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▪ Processo imune imediato; processo inflamatório. ▪ O tratamento endodôntico é a limpeza, sanificação e obturação do canal radicular. Considerações Anatômicas – Complexo Dentino-Pulpar ▪ O complexo dentinho-pulpar (dentina e polpa) encontra-se geralmente isolado do ambiente oral, pelo revestimento de esmalte e cemento. Quando essas camadas são perdidas, o complexo fica exposto a agentes irritantes e pode responder de diferentes maneiras. ▪ A presença de túbulos dentinários faz com que o estímulo aplicado à dentina também exerça, com frequência, efeitos sobre a polpa. Diante disso, o complexo responde aos estímulos externos de forma integrada. ❖ EMBRIOLOGIA DO COMPLEXO DENTINO-PULPAR ▪ O dente resulta de dois tecidos embrionários: ectoderma (origina o esmalte) e ectomesênquima (derivado da crista neural; origina a dentina, polpa e tecidos periodontais). ▪ A formação do dente ocorre durante a sexta semana de vida embrionária. Há um espessamento localizado do ectoderma oral, o que leva à formação da lâmina dentária. A próxima etapa é dividida em 3 estágios: botão (o germe dentário assume a forma de um botão), capuz (resultante da proliferação epitelial que origina o esmalte e forma uma concavidade semelhante a um capuz) e campânula (o germe dentário aumenta e a invaginação se aprofunda ainda mais, tornando-se semelhante a um sino; as células do interior do órgão do esmalte se diferenciam em ameloblastos). O tecido que se localiza dentro da invaginação é a papila dentária, que origina a dentina e a polpa. ▪ As células da camada exterior da papila dentária irão se diferenciar em odontoblastos, que iniciam a deposição da matriz de dentina e formam a primeira dentina: dentina do manto. ▪ A formação radicular inicia quando as células do epitélio interno e externo do esmalte convergem para formar a alça cervical, que demarca o término da coroa e o ponto de início de formação da raiz. A fusão epitelial origina a bainha epitelial de Hertwig, que orienta e inicia a formação radicular, induzindo a diferenciação de odontoblastos e a produção adicional de dentina. Após a deposição da primeira camada de dentina da raiz, a membrana basal da bainha se fragmenta e as células internas secretam material hialino sobre a dentina recém-formada, formando a camada hialina de Hopewell-Smith, que irá auxiliar na adesão do cemento à dentina radicular. ▪ Os tecidos periodontais são originários do ectomesênquima condensado que envolve o órgão do esmalte e a papila dentária e forma o folículo dentário. O contato entre os fragmentos da bainha de Hertwig e as células do folículo dentário com a dentina, fará com que se diferenciem em cementoblastos, que depositam cemento acelular sobre a camada de hialina. Feixes de colágeno, denominados fibras de Sharpey, são produzidos por fibroblastos na região central do folículo dentário e incorporados ao cemento em formação. As células da área mais externa do folículo dentário se diferenciam em osteoblastos e começam a produzir osso, que vai ancorar as fibras do ligamento periodontal, que serão originadas pelo aumento da produção de colágeno pelos fibroblastos. ❖ DENTINA ▪ Composição: tecido mineralizado. 70% material inorgânico (cristais de hidroxiapatita), 10% de água e 20% matriz orgânica (principalmente, colágeno tipo I e V). ▪ Tipos de dentina: o Dentina do manto: a primeira a ser formada; localizada imediatamente abaixo do esmalte/cemento. o Dentina primária: depositada durante a formação fisiológica da dentina pelos odontoblastos; antes da erupção; constitui grande parte do elemento dentário. o Pré-dentina: zona estreita com espessura de 10 a 40µm de dentina não mineralizada; localizada entre a camada odontoblástica e a dentina mineralizada. o Dentina intratubular: dentina que reveste o interior dos túbulos dentinários. o Dentina intertubular: dentina que circunda a dentina intratubular. É menos calcificada e menos rígida que a dentina intratubular. o