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Controladoria Avaliação de Desempenho e Investimentos Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.a Me. Divane Alves da Silva Revisão Técnica: Prof. Me. Carlos Henrique de Jesus Costa Revisão Textual: Prof.a Me. Magnólia Gonçalves Mangolini 5 • O ato de avaliar o desempenho • Estrutura para análise do desempenho e investimentos • A análise de balanços para a avaliação do desempenho e investimentos Para estudar avaliação do desempenho é imprescindível que você se coloque no lugar tanto de um controller que precisa preparar relatórios sobre a atuação de cada gestor quanto no lugar das pessoas que serão avaliadas. Imagine que você é o gestor de um departamento importante para a empresa e que tenha se esforçado bastante para cumprir os orçamentos e planejamentos. Ao mesmo tempo, você não tem certeza se os outros gestores se esforçaram o mesmo que você. Como você reagiria se alguém apontasse que o seu resultado foi insatisfatório e o dos outros foi satisfatório? É importante esse exercício, se colocar nesses papéis, informar o que é relevante e no momento correto. Sem esse esforço de imaginação, sem uma preocupação para com as pessoas e suas emoções ao serem avaliadas, o trabalho de análise e avaliação de desempenho torna-se um problema corriqueiro. Mas sabendo lidar com as expectativas e com o desempenho, o controller mostrará a beleza da profissão! Foi realizado um amplo planejamento, de acordo com a estratégia adotada pela empresa. Executou-se as atividades previstas e cada um na empresa deu sua contribuição pessoal. Mas e agora? Tudo o que fora planejado foi realizado da forma como deveria ter sido? E com os dados apurados durante a execução das atividadesé possível extrair lições para melhorar a qualidade? Se a empresa auferir lucros ou mesmo prejuízos, é possível avaliar o quanto cada trabalhador ou cada gestor [realmente] contribuiu com seu esforço pessoal para esse resultado? A resposta a essas indagações, todas elas, é sim. É possível! E esse é um trabalho do Controller! Ter metodologias para reconhecer e avaliar o esforço de cada um na empresa permite uma avaliação racional, sem a prevalência de emoções ou privilégios. Ter uma avaliação do desempenho permite também que os profissionais da empresa reflitam sobre sua própria atuação e tomem decisões pessoais, como gastar com treinamentos e aperfeiçoamento das atividades. Tudo isso significa respeito ao ser humano! Avaliação de Desempenho e Investimentos 6 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Contextualização 7 O ato de avaliar o desempenho Valeu a pena? Alcançamos o sucesso, ganhamos dinheiro ou, na próxima vez, conhecendo melhor o caminho, vamos fazer diferente? Não estamos indo bem. Vamos continuar a fazer o que estamos fazendo ou parar por aqui? O que podemos mudar e o que devemos manter por estar sendo bem feito? Somos bons! O que podemos fazer para mostrar isso para a sociedade e atrair investidores? As perguntas acima são atuais? Certamente você dirá que sim! Qualquer empreendedor terá essas dúvidas, em algum momento, na condução de seus negócios, por mais convicto ou confiante que seja e mesmo que não se importe muito com contabilidade. O mais surpreendente nessas perguntas, no entanto, é que elas não são novas! Essas mesmas perguntas também eram feitas pelos negociantes no passado, nos tempos mais remotos. É claro que o ritmo das coisas era diferente, a tecnologia também. Tudo era mais difícil, mas mesmo assim os empresários tinham a necessidade de saber como estavam seus negócios. Se olharmos para a história veremos que mercadores e/ou negociantes hábeis e poderosos do passado, como os Médici em Florença – Itália ou Jakob Fugger de Augsburg - Alemanha mantinham um serviço de contabilidade para conhecer o seu desempenho. Você Sabia ? Jakob Fugger - “O rico” foi o primeiro investidor estrangeiro no Brasil. Após a descoberta da então “Terra de Santa Cruz”, o Rei de Portugal,Manuel I, deu a Fernão de Loronha, um bem estabelecido mercador de Lisboa, uma capitania hereditária no Brasil. Fernão de Loronhaera agente de Jakob Fugger em Lisboa, que tão logo soube da empreitada em novas terras recém- descobertas investiu dinheiro na missão. Schmalenbach (1955) comenta que naquele período, era muito comum caravanas ou expedições para o transporte de mercadorias para os mercados principais por meio de rotas comerciais. Essas caravanas ou expedições eram feitas normalmente em lombo de burros, cavalos ou camelos, e carregadas de perigos. Ao longo do caminho acidentes e assaltos poderiam ocorrer e fazer com que parte das mercadorias, ou tudo, se perdesse. Sempre que uma caravana (ou uma navegação marítima)terminava, apurava-se obalanço patrimonial para saber se todo o esforço da expedição havia resultado em lucro ou prejuízo. Esse trabalho era feito considerando- se tudo o que se ganhou na viagem (as receitas) e descontando-se todas as despesas e perdas. A seguir, vemos uma foto de um homem levando mercadorias transportadas em lombo de burros no Caminho do Chá, na China. Uma rota comercial milenar que é usada ainda nos dias atuais sem nenhuma modificação: 8 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Foto: Caminho/Rota do Chá e do Cavalo, na China 2006. Fonte: Relato de Viagem de Jeff Fuchs (2011) No Brasil, tivemos durante muito tempo a atuação dos chamados “Tropeiros”. O funcionamento desse serviço com riqueza de detalhes é possível encontrar na obra de Marins (1982, pp. 19-20) que descreve por meio de seu personagem uma “tropa” que atuava entre o Porto de Santos e o (então) povoado de São Paulo: Já havia subido e descido centenas de vezes a serra do Cubatão, vencendo os seus 2.500 pés de altura, através de péssimos caminhos, cheios de pedras e lajes, que feriam os cascos da burrada e nos matavam de cansaço. Nossa tropa, de cerca de quarenta bestas, era tocada por Perova, o tropeiro, e dividida em cinco lotes, cada um formado por oito animais, sob a direção de um camarada. Todas as tropas que andavam pela serra obedeciam a essa organização. Quase sempre, em viagem, pegávamos chuvas, por dias inteiros. Mas também, em certas manhãs, éramos recompensados por magníficos panoramas. Os princípios, os fundos dos valores, o cume das montanhas, onde nesgas de nuvens muito brancas pareciam grudadas, tudo nos