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Trabalho de Civil III - Supremacia da Ordem Pública


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O Princípio da Supremacia da Ordem Pública 
 Elaboração
 Luana Aparecida Marani – RA: 211403
Micael Marlon Moreira da Silva – RA: 211731
 Junio Aquino – RA: 210330
 Orientação: João F. A. Barretto. 
Araçatuba
2020
SUMÁRIO
1. Introdução à temática.........................................................................................................3
2. Evolução Histórica............................................................................................................4
3. Dos Princípios fundamentais ............................................................................................6
4. Da Supremacia da Ordem Pública.....................................................................................8
5. Posicionamento de Carlos Roberto Gonçalves .................................................................9
5.1 As cláusulas gerais implementadas no Código Civil de 2002........................................... 
6. Posicionamento de Arnaldo Rizzardo...............................................................................
7. Posicionamento de Maria Helena Diniz e Ricardo Soares Stersi......................................
8. Posicionamento de Silvio Rodrigues.................................................................................
9. Relação entre o Princípio da Supremacia da Ordem Pública com o Princípio da Função Social do Contrato...........................................................................................................
10. Decisão 01 (Acórdão)......................................................................................................
11. Decisão 02 (Acórdão)......................................................................................................
12. Decisão 03 (Acórdão)......................................................................................................
13. Conclusão........................................................................................................................
14. Referencial Bibliográfico................................................................................................
1. INTRODUÇÃO À TEMÁTICA
O contrato é a mais comum e a mais importante fonte de obrigação, devido às suas múltiplas formas e inúmeras repercussões no mundo jurídico. Fonte de obrigação é o fato que lhe dá origem. Os fatos humanos que o Código Civil Brasileiro considera geradores de obrigação são: 
a) Os contratos; 
b) As declarações unilaterais da vontade; e 
c) Os atos ilícitos, dolosos e culposos. 
Como é a lei que dá eficácia a esses fatos, transformando-os em fontes diretas ou imediatas, aquela constitui fonte mediata ou primária das obrigações. É a lei que disciplina o efeito dos contratos, que obriga o declarante a pagar a recompensa prometida e que impõe ao autor do ato ilícito o dever de ressarcir o prejuízo causado. 
O contrato é uma espécie de negócio jurídico que depende, para a sua formação, da participação de pelo menos duas partes. É, portanto, negócio jurídico bilateral ou plurilateral. 
· Contratos unilaterais: aperfeiçoam-se pela manifestação de vontade de apenas uma das partes.
· Contratos bilaterais: resultam de uma composição de interesses. Decorrem de mútuo consenso.
Segundo leciona CAIO MÁRIO
, o fundamento ético do contrato é a vontade humana, desde que atue na conformidade da ordem jurídica. Seu habitat é a ordem legal. Seu efeito, a criação de direitos e de obrigações. O contrato é, pois, “um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos”. Desde BEVILÁQUA
 o contrato é comumente conceituado de forma sucinta, como o “acordo de vontades para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos”.
Sempre, pois, que o negócio jurídico resultar de um mútuo consenso, de um encontro de duas vontades, estaremos diante de um contrato. Essa constatação conduz à ilação de que o contrato não se restringe ao direito das obrigações, estendendo-se a outros ramos do direito privado (EX: o casamento, que é considerado um contrato especial, um contrato do direito de família) e também ao direito público (EX: contratos celebrados pela Administração Pública, com características ínsitas). Em sentido estrito, todavia, o conceito de contrato restringe-se aos pactos que criem, modifiquem ou extingam relações patrimoniais, como consta expressamente do art. 1321 do CC italiano. 
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
O direito romano distinguia contrato de convenção. Esta representava o gênero, do qual o contrato e o pacto eram espécies. 
O Código Napoleão foi a primeira grande codificação moderna. A exemplo do direito romano, considerava a convenção o gênero, do qual o contrato era uma espécie (art. 1.101). Idealizado sob o calor da Revolução de 1789, o referido diploma disciplinou o contrato como mero instrumento para a aquisição da propriedade. O acordo de vontades representava, em realidade, uma garantia para os burgueses e para as classes proprietárias. 
A transferência de bens passava a ser dependente exclusivamente da vontade. O Código Civil Alemão, promulgado muito tempo depois, considera o contrato uma espécie de negócio jurídico, que por si só não transfere a propriedade, como sucede igualmente no atual Código Civil brasileiro. Hoje, as expressões convenção, contrato e pacto são empregadas como sinônimas, malgrado a praxe de se designar os contratos acessórios de pactos (pacto comissório, pacto antenupcial etc.). 
