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CAUSAS DE EXCLUSÃO DA TIPICIDADE

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UNIVERSIDADE FRANCISCANA - UFN 
UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO 
CURSO DE DIREITO 
DISCIPLINA DIREITO PENAL I 
 
 
 
Gabrielli da Costa; Kauany Coimbra; Márcia Barroso Kümmel; 
Rafaela Ferraz Suanez Teixeira. 
 
 
 
 
 
 
 
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA TIPICIDADE 
 
Orientador: Profª. SANDRO LUIZ MEINERZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTA MARIA/RS 
2019 
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA TIPICIDADE 
 
 
Gabrielli da Costa; Kauany Coimbra; Márcia Barroso Kümmel; 
Rafaela Ferraz Suanez Teixeira. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Em uma primeira compreensão sobre as causas de exclusão da tipicidade, 
faz-se necessário definir o que seja conduta como o elemento número um que 
integra o fato típico. Conduta significa ação ou comportamento humano balisar para 
a definição teórica do nullum crimen sine conducta. 
Conforme Zaffaroni, Alagia e Slokar apud GRECO (2002), são afastados, 
dessa maneira, outros julgamentos ou avaliações que não o que está descrito na 
norma ou passível de ser apreciado normativamente, envolvendo algo que não seja 
uma ação, como cor, raça, credo, opiniões políticas ou filosóficas, entre outras 
designações, que não estão no círculo da tutela dos bens jurídicos selecionados 
pelo Direito Penal. 
Como resultado de toda a evolução do estudo penal para o finalismo, quando 
alcança o entendimento de conduta como ação ou omissão humana consciente, 
através de ação dolosa ou culposa, (sendo que não somente por um movimento 
físico e corpóreo analisado na doutrina tradicional), define a pessoa física dotada 
de personalidade como autora dos delitos comuns, atingindo um resultado, ao qual 
deu causa e previsto na tipicidade. O legislador apenas elegeu a pessoa jurídica 
como sujeito da ação penal no tocante aos crimes ambientais. 
 A ação regida pela vontade é sempre uma ação final, isto é, dirigida à 
consecução de um fim. Se não houver vontade dirigida a uma finalidade qualquer, 
não se pode falar em conduta. De acordo com Zaffaroni (apud Rogerio Greco, pg). 
“A vontade implica sempre uma finalidade, 
porque não se concebe que haja vontade de 
nada ou vontade para nada; sempre a vontade é 
vontade de algo, quer dizer, sempre a vontade 
tem um conteúdo, que é uma finalidade.” 
 Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não existe ação. Isso pode 
acontecer quando o sujeito se vir impedido de atuar, como nos casos de força 
irresistível, por caso fortuito ou de força maior, também a coação física irresistível 
ou por movimentos reflexos e estados de inconsciência, como sonambulismo e 
hipnose. A conduta é afastada e some o elemento volitivo (vontade e consciência). 
 
1. INADEQUAÇÃO TÍPICA 
 
 Como é visto, o conceito analítico de crime que revela a construção de sua 
noção como uma composição de elementos. São o modelo onde o enquadramento 
deverá ocorrer para que se reconheça um agir como algo de relevância ante a 
construção do direito penal. 
Como afirma Rogerio Greco: “embora o crime seja insuscetível de 
fragmentação, pois que é um todo unitário, para efeitos de estudo, faz-se 
necessária a análise de cada uma de suas características ou elementos 
fundamentais”, ou seja, o fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade, para se 
falar em crime. 
O fato típico, conforme a teoria finalista é composto pelos seguintes 
elementos: conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva, resultado, nexo 
causal e tipicidade (formal e material), derivados de estudos mais recentes que 
trouxeram o elemento volitivo para a análise dentro dele. 
 
