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tema 3

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AULA 3 
COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA 
NO ENSINO DE LÍNGUAS 
Profª Helenice Ramires Jamur 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta aula vamos conversar sobre as diferentes interfaces digitais e como 
elas podem contribuir para o processo educativo de leitura e escrita. 
Provavelmente, o tema desta aula traz um elemento novo para o seu 
vocabulário docente, afinal, o que seriam estas interfaces digitais? Estaríamos 
apresentando uma ideia da área da tecnologia de informação ou do design e 
trazendo para a educação? De certa forma, podemos dizer que sim. Trata-se de 
uma temática das tecnologias digitais. Entenderemos por interfaces as 
representações gráficas das plataformas digitais. Você vai entender que já faz uso 
dessas interfaces há algum tempo, e verá o quanto é importante compreender a 
linguagem que elas trazem e como podem contribuir para suas aulas de línguas. 
Iniciaremos nossa conversa discutindo os novos suportes para leitura que 
esta era digital trouxe para nossa prática de leitura e escrita. Abordaremos as 
características das interfaces digitais, dos ambientes virtuais de aprendizagem e 
suas contribuições para o ensino de línguas. Também vamos refletir sobre o uso 
das redes sociais como recurso pedagógico para o ensino de língua materna ou 
estrangeira e traremos, além de alguns exemplos que deram certo, alguns 
desafios desse uso. 
No tema 3, vamos entender melhor as diferenças sensíveis entre ler e 
navegar; veremos como alguns autores entedem essas diferenças e o que isso 
significa na nossa prática docente. Em seguida, falaremos dos jogos digitais, 
discutindo os tipos de jogos e práticas possíveis diantes deles. 
Por fim, abordaremos alguns aspectos para o planejamento das aulas de 
línguas nessas interfaces digitais, discutindo características relevantes para a 
construção de um bom projeto que considere o uso dessa linguagem. Ficou 
animado(a)? 
CONTEXTUALIZANDO 
Uma prática comum das aulas de línguas é fazer a diferenciação entre a 
oralidade e a escrita. Você já deve ter feito com seus alunos o exercício de 
transpor um texto oral para o formato escrito (e o contrário também). Fazemos 
isso para demonstrar que cada gênero textual tem suas próprias características, 
pois queremos que entendam que a oralidade não é uma linguagem caótica, mas 
tem características próprias que, quando transcritas para a escrita, parecem não 
 
 
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fazer muito sentido, ao passo que, quando se ouve o mesmo texto, a percepção 
é de total clareza. 
Hoje, temos mais um elemento nesta discussão sobre gêneros textuais que 
não podemos deixar de lado: as interfaces digitais. Será que as práticas de leitura 
têm se modificado diante esses ambientes digitais? Ler um texto seria a mesma 
coisa que navegar por ele? É possível navegar por um texto impresso? 
 É sobre essas questões que precisamos discutir, ou nossas aulas correm 
o risco de estarem presas às gramáticas do século passado, deixando de lado 
questões mais pertinentes deste século. Afinal, o que mudou na língua escrita 
com as novas tecnologias digitais? 
Para ilustrar essa conversa, vou contar uma história verídica sobre uma 
senhora (chamada aqui de Marie). 
Marie sempre foi uma pessoa identificada pelos seus familiares como à 
frente de seu tempo. Assim que surgiu a possibilidade de pagar as contas por fax, 
ela o fez. Depois, começou a usar internet banking quando ninguém ainda 
confiava nesse sistema. A internet ainda era discada e ela já comprava produtos 
por lojas virtuais e consultava receitas de comidas em sites especializados. Hoje, 
Marie já compra passagens aéreas, reserva hotéis e está nas principais redes 
sociais utilizadas via web. Recentemente, Marie ganhou um celular de última 
geração, instalou um app (aplicativo) conhecido para mensagens instantâneas e... 
Sabe o que ela disse sobre essa experiência? – Que negócio complicado! 
Como você explicaria essa situação? Será que há algo tão diferente que 
fez Marie se assustar com o recurso? A nova interface digital teria confundido 
Marie? 
