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Fichamento 4 - OSTRONOFF, V L ; FÁVERO, C B ; BALDIN, P D Uma experiência de supervisão em Oficinas de Criatividade

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REFERÊNCIA: OSTRONOFF, V. L.; FÁVERO, C. B.; BALDIN, P. D. Uma experiência de supervisão em Oficinas de Criatividade. In: CUPERTINO, C. M. B. (Org.). Espaços de Criação em Psicologia: oficinas na prática. 1 ed. São Paulo: Annablume, 2008. p. 77- 94.
	 Texto 4
Nome: 
RA: 
Data: Fev/2020
O relato faz menção à uma primeira experiência em supervisão no estágio de oficinas de criatividade do Centro de Psicologia Aplicada da UNIP, em 2003. Este estágio, de dois semestres, utiliza-se de recursos expressivos e configura-se como um espaço propiciador de experiências aos estagiários, que no segundo semestre, oferecessem oficinas de criatividade para a comunidade, trabalhadas em dupla e sob supervisão.
As oficinas de criatividade caracterizam-se como modalidade técnica, que possibilita espaço a propicio a elaboração de experiências individuais e coletivas, através de recursos expressivos. Tais recursos são ferramentas para deflagração da singularidade, reconhecendo a si e o outro por meio da produção artística. O compartilhar da produção permite estreitamento de laços e apropriação das próprias experiências e as coletivas, especialmente as afetivas. A fala produzida, de si, do outro reciprocamente, propicia sentimento de pertença social, minimizando a solidão, ao mesmo tempo que abre espaço para reconhecimento da singularidade.
As oficinas de criatividade podem ser executadas em diversos contextos. A relatada voltou-se para monitoras e coordenadoras de uma ONG com atuação na periferia. 
Devido à limitação em poucos encontros, torna-se fundamental um levantamento inicial cuidadoso, atendo-se ao tema e com perspectiva de fechar-se em si mesma, sem deixar demandas. Não se recomenda a prática em curto período para grupos conflituosos. Cabe ao oficineiro fazer o levantamento da demanda do grupo participante e decidir quantas e quais oficinas cabem ser oferecidas, alinhando os recursos expressivos, tema e objetivos com a faixa etária e disponibilidade de material. Durante as atividades o oficineiro posiciona-se como facilitador dos processos individuais e do grupo, acolhendo e possibilitando aos participantes significarem suas experiências e produções. As intervenções são sutis, afim de desvelar algo intrínseco na atividade expressa.
Sendo essa a proposta do estágio, há uma grande transformação na transição de estagiários da clínica escola para a prática na instituição. A experiência antes tida como mera atividade acadêmica toma sentido de aprendizagem do ofício e resgate da humanidade.
O relato aponta a oficina oferecida em uma instituição mantida pela prefeitura do município de São Paulo, subdividida em três complexos, em que eram atendidas cerca de 640 crianças e adolescentes, oferecendo-lhes atividade de reforço, artesanato, orientação à higiene e limpeza, alimentação e recreação. Devido as diversas atividades oferecidas às crianças, foi ofertada a oficina para as 15 monitoras e coordenadoras do projeto. No levantamento da demanda, foi destacada a frustração e impotência sentidos em relação ao trabalho desenvolvido na ONG, questionando-se sobre a veracidade da contribuição para com a formação das crianças. O planejamento rendeu três oficinas, sendo que pela demanda se realizaram seis.
A primeira oficina proposta foi para que as participantes se apresentassem de um novo ângulo, de modo que, para a atividade foram disponibilizadas cartolinas, cola, tesoura e revistas. Pediu-lhes que realizassem individualmente, confeccionando um cartaz com uma frase e uma figura que representasse a si.
Após a finalizados os cartazes foram recolhidos e expostos, afim de que as integrantes atribuíssem à alguém. Depois a autora se revelava e expressava-se quanto aos comentários do grupo. A atividade apontou para um grupo que não se conhecia, mostrando a importância da iniciação com uma apresentação.
Na supervisão foi exposta a forma como as oficineiras se misturaram afetivamente com o grupo, a ponto de a supervisora e colegas pontuarem. Tal mescla impediu de observarem mais atentamente o grupo e intervir na atividade.
Na segunda oficina, devido à demanda inicial, ofereceu-se a música do grupo O Rappa, "A minha alma", como gatilho do tema violência e paz, oportunizando a expressão de sentimentos para com os atendidos na instituição. A oficina consistiu em ouvir a música, canta-la munidas da letra e em seguida oferecendo papel sulfite, foi proposto que escrevessem a parte que mais lhe marcavam, seguido de discurso sobre o trecho.