2. CONDUTAS PENALMENTE IRRELEVANTES 
 
 2.1. CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR 
Para o autor Damásio de Jesus, há uma discussão a respeito da natureza 
jurídico-penal da força maior e também do caso fortuito como sendo excludentes 
da culpabilidade ou excludentes do nexo de causalidade. 
Em alguns ordenamentos, como o italiano, que incluem o caso fortuito e a 
força maior na questão da culpabilidade, cita Bettiol, o qual ensinava que a 
imprevisibilidade é o “que caracteriza o caso fortuito como acontecimento que 
acompanha ou que segue a ação de modo a determinar, conjuntamente com esta, 
um evento lesivo”. Desse modo, o caso fortuito excluiria a culpabilidade, uma vez 
que, faltando a previsibilidade do evento, desaparece a possibilidade de uma 
motivação diversa. Para esta visão, toda e qualquer ação lesiva de um bem 
juridicamente tutelado pode ser declarada não culpável, porque inexigível conduta 
diversa, no caso de ocorrer um desses dois institutos. 
Cezar Bittencourt, por sua vez, adota o entendimento de Francisco Assis 
Toledo, para quem a força maior exclui a própria conduta, enquanto o caso fortuito 
apresenta-se como excludente de culpabilidade. Assim, “na hipótese de força maior 
a punibilidade de um fato típico fica afastada diante da impossibilidade de evitar-se 
o resultado danoso, embora previsível. Na hipótese de caso fortuito, o fundamento 
da impunidade reside na imprevisibilidade do resultado, embora evitável, que é o 
mínimo exigível para configurar a culpa consciente”. 
Opostamente, outros autores, como Grispigni, embasados na teoria objetiva, 
observam que a verificação do fortuito se traduz em: “sem possibilidade de dúvida, 
em que um evento não pode juridicamente ser relacionado com uma conduta, que 
dele seja causa, pois no tocante a essa conduta ele se apresenta como um evento 
casual e imprevisível”. 
Segundo as lições de Zaffaroni, que bem definiu o instituto da força maior: 
“A força física absoluta pode ser proveniente da natureza ou 
da ação de um terceiro. Há força física proveniente da 
natureza quando um sujeito é arrastado pelo vento, por uma 
corrente de água, é empurrado por uma árvore que cai.” 
Se numa dessas hipóteses, como no caso daquele que foi arrastado pelo 
vento, o agente esbarra fortemente numa outra pessoa, causando-lhe lesões 
corporais, não podemos imputar-lhe o resultado causado a título de dolo ou culpa. 
 Damásio entende que a circunstância imprevista, o caso fortuito, não exclui 
o nexo de causalidade, de modo que a afirmação de que o caso fortuito e a força 
maior rompem a relação causal não é correta: “esta existe ou não existe, sendo 
impossível ser extinta depois de sua ocorrência: se o agente está dirigindo um 
veículo quando há uma rotura da barra de direção, havendo atropelamento e morte 
de um terceiro, existiu o nexo causal”. Se A não estivesse dirigindo não ocorreria 
morte da vítima B. A solução, para este autor, segue a teoria de que o dolo e a 
culpa, de acordo com o finalismo, constituem elementos do tipo, integrando a 
conduta: esta só é típica quando dolosa ou culposa. Em consequência, quando 
interferem a força maior e o caso fortuito, não há crime por ausência de conduta 
dolosa ou culposa (primeiro elemento do fato típico). 
 Fernando Capez também considera não haver crime na hipótese de caso 
fortuito e de força maior, os quais “excluem a própria conduta, por ausência de dolo 
ou culpa”. 
Concluindo, não havendo conduta dolosa ou culposa, não há conduta típica. 
Hoje, adotada a teoria da imputação objetiva, para a maior parte dos autores, o caso 
fortuito e a força maior devem ser considerados hipóteses de exclusão da tipicidade 
do fato. 
2.2. HIPNOSE 
 
