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Prof. Vinícius Albuquerque História: Novos Temas e Possibilidades UNIDADE II Proposta do Estudo Disciplinar: Ampliar o repertório e a capacidade crítica dos professores e alunos. Apresentar possibilidades de trabalho em sala de aula para além de temáticas tradicionais. Discutir temas contemporâneos e pertinentes a toda a sociedade e aos mais diversos grupos que dela participam. Sinalizar a existência de múltiplas abordagens de assuntos em História sem abandonar noções de historicidade, construção histórica e memória. Novos temas nas aulas de História No percurso/processo de aprendizagem nos deparamos com diversas especificidades que devem ser trabalhadas de maneira reflexiva pelos professores. Para anos iniciais do Ensino Fundamental, por exemplo, deve existir a preocupação com fontes históricas, relações com o passado, direitos humanos e diversidade étnico-cultural, além da história da infância no Brasil. Novos temas nas aulas de História – Considerações gerais O professor pode lançar mão de práticas como a construção de conhecimentos significativos com charges, estudos sobre HQs, monumentos, artes, literatura, narrativas históricas na internet e mesmo os videogames. ONHB - Experiência extremamente sofisticada e rica desenvolvida na UNICAMP e que em 2019 entra em sua 11ª Edição. Em nosso horizonte, não deve se situar apenas o conteúdo estabelecido para o ensino e que, algumas instituições, pode parecer que abrange desde a pré-história até o século XXI. A atividade é mais complexa do que transmitir/transferir/impor/falar de algum assunto. Deve-se pensar em finalidades tais como a formação cidadã. Novos temas nas aulas de História – Considerações gerais Formato das atividades desse Estudo Disciplinar: Apresentação de temas variados. Apresentação dos temas específicos com autores e textos. Divisão dos conteúdos/temáticas em Unidade I e Unidade II. Leitura dos textos e propostas de problematização. Novos temas nas aulas de História Unidade II Meio Ambiente e Ensino de História: Gilmar Arruda. Consciência histórica, ensino de história e a educação ambiental. História & Ensino, Londrina, v. p.113-122, ago, 2006. http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/viewFile/11724/10369. História do tempo presente: Flávia Eloisa Caimi e Letícia Mistura. Apropriações do tempo presente no livro didático de história: o caso das Jornadas de Junho de 2013. História & Ensino, Londrina, v. 24, n.2, p.163-195, jul./dez. 2018. http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article /viewFile/35074/24931. Novos temas nas aulas de História – Temas e Textos – Unidade II Gilmar Arruda. Consciência histórica, ensino de história e a educação ambiental. Objetivo do artigo: ampliação do conceito de "consciência histórica", de Rüsen, para uma “Consciência histórico-ambiental” ou “Consciência sócio-histórico- ambiental”. Hobsbawm já alertava para a importância do tema para o século XXI. Estocolmo, 1972 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Estabelecimento da relação entre o problema da Ecologia com a Educação. Texto 3 – O meio ambiente e o ensino de História Princípio 19: “É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais dirigido tanto às gerações jovens como aos adultos, e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiada, para ampliar as bases de uma opinião bem informada e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e da coletividade, inspirada no sentido de sua responsabilidade quanto à proteção e melhoramento do meio em toda sua dimensão humana”. Aumento da importância da relação entre preservação, ecologia e educação: Agenda 21 decorrente da Rio-92: o papel da educação ambiental seria, em primeiro lugar o de “clarificar o conceito de sustentabilidade”. (MININNI-MEDINA, 2001:45). Da necessidade da educação ambiental Gilmar Matos não discute se as declarações e documentos são utópicos ou não. Deseja a ampliação do conceito de “consciência histórica” de Rüsen, para “consciência histórico-ambiental” ou “consciência sócio-histórico-ambiental”. Hobsbawm (1998): todos precisam de um passado e, este passado, aparece-nos em termos de referência concreta, entre outras coisas, nos patrimônios históricos, arquitetônicos, naturais etc. Constituem-se no que poderíamos chamar de o “chão de nossa história”. Mas mais do que precisar de um passado, o ser humano precisa da história. Precisa, segundo RUSSEN (2001), localizar-se no tempo. O homem tem necessidade, na sua vida prática, cotidiana, de localizar-se no tempo, o que é uma necessidade antropologicamente universal. Ampliação de conceitos O resultado desta necessidade aparece entre nós no que o autor chama de “consciência histórica”. Ambivalência Antropológica: o homem só pode viver no mundo, isto