proporcionava espetáculos incríveis! Aquela vida de vaivém, entretanto, começava por me enjoar. Além do mais, a estrada, com o aumento do trânsito de animais, ia-se tornando cada vez mais perigosa. Por ocasião das chuvas, o sacrifício aumentava. Muitas vezes, para que os burros pudessem caminhar, era preciso colocar, nos trilhos por onde passavam, couros de bois bem curtidos. Levávamos uma porção desses couros, para impedir que atolassem na lama. Assim, demorávamos horas e horas para transpor pequenos trechos. Havia também, o perigo de perder as mercadorias, pelas quais éramos responsáveis. Lembro-me de um dia em que duas bestas carregadas de sal desviaram-se do trilho e escorregaram no abismo. Tomamos sérios prejuízos, além de ficarmos bastante penalizados com a sorte dos animais. Explore Conheça a saga dos tropeiros no Brasil. http://www.tropeirosdasgerais.com.br/historia.htm 9 Observe no relato do personagem de Marins (1982, pp.19-20) que os tropeiros assumiam os prejuízos pela perda de mercadorias ao longo do trajeto, sendo que não havia naquele momento serviços de seguros, como temos atualmente,e já era comum na Europa em algumas cidades. É evidente que esses serviços eram verdadeiras sagas, que envolviam coragem e um hercúleo esforço pessoal de todos que se engajavam no trabalho. Cada um dos trabalhadores era avaliado por sua coragem e lealdade, mas normalmente a avaliação econômica sobre se o esforço resultou em lucro ou prejuízo era realizada ao final da empreitada, com fins exclusivos de informação para o comerciante. Mesmo os grandes comerciantes costumavam solicitarum levantamento dos seus contadores quando sentiam necessidade para tal, não havia um hábito nesse sentido. Por essa razão, alguns autores, como Schmalenbach (1955), dizem que a contabilidade nasceu para fins gerenciais. Schmalenbach (1955) comenta que foi Luca Pacioli, que conforme Sá (2004) era um homem fascinado pela difusão de conhecimentos, quem incentivou os comerciantes a adotar o hábito de publicar balanços patrimoniais periodicamente. A intenção era a de atrair investidores, mostrar à empresa potenciais agentes que poderiam ajudar em seu desenvolvimento. Para tal, Pacioli disse uma frase muito significativa: “RAGIO SPESSA AMISTA LONGA”, ou seja, uma contabilidade publicada de forma periódica, frequente, acaba por atrair amizades longas. Explore Para quem gosta de games, indica-se o “Rise of Venice”, um game muito interessante, que explora a temática da cidade-estado de Veneza durante a época do renascimento, justamente a época de Luca Pacioli. Nesse game você é um mercador e para prosperar, comprando mercadorias como limão ou azeite em uma cidade e indo vender em outras, precisa passar por vários perigos. De acordo com o seu esforço e o reconhecimento por uma junta de nobres, você vai adquirindo mais e mais barcos e poderes. Nascia a contabilidade financeira, que atualmente é mais conhecida e lembrada do que a gerencial. Observe, então, que o ato de avaliar o desempenho começa de dentro para fora, ou seja, em um primeiro momento é realizado uma medição do desempenho mesmo que seja apenas pelo fechamento simples das demonstrações financeiras. Ainda que o próprio comerciante/empresário não se interesse em saber com exatidão como andam seus negócios, provavelmente outros agentes que tenham alguma influência sobre esse mesmo negócio terão interesse em saber como está o desempenho da empresa. Sendo assim, muito do que é feito em termos de contabilidade financeira é voltada ao usuário externo, ou seja, quem está do lado de fora da organização. No entanto, resgatando a visão de Marins (1982, pp. 19-20) por meio de seu personagem, ações empreendidas em uma empresa são muito mais do que simplesmente o apurar de lucro ou prejuízo. As pessoas se esforçam, criam uma história e têm emoções, então, o ato de avaliar o desempenho reveste-se de toda a importância. Seja por uma rigorosa e detalhada análise de orçamentos entre real x orçado, usando custos padrões, ou atingindo o breakeven point como no caso IG descrito por Cortês (2001), a avaliação do desempenho envolve a emoção e o comportamento humano. 10 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos O controller, por meio dos seus controles e do SIC-SIG, realiza avaliações que podemenvolver a empresa como um todo, uma área ou departamento de uma empresa, um gestor ou mesmo um funcionário. É a partir de seus relatórios que serão tomadas decisões importante, que alteram a vida das pessoas, como substituir ou não um funcionário, dar continuidade a um projeto, a unidades inteiras de produção, ou ainda se vale a pena investir em treinamento de uma equipe de trabalho. É claro que o controller está condicionado a muitas expectativas e pressões, seja pelo público interno a empresa, seja pelo público externo. Com a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade, as IFRS, o papel do controller passa a ser ainda mais crucial porque a ele é dada a incumbência de julgar, apontar o que é justo ou não para uma situação. Assim, Iudícibus et al (2010) comentam que o contador cada vez mais está no “centro dos interesses divergentes” e que “está aí toda a beleza, todo o conflito e toda a dificuldade da profissão”. Nesse sentido, Schmalenbach (1955) nos mostra,ao lado da perspectiva interna e externa da organização, outra abordagem da análise de desempenho, que é a função social da empresa. Eugen Schmalenbach é conhecido como o “pai” da contabilidade gerencial alemã” e economista de formação, que por conta de seu trabalho e dos negócios da família teve que se envolver com contabilidade. Schmalenbach (1955, p.39)1 disse o seguinte: A nossa ideia de resultados precisa começar pela natureza de um negócio. O negócio é uma parte da totalidade da vida econômica a que é chamado a atuar para fazer parte de uma divisão de tarefas da economia como um todo, como uma parte da economia que recebe matérias primas e serviços de vários tipos e retorna para a economia, mercadorias ou serviços. Nesse processo, deve produzir um valor adicionado, senão o negócio não estará contribuindo para a economia como um todo – estará, ao contrário, consumindo-a. Aquilo que é pego da economia geral é a despesa do negócio; aquilo que contribui para a economia geral em mercadorias, serviços ou outros atos é a receita do negócio. O resultado é a diferença