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NÚCLEO COMUM 
Disciplina: Aspectos Filosóficos 
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ASPECTOS FILOSÓFICOS 
 
Caro aluno você terá contato com uma periodização da Filosofia geral. A imensa 
produção filosófica não possibilita uma síntese justa. Então, demarcar os períodos e 
os principais filósofos foi a estratégia. Leia com atenção esse compêndio e bons 
estudos. 
 
 
1 - IDADE ANTIGA 
1.1 - PRÉ-SOCRÁTICO (SÉCULO VIII a.C. - V a.C.) 
 
1.1.1 - CONTEXTO HISTÓRICO 
Os gregos fundam colônias espalhadas pelo Mediterrâneo (séc. VIII a.C.): 
Surgimento de um comércio ativo e de uma indústria próspera. A camada social 
envolvida nas atividades comerciais e artesanais é responsável pela substituição da 
aristocracia pela democracia (séc. VI a.C.). Primeiros legisladores gregos: Dracon, 
Sólon e Clistenes. Fundação de Roma (séc. VI a.C.). 
 
 
1.1.2 - CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA NO PERÍODO 
A filosofia se desenvolve inicialmente nas colônias gregas da jônia e do sul da Itália 
peninsular e Sicília. Predomínio do problema cosmológico: busca-se a arché, ou 
seja, o princípio de todas as coisas, a origem do universo. a physis (o elemento 
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primordial eterno, ou seja, a natureza eterna e em perene transformação) torna-se o 
objetivo de pesquisa e indagação. os físicos da jônia, também chamados de 
“fisiólogos”, são os primeiros filósofos gregos que tentam explicar a natureza 
material e o princípio do mundo e de todas as coisas por meio dos seguintes 
elementos: água (Tales de Mileto); ar (Anaximenes); apeíron (Anaximandro); devir 
ou vir-a-ser (Heráclito); ser (Parmênides); ar, água, terra e fogo (Empédocles); 
Homeomerias (Anaxágoras); átomo (Demócrito); número (Pitágoras). 
 
1.1.3 - FILOSOFOS IMPORTANTES 
Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes, Anaximandro. 
Escola Pitagórica: Heráclito 
Escola Eleática: Xenofantes, Parmênides, Zenão, Anaxágoras, Empédocles. 
Escola atomista: Leucipo, Demócrito. 
 
1.2 - SOCRÁTICO: SÉCULOS V E IV A.C. 
1.2.1 - CONTEXTO HISTÓRICO 
Guerras Médicas (490 - 480 a.C.). Em 405 a.C., Atenas é derrotada (Guerra do 
Peloponeso), mas a hegemonia espartana dura pouco (Tirania dos Trinta). Tebas 
conquista Esparta em 371 a.C., mas enfrenta a oposição de Felipe II, a Macedônia 
se fortalece. Em 338 a.C., Felipe derrota a liga Pan-helênica em Queronista. 
Alexandre Magno continua a política expansionista da Macedônia. 
 
1.2.2 - CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA NO PERÍODO 
 
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Foto: Envenenamento por Cicuta de Sócrates após sua condenação. Tela de Rafael 
Sanzio,1536. 
 
O advento do governo democrático em Atenas enseja a formação de cidadãos 
participativos transformar os habitantes da polis em políticos, indivíduos habilitados a 
tomar parte e decisões no processo democrático, por meio da paideia (formação 
integral e harmônica do homem pela educação). Dessa forma, o centro de interesse 
se desloca da natureza para o homem. Predomínio do problema antropológico. Os 
filósofos elegem o ser humano como objeto de pesquisa. A Filosofia engloba um 
número crescente de problemas e se converte, sobretudo com Aristóteles, em um 
saber enciclopédico (abarca física, biologia, psicologia, metafísica, ética, política, 
poética, etc.). 
 
1.2.3 - FILÓSOFOS IMPORTANTES 
Sofistas: Protágoras, Pródico, Hipias, Górgias, Cálicles, Crítias, Trasímaco, 
Antifone, Sócrates, Platão, Aristóteles. 
 
2 - Ética Aristotélica 
 
 
 
Foto: Busto em Mármore de Aristóteles. 
 
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A ética, nas obras Aristotélicas diz respeito ao indivíduo, enquanto a política 
considera o homem na sua dimensão social. Como conceito aristotélico de ética 
podemos dizer que é a arte de viver, ou “saber-viver”, agregando valores, boa 
utilização dos prazeres, ação virtuosa. 
Todo o conhecimento e todo trabalho visam a algum bem, e o mais alto de todos os 
bens certamente será a felicidade, dessa forma, devemos procurar o bem e indagar 
o que ele é, se existe uma finalidade para tudo o que fazemos, a finalidade será o 
bem. O bem deve ser algo atingível pelo homem, através de sua atividade, na 
prática, e não um “bem em si”, ideal e inatingível. Devemos prosseguir do bem que é 
desejável por causa de outra coisa ao bem que sempre é desejável em si: Parece 
que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este bem supremo, pois 
a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa de algo mais. E a felicidade 
não como uma forma abstrata, ideal, mas a felicidade como uma forma de viver bem 
e conduzir-se bem. Não como em alguns casos de vida prática de alguns homens 
especialmente dos mais vulgares, que parecem “identificar o bem, ou a felicidade, 
com o prazer. 
Consideramos bens aquelas atividades da alma, a felicidade identifica-se com a 
virtude, pois à virtude pertence à atividade virtuosa. No entanto, o Sumo Bem está 
colocado no ato, porque pode existir um estado de ânimo sem produzir bom 
resultado, pois a atividade virtuosa deve necessariamente agir, e agir bem. 
Pergunta-se se a felicidade é adquirida pela aprendizagem, pelo hábito ou 
adestramento; se é conferida pela providência divina ou se é produto do acaso. Se 
for a felicidade a melhor dentre as coisas humanas, seguramente é uma dádiva 
divina – mesmo que venha como um resultado da virtude, pela aprendizagem ou 
adestramento, ela está entre as coisas mais divinas. Logo, confiar ao acaso o que 
há de melhor e mais nobre, seria um arranjo muito imperfeito. A felicidade é uma 
atividade virtuosa da alma; os demais bens são a condição dela, ou são úteis como 
instrumentos para sua realização. 
 
2.1 - As virtudes 
 
Força interior do caráter, consciência do bem e na conduta pela vontade guiada pela 
razão. Há duas espécies de virtudes: as intelectuais e as morais. As virtudes 
intelectuais são o resultado do ensino, e por isso precisam de experiência e tempo; 
as virtudes morais, também chamada de excelência moral, são adquiridas em 
resultado do hábito, da prática, elas não surgem em nós por natureza, mas as 
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adquirimos pelo exercício, tornamo-nos justos praticando atos justos. Também pelas 
mesmas causas e pelos mesmos meios que se gera e se destrói toda a virtude, 
assim, como a arte: “de tocar o instrumento surgem os bons e os maus músicos”. 
 
A importância do desenvolvimento da excelência moral está relacionada com as 
ações e emoções, e estas relacionadas com o prazer ou sofrimento, é a capacidade 
que se desenvolve para lidar com as emoções e ações na relação direta com o 
prazer ou sofrimento, o bom uso da relação entre ambos. 
 
É pelos atos que praticamos, nas relações com os homens, que nos tornamos justos 
ou injustos. Por isso, faz-se necessário estar atento para as qualidades de nossos 
atos; tudo depende deles, desde a nossa juventude existe a necessidade de 
habituar-nos a praticar atos virtuosos. 
 
E em nossa natureza o excesso e a falta são destrutivos: Tanto a deficiência como o 
excesso de exercício destroem a força; e da mesma forma, o alimento e a bebida 
que ultrapassam determinados limites, tanto para mais como para menos, destroem 
a saúde. 
 
Também nas virtudes, o excesso ou a falta são destrutivos, porque a virtude é mais 
exata que qualquer arte, pois possui como atributo o meio-termo – mas é em relação 
à virtude moral; é ela que diz respeito a paixões e ações, nas quais existe excesso, 
carência e meio-termo. O excesso é uma forma de erro, mas, o meio termo é uma 
forma digna de louvor; logo, a virtude é uma espécie de mediana. 
 
É meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta. Mas, nem toda 
ação e nem toda paixão admitem meio-termo, é absurdo procurar meio-termo em 
atos injustos; do excesso ou da falta, não há meio-termo. 
A prática da virtude não se confunde com um mero saber técnico, não basta só o 
conhecimento simples da virtude, exige-se a consciência do ato virtuoso, e tem 
como resultado
a ação, é necessário frisar a prática dos atos, o homem considerado 
justo deve agir por força de sua vontade racional, e são três condições para que um 
ato seja virtuoso, a saber: primeiro, o homem deve ter consciência da justiça de seu 
ato; segundo, a vontade deve agir motivada pela própria ação; terceiro, deve-se agir 
com inabalável certeza da justeza do ato. 
 
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As virtudes são disposições ou hábitos adquiridos ao longo da vida e se 
fundamentam na ideia de que o homem deve sempre realizar o melhor de si, “é o 
habito que torna o homem bom e lhe permite cumprir bem sua tarefa”. 
 
Para Aristóteles as virtudes morais como disposições ou atitudes para a ação, 
adquiridas mediante o exercício e aperfeiçoadas pela prática. Daí a importância do 
hábito no desenvolvimento desta excelência: as pessoas não nascem boas, mas 
nascem com a capacidade de tornarem-se boas se desenvolverem as disposições 
apropriadas mediante a prática reiterada de boas ações. 
 
É pela prática dos atos justos que se gera o homem justo, é pela prática de atos 
temperantes que se gera o homem temperante; é através da ação que existe a 
possibilidade de alguém tornar-se bom: 
 
“Mas a maioria dos homens não procede assim. Refugiam-se na teoria e pensam 
que estão sendo filósofos e se tornarão bons dessa maneira. Nisso se portam como 
enfermos que escutassem atentamente seus médicos, mas não fizessem nada do 
que estes lhe prescrevem” 
O homem bom, portanto, é aquele que exerce com sucesso suas funções se 
realizando, elevando sua vida até a mais alta excelência de que é capaz, vivendo 
bem e feliz: “o bem para o homem vem a ser o exercício ativo das faculdades da 
alma de conformidade com a excelência”. A definição é complementada logo a 
seguir com a adição da frase “deve estender-se por toda a vida” para reforçar a 
afirmação de que um momento de felicidade não constitui a bem-aventurança 
(felicidade), assim como uma andorinha só não faz o verão. 
 
