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O currículo e a avaliação: ser professora, avaliar e ser avaliada Nos dias atuais, a profissão docente envolve trabalhos diversos, como pilhas de cadernos, trabalhos diversos, provas, registro de notas, acontecimentos cotidianos, fichas, relatórios. Freqüentemente, ao realizar estas atividades, o docente enfrenta dúvidas decorrentes da necessidade de chegar a uma conclusão sobre a aprendizagem dos alunos e alunas e expô-la aos estudantes, aos outros profissionais e aos pais. Neste sentido, a função do docente é informar em que situação de aprendizagem se encontra o aluno e atribuir um valor a seus conhecimentos. Entretanto, segundo Esteban (2003:14), "(...) avaliar, como tarefa docente, mobiliza corações e mentes, afetos e razão, desejos e possibilidades. É uma tarefa que dá identidade à professora, normatiza sua ação, define etapas e procedimentos escolares, media relações, determina continuidades e rupturas, orienta a prática pedagógica". A avaliação, durante muito tempo, é considerada como tarefa escolar, inscrevendose num conjunto de práticas sociais que toman o conhecimento como um meio para manipular e dominar o mundo, concebendo o aluno como um sujeito a-histórico e cumpridor de papéis já definidos pelos que detêm o poder. Dois modelos de avaliação ganham destaque: a avaliação classificatória e a avaliação qualitativa. O primeiro modelo, o da avaliação classificatória, compõem em seu bojo a predominância das idéias de mérito, julgamento, punição e recompensa, exigindo o distanciamento entre o avaliador e o avaliado. Para realizar suas atividades avaliativas, seguindo o modelo classificatório, o docente, segundo Esteban (op. cit., p. 15), "(...) deve cercar-se de garantias para que o processo realizado produza resultados verdadeiros, objetivos, fidedignos, que explicitem o real valor de cada um dos alunos e alunas, os quais classificados e hierarquizados, terão recompensas, punições ou os tratamentos adequados a cada caso". Com esta prática avaliativa, o docente desconsidera questões inerentes ao ato de ensinar e de aprender, uma vez que ao medir o conhecimento para classificar os estudantes, apresenta-se como uma tarefa que isola os sujeitos, dificulta o diálogo, reduz os espaços de solidariedade e de cooperação, estimulando a competição. No segundo modelo, a avaliação é concebida como qualitativa, um modelo de transição, por ter como ênfase a compreensão dos processos, dos sujeitos e da aprendizagem. A avaliação qualitativa se propõe a reordenar do processo avaliativo pela incorporação de alguns princípios do conhecimento-emancipação, em especial da comunidade com suas dimensões de participação e de solidariedade, permite transformações no processo, dando-se ênfase aos aspectos subjetivo e coletivo da avaliação. De acordo com Esteban (2003:30), a avaliação qualitativa, "(...) como modelo de transição, anuncia novas possibilidades que conectam a avaliação aos processos de democratização da escola como parte da dinâmica de emancipação social. (...) Traz desafios que podemos enfrentar vinculando nossa discussão ao movimento em que se tece o conhecimento-emancipação". Deste modo, a avaliação qualitativa deve ser pensada e realizada numa dimensão de investigação, pois constitui um diálogo com experiências cotidianas na escola e com a formulação teórica em que ambos indicam alguns desafios, sobre os quais enfatizam a produção do conhecimento como processo realizado por seres humanos em interação, que, ao conhecer, se conhecem; ao produzir o mundo no qual vivem, se produzem; ao viver, vão esgotando suas possibilidades de vida individual e estreitando os laços que unem cada um à infinita rede da vida. Neste contexto, a avaliação qualitativa enquanto um instrumento investigativo proporciona reformular outras compreensões das vivências compartilhadas no processo pedagógico, principalmente àqueles pertencentes às camadas populares. Ainda conforme Esteban (2003:35), compartilhando o processo e investigando-o, o docente pode incorporar novos conhecimentos, pois ao conhecer a realidade sobre, "(...) cada um de seus alunos e alunas, sobre o coletivo do qual participam, sobre sua ação como docente, sobre sua atuação no coletivo; pode ir ajudando cada um de seus alunos e alunas a tomar a prática pedagógica, o processo aprenderensinar, como material para sua própria reflexão (...)". A defesa de Esteban está alicerçada no pressuposto de que aprendendo profundamente os processos torna- se mais fácil ensinar e aprender. O docente, ao avaliar seus alunos, é avaliado num processo coletivo, cooperativo e solidário, que busca a ampliação permanente da qualidade da escola pautada na preocupação com o conhecimento a ser adquirido pelos alunos. REFERÊNCIA
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