entre receitas e despesas; sua determinação é a tarefa da Contabilidade de negócios. Schamalenbach (1955) é muito preciso e esclarecedor ao comentar que em uma demonstração do resultado do exercício, as despesas são o que a empresa, como parte da sociedade, consumiu dos fatores de produção disponíveis. E a receita é a remuneração por esse trabalho, que deve sempre apresentar um valor adicional, que é o trabalho que essa empresa realizou pela sociedade. Uma empresa que consome recursos da sociedade (despesas), mas que não consegue transformar e entregar adequadamente algo para essa mesma sociedade e apurar um prejuízo, estaria consumindo a sociedade, sendo nociva. Apurar lucro (considerado aqui como o resultado honesto das operações, sem uma conotação nociva ou gananciosa) é uma obrigação para a empresa. Dentro das normas Internacionais de Contabilidade, as IFRS, exige-se atualmente que as empresas divulguem a chamada “Demonstração do Valor adicionado”, que permite justamente observar qual o desempenho da empresa ou o que ele de fato produziu para a sociedade. 1 Traduzido do inglês para o português por Prof. A. Saramelli. 11 Mesmo assim, será que nossas empresas, a partir de um olhar social, estariam sendo realmente eficientes? Ou a busca do lucro estaria mais ou menos como em um“esconder de poeira embaixo do tapete”, criando uma situação que nos prejudicaria como seres humanos? Esse é justamente um dos aspectos que mais vem sendo discutido nos últimos anos no meio empresarial. Se no passado os consumidores estariam preocupados com o preço e a qualidade dos produtos, hoje, cada vez mais, se preocupam com fatores ambientais. É o que nos diz França (2007, p. 15): Qualquer líder empresarial que esteja no comando de umaorganização não tem dúvida dos efeitos da pressão que essa competitividade exerce na rotina dos negócios, tendo uma influência direta nas ações e decisões dos seus dirigentes e indivíduos de uma maneira geral. Entretanto, há outra fonte de pressão sobre as organizações que vem ganhando vulto nos últimos tempos a ponto de hoje ser considerado um dos mais importantes temas presentes na agenda dos executivos de alto e médio escalão, que é a questão do desenvolvimento sustentável, da ética nos negócios e da responsabilidade social e ambiental nas empresas. Essa pressão da sociedade para uma mudança de postura das empresas em relação aos impactos que suas atividades exercem entre o equilíbrio sociale ambiental do planeta tem como origem a constatação de que, apesar de todo o progresso tecnológico e econômico que o mundo vem tendo nos últimos anos, a humanidade não conseguiu resolver os problemas mais sérios do ponto de vista ambiental e social. Glossário De acordo com o Relatório da ONU – Comissão de Meio Ambiente, Brundtland ou “Nosso Futuro Comum”, desenvolvimento sustentável “é o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações terem suas próprias necessidades atendidas”. De acordo com o Relatório da ONU – Comissão de Meio Ambiente, Brundtland ou “Nosso Explore Você pode encontrar documentos sobre Meio Ambiente e sustentabilidade no site da ONU Rio+20.https://goo.gl/ucHjGQ A essa visão de França (2007) soma-se a de Klabin (2011) que afirma que no mundo empresarial ainda não foi incorporado o conceito de “sustentabilidade” e dá mostras de que isso será muito difícil de ocorrer. O ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, ao comentar o trabalho do ambientalista Israel Klabin,disse, conforme prefácio de Klabin (2011, p. xiii): Israel deixa claro que, do ponto de vista da arquitetura da nova economia,“estamos fazendo a conta errada” por considerar as riquezas que se somam no PIB, desprezando o esgotamento dos recursos naturais e o aquecimento global. 12 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos O próprio autor Klabin (2011, p. 282) nos alerta quanto a um gravíssimo problema referenteà falta de precificação dos fatores ambientais nos custos dos produtos: O problema é a falta de precificação das externalidades ambientais e sociais. As empresas não conseguem mensurar o valor de práticas sustentáveis. Sea economia não mudar, qual o custo concreto num futuro próximo? Asempresas que se adequarem agora a algo que só vai regular daqui a dez,vinte anos estariam apostando no futuro, mas a concorrência se estabeleceno presente. Os governos poderiam acelerar essa agenda. Se houverregulamentação, as engrenagens podem funcionar. Caso contrário, vira voluntarismo. Como parte do trabalho de avaliação de desempenho de uma empresa e suas interações com a sociedade, surgiu a “Gestão Ambiental” e alguns modelos de gestão para lidar com a problemática ambiental. Um desses modelos é o Tripple Botton Line, que segundo Laville (2009)foi proposto por John Elkington, fundador da consultoria inglesa SustainAbility. O Tripple Botton Lineveio da certeza de que foi entendido que o desempenho das empresas precisaria ser avaliado de uma forma inovadora, diferente do que tínhamos até então. Criou-se um modelo simples, que vai ao encontro do conceito de sustentabilidade e que faz um triplo balanço econômico, social e ambiental e que pode ser observado na figura a seguir: Figura: Representação gráfica do Triple Bottom line. Fonte: Laville (2009, p.193) Indo ao encontro de Roslender e Hart (2003) e IASB (2009), para “fazer a contabilidade gerencial ser mais estratégica” é importante observar qual é a situação competitiva da empresa, que muitas vezes também já está envolvendo o aspecto ambiental, e observar quais os melhores modelos de gestão para a ela, o que pode passar pela adoção de modelos de gestão ambiental como o do Triple Bottom line. Convido-o(a) a, no próximo tópico, estudar como os controllers se estruturam e lidam com a avaliação do desempenho e investimentos. 