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Doenças Auto-imunes



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Daniela Carvalho – Turma LVI 
DOENÇAS AUTO-IMUNES 
• Definição de autoimunidade: reconhecimento do próprio como não próprio, levando a alteração funcional 
ou dano estrutural. 
o Burnet, década de 50: Dano estrutural ou funcional produzido por ação de células imunologicamente 
competentes ou anticorpos contra componentes normais do organismo. 
• Ocorrem devido a perda da tolerância imunológica -> Ruptura do poder discriminatório das células 
imunologicamente competentes em reconhecer antígenos originados do próprio organismo (próprio) 
daqueles de materiais estranhos (capacidade de diferenciar o que é próprio e o que é não próprio). 
• Pela classificação de hipersensibilidade, há 3 mecanismos de autoimunidade: 
o Atenção: a hipersensibilidade do tipo I (atopia) NÃO é autoimunidade! 
o Os tipos II, III e IV são mecanismos de autoimunidade, que caracterizam diversas doenças. 
o Pode – se ter mais de um mecanismo envolvido em uma mesma doença. 
▪ Ex 1: LES que é principalmente desencadeada por imunocomplexo circulantes (reação tipo III), 
porém tambn está presente anemia e plaquetopenia que são por reação tipo II, e encefalite 
por reação tipo IV. 
▪ Ex 2: Febre reumática que é reação tipo III, porém a cardite é por reação tipo II. 
▪ Ex 3: Alergia à medicamento principalmente reação tipo I (IgE mediada, com urticária, 
angioedema e anafilaxia), mas também pode ocorrer por reação tipo II (com plaquetopenia e 
anemia), por reação tipo III (mais grave, com vasculite) ou até por reação tipo IV (nos quadros 
mais leves é chamada de síndrome de Stevens-Johnson e nos mais graves é chamada de 
síndrome de Lyell ou NET – necrose epidérmica tóxica). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REAÇÃO DE HIPERSENSIBILIDADE TIPO II 
• Consiste primariamente da interação de anticorpos da classe IgG ou IgM contra tecidos ou células alvo 
específico. 
o Há citotoxicidade dependente de anticorpo que permite a fixação do sistema complemento e opsoniza 
favorecendo a fagocitose ou a ADCC (citotoxicidade celular dependente de anticorpo) → levará a 
destruição da célula. 
 
Daniela Carvalho – Turma LVI 
• MECANISMOS 
o Reações dependentes de complemento que levam à destruição (lise) de células ou deixam-nas 
propensas a serem fagocitadas. 
▪ Na anemia e plaquetopenia autoimune: hemácia com anticorpo ligado a superfície -> 
fagócito reconhece a hemácia como estranha -> fagocitose e destruição da hemácia e ativação 
do sistema complemento, estimulando a formação do MAC que promoverá a formação de 
poros no membrana da hemácia, além disto, o C3b também irá facilitar a opsonização e 
destruição pelo fagócito. 
 
• Citotoxicidade mediada por célula e dependente de anticorpo (ADCC). As células-alvo recobertas por IgG 
são mortas por células que possuem receptores Fc para IgG. 
o NK que irá reconhecer a hemácia ou qualquer outra célula como estranha, liberando substâncias 
semelhantes a perforina que promoverá o rompimento da celular. 
 
• Anticorpos antireceptores perturbam a função normal dos receptores. 
o Exemplo: anticorpos contra os receptores de acetilcolina prejudicam a transmissão neuromuscular 
na Miastenia grave. O anticorpo ocupará o receptor na fenda pós sináptica, reduzindo a ligação da 
acetilcolina → não há destruição e sim apenas alteração de função → perda da força muscular. 
 