é, só consegue relacionar-se com a natureza, com os demais homens e consigo mesmo se não tomar o mundo e a si mesmo como dados puros, mas sim interpretá-los em função das intenções de sua ação e paixão, em que se representa algo que não são. (idem, 57). “A consciência histórica é, assim, o modo pelo qual a relação dinâmica entre experiência do tempo e intenção no tempo se realiza no processo da vida humana”. (idem, p. 58) A necessidade de debater a “consciência histórica” As diferenças existentes entre a "consciência histórica" e "pensamento histórico científico" são esclarecidas por Rüsen: " ... o pensamento é um processo genérico e habitual da vida humana. A ciência é um modo particular de realizar este processo. O homem não pensa porque a ciência existe, mas ele faz ciência porque pensa." (idem, p. 54) O homem produz a sua consciência histórica, que não é propriamente um pensamento científico sobre a história, interpretando e incorporando dois elementos fundamentais na sua vida; a experiência e a intenção. Relações entre homem e a natureza historicamente constituídas: necessidade do homem localizar-se no tempo e no espaço e as relações entre a "consciência histórica" e a "consciência espacial”. O homem localizado no tempo e no espaço Gilmar Matos deseja a ampliação do conceito de “consciência histórica” de Rüsen, para: a) “consciência histórico-ambiental” ou “consciência sócio-histórico-ambiental”. b) “consciência holística” ou “consciência ambiental”. c) “consciência ambiental” ou “consciência sociológica”. d) “consciência política” ou “consciência metodológica”. e) “consciência ecológica” ou “consciência antropológica”. Interatividade Resposta Gilmar Matos deseja a ampliação do conceito de “consciência histórica” de Rüsen, para: a) “consciência histórico-ambiental” ou “consciência sócio-histórico-ambiental”. b) “consciência holística” ou “consciência ambiental”. c) “consciência ambiental” ou “consciência sociológica”. d) “consciência política” ou “consciência metodológica”. e) “consciência ecológica” ou “consciência antropológica”. Existem diferenças entre a "consciência histórico-espacial' e a forma específica de pensamento científico cabe também discutir função e as relações estabelecidas entre ambas. Rüsen afirma que a historiografia, a forma científica do pensamento histórico, possui uma relação de orientação, não no sentido de correção, mas como instrumento para a vida cotidiana, de posicionamento no tempo. Necessidade de reflexão: “pensamento científico” e orientador da “educação ambiental”. Texto 3 – O meio ambiente e o ensino de História Agenda 21, no capítulo 36: “...em todos os programas de ensino, em particular a análise das causas dos principais problemas ambientais e de desenvolvimento em contexto local, recorrendo para isso às melhores provas científicas disponíveis”. Uma das associações mais fortes entre a natureza e a história, ou das relações entre história e espaço,entre identidade e espacialidade, pode ser percebida no surgimento do “Estado-nação-moderno”. O Estado Contemporâneo ergueu-se sobre a delimitação precisa do território e a imposição de uma ordem jurídica homogênea. Meio Ambiente e a Agenda 21 A nação ergueu-se sobre a consciência da unidade cultural e do destino de um povo, expressa nos símbolos da pátria e apoiada na distinção entre o natural e o estrangeiro. O Estado-nação associou definitivamente os conceitos de povo e nação ao território, estabelecendo os vínculos de natureza abstrata - ou seja: ideológicos - entre eles." (MAGNOLI, 1997, p.15). A natureza tornou-se, então, especialmente a partir do século dezenove, o depositário de um sentido comum de pertencimento. As narrativas sobre o espaço, especialmente as da geografia e da história, investiram enorme esforço na constituição da delimitação e individualização das culturas e do território. Problematização da concepção de nação A questão do território foi de grande importância na construção das nacionalidades e das nações a partir do século XIX. Os eventos teriam acontecido em determinado território que é projetado, anacronicamente, para o passado. Sobre este território, denominado de nacional, projetavam seus conhecimentos para referendar possibilidades de hegemonia e soberania da nação em construção de um sentido de "comunidade. Assim a nação e o nacionalismo seriam resultado de uma "comunidade imaginada". Imaginada como limitada e soberana: limitada porque não é possível conhecer todos os que comporiam a nação; por pressupor uma igualdade que não existe de fato, devido aos limites do próprio território e de soberania limitada, pressupõe que a lei tem vigência somente nos limites daquele território. (ANDERSON, 1989). A questão do território e a Comunidade Imaginada Parece não haver dúvidas que a história seja como "consciência histórica" ou quanto pensamento científico, contribuiu muito com a legitimação do imaginário regional/nacional, do “chão da nossa história”. Isto significa dizer que ao mencionar “o chão de nossa história” está implícito a junção de dois poderosos suportes para a construção de identidades: o tempo/narrativa e o espaço/natureza. A nação é em tempos modernos/contemporâneos o mais forte "chão da nossa história" que se conhece. A consciência história e a problematização da nação É necessário considerar o passado concreto do espaço onde o aluno viveu ou vive, a sua relação e a de seu grupo social, a natureza com a vivenciada ou partilhada em termos de memória social. Um dos grandes problemas da educação ambiental é a "descontextualização” ou a “estetização” da natureza. Quatro grupos de experiências sobre educação ambiental: 1) Considera a educação ambiental as atividades relativas a um evento do calendário escolar ou data de festas nacionais, realiza-se atividades de mobilização da escola, confecciona cartazes, etc. 2) Vincula educação ambiental a atividades práticas voltadas a problemas concretos. Faz coleta seletiva, planta-se árvores, etc. Diferentes experiências sobre Educação Ambiental 3) Grupo que enfatiza o contato com a natureza, definida como “áreas naturais”. O contato se dá pela observação e estudo. 4) Grupo que entende a educação ambiental através de “estudos da realidade” e busca de soluções vinculadas ao exercício da cidadania. (2002, p.24/25) Para Tamaio existe a ausência de aprofundamento e reflexão sobre a questão: construção de um conceito de natureza, que nega a interação com o homem, numa abordagem dualista da relação homem/natureza, margem à construção de uma concepção a-histórica de natureza (...). ambiente sócio-histórico é o elemento-chave para a compreensão do espaço vivenciado pela criança, seja natural ou construído." (idem, p.26). Diferentes experiências sobre Educação Ambiental Existe uma “consciência ambiental” formada pela experiência vivenciada pelos alunos na relação com a natureza de seu local de moradia e com o tempo contemporâneo, que lhe informa os valores para definir o que é natureza. “Consciência ambiental” não é, e não poderia ser, apenas o resultado das práticas ou memórias herdadas de seu grupo social, mas também, em tempos de “ecologização” da sociedade, do conjunto de informações disponíveis, que circulam intensamente no social através da mídia, do Estado, das ONGs, das empresas, etc. Permitir ao aluno estabelecer elementos para definir o que é natural, estabelecer discursos em torno do tema, julgar práticas e experiências cotidianas. A formação e novos valores nas aulas de História As relações homem/natureza historicamente constituídas no espaço do aluno não podem ser ignoradas na inserção do campo da história na educação ambiental. Deve-se refletir como se deu historicamente a relação e o processo de apropriação do entorno e, a partir daí, investigar como a “consciência ambiental” se apresenta. Inexistência de consciência ou de uma consciência equivocada que precisaria da intervenção dos atores especializados - professores, cientistas, que precisaria de militantes para ser corrigida, como pressupostos idealizados da própria natureza. Ideia de que o progresso só existiu porque a floresta foi eliminada. Consciência ambiental? A "ecologização" da sociedade nas últimas décadas forçou as escolas, mas não nas suas atividades cotidianas, atividades de "educação ambiental" com seus alunos, que muitas vezes ocorrem visitando aquelas áreas remanescentes. O que resta da “natureza natural” tem sido visto normalmente como “trechos” de florestas ainda intactos ou razoavelmente preservados. Existe uma "edulcoração" e artificialização da natureza, criando uma ilusão de harmonia do homem com a natureza. De outra forma a natureza é quase sempre um "resto" de mata que se visita nos dias festivos - dia da árvore - se faz uma pesquisa de campo - quando possível, ou ainda aquela que se vê em fotos, pinturas, filmes exibidos para mostrar a “natureza” original. Problemas sobre a ecologização e a artificialização da natureza Relação concreta entre a ação humana e a natureza ao longo do tempo, caracterizada por formas diversas, depende do grupo social a que se remete, se perde e os alunos são transformados em responsáveis pela "catástrofe ecológica contemporânea“, sem distinção social nenhuma. As possibilidades de "orientação" da historiografia, isto é, do pensamento científico, como quer Rüsen, estaria em trabalhar o aparecimento de uma reflexão lógica e racional sobre o processo concreto de mudança da paisagem natural. O conceito de "consciência histórica ambiental" pode ser uma alavanca para pensarmos concretamente em ações educacionais que remetam ao real processo de mudança da paisagem, da