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39 Capítulo 3 Trabalhos acadêmicos: quais caminhos percorrer? Escrever um trabalho científico requer algumas orientações sistematizadas, dado que se trata de resultados de investigação ou mesmo de estudos sobre uma questão determinada. Pode-se dizer que a pesquisa é uma forma de se aplicar o conhecimento adquirido, para resolver determinada dificuldade (problema) e depois sistematizá-la em um relatório (trabalho científico). Esse fazer pesquisa é um processo que precisa ser discutido com mais propriedade, para que se possa entender os caminhos que vão desde a observação de uma realidade, da projeção e execução da pesquisa até chegar à construção do trabalho científico. Seção 1 Que diálogo há entre pesquisa e trabalho acadêmico? Na vida acadêmica, faz-se necessário criar uma cultura de pesquisa. É fundamental os estudantes produzirem trabalhos científicos, que se vinculem as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão. A elaboração de um trabalho científico é parte de um processo que vai desde a transformação individual como também social, uma vez que traz descobertas ou desvelamento do novo. Como se percebe, esse processo é um desafio, que se relaciona às observações diárias, nos mais variados lugares, ou ligadas às próprias experiências no campo de trabalho. Preferencialmente, o trabalho científico deve responder a problemas práticos por meio de pesquisas de campo, estudos de caso, experimentos, etc., não impedindo que sejam desenvolvidas, também, pesquisas bibliográficas ou documentais. (MOTTA, 2015). MOTTA, Alexandre de Medeiros et. al. Universidade e Ciência. Palhoça: UnisulVirtual, 2016. p. 39-54. 40 Capítulo 3 Com base nessas colocações, discutem-se abaixo vários assuntos ligados ao processo de elaboração do trabalho científico, que vão desde o seu tipo até a noção de pesquisa científica. 1.1 Quais tipos de trabalho desenvolver? Há vários tipos de trabalhos científicos que se pode desenvolver no meio acadêmico, tais como: a. resumo: condensação de ideias (resumo indicativo e resumo informativo); b. resenha crítica: apreciação crítica de uma obra (valor da obra); c. fichamento: registro de informações para arquivamento e/ou armazenamento; d. paper: posicionamento crítico em relação a um tema-problema; e. artigo científico: discussão dos resultados, podendo ser do tipo original ou de revisão; f. projeto de pesquisa: planejamento da pesquisa; g. monografia: dissertar sobre um só tema (delimitado), demonstrando profundidade de análise; h. relatório técnico-científico: descrição formal e nos pormenores das etapas de um estudo. Na midiateca você encontra de forma detalhada esses gêneros científico-acadêmico típicos que circulam na universidade: resumo, resenha crítica, artigo científico, paper, position paper, relatório técnico-científico e monografia. 1.2 Quais normas seguir? Com relação à apresentação e estrutura do trabalho científico, há aspectos que são normativos, como a formatação, os elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais, as citações, as referências, a apresentação de figuras, gráficos e tabelas, entre outros. Também há detalhes que dependem da criatividade e da necessidade do autor do trabalho, em função da natureza do tema, como a maneira de expor as citações, se indiretas ou diretas, o tamanho das figuras em geral, o tamanho e a quantidade de parágrafos, entre outros. 41 Universidade e Ciência Ressalta-se que a natureza do problema da pesquisa é fator que gera as particularidades da redação do trabalho científico, sem deixar de se amparar nas diretrizes da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Nesse sentido, a maioria das universidades disponibiliza materiais didáticos próprios que orientam os estudantes quanto à elaboração e apresentação gráfica da produção científica. Na Unisul, por exemplo, existe a obra intitulada “Trabalhos Acadêmicos na Unisul”, organizada pelas bibliotecárias da instituição. É uma obra de fácil entendimento, disponível tanto em meio impresso como na página on-line da biblioteca, no endereço www.unisul.br/biblioteca. Além das diretrizes da ABNT, para se elaborar um trabalho científico, é necessário também que se aborde a noção de pesquisa e de método científico, uma vez que são elementos fundamentais nesse processo. Sendo assim, a seguir, apresentam-se aspectos inerentes as noções de pesquisa e de método científico. 