampliação e fiscalização dos serviços; cálculos de indenização; direitos e deveres 
dos usuários; e prestação periódica de contas pela concessionária à Administração 
Pública. Isso exige cuidado redobrado na elaboração dos contratos, para atender 
aos ditames legais. 
Além das disposições pertinentes da Lei 8.987/96 que trata do Regime Geral 
das Concessões, o contrato PPP deve prever cláusulas consideradas essenciais: 
 o prazo de vigência do contrato entre 5 e 35 anos, compatível com a 
amortização dos investimentos; 
 as penalidades aplicáveis à Administração Pública e ao parceiro nos casos de 
inadimplemento do contrato (chama-se atenção para o fato de que aqui, ao 
contrário da Lei das concessões comuns, há também a previsão de 
penalidades para a Administração Pública); 
 as formas de remuneração e atualização dos valores; 
 a repartição dos riscos entre as partes, nos casos de fatos imprevisíveis; 
 os mecanismos para preservação da atualidade da prestação dos serviços; 
 indicação dos fatos que caracterizarão a inadimplência pecuniária do parceiro 
público e como se dará a regularização e, quando for o caso, a forma de 
acionamento da garantia. 
 os critérios objetivos para avaliação do desempenho do parceiro privado; 
 a prestação pelo parceiro privado, das garantias necessárias, observado o 
limite do art. 56, da Lei 8.666/93, isto é, de até 10% do valor do contrato, 
acrescido do valor dos bens entregues pela Administração, quando for o 
caso, nas concessões patrocinadas (quando há na prestação dos serviços 
precedência da execução de obra pública, deve-se observar o disposto no art. 
18, XV, da Lei 8.987/95, ou seja, o limite do valor da obra); 
 o compartilhamento com a Administração dos ganhos econômicos decorrente 
da redução do risco de crédito dos financiamentos utilizados. 
 
A remuneração do contrato PPP poderá se dar por meio de tarifa cobrada do 
usuário; recursos do tesouro; cessão de créditos não tributários; outorga de bens 
públicos dominicais; transferências de bens móveis e imóveis, na forma da lei; 
cessão de direito de exploração comercial de bens públicos e outros meios 
admitidos em direito. 
Vários aspectos devem merecer uma profunda análise e uma criteriosa 
avaliação, quando da elaboração do contrato para aumentar as chances de sucesso 
da parceria. 
Uma distribuição de riscos eficiente será um importante fator para que a PPP 
seja bem-sucedida. É preciso relacionar detalhadamente as contingências, alocando 
riscos de modo eficiente. Aliado a isso, um instrumento capaz de colaborar com a 
eficiência do ajuste é o sistema de remuneração por desempenho, desde que o seu 
funcionamento esteja baseado em procedimentos claros e imparciais para a 
avaliação das notas e dos níveis de serviço do parceiro privado. Geralmente, essa 
avaliação reserva-se a um auditor independente, que atua segundo padrões 
previamente estabelecidos. Além disso, todas as cláusulas econômicas devem estar 
bem definidas no plano do contrato, sempre com a clareza e objetividade 
necessárias e evitar dúvidas, o que sempre gera a ampliação dos custos de 
transação. Outro ponto também de enorme repercussão nos custos transacionais 
incidentes na contratação é o das garantias oferecidas pelo parceiro público. É 
relevante em projetos de longo prazo como as PPPs agregar garantias efetivas ao 
parceiro privado – como a hipótese de um fundo garantidor, empresa garantidora 
etc. Isso alivia a insegurança dos interessados, ampliando a competitividade e 
reduzindo os custos de transação. 
A remuneração do contrato PPP poderá se dar por meio de tarifa cobrada do 
usuário; recursos do tesouro; cessão de créditos não tributários; outorga de bens 
públicos dominicais; transferências de bens móveis e imóveis, na forma da lei; 
cessão de direito de exploração comercial de bens públicos e outros meios 
admitidos em direito. 
 
 
4. CARACTERÍSTICAS E MODELOS DE PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS – 
CONCESSÃO PATROCINADA E CONCESSÃO ADMINISTRATIVA SOB OS 
FUNDAMENTOS DA LEI N. 11.079/2004 (LEI DE PPP FEDERAL) 
 
4.1 DISTINÇÃO ENTRE PPP, PRIVATIZAÇÃO E CONCESSÃO COMUM 
 
Inicialmente precisamos esclarecer que as PPPs nada têm a ver com 
privatização, caso em que ocorre a transferência integral ou definitiva de uma 
função, ativo ou atividade específica para o setor privado, reservando-se ao poder 
público apenas o papel de regulador. 
Nas parcerias público-privadas a operação e manutenção de bens públicos 
podem ser transferidas ao parceiro privado durante a vigênciado contrato, porém 
não ocorre a sua alienação e a propriedade do bem se mantém pública. 
A destinação do bem público concedido em parceria público-privada fica 
restrita àquela determinada no contrato, não podendo o parceiro privado exercer 
direitos típicos do domínio sobre o bem público. Enfim, a gestão privada do bem 
público se encerra após a extinção do contrato de parceria público-privada, não 
estando presentes quaisquer dos elementos que caracterizam a privatização. 
Precisamos também estabelecer uma linha clara que separe PPP de outro tipo 
de contrato administrativo entre o Estado e um particular, conhecida como 
concessão comum. 
Segundo a Lei 11.079/2004, "Não constitui parceria público-privada a 
concessão comum, assim entendida a concessão de serviços públicos ou de obras 
públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando não 
envolver contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado."6 
Ainda que ambos os institutos constituam contratos administrativos entre o 
Estado e um particular, mais especificamente, contratos de concessão em sentido 
amplo, é importante desde logo ressaltar o que lhes distingue substancialmente: a 
fonte de remuneração. Enquanto nas concessões comuns, regidas pela Lei 
8.987/1996, a contraprestação é obtida pelo concessionário contratado sempre e 
unicamente junto aos usuários do serviço, nas PPPs cabe ao parceiro público, 
remunerar o parceiro privado, seja parcial ou integralmente. 
Em termos mais simples, a diferença básica entre parceria público-privada e 
concessão comum é a remuneração do parceiro privado. Nas concessões comuns a 
remuneração do concessionário advém exclusivamente das tarifas cobradas aos 
usuários, nas parcerias público-privadas há pagamento de contraprestação pela 
Administração Pública, com ou sem cobrança de tarifa dos usuários. 
Isto quer dizer que as PPPs destinam-se àqueles serviços e/ou obras públicas 
cuja exploração pelo contratado ou não é suficiente para remunerá-lo (ex.: 
ampliação e administração de rodovias ou ferrovias de baixo movimento) ou sequer 
envolve contraprestação por seus usuários (ex.: construção e gerenciamento de 
presídios ou hospitais públicos). Desta maneira, afora tratar-se de casos em que se 
requerem investimentos e/ou especialidade além das possibilidades do Estado, as 
PPPs têm um componente a mais, representado pela incapacidade de o 
empreendimento, por si, pagar o investidor privado. 
Diferentemente dos contratos de concessão comum, os contratos de PPPs têm 
um escopo de regulação muito mais amplo e complexo: à parte as cláusulas 
tradicionais, como prazo contratual, deverão prever aspectos bastante peculiares e 
de difícil concisão em poucos e genéricos artigos. Não será aceitável para as PPPs, 
 