natureza. Os grupos sociais e as diversas relações entre homens e natureza Podemos afirmar que é necessário considerar o passado concreto do espaço onde o aluno viveu ou vive, a sua relação e a de seu grupo social, a natureza com a vivenciada ou partilhada em termos de memória social. Assim: a) A ação do indivíduo é superior ao coletivo. b) Pode-se pensar a história ambiental como invenção de ecologistas. c) Uma das maiores dificuldades é separar o que é falso ou verdadeiro nas redes sociais. d) Um dos problemas fundamentais é que quase não existe mais a natureza pura. e) Um dos grandes problemas da educação ambiental é a “descontextualização” ou a “estetização” da natureza. Interatividade Resposta Podemos afirmar que é necessário considerar o passado concreto do espaço onde o aluno viveu ou vive, a sua relação e a de seu grupo social, a natureza com a vivenciada ou partilhada em termos de memória social. Assim: a) A ação do indivíduo é superior ao coletivo. b) Pode-se pensar a história ambiental como invenção de ecologistas. c) Uma das maiores dificuldades éseparar o que é falso ou verdadeiro nas redes sociais. d) Um dos problemas fundamentais é que quase não existe mais a natureza pura. e) Um dos grandes problemas da educação ambiental é a “descontextualização” ou a “estetização” da natureza. Flávia Eloisa Caimi e Letícia Mistura. Apropriações do Tempo Presente no livro didático de História: o caso das Jornadas de Junho de 2013. Nas palavras das autoras: “Parte-se do pressuposto de que o tempo presente constitui um objeto de análise privilegiado do historiador, cuja contribuição é produzir reflexões de natureza histórica que combatam o efêmero, produzam sentidos da experiência diante do esquecimento e forneçam elementos de inteligibilidade do contexto. Investiga-se como o tema das Jornadas de Junho de 2013 é apresentado nos livros didáticos de História, tomando como corpus as 19 coleções inscritas no PNLD 2017, destinadas aos anos finais do ensino fundamental. Texto 4 – História e Tempo Presente Análise da narrativa historiográfica adotada, as propostas de atividades, as interpelações positivas e negativas atribuídas ao assunto, os materiais que subsidiam o tema e, por fim, as orientações destinadas aos professores para ancorar a abordagem em sala de aula, conforme disposto no Manual do Professor. Conclui-se que a narrativa das Jornadas de Junho de 2013 nos livros didáticos de História é predominantemente descritiva, baseada em fontes jornalísticas, com restritas possibilidades de estabelecer análises diacrônicas do fenômeno. Há, todavia, abordagens que trazem os eventos de forma problematizadora, expondo a conjuntura a partir de diversos ângulos e dando voz a diferentes sujeitos/grupos sociais.” Análise da narrativa histórica A questão do presente no estudo da História. Se nosso presente é doravante uma sucessão de flashes, de delírios partidários e de jogos de espelhos, como sair dele para erigi-lo, em objeto de investigação histórica? (RIOUX, 1999, p. 41). Um dos mais extensos e polêmicos debates no âmbito da escrita da História é formulado em termos epistemológicos, ao perguntar se o tempo presente pode se constituir como objeto de investigação histórica. História recente, história imediata, história próxima, história do tempo presente, história do presente? Essa questão conceitual não apresenta nitidez entre os autores (...) semanas, meses, anos ou décadas? História do presente, polêmica conceitual? Conceituação de Hobsbawm (1995, 2011) sistematizada por Delgado e Ferreira (2013, p. 23): [...] o tempo presente é o período durante o qual se produzem eventos que pressionam o historiador a revisar a significação que ele dá ao passado, a rever as perspectivas, a redefinir as periodizações, isto é, olhar, em função do resultado de hoje, para um passado que somente sob essa luz adquire significação. Para além dos embaraços semânticos ou da fluidez cronológica, a pergunta fundante é se o presente pode ser objeto da História (CHAUVEAU; TÉTART, 1999; RIOUX, 1999; HOBSBAWM, 1995; FICO, 2012; HARTOG, 2013). Hobsbawm e o tempo presente Hobsbawm (1995) Escrever a História de seu próprio tempo é um desafio para o historiador. 