1.3 Que ligação há entre método e trabalho científico? No processo de construção do trabalho científico, o estudante deve, primeiramente, identificar o tema da pesquisa, delimitado na sua extensão conceitual e em condições de receber tratamento científico adequado, por meio da condução de um método científico, seja o de abordagem ou o de procedimento, e demais ações afins. Só assim pode-se dizer que o problema será respondido mediante um processo investigatório. Fora disso, é pura especulação ou conjectura. 42 Capítulo 3 Quadro 3.1 - Esquema sobre o método científico Método de abordagem - Dedutivo - Indutivo - Hipotético-dedutivo - Fenomenológico - Bibliográfico - Documental - Experimental - Estudo de caso controle - Levantamento - Estudo de caso - Estudo de campo - Pesquisa-ação - Pesquisa participante - Exploratória - Descritiva - Explicativa - Qualitativa - Quantitativa Quanto ao nível ou objetivo Quanto à abordagem Quanto aos procedimentos Métodos de procedimentos - Comparativo - Estatístico - Monográfico - Etnográfico - Histórico Fonte: Elaboração do autor, 2016. Desse modo, para se conseguir maiores esclarecimentos sobre o assunto, veja na sala virtual de aprendizagem, no nosso EVA, o que é método, métodos de abordagem, métodos de procedimento, técnicas de pesquisa e variáveis, elementos imprescindíveis no processo de sistematização do trabalho. Seção 2 Que pesquisa decidir no trabalho? A pesquisa pode ser entendida como atividade racional que almeja concretizar vários aspectos: responder precisamente ao problema; fornecer novas informações sobre ele; permitir maior conforto (e controle) diante do problema; e gerar novos questionamentos (paradoxo) para a formação de linhas de pesquisa. A noção de pesquisa vincula-se à atividade voltada para a solução de problemas como busca, indagação, investigação, inquirição da realidade, tendo duas justificativas principais para desenvolvê-la, que são: satisfação da curiosidade do pesquisador e guia para as próximas ações. (D'AMBRÓSIO, 2004, p. 21). 43 Universidade e Ciência O maior ganho em seguir e entender esse processo é, sem dúvida, a garantia de atingir convicção no que e sobre o que se pesquisa. O ato científico, nesse sentido, abrange o domínio dos processos de abordagens específicos aos problemas, que são a síncrese, a análise e a síntese. Estas interagem como numa sequência dialética, por isso não se excluem mutuamente. São fundamentais no estudo e desenvolvimento temático do trabalho científico. De imediato, as ideias ou assuntos pertinentes ao trabalho científico emergem numa unidade confusa ou sincrética, que torna imprescindível a atuação da análise e da síntese, para que o tema ganhe um foco e se torne o objeto de estudo. A análise é um processo de decomposição de um todo em partes, visando separar os elementos de uma realidade complexa que pode ser tanto um objeto individual ou uma ideia. É um método que parte de um dado singular, para chegar aos princípios gerais. A síntese, ao contrário, é um processo de composição dos elementos, visando chegar a uma totalidade. É um método que, partindo de um todo, estabelece ordem entre os elementos chegando às últimas consequências. À medida que se prossegue nos estudos para o entendimento cada vez mais profundo do tema do trabalho científico, maior é o grau de maturidade alcançado pelo pesquisador e, por conseguinte, o conhecimento se desdobra em outros, de modo a configurar um processo de aprendizagem contínuo. Assim deve ser o cotidiano do pesquisador que enfrenta o seu aprimoramentono fazer científico estimulado pela construção do trabalho científico. Por conta disso, as exigências e criticidades intensificam-se na sua formação acadêmica e profissional. O ganho na apreensão de competências e habilidades no mercado de trabalho, por exemplo, é imensurável num futuro próximo. Ainda, com relação ao tema da pesquisa, é necessário lembrar que o pesquisador o defina (delimite) dentro do limite de seu próprio conhecimento e, em