Veremos que alguns autores utilizam o termo “grámatica das interfaces 
digitais”, defendendo que, ao se deparar com uma nova estrutura digital, o leitor 
teria de compreender um novo padrão e regras próprias daquela composição 
gráfica para, então, fazer uso dela com facilidade. 
Fique tranquilo, Marie já aprendeu a usar o aplicativo. Ela já envia 
emoticons e fotos das suas viagens em tempo real, apropriou-se da gramática 
daquele sistema e fazer lives passou a ser parte do seu cotidiano. 
 
 
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TEMA 1 – AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM (AVAs) NO ENSINO 
PRESENCIAL E A DISTÂNCIA 
Certamente, esse é um tema muito amplo e não teríamos como analisar 
em profundidade cada boa prática ou todas as pesquisas científicas sobre o 
assunto. Nosso objetivo aqui será apenas trazer dois aspectos principais sobre os 
AVAs que considero essenciais para o trabalho docente no ensino de línguas: as 
principais caracterísicas e recursos dessas plataformas e os possíveis usos para 
as nossas aulas. 
Os ambientes virtuais de aprendizagem nasceram na educação a distância. 
Seus primeiros modelos se espelhavam nos métodos tradicionais e presenciais 
de ensino, ou seja, apenas tinham espaços para transmissão de conteúdos, sem 
muitas oportunidades para diálogo ou contribuições dos alunos. Ainda assim, 
dependiam do acesso e do interesse dos alunos em realizar seus estudos, 
portanto, embora tivessem recebido críticas por reproduzirem a passividade dos 
alunos diante das aulas presenciais, não eram espaços completamente 
“bancários” – relembrando a crítica de Freire (1996) para essa proposta 
educacional, que se pauta na mera “transmissão” de conteúdo. Com o tempo, 
esses ambientes deixaram de ser apenas um local para postagem de materiais 
didáticos e começaram a considerar o processo interativo de ensino e 
aprendizagem, abrindo espaços para a troca entre os alunos, postagens e 
contribuições. 
Hoje, já falamos em ambientes personalizáveis, que sugerem 
automaticamente novas leituras e exercícios conforme os interesses e/ou 
dificuldades do aluno. Também já são computadas as horas de estudos e tempo 
que passam em cada conteúdo, quantidade de interações nas aulas, resultados 
nas avaliações. Toda essa informação contribui para o planejamento das aulas, o 
acompanhamento individual dos alunos e a avaliação geral do desempenho do 
próprio aluno. Já é possível verificar se as questões avaliativas foram bem 
elaboradas, uma vez que esses ambientes podem trazer estatísticas sobre o 
resultado de cada questão, informando quantos acertos e erros e quais as 
alterativas mais marcadas em provas objetivas, por exemplo. Sim, os sistemas 
estão cada vez mais sofisticados. 
Mas por que estou trazendo essas informações a você? 
 
 
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Os AVAs, além de representarem o principal recurso para mediação da 
aprendizagem na educação a distância, também têm sido utilizados pelo ensino 
presencial com muito sucesso, e é nesse aspecto que as modalidades se 
misturam e se fundem, transformando as aulas presenciais em propostas híbridas. 
As aulas não ficam mais restritas ao ambiente físico da sala de aula, pois a 
discussão, o estudo e a comunicação continuam nos ambientes especialmente 
criados para esse fim. 
Portanto, se você ainda não sabe por onde começar, vamos falar sobre 
esses ambientes, os quais estão disponíveis até mesmo gratuitamente. Basta 
pesquisar e você encontrará algumas boas possibilidades para apoiar suas aulas; 
além disso, verá que até alunos mais tímidos nas aulas presenciais poderão ser 
os mais interativos nos momentos a distância. Será uma oportunidade de 
conhecer uma nova forma de trabalhar, na qual a troca poderá ser, finalmente, o 
elemento fundamental. 