A ausência de conduta existente nos três casos de coação física absoluta, 
movimentos reflexos e estados de inconsciência, que por sua vez, divide-se em 
três hipóteses sendo elas: sonambulismo, embriaguez letárgica e hipnose, 
conforme o texto de Rogerio Greco são casos de total inconsciência e têm o 
condão de eliminar a conduta do agente. 
Nesta parte da pesquisa sobre a hipnose ou hipnotismo, investigou-se que 
tem seu campo de estudo de forma delimitada na psicologia e que, segundo 
Hippolyte Bernheim (1840-1919), “a hipnose pode se confundir com a sugestão, 
pois aquela nada mais seria senão o despertar da sugestibilidade, atividade normal 
do cérebro”. Para Jean-Martin Charcot (1825-1893): ”a hipnose não passava de um 
estado de histeria obtido artificialmente”.A conduta pode acontecer de forma involuntária, ou com consentimento do 
agente hipnotizado, o que vem sendo motivo muitas divergências doutrinárias sobre 
se no momento do fato a pessoa estaria hipnotizada ou não, ou, ainda, se estaria 
sofrendo somente por um induzimento do hipnotizador. E ainda, se de alguma forma 
vir a ser comprovado que a conduta foi culposa e que o agente não produziu 
resultado sozinho, se exclui a conduta pelo fato da inconsciência do agente. 
 Nucci define o hipnotismo como “estado mental semelhante ao sono, 
provocado artificialmente por alguém”. (Nucci 2011, p. 207). Cabe também 
mencionar que a hipnose ou inconsciência do agente fica resguardada pelo 
ordenamento jurídico como excludente de ilicitude sempre que comprovada a 
involuntariedade da conduta e que não foi realizada de forma que o agente 
induzisse o resultado no final. Nesse ponto, Zaffaroni e Pierangeli (2011, p. 377 e 
378) assim explicam: 
“Os pressupostos nos quais, não obstante deles participar um 
home, não há conduta, ou seja, de fatos humanos em que não 
há ações, por faltar a voluntariedade, são aqueles em que 
medeia uma força que provoca os movimentos sem o controle 
da vontade e uma força que impede a realização dos 
movimentos de conformidade com a vontade, bem assim 
também aqueles em que a pessoa se encontra em estado 
psíquico natural [...] que, no geral, são casos de 
inconsciência.” 
Se prevalecer a opinião acerca da existência da conduta por parte do agente, 
e se também constatado o estado de inconsciência pela questão de o agente estar 
totalmente hipnotizado, ainda se percebe muitas divergências quanto à hipnose, se 
induzida com ou sem consentimento do hipnotizado, resultando em diferentes 
consequências na avaliação do elemento volitivo. 
 