1) O problema da época de nascimento e os problemas geracionais entre jovens e antigos historiadores; 2) O problema da perspectiva sobre o passado e de como as mudanças, que ocorrem no curso dos acontecimentos e do processo histórico, incidem sobre o olhar do historiador, tendo em vista que o registro do passado se modifica à luz da história subsequente? (p. 109); 3) O problema de como escapar dos pressupostos compartilhados, uma vez que o padrão geral das ideias sobre o próprio tempo se impõe à observação do historiador. Hobsbawm e a escrita de seu próprio tempo Rioux (1999) considera desconcertante a expressão História do presente, mostrando que não se trata do período mais recente, nem de um conceito de substituição para a crise da temporalidade em sociedades tomadas pelo efêmero, tampouco diz respeito a um meio regulador do caos instalado nas ciências sociais. A preocupação com a possibilidade de constituir uma reflexão de natureza histórica que combata o efêmero, que produza sentidos da experiência histórica, que mostre evidências científicas diante do esquecimento, da amnésia ou do delírio ideológico. História do presente: combate ao efêmero Sobre a necessidade de reflexão: [...] como não sentir, além disso, que uma reflexão histórica sobre o presente pode ajudar as gerações que crescem a combater a atemporalidade contemporânea, a medir o pleno efeito destas fontes originais, sonoras e em imagens, que as mídias fabricam, a relativizar o hino à novidade tão comumente entoado, a se desfazer desse imediatismo vivido que aprisiona a consciência histórica como a folha de plástico protege no congelador um alimento que não se consome? (RIOUX, 1999, p. 46). Disputas sobre a narrativa a ser legitimada, o reconhecimento das diferentes vozes é condição primeira para a apresentação de temas dessa natureza, seja na historiografia, seja nos livros didáticos. História do presente: combate ao efêmero e as disputas de narrativas Fico, 2012, p. 44, “uma das principais peculiaridades da História do Tempo Presente é a pressão dos contemporâneos ou a coação pela verdade, isto é, a possibilidade desse conhecimento histórico ser confrontado pelo testemunho dos que viveram os fenômenos que busca narrar e/ou explicar? Essa forte imbricação com a política, na perspectiva do autor, decorre do fato de que sujeito e objeto estão ambos mergulhados na mesma temporalidade, que ainda está sendo. De fato, a marca central da história do tempo presente – seu entrelaçamento com a política – decorre da circunstância de estarmos, sujeito e objeto, mergulhados em uma mesma temporalidade que, por assim dizer, não terminou. História do tempo presente e a política Questionamentos sobre o que se ensina e como se ensina na escola, na disciplina História, são comuns em qualquer sociedade democrática. Necessária a vinculação do que se ensina na escola ao saber de referência: o conhecimento produzido por meio da análise exaustiva de fontes, de métodos rigorosos, de campos explicativos claramente anunciados, enfim, saberes produzidos a partir do uso de regras que regem a pesquisa histórica. Ocorre que há temas que compõem os livros didáticos sobre os quais não se têm ainda abordagens apoiadas na ciência de referência. O tempo presente no livro didático e na História escolar Choppin (2004, p. 561) alerta que: “escrever a história dos livros escolares — ou simplesmente analisar o conteúdo de uma obra — sem levar em conta as regras que o poder político ou religioso, impõe aos diversos agentes do sistema educativo, quer seja no domínio político, econômico, linguístico, editorial, pedagógico ou financeiro, não faz qualquer sentido.” Certeau (2007, p. 66): “toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção sócio-histórico, político e cultural” e sob esse aspecto é que as Jornadas de Junho de 2013 devem ser problematizadas. Certeau e a produção em um lugar sócio-histórico Nesse corpus, procurou-se identificar a narrativa historiográfica adotada, as abordagens positivas e negativas, as propostas de atividades e as orientações e os materiais destinados aos professores. Análise com duas categorias: 1) a proposta de narrativa histórica (o modo como é tratado o assunto), por meio dos três primeiros indicadores; 2) a proposta de aprendizagem histórica (por que tratar deste assunto), por meio dois indicadores finais. Assim, pretende-se elaborar um quadro global da abordagem concedida ao tema das Jornadas de Junho de 2013 pelos livros didáticos de História. Diversas abordagens das Jornadas de Junho de 2013 A narrativa mais consensual sobre as Jornadas de Junho de 2013 a caracterizacomo o conjunto de atos, protestos e ocupações que ocorreram em dezenas de cidades do país ao longo do mês de junho de 2013 e nos meses subsequentes, cujo impulso inicial se deu contra o aumento das tarifas do transporte urbano municipal, capitaneado pelo Movimento Passe Livre (MPL) em São Paulo e a consequente reação repressiva da polícia militar sobre os estudantes. Quanto às suas origens, Mendonça (2018, p. 9) afirma: Não concordamos com o argumento de que as Jornadas foram completamente espontâneas, horizontais e sem base. Livro didático e as Jornadas de Junho: a proposta de narrativa histórica Se a pauta inicial era a revogação dos 20 centavos de aumento da tarifa, logo as razões dos protestos se multiplicaram: desigualdades sociais, cerceamento a direitos, insulamento