Como já vimos, os AVAs foram evoluindo rapidamente e se difundindo até 
mesmo no ensino presencial. Mas o que caracteriza um ambiente virtual de 
aprendizagem?São plataformas com diferentes recursos que visam a troca e a 
comunicação entre professores e alunos. Entre os principais recursos, podemos 
selecionar as seguintes categorias: 
 Ferramentas para interação: fórum, chat, mensagens privadas, wikis, 
videoconferências. 
 Repositório de documentos: materiais didáticos, postagens de trabalhos. 
 Ferramentas de gestão: desempenhos dos alunos, resultados das 
avaliações, agendamentos. 
Considero a primeira desta lista de categorias como a mais importante de 
qualquer ambiente educativo, seja digital ou não, uma vez que será pela interação 
que a construção do conhecimento acontecerá. Veja o que Belloni (2008, p. 45), 
citando Paul (1990), diz sobre o que ela chama de ”sistemas ensinantes”: 
O primeiro grande desafio a ser enfrentado pelas instituições provedoras 
de educação aberta e a distância refere-se, portanto, mais a questões 
de ordem socioafetiva do que propriamente a conteúdos ou métodos de 
cursos; mais estratégias de contato e interação com os estudantes do 
que sistemas de avaliação e de produção de materiais. (grifo meu) 
Diante disso, é importante salientar que esses recursos poderão dar o tom 
da aula. A partir das discussões e produções dos alunos nesses recursos de 
 
 
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interação poderão ser implementadas novas atividades, práticas ou debates. 
Vamos ver algumas dessas ferramentas e seus possíveis usos? Acompanhe 
abaixo: 
 Fóruns – Recurso para promover o debate; logo, é essencial que sejam 
apresentadas situações que demandem um posicionamento crítico dos 
alunos. Não basta apenas solicitar nessa ferramenta uma opinião ou 
definição de um termo, é preciso fomentar a polêmica que provocará a 
busca e o aprofundamento de todos que entrarem na conversa. Além disso, 
o papel do professor como mediador nos fóruns é de manter o bom 
relacionamento entre os alunos e oferecer feedbacks durante as 
participações. 
 Chat – São os famosos “bate-papos”. Para as aulas de língua portuguesa, 
vale muito para debater a linguagem que é própria da ferramenta, com 
abreviaturas e recursos que substituem certas expressões da oralidade. 
Nas aulas de língua estrangeira pode-se fazer um paralelo com as 
características da língua portuguesa e ainda exercitar a escrita e a 
argumentação. Mas não se esqueça de organizar esses momentos 
previamente; sempre é bom fazer um teste antes para não correr o risco de 
ter pouca participação. 
 Videoconferência – Quer trabalhar a oralidade, pronúncia ou apenas 
solicitar um trabalho que explore a linguagem do vídeo? Use e abuse desse 
recurso. Contudo, assim como o chat, um teste prévio é obrigatório. Trata-
se de uma ferramenta enriquecedora que depende de uma boa conexão 
de todos os envolvidos, o que nem todo AVA possui. Hoje é possível fazer 
vídeos a partir dos diversos aplicativos disponíveis. 
 Independentemente do recurso ou da ferramenta em si, é preciso sempre 
estudar este recurso/ferramenta, pesquisar boas práticas e estar atento ao 
objetivo da atividade proposta, a qual deve sempre ter um sentido muito claro para 
não ser um momento desperdiçado. 
Como pode se tratar de uma nova interface para quem está começando a 
utilizá-la, lembre-se de fazer uma primeira aula explicando cada recurso e pedindo 
atividades simples que possam exemplificar o uso adequado, assim você evita 
cotratempos durante o precurso. Cuidado ao supor que estudantes que já fazem 
uso de outros sites estejam habilitados a acessar a ferramenta, pois pode não ser 
tão intuitivo assim, mesmo nos casos de ambientes muito bem planejados. 
 
 
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Ficou animado(a) para utilizar o AVA nas suas aulas? Experimente 
pesquisar sobre algumas redes sociais para professores e alunos disponíveis 
gratuitamente na web, estude as melhores possibilidades para suas aulas e inove 
sempre. 