2.3. SONAMBULISMO 
 
Seguindo na seara dos casos de total inconsciência que levam a anular a 
conduta como elementos do fato típico, tem-se o sonambulismo, um “sono 
patológico” que faz com que agente aja ou fale durante o sono tornando seus 
sentidos obtusos, o que acaba por se tornar uma excludente da tipicidade penal, 
pela falta do elemento de vontade e consciência. 
O doutrinador Guilherme de Souza Nucci cita em seu tratado de Direito Penal 
o caso que ocorreu em York, na Grã-Bretanha, em que um jovem de 22 anos, após 
sair com sua amiga, a convidou para ficar em sua casa oferecendo seu quarto 
enquanto ele dormiria na sala. Dias depois, a mulher foi à polícia reclamando ter 
sido acordada quando o jovem a estuprava. Ele alegou ao juiz não se lembrar do 
que aconteceu, relatando a presença de sonambulismo desde os 13 anos. A justiça, 
então, convocou um especialista, o qual atestou que o jovem era mesmo 
sonâmbulo, sendo esse o motivo pelo qual não recorda das coisas que fez quando 
está dormindo, desse modo logrando a absolvição. 
Para determinar a exclusão da tipicidade nos casos de sonambulismo, o 
agente não pode ter nenhuma consciência de tal ato, nem saber que pode causar 
perigo com suas atitudes, pois aplicando - se a teoria da actio libera in causa, se 
ação foi livre (se o sonâmbulo souber que já cometeu tal situação decorrente do 
sonambulismo e gerado dano a outra pessoa), deverá o agente ser 
responsabilizado pelos resultados dela decorrente. 
Ilustra a matéria a seguinte jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado 
do Rio Grande do Sul, de nº 70035154962, na oitava Câmara Criminal da Comarca 
de Lajeado. Tem-se a Apelação Crime envolvendo Atentado Violento ao Pudor, em 
que o Tribunal promoveu a manutenção do decreto condenatório frente ao recurso 
da defesa alegando cerceamento de defesa do réu, presença de sonambulismo e 
crise convulsiva. 
Os fatos foram: 
“No dia 03 de fevereiro de 2003, mediante violência 
presumida, em razão da idade do ofendido, menor de 14 anos, 
constrangeu seu filho a permitir que com ele praticasse ao 
libidinoso diverso da conjunção carnal, introduzindo seu dedo 
no ânus da vítima valendo-se de uma visita do filho à sua 
residência. Diante da situação, a vítima pôs-se a chorar 
copiosamente, fazendo com que seus tios ouvissem se 
deslocassem até o local, para verificar o que acontecia, 
momento em que o denunciado cessou sua prática abusiva”. 
Diante disso o réu apresentou que no momento de sua 
conduta estava em estado de sonambulismo, porém não foi 
configurado, considerando que o Laudo Psiquiátrico produzido 
pelo Instituto Psiquiátrico Forense foi conclusivo quanto à 
plena capacidade do réu de compreender o caráter ilícito e 
que inclusive o agente referiu que no dia do delito lembrava-se 
de tudo o que havia ocorrido, afastando por unanimidade o 
cerceamento de defesa.” 
 
O acórdão revela a manutenção do decreto condenatório, a consideração das 
provas existentes como suficientes para o julgamento de procedência do pedido 
condenatório deduzido na denúncia. Os relatos do menor ofendido e de sua genitora 
foram avaliados como firmes e seguros, corroborados pela prova testemunhal e por 
Laudo Psicológico, sendo o depoimento da vítima adquire extraordinário valor 
probatório em casos de investigação de cometimento de crimes contra a liberdade 
sexual. 
Portanto, para haver a exclusão da tipicidade aos casos de sonambulismo, o 
agente deve estar em estado de total inconsciência, devendo ser atestado através 
de laudo pericial. De acordo com Cezar Roberto Bitencourt, “quando ocorrer que as 
funções mentais não funcionarem adequadamente, estando em estado de 
inconsciência, que é incompatível com a vontade, sem esta não há ação”. 
 
 
 
2.4. MOVIMENTOS REFLEXOS 
 
Seguindo a linha de raciocínio que para a caracterização da conduta são 
indispensáveis vontade e consciência, temos os movimentos reflexos como outra 
das reações motoras, secretórias ou fisiológicas, produzidas pela excitação de 
órgãos do corpo humano sem que se estabeleça controle ou existência de comando 
volitivo. 
Segundo Cezar Bitencourt, os movimentos reflexos são interações corpóreas 
ou a sua ausência, dirigidos pelo sistema nervoso, no qual o estímulo exterior é 
recebido pelos centros sensores e transmitido diretamente às demais terminações e 
órgãos, sem intervenção da vontade. É algo físico, que incide no mundo material, 
situações em que o organismo reage a determinados impulsos e, em virtude disso, 
podem gerar danos ou lesões. 
A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, da 
Sexta Câmara da Comarca de Cruz Alta, nº 7004513539, envolvendo Roubo 
Impróprio. Trata-se de Apelação Criminal em que o roubo impróprio restou não 
caracterizado e obtida a absolvição do réu, com animus furandi não esclarecido. 
Acordaram os Desembargadores integrantes da Sexta Câmara Criminal do 
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento ao apelo da 
defesa para absolver o réu Eliackim Lopes Murussi das acusações que lhe foram 
imputadas na denúncia. 
Nos autos consta que: 
“O agente ingressou na garagem de condomínio e foi 
surpreendido pelo vigilante do local, que mandou que se 
retirasse, momento em que o réu tentou investir contra o 
funcionário, mostrando-lhe uma faca, mas, diante da reação 
deste, fugiu, sem nada levar. Assim, não se sabe o que 
pretendia o acusado, não sendo a prova probatória para 
subtrair bens de terceiros, permanecendo inconteste o fato de 
tentar agredir o vigilante, porém, não se podendo afastar a 
possibilidade de que tal agir limitou-se a uma reação 
automática diante da presença do vigilante, portanto, por falta 
de prova probatória, já que não houve questionamentos ás 
testemunhas acerca da localização da faca. Segundo 
Guilherme de Souza Nucci, a título de exemplo é um motorista 
de um veículo é picado por uma vespa perto do olho, move-se 
bruscamente no volante por um instintivo de movimento de 
defesa causando um acidente, mas por seu movimento é 
reflexo devido pela dor originária da picada, não existiria 
conduta penalmente relevante, portanto trata-se de uma 
atitude involuntária, tornando-se o movimento reflexo uma 
excludenteda tipicidade”. 
 