A propósito, afirma ROBERTO DE RUGGIERO que tudo se modificou no direito moderno, pois qualquer acordo entre duas ou mais pessoas, que tenha por objeto uma relação jurídica, pode ser indiferentemente chamado de contrato ou convenção e às vezes pacto, visto este termo ter perdido aquele significado técnico e rigoroso que lhe atribuía a linguagem jurídica romana. 
E arremata o mencionado jurista italiano: “Assim a convenção, isto é, o acordo das vontades, torna-se sinônimo de contrato e o próprio contrato identifica-se assim com o consenso.”. 
A ideia de um contrato com predominância da autonomia da vontade, em que as partes discutem livremente as suas condições em situação de igualdade, deve-se aos conceitos traçados para o contrato nos Códigos francês e alemão. Entretanto, essa espécie de contrato, essencialmente privado e paritário, representa hodiernamente uma pequena parcela do mundo negocial. 
Os contratos em geral são celebrados com a pessoa jurídica, com a empresa, com os grandes capitalistas e com o Estado. 
O Estado intervém, constantemente, na relação contratual privada, para assegurar a supremacia da ordem pública, relegando o individualismo a um plano secundário. Essa situação tem sugerido a existência de um dirigismo contratual, em certos setores que interessam a toda a coletividade. Pode-se afirmar que a força obrigatória dos contratos não se afere mais sob a ótica do dever moral de manutenção da palavra empenhada, mas da realização do bem comum. 
No direito civil, o contrato está presente não só no direito das obrigações como também no direito de empresa, no direito das coisas (transcrição, usufruto, servidão, hipoteca etc.), no direito de família (casamento) e no direito das sucessões (partilha em vida). Trata-se de figura jurídica que ultrapassa o âmbito do direito civil, sendo expressivo o número de contratos de direito público hoje celebrado. O contrato tem uma função social, sendo veículo de circulação da riqueza, centro da vida dos negócios e propulsor da expansão capitalista. 
3. DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Antes de qualquer constatação, é de suma importância atribuir o conceito de princípio: 
Os princípios são as premissas éticas que inspiram a elaboração das normas jurídicas. São mais doque normas, pois sua função primordial é servir como critério de interpretação destas, devendo ser observados pelo legislador, quando elabora as leis; pelos juízes, quando as aplica; e pelo cidadão, quando realiza o negócio jurídico.
O direito contratual rege-se por diversos princípios, alguns tradicionais e outros modernos. Os mais importantes são os: da autonomia da vontade, da supremacia da ordem pública, do consensualismo, da relatividade dos efeitos, da obrigatoriedade, da revisão ou onerosidade excessiva e da boa-fé. 
Conforme disciplina a teoria geral dos contratos no ordenamento jurídico brasileiro, os contratos são enquadrados na categoria de negócio jurídico, podendo serem divididos em negócios jurídicos unilaterais ou bilaterais, conforme definido por RAMOS: 
 “... os negócios jurídicos se subdividem em negócios jurídicos unilaterais, que se formam a partir da declaração de vontade de uma única pessoa, e negócios jurídicos bilaterais, que se formam a partir das declarações coincidentes de vontade de mais de um indivíduo...” (2014, p.481)
Destarte, o chamado dirigismo contratual consiste na intervenção do Estado no conteúdo dos contratos para evitar o desequilíbrio entre as partes e o abuso do poder econômico. Essa intervenção se dá por meio da edição de leis de ordem pública, editadas pela União, pois os Estados-membros não podem legislar sobre contratos (art. 22, I da CF).
 Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I -  direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...)
O princípio da Função Social do Contrato frisa o da princípio da Supremacia da Ordem Pública. O contrato, mais que revelar os interesses particulares dos contratantes, deve atender a uma função social, isto é, deve guardar pertinência com os direitos fundamentais.
4. DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA
Não pode-se deixar de observar que os interesses da coletividade, entendendo assim a sociedade como um todo, o interesse público, devem se sobressaltar aos interesses individuais, portanto, um dos princípios contratuais é o da supremacia da ordem pública, seja pela observância das leis, seja na moral e nos bons costumes.