A virtude está em nosso poder de escolha, e a escolha envolve um princípio 
racional, ela é aquilo que colocamos diante de outras coisas, o objeto da escolha é 
algo que está em nosso alcance e este é desejado após a deliberação, as ações 
devem concordar com a escolha e serem voluntárias, podemos escolher entre a 
virtude e o vício, porque se depende de nós o agir, também depende o não agir. 
Depende de nós praticarmos atos nobres ou vis, ou então, depende de nós sermos 
virtuosos ou viciosos. 
 
Fica esclarecido que as virtudes são voluntárias, porque somos senhores de nossos 
atos se conhecemos as circunstâncias, e estava em nosso poder o agir ou o não 
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agir de tal maneira. E esse agir não é isolado, ou individual, é sempre agir em 
relação ao outro. Os vícios também são voluntários, porque o mesmo se aplica a 
eles. A virtude deve se mostrar nas ações “da mesma forma que nos jogos 
Olímpicos os coroados não são os homens mais fortes e belos, e sim os que 
competem (alguns destes serão vitoriosos), quem age conquista, e justamente, as 
coisas boas da vida”. 
 
2.2 - AS VIRTUDES MORAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.2.1 - Coragem – é meio-termo em relação ao sentimento de medo e de confiança, 
a bravura relaciona-se com as coisas mais nobres como a morte na guerra, e bravo 
é aquele que se mostra destemido em face a uma morte honrosa, os bravos, 
embora temam aquelas coisas que estão acima das forças humanas, caracterizam-
se por enfrentá-las como se deve; e aquele que diz não ter medo, que é insensível 
ao que realmente é terrível, é o homem temerário, ele é um simulador de coragem, 
porque deseja parecer corajoso; e aquele que excede no medo é covarde, porque 
ele teme o que não deve temer, falta-lhe confiança e é dado ao desespero por temer 
certas coisas, a covardia e a temeridade são a carência e o excesso e a posição 
correta é a bravura. 
 
2.2.2 - Temperança – é o meio-termo em relação aos prazeres e dores, as espécies 
dos prazeres com que se relaciona são os prazeres corporais, Ao intemperante 
somente interessa o gozo do objeto em si, no comer e beber e na união dos sexos. 
Por causa dos prazeres, a intemperança é, dentre os vícios, a mais difundida; e é 
motivo de censura porque nos domina, não como homens, mas como animais. O 
apetite é natural, mas o engano é o excesso. O excesso em relação aos prazeres é 
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intemperança e é culpável, porque, nesse estado, somos levados pelo apetite. Os 
apetites devem ser poucos e moderados, e não podem opor-se, de modo algum, ao 
princípio racional. No homem temperante, o elemento apetitivo harmoniza-se ao 
racional, o que ambos tem em mira é o nobre. 
 
2.2.3 - Liberalidade – é o meio-termo no dar e no receber dinheiro. O excesso é a 
prodigalidade e a deficiência é a avareza. 
 
2.2.4 - Magnificência – é um meio-termo quanto ao dinheiro dado em grandes 
quantias; o excesso é a vulgaridade e o mau gosto, a deficiência é a mesquinhez. A 
deficiência a essa disposição de caráter é a mesquinhez; este fica aquém da medida 
em tudo, em tudo o que faz estuda a maneira de gastar menos e lamenta até o 
pouco que tem. O excesso é a vulgaridade, porque gasta além do que é justo. Por 
exemplo, dá um jantar de amigos na escala de um banquete de núpcias. 
 
2.2.5 - Justo Orgulho – é o meio-termo em relação à honra e à desonra. O excesso 
é a ‘vaidade oca’ e a deficiência é a humildade indébita. 
 
2.2.6 - Calma – é o meio-termo em relação à cólera; aquele que excede é o 
irascível, o que fica aquém é o pacato. Louva-se o homem que se encoleriza 
justificadamente, tal homem tende a não deixar-se perturbar nem guiar-se pela 
paixão, mas ira-se da maneira, com as coisas e no tempo prescrito. A deficiência é a 
pacatez, e essas pessoas não se encolerizam com coisas que deveriam excitar sua 
ira; também são chamados de tolos e insensíveis. O excesso é o homem irascível, 
que encoleriza-se com coisas indevidas e mais do que convém. 
 
2.2.7 - Justiça – nela faz-se necessário distinguir as duas espécies e mostrar em 
que sentido cada uma delas é um meio-termo. A justiça é a disposição de caráter 
que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo e a desejar o que é justo. 
Dessa forma, a justiça é uma virtude completa ou é muitas vezes considerada a 
maior das virtudes. É uma virtude completa por ser o exercício atual da virtude 
completa, isto é, aquele que a possui pode exercer sua virtude sobre si e sobre o 
próximo. Por isso se diz que somente a justiça, entre todas as virtudes, é o bem do 
outro, visto que é possível fazer o que é vantajoso a um outro. O melhor dos homens 
é aquele que exerce sua virtude para com o outro, pois essa tarefa é a mais difícil. 
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A justiça política divide-se em natural e legal. A natural é aquela que tem a mesma 
força em toda parte; a legal é a justiça estabelecida, no tocante à justiça, cabe 
destacar que é o caráter voluntário ou involuntário que determina o justo. O homem 
somente é justo quando age de maneira voluntária, e se age involuntariamente não 
é justo nem injusto, a não ser por acidente. 
 
3 - HELENISTICO: SÉCULO IV a.C. - V d.C. 
3.1 - CONTEXTO HISTÓRICO 
Fusão da cultura grega com a oriental (Macedônia). Após a morte de Alexandre 
Magno em 323 a.C., desintegração do império: Ptolomeu (Egito, Arábia e Palestina): 
sucessores de Antígono (Macedônia e Grécia) e Seleuco (Síria, Mesopotâmia e Ásia 
Menor). O império Romano fundado em 100 a.C., se consolida. Guerras púnicas 
(Roma/Cartago). A Grécia e suas colônias passam a integrar o Império Romano 
(XXXI a.C.). Cristianismo (séc. I d.C.). Apogeu e crise do Império Romano (séc. II e 
III). 
3.1.1 - CARACTERÍSTICA DA FILOSOFIA NO PERÍODO 
A filosofia transforma-se em um modo de vida: forte preocupação com a salvação e 
a felicidade, que passam a ser vistas com possíveis de alcançar de forma individual 
e subjetiva, por
meio de conjuntos de regras morais. Predomínio da ética, q passa a 
exercer a função desempenhada outrora pelos mitos religiosos (etapa helenística). 
Surgimento de pequenas escolas filosóficas. A filosofia perde seu vigor, tornando-se 
repetitiva e pouco criativa 
(etapa romana). 
 
3.1.2 - FILOSOFOS IMPORTANTES 
Estoicismo: Zenão de Cicio, Cleanto de Assos, Crístipo de Solos, Sêneca, 
Epíteto, Marco Aurélio. 
Epicurismo: Epicuro, Lucrécio. 
Ecletismo: Cícero.Neoplatonico: Plotino. 
 
4 - A filosofia de Séneca 
 
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Foto: O Filósofo Séneca e seu jovem aluno Nero em conversa. 
 
Sêneca ocupava-se da forma correta de viver a vida, ou seja, da ética, fisica e da 
lógica. Via o sereno estoicismo como a maior virtude, o que lhe permitiu praticar a 
imperturbabilidade da alma, denominada ataraxia (termo utilizado a primeira vez por 
Demócrito em 400 a.C.). Juntamente com Marco Aurélio e Cícero, conta-se entre os 
mais importantes representantes da intelectualidade romana. 
 
Sêneca via no cumprimento do dever um serviço à humanidade. Procurava aplicar a 
sua filosofia à prática. Deste modo, apesar de ser rico, vivia modestamente: bebia 
apenas água, comia pouco, dormia sobre um colchão duro. Séneca não viu 
nenhuma contradição entre a sua filosofia, estóica, e a sua riqueza material: dizia 
que o sábio não estava obrigado à pobreza, desde que o seu dinheiro tivesse sido 
ganho de forma honesta. No entanto, devia ser capaz de abdicar dele. 
 
Sêneca via-se como um sábio imperfeito: "Eu elogio a vida, não a que levo, mas 
aquela que sei dever ser vivida." Os afetos (como relutância, vontade, cobiça, 
receio) devem ser ultrapassados. O objetivo não é a perda de sentimentos, mas a 
superação dos afetos. Os bens podem ser adquiridos, à condição de não deixarmos 
que se estabeleça uma dependência deles. 
 
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Para Sêneca, o destino é uma realidade. O homem pode apenas aceitá-lo ou rejeitá-
lo. Se o aceitar de livre vontade, goza de liberdade. A morte é um dado natural. O 
suicídio não é categoricamente excluído por Sêneca. 
 
Sêneca influenciaria profundamente o pensamento de João Calvino. O primeiro livro 
de Calvino foi um comentário ao De Clementia, de Sêneca. 
 
4.1 - A OBRA LITERÁRIA DE SÊNECA 
 
Ao se analisarem os escritos de Sêneca, é possível perceber a forma pela qual 
alcançou o conhecimento e desenvolvimento da ideia de fluxo de energia, que 
advém, segundo ele, de algum princípio ativo (termo utilizado em seu livro Questões 
naturais), o qual sujeita a regra geral: Causa e Efeito, ou Ação e Reação, de tal 
forma que sugeria em uma de suas cartas a Lucílio, que só tem domínio de si aquele 
que não faz de seu corpo um peregrinador por outros corpos. 
 
Sêneca destacou-se como estilista. Numa prosa coloquial, seus trabalhos 
exemplificam a maneira de escrever retórica, declamatória, com frases curtas, 
conclusões epigramáticas e emprego de metáforas. A ironia é a arma que emprega 
com maestria, principalmente nas tragédias que escreveu, as únicas do gênero na 
literatura da antiga Roma. Versões retóricas de peças gregas, elas substituem o 
elemento dramático por efeitos brutais, como assassinatos em cena, espectros 
vingativos e discursos violentos, numa visão trágica e mais individualista da 
existência. 
 
5 – A IDADE MÉDIA 
5.1 - PATRÍSTICA: SÉCULO I A V D.C. 
5.1.1 - CONTEXTO HISTÓRICO 
Os cristãos são perseguidos por decretos de vários imperadores romanos e somente 
podem praticar livremente sua religião a partir do ano de 313 (Édito de Milão). Em 
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395, o imperador Teodósio divide o Império Romano em dois: o do Oriente e o do 
Ocidente. 
 