6 Art. 2º, § 3º da Lei 11.079/2004. 
portanto, utilizarem-se minutas quase padronizadas de contratos de concessão 
comum, em boa medida contratos de adesão. 
De uma forma geral, aberto esse novo canal de investimentos, são bastante 
positivas as perspectivas de sua utilização e seus resultados. Imperioso, porém, 
atentar-se para as relevantes especificidades das PPPs frente às concessões 
comuns, notadamente no tocante à cuidadosa elaboração dos contratos 
correspondentes. 
São estes, assim, os princípios diferenciadores básicos entre a PPP e a 
concessão comum, que devem servir de norte para direcionar o procedimento 
licitatório, a análise das propostas, e, principalmente, os contratos de concessão 
reguladores das PPPs. 
Em linhas gerais, no projeto PPP, o setor privado fica responsável pelo 
financiamento total do serviço, incluindo as obras necessárias e só após a 
disponibilização desse serviço é que começa a receber a remuneração, seja 
diretamente através dos recursos do Poder Público somente ou combinada com 
cobrança de tarifa do usuário, como acontece com a forma tradicional da 
remuneração das concessões. A amortização do investimento, como se vê, somente 
se inicia quando o serviço ou a utilidade já está disponível, conforme os objetivos 
traçados no projeto inicial. 
Nessa parceria, o governo especifica o serviço ou obra e um mesmo agente do 
setor privado desenha, financia, constrói, explora e disponibiliza o serviço para a 
utilidade pública. Encerrado o contrato de parceria ou no caso de extinção 
antecipada, a propriedade dos bens, móveis ou imóveis necessários à continuidade 
dos serviços objetos da parceria serão revertidos para a Administração Pública, 
independente de indenização. 
Tampouco se encaixam na definição de PPP os contratos mais simples, como 
os que preveem a prestação de serviços de limpeza e vigilância de prédios públicos, 
fornecimento de alimentação, conservação de jardins, assistência técnica em 
informática, etc. Esses são contratos de curto-prazo, normalmente conhecidos como 
“terceirização”. Enquanto os contratos de PPP normalmente têm prazos que 
superam vinte anos, os contratos de terceirização de serviços duram por volta de 
cinco anos. 
 
4.2 MODALIDADES DE PPP 
 
As modalidades de PPP estão claramente enunciadas, delimitadas e definidas 
no artigo 2º da Lei n. 11.079, que diz, litteris: 
Art. 2º Parceria público-privada é o contrato administrativo de 
concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa. 
§ 1º Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou 
de obras públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 
1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários 
contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado. 
§ 2º Concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços 
de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, 
ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação 
de bens. 
[..] 
Assim podemos pensar na PPP Patrocinada como um contrato de concessão 
de serviços públicos em que o parceiro privado planeja, executa e opera uma 
atividade de caráter público, precedida, ou não, de obra pública, em que parte da 
remuneração do serviço entregue a população, será paga pelo parceiro público, na 
forma de contraprestação adicional, em espécie. O usuário pagará o restante dos 
custos do investimento, por intermédio de uma tarifa decorrente do uso do 
equipamento público. Ressaltando-se que a Administração poderá complementar o 
custo da tarifa, em busca de um valor mais acessível à população. Ex.: Concessão 
de uma Linha de Metrô. 
Nesta modalidade de PPP o serviço é prestado diretamente ao público, com 
cobrança tarifária. Como as tarifas cobradas dos usuários da concessão não são 
suficientes para pagar os investimentos feitos pelo parceiro privado, o poder público 
complementa a remuneração da empresa por meio de contribuições regulares, isto 
é, o pagamento do valor mais imposto e encargos. Portanto, neste tipo de PPP 
teremos sempre presentes a contraprestação pecuniária do Estado e o pagamento 
de tarifas por parte dos usuários. 
Já a PPP Administrativa é um contrato de concessão em que a Administração 
Pública é a usuária direta ou indireta do serviço público concedido, ainda que 
envolva o projeto, a execução, a instalação e a operacionalização da obra, ou 
serviço. Não sendo possível ou conveniente cobrar do usuário pelo serviço de 
interesse público prestado pelo parceiro privado, a remuneração da empresa é 
integralmente feita por pelo poder público, o que significa que o parceiro privado 
será remunerado unicamente pelos recursos públicos orçamentários, após a entrega 
do contratado. Ex.: concessão para remoção de lixo, construção de um Centro 
Administrativo, presídios, etc. 
 