TEMA 2 – USO DE REDES SOCIAIS PARA O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA E 
ESTRANGEIRA 
Você já deve ter conhecimento de colegas que optaram pelo uso das redes 
sociais como se fossem ambientes de aprendizagem. Após nossas discussões, 
talvez você esteja pensando que seria uma ótima opção, já que grande parte das 
funções dos AVAs é encontrada nas redes sociais digitais. (Estou inserindo 
“digitais” no termo “redes sociais” para lembrar que redes sociais não são 
exclusividade do meio digital. Os sociólogos há muito tempo nos lembram que 
estamos inseridos em redes sociais ao longo da vida em sociedade, e as redes 
sociais digitais trazem esse conceito para a web, além de apresentar recursos de 
interação que nos aproximam até mesmo de grupos geograficamente distantes.) 
Há diferentes estudos que fazem exatamente essa defesa, afinal, se os alunos já 
frequentam as redes sociais, seria uma forma de trabalhar em uma interface 
amplamente conhecida pelos estudantes e ganhar a atenção desejada. Mas será 
tão simples assim? 
De fato, o trabalho educativo com os recursos desenvolvidos para outras 
finalidades não é de agora. Por exemplo, além dos livros didáticos, utilizamos em 
nossas aulas outros livros e materiais, como revistas, jornais; também 
promovemos visitas a locais que não são espaços exclusivos da escola, como 
parques, museus e teatros. Da mesma forma, podemos e devemos frequentar 
outros espaços digitais e utilizar o que é mais relevante desses ambientes. 
Quer um exemplo interessante? Pesquise o caso do professor de história 
que utilizou o Facebook para ensinar sobre o Renascimento. Você verá que foi 
uma brilhante ideia que recebeu participação ativa dos estudantes. Como esse, 
há outros relatos de sucesso, mas será necessário ter atenção a alguns cuidados 
que vamos listar a seguir: 
1. Alguns alunos podem não ter acesso, portanto, cuidado com atividades 
promovidas exclusivamente nessas redes, a fim de evitar a exclusão de 
alguns alunos. Diferentemente dos AVA, nos quais o acesso é dado pela 
 
 
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instituição ou pelo professor, as redes sociais são opcionais; desse modo, 
ao preparar algo para ser desenvolvido nestas condições, lembre-se de 
questionar ao grupo se todos têm acesso, caso contrário, será necessária 
uma adaptação na proposta. 
2. O fantasma da dispersão – Sempre nos persegue a possibilidade de que 
alguns alunos podem não trabalhar na missão a eles atribuída como 
desejaríamos, mas uma boa dica é a criação de algumas regras para o 
trabalho nas redes, e muita mediação. O trabalho não pode acontecer 
solitariamente, deve haver troca entre os estudantes, e entre estudantes e 
docente permanentemente. 
3. Os alunos vão me adicionar – Isso é quase certo. Os alunos vão adicionar 
o professor, fazendo o pedido de conexão com ele; aceitá-los ou não deve 
ser uma escolha do docente. Alguns colegas montam um perfil somente 
para interação com alunos, o que tem funcionado bem quando o perfil 
pessoal não é adequado para ser dividido com a turma. Contudo, se eu 
particularmente penso que pode ser um problema adicionar os alunos no 
meu perfil pessoal, há um contraponto: Se posto apenas aquilo que pode 
ser visualizado por qualquer pessoa na rede, qual o problema? Só está na 
rede aquilo que publicamos. Também verifique se a escola ou sistema de 
ensino ao qual você está vinculado não possui regras próprias. Há relatos 
de locais que proíbem esse vínculo por redes sociais. 
Sugiro que agora você faça uma pesquisa sobre o uso das redes sociais 
como suporte e ferramenta para o ensino de línguas e busque as melhores ideias 
para suas aulas. Talvez esteja se perguntando se é mesmo necessário ter um 
AVA. Essa resposta vai depender da sua prática. Caso deseje dados para realizar 
a gestão das aulas, pretenda fazer avaliações formais ou tenha um grupo grande 
de alunos, será primordial o uso de um AVA. Aliás, em grandes instituições, o AVA 
precisa inclusive estar perfeitamente integrado com os sistemas de gestão 
acadêmica para os quais as notas e outros dados dos alunos são enviados, 
portanto, você terá de verificarem que situação se encaixa a sua realidade. 