5.1.2 - CARACTERÍSTICA DA FILOSOFIA 
Encontro da filosofia grega com o cristianismo. Primeira elaboração dos conteúdos 
do cristianismo pelos Padres da Igreja, o que explica o nome patrística dado ao 
período. Nesse período, a questão central reside na necessidade de conciliação das 
exigências da razão humana com a revelação divina. 
 
5.1.3 - FILÓSOFOS IMPORTANTES 
Santo Ireneu, Tertúliano, Justino, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de 
Nazianzo, Basílio Magno, Gregório de Nissa, Destaque: Santo Agostinho. 
 
6 - A FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO 
 
 
Por Rafael Gómez Pérez 
 
 Uma das maiores personalidades da história universal, Santo Agostinho foi um 
grande retórico, um grande filósofo e um grande santo da Igreja. Sua obra, ao 
mesmo tempo vasta e profunda, exerceu e exerce muita influência em toda a cultura 
ocidental. 
 
A sua vida, muito conhecida, torna-o inteligível também para muitos não-cristãos. 
Retórico, homem do mundo, carnal, fez um longo esforço para encontrar a chave da 
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inquietação que o devorava. Primeiro maniqueu, depois platônico, finalmente 
convertido, num célebre momento que ele mesmo contou com um gênio inimitável. 
 
Depois da conversão, e sem pretendê-lo, é ordenado sacerdote. Chega ao 
episcopado da mesma maneira. E desde esse momento, no meio de muitas 
vicissitudes críticas, carrega sobre si grande parte da responsabilidade da Igreja; 
assim, por exemplo, no auge da heresia de Pelágio ouem face do cisma dos 
donatistas. No momento da sua morte, é todo um símbolo. Morre em Hipona quando 
os vândalos sitiavam a cidade. Com ele, morre a cultura antiga e nasce outra nova. 
Porque Santo Agostinho foi um homem do seu tempo. Versado em todas as artes 
clássicas, foi sempre um retórico de grande habilidade, jogando com as palavras 
num malabarismo que conseguia sempre escapar à superficialidade. Diríamos que o 
seu pensamento é tão profundo que supera as habilidades do retórico. 
 
Inicialmente, escreve filosofia, porém mais tarde dedica as suas forças à pregação, 
sem descuidar uma enorme correspondência. Escreve também muitos tratados 
teológicos, de exegese bíblica, etc. 
 
Não citaremos aqui as obras teológicas; limitar-nos-emos às de caráter filosófico: 
Contra Acadêmicos, crítica do ceticismo; De beata vita, sobre a felicidade; De 
ordine, sobre a origem do mal: os Coliloquia, um apaixonado diálogo consigo mesmo 
sobre a imortalidade da alma; De immortalitate animae; De quantitate animae, sobre 
a mesma questão; De magistro, sobre a educação com um enfoque psicológico. 
 
Santo Agostinho não construiu um sistema filosófico completo, ainda que as ideias 
básicas se mantenham constantes e acusem um claro predomínio platônico. Ele 
mesmo nos conta que começou a ler uma obra de Aristóteles e não pôde prosseguir. 
Talvez o tenha afastado o estilo entrecortado, desencarnado, a falta dessa alma que 
Santo Agostinho buscava em tudo. Santo Agostinho não parece feito para encerrar a 
realidade em categorias. A sua reflexão parte sempre da vida: das coisas que se 
passam ao seu redor, das ideias dominantes, dos ataques contra a fé, da 
interioridade da sua alma. 
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6.1 - A BUSCA DA VERDADE 
 
A filosofia agostiniana é uma constante busca da verdade, que culmina na Verdade, 
em Cristo. É um movimento incessante, uma paixão, e, precisamente, a paixão 
principal: o amor. “Amor meus, pondus meum”, o amor é o peso que dá sentido à 
minha vida. Verdade e Amor.“Fizeste-nos, Senhor, para Ti e o nosso coração estará 
inquieto enquanto não descansar em Ti”, diz nas Confissões. 
 
Essa “passionalidade” da filosofia agostiniana não é em nenhum momento 
irracionalismo ou voluntarismo. Se incita a ter fé para entender, também anima a 
entender para crer melhor. Nada nos pode fazer duvidar da possibilidade de chegar 
à verdade. Nada valem os argumentos céticos. Si fallor, sum: se me engano, é uma 
prova de que sou, diz, antecipando-se, num contexto muito diferente, a Descartes. E 
com mais clareza: “Sabes que pensas? Sei. Ergo verum est cogitare te, logo é 
verdade que pensas”. 
 
A verdade está no interior do homem. “Não queiras sair para fora; é no interior do 
homem
que habita a verdade”. E há verdades constantes, inalteráveis, para sempre. 
Dois mais dois serão sempre quatro. Santo Agostinho tenta esclarecer de onde pode 
vir essa verdade. Não das sensações, diz, porque essas são e não são, são 
mutáveis, efêmeras. Tampouco do espírito humano, que, por profundo que seja, é 
limitado. Essas verdades eternas só podem ter por autor Aquele que é eterno: Deus. 
São reflexos da verdade eterna, que nos ilumina e nos permite ver. Nisso consiste o 
que depois ficou conhecido como “doutrina da iluminação”; porém, desde já é 
preciso dizer que Santo Agostinho não a apresenta nunca como uma “teoria”, mas 
como uma comprovação. Já no final da sua vida, diz nas Retractationes que o 
homem tem em si, enquanto é capaz, “a luz da razão eterna, na qual vê as verdades 
imutáveis”. 
 
Como em Platão, conhecer verdadeiramente é estar em contato com o mundo 
inteligível. Porém, Santo Agostinho nunca dirá que vemos as verdades em Deus, 
mas que participamos da luz da razão eterna. Não se deve ignorar, por outro lado, 
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que essa solução para o tema do conhecimento corre o risco de não distinguir de 
forma adequada o conhecimento natural do conhecimento sobrenatural. Mas essa é 
uma questão que só será levantada mais tarde, na Idade Média. 
 
6.2 - A BUSCA DE DEUS 
 
Em Santo Agostinho, não existem provas formais para demonstrar a existência de 
Deus. Ainda que toda a sua obra seja uma espécie de itinerário em direção a Deus. 
Tudo fala de Deus; basta abrir os olhos. Ele é intimior intimo meo, mais íntimo ao 
homem que a própria intimidade humana. As coisas falam-nos todo o tempo de 
Deus. Perguntamos-lhes: “Sois Deus?” E respondem: “Não, fomos feitas. Continua a 
buscar”. De forma retórica – retórica de grande qualidade –, encontramos aí a prova 
da existência de Deus pela contingência das realidades humanas. A mutabilidáde 
exige o imutável; os graus de perfeição exigem o Ser perfeito. Em Santo Agostinho, 
como em outros filósofos de inspiração platônica, está claramente formulado o que 
será a quarta via de São Tomás de Aquino. 
 
Qual é o melhor nome para Deus? O que se lê no Êxodo: “Aquele que é”. “Non 
aliquo modo est, sed est est” (Confissões). Santo Agostinho dará com frequência a 
Deus o nome de Bem, de Amor, porém não desconhece que antes de tudo Ele é; e 
porque é o que é, é Amor, Bem, Infinito. São Tomás de Aquino não precisará 
modificar nada de substancial nesta metafísica agostiniana. Como exemplo das 
dezenas de textos agostinianos, temos este, das Confissões: “Eis que o céu e a 
terra são; e dizem-nos em altos brados que foram feitos, pois modificam-se e variam. 
Porque, naquilo que é sem ter sido feito, não há coisa alguma agora que antes não 
houvesse: que isso é modificar-se e variar. O céu e a terra clamam também que não 
se fizeram a si mesmos: somos porque fomos feitos; não éramos antes que 
fôssemos, de modo a termos podido ser por nós mesmos. Basta olhar para as 
coisas para ouvi-las dizer isso. Tu, Senhor, fizeste essas coisas. Porque és belo, 
elas são belas; porque és bom, são boas; porque tu és, elas são.” 
 
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Esta última afirmação (quia est: sunt enim) significava a definitiva superação por 
parte de Santo Agostinho do essencialismo platônico. Deus é causa do ser das 
coisas, porque é o Ser por essência. Se a fórmula de Santo Agostinho não é essa, a 
ideia é. 
 
 6.3 - O MUNDO, CRIAÇÃO DE DEUS 
 
Outro texto das Confissões situa de forma inequívoca a metafísica da criação: “Que 
eu ouça e entenda como no princípio fizeste o céu e a terra. Moisés escreveu isso; 
escreveu-o e ausentou-se. Daqui, onde estava contigo, passou a estar contigo, e por 
isso não o podem ver meus olhos. Se estivesse aqui presente, eu o agarraria, lhe 
rogaria e, por Ti, lhe suplicaria que me explicasse essas coisas [...]. Porém, como 
saberia que estava a dizer-me a verdade? A própria verdade, que está no interior da 
minha alma, e que não é grega, nem latina, nem bárbara, nem necessita dos órgãos 
da boca ou da língua, nem do ruído de sílabas, me diria: Moisés diz a verdade, e eu, 
no mesmo instante, com toda a segurança lhe diria: Verdade é o que me dizes”. 
 
Voltemos à questão anterior. Deus é Aquele que é; as coisas são criadas. Deus é 
quem lhes deu o ser. Por quê? Por pura bondade. “Porque Deus é bom, somos.” A 
razão da criação é a bondade de Deus. Deus não pode ter, no seu querer, outro fim 
que não o seu próprio ser. Só em relação a si mesmo pode querer mais. A criação é 
gratuita. Não há nada preexistente. Santo Agostinho acaba com as dúvidas de 
Orígenes e com o universo grego, eterno. 
 
Deus cria todas as coisas do nada. E todo o criado é composto de matéria. Santo 
Agostinho, que durante tanto tempo não conseguiu conceber uma substância 
espiritual, não deixa de atribuir uma certa materialidade mesmo às criaturas 
espirituais, aos anjos. A absoluta imaterialidade só cabe a Deus. Em Deus estão as 
ideias exemplares de todas as coisas, que são as formas. Ao criar, essas ideias 
ficam limitadas pela matéria, mas, ao mesmo tempo, nessa matéria já estão os 
germes de tudo o que será: as rationes seminales. 
 
