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resenha 6

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Universidade Federal de Mato Grosso
Departamento de Psicologia
Disciplina: Psicologia Institucional
Docente: Drª Dolores Galindo
Discente: Karolinne Raphaele Binotto e Silva
Síntese do texto “O coletivo de forças como plano de experiência cartográfica”
A presente síntese proposta como atividade da disciplina de Psicologia Institucional tomou como base o texto “O coletivo de forças como plano de experiência cartográfica” do livro “Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade”. Organizado por Eduardo Passos, Virgínia Kastrup e Liliana da Escóssia, por meio de seminários realizados nos anos de 2005 a 2007 uma vez ao mês, em conjunto de um grupo de professores e pesquisadores da Universidade Federal Fluminense e Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro tinham como objetivo a elaboração de pistas do método da cartografia.	Comment by karolinneestudos@outlook.com: Deixo essa vírgula? Muda o paragráfo?
Ao longo de três anos de trabalho e em conjunto também dos alunos de graduação e pós-graduação foram apresentados ideias, parcerias, textos, formando uma construção coletiva de conhecimento. Propondo a ideia de pistas ao invés de regras para guiar no trabalho da pesquisa para a prática do método da cartografia, tal lista não representa uma ordem hierárquica, podendo o leitor iniciar seus estudos e leitura pela pista que achar adequado. Sendo assim, para a presente síntese foi utilizada a pista 5.
Escrita por Liliana da Escóssia e Silvia Tedesco, o texto “O coletivo de forças como plano de experiência cartográfica” discorre a respeito da “pista que indica a cartografia como prática de construção de um plano coletivo de forças”, plano que de acordo com as autoras, comumente é desconsiderado pelas perspectivas tradicionais de conhecimento. Para as autoras, a cartografia visa a ampliação da nossa noção de mundo para incluir “o plano movente da realidade das coisas”. Para isso, foi apontado a dupla natureza da cartografia (pesquisa e intervenção).
Dividido em três tópicos, “Coletivo de forças como superação da dicotomia indivíduo sociedade”, “O método da cartografia e o plano coletivo de forças” e “Experimentações cartográficas na saúde pública”, neles as autoras buscam discorrer a respeito de como a cartografia não se restringe somente a descrever e classificar os contornos formais de objetos do mundo, preocupando-se também com seu processo constante de produção. Buscam também mostrar que acessar o plano das forças já é habitá-lo, e a participação dos cartógrafos e intervenções sendo também parte do coletivo de forças se dão nesse processo. 
No primeiro tópico, as autoras explicam o conceito de coletivo de forças, conceito composto por pensadores como Gilles Deleuze, Michel Focault, dentre outros. Tal conceito pode remeter a certa abordagem de coletivo relacionado a organização formal da sociedade, interações grupais etc., entretanto difere-se no modo com a sociologia e a psicologia compreendem o termo. Todavia, para as autoras é necessário aprender o significado de coletivo longe dessa visão dicotômica que se tem muitas vezes sobre o termo. Entendendo-se aqui como coletivo o plano das formas e o plano das forças – que produzem a realidade. 
Em “O método da cartografia e o plano coletivo de forças” as autoras iniciam a discorrendo sobre o desafio da cartografia, ao qual para elas é “a investigação de formas, porém, indissociadas de sua dimensão processual, ou seja, do plano coletivo das forças moventes”. Acessar o plano coletivo de forças é necessário à pesquisa cartográfica, pois a partir disso se pode ampliar o olhar e atingir outras esferas dos objetos de conhecimento e assim realizar-se como pesquisa intervenção. Por meio da cartografia e pesquisa-intervenção existe a possibilidade de uma construção de domínios coletivos para além da descrição e observação de realidades coletivas.
No último tópico, as autoras discorrem a respeito da pesquisa realizada nos anos de 2004 a 2006 cujo objetivo era cartografar as práticas dos psicólogos no campo da saúde mental em Aracaju. Sendo importante ressaltar que antes de iniciar a pesquisa, já existia uma inserção no campo específico que “se desdobra a partir de um determinado momento e se constitui como pesquisa cartográfica”. Na primeira etapa foram realizadas entrevistas em CAPS e em Centros de Referência de Saúde Mental, entrevistando psicólogos e realizando observação participante em algumas atividades no local. Através disso foi possível fazer um levantamento das modalidades existentes no campo, das relações que os profissionais ali estabeleciam e alguns conceitos a respeito da Reforma Sanitária e Reforma Psiquiátrica.
Para as autoras, embora os dados coletados indicassem importantes aspectos, revelavam apenas uma dimensão formal e instituída dessas práticas. Sendo então o desafio pesquisar focando na processualidade, na dimensão de criação das práticas – coletivo transindividual. Dado isso, foi criado um espaço coletivo de discussão para os psicólogos, no qual ali poderiam discutir suas práticas na Rede de Atenção Psicossocial expandindo a pesquisa para além da observação e descrição. O projeto Clinamen: encontros de clínica e política em saúde mental efetivou-se através de oito encontros ao longo de um ano, ao qual foi criado num momento transdutivo, segundo as autoras “inicialmente localizada num ponto da rede na qual está inserido o objeto, desloca-se para outro ponto desdobrando-se em novas ações”.
Na primeira oficina, um dos participantes questionou o porquê de só existirem psicólogos na discussão, afirmando não ver na pratica a realização do trabalho separada de outros profissionais, sugerindo que o convite se estendesse aos demais colegas de outras profissões. Entre acordos e desacordos, opiniões e posições se alteram e são redefinidas. Ao final da primeira oficina foi definido que o próximo encontro ainda seria apenas entre psicólogos, mas que eles poderiam ser de qualquer localização e instituição pública. 
A partir da segunda oficina, essa “forma-coletivo” sofre alterações e recebe trabalhadores independente de sua formação e local de trabalho. Sendo necessário novos planos metodológicos, pois a partir disso o foco deixa de ser acompanhar as práticas do psicólogo e passa a ser acompanhar as práticas em saúde mental. No terceiro encontro, a questão da clínica em saúde mental surge como pauta, passa por transformações, novos problemas. Por meio da cartografia foi possível colocar um problema em um processo de modificação e acompanhá-lo, acontecendo no terceiro encontro em diante. 
As autoras finalizam o texto discorrendo a respeito da ética do cartografo, sendo para elas uma ética “transdutiva e transversal que se traduz na capacidade de transferência amplificadora e intensiva, na qual sujeito e objeto de pesquisa se apresentam como duas dimensões distintas, porem inseparáveis [...]”. O método cartográfico não se restringe somente a descrição e classificação dos contornos dos objetos do mundo, por meio dele também acessamos os movimentos que os constituem, traçando um processo de contínua produção.
Referências Bibliográficas
PASSOS, Eduardo, KASTRUP, Virgínia e ESCÓSSIA, Liliane. Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015. Pg. 92-107.

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