• Usando como exemplo a INCOMPATIBILIDADE Rh: 
o Mãe gestante que tem na hemácia ausência do fator Rh (rr) e o feto é Rh+ (Rr) pois o pai é Rh+ (que 
é o gene dominante). 
o Na gestação ocorre trocas materno fetais de sangue que podem ser fisiológicas (principalmente 
durante o terceiro trimestre), induzida por procedimentos médicos (amniocentese – coleta do líquido 
amniótico em casos de prematuridade fetal e sofrimento fetal) ou no parto (quanto o obstetra faz a 
ordenha do cordão umbilical em direção ao bebê) → Hemácias do feto entram na circulação materna 
Daniela Carvalho – Turma LVI 
→ Estímulo à produção de anticorpos, que fará com que ocorra a produção de IgM anti-R e IgG anti-
R → somente o IgG passa a placenta (por ser um monômero), diferentemente do IgM (que é um 
pentâmero). 
o Porém, demora em média 21 dias para começar a produzir IgG, por isso quando ocorre a produção 
deste anticorpo, o bebê já está perto de nascer, não causando problemas para ele nesta primeira 
gestação. 
o Entretanto, devido ao fato de a mãe ter células de memória (memória do linfócito TCD4+ para 
estímulo da produção de anticorpo anti proteína da hemácia e memória de linfócito B para a produção 
de IgG anti-R) → Em uma segunda gestação, de um pai (Rh+), o feto que terá hemácias Rr (Rh+) → 
devido ao fato de a mãe já estar sensibilizada, este IgG anti R passará a placenta e irá se ligar as 
hemácias do feto, logo no início, causando opsonização destas células → Estas hemácias opsonizadas 
por anticorpos serão destruídas por fagócitos (reconhece como algo estranho e destrói via radicais 
mediados por oxigênio), além disto haverá ativação do o sistema complemento (via clássica – 
liberação de C3b que opsoniza ainda mais a hemácia, facilitando a fagocitose; libera MAC 
promovendo a destruição da hemácia por formação de poros; e liberação das anafilotoxinas que 
aumentam o influxo de células inflamatórias, e com isto aumentando o potencial de fagocitose). 
o A destruição destas hemácias pela fagocitose ocorre principalmente no baço → esplenomegalia. 
o Além disto, devido ao fato de a hemácia estar com anticorpos em sua superfície, será reconhecida 
pelas células NK → por ADCC (citotoxicidade celular dependente de anticorpo) liberará substâncias 
semelhantes a perforina (contribuindo ainda mais para a destruição do eritrócito). 
o Quanto mais grave a destruição das hemácias fetais (depende da quantidade de IgG materna -> 
quanto mais contato do sangue do feto com o da mãe, maior a produção) maior o risco para o feto. 
▪ Se for intraútero → bebê ficará com anemia e desenvolverá hipóxia fetal (a taxa cai tanto 
que prejudica a vida do feto, sendo necessário a interrupção da gestação). 
▪ Se for pós parto → haverá aumento da taxa de bilirrubina indireta pela hemólise, que 
impregna nos núcleos da base causando uma doença chamada Kernicterus (neuropatia 
grave). Conforme o nível de bilirrubina indireta, o bebê deve fazer fototerapia (quebra a 
bilirrubina indireta, impedindo que se impregne nos núcleos da base), ou se o quadro for 
muito grave, deve – se faze exosanguíneo transfusão (troca total do sangue do RN por um 
indivíduo que não tenha anticorpo na circulação). 
o Ou seja, é uma doença grave, que depende da sensibilização da mãe em uma primeira gestação. 
o Pode – se bloquear o desenvolvimento desta doença por meio da administração, no pós parto da 
primeira gestação, da imunoglobulina anti IgG (Rogan) para a mãe → irá bloquear o IgG circulante 
produzido pela gestante. Deverá ser administrado após todas as gestações, com o objetivo de se evitar 
que o próximo feto tenha incompatibilidade anti Rh. 
o Podemos identificar a sensibilização da mãe, medindo – se a presença de anticorpo em suas hemácias 
→ Coombs indireto das mãe (sensibilização na mãe). 
o Para identificar a doença no feto, dosando a quantidade de IgG anti hemácia → Coombs direto 
(doença no bebê). 
o A gravidade da doença é verificada pelo hemograma (pela quantidade de hemólise) → quanto mais 
baixa a quantidade de hemoglobina, mais grave é a doença; quanto maior a quantidade de 
reticulócitos na periferia e o tamanho do baço, maior a hemólise também. 
▪ Esta hemólise ocorre no baço devido ao fato de o anticorpo ser da classe IgG, que tem avidez 
por se ligar ao antígeno em locais de alta temperatura, fazendo com que a hemólise ocorra 
em órgãos bastante vascularizados (fígado e baço). 
• Obs: pode ocorrer hemólise por anticorpo frio, que é o IgM -> se ligará às hemácias 
nas extremidades, o que não faz com que ocorra esplenomegalia. Este mecanismo, 
ocorre por exemploapós infecção por micoplasma e também se trata de uma reação 
tipo II. 
 