Em uma decisão marcada pela existência de dúvidas que favoreceram o réu, 
foi considerado que este realmente tentou agredir o vigilante, porém, não se 
podendo afastar a possibilidade de que tal agir limitou-se a uma reação automática 
diante da presença do mesmo. Por questão de falta de provas suficientes e não se 
consumar a descoberta do paradeiro da faca, não existiria conduta penalmente 
relevante, considerando-se que o ato ocorreu por uma atitude involuntária e o 
movimento reflexo é considerado excludente da tipicidade. 
 
2.5. COAÇÃO FÍSICA IRRESISTÍVEL 
 
A vontade é um dos elementos sem o qual o dolo não persiste, pois, junto 
com a consciência, forma sua estrutura. Nos casos de força física irresistível, 
aquele que causa o dano ou a lesão em terceira pessoa é apenas um instrumento 
nas mãos do agente coator. Este é coagido a acabar com a vida de outra pessoa, 
não atuando com vontade de matá-la. 
 
Quando falamos na força irresistível praticada por terceiros, ou seja, pelo 
homem, entramos na seara da coação física (vis absoluta), bem como quando o 
agente é jogado por uma terceira pessoa de encontro a objetos ou mesmo a 
outras pessoas, vindo com isso, respectivamente, a danificá- los ou a lesioná-las. 
 
Nessas hipóteses, o agente não responde pelos danos ou mesmo pelas 
lesões que vier a causar a outras pessoas. Greco, ao citar Zaffaroni, esclarece 
que, quando a ação provém de um terceiro, a ausência de ato só se dá quanto 
àquele que sofre a força física irresistível. Aquele que a exerce atua com vontade, 
é autor de uma conduta cuja tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade deverão 
ser investigadas. 
 
É o caso daquele que, depois de colocar o dedo do coagido no gatilho de uma 
arma de fogo, faz o movimento de disparo, puxando-lhe o dedo para trás e, com 
isso, causa a morte da vítima. A coação física afasta a própria conduta do agente, 
por ausência de dolo ou culpa. 
 
Já a situação muda no caso da coação irresistível e da obediência hierárquica, 
as quais foram previstas no art. 22 do Código Penal: 
 
 
“Art. 22. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita 
obediência a ordem não manifestamente ilegal, de superior 
hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.” 
 
A coação mencionada no citado artigo acima é aquela de natureza moral (vis 
compulsiva), e não física (vis absoluta). 
 
No caso de coação moral irresistível, o coagido pratica, geralmente, um fato 
típico e antijurídico: o injusto penal por ele cometido é que não lhe poderá ser 
imputado, pois, em virtude da coação a que foi submetido, acaba por se configurar 
inexigibilidade de outra conduta. É o caso do pai que é obrigado a causar a morte 
de alguém, pois, do contrário, seu filho seria morto por sequestradores em cujas 
mãos estava, naquele instante. 
 