Washington de Barros Monteiro diz que:
“O natural limite, que fixa o campo da atividade individual é estabelecido pelo segundo princípio, da supremacia da ordem pública, que proíbe estipulações contrárias à moral, à ordem pública e aos bons costumes, que não podem ser derrogadas pelas partes. (MONTEIRO, 2013, p. 24)”
Do mesmo modo, Gonçalves:
“O princípio da autonomia da vontade não é absoluto. É limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública que resultou da constatação, feita no início do século passado e em face da crescente industrialização, de que a ampla liberdade de contratar provocava desequilíbrios e a exploração do economicamente mais fraco. Compreendeu-se que, se a ordem jurídica prometia a igualdade política, não estava assegurando a igualdade econômica. Em alguns setores fazia-se mister a intervenção do Estado, para reestabelecer e assegurar a igualdade dos contratantes. (GONÇALVES, 2012, p. 44)”
Caberá ao juiz a cada caso concreto a observar se a ordem pública, qualquer que ela seja, está sendo violada, para com isso, aplicar o princípio da supremacia da ordem pública.
 O próprio princípio da função social do contrato já tem estrita ligação com a ordem pública, porém, é mais amplo, ao considerar que o contrato deve além de não violar a ordem pública, cumprir uma função na sociedade.
5. POSICIONAMENTO DE CARLOS ROBERTO GONÇALVES
A liberdade contratual encontrou sempre limitação na ideia de ordem pública, entendendo-se que o interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o interesse individual. O princípio da autonomia da vontade não é absoluto. É limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública, que resultou da constatação, feita no início do século passado e em face da crescente industrialização, de que a ampla liberdade de contratar provocava desequilíbrios e a exploração do economicamente mais fraco. 
Compreendeu-se que, se a ordem jurídica prometia a igualdade política, não estava assegurando a igualdade econômica. Em alguns setores fazia-se mister a intervenção do Estado, para restabelecer e assegurar a igualdade dos contratantes. Surgiram os movimentos em prol dos direitos sociais e a defesa destes nas encíclicas papais. 
Começaram, então, a ser editadas leis destinadas a garantir, em setores de vital importância, a supremacia da ordem pública, da moral e dos bons costumes, podendo ser lembradas, entre nós, as diversas leis do inquilinato, a Lei da Usura, a Lei da Economia Popular, o Código de Defesa do Consumidor e outros. A intervenção do Estado na vida contratual é, hoje, tão intensa em determinados campos (telecomunicações, consórcios, seguros, sistema financeiro etc.) que se configura um verdadeiro dirigismo contratual. A noção de ordem pública, todavia, é muito fugidia, não se amoldando a qualquer classificação feita a priori. O mesmo sucede com a de bons costumes. 
Dispõe o art. 6º do Código Civil francês: “Não se pode derrogar, por convenções particulares, as leis que interessam à ordem pública”. O atual Código Civil brasileiro, por sua vez, proclama, no parágrafo único do art. 2.035: “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”. 
A ordem pública é também uma cláusula geral, que está no nosso ordenamento por meio do art. 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, regra de direito internacional privado que retira eficácia de qualquer declaração de vontade ofensiva da ordem pública. O atual Código dispõe sobre as relações internas, para as quais também passa a vigorar, expressamente, o princípio de ordem pública. Seu conceito corresponde ao da ordem considerada indispensável à organização estatal, constituindo-se no estado de coisas sem o qual não existiria a sociedade, assim como normatizada pelo sistema jurídico
. 
A doutrina considera de ordem pública, dentre outras, as normas que instituem a organização da família (casamento, filiação, adoção, alimentos); as que estabelecem a ordem de vocação hereditária e a sucessão testamentária; as que pautam a organização política e administrativa do Estado, bem como as bases mínimas da organização econômica; os preceitos fundamentais do direito do trabalho; enfim, “as regras que o legislador erige em cânones basilares da estrutura social, política e econômica da Nação. Não admitindo derrogação, compõem leis que proíbem ou ordenam cerceando nos seus limites a liberdade de todos”
. 
Os direitos também devem ser exercidos no limite ordenado pelos bons costumes, conceito que decorre da observância das normas de convivência, segundo um padrão de conduta social estabelecido pelos sentimentos morais da época. Serve para definir o comportamento das pessoas. Pode-se dizer que bons costumes são aqueles que se cultivam como condições de moralidade social, matéria sujeita a variações de época a época, de país a país, e até dentro de um mesmo país e mesma época.