seguida, busque pelo convencimento do leitor de que o seu ponto de vista tem validade científica e social para campo de estudo em questão. Além disso, para esta tarefa, é necessário que se prime por outras ações, como: ter em mente as linhas de pesquisa do programa almejado e do seu orientador; escolher um tema do seu interesse; ler muito sobre o tema e questionar mais ainda; buscar por artigos sobre o tema em periódicos conceituados; questionar sobre a relevância e/ou aplicabilidade social do tema; conversar a respeito com outras pessoas, independente se especialista ou não no tema. Vinculado ao tema, aparece o problema ou a pergunta que o instiga e move a composição sistemática da dissertação. Pode-se escrever uma redação, por exemplo, tendo como pergunta: Que interesse maior a carreira docente desperta entre os alunos concluintes do ensino médio em sua cidade? Certamente as respostas a essa pergunta gerarão um texto focado no mercado de trabalho 44 Capítulo 3 ligado ao magistério, tendo a necessidade do escrevente obter um conhecimento devido e atualizado sobre a área da educação. Dessa forma, não há como fugir do assunto delimitado, uma vez que se sabe o que é com base em quem escrever. Lembre-se de que o problema deve ser sempre formulado como pergunta; estar situado no tempo e no espaço; e ser uma pergunta viável, cuja resposta se concretize no processo científico. No campo das ciências humanas e sociais é comum que se classifique as pesquisas mediante o estabelecimento de critérios, conforme os listados a seguir: a) critério dos objetivos: exploratória, descritiva e explicativa; b) critério da abordagem: qualitativa, quantitativa e quantitativa-qualitativa; c) critério do procedimento (na coleta de dados): bibliográfica, documental, experimental, estudo caso controle, levantamento, estudo de caso, estudo de campo, pesquisa-ação e pesquisa-participante; d) critério da natureza: experimental (ou provocada) e não-experimental (ou observacional); e) critério das finalidades: pura (ou básica ou fundamental) e aplicada (prática). Assim, se escolher em desenvolver o trabalho científico por meio de pesquisa de campo, levantamento, estudo de caso etc., isso requisitará do estudante tempo disponível para a coleta, quantificação e análise dos dados. Se, ao contrário, escolher a pesquisa bibliográfica, o estudante terá como desafio maior a seleção coerente das fontes publicadas essenciais ao tema proposto. Em ambas as situações, o desafio é visível. Tanto o caminho bibliográfico como os demais levam a respostas interessantes e ricas em saberes. Seção 3 Por que se deve planejar a pesquisa? A pesquisa é uma atividade organizada e sistemática, que segue um planejamento, na forma de um projeto, para responder ou solucionar um problema. Trata-se de uma atividade ligada a um processo complexo, constituído de várias etapas, não havendo por isso como aceitar a ideia de que exista pesquisa de fácil resolução, no sentido de simplificar a complexidade do processo de construção de um trabalho científico. É na fase do planejamento da pesquisa que se determina o caminho a ser percorrido na investigação do objeto de estudo do trabalho acadêmico, garantindo o caráter científico. Por isso toda investigação científica requer uma estrutura complexa, não se reduzindo as explanações simplificadas e soltas. 45 Universidade e Ciência O ponto de partida da pesquisa é o problema, uma pergunta que é motivada pela resposta ou solução vinculada aos objetivos da pesquisa. Assim, a pesquisa requer qualidades diferenciadas de outras atividades acadêmicas. Por isso, conforme Motta (2015), o estudante, para ser considerado um pesquisador, deve prestar bem atenção em requisitos como 1: a. Espírito científico: saber analisar, questionar e julgar a validade e o fundamento da solução. b. Raciocínio lógico: estabelecer encadeamento de ideias. c. Espírito criativo: a criatividade caminha junto com a imaginação, sem excluir o conhecimento específico no assunto da pesquisa. d. Rigor científico: saber procurar pelo melhor método e melhores condições de coleta de dados. e. Vontade disciplinada: apresentar seriedade e dedicação nos estudos. f. Afinidade com o assunto do trabalho: ter convicção