Dentina secundária: depositada fisiologicamente após a formação da raiz; após a erupção; estímulos fisiológicos externos. o Dentina terciária: formada em resposta a estímulos externos; depositada no lado pulpar logo abaixo à injúria; a taxa de deposição é proporcional à agressão. Pode ser classificada como reacional (formada por odontoblastos que sobreviveram à injúria e produzem a dentina; túbulos contínuos aos túbulos da dentina secundária) ou reparadora (agressão danosa e destruição dos odontoblastos; dentina produzida por células pluripotentes da polpa; túbulos não são contínuos aos túbulos da dentina secundária). o Dentina esclerótica: obliteração total ou parcial dos túbulos dentinários, resultante do aumento da produção de dentina intratubular ou da deposição de hidroxiapatita na luz tubular. ▪ As dentinas terciária e esclerótica são importantes mecanismos de defesa do complexo dentino- pulpar contra injúrias externas. ▪ Túbulos dentinários: se estendem por toda a espessura da dentina; possuem conformação cônica, sendo seu maior diâmetro voltado para a polpa e o menor diâmetro voltado para o esmalte/cemento. ▪ A estrutura tubular da dentina lhe garante duas propriedades: permeabilidade e sensibilidade. o Permeabilidade: qualquer substância aplicada à dentina tem potencial de atingir e afetar a polpa. A permeabilidade dentinária depende da área da superfície de difusão dentinária, espessura da dentina, proximidade com a polpa e características da substância; além de ser influenciada pela presença da smear layer e pelo grau de oclusão dos túbulos. A permeabilidade da dentina aumenta com a proximidade da polpa. o Sensibilidade: Teoria hidrodinâmica – estímulos externos atuam na dentina, induzindo o movimento abrupto de fluido dentinário no interior dos túbulos. O rápido deslocamento do fluido dentinário por estímulos que provocam dor (térmicos, mecânicos, osmóticos e evaporativos) provoca o deslocamento de odontoblastos e a deformação mecânica direta das terminações nervosas sensoriais de baixo limiar, fibras A-δ. A deformação irá ativar essas fibras, causando a dor. ❖ POLPA ▪ Composição: tecido conjuntivo frouxo formado por células (odontoblastos, fibroblastos – tipo de célula mais abundante da polpa–, células-tronco mesenquimais indiferenciadas, macrófagos, células dendríticas, linfócitos), matriz extracelular, vasos sanguíneos e nervos. ▪ Os odontoblastos estão dispostos em uma única camada celular no limite entre a dentina e a polpa, o corpo celular dos odontoblastos está localizado na camada pulpar adjacente à pré- dentina. São células altamente diferenciadas; não realizam mitose; formato colunar e mais numerosas na região coronária da polpa, e achatadas e menos numerosas na região radicular. ▪ Funções da polpa: o Formativa: produção de dentina pelos odontoblastos. o Sensitiva: inervação sensorial indicando alterações; resposta aos estímulos de dor. o Nutritiva: a vascularização fornece oxigênio e nutrientes. o Defensiva: produção de dentina terciária ou esclerótica e ativação da resposta imune contra infecções bacterianas. ▪ Vascularização: é fornecida por vasos sanguíneos que adentram a polpa através do forame apical ou foraminas e se estendem no sentido coronário. A polpa dental não contém um suprimento sanguíneo colateral, ou seja, casos de isquemia levam à necrose tecidual. A função primária da microcirculação é fornecer oxigênio e nutrientes para as células e drenar gás carbônico e resíduos do metabolismo celular para fora do tecido. ▪ Inervação: cerca de 1000 a 2000 nervos penetram em um dente, sendo 80% destes amielinizados e 20% mielinizados. Os nervos seguem os vasos sanguíneos. Plexo nervoso de Rashkow – formado, na zona subodontoblástica, por uma rica rede de terminações nervosas. Inervação sensorial e autônoma, formada por dois tipos de fibras: o Fibras A: A-β e A-δ; mielinizadas, rápida velocidadede condução; baixo limiar de excitabilidade; mediam a dor aguda e transitória; estímulos