da esfera política (MENDONÇA, 2018), apoio dos estudantes aos metroviários contra o sucateamento do metrô em São Paulo, manifestações contra a política de pacificação da Rocinha no Rio de Janeiro, baixa qualidade dos serviços públicos, denúncias de corrupção, gastos excessivos com a Copa das Confederações de 2013 e com a Copa do Mundo de Futebol FIFA de 2014, crescimento da inflação e suposto abandono das metas pelo governo federal (MEDEIROS, 2014), dentre outras. Livro didático e as Jornadas de Junho: a proposta de narrativa histórica As Jornadas evidenciaram a presença compartilhada de atores sociais das mais diversas orientações políticas nas ruas, apontando para uma pluralidade de forças sociais. Grandes manifestações com o protagonismo das juventudes não são situações inéditas no Brasil recente, podendo-se citar as mobilizações contra a ditadura, como as Diretas Já, além dos Caras Pintadas e do Movimento pela Ética na Política. Há também manifestações mais regulares, como o Grito dos Excluídos, as Marchas das Margaridas, os movimentos pela Reforma Agrária e pela habitação urbana (MST, MTST), dos atingidos por barragens, movimentos negro, indígena, etc. As Jornadas e a presença compartilhada de diversos atores sociais Os materiais também ressaltam que, na medida em que esses protestos foram tomando maiores proporções, os motivos das manifestações também foram se alargando e se tornando mais difusos. Com o crescimento do movimento, os manifestantes aprofundaram suas reivindicações, passando a criticar os baixos investimentos em Saúde e Educação, a violência policial, a corrupção e os gastos governamentais com a Copa do Mundo. Os manifestantes propunham, entre outras coisas, a “democratização da política”. As Jornadas de Junho e o alargamento das demandas Segundo estudiosos, os protestos populares de junho de 2013 no Brasil apresentaram algumas características importantes, que listamos a seguir: a) a ausência de grandes partidos e sindicatos; b) o uso intensivo de redes sociais na mobilização e organização dos protestos; c) a presença significativa de um grande número de jovens entre os manifestantes, quebrando o mito do desinteresse da juventude pela política; d) a capacidade de esses movimentos reunirem pessoas de diferentes camadas sociais. Características das Jornadas de Junho Também recebe atenção o protagonismo das pessoas: Após quase 30 anos do movimento Diretas Já e pouco mais de 20 anos após o movimento pelo impeachment de Collor, o Brasil assistiu a uma nova mobilização tão grande quanto aquelas. Ao longo do mês de junho de 2013, milhares de pessoas se reuniram nas ruas, em diferentes cidades brasileiras. O auge das manifestações ocorreu no dia 20 de junho: 1,5 milhão de pessoas se apresentaram nas ruas de 69 cidades. Se em 1984 a pauta política era clara e bem objetiva [...], em 2013 a pauta era bastante difusa. Depois de 2013, são frequentes os protestos e isso é uma novidade na sociedade brasileira, que parecia estar em “adormecimento” desde a campanha pelas Diretas Já e do movimento pelo impeachment do ex-presidente Collor. As Jornadas e os protagonismos A reação violenta das polícias contra manifestantes e também jornalistas revelou uma face repressora e problemática das forças de segurança. O uso de leis que remetiam ao período da ditadura, em plena vigência da Constituição de 1988 e de seus valores democráticos, expressou uma série de contradições da sociedade brasileira. Jornadas de Junho: manifestação, repressão e percepção social A análise das Jornadas de Junho de 2013 em materiais didáticos pode contribuir para: a) Perceber como o povo brasileiro é contrário à participação na vida pública. b) Reforçar a incapacidade do brasileiro de explicitar suas demandas sociais. c) Perceber que há abordagens que trazem os eventos de forma problematizadora, dando voz a diferentes sujeitos/grupos sociais. d) A conclusão de que os materiais didáticos são mal elaborados e feitos sem cuidado. e) A compreensão de que muitos materiais inseriram a temática apenas para serem vendidos como atualizados. Interatividade Resposta A análise das Jornadas de Junho de 2013 em materiais didáticos pode contribuir para: a) Perceber como o povo brasileiro é contrário à participação na vida pública. b) Reforçar a incapacidade do brasileiro de explicitar suas demandas sociais. c) Perceber que há abordagens que trazem os eventos de forma problematizadora, dando voz a diferentes sujeitos/grupos sociais. d) A conclusão de que os materiais didáticos são mal elaborados e feitos sem cuidado. e) A compreensão de que muitos materiais inseriram a temática apenas para serem vendidos como atualizados. Na área da política: escândalos, acusações de corrupção e interesses partidários provocaram uma troca relativamente frequente de ministros e de altos funcionários da administração pública. Em tal quadro, o descontentamento popular ganhou enorme impulso em 2013 diante das dificuldades (municipal, estadual e federal) em lidar com as demandas cotidianas da população. As passeatas são descritas como bastante violentas quanto aos confrontos entre manifestantes e policiais. Também, como aspecto que pode ser negativo, as vaias à presidenta na abertura da Copa do Mundo [...]