13 Estrutura para análise do desempenho e investimentos O trabalho da Contabilidade é manter o capitalismo honesto. Hans Hoogervorst (Presidente da IASB) repetindo a frase de Sir David Tweedie , IAAER Conference 2012, Amsterdã – Holanda Padoveze (2003, p. 279) comenta que durante a fase de execução das atividades, previamente planejadas, os gestores se utilizam de modelos de gestão para suas decisões. É a partir de modelos de gestão adequados que os gestores terão condições de atuar de forma que suas decisões sejam “coerentes e em linha com a visão da empresa de obtenção de lucro e eficácia empresarial”. Nesse sentido, Padoveze (2003, p. 279) diz que as atividades caracterizam-se pelos fluxos operacional, econômico, financeiro e patrimonial. Assim, esse autor enfatiza com entusiasmo: “a gestão do fluxo operacional é o ponto-chave para a obtenção de lucros”. A gestão dos fluxos das atividades é conhecida como “gestão do capital de giro”. Então, ao lado dos planejamentos estratégicos e dos modelos de gestão, saber bem administrar o capital de giro de uma empresa é imprescindível. É esse aspecto que os usuários externos da contabilidade estão preocupados. Saber se os gestores dessa empresa estão sabendo lidar com o capital de giro é umas das principais dúvidas e/ou desconfianças desses usuários externos (nesse grupo de usuários estão os investidores) e ter um bom desempenho nesse sentido irá aumentar a credibilidade e confiança nos gestores, mas se os resultados forem ruins, certamente os gestores precisarão explicar , justificar e convencer os usuários externos que sua atuação é benéfica para a empresa. Padoveze (2003, p. 279) define da seguinte forma esses fluxos: O fluxo operacional caracteriza-se pela operação técnica de cada especialidade, em termos de produção física, controle e utilização dos recursos, transferências e entrega dos produtos e serviços produzidos pela atividade, controle de qualidade, prazos de entrega etc. O fluxo econômico evidencia a consequência econômica do processo produtivo, ou seja, a mensuração econômica dos recursos e dos produtos e serviços. O fluxo financeiro corresponde à efetiva realização monetária do fluxo econômico. O fluxo patrimonial, ou resultado patrimonial, compreende a retenção final do fluxo completo das atividades, em termos de unidades monetárias ou bens e direitos em estoque. Um dos exemplos mais significativos de fluxo operacional no Brasil é o que vemos nas empresas ligadas ao setor sucroalcooleiro. Após a crise mundial do petróleo de 1973, provocada pelos países produtores de petróleo da OPEP, o governo brasileiro tomou a decisão de incentivar o chamado programa “Proálcool”, pioneiro programa para possibilitar que uma alternativa ao petróleo fosse disponível para o mercado brasileiro. Desde então, centenas de empresas, de fazendas a usinas de açúcar vem sendo implantadas no Brasil. 14 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Imagem: Foto aérea da usina de álcool da Odebrecht Agroindustrial em Costa Rica – MS. Fonte: Costa Rica em Foco – Jornalista Luciana Aguiar DRT/MS 373 As empresas que operam no ramo de produção sucroalcooleira dependem da safra da cana de açúcar. É o que nos explica Balla Sosnoski ( 2007): A produção agrícola ocorre em algumas épocas do ano, como a cana que tem sua colheita no início do outono, característica que determina basicamente o comportamento dos preços desses produtos. Nas estações comumente chuvosas do Brasil (setembro a março), a produção de cana cai verticalmente, períodos este chamados de entressafra, aumentando nos meses de abril a agosto, período de pouca chuva, que é o período de safra da cana-de-açúcar. Os produtos agroindustriais, pois, são dependentes do comportamento sazonal da oferta agrícola. A velocidade da produção, das vendas e a formação de estoques estão de acordo com a velocidade especificada pelas estações do ano. Dessa forma, Slack et al. (1997), comentam que normalmente as empresas realizam um planejamento de suas atividades de forma a que leve em conta a capacidade de lidar com as flutuações sazonais da demanda. Assim, para a definição do fluxo operacional e consequentemente dos fluxos econômicos, financeiro e patrimonial, um controller de uma empresa do setor sucroalcooleiro certamente irá usar a safra como uma base. Você Sabia ? No Brasil, normalmente as empresas publicam seus balanços anuais (exercícios contábeis) respeitando o ano-calendário ou o ano gregoriano, ou seja, iniciando em 01 de janeiro e terminando em 31 de Dezembro. Nas empresas do setor sucroalcooleiro, no entanto, as demonstrações financeiro-contábeis normalmente iniciam em 30 de Abril. 15 A análise de balanços para a avaliação do desempenho e investimentos Uma das formas de avaliar o desempenho é pelo uso da análise de balanços. Uma entidade ou empresa, como vemos em Schmalenbach (1955), faz parte da economia como um todo, e a economia está sujeita a diversas condições que desafiam os gestores que, além de se preocupar com a eficiência e a eficácia das atividades internas da entidade, também precisam se preocupar com as conjunturas da economia e da vida em sociedade em geral. É importante avaliar como os gestores lidam com essas questões, como reagem a adversidades e a qualidade de suagerência como um todo. Como exemplos, no ano de 2011 a empresa brasileira do setor químico Braskem enfrentou duas conjunturas que afetaram sua operação, que vinha de uma tendência de lucratividade para prejuízos expressivos: A desaceleração da demanda mundial em decorrência da crise econômica mundial de 2008-2010 e o aumento nos preços das matérias primas. O resort hoteleiro Costa do Sauípe enfrentou em 2011 um surto de meningite que levou à morte de 3 pessoas, durante a realização da décima edição do “Sauípe Folia”, uma dos principais eventos organizados no local. Em uma avaliação de desempenho justa é necessário entender que situações como essas enfrentadas pela Braskem e pelo Complexo de Sauípe estão fora do alcance da agência de seus administradores. Porém, afetam os negócios, e é importante avaliar como os gestores agiram. Padoveze (2003, p. 423) a esse respeito comenta que a Análise Financeira ou de um balanço é um “processo de meditação sobre os demonstrativos contábeis, objetivando uma avaliação da situação da empresa em seus aspectos operacionais, econômicos, patrimoniais e financeiros”. Dessa forma, Padoveze (2003, p. 429) enfatiza que o analista avalia a entidade, detectando os pontos fortes e fracos do processo operacional da mesma, utilizando alguns cálculos matemáticos e traduzindo-os em “Indicadores”. Nessa análise, é importante observar a comparabilidade e tendências da seguinte forma: - Comparação com períodos passados. - Comparação com períodos orçados. - Comparações com padrões setoriais. - Comparações com padrões internacionais. - Comparações com padrões internos da empresa. - Comparações com empresas