4.3. SOCIEDADE DEPROPÓSITO ESPECÍFICO 
 
A Sociedade de Propósito Específico é uma novidade trazida pela Lei das 
PPPs. Trata-se de uma sociedade a ser criada pelo parceiro antes da celebração do 
contrato, incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria, a quem caberá a 
propriedade dos bens resultantes do investimento, durante a vigência do contrato e 
até que se dê a sua amortização. Deve obedecer a padrões de governança 
corporativa e adotar contabilidade e demonstrações financeiras padronizadas. A 
sociedade poderá dar em garantia aos financiadores os direitos emergentes da 
parceria, conforme requisitos e condições estabelecidas no contrato. 
Para efeito da Lei 11.079/2004, é a sociedade empresária incumbida de 
implantar e gerir o objeto da parceria público-privada. Tal sociedade poderá assumir 
a forma de companhia aberta, deverá obedecer a padrões de governança 
corporativa e adotar contabilidade e demonstrações financeiras padronizadas. Além 
disso, é vedado à Administração Pública ser titular da maioria do capital votante da 
SPE não se incluindo nessa vedação a eventual aquisição da maioria do capital 
votante por instituição financeira controlada pelo Poder Público em caso de 
inadimplemento de contratos de financiamento. A constituição da SPE é um pré-
requisito para celebração do contrato (art.9°). A finalidade dessa exigência legal é 
evitar a confusão patrimonial entre a SPE e as empresas que integram o seu quadro 
societário o que poderia ocorrer caso os ativos e as receitas relacionadas com os 
serviços objeto da PPP fossem utilizados em outros negócios das empresas sócias 
da SPE. 
A Lei 11.079/2009, art. 9.º, apresenta normas peculiares às sociedades de 
propósito específico, no âmbito das parcerias público-privadas, mas não cria novo 
tipo societário. As SPEs são apenas sociedades empresárias comuns, de qualquer 
tipo (sociedade limitada, sociedade anônima ou outro tipo previsto em lei), com 
objeto social delimitado (implantar e gerir o objeto da parceria – Lei 11.079/2004, art. 
9.º). 
A SPE também exerce outras funções úteis no contexto das PPPs. A 
separação entre a executora do projeto (a SPE) e seus proprietários (os 
concessionários) oferece maior grau de transferência contábil à operação da PPP, 
permitindo diagnósticos sobre a real rentabilidade do projeto, solidez financeira, 
eficiência operacional e outras informações úteis na gestão do contrato. 
 
4.4 MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE 
 
A Manifestação de Interesse é a possibilidade de particulares apresentarem, 
integral ou parcialmente, os estudos (demanda, engenharia e arquitetura, viabilidade 
econômico-financeira, impacto socioambiental, o edital e a minuta de contrato) a 
serem utilizados em modelagens de PPP, sendo que tais estudos apenas serão 
ressarcidos pelo parceiro privado que vier a ser contratado para a realização do 
projeto. 
No âmbito federal, a previsão do PMI está nas Leis 8.987/1995, art. 21 e 
11.079/2004, art. 3.º, caput e §1.º, sendo regulamentada inicialmente pelo Decreto 
5.977/2006, que foi recentemente revogado pelo Decreto n. 8.428 de 2 de abril de 
2015, que dispõe sobre o Procedimento de Manifestação de Interesse a ser 
observado na apresentação de projetos, levantamentos, investigações ou estudos, 
por pessoa física ou jurídica de direito privado, a serem utilizados pela administração 
pública. 
 
5. O VALOR, O PRAZO E O OBJETO E AS VEDAÇÕES À CELEBRAÇÃO DAS 
PPPs 
5.1 VALOR 
A Parceria Público-Privada (PPP) é um contrato de prestação de obras ou 
serviços entre uma empresa privada e o governo federal, estadual ou municipal. 
A Lei n. 11.079/2004 em seu art. 2º, §4º, inciso I, veda a celebração de contrato 
de parceria público-privada cujo valor seja inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões 
de reais). Essa regra sofre críticas da doutrina que entende que o dispositivo, por 
fixar um valor mínimo para PPP, não tem a natureza jurídica de norma geral, não 
sendo aplicável, portanto, a todos os entes federados, somente à União, ou, ainda, 
afirmando ser essa regra inconstitucional. 
Neste diapasão, Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira afirma: 
“não poder ser norma geral de contratação a Lei das PPPs, por fixar 
um valor único, aplicável indistintamente a todos os entes da 
federação, sem se respeitar o princípio da igualdade federativa que 
estaria a exigir alguma espécie de proporção entre o montante 
mínimo exigido do investimento / financiamento objeto da parceria 
público- privada e o porte orçamentário da pessoa pública, qual, por 
exemplo, um percentual sobre sua receita líquida, como foi o caso 
adotado nos artigos 22 e 28 da própria Lei n. 11.079/2004.”7 
Finaliza o autor afirmando que “se for considerada essa regra como norma de 
caráter geral, não o será de contratação administrativa, mas de direito financeiro, 
entendido assim como um conjunto de princípios e normas que regulam a obtenção, 
a gestão e o dispêndio dos meios financeiros públicos” 
Em sentido contrário temos a posição de outros juristas, dentre os quais 
destacamos Alexandre Aragão, que numa defesa consistente da constitucionalidade 
da regra e de sua validade como norma geral, principalmente em relação ao 
argumento de que R$ 20 milhões é muito elevado para muitos municípios. Aragão 
discorda, veementemente, dessa tese, pois, segundo o autor, as normas que 
limitam o uso de PPPs relacionam-se com o objetivo geral das PPPs serem 
utilizadas seletivamente apenas para grandes projetos de infraestrutura, e ainda, “[..] 
no caso de PPP’s com prazos muito longos, a diluição desse valor ao longo de 
décadas o torna bem menos significativo/restritivo [..]”.8 
De fato o valor mínimo de R$ 20 milhões refere-se ao valor total do contrato, o 
qual, como já se viu, pode ter um prazo de vigência de 5 a 35 anos. Assim, se a 
 
7
 FERREIRA, Luiz Tarcísio Teixeira. Parcerias público-privadas: aspectos constitucionais. Belo Horizonte: Editora 
Fórum, 2006, p. 36 e 37. 
 