 
 
3. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL 
 
 
O convívio em sociedade ocasiona riscos, e pode não haver interferência do 
Direito Penal, levando em consideração que esta sociedade deve viver de forma 
mais harmônica possível. Há exemplos de situações que são perigosas e trazem 
risco à sociedade, porém são socialmente adequadas como, por exemplo, o trânsito 
das grandes cidades que, na maioria das vezes, produz risco para as pessoas a 
todo instante. Transporte aéreo e as usinas atômicas também são exemplos de 
como a sociedade tem contato diariamente com questões que podem causar algum 
risco e que, porém, é algo socialmente adequado e aceito (GRECO, 2017, p 105). 
 
Tendo como conhecimento que todo comportamento que seja considerado 
criminoso referente à lei, porém podendo não afrontar o sentimento de justiça na 
sociedade, existem as coisas que as pessoas consideram justas ou não, estas não 
podendo então, ser consideradas como algo criminoso (CAPEZ, 2013, p 35). 
 
Em relação à venda de CDs e DVDs falsificados, levando em conta ser uma 
conduta constantemente questionada em relação ao princípio da adequação social, 
o Supremo Tribunal de Justiça se posicionou por meio da súmula nº 502, publicada 
em 28/10/2013, destacando que: 
 
“Não se aplica o princípio da adequação social na hipótese de expor à 
venda mídias falsificadas, pois a conduta prevista no art. 184, § 2º, do 
Código Penal é típica, formal e materialmente, afigurando-se inviável, 
comprovadas a materialidade e a autoria, o afastamento da 
consequência penal prevista em lei. (Súmula nº 502 do STJ)”. 
 
 
Este princípio tem como finalidade de se enquadrar condutas que possuam 
um grau elevado de relevância para a sociedade. O tipo penal faz uma seleção 
minuciosa destas condutas, escolhendo as que produzem um viés mais 
contraditório e nocivo ao interesse público e, por este motivo, as condutas assim 
aceitas e consideradas comuns não podem sofrem valoração negativa, possuindo 
uma lei incriminadora, podendo até mesmo causar um vício de inconstitucionalidade 
(CAPEZ, 2013, p 35). 
 
A adequação social tem como objetivo limitar a interpretação do tipo penal, 
fazendo uma exclusão de condutas socialmente aceitas. Há uma limitação ao 
legislador e tem como finalidade orientar, no momento em que estiver selecionando 
as condutas para torná-las proibitivas ou de impor algo com o intuito de proteger 
bens que entende por mais importantes. Se determinada conduta é socialmente 
considerada aceita e justa, o legislador não pode reprimir levando em conta 
somente o Direito Penal, este deve se orientar a partir do princípio da adequação 
social (GRECO, 2017, p 107). Desse modo, tem esse princípio relação direta com o 
Princípio da Intervenção Mínima, que ocorre quando a seleção dos bens jurídicos 
relevantes a serem protegidos são selecionados pelo tipo penal. 
 
Há críticas em relação ao princípio, no sentido de não permitir que o juiz se 
coloque no lugar do legislador e dê como revogada uma lei que se encontra em total 
vigência no momento do fato, tendo conhecimento do princípio constitucional da 
separação dos poderes. Ademais, a adequação social permite diversas 
interpretações, sendo algo muitas vezes impreciso, possibilitando uma incerteza em 
relação ao tema e um conjunto distinto de ideias no estudo do material do tipo 
(CAPEZ, 2013, p 36). 
 
 
4. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 
O processo de insignificância se deu pelo doutrinador Claus Roxin, sendo 
introduzido ao Direito Penal, primeiramente na Alemanha e posteriormente se 
expandiu por diversos países. A vinda ao Brasil por meio do Supremo Tribunal 
Federal – STF deu ao Princípio da Insignificância uma das formas de argumentar 
sobre a lei, sendo possível afastar a incidência da norma. Por mais que seja ilícita, a 
conduta não afeta o bem jurídico de forma significativa (MENDES, 2018, p 19). 
 