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Santo Agostinho retoma aqui uma doutrina de origem estóica e, ao mesmo tempo, 
faz uma concessão ao “materialismo” que professou durante anos, embora talvez 
seja melhor empregar o termo de “corporeismo”. 
 
 6.4 - O ENIGMA DO HOMEM 
 
“O homem que se espanta é ele mesmo grande maravilha”. “E dirigi-me a mim 
mesmo e disse: Tu quem és? E respondi-me: Homem. E eis que tenho à mão o 
corpo e a alma, um exterior e o outro interior. Porém, melhor é o interior”. “O homem 
é um ser intermediário entre os animais e os anjos”. “Nada encontramos no homem 
além de corpo e alma; isso é todo o homem: espírito e carne”. Essas são apenas 
algumas das numerosas referências que poderíamos dar sobre esta questão crucial. 
São os dois grandes temas agostinianos: “Deus e o homem”. “Que te conheça a ti e 
que me conheça a mim mesmo”. É o famoso princípio dos Soliloquia: “Quero 
conhecer Deus e a alma. Nada mais? Absolutamente nada mais”. 
 
Também nesta questão Santo Agostinho trai a influência do platonismo. O homem é 
uma alma que usa um corpo; ou, uma alma racional, que se serve de um corpo 
terrestre e mortal; ou, “uma alma racional que tem um corpo”. Tudo indica que, para 
Santo Agostinho, o homem é a alma. E, contudo, há textos que parecem fugir ao 
platonismo: “Porque o homem não é só corpo ou apenas alma, mas o que é 
constituído de alma e de corpo. Esta é a verdade: a alma não é todo o homem, mas 
é a melhor parte do homem; nem todo o homem é o corpo, mas a porção inferior do 
homem; quando as duas estão juntas, temos o homem” (A Cidade de Deus). A 
questão ainda está sujeita a discussão, mas exagerou-se demais o platonismo de 
Santo Agostinho neste particular. De qualquer forma, Santo Agostinho supera a 
desvalorização do corporal, tão essencial no platonismo e no neoplatonismo. O 
corpo é matéria, criação de Deus, e por isso, bom. Não é o cárcere nem o túmulo da 
alma: “Não é o corpo o teu cárcere, mas a corrupção do teu corpo. O teu corpo, 
Deus o fez bom, porque Ele é bom”. Também aqui poderíamos multiplicar os textos: 
“Todo aquele que quer eliminar o corpo da natureza humana desvaira”. E de forma 
inequívoca, numa obra tardia, o Sermão 267: “Perversa e humana filosofia é a dos 
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que negam a ressurreição do corpo. Alardeiam serem grandes depreciadores do 
corpo, porque crêem que nele estão encarceradas as suas almas, por delitos 
cometidos em outro lugar. Porém, o nosso Deus fez o corpo e o espírito; de ambos é 
o criador; de ambos o recriador”. 
 
 
Foto: Santo Agostinho em oração, tela de autor desconhecido. 
 
Examinemos uma dificuldade classicamente agostiniana. Deus é o criador da alma, 
mas como a criou? Com os nascimentos surgem
constantemente homens, isto é, 
corpo e alma. Será que as almas estão nas “razões seminais”, na matéria, e são 
transmitidas pelos pais, na geração? Santo Agostinho assim o pensou por certo 
tempo, mas depois recusou que algo espiritual pudesse surgir da matéria. Pensou 
na criação imediata por Deus de cada alma, mas esse início no tempo de algo 
espiritual não combinava com o que ainda restava de platonismo nele. Acabou 
confessando que não sabia o que dizer. Era mais um elemento desse enigma que é 
o homem. 
 
Fica claro que a alma é imortal, porque conhece as verdades imortais e eternas. 
Que conheçamos o que seja a verdade e que nunca deixará de sê-lo é, para Santo 
Agostinho, evidente. Como pode morrer ou desaparecer o que é a sede do 
indestrutível? 
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A alma será sempre um mistério. Muitas outras realidades sobre as quais pensamos 
também o são. O tempo. É famoso o dito agostiniano: “Se ninguém me pergunta, 
sei; mas se quero explicá-lo a quem me pergunta, não o sei”. Depois de uma análise 
do passado, do presente e do futuro – até hoje não superada –, Santo Agostinho 
concluí: “Não se diz com propriedade «três são os tempos: passado, presente e 
futuro»; talvez fosse mais apropriado dizer: «presente das coisas futuras, presente 
das coisas passadas, presente das coisas presentes». Porque essas três presenças 
têm algum ser na minha alma, e é somente nela que as vejo. O presente das coisas 
passadas é a memória; o presente das coisas presentes é a contemplação; o 
presente das coisas futuras é a expectação” (Confissões). O tempo é, assim, 
distensio animi, “uma espécie de extensão da nossa alma”. É preciso ler ao menos 
esse livro XI das Confissões para captar o tom da filosofia agostiniana: incerta às 
vezes, nada dogmática, em diálogo constante com Deus. 
 
 6.5 - A COMPLEXIDADE DA HISTÓRIA 
 
A Cidade de Deus é mais uma das grandes obras universais que Santo Agostinho 
legou à humanidade. Mas poucos escritos têm sido tão mal lidos, tão mal 
interpretados. A oposição entre Cidade de Deus e Cidade terrena foi vista como 
oposição entre Igreja e Estado. Nada mais falso. O texto célebre não deixa lugar a 
dúvidas. Dois amores criaram duas cidades: o amor próprio, que leva ao desprezo 
de Deus, a terrena; o amor de Deus, que leva ao desprezo de si mesmo, a celestial. 
Ou: “Dividi a Humanidade em dois grandes grupos. Um é o daqueles que vivem 
segundo o homem; o outro, o dos que vivem segundo Deus. Damos misticamente a 
esses dois grupos o nome de cidades, que quer dizer sociedades de homens”. 
 
A prova fundamental de que essa divisão não é equivalente à divisão Igreja-Estado 
é a afirmação taxativa de que na Igreja podem existir homens que, na realidade, 
pertencem à cidade terrena; e, inversamente, entre as pessoas que ainda estão fora 
da Igreja podem-se encontrar predestinados à cidade celestial. Por outro lado, essas 
duas “cidades” acham-se misturadas, imbricadas. A “peneira” será feita só no final 
de cada história pessoal e no final da história de todo o gênero humano. Enquanto 
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transcorre o tempo, com as suas variações, “porque não em vão são tempos”, a 
história é complexa. Não existe uma “lei da história”, não conhecemos o futuro. Só 
Deus conhece o final; o homem move-se às apalpadelas no campo da história. A 
história forma como que um belo poema, no qual intervêm Deus e o homem. O final 
só será conhecido quando soar a última nota. 
 
Em uma palavra: a concepção de história é, em Santo Agostinho, uma concepção 
aberta. O seu “providencialismo” não é uma afirmação de “teocracia”. Não se pode 
extrair da filosofia-teologia da história de Santo Agostinho argumentos para o 
césaro-papismo ou para qualquer outra confusão do religioso com o político. A 
importância desta filosofia-teologia da história ressalta mais quando se tem em conta 
que em toda a história da filosofia será preciso esperar Hegel para encontrar outra 
concepção igualmente global e completa (embora em Hegel ela tenha um sentido 
panteísta). 
 
8 - IDADE MÉDIA II 
8.1 - PATRÍSTICA: SÉCULO V A VIII 
8.1.1 - CONTEXTO HISTÓRICO 
O Império Romano do Ocidente é invadido pelos bárbaros do norte da Europa, 
sucumbindo em 476. O Império Bizantino perdura até o fim da Idade Média (1453). 
Sob o governo de Justiniano é redigido o Corpus Júris Civilis (Corpo do Direito Civil), 
durante o século VI. 
 
8.1.2 - CARACTERÍSTICA DA FILOSOFIA 
Na Idade Média, a Filosofia se separa da teologia, porém as duas mantêm relações, 
podendo-se afirmar que a Filosofia é um instrumento a serviço da teologia. O tema 
central é a tentativa de conciliar razão e fé. De maneira simplista, é possível dividir a 
Filosofia medieval em dois grandes períodos: a Filosofia Patrística e a Filosofia 
Escolástica. A Patrística precede e prepara a Escolástica medieval, e sua principal 
característica reside no seu caráter apologético: é preciso defender os ideais 
cristãos perante os pagãos e convertê-los. Presencia-se a retomada da Filosofia 
platônica, especialmente por Santo Agostinho, bem como do neoplatonismo. 
 
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8.1.3 - FILOSOFOS IMPORTANTES 
Santo Agostinho. Boécio. Dionísio. Pseudo-Areopagita. Próspero. Cassiodoro. 
Máximo, O Confessor. Isidoro. Beda. João Damasceno. 
Foi esse o período aproximado que denominamos como idade medieval, da queda 
do império romano no século V até o século XV e o início do renascimento foram 
desenvolvidas duas correntes filosóficas distintas: A filosofia patrística e a filosofia 
escolástica, ambas possuíam concepções religiosas, porém com diferentes 
abordagens. 
Filosofia Patrística (século I ao VII): a filosofia desenvolvida nessa época teve como 
objetivo consolidar o papel da igreja e propagar os ideais do cristianismo. Baseadas 
nas Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João, a escola patrística advogou 
a favor da igreja e propagou diversos conceitos cristãos como o pecado original, a 
criação do mundo por Deus, ressureição de juízo final. 
Filosofia da Escolástica (séc. IX ao séc. XV): nesse período ocorreu uma retomada 
de muitos princípios filosóficos gregos. A grande preocupação da igreja era aliar a 
razão e a ciência aos ideais da igreja católica. Nesse contexto, surgiu a teologia que 
foi uma ciência que buscava explicar racionalmente a existência de Deus, da alma, 
do céu e inferno e as relações entre homem, razão e fé. 
Apesar das contribuições ideológicas e em alguns aspectos científicos, 
especialmente na geometria, aritmética, música, astronomia entre outras, a filosofia 
patrística e escolástica se diferencia das demais correntes de pensamento pelo fato 
de não aceitar verdades que poderiam, porventura, contrariar dogmas religiosos e os 
demais pressupostos cristãos. Pelo seu caráter em alguns aspectos manipulador, a 
filosofia medieval não costuma receber muita atenção de indivíduos engajados na 
busca científica da existência humana e do próprio universo. 
 