8
 ARAGÃO, Alexandre Santos de. As parcerias público-privadas – PPPs no direito positivo brasileiro. Revista 
Eletrônica de Direito Administrativo Econômico, Salvador, Instituto de Direito Público da Bahia, 2005. 
parceria público-privada durar 35 anos, o valor mínimo do contrato por ano será de 
R$ 571.428,57, o que não se configura um valor exageradamente alto para nenhum 
dos entes federados. 
5.2 PRAZO 
 A prestação dos serviços deve perdurar no mínimo por 5 anos. Ainda em 
relação a prazo, o art. 5º da Lei das parcerias público-privadas exige a previsão nas 
cláusulas contratuais do termo final do vínculo obrigacional, assim a vigência do 
contrato de parceria público-privada não pode ter prazo inferior a 5 anos nem 
superior a 35. 
Da leitura do inciso I do art. 5º da Lei n. 11.079/2004 infere-se a possibilidade 
de prorrogação dos contratos PPP, desde que o prazo total não exceda os 35 anos.9 
A característica de contrato de longo prazo legalmente atribuída pela lei aos 
contratos PPP se justifica pelo fato dos mesmos estarem relacionados a serviços 
públicos que exigem investimentos de grande vulto, seja na construção, seja na 
manutenção: estradas, portos, aeroportos, ferrovias, prédios públicos com 
características especiais (hospitais, prisões) ou construídos em grande quantidade 
(escolas), etc. Portanto, nos casos em que o parceiro privado investe seu capital, ele 
precisa que o contrato tenha um prazo dilatado, para dar tempo de pagar o 
investimento. 
Ainda que não haja uma elevada imobilização de capital pelo parceiro privado 
(por exemplo, contratos para operar infraestrutura já existente), pode ser 
interessante estabelecer um contrato de longo-prazo, pois seriaineficiente trocar o 
administrador da infraestrutura diversas vezes em prazos curtos, tendo em vista o 
custo de licitação e o custo de aprendizagem, associado ao período em que o novo 
concessionário está ajustando a oferta do novo serviço, quando usualmente há 
quebras na qualidade dos serviços. 
5.3 OBJETO 
 
9
 Art. 5º [...] 
I – o prazo de vigência do contrato, compatível com a amortização dos investimentos realizados, não inferior a 5 
(cinco), nem superior a 35 (trinta e cinco) anos, incluindo eventual prorrogação. 
 
A contratação das parcerias tem como finalidade arrecadar investimento 
privado para setores de infraestrutura pública, o que envolve custos elevados. 
O objetivo maior dos contratos PPP é a união de esforços do poder público 
para o oferecimento à população de serviços de infraestrutura. Isto significa que 
indica que o parceiro privado não vai simplesmente construir uma estrada, uma 
ferrovia, um hospital ou um aeroporto e entregá-lo para ser administrado pelo 
governo ou empresa estatal. Ele vai construir e operar uma parte ou todos os 
serviços oferecidos por aquela infraestrutura. Ou então ele vai simplesmente operar 
(sem construir ou apenas reformar) os serviços de uma infraestrutura já existente, de 
propriedade do governo. Ou seja, para caracterizar uma PPP é importante que o 
parceiro privado atue na provisão do serviço público associado à infraestrutura que 
lhe foi confiada. 
Ao tratar do objeto das PPPs Celso Antonio Bandeira de Mello10 assim se 
posiciona: “obviamente seu objeto só pode ser a prestação de um serviço público 
(ainda que para isto necessite. englobar outras atividades)”. E continua o autor: “o 
objeto das PPPs será necessariamente a prestação de utilidade ou comodidade 
material fruível singularmente pelos administrados”. 
Sobre o mesmo assunto ensina Diogenes Gasparini, in verbis: 
O regime jurídico das parcerias público-privadas é um só, mas seu 
objeto, ou área de aplicação da atividade pública, é múltiplo. Assim, 
podem ser utilizadas na implementação de políticas sociais, voltadas 
ao desenvolvimento público, nas áreas: da educação, saúde e 
assistência social; dos transportes públicos; do saneamento básico; 
da segurança; do sistema penitenciário; da defesa e justiça; da 
ciência, pesquisa e tecnologia; do agronegócio; e do sistema 
portuário, como indicam as leis estaduais, dada a notória carência 
de recursos públicos para de modo rápido e eficaz atender a 
demanda comunitária há muito reprimida. A Lei federal nesse 
particular é omissa, mas as parcerias federais podem ocorrer nessas 
e em outras áreas, desde que respeitada a indelegabilidade das 
funções de regulação, jurisdicional, do exercício do poder de polícia 
 
10
 MELLO, Celso A Bandeira de. Curso de direito administrativo. 20. ed. revista e atual. até a EC 48/2005. São 
Paulo: Malheiros, 2006, p. 728-729. 
 
e de outras atividades exclusivas do Estado, conforme determina art. 
4º, III.11 
A autonomia conferida pelo sistema federativo aos estados e aos municípios 
permite que os mesmos, sem colidir com as normas gerais estabelecidas pela 
legislação, atendam suas prioridades e adequem suas leis ao sabor de suas 
necessidades naqueles setores mais urgentes e cujo volume de investimentos está 
muito além de suas capacidades de aporte de recursos. 
Para ilustrar essa diversidade basta confrontarmos os objetos eleitos por três 
estados da nossa Federação, que pelas suas diferenças de indicadores econômicos, 
demográficos e de geografias podem servir como um painel da realidade brasileira. 
Estado de São Paulo (Lei n. 11.688/2004) 
O Art. 5° estabelece que as PPPs paulistas têm por objeto: „ 
I – a implantação, ampliação, melhoramento, reforma, manutenção ou gestão 
de infraestrutura pública; „ 
II - A prestação de serviço público; „ 
III – a exploração de bem público; „ 
IV – a exploração de direitos de natureza imaterial de titularidade do Estado, 
tais como marcas, patentes, bancos de dados, métodos e técnicas de 
gerenciamento e gestão, resguardada a privacidade de informações sigilosas 
disponíveis para o Estado. 
O mesmo artigo em seu § 1º diz que “Não serão objeto de parcerias 
público-privadas a mera terceirização de mão-de-obra e as prestações 
singelas ou isoladas.” 
Estado do Espírito Santo (Lei Complementar n. 492/2009) 
A legislação capixaba dispõe ser objeto de Parcerias Público-Privadas: 
I - a delegação, total ou parcial, da prestação ou exploração de serviço 
público, precedida ou não da execução de obra pública; 
II - a prestação de serviços à Administração Pública ou à comunidade, 
precedida ou não de obra pública, excetuadas as atividades exclusivas de 
Estado; 
III - a execução, a ampliação e a reforma de obra para a Administração 
Pública, bem como de bens e equipamentos ou empreendimento público, 
 
11
 GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 382. 
terminais estaduais e vias públicas, incluídas as recebidas em delegação da 
União, conjugada à manutenção, exploração, ainda que sob regime de 
locação ou arrendamento, e à gestão destes, ainda que parcial, incluída a 
administração de recursos humanos, materiais e financeiros voltados para o 
uso público em geral; 
IV - a exploração de direitos de natureza imaterial de titularidade do Estado, 
tais como marcas, patentes, bancos de dados, métodos e técnicas de 
gerenciamento e gestão; 
V - a exploração de serviços complementares ou acessórios, de modo a dar 
maior sustentabilidade financeira ao projeto, redução do impacto tarifário ou 
menor contraprestação governamental; 
VI - outras admitidas em lei. 
Já a Lei n. 9.290/2004 do Estado da Bahia elegeu os seguintes objetivos: 
I - delegação, total ou parcial, da prestação ou exploração de serviço público; 
II - execução, ampliação ou reforma de obra, bens e equipamentos para a 
administração pública, desde que conjugada a manutenção, exploração e 
gestão pelo parceiro privado; 
III - prestação de serviços à Administração Pública ou à comunidade; 
IV - exploração de marcas, patentes, bancos de dados, métodos e técnicas de 
gerenciamento e gestão. 
 