São necessários alguns requisitos para que se enquadre ao princípio, 
apontados preliminarmente em decisões realizadas pelo Supremo Tribunal Federal, 
sendo eles: mínima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade 
social da ação; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; 
inexpressividade da lesão jurídica provocada. 
 
É de melhor compreensão este princípio a partir da análise da jurisprudência 
logo a seguir: trata-se de uma Apelação, crime contra o patrimônio e furto, processo 
da Comarca da Cachoeira do Sul. O réu teria furtado três plantas de bromélias e 
uma planta de pingo d’ouro no dia 27 de maio de 2016, e subtraído para si as 
plantas do consultório da vítima. Foi flagrado no local do ocorrido por uma 
testemunha que estava presente no momento, e a mesma teria perseguido e 
abordado o réu. Após, comunicou a vítima e acionou a Brigada Militar e os objetos 
foram apreendidos, avaliados em R$ 110,00. 
 
Verificou-se a sentença em 11/02/2019, considerando a denúncia como 
procedente e condenando o réu nas sanções do art. 155, caput, do Código Penal, 
tendo como pena um ano e quatro meses de reclusão, sendo regime inicial 
semiaberto e quinze dias-multa, que substituiria a pena privativa de liberdade, 
aplicando-se entãoduas penas restritivas de direito. Prestaria serviço à comunidade 
e teria uma limitação no fim de semana, frequentar semanalmente o CAPS AD, 
durante todo o período da pena substituída e teria de comprovar, reconhecendo o 
direito do mesmo recorrer em liberdade. 
 
A defesa do réu após sentença e insatisfeita com a mesma, insurgiu-se e 
sobreveio com Recurso de Apelação nº70081493397, em 26/02/2019, sendo que os 
argumentos ao recurso foram os seguintes: insuficiência probatória, reconhecer a 
minorante de tentativa e o afastamento da pena de multa aplicada ao réu. A 
insurgência defensiva se deu alegando o Princípio da insignificância aplicável à 
espécie, tendo em vista: 
 
“...a mínima ofensividade da conduta, a ausência de 
periculosidade social da ação, que, inclusive, tangencia ao 
crime impossível, o reduzido grau de reprovabilidade do 
comportamento do acusado e a inexpressiva ameaça da lesão 
jurídica provocada, observada a ausência de relevância 
econômica da res furtiva, que foi avaliada em quantum 
correspondente a pouco mais de 2% do valor do salário 
mínimo vigente à época do fato e que, aliás, foi restituída na 
integralidade à vítima. Assim, porque as peculiaridades do 
caso concreto amoldam-se às exigências elencadas pela 
jurisprudência consolidada das Cortes Superiores para 
configuração do crime de bagatela, não tendo as 
circunstâncias de violação de domicílio e reincidência, o 
condão de afastar a incidência da atipicidade material da 
conduta, pois a análise do fato aponta para a ausência do 
desvalor da conduta. Atipicidade material da conduta 
reconhecida. Absolvição com fundamento no art. 386, inciso III, 
do CPP. 
 
O resultado do recurso foi de apelo provido por unanimidade, sendo um dos 
votos com o seguinte teor: 
“Observo ter restado efetivamente comprovado por esses rova 
que o réu subtraiu uma planta do tipo pingo d’ouro. [...] 
Inexiste, por outro lado, prova no sentido de demonstrar que o 
réu subtraiu as demais plantas descritas na denúncia [...] 
nesse sentido, o STF sedimentou o entendimento de que, à 
aplicação do princípio da insignificância. [...] Observo que a 
planta subtraída foi avaliada em R$20,00, quantum 
correspondente a pouco mais de 2% do salário mínimo 
vigente à época do fato, qual seja, R$880,00. [...] Em face ao 
exposto, voto no sentido de dar provimento ao apelo 
defensivo, para absolver o réu MARCOS ROBERTO POLL 
DUTRA da imputação que lhe foi feita pertinente à prática do 
crime de furto, com fundamento no art. 386, inciso III, do 
Código Penal. [...] (TJRS, 2019, p 4).” 
 