5.1 AS CLÁUSULAS GERAIS IMPLEMENTADAS NO CÓDIGO CIVIL DE 2002
Observa-se que as principais mudanças no âmbito dos contratos, no novo diploma, foram implementadas por cláusulas gerais, em paralelo às normas marcadas pela estrita casuística. 
Cláusulas gerais são normas orientadoras sob forma de diretrizes, dirigidas precipuamente ao juiz, vinculando-o, ao mesmo tempo em que lhe dão liberdade para decidir. São elas formulações contidas na lei, de caráter significativamente genérico e abstrato, cujos valores devem ser preenchidos pelo juiz, autorizado para assim agir em decorrência da formulação legal da própria cláusula geral. Quando se insere determinado princípio geral (regra de conduta que não consta do sistema normativo, mas se encontra na consciênciados povos e é seguida universalmente) no direito positivo do país (Constituição, leis etc.), deixa de ser princípio geral, ou seja, deixa de ser regra de interpretação e passa a caracterizar-se como cláusula geral.
São normas com diretrizes indeterminadas, que não trazem expressamente uma solução jurídica (consequência). A norma é inteiramente aberta. Uma cláusula geral, noutras palavras, é um texto normativo que não estabelece "a priori" o significado do termo (pressuposto), tampouco as consequências jurídicas da norma (consequente). Sua ideia, de acordo com Fredie Didier Jr., é "estabelecer uma pauta de valores a ser preenchida historicamente de acordo com as contingências históricas".
6. POSICIONAMENTO DE ARNALDO RIZZARDO
Embora a regra mais importante seja a autonomia da vontade, há restrições impostas por leis de interesse social, impedindo as estipulações contrárias à moral, à ordem pública e aos bons costumes, as quais não ficam subjugadas à vontade das partes. Neste sentido, leis e dispositivos especiais disciplinam o limite na fixação da taxa de juros, que não podem ultrapassar a doze por cento ao ano, ou à taxa estabelecida para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional, conforme consta do Decreto nº 22.626, de 07.04.1933, art. 1º, e do Código Civil, art. 406. A Lei nº 8.245, de 18.10.1991, subordina o reajuste do valor das locações residenciais aos índices previstos na legislação especial (art. 17, parágrafo único). No caso, tem incidência a Lei nº 9.069, de 29.06.1995, cujo art. 27 reza: “A correção, em virtude de disposição legal ou estipulação de negócio jurídico, de expressão monetária de obrigação pecuniária contraída a partir de 1º de julho de 1994, inclusive, somente poderá dar-se pela variação acumulada do Índice de Preços ao Consumidor, série – IPC-r
”. Não se admite o reajuste em período inferior a um ano, como estabelece peremptoriamente o § 1º do art. 28, da mesma lei: “É nula de pleno direito e não surtirá nenhum efeito cláusula de correção monetária cuja periodicidade seja inferior a um ano”. Outrossim, abre o art. 27, no § 1º, algumas exceções, permitindo a atualização de forma diferente, como nas operações e contratos de que tratam o Decreto-lei nº 857, de 11.09.1969, e a Lei nº 8.880, de 27.05.1994, e que dizem respeito aos empréstimos contraídos no exterior, ou cessão de importâncias decorrentes de tais empréstimos, e aos contratos de arrendamento mercantil (leasing), também com financiamentos provindos do exterior; aos contratos pelos quais a empresa se obrigue a vender bens para entrega futura, prestar ou oferecer serviços a serem produzidos, cujo preço poderá ser reajustado em função do custo de produção ou da variação de índice que reflita a variação ponderada dos custos dos insumos utilizados; e às hipóteses tratadas em lei especial.
Quanto à cláusula penal cominada para obrigar o cumprimento dos contratos, insere o art. 412 do Código Civil (art. 920 do Código revogado) igualmente um limite: não excederá o valor da obrigação principal. Como se vê, coloca-se um freio à liberdade de contratar.
 Válida a lição de Pedro Arruda França: 
“O interesse público, preponderando sobre o particular, é um obstáculo à liberdade das convenções. Leis hodiernas, invocando tal interesse e derreando a liberdade de contratar, interferem na vontade das partes no contrato de compra e venda quanto ao preço quando o tabelam nas vendas de gêneros de primeira necessidade em feiras e mercados ou em casas comerciais; na determinação de taxa máxima de juros e pena convencional a serem cobradas pelos bancos e entidades financeiras ao tomador do empréstimo ou financiado; na obrigatoriedade da renovação dos contratos de locação comercial de imóveis (sob a égide do Decreto nº 24.150/1934), seja industrial ou de estabelecimentos mercantis, desde que atendidas as exigências legais pela locatária”.