. Em março de 2013, a avaliação positiva do governo chegava a 65%. Ao final de junho, após as manifestações, o índice despencava para 30%. As Jornadas sob o signo do descontentamento popular As condições de operações históricas: motivações teórico-metodológicas da História do tempo presente, entendemos que o livro didático de História tanto busca criar contingências de compreensão da realidade (DELGADO; FERREIRA, 2013), quanto filia-se às condições da operação histórica que lida com o presente, ao procurar combater – ainda que por meio de descrições e do apelo às fontes jornalísticas – o que Rioux (1999) entende por atemporalidade contemporânea, a experiência de suspensão do tempo presente despido de seu devir histórico. O livro didático cumpre, neste sentido, papel de vetor, nos ambientes escolares, de interpretação de um passado recente que muitas vezes se perde em um presente a-histórico, simplesmente porque o entende como objeto. A História do presente e a compreensão da realidade Embora a construção narrativa das Jornadas de Junho nos livros didáticos seja majoritariamente descritiva, não se afasta drasticamente das interpretações produzidas posteriormente (MEDEIROS, 2014; SCHERER-WARREN, 2014; MENDONÇA, 2018) – mesmo estas ainda estão imbricadas em uma temporalidade muito próxima à dos acontecimentos de 2013 e articulam-se em hipóteses e na condição de provisoriedade explicativa – condição enfrentada por qualquer explicação histórica. Utilização máxima dos materiais disponíveis: coberturas jornalísticas, fotografias, artigos de opinião – e, mesmo em sua complexidade produtiva, enfrentar o desafio de narrar um processo de acontecimentos de difícil demarcação, com efeitos que extrapolam a ambição interpretativa.Função narrativa e descritiva do livro didático Análise das propostas de atividades para os alunos. a) Atividades que solicitam análises e posicionamento sobre as questões em maior destaque no período. b) Comparação entre os diferentes períodos da História do país. c) Assistir filmes, documentários e leituras de textos. d) Análise de fotos e fatos. e) Questões opinativas (grande maioria no campo da construção de hipóteses para o futuro). f) Identificação dos movimentos. Você avalia essas mudanças de maneira positiva ou negativa? Projetos sociais do governo beneficiaram você e sua família? Você tem participado de movimentos sociais ou de mobilizações de protestos? Análise das propostas de atividades Em uma coleção consta a sugestão para que os alunos assistam ao documentário Junho: o mês que abalou o Brasil. Brasil, 2014, 72 min. Direção: João Wainer. Vídeo foi produzido pelo diretor da TV Folha, João Wainer, e conta em perspectiva cronológica, com imagens documentadas, como foram os dias de protesto que consubstanciam as chamadas Jornadas de Junho. O documentário também apresenta depoimentos de representantes dos principais movimentos atuantes (como o Movimento Passe Livre e a Mídia Ninja), comandantes da PM, sociólogos, historiadores, filósofos, psicanalistas e jornalistas que participaram da cobertura. E solicita-se que os alunos reflitam sobre as seguintes questões: 1. O que essa imagem representa? 2. Como essa cena, que ocorre em diferentes lugares do mundo, chega até você? Que mudanças possibilitam isso? 3.Qual é o seu papel na sociedade? Produção fílmica: Junho – o mês que abalou o Brasil Na sistematização e interpretação dos acontecimentos das Jornadas de Junho de 2013, dentre os 15 que optaram por trabalhar com o tema, oito livros didáticos apresentam propostas para um estudo mais aprofundado da questão. A respeito da presença de orientações específicas para o professor quanto ao desenvolvimento do tema em sala de aula, são nove livros, dentre os 15 do corpus, que as contemplam. Sistematizações das análises As atividades foram elencadas segundo as seguintes tipologias: tarefas que solicitam análises e posicionamentos dos alunos sobre as questões em maior destaque no período; comparação entre os diferentes períodos da História do país; análise de filmes, documentários e leituras de textos; análise de fotos e fatos; questões opinativas (grande maioria no campo da construção de hipóteses para o futuro das manifestações e do país) e identificação dos movimentos. Nas propostas metodológicas para interpretar esses acontecimentos, as autorias recorrem às seguintes estratégias