nos propósitos da pesquisa. Em outras palavras, a pesquisa consiste no ato de livrar-se de uma dúvida, buscar uma resposta para isso, mesmo estando ligada ao senso comum. É inerente à ação e à vida, pois se trata de um conjunto de atividades que tem por finalidade a descoberta de novos conhecimentos no domínio científico, literário, artístico etc., é a investigação ou indagação minuciosa, é o exame de laboratório, e assim por diante. (D'AMBRÓSIO, 2004, p. 11-12). Essa experiência é de vital importância para a formação acadêmica, uma vez que proporciona ao estudante o primeiro contato com a prática da pesquisa, bem como permite aplicar os conceitos ensinados na sala de aula em ambientes não formais. De modo prático, a pesquisa envolve três etapas logicamente distintas: estudo (planejamento), execução e redação. A elaboração do projeto corresponde à primeira etapa. Minayo (1996) chama essa fase de exploratória, pois compreende várias etapas da construção de uma trajetória de investigação. Sua condução de modo precário acarretará grandes dificuldades à investigação no todo. A ideia de planejamento pode ser entendida também como "[...] a previsão racional de um evento, atividade, comportamento ou objeto que se pretende realizar a partir da perspectiva científica do pesquisador." (BARRETO; HONORATO, 1998, p. 59). 1 Perceba como os dois primeiros itens são dependentes de uma leitura qualificada, tema tratado no capítulo anterior desse livro. 46 Capítulo 3 O planejamento assume, assim, condição fundamental para o sucesso de qualquer trabalho que procure pela melhoria da qualidade. Lembrando que essa condição só se concretiza quando seu planejamento ocorrer de forma organizada, inserida em uma sequência de eventos pré-determinada, numa dimensão sistemática. É necessário que o estudante entenda que, no meio acadêmico, deve-se saber onde se pretende chegar, pois do contrário qualquer caminho servirá. Assim não é diferente para o planejamento da pesquisa, que se traduz na elaboração de um trabalho científico. Trata-se de uma experiência única que um estudante universitário pode ter, pois mesmo que não siga a carreira de pesquisador ele terá a oportunidade de complementar sua formação acadêmica, aprimorar seu conhecimento e se preparar melhor para a vida profissional. Voltando à noção de pesquisa, Gil (2002) fala em "procedimento racional e sistemático", e para ser realizada são imprescindíveis métodos e caminhos técnicos, dentre os chamados procedimentos científicos. Neste alicerce funda- se o edifício da ciência, na qual a construção dos conhecimentos é elaborada com rigor, cuidado e parâmetros que oferecem segurança e legitimidade às informações descobertas. O objetivo central deste processo consiste, principalmente, na sistematização dos procedimentos, revestida de um tratamento metodológico comumente denominado de científico. O ato de pesquisa presume um cuidadoso processo de planejamento. Neste contexto, para efetivar este planejamento é necessário que se estabeleça como etapa inicial, a elaboração do Projeto de Pesquisa. Assim, cabe dizer que planejar é uma forma de se antecipar o futuro, não se deixar engolir pelo problema e, dessa maneira, o projeto funciona como um instrumento de planejamento,uma ferramenta que delineia procedimentos e ações que se desenrolarão no decorrer da pesquisa. 3.1 Elaboração do Projeto de Pesquisa O projeto de pesquisa consiste em estudar a maneira mais eficaz de se pesquisar o tema-problema, permitindo ao estudante visualizar e focar quais ações serão fundamentais para a sua resposta ou solução. Para Silva (2004), a composição do projeto está vinculada a duas capacidades principais: a de produzir uma imagem mental de uma situação futura e a de conceber um plano de ação a ser executado em um tempo determinado. Assim o projeto é um modo de se prever ou pressupor eficácia no processo de investigação. Esse tipo de trabalho refere-se à fase provisória, que antecede à pesquisa propriamente dita e está propenso, portanto, a sofrer mudanças superficiais ou significativas em sua estrutura, dependendo de fatores internos e externos inerentes ao tema-problema. 