concorrentes, etc. Analistas de bancos norte-americanos, e posteriormente em diversos outros países, desenvolveram um ferramental tradicional de análise de balanços que segundo Padoveze (2003, p. 429) compõe-se de: - Análise vertical - Análise horizontal - Indicadores econômico-financeiros - Avaliação Final 16 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Marion (2005) acrescentou a esses ferramentais três níveis de análise ou de extensão de análise: - Introdutório - Intermediário - Avançado Estudaremos esses ferramentais, mas antes devemos nos fazer a seguinte pergunta: É possível analisar balanços e julgar a qualidade de uma gestão por meio deles sem cometer injustiças? Evolução do Pensamento Contábil Para responder a essa pergunta, precisamos conhecer rapidamente como se deu o desenvolvimento da evolução do pensamento contábil. Sá (1997) nos diz que o contador Giuseppe Cerboni, que viveu entre 1827 e 1917, lançou a “teoria personalista”, em quese entende que as contas contábeis tem uma personalidade. Com Cerboni, a contabilidade passa a ser reconhecida como ciência e não uma “arte de registro do ter e do contar”. Até então, prevalecia na contabilidade a “Teoria Contista”, cuja preocupação dos contadores era o registro das contas. Posteriormente, como nos diz Sá (1997), Fábio Besta, que viveu entre 1845 e 1922, trouxe a ‘Teoria Controlista”, onde a contabilidade passou a ser usada como forma de controle. Fábio Besta entendia que a contabilidade tem a missão de atender três fases: a) Estabelecer um ponto de partida para tornar possível a análise dos resultados da gestão; b) Acompanhar a gestão evidenciando os fatos ocorridos que julgar o trabalho administrativo; c) Demonstrar os resultados finais da administração econômica para a devida aprovação ou rejeição da gestão. Ou seja, as ferramentas de análise de balanços que iremos estudar agora muito, mais do que um exercício matemático isolado, representam uma análise científica dos atos da empresa e consequentemente de sua gestão. É possível, dessa maneira, apontar de forma justa e com referencial científico modificações no patrimônio que ocorreram sob a responsabilidade dos gestores, aprovando ou rejeitando-as. Análise de Indicadores econômicos e financeiros A primeira pergunta que devemos fazer é: O que é um indicador econômico e financeiro? Segundo Marion (2005), os índices são “relações que se estabelecem entre duas grandezas”. Assim, esse autor exemplifica da seguinte forma: 17 Imaginemos que em uma empresa temos no Balanço Patrimonial os seguintes saldos nos grupos: • Ativo circulante - $ 396.420 • Passivo circulante - $ 198.210 Para analisar a relação entre duas grandezas existentes no ativo circulante e no passivo circulante, podemos dividir um grupo pelo outro, o que nos dá a seguinte fórmula: Ao adicionar os dados da empresa, teremos os seguintes valores, em comparação da conta A em relação à conta X: O quociente dessa divisão nos dará o quociente = 2 Esse quociente nos diz que para cada um real2 de dívida que a empresa mantém no Passivo circulante, há um real de recursos disponíveis no Ativo circulante, ou seja, uma situação aparentemente confortável para a empresa. Uma segunda pergunta que devemos fazer quanto aos indicadores é: É possível usar os mesmos indicadores para avaliar empresas de porte e que estão em ramos de atuação, na economia, diferentes? Para responder a essa pergunta, peço para que você observe a seguinte foto: Figura: Trânsito na Marginal Pinheiros, na cidade de São Paulo Fonte: Maurício Camargo/03.fev.2012/News Free/AE 2 Na verdade uma unidade monetária, pode ser qualquer moeda nacional. 18 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Observe que nessa foto há carros e ônibus de diferentes tamanhos e modelos e uma motocicleta. Todos estão trafegando na mesma avenida. Se analisarmosa velocidade em que esses veículos estão trafegando, podemos dizer que a moto e o ônibus estão (veja bem ao centro da imagem) na mesma velocidade. Sabe-se que uma motocicleta é um veículo mais ágil e que consegue trafegar a velocidades superiores a de um ônibus com facilidade, no entanto, ambos estão limitados a uma determinada velocidade de acordo com as regras de trânsito estabelecidas para essa avenida. Assim, é correto analisar que apesar de serem veículos de porte e tamanho diferentes, ambos estariam atuando nas mesmas condições e o aspecto “velocidade” pode ser medido igualmente para os dois. Com os índices utilizados na análise de balanços temos o mesmo! Há vários índices, sendo que, segundo Padoveze (2003, pp. 435-437), eles são reunidos nos seguintes grupos: • Indicadores de Capacidade de Pagamento • Indicadores de Atividade • Indicadores de Rentabilidade • Análise de Preços e Retornos de Ações E como vemos em Paiva (2003) embora ainda em uma fase experimental, inicial: - Indicadores de Desempenho Ambiental Conforme estudamos, Marion (2005) define três níveis de análise. Agora, vamos estudar o nível básico. Apesar do nome, o nível básico nos mostra três situações nas empresas que atraem grande parte das preocupações dos usuários da contabilidade, e uma análise usando apenas os índices que estão nesse nível básico já nos dá condições de obter conclusões de alta qualidade. Os outros níveis, intermediário e avançado, utilizam ferramentas mais sofisticadas de análise. A seguir, uma figura com o nível básico ou Tripé de análise, conforme proposto por Marion (2005): Figura: Nível Básico – Tripé da Análise. Fonte: Marion (2005) 19 Análise de Liquidez Segundo Silva (2008, p. 283), os indicadores de liquidez “fornecem um indicador da capacidade daempresa de pagar suas dívidas, a partir dacomparação entre os direitos realizáveis eas exigibilidades”. Temos basicamente quatro indicadores de liquidez: Liquidez geral Quanto a empresa possui em dinheiro, bens edireitos realizáveis a curto e longo prazos, parafazer face as suas dívidas totais. Fórmula: (ativo circulante + ativo não circulante) ÷ (passivo circulante + passivo não circulante) Interpretação: quanto maior, melhor No índice de liquidez geral, temos uma análise ampla da liquidez da empresa, considerando ativos e passivos de curto e longo prazos. Porém, podemos ter diferentes níveis de desconfiança ouconservadorismo em uma análise, conforme segue: Liquidez corrente Este índice nos mostra como está a liquidez da empresa em curto prazo. Para Silva (2008, p. 286), “indica quanto a empresa possui em dinheiromais bens e direitos realizáveis no curto prazo,comparado com suas dívidas a serem pagas nomesmo período”. Fórmula: ativo circulante ÷ passivo circulante Interpretação: quanto maior, melhor. Liquidez Seca Podemos ser ainda mais conservadores ou pessimistas em relação à situação da empresa, e imaginar uma hipótese dessa empresa não conseguir vender nada no mercado. Como ficaria a liquidez dessa empresa? Este índice é igual ao índice de liquidez corrente, porémexclui do ativo circulante os estoques. Fórmula: (ativo circulante – estoques) ÷ passivo circulante Interpretação: quanto maior, melhor. 