 
Daniela Carvalho – Turma LVI 
2 tipos de anticorpos: 
✓ Anticorpos frios -> IgM que se ligarão ao antígeno nas extremidades, onde haverá hemólise, sem 
esplenomegalia. 
✓ Anticorpos quentes -> IgG se ligarão ao antígeno em órgãos de alta vascularização; a hemólise será 
principalmente no baço, acarretando esplenomegalia. 
 
• INCOMPATIBILIDADE ABO 
o Nesta doença não há necessidade de sensibilização prévia devido a presença dos anticorpos de 
forma constitucional → não há necessidade de gestação prévia para que ocorra a incompatibilidade. 
▪ Quem é tipo A tem anti – B, quem é tipo O tem anti A e anti B e assim por diante. 
o Porém, esta incompatibilidade é muito menos grave que a incompatibilidade Rh. 
• ANEMIA E PLAQUETOPENIA AUTOIMUNE 
o No adulto: pode ocorrer por causa desconhecida ou secundariamente a quadro infeccioso 
(principalmente viral). 
▪ Na vida adulta a maioria não tem fator causal identificável, quando isto acontece o quadro 
pode ficar grave e o tratamento de escolha será a esplenectomia (pois não consegue – se 
identificar a causa e reduzir a hemólise). 
o Na criança: ocorrer principalmente após quadro viral ou vacina com virus vivo atenuado (produção 
de anticorpo anti vírus ou anti vacina que reconhece a hemácia como estranha). 
▪ Neste caso é autolimitada e a plaquetopenia se resolve espontaneamente. Dificilmente 
haverá a necessidade de esplenectomia. 
o Na maioria das vezes (exceto na incompatibilidade ABO e Rh no RN), usa – se drogas 
imunossupressoras, principalmente corticóide, que diminui a produção dos anticorpos anti hemácias 
e anti plaquetas, e por si a doença se estabiliza e evolui bem. 
o Pode ocorrer no mesmo paciente a anemia e a plaquetopenia autoimune, em adulto (mais comum) 
ou em criança -> síndrome de EVANS. 
▪ Necessidade de corticoterapia por longo período e esplenectomia para estabilizar a 
quantidade de hemácias e plaquetas. 
• Neste tipo de reação não necessariamente haverá destruição, em alguns casos haverá apenas alteração de 
função do tecido ou célula alvo. Alguns exemplos em que haverá apenas perda de função são: 
o Doença de Basedown Graves 
o Miastenia Gravis: 
▪ Lembrar que para que ocorra a contração muscular, deve haver estímulo para a liberação da 
acetilcolina na membrana pré sináptica, que deve se ligar ao receptor de acetilcolina na 
membrana pós sináptica. 
▪ Nesta doença, há a produção de anticorpo anti-receptor de acetilcolina, que por se ligar ao 
receptor pós, impede ocorra a ligação da acetilcolina (não há destruição da fenda e sim um 
antagonismo competitivo com o anticorpo) → perda de força muscular. 
▪ Para a prova terapêutica usa – se um inibidor da acetilcolinesterase, que irá aumentar a 
quantidade de acetilcolina na fenda e com isto haverá retomada da força muscular, por 
reduzir o metabolismo da acetilcolina. 
▪ O que caracteriza esta neuropatia, é que quando volta – se a fazer este teste, o paciente volta 
a ter a contratura → o que demonstra que não há alteração de estrutura e sim apenas de 
função. 
• Não necessariamente há lesão -> se tiver lesão é por fagócitos, ativação do complemento e ADCC. 
o Se não houver lesão, há alteração do receptor da célula, que irá levar à modificação da função. 
 
• Exemplos de reação tipo II 
o Incompatibilidade Rh e incompatibilidade ABO ; 
o Anemia autoimune e Plaquetopenia autoimune; 
o Cardite da febre reumática -> anticorpo anti válvula cardíaca com destruição da válvula cardíaca; 
o Plaquetopenia e anemia hemolítica do LES; 
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o Síndrome de Goodpasture -> anticorpo anti membrana basal de glomérulo e pulmão; ocorrerá lesão 
de glomérulo ou pulmão; exemplo em que haverá destruição do tecido ou célula alvo. 
 