5.4 VEDAÇÕES À CELEBRAÇÃO DAS PPPs 
 
As principais vedações à celebração de contrato de parceria público-privada 
estão relacionadas no § 4º do art. 2º da Lei das Parcerias, como segue: 
Art. 2º [..] 
§ 4º É vedada a celebração de contrato de parceria público-privada: 
I – cujo valor do contrato seja inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte 
milhões de reais); 
II – cujo período de prestação do serviço seja inferior a 5 anos; ou 
III – que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o 
fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução de obra 
pública. 
O inciso I já foi discutido no item 5.1 acima, o mesmo ocorrendo com o inciso II, 
no item 5.2, restando então tecermos algumas considerações sobre o inciso III, que 
trata da vedação à celebração do contrato que tenha como objeto único o 
fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de equipamentos ou a 
execução de obra pública. 
Dos três, o inciso III é o mais controverso, pois é necessário verificar a 
possibilidade ou não da contratação da parceria público-privada que tenha por 
objeto único a execução de obra pública. Essa dúvida resulta da interpretação 
extraída do confuso conceito legal de concessão patrocinada ("...a concessão de 
serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei n. 8.987.."12, em face da 
limitação previstano inciso III, §4º, art. 2º da Lei n. 11.079/04. 
Este dispositivo legal veda a celebração do contrato de parceria público-privada 
que tenha por objeto único a execução de obra pública. Dessa forma, deve-se 
entender que a concessão patrocinada resta caracterizada na prestação de serviços 
públicos, precedida ou não do fornecimento de mão-de-obra, equipamentos ou da 
execução de obra pública. 
Em resumo, é vedada a celebração de contrato de parceria público-privada que 
tenha como objeto único a execução de obra pública. Da interpretação do §1º, art. 2º 
da Lei n. 11.079/04 deduz-se que as obras públicas podem preceder ou não a 
prestação de serviços públicos, no entanto, se não houver a contratação destes não 
se pode considerá-lo um contrato de parceria público-privada. 
No que concerne ao limite de contraprestação do setor público em projetos de 
PPP, não há limite nas concessões administrativas tendo em vista que a 
Administração Pública, direta ou indiretamente, é a única usuária. Entretanto, nas 
patrocinadas, o § 3° do art. 10 da Lei n. 11.079 estipula as contraprestações 
públicas não poderão exceder 70% (setenta por cento) da remuneração do parceiro 
privado, salvo se autorizadas por legislativa específica. 
A Lei das PPPs impõe, também, uma série de regras de responsabilidade 
fiscal. A principal restrição de ordem fiscal trata do limite máximo de 5% da Receita 
Corrente Líquida aplicada a Estados e Municípios com despesas relativas a 
contratos de PPP. Caso o ente federativo ultrapasse esse limite no ano anterior ou 
se as despesas com PPP como proporção da RCL projetada nos dez anos 
 
12
 Art 2º, § 1º da Lei 11.079/2004 
subsequentes excederem 3%, Nos termos do art. 28, das Disposições Finais, a 
União não poderá lhe conceder garantias ou realizar transferências voluntárias. Já 
para a União, esse limite é de 1% (um por cento) da RCL conforme o que 
preceituam os artigos 22 e 28 da Lei das Parcerias. 
Dentre as vedações que se constituíam em verdadeiros empecilhos à 
aceitação dos contratos PPP por parte da iniciativa privada tínhamos a 
impossibilidade de concessão de aportes de recursos antes da entrega do objeto do 
contrato a tributação incidente sobre a contraprestação paga pelo parceiro público, 
que ó se dava após a entrega do objeto, verificava-se uma grande concentração de 
pagamentos nos primeiros anos após a conclusão dos investimentos, o que 
acarretava a antecipação do pagamento de PIS, COFINS e ISS, e também de IRPJ 
e CSLL, uma vez que o lucro líquido fica sobremaneira elevado nesse período, 
ensejando maior pagamento de tributos incidentes sobre o resultado. 
Esses dois óbices foram removidos com a edição da Medida Provisória n. 
575/2012, convertida na Lei n. 12.766/2012, que alterou uma série de dispositivos da 
Lei 11.079/2004 que afetavam a atratividade da Lei de Parcerias. 
 