7. POSICIONAMENTO DE MARIA HELENA DINIZ E RICARDO SOARES STERSI
Nos dizeres de Maria Helena Diniz, 
“o Estado intervém no contrato, não só mediante a aplicação de normas de ordem pública, mas também com a adoção de revisão judicial dos contratos, alterando-os, estabelecendo-lhes condições de execução, ou mesmo exonerando a parte lesada, conforme as circunstâncias, fundando-se em princípios de boa-fé e de supremacia do interesse coletivo, no amparo do fraco contra o forte, hipótese e que a vontade estatal substitui a vontade dos contratantes, valendo a sentença como se fosse declaração volitiva do interessado”.
Para Santos (1999, p. 392)
 a ordem pública: [...] reflete os interesses jurídicos e morais fundamentais que o Estado decide preservar, em determinado momento, razão pela qual as normas jurídicas que a implementam revestem-se do caráter de imperatividade absoluta, ou seja, não podem as partes afastar a sua aplicação.
O contrato não é mais visto apenas no sentido individualista de utilidade para os contratantes, mas sim é visto agora pelo prisma social de utilidade para a coletividade. Isso realça o conteúdo social do novo Código. O atual Código Civil, além do já disposto no artigo 17 da Lei de Introdução, traz essa ideia no parágrafo único do artigo 2.035, vejamos:
Institui o Código Civil.
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.
DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010).
Art. 17.  As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
8. POSICIONAMENTO DE SILVIO RODRIGUES
A priori, antes de adentrarmos nos nuances que perpassam este instigante tema, resta fundamental a análise acerca do conceito da terminologia “ordem pública”. Ordem Pública pode ser definida como a situação e o estado de legalidade normal, em que as autoridades exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam e acatam.
Preleciona, no entanto, Silvio Rodrigues
 que, “a ideia de ordem pública é constituída por aquele conjunto de interesse jurídicos e morais que incumbe à sociedade preservar. Por conseguinte, os princípios de ordem pública não podem ser alterados por convenção entre os particulares”.
Posto isso, denota-se que o princípio da supremacia da ordem pública tem origem no início do século passado, porquanto em virtude da crescente industrialização na qual se observava a ampla liberdade de contratar, resultaram em grandes desequilíbrios contratuais, prevalecendo a exploração do economicamente mais fraco.
Dessa forma, esse princípio nasce em prol da utilidade social, vedando abusos na formação e modificação dos pactos, entendendo-se que o interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o interesse individual.
Em outras palavras, pode-se afirmar que a autonomia da vontade é relativa, sujeita à lei e aos princípios da moral e da ordem pública, limitando, por consequência, a liberdade de contratar, vedando as convenções contrárias às normas cogentes e aos bons costumes.
A noção de ordem pública não é de fácil definição. Trata-se, na lição de JULLIOT DE LA MORANDIÈRE
, de um desses conceitos de que a doutrina se serve a cada instante no direito privado, mas cuja análise não ousa aprofundar, com receio da incerteza a que seria conduzida. 
Por sua vez, temos que as normas cogentes ou coativas são as que não podem ser modificadas pela vontade das partes. Podem ser: 
I. Imperativas: são as normas que ordenam algum ato. Tal ocorre, por exemplo, coma lei que obriga o comerciante a vender mercadoria a quem quiser comprá-la; ou 
II. Proibitivas: são as normas que vedam algum ato. Tal ocorre, por exemplo, com a lei que proíbe o anatocismo (juros compostos).
Destarte e, por todo o conteúdo retro exposto, tem-se que há uma limitação no tocante ao conteúdo dos contratos, ao passo que este sofre limitações de determinadas disposições tidas por cláusulas gerais que tratam da função social do contrato, da boa-fé objetiva e, principalmente pelas exigências de supremacia da ordem pública que veda convenções que lhe sejam contrárias, pelos bons costumes e do Código de Defesa do Consumidor.
Logo, o contrato cumpre uma função social quando, respeitando a dignidade do contratante, não viola o interesse da coletividade, à qual não interessam nem a ilicitude do objeto nem a ociosidade das riquezas.
9. RELAÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA COM O PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
A liberdade contratual tem base legal no artigo 421 do Código Civil de 2002, dispondo que “A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato”. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
No contexto social em que tal codificação está inserida, é claro o fato de que autonomia privada para realizar tratativas contratuais encontra restrições em regras cogentes, devendo observar os demais princípios que regem o diploma normativo civilista também a Constituição sobre a qual se subordina. Um dos princípios que devem os sujeitos da relação contratual atentar-se é o da função social, por decorrência da sociabilidade presente nas leis atuais, fazendo com que a concepção social prevaleça sobre interesses puramente particulares, caracterizando o princípio da supremacia da ordem pública. Este último, relacionado com a função social, limita a autonomia da vontade, dando prevalência ao interesse público.
Em stricto sensu, é mister ressaltar que o princípio da função social do contrato possui tênue subordinação com o princípio da supremacia da ordem pública. O primeiro aborda a temática contratual com as suas especificidades particulares casuisticamente, tendo por escopo promover a realização de uma justiça comutativa, aplainando as desigualdades substanciais entre os contratantes
; Destarte, a supremacia da ordem pública é inerente à ordem geral, como um todo, estabelecendo seus requisitos à erga omnes, não apenas à parcela relativa da população que pode ser afetada pelo contrato (função social). O Estado é responsável pela organização e pelo controle social, pois detém, segundo Max Weber, o monopólio da violência legítima (coerção, especialmente a legal).
Outrossim, um princípio subsume o outro, sendo que a função social do contrato é parte, categoricamente, da supremacia da ordem pública. Tal observação ganha destaque pela análise do exposto; a Ordem Pública garante segurança aos contratos celebrados, uma vez que a liberdade conferida às partes não é irrestrita. Extrapolados os limites legais ou contrariado o interesse público, as normas de ordem pública prevalecem sobre as convenções particulares.
10. DECISÃO 01. 
30/08/2016, 08:30.
Rejeitado recurso de empresas contrárias a adaptar ônibus para deficiente
A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou novo recurso de concessionárias do serviço de transporte público no município do Rio de Janeiro contra sentença que havia obrigado as empresas a adaptarem os ônibus. Além delas, a prefeitura da cidade carioca também tinha recorrido novamente.
A sentença é fruto de uma ação civil pública promovida pelo Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD). A entidade alegou que as empresas e o município não cumprem a legislação no sentido de tornar todos os ônibus acessíveis aos deficientes, incluindo nos veículos assentos especiais.
Tanto a prefeitura quanto as empresas questionam a sentença, que determina adaptação imediata da frota, bem como multa diária por descumprimento. As concessionárias do serviço alegam a inviabilidade do cumprimento imediato.
A prefeitura do Rio de Janeiro alegou que há um cronograma previsto na licitação, com adaptação gradual. Para o Poder Público, a sentença prevê pena em caso de não cumprir o dever de fiscalizar o cumprimento da ordem judicial, com pena de multa em caso de omissão.
Obrigação
Para o ministro relator do recurso, Humberto Martins, não há nenhuma ilegalidade que permita a modificação do acórdão (decisão de colegiado) que ratificou a condenação das empresas e da prefeitura. O ministro destacou a legislação federal a respeito do assunto (Lei 8.987/95) e afirmou que as empresas estão cientes da responsabilidade decorrente da prestação do serviço.
“As concessionárias de transporte público são responsáveis, operacional, contratual e legalmente, pela adequada manutenção do serviço público que lhe foi concedido, não devendo se furtar à obrigação assumida quando celebrou o contrato de concessão com o Poder Público”, frisou o ministro.
O magistrado refutou os argumentos de que a sentença contém uma usurpação de poder, já que não caberia ao Judiciário determinar tal adaptação, já que a pactuação com o município prevê outras regras.
“O Poder Judiciário poderá determinar, em caráter excepcional, a implementação de políticas públicas de interesse social – principalmente nos casos que visem a resguardar a supremacia da dignidade da pessoa humana –, sem que isso configure invasão da discricionariedade dos demais Poderes ou afronta à reserva do possível”, explicou Humberto Martins.
Vulnerabilidade
Outro ponto destacado no voto é que a discussão não é apenas sobre a relação contratual do município com as empresas. Para além da pactuação, há uma relação comercial entre as empresas e os usuários do serviço. Essa relação, segundo Humberto Martins, é protegida pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).
“Também cabe ao Judiciário zelar pelo cumprimento dos contratos de consumo celebrados entre a concessionária (à qual a administração delegou a prestação do serviço público) e os consumidores individuais e/ou plurais, cuja vulnerabilidade ou hipervulnerabilidade se presume”, argumentou o ministro, afastando alegações de invasão de competência do Judiciário na matéria.