20 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Liquidez Imediata Segundo Silva (2008, p. 180) esse indicador mede o volume de valores disponíveis (caixas,bancos, aplicações de curto prazo) mantido pelaempresa para atender as suas exigibilidades mais imediatas. Fórmula: (disponibilidades) ÷ passivo circulante Interpretação: quanto maior, melhor. Endividamento O endividamento é um aspecto difícil para analisar. Como regra geral, nenhum endividamento é bom, porém, apesar desse conceito que a sociedade nos impõe, há situações em que um endividamento pode ser muito benéfico para a entidade e fomentar, ou, como se diz no jargão financeiro, “alavancar” a empresa. Vamos estudar um desses índices, que mede a composição do capital próprio da empresa, ou seja, o Passivo Circulante + Passivo Não Circulante sobre o capital próprio. No jargão financeiro essa é a “estrutura do capital”. Fórmula: Capitais de Terceiros÷Patrimônio Líquido Quanto à empresa tomou de Capitais de Terceiros para cada $ 1,00 de capital próprio investido. Interpretação: quanto menor, melhor. Entendimento geral: As empresas devem sempre ter um índice de endividamento inferior a 1. Esses dois índices nos trazem uma avaliação sobre a qualidade da empresa sobre a sua capacidade de saldar dívidas e a qualidade do seu endividamento. Porém, segundo Matarazzo (2003, p. 389) o maior interesse de muitos dos usuários externos da contabilidade, e principalmente de investidores, são os indicadores de Rentabilidade, que “indicam a margem de lucro (rentabilidade), de retorno do capital investido e a velocidade das operações realizadas. Considera-se que a análise de rentabilidade é o principal relatório baseado nas demonstrações financeiras de que podem fazer uso os dirigentes de uma empresa”. São os seguintes índices: Giro do ativo Segundo Silva (2008, p. 235), estabelece relação entre as vendas do período e os investimentos totais efetuados na empresa, que estão representados pelo ativo total médio. Fórmula: vendas líquidas ÷ ativo médio Interpretação: quanto maior, melhor. 21 Margem líquida Silva (2008, p. 237) compara o lucro líquido em relação às vendas líquidas do período, fornecendo o percentual de lucro que a empresa está obtendo em relação ao seu faturamento. Fórmula: (lucro líquido ÷ vendas líquidas) x 100 Interpretação: quanto maior, melhor. Rentabilidade do ativo Segundo Matarazzo (2003, p. 179) é “quanto a empresa obteve de lucro líquido em relação ao ativo”. Fórmula: (lucro líquido ÷ ativo médio) x 100 Interpretação: quanto maior, melhor. Rentabilidade do patrimônio líquido Este índice é o que mostra efetivamente se o acionista se beneficia dos bons resultados alcançados pela empresa. Para Iudícibus (2010), este índice “expressa os resultados globais auferidos pela gerência na gestão de recursos próprios e de terceiros, em benefício dos acionistas”. Fórmula: (lucro líquido ÷ patrimônio líquido médio) x 100 Interpretação: quanto maior, melhor. Após o tripé de análise, Marion (2005) propõe um nível intermediário de análise. Observe que esse nível intermediário nada mais é do que o nível básico que é expandido para uso de outras ferramentas de análise mais sofisticadas, como o método Du Pont, conforme pode ser observado na figura a seguir: 22 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Figura: Nível Intermediário – Tripé da Análise. Fonte: Marion (2005) E Marion (2005) sugere ainda um terceiro nível avançado, em que são realizados os seguintes aprofundamentos: • indicadores combinados; • análise da demonstração do valor agregado; • projeções das demonstrações contábeis e sua análise; • análise com ajustamento das demonstrações contábeis no nível geral de preços; • outros modelos de análise EVA, MVA, Balanced Scorecard etc. Análises Horizontal e Vertical Padoveze (2003, pp. 429-430) comenta que análise vertical é “a análise de participação percentual ou de estrutura de elementos dos Demonstrativos Contábeis”. Nessa análise considera-se que algum elemento patrimonial (ativo, passivo) como 100% de um determinado elemento patrimonial. “Convencionou-se considerar 100% o total do ativo e do passivo” e para a demonstração de resultados “convencionou-se adotar 100% o valor do total da receita de vendas, líquida dos impostos”. 23 Já para a análise Horizontal, Padoveze (2003, p. 431) mostra que é “uma análise de crescimento ou de variação”. Para essa análise, “tomam-se como base todas as contas de um determinado período e se faz uma relação percentual em cima dos dados desse período. O novo número relativo indica quanto o dado do período subsequente é maior ou menor que do período anterior. Como é comum serem utilizados vários períodos, a variação sequencial acaba indicando uma tendência de crescimento (ou diminuição). Como um exemplo de aplicação do conceito de análise horizontal e vertical, vamos analisar a Demonstração de Resultado da empresa Embraer S.A. (consolidado), a seguir: Figura: Demonstração do Resultado da Embraer S.A (Consolidado) Fonte: Adaptado de Embraer (2012) – Detalhe. Figura preparada pela autora. Realizando uma análise horizontal, observe que a conta de Lucro Líquido do Exercício teve uma queda nos três anos demonstrados. De 2009 para 2010, o lucro líquido teve uma queda de 36 %. De 2010 para 2011, teve uma queda de 71%. Se considerarmos a variação entre 2009 e 2011, teremos 82 % de queda. Isso mostra uma tendência de queda na lucratividade da empresa. E agora realizando uma análise vertical, se considerarmos a participação do lucro líquido do exercício nas Receitas líquidas, temos 1,75% de participação. Ou seja, das receitas, resultou-se em 1,75% de lucro, menor do que nos anos anteriores. Em 2010 essa participação foi de 6,40% e em 2009 8,62%. Trocando Ideias Procure na imprensa o que os jornalistas e executivos da empresa disseram a respeito desse resultado e o que foi feito a partir de então. 