• AVALIAÇÃO LABORATORIAL 
▪ Depende de qual tecido ou célula alvo específico é atingido, a partir dai iremos avaliar a função 
do órgão atingido. Ex: se for rim, avaliamos a função renal. 
o Doença Hemolítica do recém-nascido (Incompatibilidade ABO/Rh) 
▪ Hemograma, Coombs direto (presença do IgG no feto), Coombs indireto (presença do IgG na 
mãe sensibilizada -> nos permite avaliar o risco para as próximas gestações). 
▪ O Coombs pode ser usado para identificar a presenta de anticorpo anti “algum fator” -> anti 
Rh ou anti ABO. 
o Púrpura trombocitopênica idiopática 
▪ Hemograma, Ac antiplaquetários (principalmente em adultos, poderemos identificar apenas 
de 60-70% dos auto anticorpos). 
o Anemia Hemolítica autoimune 
▪ Hemograma, Coombs direto. 
o Doença de Graves 
▪ Anticorpos antitireoídeos: 
• Ac tireoestimulantes (cAMP) 
• Ac estimulantes do crescimento da tireoídeo 
• Ac inibidoras da ligação tireóidea (ligação receptor TSH deslocada). 
▪ Podemos identificar a presença dos autoanticorpos para facilitar o diagnóstico. 
o Miastenia Grave 
▪ Presença do anticorpo IgG anti – achR (anti-receptor da acetilcolina) em 94% dos pacientes. 
▪ Para prova terapêutica, administra – se o edrofônio (Tensilon), que é inibidor da 
acetilcolinesterase (responsável por metabolizar a ach) -> aumentando a quantidade de ach 
na fenda o que provocará alívio dos sintomas. 
• TRATAMENTO 
o Imunossupressão! 
REAÇÃO DE HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO III 
• Doença por imunocomplexos circulantes: 
o Mecanismos: 
▪ Deposição de imunocomplexos 
▪ Ativação do sistema complemento 
▪ Liberação de anafilotoxinas 
▪ Migração de células 
▪ Liberação de substâncias tóxicas e formação de MAC 
• O Imunocomplexo irá se depositar no vaso, causando liberação de 
anafilotoxinas que ativará a migração de células (principalmente 
neutrófilos) causando destruição do vaso. 
o Imunocomplexos causam dano quando: 
▪ Produzidos em excesso 
• Isto ocorre por exemplo na febre reumática – amigdalite não sendo tratada. 
• Quando há quadros infecciosos, por aumentar a formação de imunocomplexos. 
▪ Não forem eliminados 
• Ocorre por exemplo na deficiência do sistema complemento, onde há falha no 
clareamento do imunocomplexo (CR1 que leva o imunocomplexo para o macrófago 
no baço onde será destruído). 
▪ Ficarem depositados em tecidos (capilares de glomérulos renais e sinóvia) 
• Causando sinovite e nefrite. 
Daniela Carvalho – Turma LVI 
 