11. DECISÃO 02. 
12/01/2017, 08:04
STJ rejeita pedido para retomada de obras do Minha Casa Minha Vida em São Luís
A presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz, indeferiu um pedido de suspensão de liminar feito pelo governo do Maranhão em caso que envolve a disputa pelo terreno destinado à construção de 256 unidades habitacionais em São Luís.
A Justiça local suspendeu a construção, por entender que o empreendimento do programa Minha Casa Minha Vida estava sendo construído em local sob litígio.
O entendimento da Justiça maranhense é que o governo deve esperar a conclusão da disputa sobre o terreno para somente depois, reconhecida a propriedade, se for o caso, iniciar as obras.
Ausência de violação
Para a ministra Laurita Vaz, o pedido de suspensão formulado pelo Maranhão não conseguiu demonstrar violação a qualquer dos bens tutelados pela lei que disciplina esse tipo de pedido.
“O interesse público parece estar melhor resguardado pela decisão sub judice. Com efeito, resta evidenciado que a decisão impugnada é que protege o erário de indenizações decorrentes de eventual provimento da ação originária”, argumentou a magistrada.
Um dos argumentos utilizados pelo estado foi que a suspensão das obras prejudica a coletividade, já que impede a conclusão de seus programas sociais.
A ministra lembrou que a suspensão de liminar apenas se justifica pela supremacia do interesse público sobre o particular, e supõe grave lesão à ordem, à saúde, à segurança ou à economia pública, algo não demonstrado de forma inequívoca no caso analisado.
Posse contestada
A obra foi embargada pela Justiça maranhense porque o terreno em questão tem a posse discutida judicialmente. Particulares que alegam ser donos do imóvel ingressaram com ação requerendo aposse. Ao ter ciência das obras, pediram a suspensão do empreendimento coordenado pelo governo estadual.
Ao analisar o pedido, o juízo competente destacou que a construção altera de forma substancial o terreno, e por isso determinou a suspensão provisória da obra enquanto a ação que discute a posse não é julgada.
12. DECISÃO 03.
16/01/2017 09:46
Mantida liminar que suspendeu licitação de transmissão de dados para Justiça no RN
Diante de uma eventual interrupção do serviço de transmissão de dados, o Poder Judiciário do Rio Grande do Norte teria como recorrer à contratação emergencial para viabilizar a manutenção de suas operações. Com esse entendimento, a presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz, indeferiu pedido de suspensão de liminar feito por aquele estado.
O Rio Grande do Norte pretendia sobrestar os efeitos de decisão judicial que determinou a imediata suspensão do pregão eletrônico referente à prestação de serviços de transmissão de dados no âmbito do Poder Judiciário local.
Uma das empresas interessadas na licitação pleiteou a paralisação do procedimento, sob o argumento de que o estado pretendia favorecer determinadas empresas e o procedimento apresentava vícios referentes à composição de preço. A liminar foi deferida para obstar o seguimento do pregão.
No STJ, o estado alegou que a liminar poderá prejudicar o sistema de processo judicial eletrônico, incluindo o acompanhamento processual e o envio de petições pela internet. Afirmou que, com a eventual interrupção do serviço, 65 comarcas, 120 prédios que servem ao Judiciário local, 4 mil usuários e 14 mil advogados seriam atingidos.
Interesse público
“O manejo de feito suspensivo é prerrogativa justificada pela supremacia do interesse público sobre o particular, cujo titular é a coletividade, e supõe a existência de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança ou à economia públicas”, explicou a ministra Laurita Vaz.
Segundo ela, o instituto visa ao sobrestamento de decisões “precárias” e “ainda reformáveis” que tenham efeitos imediatos e lesivos para o setor público; e a alegada lesão ao bem jurídico deve ser grave e iminente, “devendo ser demonstrado, de modo cabal e preciso, que a execução da decisão atacada traria danos à coletividade”.
Para ela, as razões apresentadas pelo Rio Grande do Norte impressionam, mas não caracterizam a lesão de natureza grave e imediata à ordem pública. Isso porque o próprio requerente juntou ao processo cópia da ata de uma reunião em que deixou consignado que a atual prestadora de serviço de transmissão de dados teria interesse na prorrogação do contrato.