A demanda inicial se fez presente, porém sutil. Outra questão veio à tona: dificuldade de comunicação ligada à dificuldade de se expor a outros e ser compreendida por eles. Percebe-se, então, que o tema da música não direcionou a discussão, mas possibilitou a expressão dos sentimentos das participantes, pois nem sempre a demanda inicial se mantém, visto que há transformação no grupo, provocando uma certa desorientação nas oficineiras, exigindo flexibilidade e manejo do planejamento.
Tal rigidez pode levar ao estagiário transferir a responsabilidade do considerado insucesso, devido à rigidez, para o grupo. Refletir com respeito a rigidez do planejamento possibilita a liberdade quanto à ideia de aprovação constante, expectativas de sucesso ou fracasso e inflexibilidade no planejamento.
Dando andamento no tema emergido, a terceira atividade foi “Auto-retrato”, disponibilizando material como canetas hidrográficas e papel. Ao terminarem o primeiro auto-retrato; fez-se um segundo, como um eu ideal por elas a vista dos outros, seguido de comentário. Emergiu, então, a preocupação da auto imagem aos olhos dos outros. Expressando sua visão de si, demonstravam apenas aspectos negativos. A ambivalência ficou clara ao expressarem a idealização de si vistas por outras pessoas, inicialmente querendo ser vistas como realmente são, porém o desenho se mostrava diferente do relato e do primeiro trabalho. Intervindo, questionou-se sobre os desenhos e as diferenças, que perceberam a contradição, justificando inclusive com o fator sentimental.
Nas conversas sobre as atividades é possível confundir o papel da oficineira como se estivesse em psicoterapia, como também o objetivo das duas modalidades. Deve-se acolher a demanda, mas observar o que está de acordo com o espaço da oficina e o indivíduo enquanto integrante do grupo, podendo indicar-se plantão psicológico para demandas individuais.
Disponibilizando cartolina, purpurina e cola, na terceira atividade, a proposta abordaria a “maquiagem” da fraqueza levantada na oficina anterior, expressando o sentido de seu trabalho na instituição. Havendo inquietação e relutância em iniciar, foi exposta a notícia de que seriam demitidas ao fim do ano letivo, exigindo adaptação da atividade.
A quinta oficina teve intuito de resgate do trabalho realizado na instituição, fornecendo papel sulfite cortado, papel pautado e canetas hidrográficas. Instruindo a construção foi proposto a expressão de uma frase ou palavra sobre sua história, de forma que uma oficineira as anotava nas tiras de papel sulfite. Solicitou-se depois, que as participantes montassem um texto coletivo com as palavras e frases.
As palavras escritas simbolizavam a dedicação, esforço, obstáculos e persistência das mulheres com o trabalho na instituição, afim de contribuir com a melhoria para a comunidade. Percebeu-se que intercaladamente apareciam aspectos positivos e negativos dessa experiência, de forma que a próxima enfatizava também os aspectos negativos. Ao final da montagem do texto uma participante o leu e foram questionadas sobre seus sentimentos na atividade, de forma que a decepção quanto à demissão também emergiu, mostrando inconformismo e resignação.
Devido ao resultado da quinta atividade, a última foi destinada para trabalhar o luto pela demissão e fim das oficinas de criatividade. Disponibilizou-se uma folha de papel cartão, metade preta, metade branca, de modo que as participantes foram orientadas a expressar a atualidade na parte preta e o futuro no branco. Os desenhos expressos na parte preta mostravama tristeza inclusive ao falarem sobre a produção. Porém, na parte branca foi expresso um futuro com melhores possibilidades. Nota-se que a oficina possibilitou a reflexão sobre o futuro e seus recursos.
Devido aos acontecimentos na oficina, necessidade de flexibilização e reorganização das atividades, gerou angustia e ansiedade nas oficineiras, que foram acolhidas em supervisão, propiciando reflexão sobre as atitudes, aprendizagem e postura profissional.
Como apontado o as oficineiras iniciaram as atividades de oficinas sem terem elaborado suas próprias questões previamente. A postura inicial em realizar a atividade apenas academicamente, mostra um pensamento tecnicista, apenas absorvendo conhecimento, sem experienciar.
Ser oficineiro é experienciar, de forma que o conhecimento se dá na vivencia do coletivo, de forma que os aspectos teóricos só adquirem forma e significado efetivo na vivência.
O processo da oficina visa que os estagiários superem a rigidez e necessidade de controle, que são características próprias da visão tecnicista, desestabilizando e desafiando o oficineiro que se vê na experiência de acolher a própria alteridade e a do outro. Desorientação essa que nomeia a angustia, que desvela a singularidade do ser. A incerteza também abre para a construção do novo, possibilitando o ofício de maneira autêntica e humana, possibilitando o encontro genuíno com os participantes, de forma que a supervisão se torna um espaço privilegiado de reconstrução e compreensão do encontro, gerando novos sentidos, mudando o olhar e descobrindo o ofício.

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