47 Universidade e Ciência É certo que a produção textual do projeto certamente sofrerá alterações na fase de elaboração do trabalho científico, e isso não é fator para desqualificá-lo. A meta maior nessa etapa é buscar atingir o melhor modo para se escrever o referido trabalho. É importante que se entenda o projeto como parte do fazer científico. Não há sentido desvincular a fase do planejamento da fase posterior, quando se executa a pesquisa e se chega à construção final do trabalho. Afinal, o projeto não se basta em si mesmo, pois é parte do processo de tratamento científico ao problema. Nesse sentido, o estudante deve preocupar-se em desenhar a estrutura do projeto de modo pragmático, a fim de visualizar, concretamente, a arquitetura do trabalho científico. Por isso, o estudante não deve ficar desmotivado caso seu projeto sofra alterações na fase de execução da pesquisa, ou mesmo no primeiro encontro com o professor orientador, pois se trata de um documento que serve de base ou de ponto de partida para gerar condições de solução ou resposta ao tema-problema. Não se trata, portanto, de um trabalho concludente, que se fecha em si mesmo, capaz de determinar a certeza da resolução do problema. Na redação do projeto, as frases devem estar direcionadas para um futuro próximo, de curto ou médio prazo, como propostas concretas e atualizadas de pesquisa. Já o trabalho científico, ao contrário, se escreve no tempo presente, mas não desvinculada do projeto, como forma de buscar por um resultado decorrente de um processo investigativo. Existem vários modelos de projeto que proporcionam boas orientações no planejamento da pesquisa. Aqui não é diferente. Então, segue um roteiro com as principais etapas relacionadas. Roteiro para projeto de pesquisa 1 - Tema da pesquisa O tema é a determinação do objeto da pesquisa, que corresponde à seleção de uma "[...] fração da realidade a partir do referencial teórico-metodológico escolhido" (BARRETO; HONORATO, 1998, p. 62). A convicção na decisão pelo tema adequado ao problema de pesquisa 2 é um bom indício de que o trabalho científico a ser desenvolvido será de qualidade. Heerdt (2004) afirma que "o tema de pesquisa é, na verdade, uma área de interesse a ser abordada. É uma primeira delimitação, ainda ampla." Exemplos de tema: Navegações marítimas; Direito do consumidor; Gestão financeira pessoal. 2 - Delimitação do tema A delimitação do tema é o enunciado (tema de conteúdo mais detalhado) que responde simultânea e aleatoriamente às perguntas: O que pesquisar? Que período pesquisar? Que lugar (ou ambiente) pesquisar? Quem pesquisar (sujeitos da pesquisa)? 2 Tema adequado àquela pergunta que o pesquisador deseja responder com a pesquisa. 48 Capítulo 3 As questões acima elencadas são indispensáveis em pesquisas de campo, estudos de casos ou experimentais 3. Caso seja uma pesquisa bibliográfica ou documental, na delimitação, pode-se dispensar o fator "lugar" ou "período", assim como os "sujeitos", dependendo da natureza do problema levantado. Como exemplo, tome-se o seguinte tema: “Gestão financeira pessoal”. Para isso, busca-se pela seguinte delimitação do tema: “Gestão financeira pessoal: ferramentas para a tomada de decisão entre os funcionários do setor de televendas da empresa X”. 3 - Problema de pesquisa O problema é uma pergunta inteligente (planejada) que revela claramente o objeto de pesquisa ou questão central, sentida na realidade, a ser respondida pela pesquisa. Em sua construção, até chegar à pergunta central, deve-se observar com atenção a sequência lógica das seguintes indagações: 1º) O que me perturba ou me incomoda em relação ao tema? (Leitura da realidade circundante) 2º) Que questões me instigam a pesquisá-lo? (Indagações) 3º) Qual é a questão central da pesquisa? (Problema da pesquisa) Marinho (1980 apud LEITE, 2011, p. 61) afirma que na formulação do problema são fundamentais os aspectos da viabilidade (o problema pode ser eficazmente resolvido por meio da pesquisa), relevância (é capaz de trazer conhecimentos novos a uma indagação antiga, ainda não esgotada ou examinada de forma satisfatória), novidade (se está adequado ao estágio atual da evolução científica), exequibilidade (o problema conduz a uma conclusão válida) e oportunidade (permite ao pesquisador apresentar conclusões sobre o tema proposto). Rauen (2015, p. 133) defende que se deve formular o problema na forma de uma pergunta direta. "Quando um tema está razoavelmente delimitado, é possível convertê-lo numa questão de pesquisa. Por exemplo, pode-se anteceder o tema com um pronome interrogativo 'Quais', acrescido das devidas adaptações linguísticas, e finalizá-lo com ponto de interrogação." 