“Essas circunstâncias denunciam, portanto, a ausência de lesão à ordem pública de natureza grave e imediata, uma vez que o Poder Judiciário não está desassistido, pois tem à disposição meios administrativos para contornar as consequências advindas da tutela recursal objeto do presente pleito”, concluiu Laurita Vaz.
13. CONCLUSÃO
Diante do retro exposto, cabe ressaltar que a complexidade do tema compreende todos os princípios regentes da relação contratual. A ordem Pública em si engloba a autonomia volitiva das partes contratantes, sua relatividade, obrigatoriedade etc.; interpõe-se na resolução dos conflitos particulares e também na relação universal. Não deixando precipuamente de estabelecer o bem comum e a paz social. 
O grupo conclui, destarte, a notoriedade do princípio refletido no meio contratual, como fonte fiscalizadora e instituidora de obrigações. 
14. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
1. http://www.fabiovfigueiredo.com.br/blog/a-aplicabilidade-do-principio-da-supremacia-da-ordem-publica-na-formacao-dos-contratos/. 
2. Acórdãos: http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/inc/ResultadoDaBusca.aspx?q=SUPREMACIA%20DA%20ORDEM%20P%C3%9ABLICA.
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� Carlos Roberto Gonçalves, Contratos e Atos Unilaterais, Vol. 3, pg. 21. 2017; Saraiva Jur.
� Caio Mário da Silva Pereira, (Instituições de direito civil, v. III, p. 7).
� Clóvis Beviláqua, Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, v. IV, obs. 1 ao art. 1.079.
� Carlos Roberto Gonçalves, Contratos e Atos Unilaterais, Vol. 3, pg. 23. 2017; Saraiva Jur.
� Carlos Roberto Gonçalves, Contratos e Atos Unilaterais, Vol. 3, 2017; Saraiva Jur. 
� GONÇALVES, CARLOS ROBERTO. Contratos e Atos Unilaterais, p. 43, Vol. 3, 12ª edição. Editora: Saraiva.
� Ruy Rosado de Aguiar Júnior, Projeto, cit., RT, 775/24. Prossegue o notável jurista dizendo que ordem pública é “um topos, um lugar comum, com o qual se faz ou: a) a classificação das leis, para os mais diversos sentidos (no Brasil, tem sido usada para classificar as normas instituidoras dos planos econômicos e para lhes dar aplicação retroativa, o que tem sido objeto de crítica do Min. Moreira Alves, pois o direito adquirido tem proteção constitucional e está infenso à lei posterior, seja ou não de ordem pública), ou b) a avaliação de cláusulas contratuais, afastáveis na medida em que forem contrárias à ordem pública. O par. ún. do art. 2.049 do Projeto (atual art. 2.035) dá, a título de exemplo de preceitos de ordem pública, aqueles estabelecidos para assegurar a função social do contrato. Outros existem. Assim, tenho que são de ordem pública os preceitos legais sobre a igualdade entre as partes e a equivalência entre as prestações, sendo contrárias a ela as cláusulas legais que dispõem sobre a isenção de responsabilidade do estipulante do contrato de adesão, a que dificulta sobremodo a defesa de um dos contratantes, a violadora da boa-fé objetiva, e assim por diante” (loc. cit., p. 24).
� Caio Mário da Silva Pereira, Instituições, cit., v. III, p. 25-26.
� GONÇALVES, CARLOS ROBERTO. Contratos e Atos Unilaterais, Vol. 3, 14ª edição. Editora: Saraiva Jur.
� RIZZARDO, Arnaldo. CONTRATOS. Edição (15ª). Editora Forense, Rio de Janeiro, 2015.
� I P C - R. Índice de Preços ao Consumidor do Real (EXTINTO).
� Contratos Atípicos, Rio de Janeiro, Forense, 1985, p. 24.
� Maria Helena Diniz. Curso de Direito Civil brasileiro: Teoria das obrigações: Contratuais e extracontratuais - 35ª edição de 2019, p. 32.
12 SANTOS, Ricardo Soares Stersi. Arbitragem e acesso à justiça. Revista Sequência, n.º 53, p. 253-267, 2006.
� FURTADO, Paulo, et alii. Lei da Arbitragem Comentada. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 132.
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� La notion d’ordre public em droit privd (cours de droit civil approfondi), preleções mimeografadas. Paris, 1950, p. 3. 
� GONÇALVES, CARLOS ROBERTO. Contratos e Atos Unilaterais, Vol. 3, p. 25, 14ª edição. Editora: Saraiva Jur.
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