TEMA 3 – LEITURA E NAVEGAÇÃO: DISTÂNCIAS E APROXIMAÇÕES 
Se estamos falando de novas plataformas para o processo educativo, 
precisamos discutir as práticas de leitura nesses novos ambientes de mediação. 
 
 
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Iniciei esta aula questionando sobre leitura e navegação: Seriam a mesma coisa 
em diferentes suportes ou é possível verificar alguma diferença? 
Neste ponto, vamos primeiro discutir o papel das interfaces gráficas. Para 
isso, é válido citar a pesquisa da Novais (2012, p. 12) que demonstrou a 
complexidade que envolve o uso de interfaces digitais na identificação de signos 
próprios dessas novas plataformas. A autora diz que “As interfaces gráficas nos 
permitem usar o computador sem a necessidade de conhecer os códigos e os 
processos digitais mais complexos”. Em outras palavras, não fossem pelas 
estruturas gráficas criadas por profissionais de web design, não seria possível que 
fizéssemos a leitura nesse meio digital, porque seriam os códigos que estão por 
trás das interfaces a serem lidos, e não a visualização agradável com a qual nos 
deparamos, repleta de botões, figuras e barras de rolagem. 
É exatamente por isso que, além de habilidades com a leitura, ao se 
deparar com um texto digital, é preciso acessar algumas outras habilidades de 
navegação próprias da web: 
Cada leitura é única porque cada leitor é único, com suas experiências 
e expectativas. Os leitores precisam buscar estratégias para entender e 
dar sentido à atividade que estão realizando no computador, acionando 
as instruções e marcas deixadas pelos autores e acessando seus 
sistemas de conhecimento, de crenças e de culturas. Essa é, talvez, a 
maior dificuldade dos usuários: buscar referências de outras práticas de 
leitura e de escrita. (Novais, 2012, p. 14) 
Diante disso, é inegável que cada leitor terá desafios próprios para fazer a 
leitura no meio digital, isto é, não terá apenas de identificar as pistas deixadas 
pelo autor do texto, mas também terá de se deparar com as escolhas de design, 
cores, ícones, tamanho de fonte e toda a gama de opções que foram 
desenvolvidas apoiadas nos estudos do design. Tanto os estudos linguísticos 
quanto de design de interface têm perseguido respostas para sistemas amigáveis, 
intuitivos e de fácil diálogo. No entanto, Novais (2012) e Ribeiro (2008) alertam 
para a ausência de integração entre essas duas ciências que se isolam em si 
mesmas ao invés de trabalharem na intercessão de seus objetos de estudo. 
E a resposta àquela questão sobre as diferenças entre ler e navegar? São 
processos diferentes? Diante dessa discussão sobre os elementos que invadem 
o texto por meio das interfaces, o que você diria? 
Coscarelli (2016, p. 62) nos ajuda nessa questão de forma muito clara: 
“Embora a leitura online possa ser vista como um todo, a leitura na internet requer 
duas principais competências que se entrelaçam: a navegação e a leitura”. Diante 
 
 
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disso, fica definido que são processos diferentes, embora dependentes quando 
se trata de leitura no meio digital. Ao realizar uma leitura em um ambiente virtual, 
seja específico de aprendizagem ou não, o leitor precisa desenvolver as 
habilidades listadas por Azevedo (2013, p. 58 citado por Coscarelli, 2016), 
conforme apresentarei a seguir: 
 Reconhecer e saber usar os mecanismos de busca e de busca 
avançada; 
 Selecionar palavras-chave adequadas; 
 Avaliar se a informação é pertinente ao objetivo da pesquisa (se o link 
é relevante); 
 Reconhecer elementos (gráficos e linguísticos) que sinalizam a 
presença de um link; 
 Localizar-se nas várias camadas de que se compõe um hipertexto; 
 Inferir o conteúdo do link a partir do seu nó; 
 Selecionar conteúdos pertinentes aos objetivos de leitura; 
 Relacionar o link ao conteúdo ou endereço ao qual leva. (Azevedo 
2013, p. 58 citado por Coscarelli, 2016) 
Essas seriam algumas habilidades básicas para a ampla navegação pela 
internet, porém, se formos avaliar como se dá a navegação por cada ambiente 
digital, veremos outros itens relacionados à parte visual e de localização das 
estruturas que os alunos deverão dominar amplamente para fazer uso de seus 
recursos. 