Há uma corrente que possui uma visão mais radical na doutrina, sendo ela 
denominada como, permissa vênia, tendo como entendimento que qualquer bem é 
digno de proteção em relação ao direito penal, desde que exista uma previsão legal, 
não levando em conta o seu valor (GRECO, 2017, p 144). 
 
Finalmente, é importante ressaltar que este princípio não leva somente em 
conta o valor do objeto, como requisito para aplicação do princípio da insignificância, 
para que ocorra sua aplicação é necessário demais requisitos já comentados 
anteriormente. Este princípio não é aplicado no plano abstrato, é importante não 
segurar que todas as contravenções penais são insignificantes, pois depende do 
caso concreto para tal afirmação, de grande relevância avaliar o princípio em cada 
caso concreto, levando em conta a especialidades de cada caso, por exemplo, o 
furto por si só não se caracteriza insignificância ou bagatela, porém se for o furto de 
um chiclete, seria possível a aplicação do princípio neste caso concreto (CAPEZ, 
2013, p 30). 
 
 
 
 
 
CONCLUSÃO 
 
 A presente pesquisa se propôs a esclarecer as causas que impedem a 
tipicidade, de acordo com o conceito analítico de crime e com os requisitos do Fato 
Típico, de acordo com a teoria finalista. 
 Inexistindo a atuação humana dolosa ou culposamente, não existe ação, 
tendo isso a ver também, com previsibilidade, que proporcionaria o cuidado. 
 
Como visto, pode acontecer o afastamento da conduta e a excludente de 
tipicidade quando o sujeito se vir impedido de atuar, como nos casos de força 
irresistível, caso fortuito ou de força maior, movimentos reflexos e estados de 
inconsciência, como sonambulismo e hipnose. 
Logo, não havendo encaixe dentro das noções e valorações necessárias 
ao enquadramento de uma ação humana considerando-a penalmente relevante 
(aquela selecionada pelo tipo, de modo a proteger os bens jurídicos), em 
qualquer dos itens componentes do fato típico, ocorre, por óbvio, e de antemão, 
a excludente de tipicidade e, consequentemente, do crime. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Volume 1 - Parte Geral. 
São Paulo: Saraiva, 2017. 
 
CAPEZ, Fernando. Curso De Direito Penal - Parte Geral - Vol. 1. São Paulo: 
Saraiva, 2019. 
 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, parte geral. Niterói: Impetus, 2017. 
 
JESUS, Damásio de. Direito penal, volume 1 : parte geral.32 ed. — São Paulo: 
Saraiva, 2011. 
 
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito penal: parte geral: arts. 1º a 120 do 
Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017. 
 
PRADO. Rodrigo Murad do. As excludentes da conduta humana no contexto 
finalista de ação (significativa). Disponível em https://jus.com.br/artigos/34658/as-
excludentes-da-conduta-humana-no-contexto-finalista-de-acao-significativa.Acesso 
em 28/11/2019. 
ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal 
Brasileiro, v.1, Parte Geral. 9. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. 
 
https://www.google.com/aclk?sa=l&ai=DChcSEwjv_dvM1JjmAhUMDpEKHf-eBZoYABAUGgJjZQ&sig=AOD64_0j1gJKvJIntrbshy16aVBsiAh2Wg&ctype=5&q=&ved=0ahUKEwjjgdjM1JjmAhVTILkGHZYYBVMQpysIFQ&adurl=
https://jus.com.br/artigos/34658/as-excludentes-da-conduta-humana-no-contexto-finalista-de-acao-significativa
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