9 - A PRÉ-ESCOLÁSTICA – SÉC. V A VII 
 
Ao final do século V, o que restava dos escombros do Império Romano era uma 
multidão dispersa de povos bárbaros e alguns fragmentos da cultura clássica, que 
só não desapareceram devido aos esforços dos monges copistas e dos grandes 
pensadores cristãos em Alexandria, Grécia e Roma. 
http://educacao.uol.com.br/historia/roma-divisao-invasoes-barbaras.jhtm
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Os primeiros e conturbados séculos da Idade Média europeia seriam dominados 
pelo pensamento de santo Agostinho, antigo responsável por solidificar a fé cristã 
sobre uma série de elementos platônicos. Veremos a sua influência em autores 
como Boécio, Dionísio Areopagita e Escoto Erígena, bem como na tradição das 
artes liberais que fundamentaram o ensino medieval. 
9.1 - O PRINCÍPIO 
 
É difícil delimitar a origem da Escolástica porque jamais ela se estabeleceu como 
uma doutrina filosófica restrita. Diferente do que
se pensa, havia no ambiente 
católico uma divergência muito viva em questões teológicas. Foi esse espírito do 
debate que acabou dando origem à corrente de atividades intelectuais, artísticas e 
filosóficas a que se convencionou chamar de Escolástica (do latim schola). 
É o século XII que vê essa valorização do saber refletida na criação das 
universidades e na ascensão da classe letrada. O monge agostiniano santo 
Anselmo desponta como o primeiro escolástico, seguido por Pedro Abelardo, Pedro 
Lombardo e Hugo de São Vítor. 
9.2 - O AUGE 
 
Eis que na segunda metade do século XII chegam às universidades as traduções 
hispânicas de versões árabes das obras de Aristóteles. É o grande choque cultural 
que muda o rumo do Ocidente e que catapulta a Escolástica para a sua "era de 
ouro" no século XIII, quando Agostinho deixa de ser o eixo do pensamento cristão, e 
a filosofia natural aristotélica se agiganta diante da teologia. 
Os mestres universitários adquirem fama e importância, os livros se multiplicam, e o 
modelo de ciência antiga começa a ruir. Robert Grosseteste e seu discípulo Roger 
Bacon trabalham a ideia de pesquisa científica, idealizando experimentos. As 
universidades de Paris, Oxford e Colônia testemunham os grandes debates e o 
surgimento de obras gigantescas. É o século de são Tomás de Aquino, Alberto 
Magno, são Boaventura e Duns Scotus. 
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/santo-agostinho-a-procura-da-verdade-no-interior-do-ser-humano.htm
http://educacao.uol.com.br/biografias/boecio.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/joao-escoto-erigena.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/santo-anselmo.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/santo-anselmo.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/pedro-abelardo.jhtm
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/aristoteles-o-mundo-da-experiencia-as-quatro-causas-etica-e-politica.htm
http://educacao.uol.com.br/biografias/robert-grosseteste.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/roger-bacon.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/roger-bacon.jhtm
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/santo-tomas-de-aquino-razao-a-servico-da-fe.htm
http://educacao.uol.com.br/biografias/santo-alberto-magno.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/santo-alberto-magno.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/sao-boaventura.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/johannes-duns-scotus.jhtm
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10 - ESCOLÁSTICA: SÉCULO VIII A XV 
10.1 - CONTEXTO HISTÓRICO 
A escolástica vai do século VIII (constituição do sacro império romano) até o fim do 
século XV (fim da Idade Média convencionado pela descoberta da América em 
1492). Na escolástica o ensino teológico-filosófico da doutrina aristotélico-tomista 
era ministrado nas escolas de conventos e catedrais e também nas universidades 
européias da Idade Média e do Renascimento pelos mestres chamados 
escolásticos. Como sistema teológico e filosófico a escolástica tentou resolver 
problemas e questões tais como, a relação entre a fé e a razão, a possibilidade da 
existência de Deus, as diferenças entre realismo e nominalismo. A escolástica é 
marcada especialmente pelo desenvolvimento da dialética. As matérias ensinadas 
nas escolas medievais eram chamadas de artes liberais, divididas em trívio - 
gramática, retórica, dialética - e quadrívio - aritmética, geometria, astronomia, 
música. 
 
O período Renascentista (ou Renascimento ou Renascença) foi um período da 
história com manifestações culturais marcantes que se desenvolveu entre o século 
XIV e meados do século XVII e que vinha de encontro ao pensamento cristão 
porque defendia - falando aqui de maneira muito geral - a valorização do homem e 
da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural. Além de atingir a Filosofia, as 
Artes, as Ciências e a Astronomia, o Renascimento fez parte de muitas 
transformações culturais, sociais, políticas, religiosas e econômicas que 
caracterizam a transição do Feudalismo para o Capitalismo. Nesse sentido, o 
Renascimento pode ser entendido como um elemento de ruptura, no plano cultural, 
com a estrutura medieval. 
Estabelecimento do Império Carolíngio (séc. VIII). Expansão da cultura árabe 
(invasão da Espanha em 711). Tratado de Verdun (843) e apogeu da cultura 
islâmica. Surgimento do feudalismo (sécs. IX–X), após o desaparecimento do 
Império Carolíngio. Início das Cruzadas (1095-1291) e Cisma do Oriente (séc. XI). 
Aparecimento das universidades (séc. XII). Declínio do feudalismo e formação das 
cidades livres (séc. XIII). Criação da Ordem dos Dominicanos e da Ordem de São 
Francisco. Guerra dos Cem Anos (franceses X ingleses) e Cisma do Ocidente (sécs. 
XIII e XV). Difusão do ensino científico nas universidades. Tomada de 
Constantinopla pelos turcos (1453). 
 
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10.2 - CARACTERÍSTICA DA FILOSOFIA 
O termo escolástica designa a Filosofia ministrada nas escolas cristãs (de catedrais 
e conventos) e posteriormente nas universidades. A Patrística retorna a Filosofia 
platônica; a escolástica retorna a Filosofia aristotélica, nela encontrando seus 
fundamentos e os elementos necessários para seu desenvolvimento. Santo Tomás 
de Aquino elabora a síntese magistral do cristianismo com o aristotelismo, 
fornecendo as bases filosóficas para a teologia cristã: surge a Filosofia aristotélico-
tomista. Compatibilizar a fé e a razão continua a ser o problema central da Filosofia 
escolástica. 
 
10.3 - FILOSOFOS IMPORTANTES 
João Scoto Erígena. Santo Anselmo. Pedro Abelardo, Guilherme e Champeaux. 
Escola de Chartres: Fulberto. Bernado. Teodorico. Gilberto de Poitiers. Guilherme de 
Conches, João de Salisbury. Oto de Freising. Al Farabi. Avicena. Averróis. Escola de 
Oxford: Roberto Grosseteste. Roger Bacon. João Duns Escoto. Guilherme do 
Ockham. Boaventura. Alberto Magno. Santo Tomás de Aquino. Mestre Eckhart. 
Nicolau de Cusa. 
É comum se ouvir falar em trevas e barbárie quando alguém se refere à Idade 
Média, por vezes com uma expressão de escárnio e desprezo. Ao contrário do que 
diz este preconceito herdado dos iluministas, tanto a filosofia quanto a ciência 
moderna devem muito à Idade Média e à sua monumental Escolástica. 
10.4 - A DISPUTA ESCOLÁSTICA 
Possivelmente a maior contribuição da Escolástica à filosofia tenha sido o seu 
notável rigor metodológico e dialético. Os estudantes das principais universidades 
precisavam passar por exames que envolviam a disputa oral de argumentos, sempre 
regida pelo uso da lógica formal e intermediada por um mestre. 
Pedro Abelardo se inspirou nesse método dialético e o aprofundou em sua obra Sic 
et Non, que virou referência para a resolução de problemas a partir da sucessão de 
afirmações e negações sobre um mesmo tópico. Para isso, era imprescindível uma 
definição satisfatória dos termos, que evitasse ambiguidades. 
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-medieval-2-filosofos-cristaos-conciliaram-fe-e-razao.htm
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-medieval-2-filosofos-cristaos-conciliaram-fe-e-razao.htm
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/iluminismo-a-fe-na-razao-e-a-valorizacao-da-ciencia.htm
http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u23.jhtm
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Tiveram muito sucesso nesse sentido os escolásticos, chegando a criar palavras 
totalmente novas a partir das raízes do grego e do latim, o que acabou resultando no 
latim escolástico. A própria evolução das ciências se deve em grande parte ao 
desenvolvimento desse rigor terminológico. 
10.5 - A RELAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E TEOLOGIA 
 
Entre os renascentistas e iluministas, criou-se a ideia de que a Escolástica havia se 
submetido a Aristóteles como um servo feudal se curva ao seu mestre, o que os 
estudos do século XX desmentiram profundamente. 
A verdade é que, com a chegada da imensa obra de Aristóteles, foram surgindo 
naturalmente dois partidos nas universidades: os tradicionais,
agostinianos e 
platônicos, que não admitiam a ideia de ciências autônomas em relação à teologia, e 
os "modernos" aristotelistas, fascinados a tal ponto com a investigação da filosofia 
natural que buscaram tornar as ciências independentes da teologia. 
Essa discussão levou a grandes contendas acerca da relação entre fé e razão, cuja 
ruptura definitiva ficaria a cargo do franciscano inglês Guilherme de Ockham no 
século XIV, abrindo de vez as portas para a ciência moderna. 
 
10.6 - A DECADÊNCIA 
 
Chegam os séculos XIV e XV e o movimento escolástico começa a conhecer sua 
derrocada, eivando-se de formalismos dialéticos e discussões cada vez mais 
estéreis. Ainda assim, conta este período com grandes figuras, como o já citado 
Guilherme de Ockham, Nicolas d'Autrecourt, Jean Buridan e Nicolau de Cusa. De 
todo modo, às portas da Renascença, a Escolástica já se encontrava moribunda. 
 