Portanto, ao trabalhar as práticas de leitura em ambientes digitais, é preciso 
incluir, no planejamento, o trabalho com essas novas competências necessárias 
para a leitura em meio digital. Embora possamos encontrar pontos de contato 
entre ler e navegar, já que se repetem as habilidades de leitura de um texto 
impresso, há a leitura de mensagens não verbais, além de recursos em multimídia 
que apoiam essa prática de leitura, trazendo um novo sentido ao texto e, muitas 
vezes, dando o sentido a ele. 
TEMA 4 – JOGOS DIGITAIS NO PROCESSO EDUCATIVO 
 Você acha possível ensinar línguas por meio de jogos? Você já deve ter 
feito uso de algum recurso lúdico nas suas aulas, já elaborou cartas com imagens 
para trabalhar o vocabulário de língua estrangeira com os alunos, criou 
simulações ou até aproveitou um jogo de tabuleiro para ilustrar suas aulas. E um 
jogo digital? Sim, estou falando dos famosos games, aqueles que nossos alunos 
já conhecem dos momentos de entretenimento, que jogam no videogame ou no 
computador; eles conhecem cada regra, e até estudam sobre o jogo para passar 
 
 
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de uma fase para outra. Acha que fui longe demais? Então veja o que diz Mattar 
(2010): 
O aprendizado baseado em jogos digitais está fundamentado em duas 
premissas: (1) os aprendizes mudaram em diversos pontos essenciais; 
e (2) são de uma geração que experimentou profundamente enquanto 
crescia, pela primeira vez na história, uma forma radicalmente nova de 
jogar – computadores e videogames. Assistimos então a uma 
descontinuidade, inclusive na maneira como essas gerações aprendem. 
(Mattar, 2010, p. 29) 
Mattar (2010) defende a ideia de que as crianças e mesmo os adultos 
gostam de aprender, sempre gostaram, isso porque o gosto pelo aprendizado faz 
parte da natureza humana. Contudo, o modelo estagnado do ensino 
contemporâneo é pouco atrativo e motivador, ainda mais nesta cultura digital na 
qual nasceu a geração atual, imersa em jogos eletrônicos, computadores e 
celulares. Portanto, os games seriam uma excelente alternativa para trabalhos de 
experimentação e uma aprendizagem com significado para os alunos. Esse autor 
alega ainda que os jogos digitais conseguem ir além dos jogos tradicionais, porque 
têm uma capacidade de criar um mundo virtual no qual o jogador “mergulha” e 
descobre as regras, explorando os ambientes e colocando-se em uma postura até 
de cientista que levanta hipóteses, pesquisa e cria verdadeiras teses sobre a 
experiência do jogo. 
 No entanto, nem sempre são jogos assim que encontramos quando 
buscamos jogos “educativos”. Na maioria das vezes, são meros jogos de tentativa 
e erro, seguindo uma concepção behaviorista de aprendizagem, isto é, se o aluno 
acertou uma resposta a uma pergunta (sem contextualização, sem significado, 
sem aplicação prática), são dados pontos a ele; se errou a resposta pré-
programada, perdem-se os pontos, até que chega o fim do jogo. Esse tipo de jogo, 
assim como outros que seguem lógicas pouco interessantes para um processo 
educativo que objetive promover sujeitos críticos, talvez ajude apenas a ocupar 
um tempo livre; no entanto, para terem um sentido educativo, é essencial que 
tragam para o aluno experiências significativas. Como resolver isso? Podemos 
utilizar jogos que não tenham sido desenvolvidos para fins educativos? Para o 
ensino de línguas/memorização de vocabulário seriam válidas essas iniciativas de 
estímulo-resposta? 