4 - Hipóteses É uma proposição que responde a um problema de pesquisa, derivada de uma teoria que se obtém por meio de inferência dedutiva e que permite verificação empírica. 3 Sobre o que são esses itens, consulte material referente na nossa midiateca. http://www.galileu.esalq.usp.br/vg.php?cod=1892 http://www.galileu.esalq.usp.br/vg.php?cod=489 http://www.galileu.esalq.usp.br/vg.php?cod=1773 49 Universidade e Ciência Para Richardson (1999, p. 104), "uma vez determinado o problema, o pesquisador enfrenta uma variedade de possíveis respostas [ou hipóteses], desconhecendo qual é a mais adequada". Assim, a hipótese assume a condição de enunciado da solução provisória que explica um dado problema ou a proposição testável que tende a ser a solução do problema. Conforme Henrique e Medeiros (2014, p. 89), a hipótese é uma "solução tentativa", que "[...] consiste em uma resposta destinada a explicar, provisoriamente, um problema até que os fatos venham a contradizê-la ou confirmá-la, isto é, uma formulação provisória de prováveis causas do problema, objetivando explicá-lo de forma científica." Tome-se como exemplo a seguinte hipótese: "Inflação de menos de 2% ao ano leva o crescimento econômico industrial a 3%". Essa foi formulada com clareza, ao contrário da seguinte: "Políticos desonestos não conseguem reeleição", pois nessa faltam dados para a verificação empírica da resposta. (HENRIQUES; MEDEIROS, 2014). É necessário lembrar, contudo, que as hipóteses devem ser expressas somente nas pesquisas que objetivam verificar relações de associação ou dependência entre variáveis. 5 - Justificativa A justificativa é um texto dissertativo que apresenta conteúdo problematizado, justificando a necessidade da pesquisa por meio de argumentos próprios. Apresenta, sobretudo, a importância científica e social da pesquisa pretendida, como também suas intenções e finalidades. Os motivos da justificativa devem tornar relevante a realização da pesquisa, correspondendo às perguntas centrais: por que se deseja realizar a pesquisa e e qual sua relevância social, científica ou profissional? Barral (2003, p. 88-89) oferece alguns itens importantes que podem fazer parte de uma boa justificativa. São eles: "a) atualidade do tema; b) ineditismo do trabalho; c) interesse do autor; d) relevância do tema; e) pertinência do tema."Na composição do texto da justificativa, cada pergunta apontada, anteriormente, pode ser convertida em parágrafo, de modo a caracterizar uma redação dissertativa, com a inserção de citações para a devida fundamentação dos argumentos necessários ao tema proposto no projeto de pesquisa. É prático pensar, também, que no início da redação da justificativa apresente-se o "estado da arte", que se refere ao "[...] ponto no qual se encontram as pesquisas científicas sobre o tema escolhido, e antecipa o futuro." (RAUEN, 2015, p. 138). Diz respeito à situação atual das pesquisas sobre o tema de interesse e a sua correspondente projeção no futuro. 50 Capítulo 3 6 - Objetivos O objetivo expressa a ação para a solução do problema. A elaboração do objetivo viabiliza a construção dos capítulos do trabalho científico, por isso recomenda- se que os objetivos devam ser expressos no infinitivo, para indicar a ideia de ação ou estado. Esses respondem, simultaneamente, às perguntas: Para que vou pesquisar o tema? Que ações respondem ao problema da pesquisa? Os objetivos são as ações exigidas pelo tema-problema proposto no projeto, de forma a garantir uma coerência lógica entre os capítulos que formarão o trabalho científico. Essas ações são vitais para a construção lógica e capitular do trabalho, sem as quais se perderá o nexo entre as partes. Não se tratam, portanto, de ações condicionadas pela pura conveniência do autor do trabalho, mas decorrem, diretamente, em função