10.7 - A ESCOLÁSTICA TARDIA 
http://educacao.uol.com.br/biografias/guilherme-de-ockham.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/nicolau-de-cusa.jhtm
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Nos anos da Contra-Reforma, ainda a península ibérica testemunharia um último 
sopro do espírito medieval, através de grandes pensadores católicos formados nas 
universidades de Salamanca e Coimbra, como Francisco Suárez, Francisco de 
Vitória, Domingo de Soto e Tomás de Mercado. 
É neste ambiente da "Escolástica tardia" que se produzem importantes concepções 
do jusnaturalismo e da ideia de direito internacional, além dos tratados de matéria 
econômica que viriam a influenciar a escola marginal e o liberalismo austríaco nos 
séc. XIX e XX. 
11 - IDADE MODERNA 
11. 1 - RENASCIMENTO: SÉC. XV E XVI 
 
Foto: Desenho de Leonardo Da Vinci, o Homem Vitruviano, 1490. 
 
11.1.1 - CONTEXTO HISTÓRICO 
 
Renascimento é o nome que se dá a um grande movimento de mudanças culturais, 
http://educacao.uol.com.br/historia/reformas-religiosas-5.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/francisco-de-vitoria.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/francisco-de-vitoria.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/domingo-de-soto.jhtm
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que atingiu as camadas urbanas da Europa Ocidental entre os séculos XIV e XVI, 
caracterizado pela retomada dos valores da cultura greco-romana, ou seja, da 
cultura clássica. Esse momento é considerado como um importante período de 
transição envolvendo as estruturas feudo capitalistas. 
As bases desse movimento eram proporcionadas por uma corrente filosófica 
reinante, o humanismo, que descartava a escolástica medieval, até então 
predominante, e propunha o retorno às virtudes da antiguidade. Platão, Aristóteles, 
Virgílio, Sêneca e outros autores greco-romanos começam a ser traduzidos e 
rapidamente difundidos. 
O movimento renascentista envolveu uma nova sociedade e portanto novas relações 
sociais em seu cotidiano. A vida urbana passou a implicar um novo comportamento, 
pois o trabalho, a diversão, o tipo de moradia, os encontros nas ruas, implicavam por 
si só um novo comportamento dos homens. Isso significa que o Renascimento não 
foi um movimento de alguns artistas, mas uma nova concepção de vida adotada por 
uma parcela da sociedade, e que será exaltada e difundida nas obras de arte. 
Apesar de recuperar os valores da cultura clássica, o Renascimento não foi uma 
cópia, pois utilizava-se dos mesmos conceitos, porém aplicados de uma nova 
maneira à uma nova realidade. Assim como os gregos, os homens "modernos" 
valorizaram o antropocentrismo: "O homem é a medida de todas as coisas"; o 
entendimento do mundo passava a ser feito a partir da importância do ser humano, o 
trabalho, as guerras, as transformações, os amores, as contradições humanas 
tornaram-se objetos de preocupação, compreendidos como produto da ação do 
homem. 
Uma outra característica marcante foi o racionalismo, isto é, a convicção de que tudo 
pode ser explicado pela razão do homem e pela ciência, a recusa em acreditar em 
qualquer coisa que não tenha sido provada; dessa maneira o experimentalismo, a 
ciência, conheceram grande desenvolvimento. O individualismo também foi um dos 
valores renascentistas e refletiu a emergência da burguesia e de novas relações de 
trabalho. A ideia de que cada um é responsável pela condução de sua vida, a 
possibilidade de fazer opções e de manifestar-se sobre diversos assuntos 
acentuaram gradualmente o individualismo. É importante percebermos que essa 
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característica não implica o isolamento do homem, que continua a viver em 
sociedade, em relação direta com outros homens, mas na possibilidade que cada 
um tem de tomar decisões. 
Foi acentuada a importância do estudo da natureza; o naturalismo aguçou o espírito 
de observação do homem. O hedonismo representou o "culto ao prazer", ou seja, a 
ideia de que o homem pode produzir o belo, pode gerar uma obra apenas pelo 
prazer que isso possa lhe proporcionar, rompendo com o pragmatismo. 
O Universalismo foi uma das principais características do Renascimento e considera 
que o homem deve desenvolver todas as áreas do saber; podemos dizer que 
Leonardo da Vinci é o principal modelo de "homem universal", matemático, físico, 
pintor e escultor, estudou inclusive aspectos da biologia humana. 
 
 
Foto: Canhão, invenção de Leonardo da Vinci 
 
 
11.1.2 - ITÁLIA: O BERÇO DO RENASCIMENTO 
Esse é uma expressão muito utilizada, apesar de a Itália ainda não existir como 
nação. A região italiana estava dividida e as cidades possuíam soberania. Na 
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verdade, o Renascimento desenvolveu-se em algumas cidades italianas, 
principalmente aqueles ligadas ao comércio. 
Desde o século XIII, com a reabertura do Mediterrâneo, o comércio de várias 
cidades italianas com o oriente intensificou-se, possibilitando importantes 
transformações, como a formação de uma camada burguesa enriquecida e que 
necessitava de reconhecimento social. O comércio comandado pela burguesia foi 
responsável pelo desenvolvimento urbano, e nesse sentido, responsável por um 
novo modelo de vida, com novas relações sociais onde os homens encontram-se 
mais próximos uns dos outros. Dessa forma podemos dizer que a nova mentalidade 
da população urbana representa a essência dessas mudanças e possibilitará a 
Produção Renascentista. 
Podemos considerar ainda como fatores que promoveram o renascimento italiano, a 
existência de diversas obras clássicas na região, assim como a influência dos 
"sábios bizantinos", homens oriundos principalmente de Constantinopla, 
conhecedores da língua grega e muitas vezes de obras clássicas. 
 
 
Foto: Cidade de Florença 
 
 
É necessário fazer uma diferenciação entre a cultura renascentista; aquela 
caracterizada por um novo comportamento do homem da cidade, a partir de novas 
concepções de vida e de mundo, da Produção Renascentista, que representa as 
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obras de artistas e intelectuais, que retrataram essa nova visão de mundo e são 
fundamentais para sua difusão e desenvolvimento. Essa diferenciação é importante 
para que não julguemos o Renascimento como um movimento de "alguns grandes 
homens", mas como um movimento que representa uma nova sociedade, urbana 
caracterizada pelos novos valores burguesas e ainda associada à valores cristãos. 
O mecenato, prática comum na Roma antiga, foi fundamental para o 
desenvolvimento da produção intelectual e artística do renascimento. O Mecenas 
era considerado como "protetor", homem rico, era na prática quem dava as 
condições materiais para a produção das novas obras e nesse sentido pode ser 
considerado como o patrocinador, o financiador. O investimento do mecenas era 
recuperado com o prestígio social obtido, fato que contribuía com a divulgação das 
atividades de sua empresa ou instituição que representava. A maioria dos mecenas 
italianos eram elementos da burguesia, homens enriquecidos com o comércio e toda
a produção vinculada à esse patrocínio foi considerada como Renascimento Civil. 
Encontramos também o Papa e elementos da nobreza praticando o mecenato, 
sendo que o Papa Júlio II foi o principal exemplo do que denominou-se 
Renascimento Cortesão. 
 
Foto: Moisés, obra de Michelangelo para o Papa Julio II 
 
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11.1.3 - A EXPANSÃO DO RENASCIMENTO 
No decorrer do século XVI a cultura renascentista expandiu-se para outros países da 
Europa Ocidental e para que isso ocorresse contribuíram as guerras e invasões 
vividas pela Itália. As ocupações francesa e espanhola determinaram um 
conhecimento melhor sobre as obras renascentistas e a expansão em direção a 
outros países, cada um adaptando-o segundo suas peculiaridades, numa época de 
formação do absolutismo e de início do movimento de Reforma Religiosa. 
 
O século XVI foi marcado pelas grandes navegações, num primeiro momento 
vinculadas ao comércio oriental e posteriormente à exploração da América. As 
navegações pelo Atlântico reforçaram o capitalismo de Portugal, Espanha e Holanda 
e em segundo plano da Inglaterra e França. Nesses "países atlânticos" desenvolveu-
se então a burguesia e a mentalidade renascentista. 
Esse movimento de difusão do Renascimento coincidiu com a decadência do 
Renascimento Italiano, motivado pela crise econômica das cidades, provocada pela 
perda do monopólio sobre o comércio de especiarias. A mudança do eixo econômico 
do Mediterrâneo para o Atlântico determinou a decadência italiana e ao mesmo 
tempo impulsionou o desenvolvimento dos demais países, promovendo reflexos na 
produção cultural. 
 
Foto: Miguel de Cervantes, representante do Renascimento espanhol 
 
Outro fator fundamental para a crise do Renascimento italiano foi a Reforma 
Religiosa e principalmente a Contrarreforma. Toda a polêmica que se desenvolveu 
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pelo embate religioso fez com que a religião voltasse a ocupar o principal espaço da 
vida humana; além disso, a Igreja Católica desenvolveu um grande movimento de 
repressão, apoiado na publicação do INDEX e na retomada da Inquisição que 
atingiu todo indivíduo que de alguma forma de opusesse a Igreja. Como o 
movimento protestante não existiu na Itália, a repressão recaiu sobre os intelectuais 
e artistas do renascimento. 
Transição do feudalismo para o capitalismo mercantil (séc. XV). Ascensão da 
burguesia e consolidação dos Estados Nacionais (séc. XVI); hegemonia espanhola 
(sob Carlos V e Felipe II); reinado progressista de Isabel I, na Inglaterra. Grandes 
invenções: bússola, pólvora, papel, gravura, imprensa. Descobrimento de outras 
rotas marítimas e de novos continentes. Apogeu do mercantilismo e implantação do 
sistema colonial. Desenvolvimento das ciências exatas e naturais; formulação do 
heliocentrismo (Copérnico). Reformas religiosas: luteranismo (Alemanha), calvinismo 
(França) e anglicanismo (Inglaterra). Renascimento na Itália e em outros países da 
Europa. 
 
11.1.4 - CARACTERÍSTICA DA FILOSOFIA 
A Filosofia medieval se caracteriza por ser religiosa, dogmática, clerical e 
fundamentada no princípio da autoridade. A Filosofia moderna, por sua vez é 
profana, crítica, leiga e encontra na razão e na ciência seus pressupostos 
fundamentais. O Renascimento é marcado por uma profunda revolução 
antropocêntrica: durante esse período instaura-se uma polêmica contra o 
pensamento medieval (essencialmente teocêntrico), preparando o caminho para o 
pensamento moderno, para o qual a natureza física e o homem tornam-se o tema 
central. Revalorização da Antiguidade clássica (Filosofia greco-romana), buscada 
em suas fontes originais. Propõe-se um novo modelo de homem – considerado um 
microcosmo – e um novo modelo de Estado. Grande interesse pela epistemologia 
(teoria do conhecimento). Galileu propõe o método experimental, assentando as 
bases da ciência moderna. 
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11.1.5 - FILOSOFOS IMPORTANTES 
Pomponazzi. Giordano Bruno. Campanella. Teléssio. Erasmo de Roterdã. 
Bodin. Maquiavel. Thomas Morus. Montaigne. 
 