24 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Indicadores de Desempenho Ambiental Paiva (2003) sugeriu alguns índices para serem usados em empresas que mantém contabilidade ambiental. Trata-se ainda de uma proposta, mas o autor comenta que se várias empresas passarem a calcular e divulgar os índices a seguir, certamente muito em breve serão tão úteis para análise como os índices tradicionais. Com fim apenas de conhecimento, demonstra-se esses indicadores no seguinte quadro: Quadro: Indicadores de Desempenho Ambiental Índice Formulação Relação causal Reflexo Investimentos ambientais gerais Investimentos em prevenção Ativos totais Indica a proporção entre ativos ambientais adquiridos no período e os ativos totais da empresa. Reflete o posicionamento da empresa frente à questão ambiental, de forma ampla. Investimentos ambientais operacionais Investimentos em prevenção Ativo imobilizado Revela a evolução dos investimentos em prevenção em relação ao seu parque fabril. Demonstra a preocupação com a qualidade de seu parque fabril. Diminuição do patrimônio dos acionistas em decorrência de fatores ambientais Perdas ambientais Patrimônio líquido Mostra o percentualde patrimônio que está sendo diminuído em função de perdas ambientais. Reflete o grau de cuidado com as operações, assim como o reflexo direto na alteração do patrimônio. Perdas ambientais da empresa Perdas ambientais Ativo total Relaciona o quanto, em termos percentuais, às perdas sobre os bens e direitos que a empresa dispunha no período. Reflete o grau de conscientização mediante desastres ambientais. Custos ambientais operacionais Custos ambientais Receitas operacionais Indica o quanto os custos ambientais apropriados no período representam das receitas operacionais. Demonstra os investimentos da empresa na qualidade ambiental de seus produtos e como essa relação pode afetar seu resultado. Despesas ambientais e as operações Despesas ambientais Receitas operacionais Demonstra o quanto foi consumido de despesas, favorecendo o meio ambiente na geração de receitas operacionais. Revela a relação entre a conscientização ambiental da empresa e suas atividades de comercialização. Prevenção e valor adicionado gerado Gastos totais com prevenção Valor adicionado total Relaciona os gastos em prevenção com o valor adicionado total. Reflete como a empresa está administrando seus gastos na prevenção de problemas ambientais face ao valor adicionado por suas operações. Remediação e prevenção Gastos com remediação Gastos com prevenção Indica a relação entre remediação e prevenção. Revela a postura da empresa em sua relação com o meio ambiente. Fonte: Paiva (2003 p. 136) 25 As avaliações do desempenho da empresa no mercado ou na economia e sociedade em geral posteriormente são estratificadas, repartidas pelo controller para cada área de atuação da empresa. Todos são responsáveis pelos resultados da empresa e em alguns casos recebem bônus ou prêmios pelos bons resultados alcançados. Você Sabia ? As empresas brasileiras normalmente negociam com os funcionários e sindicatos Programas de participação nos resultados e lucros, conhecidos pela sigla PLR. O controller também tem grande participação na qualidade da condução desses planos. É claro que é necessário estabelecer de forma muito clara a responsabilidade de cada um. Para isso, criam-se centros de responsabilidade. Cardoso, Mário e Aquino (2007, p. 220) citam a definição de centros de responsabilidade de Anthony e Govindarajan (2002, p.84): As unidades da organização, que são o cerne do processo de controle gerencial. Um centro de responsabilidade é uma unidade de organização supervisionada por um executivo responsável por suas atividades. [...] Todos os centros de reponsabilidade têm saídas, isto é, liberam alguma coisa, e têm entradas, isto é, consomem recursos. Podem ser classificados quanto suas entradas e saídas em quatro tipos: Centros de receita, centros de despesas, centros de lucros e centros de investimento. Assim, Cardoso, Mário e Aquino (2007, p. 220) classificam os centros de responsabilidade em quatro tipos: a) Centro de custo (ou gasto); b) Centro de receita; c) Centro de resultado; d) Centro de investimento. Para todos esses centros de responsabilidade, o Controller poderá montar relatórios personalizados. Poderá, por exemplo, formar uma DRE para cada um deles, evidenciando ao gestor qual foi sua participação em particular no resultado total da empresa. O centro de resultado, segundo Cardoso Mário e Aquino (2007, pp. 220-234), são centros onde apenas se apuram os custos. No centro de receita, controlam-se as receitas do departamento, mas não se controlam os gastos e o nível de investimento. Os centros de resultado são os centros de reponsabilidade que controlam os gestores, que controlam as despesas e receitas dos produtos (bens e serviços) que produzem. Aqui, temos gestores que têm a possibilidade ou o poder de decidir sobre que despesas irão consumir e que receitas conquistar (no centro de custo, os gestores apenas consomem gastos, não têm possibilidade, por exemplo, de decidir questões como quantidade de trabalhadores, que matéria prima comprar, etc.). 26 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Já os centros de investimento, ainda de acordo com Cardoso Mário e Aquino (2007, p. 234), são “quando os gestores têm as responsabilidades descritas para os centros de resultado e também têm responsabilidade e autoridade para decidir sobre o capital de giro e os ativos físicos investidos no centro”. Dentro, então, desse processo de avaliação de resultado por departamento, ou pela responsabilidade de cada gestor, Padoveze (2003, p. 428) traz o esquema de um processo geral das avaliações, extraído de Parisi e outros: Figura: Esquema do processo geral de avaliação de resultado e de desempenho. Fonte: Padoveze (2003, p. 428) apud Parisi e outros (1999) Finaliza-se este estudo, sempre lembrando que todo esse processo costuma gerar muitos interesses divergentes, para os quais o controller deve sempre ter uma posição ética e neutra. 