o Formação de um emaranhado de antígeno anticorpo na circulação que irão se depositar. 
▪ Se depositará em vasos de menor calibre como glomérulo (local de ultrafiltração de sangue) 
e articulações. Porém também pode ocorrer depósito no pericárdio, na pleura, na pele etc. 
▪ Após se depositar irá ativar a via clássica do sistema complemento → produção do MAC (papel 
restrito na patogênese deste tipo de reação) e liberação de anafilotoxinas (C3a, C4a e C5a) → 
influxo de neutrófilos que serão ativados e liberarão NO e H2O2 → nos vasos causará vasculite 
o que promoverá prejuízo da irrigação dos órgãos atingidos → destruição do órgão por 
inflamação e lesão. 
▪ Diferentemente da reação do tipo II não há anticorpo ligado à célula ou tecido alvo, portanto 
é mais grave por ser uma doença sistêmica (imunocomplexo estará na circulação). 
o Formação de imunocomplexos de tamanhos variados -> pequeno, intermediário e grande. 
▪ O mais imunogênico é o de tamanho intermediário devido ao fato de que o pequeno é tão 
pequeno que não causa “problemas” e o grande será facilmente reconhecido e destruído pelo 
sistema imune. 
o 2 tipos: 
▪ Tipo em que o antígeno é não próprio -> um exemplo é a febre reumática em que o antígeno 
é o estreptococos proveniente de uma amigdalite. Neste caso é mais fácil de tratar, por meio 
do uso de amoxilina benzatina até passar o período de risco de desenvolvimento da febre 
reumática. 
▪ Tipo em que o antígeno é próprio -> um exemplo é o LES, em que tem como um de seus 
antígenos o próprio DNA do doente (é o principal, produz anticorpos anti DNA que é medido 
por meio do FAN), que sai da célula quando há destruição desta (o corpo possui defeitoem 
reconhecer o DNA como próprio), produzindo anticorpo anti DNA que formará o 
imunocomplexo. 
• Obs: é por este motivo que o LES causa rush malar após exposição solar -> a exposição 
a luz solar ou luz artificial promove a destruição celular, que ao liberar seu DNA, 
favorecerá a formação do imunocomplexo. É por este mesmo motivo que infecção, 
estresse, alimentação e sono inadequados aumentam o quadro. 
Lembrar: 
• Soro -> imunoterapia passiva (administramos o anticorpo pronto). 
• Vacina -> imunoterapia ativa (o próprio organismo irá produzir o anticorpo). 
Exemplo: Paciente que foi vítima de uma mordida de morcego -> necessidade de soro anti rábico (possui anticorpo 
pronto; soro de doadores com IgG anti rábico) -> organismo da paciente reconheceu esta proteína (o IgG) como 
estranha -> captada por uma APC -> apresentada para linfócito TCD4 e linfócito B -> produção de anticorpos anti 
soro (que é o IgG do doador) -> formação de imunocomplexo circulante (anticorpo ligado a proteína circulante). 
Neste caso para o tratamento é necessário parar o soro, pois o risco da raiva é menor do que o de uma doença 
autoimune. 
A diferença está no fato de que na reação tipo III o imunocomplexo estará livre na circulação, já na reação tipo II o 
imunocomplexo será formado na célula ou tecido alvo. 
 
• Ou seja, o mecanismo de lesão desta reação é por imunocomplexos circulantes (principalmente de tamanho 
intermediário), que irá se depositar em vasos pequenos; outro fator que influencia na deposição destes 
imunocomplexo é a carga elétrica → deposição → ativação do sistema complemento → liberação de 
anafilotoxinas → chegada de células inflamatórias → vasculite → redução de perfusão do órgão atingido. 
• Como estas doenças são mediadas pela via clássica, nesta reação podemos classificar em gravidade pela 
hemólise das proteínas do sistema complemento. Devido a grande ativação da via clássica, chega uma hora 
que a reposição destas proteínas ficará prejudicada, e ao se dosar estas proteínas estarão baixas. 
o Pode – se portanto medir a gravidade da doença por meio da dosagem do CH50 → quanto mais 
grave a doença e portanto com mais hemólise, menor será a capacidade de reposição destas proteínas 
no organismo. 
Daniela Carvalho – Turma LVI 
o O LES por exemplo, é considerado como não controlado quando o CH50 está diminuído (quanto há 
controle do quadro por meio do uso de imunossupressor, o CH50 deve normalizar). 
O indivíduo que desenvolve o LES não tem o mecanismo de tolerância imunológica e por este motivo perde a 
capacidade de reconhecer o que é próprio como próprio. Um dos principais mecanismos envolvidos nesta perda de 
reconhecimento do que é próprio é o MHC classe II -> o LES está relacionado com MHC DR3 e DR4 que aumentam 
muito a chances do desenvolvimento desta doença autoimune. 
Obs: no caso do LES o anticorpo é contra componentes ou do citosol ou do núcleo, e a formação dos 
imunocomplexos só ocorrerá quando a célula romper. 
 