de pressão, toque, dor e temperatura. Porção periférica do dente. o Fibras C: amielínicas, velocidade de condução lenta e alto limiar de excitabilidade; porção profunda da polpa; dor lenta, excruciante e difusa; mantém a integridade por mais tempo. ❖ ETIOPATOGENIA DA PATOLOGIA PULPAR ▪ A cárie é a causa mais comum de agressão ao complexo dentino-pulpar. ▪ Etiologia: infecção dentro do canal radicular. ▪ Reação do complexo dentino-pulpar à agressão: 1. Redução da permeabilidade dentinária: mecanismo de defesa contra o avanço bacteriano em direção à polpa. A presença de conteúdo tubular vital e o fluido dentinário podem retardar a invasão bacteriana intratubular. Diminuição da permeabilidade da dentina exposta através do aumento do fluxo de fluidos para o exterior, indução do revestimento dos túbulos com proteínas plasmáticas e deposição de dentina esclerosada. 2. Formação de dentina terciária: mecanismo que retarda a exposição da polpa às bactérias e seus produtos. 3. Resposta imune: resposta à injúria por meio de inflamação. Desenvolve-se como uma resposta de baixa intensidade a bactérias e seus produtos em lesões cariosas, muito antes da polpa ser diretamente exposta e infectada. ▪ As três reações podem se desenvolver simultaneamente e apresentam intensidade proporcional à intensidade da agressão. ❖ DIAGNÓSTICO ▪ Testes clínicos: 1. Anamnese 2. Mobilidade 3. Sondagem (sonda Carolina do Norte) 4. Percussão vertical (dor – inflamação no periápice / ausência de dor: polpa) 5. Percussão horizontal (dor – inflamação no ligamento periodontal / ausência de dor: polpa) ▪ Testes de sensibilidade 1. Frio: normal – leve desconforto que cessa com a retirada do estímulo; inflamação – dor exacerbada; necrose – nenhum desconforto ou dor. Técnica – isolamento relativo, secagem do dente e aplicação do endo ice com uma pelota de algodão. 2. Quente: normal – leve desconforto que cessa com a retirada do estímulo; inflamação – dor exacerbada; necrose – nenhum desconforto ou dor. Técnica – aplicação de vaselina no dente e aplicação, sobre a superfície dentária, do bastão de guta percha aquecido. 3. Elétrico 4. Rompimento do pulso nervoso: anestesia dente por dente até identificar o dente acometido. ▪ Exames complementares: radiografia bem feita e bem processada; fistulografia (inserir um cone de guta percha na fístula até encontrar resistência e radiografar para identificar o dente da lesão); tomografia. PATOLOGIA PULPAR ▪ Etiologia: agressão – efeitos bacterianos, irritação química, lesão térmica, dano mecânico. ▪ Classificação das pulpites: agudas (reversível, irreversível) e crônicas (crônica hiperplásica, necrose pulpar). ❖ PULPITE REVERSÍVEL ▪ Leve alteração inflamatória da polpa, em fase inicial. A reparação tecidual ocorre com a remoção do agente causador. ▪ Histopatologia: vasos sanguíneos dilatados (hiperemia), infiltrado leve a moderado de células inflamatórias. A polpa se encontra geralmente organizada. ▪ Diagnóstico: o Sintomatologia: geralmente é assintomática, porém o paciente pode relatar dor aguda, rápida, localizada e fugaz em resposta a estímulos (frio, quente, alimentos), mas cede após a remoção do estímulo. Não há dor espontânea. o Exame clínico: restauração ou lesão de cárie extensa, sem exposição pulpar. o Testes térmicos: frio (+) e quente (+). Agressão à polpa Inflamação Reparo Não tem reparo Doença o Percussão vertical e horizontal: ambas negativas (-). o Mobilidade 0 o Exame radiográfico: presença de cárie, restaurações próximas à polpa; não há alterações nos tecidos periapicais. ▪ Tratamento: remoção da cárie ou restauração defeituosa. ❖ PULPITE IRREVERSÍVEL ▪ Processo inflamatório de caráter irreversível. Quando a polpa é exposta e é estabelecida uma área de contato direto com os microrganismos, gerando uma inflamação severa e alterações irreversíveis. ▪ Diagnóstico: o Sintomatologia: A maioria dos pacientes acometidos não se queixa de dor. Portanto, a dor é considerada uma exceção, e não regra. Quando