27 Material Complementar O Artigo “Governança Corporativa e Desempenho nos Ambientes Institucional, Legal e Culturalbrasileiros” traz um interessantíssimo estudo, ligando o desempenho empresarial às políticas de governança corporativa. Um assunto muito importante, sobretudo nas sociedades anônimas, mas que não foi abordado no roteiro de estudos do nosso livro. Recomenda-se a leitura! Autores: Roberto Do Nascimento Ferreira. Elaine Aparecida Araújo, Patrícia Almeida Ashley, Antônio Carlos Dos Santos, Reinaldo Aparecida FonsecA Resumo: O ambiente institucional brasileiro possui características próprias, com raízes no desenvolvimento econômico e na cultura empresarial, representando obstáculos às mudanças institucionais. Grandes empresas nacionais ainda retêm valores aristocráticos e mentalidade tradicional em suas organizações. Embora exista a necessidade de adotar novas estratégias, as organizações relutam em implementá-las, porque isso requereria uma mudança nos valores e expectativas. A cultura e a ideologia ajudam a explicar a manutenção do status quo de alguns grupos, como também podem explicar a emergência de outros grupos de interesses, como exemplo os acionistas minoritários. No entanto diversas mudanças vêm ocorrendo no ambiente organizacional, como consequência de um maior apelo por transparência, equidade e accountability por parte dos investidores. Uma boa estrutura de governança corporativa é a resposta que as empresas podem dar ao mercado. A adoção de padrões de governança corporativa pode representar uma condição que venha influenciar em um melhor desempenho organizacional. Adotar as práticas de governança corporativa não é um fato isolado no contexto das organizações. Deve-se considerar a influência da cultura e do ambiente institucional/ legal. Considerando que o atual ambiente organizacional é complexo e sujeito a mudanças constantes, uma estrutura de governança corporativa representa uma resposta aos investidores e demais partes interessadas na empresa. Além do mais, estabeleceu-se que uma estrutura de boa governança diferencia a empresa no mercado. Assim, grande parte das pesquisas sobre governança corporativa tem trabalhado com o objetivo de buscar uma resposta para a relação entre governança corporativa e a melhora no desempenho. Palavras chave: governança corporativa, desempenho, cultura, ambiente institucional, empresas. O artigo completo está disponível on-line em: https://goo.gl/bQx4XX 28 Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos Referências ANTHONY, Robert N., GOVINDARAJAN, Vijayd. Sistemas de Controle Gerencial. São Paulo: Atlas, 2001. p. 32. CARDOSO, Ricardo Lopes; MÁRIO, Poueri do Carmo; AQUINO, André Carlos Busanelli de. CONTABILIDADE GERENCIAL: Mensuração, Monitoramento e Incentivos. São Paulo, Atlas, 2007. CÔRTES, Pedro Luiz. A verdadeira história do IG. São Paulo: Erica, 2001. EMBRAER (Brasil). Relatório Anual 2011. Acesso em: 01 nov. 2013. FRANÇA, M. A. Além do lucro: o desafioda competição responsável. São Paulo: Saraiva, 2007. IFAC a. Evaluating and improving costing in organizations: International good practice guidance.(2009) Disponível em: <http://www.ifac.org/publications-resources/evaluating-and- improving-costing-organizations-0>. Acesso em: 17 dez.2017. IFAC b. Evaluating the costing journey: A costing levels continuum maturity model: international good practice guidance addendum. (2009) Published by the Professional Accountants in Business Committee. Acesso em: 01 nov. 2013. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Análise de balanços. 10.ed. SÃO PAULO: Atlas, 2010. IUDÍCIBUS, Sérgio de et al. Contabilidade Introdutória: Equipe de professores da FEA/USP. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010. KLABIN, I. A urgência do presente: biografia da crise ambiental. Rio de Janeiro: Campus Elsevier, 2011. LAVILLE, E. A empresa verde. São Paulo: Õte, 2009. MARINS, Francisco. O Mistério dos Morros Dourados. São Paulo: Ática, 1985. MARION, José Carlos. Análise das Demonstrações Contábeis: contabilidade empresarial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2005. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. PAIVA, P. R. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com transparência e focadana prevenção. São Paulo: Atlas, 2003. PADOVESE, Clóvis Luis. Controladoria Estratégica e Operacional. São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2003. 29 PARISI, Claudio. Uma contribuição ao estudo do índice interno de preços sob a ótica da gestão econômica.Tese de doutoramento, FEA/USP, 1999. ROSLENDER, R.; HART, S. J. In Search of Strategic Management Accounting: theoretical and field study perspectives. Management Accounting Research. V. 14, n. 3, pp. 255-279, set, 2003. SÀ, Antonio Lopes de. Historia geral e das doutrinas da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1997. SÀ, Antonio Lopes de. Luca Pacioli: Um mestre do renascimento. Brasília: Fundação Brasileira de Contabilidade - FBC, 2004. SCHMALENBACH, Eugen. Dynamic accounting. 12. ed. Cologne: Arno Press Inc., 1955. Silva, J. P. Análise financeira das empresas. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2008. SLACK, N. et al. Administração da Produção.São Paulo: Atlas, 1997. SOSNOSKI, Anna Andrea Kajdacsy Balla.Otimização na Gestão Financeira de Usinas Sucro Alcooleiras. 2007. 118 f. Monografia (Bacharelado) - Curso de Engenharia da Produção, Departamento de Escola Politécnica - Usp, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: <http://pro.poli.usp.br/wp-content/uploads/2012/pubs/otimizacao-na- gestao-financeira-de-usinas-sucro-alcooleiras.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2017. Audiovisuais AGUIAR, Luciana. Foto aérea da usina de álcool da Odebrecht Agroindustrial em Costa Rica – MS: Jornalista DRT/MS 373. Disponível em: <http://www.costaricaemfoco.com. br/noticia/4517-odebrecht-agroindustrial-conta-com-parcerias-de-sucesso-para-ser-a-maior- geradora-de-empregos-em-costa-rica.html>. Acesso em: 17 dez. 2017. CAMARGO, Maurício. Trânsito na Marginal Pinheiros, na cidade de São Paulo: 03.fev.2012/ News Free/AE. Disponível em: <http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/pacote-preve-mais-8- km-de-marginal-na-zona-sul-de-sp-20120224.html>. Acesso em: 17 dez. 2017. FUCHS, Jeff. Caminho do chá e do Cavalo - China: Relato de Viagem. 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