da natureza do problema, sendo que, por isso, os objetivos expressam uma certeza (verbo no infinitivo). Esses, por sua vez, se classificam em dois tipos: geral e específico. O objetivo geral é a afirmativa que apresenta com clareza, na forma de ação, a ideia central da pesquisa (nível teórico, mais abrangente). Para a sua composição são sugeridos verbos no infinitivo, como: Conhecer, Compreender, Analisar, Interpretar, Avaliar etc. Os objetivos específicos são afirmativas que apresentam um desdobramento do objetivo principal em ações específicas (nível prático, mais particular), na forma de tópicos. Desse modo, a ação apresentada por cada objetivo específico pode corresponder, mas não necessariamente, ao conteúdo de cada capítulo que fará parte do desenvolvimento do trabalho científico, excetuando-se a introdução e a conclusão. Segundo Oliveira (2011, p. 37), "os objetivos específicos fazem o detalhamento do objetivo geral e devem ser iniciados com o verbo no infinitivo." Para a sua composição, são elencados verbos como: Identificar, Relacionar, Calcular, Caracterizar, Apontar, Comparar, Definir, Ressaltar, etc. Por exemplo, se o objetivo geral de um projeto é analisar o índice de escolaridade de uma dada comunidade, inserida em um determinado período, os objetivos específicos deverão estar orientados para este alvo, como os seguintes: identificar os aspectos socioculturais que constituem a comunidade em análise; comparar a comunidade em estudo com a situação de outras comunidades limítrofes; caracterizar a ocorrência e a dinâmica do índice de escolaridade na comunidade em estudo. Cumpridos esses objetivos parciais, certamente, o aluno conseguirá atingir, com certa convicção, seu objetivo mais amplo. 7 - Revisão de literatura ou Revisão bibliográfica A revisão de literatura é o texto que discorre sobre o tema da pesquisa, atendo-se à definição de seus termos e conceitos essenciais. Nesse item, não há necessidade de o estudante se preocupar, demasiadamente, com os argumentos próprios, pois o texto da revisão é parte do planejamento e não diretamente da defesa da tese, o que ocorrerá inevitavelmente na fase de execução do trabalho científico. Nesse sentido, recomenda-se desenvolver no projeto, no mínimo, três páginas de revisão. 51 Universidade e Ciência Assim, o termo "revisão" assume sentido de abordagem teórica ou geral, restrito às ideias dos autores. O propósito dessa etapa é expor conceitos que corroborem com a temática da pesquisa, o que não quer dizer que seu conteúdo se constitua de um amontoado de citações, como simples "colcha de retalhos". O primordial é que o estudante demonstre capacidade de síntese, como forma de revelar certo domínio sobre as teorias essenciais ao tema proposto. No mínimo, devem ser referenciadas, no texto, três fontes bibliográficas de diferentes autores. Na composição da revisão de literatura, afirmam Silva e Menezes (2001, p. 30), o estudante deverá responder às seguintes questões: Quem já escreveu e o que já foi publicado sobre o assunto? Que aspectos já foram abordados? Quais as lacunas existentes na literatura? Para Rauen (2015, p. 140), "a revisão da bibliografia consiste em um conjunto essencial de procedimentos que, embora se apresente numa sequência, deve ser executado em todas as etapas da pesquisa." Nada surge do nada e por isso é muito importante que o estudante reconheça a criação intelectual de outros autores e dê crédito a ela. Os resultados de hoje, certamente, decorrem do esforço das gerações anteriores. Recomenda-se, então, que a redação do texto da revisão bibliográfica tome como parâmetro as perguntas: Com quais bases teóricas devo especificar o tema? O que dizem os autores sobre o tema? Quais pesquisas já existem sobre o tema? Não se pode esquecer, ainda, que os autores citados nesse item do projeto, certamente, farão parte da fundamentação teórica do trabalho científico, quando já se executou a pesquisa, revelando aprofundamento dos conhecimentos pelo estudante sobre o tema proposto. 