presente, a dor pode ser provocada, aguda e localizada e persiste por um longo tempo após a remoção do estímulo. Em casos mais avançados, o paciente pode relatar dor pulsátil, excruciante, lancinante, contínua e espontânea. o Testes térmicos: frio (++) e quente (++). o Percussão vertical e horizontal: ambas negativas (-). o Mobilidade 0 o Exame radiográfico: presença de cárie, restaurações próximas à polpa; não há alterações nos tecidos periapicais. ▪ Tratamento: Biopulpectomia (remoção do tecido pulpar total ou parcial). ❖ PULPITE CRÔNICA HIPERPLÁSICA ▪ Caracteriza-se por um crescimento hiperplásico da polpa, que se projeta para fora da câmara coronária criando uma interface com as paredes dentinárias contaminadas da cavidade cariosa. ▪ Ocorre, em geral, em dentes decíduos ou permanentes jovens. ▪ Histopatologia: reação de granulação com um número variável de capilares e de neutrófilos polimorfonucleares. Sua superfície pode estar coberta ou não por epitélio semelhante ao da mucosa bucal. ▪ Diagnóstico: sintomas de dente vital; presença de pólipo pulpar; dor ao mastigar; uma comunicação da câmara pulpar com a cavidade coronária pode ser observada radiograficamente. ▪ Tratamento: Biopulpectomia (polpa viva sem canal totalmente infectado). ❖ NECROSE PULPAR ▪ Não é um diagnóstico, é um achado histopatológico. ▪ Caracterizada pelo somatório de alterações morfológicas que acompanham a morte celular em um tecido. ▪ A “morte” da polpa pode ser parcial ou total. ▪ Tipos de necrose pulpar: o Coagulação: geralmente causada por lesão traumática, com interrupção do suprimento sanguíneo pulpar, ocasionando isquemia tecidual. Resulta de extensa desnaturação proteica de proteínas estruturais e enzimas autolíticas, impedindo a proteólise e a total destruição da célula, mantendo a morfologia celular. o Liquefação: comum em áreas de infecção bacteriana. Resultante da ação de enzimas hidrolíticas, que promovem a destruição tecidual. o Gangrenosa: quando o tecido que sofreu necrose de coagulação é invadido por bactérias que promovem a liquefação. Ocorrem em dentes traumatizados. ▪ Diagnóstico: o Sintomatologia: geralmente assintomática; aumento do espaço periodontal; cavidade cariosa ou restauração insatisfatória associada. o Testes térmicos: frio (-) e quente (-). o Percussão vertical e horizontal: ambas negativas (-). o Exame radiográfico: cáries/restaurações extensas; escurecimento da coroa; espessamento ligamento periodontal. ▪ Tratamento: Necropulpectomia. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS DA POLPA ▪ Transformações regressivas que modificam as características de normalidade do tecido pulpar: calcificação e reabsorção interna. ❖ CALCIFICAÇÃO PULPAR ▪ Obliteração do canal radicular devido a uma resposta isquêmica, após um trauma, variando o suprimento neurovascular pulpar, levando ao aumento da deposição de tecido mineralizado na câmara pulpar e nos canais radiculares. ▪ Causas: idade; distúrbios circulatórios da polpa; predisposição genética; agressões ao complexo dentino-pulpar; anomalias congênitas. ▪ Tipos de calcificação: o Dentículos: cálculos pulpares na câmara pulpar; aderidos ou não. o Cálculos pulpares o Calcificação linear difusa ▪ Tratamento: Não há necessidade. O tratamento endodôntico será mais difícil nesses casos. ❖ REABSORÇÃO INTERNA ▪ Caracteriza-se pela destruição da dentina pelas células da polpa, de dentro para fora. ▪ Morte dos odontoblastos – investigação da causa. ▪ Etiologia: inflamação crônica pulpar decorrente de trauma ou infecção. ▪ Aspectos clínicos: assintomática; diagnosticada em radiografia; pode ter o aparecimento de manchas rosadas na coroa dental. ▪ Tratamento: interromper a vascularizaçãodo dente através do tratamento endodôntico. julianealvesds@gmail.com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LOPES, Hélio Pereira. Endodontia: biologia e técnica. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
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