 
6. SUPORTE GOVERNAMENTAL NAS PPP 
 
Visando dar um suporte ao processo de implantação, conforme previsto na Lei 
das PPPs, o Decreto 5.385, de 4/3/2005, instituiu o Comitê Gestor de Parcerias 
Público-Privadas Federais (CGP), integrado por representantes do Ministério do 
Planejamento, Orçamento e Gestão, que ficou responsável pela coordenação, do 
Ministério da Fazenda e da Casa Civil da Presidência da República, competindo-lhe, 
especificamente: 
a) Definir os serviços prioritários para a execução no regime de PPP; 
b) Disciplinar os procedimentos para a celebração desses contratos; 
c) Autorizar a abertura da licitação e aprovar os instrumentos convocatórios e de 
contratos; 
d) Apreciar os relatórios semestrais de execução dos contratos, enviados pelos 
ministérios e agências reguladoras, em suas áreas de competência; 
e) Elaborar e enviar ao Congresso Nacional e ao Tribunal de Contas da União 
relatório anual de desempenho dos contratos e disponibilizar, na Internet, as 
informações nele constantes. 
Como estrutura de apoio, o CGP conta com a Comissão Técnica das Parcerias 
Público-Privadas (CTP), com representação multissetorial e funções de 
assessoramento técnico, e a Secretaria-Executiva, de apoio à execução dos 
trabalhos do CGP e da CTP. Para a deliberação do CGT sobre contratação de PPP, 
o pedido deve ser instruído com pronunciamento prévio, fundamentado e conclusivo 
do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, sobre o mérito do projeto, e do 
Ministério da Fazenda, quanto à forma da garantia a ser concedida ao 
empreendedor privado e a viabilidade de sua concessão, relativamente aos riscos 
para o Tesouro Nacional e ao atendimento aos limites fiscais e orçamentários 
previstos na Lei das PPPs, que visam a cumprir os mecanismos de controle de 
endividamento público. 
Desde que se começou a discutir o projeto de lei das PPPs, houve uma 
grande preocupação do legislador em oferecer ao parceiro privado a segurança 
necessária visando atrair os recursos e investimentos para setores de atuação 
que são de responsabilidade do Estado. 
Como forma de criar garantias aos investimentos privados realizados pelos 
mesmos e, consequentemente, viabilizar esses mesmos investimentos foi previsto 
na Lei de PPPs que o FGP terá como objetivo “prestar garantia de pagamento de 
obrigações pecuniárias assumidas pelos parceiros públicos federais” em virtude 
das PPPs. 
O Fundo Garantidor das Parcerias Público-Privadas (FGP) é uma entidade 
contábil com personalidade jurídica, criada por lei, com objetivo de dar sustentação 
financeira ao Programa de PPP, tendo como beneficiárias as empresas parceiras 
definidas e habilitadas nos termos da lei. 
O FGP é um fundo de natureza privada e patrimônio próprio, portanto, 
separado do patrimônio de seus cotistas e tem um limite global de 6 bilhões de 
reais, podendo dele participar a União, suas autarquias e fundações públicas. 
Por conta de sua natureza privada e patrimônio próprio, em tese o FGP não 
está sujeito a contingências e limitações da administração pública que não as 
relativas às garantias prestadas em função dos contratos de PPPs e seus os 
cotistas não respondem pelas obrigações do FGP, mas apenas pela integralização 
das quotas por ele subscritas. 
O FGP tem direito de regresso em face do parceiro público, uma vez que, 
após o exercício da garantia e correspondente quitação do débito, ficará sub-
rogado nos direitos do parceiro privado. 
O Comitê Gestor de Parcerias Público-Privadas – CGP em sua Resolução n. 
01, de 05 de agosto de 2005, atribuiu ao Banco do Brasil a responsabilidade de 
criar, administrar, gerir e representar judicial e extrajudicialmente o FGP. 
 
 
7. A PPP E A INDELEGABILIDADE DAS FUNÇÕES PRÓPRIAS OU EXCLUSIVAS 
DO ESTADO, A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS 
PROJETOS DE PARCERIAS, E A REPARTIÇÃO OBJETIVA DOS RISCOS 
ENTRE AS PARTES, INCLUSIVE AS REFERENTES A CASO FORTUITO, FORÇA 
MAIOR, FATO DO PRÍNCIPE E ÁLEA ECONÔMICA EXTRAORDINÁRIA 
 
7.1 A INDELEGABILIDADE DAS FUNÇÕES PRÓPRIAS OU EXCLUSIVAS DO 
ESTADO 
 
O artigo 4º, inciso III, da Lei das parcerias público-privadas prescreve a 
indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do exercício do poder de 
polícia e de outras atividades exclusivas do Estado. 
Considerando que a concessão de serviços públicos, lato sensu, atribui a 
prestação desses serviços a entes privados ou públicos, mas não a titularidade dos 
mesmos, limitada à Administração Pública competente, poderíamos visualizá-los 
como atividades dela exclusivas. O serviço postal e o correio aéreo nacional (art. 21, 
X, da Constituição Federal) são serviços de prestação obrigatória ou exclusiva da 
União, que não poderá atribuir a execução dos mesmos a terceiros. A exclusividade,aqui, salta aos olhos. Ademais, estados-membros e municípios, criando normas 
próprias e suplementares de parcerias público-privadas, já que compete 
privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação e contratação (art. 
22, XXVII e art. 24, §2º, da CF/88), poderão, autonomamente, estabelecer para si a 
exclusividade da prestação de um dado serviço público, vedando qualquer 
modalidade concessionária. 
Os casos de indelegabilidade das funções de Estado na contratação das PPPs 
estão expressos no inciso III do art. 4º da Lei n. 11.079/2004, litteris: 
Art. 4º Na contratação de parceria público-privada serão observadas 
as seguintes diretrizes: 
[..] 
III – indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do 
exercício do poder de polícia e de outras atividades exclusivas do 
Estado; 
[..] 
Assim, nessa ótica da subsidiariedade, seria de incumbência do Estado a 
realização de determinadas atividades que lhe são próprias em razão do seu caráter 
soberano, que não podem ser delegadas a particulares, tais como defesa, 
segurança, legislação, polícia, justiça e relações exteriores, sendo que de outro lado, 
ficariam regidas pelo princípio da subsidiariedade basicamente as atividades de 
cunho social, tais como saúde, educação, cultura, pesquisa, assistência e cultura, e 
as atividades de cunho econômico (comerciais, financeiras e industriais), em que o 
Estado só poderia exercer de modo supletivo a iniciativa particular, ou seja, quando 
o particular não agisse ou o fizesse de forma insatisfatória. 
 
7.2 A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS PROJETOS DE 
PARCERIAS 
Podem ser objeto de Parceria a delegação de prestação ou exploração de 
serviço público, precedida ou não da execução de obra pública; a prestação de 
serviços à administração pública ou à comunidade, precedida ou não de obra 
pública, excetuadas as atividades exclusivas de Estado; a execução, a ampliação e 
a reforma de obra para a Administração Pública; a exploração de serviços 
complementares ou acessórios, de modo a dar maior sustentabilidade financeira ao 
projeto, redução do impacto tarifário ou menor contraprestação governamental. 
Para garantir a sustentabilidade financeira de um projeto deveremos encontra 
meios de viabilizar meios alternativos para remuneração da parceria a ser 
implementada que não seja apenas os recursos do Estado executor. Uma alternativa 
que poderia ser considerada seria a a agregação de recursos físicos e financeiros 
advindos da própria parceria, que assegurassem a própria sustentabilidade 
financeira do projeto, mediante a possibilidade de exploração pelo Parceiro Privado 
de atividades extras e de cunho estritamente privado, de forma concomitante, com a 
prestação do serviço ou obra de interesse público, vedado qualquer desvio de 
finalidade no que tange à parcela estritamente pública. 
Teríamos assim uma maior versatilidade e utilidade da parceira público-
privada, mediante uma execução autossustentável cuja execução pode ocorrer em 
etapas distintas, independentes, segmentadas e contínuas, com a possibilidade da 
iniciativa privada e pública se engajar, conforme o real interesse social e/ou 
econômico na Parceria pretendida, que demonstrará de acordo com o tempo e as 
fases a serem desenvolvidas. 
 