8 - Metodologia da pesquisa ou delineamento da pesquisa A metodologia é uma sessão do projeto que se dedica, principalmente, a apresentar: a caracterização do tipo de pesquisa a ser desenvolvida e, concomitantemente, do método a ser aplicado; as questões ou hipóteses do estudo; os procedimentos de coleta e de análise dos dados ou achados; o cronograma de execução da pesquisa; e o orçamento. O delineamento da pesquisa, segundo Gil (1995, p. 70), "refere- se ao planejamento da mesma em sua dimensão mais ampla", ou seja, neste momento, o investigador estabelece os meios técnicos da investigação, prevendo os instrumentos e os procedimentos utilizados para a coleta de dados. Diz respeito à etapa que se busca essencialmente pela pergunta: Como se pretende obter os resultados? Se o estudante na fase do trabalho científico conseguir responder claramente a essa pergunta, é sinal de que a metodologia aplicada no trabalho ficou bem definida e articulada com a natureza do problema e com os objetivos traçados no projeto de pesquisa. 52 Capítulo 3 Essa fase é uma grande oportunidade para que o estudante aprenda que, de acordo "com a complexidade da pesquisa, as metas [que subentendem um problema operacional e não, necessariamente, os objetivos específicos] podem ser desenvolvidas em ações; e, essas ações, em procedimentos." (RAUEN, 2015, p. 144). Para isso, é necessário que se desenvolva o planejamento do trabalho científico, como um produto científico, na perspectiva das seguintes tarefas: a. Caracterizar o tipo de pesquisa, segundo os critérios do objetivo, (exploratória, descritiva, explicativa), do procedimento (bibliográfica, documental, experimental, estudo de caso controle, levantamento, estudo de caso, estudo de campo, pesquisa-ação, pesquisa participante) e da abordagem (qualitativa, quantitativa, quanti-qualitativa 4). b. Descrever a população ou corpus a ser investigado. Se a pesquisa for de campo e/ou envolver o método estatístico, o tipo de amostragem também precisará ser explicado. c. Apresentar os critérios de composição do corpus ou da população ou do objeto de pesquisa. d. Descrever, sucintamente, os métodos de abordagem (dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético, fenomenológico) e de procedimento (comparativo, etnográfico, monográfico, estatístico, histórico, entre outros). e. Detalhar o processo de levantamento, registro, análise e interpretação dos dados: descrever, sucintamente,as técnicas a serem utilizadas para coletar os dados, incluindo seus respectivos instrumentos (questionário, entrevista, formulário, observação, análise de conteúdo, fichamento, entre outros); e, também, como esses dados serão registrados e analisados. "Em síntese, é a descrição da forma como serão analisados os dados da pesquisa. Existem duas grandes tendências: a) se a pesquisa for qualitativa, as respostas podem ser interpretadas global e individualmente; b) se for quantitativa, provavelmente, serão utilizadas tabelas e estatística" (HEERDT, 2004). f. Apresentar em detalhes o cronograma e o orçamento que se prevê para o processo da pesquisa. Caso a pesquisa seja estudo de campo, estudo de caso, experimental etc., deve-se escrever em média um parágrafo para cada item acima relacionado. Se, ao contrário, for pesquisa bibliográfica ou documental, dispensam-se os itens relacionados acima (“a” a “f”), devendo o aluno discorrer sobre as ideias ou teses dos autores especializados no tema proposto. Para isso, ele deve escrever, no mínimo, quatro parágrafos. 4 Para saber mais sobre esses tipos de abordagem, consultar na midiateca, No Eva, texto referente. 53 Universidade e Ciência 9 - Cronograma O cronograma é o item da metodologia em que se detalham as ações inerentes à aplicação e composição da pesquisa no decorrer do tempo. Pode ser também a distribuição adequada das tarefas, por ordem de importância, em relação ao tempo previsto. É costumeiro apresentar as ações e datas na forma de tópicos ou de quadro. Salienta-se, ainda, que esta etapa preveja, cronologicamente, as atividades inerentes à estruturação da monografia e não do projeto, uma vez que este corresponde ao planejamento daquela. 10 - Referências As referências dizem respeito à etapa em que se listam as obras citadas no texto do projeto, em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, conforme a NBR 6023 vigente da ABNT.
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