12 - RACIONALISMO E EMPIRISMO: SÉC. XVII 
12.1 - CONTEXTO HISTÓRICO 
Decadência política da Espanha e predomínio da França: consagração do poder 
absoluto dos reis, com Luís XIII e Richelieu até o apogeu com Luís XIV. Cromwell 
(Inglaterra). Desenvolvimento da literatura francesa: Corneille, Racine, Molière, La 
Fontaine (séc. XVII). Nas artes plásticas, aparecimento do estilo barroco. Fundação 
da física moderna: Kepler, Galileu, Newton, Gassendi e Boyle. 
 
12.2 - CARACTERÍSTICA DA FILOSOFIA 
Formulação dos grandes sistemas filosóficos que traduzem o espírito dos novos 
tempos, agrupados em duas correntes divergentes: o racionalismo, quer privilegia as 
verdades da razão, e o empirismo, que destaca a validade do puramente fáctico, isto 
é, as impressões sensíveis com ponto de partida do conhecimento. Nesse período, a 
física (Newton) e a química (Lavoisier) se separam da filosofia. 
Iluminismo: movimento filosófico, literário e político que visa combater o absolutismo, 
a influência da Igreja e da tradição, considerando a razão como o único meio para se 
atingir completa sabedoria. Dessa forma, as ideias modernas tomam fôlego e se 
expandem: a confiança na razão do século anterior é acompanhada agora por um 
crescente espírito crítico (racionalismo exacerbado – “luzes da razão” contra as 
“Trevas da ignorância”). Sonha-se com um homem universal e ideal que concilie 
natureza e razão, defensor dos direitos humanos e difusor da cultura. A biologia se 
separa da Filosofia. 
 
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12.3 - FILOSOFOS IMPORTANTES 
Racionalismo: Descartes. Pascal. Malebranche. Spinoza. Leibiniz. 
Empirismo: Francis Bacon. Hobbes. Locke. Berkeley. Hume. 
13 - ILUMINISMO: SÉCULO XVIII 
13.1 - CONTEXTO HISTÓRICO 
 
O século XVIII assistiu a uma revolução intelectual de enorme importância na 
História da Humanidade. A ela foi dado o nome de iluminismo ou filosofia das 
Luzes (na Península Ibérica, recebeu o nome de Ilustração). Por essa razão, o 
século XVIII é também conhecido como o Século das Luzes. 
O progresso do pensamento filosófico e dos conhecimentos científicos durante o 
século XVII despertaria, na centúria seguinte, um grande interesse pelos estudos 
sociais, políticos e econômicos. Mas o fator essencial para o surgimento do 
iluminismo foi o descontentamento da burguesia com a estrutura vigente. 
A Inglaterra havia superado o Antigo Regime graças à Revolução Gloriosa de 1688. 
Na Europa Continental, porém, continuava a predominar a estrutura baseada 
no absolutismo por direito divino, no mercantilismo e na sociedade de ordens. Ora, 
em países como a França ou a Alemanha (esta última dividida em inúmeros 
Estados), a mesma burguesia, que antes apoiara o fortalecimento do poder real e a 
intervenção do governo na economia, voltava-se agora contra essas práticas. A 
razão principal para tal mudança de atitude foi a riqueza acumulada pelos 
burgueses, que os fazia almejar uma participação no governo e nas decisões sobre 
política econômica. 
Basicamente, o iluminismo representou as aspirações e interesses da burguesia no 
século XVIII. A filosofia iluminista direcionava-se para objetivos práticos, visando 
reformar as instituições políticas, sociais e econômicas para levar a sociedade 
humana à felicidade. Por isso atacava a intolerância, os privilégios da nobreza e do 
clero e, sobretudo, a falta de liberdade. 
http://www.coladaweb.com/historia/revolucao-gloriosa-oliver-cromwell
http://www.coladaweb.com/historia/absolutismo
http://www.coladaweb.com/historia/mercantilismo
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O iluminismo repercutiu em todo o Mundo Ocidental, inclusive nas Américas. Seu 
centro irradiador foi a França, onde os elementos que embasavam o Antigo Regime 
passaram a sofrer maior contestação. 
13.2 - CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DO ILUMINISMO 
As ideias iluministas caracterizavam-se por
alguns princípios fundamentais, a saber: 
o racionalismo, o naturalismo, o liberalismo, a igualdade perante a lei e o 
anticlericalismo. Examinemo-los. 
O racionalismo consiste na ênfase dada ao uso da razão. Os iluministas rejeitavam 
o pensamento teológico, buscando para tudo uma explicação racional. Não obstan-
te, afirmavam que a razão somente seria utilizada corretamente se fosse iluminada 
(ou esclarecida) pelas luzes do conhecimento. Portanto, uma pessoa ignorante não 
saberia usar a própria razão. Daí a afirmação, recorrente entre os filósofos do 
período, de que o governo seria exercido pela minoria esclarecida (ou seja, pela 
burguesia). 
O naturalismo dos iluministas refletia sua crença na perfeição da Natureza. Esta 
deveria ser imitada pela sociedade humana, dentro da interpretação – feita pelos 
iluministas – do que seria natural. Assim, da mesma forma que os fenômenos da 
Natureza são regidos por leis determinadas, também as relações entre os homens 
deveriam ser reguladas por normas naturais. Encaixa-se nessa linha de pensamento 
a afirmação de que o homem possui direitos naturais, retomando, nos aspectos 
político e social, o antigo conceito romano de Jus Naturale. 
 
O liberalismo é o reconhecimento da liberdade como um direito natural do homem. 
Essa liberdade se exerceria nos níveis político, econômico e intelectual, o que 
levava os iluministas a condenar o absolutismo, o intervencionismo e a intolerância. 
Mas não se tratava de uma liberdade absoluta, sendo limitada pelos valores morais 
e pelo respeito aos direitos dos demais integrantes do corpo social. 
 
A igualdade dos homens perante a lei. Dentro desse raciocínio, a lei não poderia 
privilegiar alguém com base em seu nascimento ou condição social. Todavia, a 
http://www.coladaweb.com/politica/liberalismo
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igualdade defendida pelos iluministas era apenas civil (ou jurídica), não se 
estendendo ao plano econômico; e também não eliminava o menosprezo que a 
burguesia sentia em relação às classes populares. 
 
O anticlericalismo foi também uma característica do iluminismo. Quase todos os 
filósofos do período eram teístas, isto é, acreditavam em um Deus criador do Uni-
verso. Mas voltavam-se contra a Igreja (especialmente a Igreja Católica) por dois 
motivos principais: uma era filosófico (a Igreja colocava a fé acima da razão); o 
outro, político-ideológico (a Igreja apoiava o absolutismo, justificando-o pela teoria 
do direito divino). Havia ainda um argumento de ordem racional: se Deus está 
presente na Natureza, a Igreja torna-se uma instituição dispensável. Para o homem 
cumprir os desígnios divinos, bastaria ter uma vida virtuosa, sem se ater a crenças e 
rituais. 
 
 
 
 
 
Foto: Voltaire (pseudômino de François-Marie Arouet) celebrizou-se por suas contundentes 
críticas à tradição e à religião. 
 
13.3 - FILÓSOFOS ILUMINISTAS IMPORTANTES 
 
13.3.1 - John Locke (1632-1704) é considerado o “Pai do Iluminismo“. Em seus 
dois Tratados sobre o governo civil (1690), posicionou-se frontalmente contra o 
http://www.coladaweb.com/filosofia/john-locke-parte-1
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absolutismo, defendendo a ideia de que o governo deve representar os cidadãos 
(entendidos como os membros das classes dominantes). Foi ele o primeiro pensador 
moderno a afirmar serem os indivíduos possuidores de certos direitos naturais, que 
o Estado tem obrigação de respeitar. 
Os principais filósofos iluministas nasceram na França ou viveram nela. Foram eles 
Voltaire, Montesquieu, Diderot e Rousseau (este último nascido na Suíça). 
 
13.3.2 - Voltaire (1694-1778) foi o mais destacado representante do iluminismo, 
graças a seus dotes literários, que lhe granjearam grande prestígio entre os leitores. 
Escreveu numerosas peças teatrais, romances, contos e poemas, e em muitos deles 
veiculou suas ideias. Em 1734, publicou as Cartas Inglesas ou Filosóficas, nas quais 
elogiava as liberdades vigentes na Inglaterra e atacava o absolutismo e a 
intolerância. Obrigado a deixar a França, nunca mais voltou, vindo a falecer na 
Suíça. Voltaire foi um feroz adversário da Igreja, sobretudo dos jesuítas. Até sua 
morte, exerceu extraordinária influência, inclusive sobre os setores intelectualizados 
da aristocracia europeia. Sua obra mais importante é o Dicionário Filosófico (1764). 
 
13.3.3 - Diderot (1713-1784), juntamente com o matemático d’Alembert (1717-
1783), dirigiu a elaboração da Enciclopédia, obra em 35 volumes, publicados entre 
1751 e 1772. Esse trabalho monumental, que contou com cerca de 150 
colaboradores, procurou abarcar todos os conhecimentos da época e, ao mesmo 
tempo, difundir as concepções iluministas. O governo francês chegou a proibir sua 
divulgação em duas ocasiões, mas em vão. 
http://www.coladaweb.com/biografias/montesquieu
http://www.coladaweb.com/historia/jesuitas
http://www.coladaweb.com/biografias/montesquieu
http://www.coladaweb.com/biografias/montesquieu
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Montesquieu, um dos mais brilhantes filósofos do século XVIII. 
 
13.3.4 - Montesquieu (1689-1755) publicou em 1748 sua obra maior: O espírito das 
leis. Nela, estudou as diversas formas de governo, destacando a monarquia 
parlamentar inglesa. Sua grande contribuição para as ideias políticas foi a teoria da 
tripartição de poderes, segundo a qual o governo deve ser dividido em Executivo, 
Legislativo e Judiciário. O equilíbrio entre os poderes impediria a tirania e garantiria 
os direitos e liberdades dos cidadãos. 
 