7.3 A REPARTIÇÃO OBJETIVA DOS RISCOS ENTRE AS PARTES, INCLUSIVE 
AS REFERENTES A CASO FORTUITO, FORÇA MAIOR, FATO DO PRÍNCIPE E 
ÁLEA ECONÔMICA EXTRAORDINÁRIA 
 
7.3.1 A REPARTIÇÃO OBJETIVA DOS RISCOS ENTRE AS PARTES 
 
A questão dos riscos é de fundamental importância para as parcerias público-
privadas, com enorme relevância na definição da equação econômico-financeira, 
para a estipulação da remuneração do parceiro privado e na definição das garantias 
e seguros no futuro contrato. 
Uma característica inovadora dos contratos de parceria público-privada é a 
previsão legal da repartição objetiva dos riscos entre as partes constante do art. 5º, 
inciso III, observando a capacidade do contratado. A transferência de riscos é 
fundamental para que o contrato alcance o objetivo principal de sua constituição, a 
eficiência econômica na prestação de serviços públicos. 
Ademais, se a repartição dos riscos é prevista pela Lei vigente e claramente 
explicitada no edital, e, ainda, respeitada as condições objetivas do particular de se 
responsabilizar por tais riscos, não há de se falar em quebra do equilíbrio 
econômico-financeiro, muito menos em desvirtuamento das condições efetivas da 
proposta. 
A alocação de cada risco do projeto, a partir dessas avaliações de cunho 
objetivo, com sua atribuição ao parceiro público e ao privado na medida das 
capacidades para gerenciá-lo é bastante condizente com o sentido inovador da lei 
brasileira ao preceituar a “repartição objetiva de riscos entre as partes”. 
A distribuição de riscos entre os parceiros, além das hipóteses de caso fortuito, 
força maior, fato do príncipe e álea econômica extraordinária, às quais a lei faz 
expressa menção, também deve abarcar os riscos próprios da álea ordinária (ou 
empresarial) e outras circunstâncias relacionadas com a álea administrativa – na 
qual a doutrina já inclui o fato do príncipe, como o fato da administração e até 
mesmo a alteração unilateral do contrato, pois que essa prerrogativa da 
Administração Pública, albergada pela supremacia do interesse público, não foi e 
nem deveria ser derrogada pela Lei das PPP, embora não se coadune com o grau 
de segurança que se pretende imprimir aos contratos de parceria. 
A repartição dos riscos entre o parceiro público e o privado, em geral, tem sido 
vista como remédio, em favor deste último, para as distorções da teoria do risco no 
regime de concessão comum, a qual acabaria por transferir ao particular o 
cumprimento de todos os princípios do artigo 37 da Constituição Federal, que dispõe 
sobre a Administração Pública. Por outro lado, verifica-se que o dispositivo da Lei n. 
11.079/2004 permitiria a atribuição de responsabilidade aos agentes privados em 
decorrência de eventos que, tradicionalmente, são considerados excludentes dessa 
responsabilidade, o que iria de encontro à orientação que perpassou toda a 
elaboração do projeto de lei. A Lei das PPP é imprecisa no que tange ao 
compartilhamento dos riscos entre o parceiro público e o privado. Na forma genérica 
e abstrata, não existe óbice constitucional à orientação da Lei n. 11.097/2004, 
sobretudo se a norma tem em vista adotar mecanismos de preservação do projeto, 
observada a aptidão de cada parceiro para gerir os riscos a um menor custo. 
 
7.3.2 CASO FORTUITO, FORÇA MAIOR, FATO DO PRÍNCIPE 
 
Na concessão comum, como ensina Bandeira de Mello13, não há essa 
repartição, pois, o concessionário age por sua conta, riscos e perigos, por serem 
estes inerentes a qualquer empreendimento, quais sejam os que respondem à 
chamada álea ordinária, correspondente aos riscos normais de qualquer 
empreendimento e que devem ser suportados pelo concessionário, não ensejam 
qualquer cobertura por parte do poder concedente. 
 
13
 MELLO, Celso A Bandeira de. Curso de direito administrativo. 20. ed. revista e atual. até a EC 48/2005. São 
Paulo: Malheiros, 2006, p. 736 
De outra parte, as áleas extraordinárias são as onerações imprevisíveis e 
supervenientes que impedem a continuidade do contrato. Elas podem ser de duas 
naturezas: administrativa e econômica. 
As áleas administrativas são os atos oriundos do Poder Público que se 
manifestam sobre o contrato que pode tomar determinadas providências para 
melhor adequá-lo ao interesse público. Neste caso, aplica-se a teoria do fato do 
príncipe que é uma medida de ordem geralque repercute reflexivamente sobre o 
contrato. 
No que concerne ao fato do príncipe, Maria Di Pietro14 afirma não ser possível 
onerar-se o parceiro privado com o encargo de repartir riscos oriundos do fato do 
príncipe, pois o princípio constitucional da responsabilidade (objetiva) do Estado, 
contida no artigo 37, § 6º da CF, impediria tal solução. 
A autora conclui que a repartição de riscos só pode ocorrer quando o 
desequilíbrio decorrer de fato estranho à vontade de ambas as partes, como ocorre 
nos casos de força maior e de álea econômica extraordinária, dando esta última, 
margem à aplicação da teoria da imprevisão. Esta teoria, também chamada de 
cláusula rebus sic stantibus, consiste no reconhecimento de que a ocorrência de 
acontecimentos novos, imprevisíveis pelas partes e a elas não imputáveis, refletindo 
sobre a economia ou na execução do contrato, autorizam sua revisão, para ajustá-lo 
às circunstâncias supervenientes. 
Com relação à responsabilidade objetiva do Estado (37, § 6º, CF), é oportuno 
citar decisão do STF: 
Entre as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço 
público a que alude o § 6º do art. 37 da CF se incluem as 
permissionárias de serviços públicos. Pela teoria do risco 
administrativo, a responsabilidade objetiva permite que a pessoa 
jurídica de direito público ou de direito privado demonstre a culpa da 
vítima, a fim de excluir a indenização ou de diminuí-la (RE 206.711-
3- RJ, STF/1ª T., RT 770/183). 
O parágrafo 6º do Art. 37 da CF 88, que trata da responsabilidade objetiva do 
Estado tem o seguinte texto: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito 
 