• EXEMPLO DE DOENÇAS MEDIADAS POR IMUNOCOMPLEXOS 
o Lupus eritematoso sistêmico 
o Poliarterite nodosa 
o Glomerulonefrite pós estreptocócica 
o Glomerulonefrite aguda 
o Artrite reativa 
o Reação de Arthus 
o Doença do soro 
• DOENÇA DO SORO 
o 1911 - Clemens Von Piquet – doença descrita pela primeira vez -> Difteria tratada com soro de cavalo 
imunizado com toxina diftérica. Pacientes imunizados produzem Ac contra a proteína sérica do cavalo, 
formando imunocomplexos com as proteínas injetadas. Apresentavam artrite, rush cutâneo e febre 
(Doença do Soro). 
o Neste caso o antígeno é não próprio. 
o Ocorre 7 dias após a aplicação do soro, e o paciente terá artrite, rush, febre e mialgia. 
o Tratamento: retirada do soro e imunossupressão com corticóide. 
• LES 
o Doença crônica, multisistêmica, que acomete principalmente mulheres (10 fem: 1 masc) -> 
provavelmente tem relação com hormônios femininos. 
o 1:700 fem 20-60 anos (faixa etária fértil) 
o 1:250 fem raça negra 
o Clínica: 
▪ Devido ao depósito de imunocomplexos: rush cutâneo (em asa de borboleta), artrite e 
glomerulonefrite, alterações SNC (por encefalite devido infiltrado linfocitário). 
▪ Devido reação tipo II: anemia hemolítica e trombocitopenia. 
o Auto anticorpos: FAN, principalmente anti-DNA, anti-histonas, anti-ribonúcleoprotenas, entre outros. 
▪ A depender do auto anticorpo presente, haverá um perfil mais característico desta doença. 
o Pelo menos 3 mecanismos envolvidos: 
▪ Falha no reconhecimento do que é próprio: APC que capta o DNA próprio → apresenta para 
TCD4 que não reconhece como próprio → apresenta para linfócito B que não reconhece como 
próprio; ou seja, há uma cadeia de disfunções imunológicas que culminará com a produção 
de anticorpos anti DNA. 
▪ Formação de imunocomplexos: glomerulites, arterites e vasculites de pequenas artérias 
▪ Auto-anticorpos eritrócitos e plaquetas: anemia hemolítica e trombocitopenia 
o Patogênese: 
▪ Célula B específica DNA próprio se liga a complexos DNA-proteína do nucleossomo (liberado 
por células apoptóticas). 
▪ Processamento do antígeno pela célula B, apresentação para célula T, produção de auto 
anticorpo. 
o Fatores genéticos: 
▪ HLA (antígeno do leucócito humano)- HLA-DR2, HLA-DR3, ou ambos. 
Daniela Carvalho – Turma LVI 
• O processo se inicia pelo reconhecimento inadequado da APC do que é próprio, por 
este motivo associa – se esta doença com uma disfunção do sistema MHC classe II 
(HLA DR2 e DR3), por ser ele que estimulará o linfócito B a produzir os auto anticorpos. 
• O DR2 aumenta em 2 vezes o risco do desenvolvimento de LES. 
• O DR3 aumenta em 3 vezes o risco do desenvolvimento de LES. 
• Na presença de ambos, há aumento de 5 vezes o risco do desenvolvimento de LES. 
▪ Correlação grande também com deficiências na via clássica do complemento (deficiência de 
C2 ou C4). 
▪ OBS: lembrar que qualquer imunodeficiência pré dispõem ao desenvolvimento de doença 
autoimune devido persistência do antígeno (paciente sempre infectado), e por este motivo 
que imunodeficiência primária cursa com autoimunidade. 
 
• AVALIAÇÃO LABORATORIAL 
o Mede – se a gravidade por meio do CH50 ou dosando – se as proteínas da via clássica do sistema 
complemento (C3 e C4) que estarão diminuídas devido ao grande consumo que ocorre devido a 
ativação desta via (neste tipo de reação ativa – se principalmente a via clássica; tem pouco 
envolvimento de fagócitos e ADCC). 
o A ativação do sistema complemento faz com que ele seja consumido. 
o Diagnóstico: 
▪ Dosagem CH50 diminuída 
• CH50 – determina a diluição do soro do paciente capaz de lisar 50% das hemácias. 
• Quanto mais diminuído, maior a gravidade da doença. 
▪ Quantificação C3, C4 
o Achados laboratoriais: 
• Vários autoanticorpos; podemos fenotipar o paciente sabendo qual a manifestação 
que terá. 
▪ Auto anticorpo contra múltiplos antígenos nucleares. 
▪ Outros auto anticorpos em grande número. 
▪ Declínio complemento sérico durante exacerbação da doença. 
 
• TATAMENTO 
o Utiliza – se imunossupressores -> principalmente corticóides. 
o No LES em situação graves pode – se associar o Rituximab (anti CD20) -> CD20 é um receptor de 
linfócito B, e com o uso deste fármaco haverá a diminuição da proliferação de linfócitos B e a produção 
de anticorpos. 
o Obs: sempre que utilizamos estas medicações, o paciente desenvolverá uma imunossupressão 
secundária à drogas, ficando portanto mais susceptível à doenças infecciosas. 
 