Podemos dizer que, até certo ponto, sim, afinal, seria uma dentre várias 
estratégias para trabalhar com línguas. Mas, se você reparar nos jovens 
jogadores, verá que aprendem expressões da língua inglesa, por exemplo, por 
 
 
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meio de jogos sem que esse seja oobjetivo do jogo; é mais pelo desafio que exige 
a habilidade de pesquisa ou o levantamento de hipóteses que pelo contexto do 
jogo em si. Portanto, seria mais produtivo trabalhar com jogos que trouxessem à 
tona as principais habilidades deste século, como define Chris Dede (citado por 
Mattar, 2010, p. 53): 
[...] compreender e resolver situações complexas e novas colabora com 
uma equipe diversificada tanto cara a cara quanto a distância; e produzir 
conhecimento filtrando e sintetizando informações. Isso requer fluência 
em tecnologia da informação para colaboração, síntese de informações 
e tomada de decisões. As escolas de educação deveriam tornar esses 
tipos de experiências de aprendizagem centrais para a preparação dos 
professores. 
Diante disso, fazem-se necessárias reflexões amplas sobre os games não 
somente como recurso, mas como estratégia de ensino. Para isso, já existem 
plataformas dedicadas ao ensino por meio de jogos, o que possibilita a integração 
desse universo lúdico aos sérios ambientes de aprendizagem. 
Esse tema é bastante amplo, portanto, sugiro que, se estiver instigado a 
trabalhar com jogos para o ensino de línguas, busque aqueles que melhor se 
adaptam à sua realidade e que, de fato, tragam contribuições para as aulas. 
Assim como qualquer nova estratégia, é necessário estudar profundamente o que 
será trabalhado, caso contrário, o resultado poderá ser desastroso. 
TEMA 5 – O PLANEJAMENTO DAS AULAS DE LÍNGUAS NAS NOVAS 
INTERFACES DIGITAIS 
Em meio a tantos recursos e estratégias novas e diversificadas, talvez você 
esteja pensando em como organizar a sua aula com ambientes virtuais de 
aprendizagem, games e redes sociais. Acertei? 
Vamos pensar de forma prática nas configurações mais simples para fazer 
deste momento algo prazeroso e tranquilo. O primeiro passo é distribuir o tempo 
de curso que você terá com a turma: Será um mês, dois ou um semestre? Essa 
divisão é necessária para compor bem o tempo de cada atividade. A utilização de 
um AVA pode transformar o seu planejamento quando, por exemplo, você propõe 
uma atividade no primeiro dia de aula e ela vai sendo construída, com o seu 
acompanhamento, até o final do semestre, quando finalmente é feita a entrega ou 
apresentação dos resultados. 
Como qualquer planejamento, você deverá listar os objetivos de cada aula 
e, logo em seguida, as estratégias que pretende criar para alcançar tais objetivos. 
 
 
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É importante que esses objetivos, bem como as atividades de cada tópico que 
será abordado, sejam divididos com a turma, incluindo até mesmo as formas de 
avaliação de cada um dos conteúdos. Ainda que seja a produção de um trabalho 
bastante subjetivo, a própria postagem dele no ambiente poderá ser o seu critério 
para avaliação, por exemplo. 
Após a distribuição das atividades, existe uma etapa – cansativa, mas 
fundamental – para trabalhar com esses recursos: a organização dos materiais 
(textos, vídeos, animações) e a avaliação (enquetes, provas, trabalhos, 
produções). Dessa forma, apenas ficarão para o processo aqueles materiais 
específicos para as demandas da turma, aquele conteúdo que gerou mais dúvidas 
ou teve maior interesse. 
Como estamos falando de ambientes digitais, é preciso lembrar que os 
recursos próprios desse meio devem ser explorados, pois não faz sentido 
trabalhar meramente com texto se é possível fazer postagem de vídeos, de 
imagens e de outros recursos. Além disso, quando falamos de ensino de língua e 
estamos usando a linguagem digital, é necessário colocar em debate a própria 
linguagem utilizada. 