14
 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na administração pública. 5. ed. 2. reimpressão. São Paulo: Atlas, 
2006, p. 171. 
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus 
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso 
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. 
De outro lado, as áleas econômicas são atos externos, imprevisíveis ou 
inevitáveis que repercutem no contrato. Como exemplo tem-se as crises 
econômicas. Neste caso, aplica-se a teoria da imprevisão para que o equilíbrio 
econômico-financeiro seja mantido. 
Em se tratando de PPPs o artigo 5º, inciso III, da Lei das Parcerias determinou 
que tanto os riscos extraordinários, quanto os operacionais devem ser repartidos. O 
parceiro privado ao ingressar em uma PPP, terá uma enorme dificuldade, ou quem 
sabe lhe seja absolutamente impossível mensurar completamente as contingências 
caso tenha que concorrer nos riscos extraordinários. 
Assim, se não houver um mecanismo regulamentar ou contratual que permita a 
previsão e, eventualmente, limitação de riscos extraordinários, o parceiro particular 
pode ser obrigado a incluir, em sua proposta, custos elevados com seguro e 
garantias, encarecendo demasiadamente a obra. Se optar por não o fazer, ficará 
quase ao sabor do acaso, com grandes possibilidades de interrupção do projeto por 
incapacidade econômica e financeira. 
Assim, amparados nos dois dispositivos da Lei 11.079/2004 que tratam 
expressamente da repartição de riscos, o Inciso VI do artigo 4º que diz, 
textualmente, que deve haver a “repartição objetiva de riscos entre as partes”, e no 
Art. 5º, III,15 cabe ao Poder Público, por meio de regulamentos, ou os próprios 
parceiros, quando da negociação dos contratos de PPP, devem definir com clareza 
e na proporção das respectivas capacidades, tanto os riscos operacionais quanto os 
riscos extraordinários que pretendem assumir. É conveniente que os riscos 
extraordinários, quando suportados também pelo particular, sejam limitados, 
evitando, assim, ônus excessivos que possam obrigá-lo a suspender suas 
atividades, o que iria contrariar, em última análise, o próprio interesse público. 
 
 
 
15
 Art. 5º As cláusulas dos contratos de parceria público-privada atenderão ao disposto no art. 23 da Lei 8.987, de 
13 de fevereiro de 1995, no que couber, devendo também prever: 
(...) 
III – a repartição de riscos entre as partes, inclusive os referentes a caso fortuito, força maior, fato do príncipe e 
álea econômica extraordinária. 
8. PROCESSOS LEGAIS PARA A CELEBRAÇÃO DAS PPP 
 
Um projeto de PPP passa por trâmites licitatórios semelhantes aos de uma 
obra pública ou de uma concessão comum. Além disso, como é um processo de 
concessão que envolve pagamentos governamentais, há uma série de 
procedimentos que devem ser adotados, bem como a necessidade de elaborar um 
contrato minucioso que ofereça garantias ao governo e ao agente privado de que a 
execução do projeto se dará conforme planejado. Para os projetos federais, a lei 
exige, ainda, a manifestação da Secretaria do Tesouro Nacional e a aprovação pelo 
Comitê Gestor de PPP – CGP, além de, eventualmente, outras autorizações. 
O atual marco regulatório das contratações públicas, formado pela Lei 
8.666/1993 (contratação administrativa), pela Lei 8.987/1995 (concessão da 
prestação de serviços públicos) e por outras que lhes são correlatas, é 
complementado pela Lei 11.079/2004, em face das peculiaridades dos objetos da 
contratação no regime de parcerias público-privadas. 
Assim como nas concessões comuns, as concessões no regime de parcerias 
deverão ser licitadas na modalidade de concorrência, cuja abertura, entretanto, 
condiciona-se a autorização da autoridade competente, fundamentada em estudo 
técnico atualizado que justifique a contratação no regime de PPP e demonstre que 
as despesas não afetarão as metas de resultados fiscais e o limites das obrigações 
contraídas pela Administração, além de estimativa de impacto orçamentário-
financeiro durante a vigência do contrato, previsão e compatibilidade com as leis 
orçamentárias (PPA, LDO e LOA), estimativa de fluxo positivo de recursos públicos 
para o cumprimento das obrigações, consulta pública e licenciamento ambiental. 
 Embora a lei condicione a abertura do certame licitatório a estudo prévio que 
justifique a contratação no regime de PPP, ou seja, à demonstração da efetiva 
vantagem em termos de custo e benefício. 
Em relação à demonstração da efetiva vantagem em termos de custo e 
benefício, a experiência europeia mostra que esta avaliação somente poderá ser 
feita ao final do processo de licitação. 
Deverão ainda ser precedidas de autorização legislativa específica as 
concessões cuja contraprestação paga diretamente pela Administração Pública, 
além das tarifas cobradas dos usuários, exceder 70% do total da remuneração do 
parceiro privado. Além dos critérios de julgamento previstos na Lei 8.987/1995, 
poderá ser adotado o de menor valor da contraprestação ou ainda o da ponderação 
deste critério com o de melhor técnica. 
Exame prévio das propostas técnicas, antes do julgamento, também poderá ser 
realizado apenas para fins de qualificação. 
Com vistas a estimular a disputa, o edital poderá definir que as propostas 
econômicas escritas serão seguidas de lances em viva voz, na ordem inversa da 
classificação das propostas escritas, os quais poderão ser restritos aos licitantes 
cujas propostas escritas não ultrapassem de 20% o valor da melhor delas. Essa 
opção assemelha-se à modalidade do pregão (Lei 10.520/2002 e Decreto 
3.555/2000). 
O edital poderá também estabelecer a inversão da ordem das fases de 
habilitação e julgamento, com a adjudicação do objeto ao primeiro licitante 
habilitado, observada a ordem de classificação das propostas econômicas. 
Outra novidade é a possibilidade de saneamento de falhas, de 
complementações ou correções