REAÇÃO DE HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO IV 
• Também é chamada de tardia pois é mediada por linfócitos. 
• É caracterizada pelo infiltrado linfocitário na presença de um agente pouco virulento. 
• Antígenos solúveis ou ligados as células sensibilizam células T. Após segundo contato, lesão celular mediada 
por linfócitos T citotóxicos e macrófagos. 
 
• DERMATITE DE CONTATO 
o Prevalência grande na população feminina. 
o Uma das principais é a alergia ao metal. 
Daniela Carvalho– Turma LVI 
▪ 3 tipos de metais, o sulfato de níquel, bicromato de potássio e o cobalto, estão muito 
presentes em bijuterias, algumas armações de óculos, fivela de sandália, botão da calça entre 
outros. 
o Metal é reconhecida como estranho pela APC da pele (célula de Langerhans) → irá levar o metal 
para órgão regional rico em linfócitos (linfonodos) → linfoproliferação pois haverá apresentação da 
APC para linfócito TCD4 → por ação de interleucinas, haverá ativação de TCD8 e macrófagos. 
o No local onde há contato com o metal, haverá migração de células (principalmente TCD8 e TCD4) → 
irá se manifestar como eczema. 
▪ No primeiro contato o eczema aparecerá em 7 dias. 
▪ Depois disto, o eczema aparecerá de forma mais rápida, pior e mais precoce a cada contato 
(exposição). 
o Mediada por linfócitos e do tipo tardia. 
o Pode ser causada por qualquer tipo de substância que após o contato irá causar reação inflamatória 
no local mediada por linfócitos. 
o Ocorre no contato do material com o local da pele. 
o Diagnóstico: 
▪ Ped teste (ou teste de contato) -> usa – se uma bateria de substâncias, que será aplicada no 
dorso e se observará a formação de eczema após 48 horas. 
o Tratamento: 
▪ Retirada do material. 
▪ Corticóide tópico local. 
▪ Não é tratada com anti-histamínico pois a histamina não tem relação com este tipo de reação, 
mas pode ser é usado como sedante (para dar sono) e com isto diminuir a coceira. 
• TUBERCULOSE 
o Tem como agente etiológico a Mycobacterium tuberculosis que não é um agente muito virulento; no 
imunocompetente haverá uma resposta imunológica adequada mediada por Th1, com formação de 
TDC8 e não desenvolvimento da doença, formando apenas o nódulo primário (geralmente no lobo 
superior do pulmão). 
o Porém, quando há um desajuste imunológico (por perda proteica, alcoolismo, depressão, alguma 
patologia associada etc.) no paciente com este nódulo primário, desencadeará uma reativação da 
doença primária. Haverá constantemente estímulo de TCD4, TCD8 e macrófago regional no nódulo 
primário (pois o sistema imune está falhando e chamando cada vez mais células para combater esta 
micobactéria) → formação de granuloma, que destrói o parênquima por ocupar o lugar de tecido 
pulmonar normal. 
o A lesão nesta doença não tem relação com a virulência do patógeno que causou a infecção. 
• HANSENÍASE (LEPRA) 
o Causada pela infecção pela Mycobacterium leprae. 
o Se há uma resposta adequada haverá ativação da resposta Th1 -> ativação de TCD4 e TCD8 -> 
contenção da micobactéria → lepra na forma tuberculoide – forma menos bacilífera e mais fácil de 
tratar. 
o Em caso de disfunção imunológica haverá predomínio da resposta Th2 → produção de anticorpo 
anti lepra na forma virchowiana – forma bacilífera de difícil tratamento. 
o Lepra dimórfica → paciente terá forma entre a tuberculoide e a virchowiana. 
• DIABETES 
o Doença autoimune (DM tipo 1 – insulinodependente). 
▪ Deficiência ou função inadequada da insulina. 
o É uma reação de hipersensibilidade tipo IV. 
o Aparece na infância e tem prévio infecção viral por coxsackie (herpangina -> causa lesões ulcerosas 
na parte superior do palato). 
▪ O anticorpo anti coxsackie irá destruir a ilhota de Langerhans, que perderá a capacidade de 
produzir insulina devido a presença de um infiltrado inflamatório dependente de linfócitos. 
• Anticorpo anti coxsackie com reação cruzada com a ilhota pancreática. 
Daniela Carvalho – Turma LVI 
• Porém, não há necessidade da presença do vírus para que ela ocorra pois tem 
grande correlação com pré disposição genética. 
▪ Haverá inicialmente hiperinsulinismo (pela destruição das células com liberação maciça de 
insulina) -> normoinsulismo -> e por fim hipoinsulinismo (devido destruição e substituição do 
tecido por fibrose). 
o OBS: Na DM tipo II isto não ocorre pois é dependente da ocupação de receptores de insulina associado 
à obesidade. 
o Ocorre em pacientes com predisposição genética pelo sistema HLA. 
▪ 90-95% caucasianos HLA-DR3, HLA-DR4 ou ambos/ 40% normais 
▪ 40-50% heterozigotos HLA-DR3/HLA-DR4 /5% normais 
▪ Gene da insulina, IL-2 
o Complicações: hiperglicemia, cetoacidose, aterosclerose, obstrução da artérias, grangrena de 
extremidades, insuficiência renal, retinopatia. 
o Incidência: 0,2% americanos 11-12 anos 
o SLIDE: 
▪ Patogênese: destruição das células B das ilhotas de Langerhans do pâncreas 
▪ Imunologia: reação de hipersensibilidade por Cels T CD4+ reativa a Ag da ilhota, lise das 
ilhotas por linfócitos T citotóxicos, produção de auto anticorpos a células das ilhotas e a 
insulina. 
o Achados laboratoriais: 
▪ Glicemia de jejum, Hb glicosilada -> elevados 
▪ Testes imunológicos são pouco úteis. 
▪ Anticorpos contra antígenos das ilhotas de Langerhans ou para insulina. 
• DOENÇAS 
o Diabetes Melitus Insulino-dependente 
o Artrite Reumatóide 
o Esclerose Múltipla 
o Neurites Periféricas 
o Síndrome de Sjögren 
o Tireoidite de Hashimoto 
o Síndrome de Stevens-Johnson 
▪ Reação alérgica à medicamento. 
▪ Se é grave e acomete 30% da mucosa -> síndrome de Dress 
▪ Se tiver acometimento sistêmico -> NET (necrose epidérmica tóxica). 
RESUMINDO 
• Reação tipo II: anticorpo anti célula alvo ou tecido específica; células envolvidas são fagócitos, sistema 
complemento e NK. 
• Reação tipo III: imunocomplexos circulantes; o mecanismo imune se da pela ativação da via clássica do 
sistema completo; causa vasculite por infiltrado neutrofílico pela liberação de anafilotoxinas. 
• Reação tipo IV: é dependente da ação de linfócitos, com resposta tardia. 
 