13.3.5 - Rousseau (1712-1778) constitui um caso à parte dentro do iluminismo. 
Concordava com os pensadores do período na defesa da liberdade e na valorização 
da Natureza. Mas, ao contrário dos outros, que eram monarquistas liberais, foi um 
partidário ardoroso da democracia. Em seu livro O contrato social, afirmava ser o 
Estado o representante da vontade geral, isto é, da maioria dos cidadãos 
(entendidos como o conjunto da sociedade, ou seja, o povo). Portanto, o poder 
político repousaria sobre o povo, que, em última análise, seria a autoridade suprema 
(esse raciocínio teria grande influência na fase popular da Revolução Francesa). 
Contrariando o racionalismo dos demais iluministas, Rousseau defendia o 
predomínio dos sentimentos, afirmando que o homem no estado da Natureza é bom 
http://www.coladaweb.com/biografias/montesquieu
http://www.coladaweb.com/resumos/o-espirito-das-leis-montesquieu
http://www.coladaweb.com/resumos/o-espirito-das-leis-montesquieu
http://www.coladaweb.com/biografias/montesquieu
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(“A sociedade o corrompe”); essas ideias colocam-no como precursor do 
romantismo. 
Dois outros livros de Rousseau são também importantes: Emílio, no qual propôs 
uma nova pedagogia, baseada na liberdade do educando, e Discurso sobre a 
origem da desigualdade, que antecipou os socialistas na crítica à propriedade 
privada. 
13.4 - OS ECONOMISTAS 
Os pensadores iluministas abordaram sobretudo questões filosóficas ou problemas 
políticos e sociais. Mas uma parcela deles concentrou-se nos estudos econômicos, 
ficando por isso conhecida pela designação de os economistas. Estes combatiam 
o mercantilismo, que vinha a ser a vertente econômica do Antigo Regime, e 
defendiam a liberdade econômica (em francês: laissez-faire / “deixai fazer”). 
Consideravam a regulamentação exagerada, as tarifas alfandegárias e o excesso de 
impostos como entraves ao progresso. Para eles, o Estado não deveria intervir na 
economia, a não ser para garantir a propriedade privada e o livre curso das 
atividades produtivas. Criticavam igualmente o metalismo mercantilista, mas 
dividiam-se a respeito do que deveria substituir o ouro como base da riqueza 
nacional. 
Os franceses Quesnay, Gournay e Turgot afirmavam que a principal atividade 
produtiva é a agricultura, cabendo à indústria e ao comércio um papel secundário. 
Segundo eles, a riqueza de cada país dependeria de sua maior
ou menor 
disponibilidade de recursos naturais. Essa posição valeu-lhes a denominação 
de fisiocratas (partidários do governo da Natureza). 
 
O escocês Adam Smith (1723-1790) concordava com as críticas dos fisiocratas ao 
mercantilismo e defendia a liberdade econômica. Entretanto, por ter vivenciado a 
Revolução Industrial na Inglaterra, divergia dos demais economistas sobre qual seria 
a base da riqueza, em substituição à teoria metalista. Enquanto os fisiocratas valori-
zavam os recursos naturais, Adam Smith sustentava que o trabalho (entendido como 
http://www.coladaweb.com/historia/mercantilismo
http://www.coladaweb.com/historia/metalismo
http://www.coladaweb.com/economia/adam-smith-o-formulador-da-teoria-economica
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atividade técnica) era a verdadeira fonte da prosperidade. Suas ideias estão 
expostas em uma obra essencial, intitulada A riqueza das nações (1765). 
A economia deveria, pois, fluir livremente e produzir riqueza, guiada apenas por 
aquilo que Adam Smith chamava de “a mão invisível”, isto é, a relação natural exis-
tente entre as forças econômicas. Essa formulação teórica propiciou, ao economista 
escocês, o título de “Pai do Liberalismo Econômico”. 
O Antigo Regime, caracterizado pelo absolutismo, acede a um novo tipo de governo: 
despotismo esclarecido ou ilustrado – “tudo para o povo, mas sem o povo”. 
Principais representantes: Maria Tereza e José I (Áustria), Carlos III (Espanha), 
Frederico II (Prússia), Catarina II (Rússia), Pombal (Portugal). Na França, Luís XVI, 
derrotado durante a Revolução Francesa (1789). Liberalismo e revoluções 
burguesas. Revolução Industrial na Inglaterra em 1760 (máquina a vapor). 
Independência dos Estados Unidos (1776). Inconfidência Mineira (1789). Golpe do 
18 Brunário e ascensão de Napoleão Bonaparte (1799). Consolidação do 
capitalismo industrial e liberal e formação do proletariado. Artes plásticas: barroco, 
rococó; literatura: início do romantismo. 
14 - KANT E A ÉTICA NORMATIVA 
 
 
 
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É a investigação racional, ou uma teoria, sobre os padrões do correto e incorreto, do 
bom e do mau, com respeito ao carácter e à conduta, que uma classe de indivíduos 
tem o dever de aceitar. Essa classe pode ser a humanidade em geral, mas podemos 
também considerar que a ética médica, a ética empresarial, etc., são corpos de 
padrões que os profissionais em questão devem aceitar e observar. 
Esse tipo de investigação e a teoria que daí resulta (a ética kantiana e a utilitarista 
são exemplos amplamente conhecidos) não descrevem o modo como as pessoas 
pensam ou se comportam; antes prescrevem o modo como as pessoas devem 
pensar e comportar-se. Por isso se chama "ética normativa": o seu objetivo principal 
é formular normas válidas de conduta e de avaliação do caráter. O estudo sobre que 
normas e padrões gerais são de aplicar em situações-problema efetivos chama-se 
também "ética aplicada". Recentemente, a expressão "teoria ética" é muitas vezes 
usada neste sentido. Muito do que se chama filosofia moral é ética normativa ou 
aplicada. 
14.1 - O CONCEITO DE “ESCLARECIMENTO” SEGUNDO KANT 
 Immanuel Kant escreve um artigo tentando responder a pergunta “O que 
é esclarecimento?” Segundo Kant, esclarecimento é a saída do homem de sua 
menoridade. Menoridade esta que é a incapacidade de fazer uso de seu 
entendimento sem a direção de outro indivíduo. E o culpado dessa menoridade é o 
próprio indivíduo. 
O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra 
na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si 
mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu 
próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento (KANT, 2005. p. 63-64). 
 Kant afirma que todo individuo vive uma situação de menoridade em algum 
momento ou fase de sua vida, isso pode acontecer tanto por comodismo como por 
oportunismo, medo ou preguiça. Mas o que não pode acontecer é o indivíduo 
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permanecer na menoridade a vida toda, renunciando esse processo a si e aos 
outros. 
Neste caso, a menoridade é natural, pois se confunde com imaturidade, já que 
nenhuma pessoa nasce pronta. No entanto, Kant questiona aquelas autoridades 
(principalmente religiosas) que, através do medo ou do constrangimento, mantêm 
seus sujeitos em menoridade quando já teriam condições intelectuais de não sê-lo, e 
ironiza aqueles sujeitos que vivem uma situação de menoridade auto-imposta. 
 A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos 
homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha, 
continuem, no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as 
causas que explicam porque é tão fácil que os outros se constituam em tutores 
deles. É tão cômodo ser menor. [...] Não tenho necessidade de pensar, quando 
posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios 
desagradáveis (KANT, 2005. p. 64). 
 Pode-se até pensar: “É cômodo ser menor!”. Alguns instrumentos servem de 
condição para uma perpétua menoridade. Um livro que possa pensar pelo indivíduo 
ou um pastor que age como se fosse a consciência do mesmo são exemplos de 
como se pode continuar sendo “menor” e deixando de pensar por si próprio. 
Para haver esclarecimento deve se ter liberdade, mas a limitação da mesma está por 
toda parte. Em várias situações se pode questionar, mas não se pode desobedecer, 
um grande exemplo disso é o pagamento do imposto: pode-se questionar este 
pagamento, mas não se deve deixar de pagá-lo, pois acarretaria diversas 
consequências. 
 
Para este esclarecimento, porém, nada mais se exige senão liberdade. E a mais inofensiva 
entre tudo aquilo que se possa chamar liberdade, a saber: a de fazer um uso público de 
sua razão em todas as questões. Ouço, agora, porém, exclamar de todos os 
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lados: não raciocineis! O oficial diz: não raciocineis, mas exercitai-vos! O financista 
diz: não raciocineis, mas pagai! O sacerdote proclama: não raciocineis, mas crede. 
Eis aqui, por toda a parte a limitação da liberdade (KANT, 2005. p. 65). 
 
Portanto, ser esclarecido é, antes de tudo, um compromisso moral com o 
aperfeiçoamento e bem-estar da sociedade, respeitando as hierarquias sociais 
existentes. No entanto, por medo, comodismo, oportunismo ou preguiça, poucos se 
tornam efetivamente esclarecidos, embora tenham condições intelectuais para tanto 
quando estão em uso privado da razão. 
Ter esclarecimento não é apenas adquirir um profundo conhecimento sobre um 
assunto, mas combinar isso com a conquista da autonomia, passo moral 
fundamental apenas dado por uma minoria. Nesse sentido, todos potencialmente 
podem esclarecer-se, já que possuem capacidade de pensar. 
Kant se fez a seguinte pergunta: “vivemos numa época esclarecida?” A resposta é 
direta e concreta: 
[...] “Não, vivemos em uma época de esclarecimento”. Falta ainda 
muito para que os homens, nas condições atuais, tomados em 
conjunto, estejam já numa situação, ou possam ser colocados nela, na 
qual em matéria religiosa sejam capazes de fazer uso seguro e bom 
de seu próprio entendimento sem serem dirigidos por outrem. 
Somente temos claros indícios de que agora lhes foi aberto o campo 
no qual podem lançar-se livremente a trabalhar e tornarem 
progressivamente menores os obstáculos ao esclarecimento geral ou 
à saída deles, homens, de sua menoridade, da qual são culpados. 
Considerada sob este aspecto, esta época é a época 
do esclarecimento [...] (KANT, 2005. p 70). 
 
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É claro que Kant responde a esta interrogação ainda no século XIX, mas se 
estivesse neste século com toda certeza responderia da mesma maneira. É notável 
que muitos já consigam fazer esse processo, mas ainda é difícil para a maioria 
deixar a menoridade e pensar por si próprio, como era o desejo

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