didáticas: levantamento de conhecimentos prévios, debates, opiniões, leituras de imagens e identificação das características do movimento das Jornadas de Junho de 2013, dentre outras. Propostas de atividades abordando o tema Fico (2012) – processos imbricados politicamente, de forte apelo social, em uma temporalidade estendida –, as propostas de aprendizagem histórica do livro didático incluem interpretação, tomada de perspectiva, produção de hipóteses, comparação, trabalhos com múltiplas temporalidades e espacialidades. Tratar da História do tempo presente nos livros didáticos também possibilitou a didatização da própria operação histórica, ao entender o presente como histórico, a população como produtora dessa História e os estudantes como agentes interpretativos dela, em concordância com os pressupostos atuais da ciência de referência. Isto não remove ou absolve o livro didático dos jogos de poder em que está instituído, que correspondem a outras lógicas – editoriais, políticas, mercadológicas, pedagógicas – e muito menos é garantia de aprendizagem histórica. Fico e os processos imbricados politicamente Paul Veyne em sua obra “Como se escreve a história (1998)”, sobre os limites do trabalho do historiador ao pretender uma exposição histórica, tensionando-se infinitamente pelo peso entre uma suposta História geral como narrativa total e os acontecimentos. O que Veyne tinha a dizer sobre a característica irremediavelmente estrita das operações históricas feitas em um tempo ainda sendo vivido, um tempo “que ainda não terminou” (FICO, 2012). Paul Veyne Orientações no sentido de incentivar os alunos a estabelecerem relações com contextos diversos: Elaborar associações entre manifestações populares recentes como Occupy Street, nos EUA, analisar as manifestações brasileiras e pesquisar o caso dos estudantes de Hong Kong, que lutaram por mais liberdade política em relação à China. Manifestações na Grécia ou na Espanha. Movimentos sociais antiglobalização. Relações com contextos sociais diversos Para finalizar, sabemos que o livro didático de História é objeto constante de discussões públicas acerca de seu caráter ideológico e de sua suposta tendenciosidade para determinados posicionamentos políticos, práticas culturais e valores contemporâneos. Nele comparecem temas fortemente vinculados ao que teóricos contemporâneos denominam “questões socialmente vivas”, assuntos que ainda estão em movimento, que não foram solidamente interpretados no âmbito da ciência nem possuem consensos acadêmicos ou sociais, razão pela qual são alvos de disputas e das diversas compreensões presentes na esfera social e nas mídias. O livro didático e as discussões públicas Uma das críticas que comumente se faz ao livro didático, sobretudo ao livro de História, é a da veiculação ideológica. Contudo, o livro didático não pode ser entendido fora de seu contexto social, pois ele é, conforme já afirmamos, um objeto cultural produzido segundo as normas, a lógica e a ideologia da sociedade em que está inserido. Também, é escrito de acordo com os registros epistemológicos da sua ciência de referência, a qual, por sua vez, também não é uma ciência neutra. O livro didático, como produto discursivo, é uma forma de materialização de uma determinada ideologia, portanto, não há neutralidade e admitir a ideologia como visão de mundo significa reconhecer que a História trata, sim, da esfera política, e também da esfera econômica, social, cultural, religiosa. Livro didático e a questão ideológica O livro didático cumpre papel de vetor de interpretação de um passado recente que muitas vezes se perde em um presente a-histórico. Assim: a) É essencial perceber como os livros com conteúdo ideológicos não servem aos alunos. b) É importante relacionar o assunto debatido com demandas sociais ainda em discussão nas sociedades. c) Como veículo privilegiado de informações dos alunos em qualquer nível de escolaridade, o material didático deve ser neutro. d) É importante distanciar o conteúdo das aulas de realidade imediata. e) Essencial que os livros didáticos respeitem as cronologias tradicionais. Interatividade Resposta O livro didático cumpre papel de vetor de interpretação de um passado recente que muitas vezes se perde em um presente a-histórico. Assim: a) É essencial perceber como os livros com conteúdo ideológicos não servem aos alunos. b) É importante relacionar o assunto debatido com demandas sociais ainda em discussão nas sociedades. c) Como veículo privilegiado de informações dos alunos em qualquer nível de escolaridade, o material didático deve ser neutro. d) É importante distanciar o conteúdo das aulas de realidade imediata. e) Essencial que os livros didáticos respeitem as cronologias tradicionais. ATÉ A PRÓXIMA!
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