 
FATORES QUE INFLUENCIAM AUTOIMUNIDADE (PREDISPOEM À DOENÇA AUTOIMUNE) 
• Fatores genéticos: herança poligênica, intimamente relacionada com genes do MHC (principalmente MCH 
classe II mas pode ocorrer envolvimento também de MHC classe I). 
• Infecções: resposta imune alterada pelo micróbio (quebra da anergia dos linfócitos T, alteração dos Ags 
próprios por dano tecidual, reação cruzada Ag microbiano X Ag próprio). 
o A infecção por vírus é intracelular, e isto aumenta as chances de alteração da célula e seu metabolismo 
celular. 
Daniela Carvalho – Turma LVI 
o Risco de reação cruzada de anticorpos produzidos contra o vírus e que reagirá contra tecido ou célula 
alvo própria. 
• Alterações anatômicas teciduais com exposição de antígenos próprios sequestrados (proteínas intra-
oculares, cerebrais, testículos e útero). 
o Antígeno sequestrado -> células próprias de uma região que saem desta região por alguma lesão 
(exemplos: trauma testicular ou de ocular), indo para outros locais, fazendo com que o sistema imune 
produza anticorpos contra estes antígenos próprios. 
• Influências hormonais - controverso 
o Muito prevalente em mulheres em idade fértil, sugere – se que há alguma relação hormonal. 
 
TRATAMENTO 
o Diminuir a resposta imune para diminuir a produção dos autoanticorpos. 
• Antiinflamatórios -> especialmente a cortisona. 
• Imunossupressores -> como a ciclosporina, para bloquear ativação de células T. 
• Imunomoduladores. 
• Plasmaferese nas crises de exacerbação -> diminuindo anticorpo circulante e imunocomplexo.