No caso das redes sociais, seja como apoio para uma conversação com 
alunos estrangeiros de outra instituição ou como principal plataforma, uma 
conversa prévia poderá esclarecer as regras das atividades e a certificação de 
que todos estão utilizando e têm familiaridade com a plataforma. Por fim, o uso 
dos games pode ser um grande desafio, mas sugiro que até os jogos preparados 
para puro entretenimento possam ser bons instrumentos para suas aulas. Basta 
que você encontre aquele que fará sentido naquele momento. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, vimos algumas mudanças da era digital e como nossas aulas 
de línguas podem ser enriquecidas com todo esse debate. Estudamos os 
ambientes virtuais de aprendizagem como opções interessantes até mesmo para 
a modalidade de ensino presencial. Discutimos a possibilidade de uso das redes 
sociais digitais tendo em vista a familiaridade dos nossos alunos nesses espaços, 
além das trocas entre línguas que as redes possibilitam. 
Conversamos sobre as interfaces digitais e as diferenças entre leitura e 
navegação. Trouxemos importantes pesquisadores da linguística para entender 
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quais aspectos são comuns entre ler o texto impresso e ler o texto digital e quais 
as novas habilidades necessárias para a leitura em ambientes virtuais. 
Para finalizar, conferimos o uso dos games como recursos e estratégias de 
ensino de línguas, e ainda pensamos no planejamento das aulas com o uso de 
AVAs, games, aplicativos e redes sociais. Bastante desafiador, não é mesmo? 
Espero que tenha aproveitado e já tenha dado início às pesquisas sobre os 
temas pelos quais mais se interessou. Até breve! 
LEITURA COMPLEMENTAR 
Texto de abordagem teórica 
Acesse este artigo que apresenta as teorias da aprendizagem baseadas em 
games e estratégias de gamificação, e como elas podem ser incorporadas à 
educação. 
MATTAR, J.; NESTERIUK, S. Estratégias do Design de Games que podem ser 
incorporadas à Educação a Distância. RIED. Revista Iberoamericana de 
Educación a Distancia, Espanha, n. 19, 2016. Disponível em: 
<http://revistas.uned.es/index.php/ried/article/view/15680>. Acesso: 9 abr. 2018. 
Texto de abordagem prática 
Este artigo apresenta resultados de uma investigação qualitativa que observou 
as interações dos alunos durante atividades com jogos educativos nas aulas 
de língua inglesa. 
ARAÚJO, M. A. F. Percepções de uma professora e seus alunos sobre o uso 
de jogos nas aulas de LE/Inglês. In: ENCONTRO DE FORMAÇÃO 
DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA – ENFOPLE, 12., 2016, 
Inhumas. Disponível 
em: <http://www.anais.ueg.br/index.php/enfople/article/viewFile/7658/5799>. 
Acesso: 9 abr. 2018. 
Saiba mais 
Confira esta notícia sobre o professor que usa o Facebook para ensinar história: 
http://www.redalyc.org/articulo.oa
http://www.redalyc.org/articulo.oa
 
 
15 
CARNEIRO, F. Professor de Recife recria linha do tempo do Facebook para 
ensinar história. UOL Tecnologia, São Paulo, 18 dez. 2013. Disponível em: 
<https://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/18/professor-usa-
timeline-do-facebook-para-ensinar-segunda-guerra-
mundial.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso: 9 abr. 2018. 
 
 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
BELLONI, M. L. Educação a distância. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 
2008. 
COELHO, I. M. W. S.; PINHEIRO, M. L. O. As contribuições do WhatsApp no 
ensino do espanhol: uma perspectiva de aprendizagem significativa e 
colaborativa. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, 
v. 12, n. esp. 2, p. 1287-1312, ago. 2017. 
COSCARELLI, C. V. Tecnologias para aprender. 1. ed. São Paulo: Parábola 
Editorial, 2016. 
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 
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