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Dicionario_de_Direito_de_Familia_e_Suces

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RODRIGO DA CUNHA PEREIRA
 DICIONÁRIO DE
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�O conteúdo desta edi9ao guarda absoluta lidelidade aos arquivos eletrónicos
fornecidos a Editora pelo autor da obra, sob cuja responsabilidade ficaram os
trabalhos de diagrama9iio. revlsáo e capa.
O projeto gráfico e a diaqrarnacáo foram feitos por Alexandre Cardoso, a revísáo do
texto foi feita por Cybele Maria de Souza e a capa foi desenvolvida por Bruno Santos.
� RODRIGO DA CUNHA PEREIRA
 Advogado, Doutor (UFPR) e Mestre (UFMG) em Direito Civil
 Presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM
 DICIONÁRIO DE
DIREITO DE FAMÍLIA
 -
 E SUCESSOES
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 4:
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�f\1.Edltora ISBN 978·85·02·62285·2
\.--" Saraiva
Rua ffenñque Schaumann, 270, (erqueira Césnr - SOo Paulo - SP
CEP 05413-909
PABX: (11) 3613 3000 Pereira, Rodrigo da Cunha
SAC: 0800 011 7875
De 21a 6'-, das 8:30 os 19:30 Dicionario de direito de farnília e sucessños : Llustrado I
www.editorasaraiva.rom.br/contato Rodrigo da Cunha Pcreíra. - Sao Paulo : Saraiva, 201 ;,
 1. Ditcito cil'il- Legislaeño -13rasil 2. Direito das sucessóes
 - Brasil 3. Direito de familia - Brasil l. Título.
Produroo gráfica Mooi Rompim CDU-347.65(81)
 Indices poro catálogo sistemático:
 l. Brasil : Direito das sucessñes : Direito civil 347.65(81)
 2. Brasil : Dircito de família : Dircito civil 347.6(81)
 Data de fechamento da edi~o: 10-11-2014
 Dúvidas?
 Acesse www.editorasaraiva.eom.br/direito
 Nenhuma parte desta publicacáo poderá ser reproduzida
 por qualquer meio ou forma sem a prévia autorizacáo da
 Editora Saraiva.
 A violacáo dos direitos autorais crime estabelecido na
 é
 Leí n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
 l 139.618.001.001 1
� Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de
ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um des­
canso na loucura.
 Guirnaráes Rosa
�Ilustra~ao: R.ona/do Fraga
�ARTISTAS CONVIDADOS
Adriana Silveira
Adriana Tavares
Agnes Farkasvolgyi
Alexandre Rousset
Alexsandro Palombo
Ana Cristina Brandáo
Andrea Lanna
Claudia Renault
Grace Camargos
Letícia Grandínetti
Marcelo Drummond
Márcía Charnizon
Marco Túlio Resende
Marcos Hill
Mário Zavagli
Máximo Soalheiro
Niura Bellavina
Nydia Negromonte
Ronaldo Fraga
Rubem Grillo
Sabrina Ferrari
Sérgio Lima
�COLABORADORES
Ana Carolina da Cunha Melgaco
Caio Cesar Brasil Ferreira
Cíntia Fribeiro
Flávio Hermanny Filho
Gabriela Alvarenga Kayano
Kiko Ferreira
Mariana Lima T onussi Barbosa
Marina Magalháes Moraes
Rómulo Francisco de Moura Mendes
Ronner Botelho Soares
�A Adriana Silveira,
minha mulher e amante
reúne todas as mulheres em urna só
 . .
me inspira
me tolera
me ajuda a vencer as neuroses do día a dia
e a ser mais feliz,
com quem formei urna familia conjuga!
edaí também
urna família parental
com Felipe, Tomás e Rafael.
�ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS
AC Apelacáo Cível
Ac Acórdáo
Adin As;ao Direta de inconstitucionalidade
ADPF As;ao de descumprimento de preceito fundamental
Ag Agravo
Al Agravo de Instrumento
A]G Assisténcia Judiciária Gratuita
Ap. .. Apelacáo
Art Artigo
Arts Artigas
BGB Código Civil Alernáo
CC Ca mara Cível
ele combinado com
Cárn Cámara
CCB Código Civil Brasileiro
CDP Cámara de Direito Privado
CEJA Cornissáo Estadual Judiciária de Adocáo
CF Constítuicáo Federal
CG] Corregedoria Geral de justica
CFM Conselho Federal de Medicina
CNJ Conselho Nacional de J ustica
CP Código Penal
CPB Código Penal Brasileiro
CPC Código de Processo Civil
CR Constituicáo da República
Des Desembargador
Des.ª Desembargadora
DJ Diário de justica
 15
� DJGO Díárío de justica de Goíás
 DJMS Díárío de justica do Mato Grosso do Sul
 DJPR Díárío de J ustica do Paraná
 DJRJ Díárío de J ustica do Río de J aneíro
 DJRS Díárío de J ustica do Río Grande do Sul
 DJSP Díárío de J ustica de Sao Paulo
 DJU Díárío de J ustica da Uniáo
 DNA Ácído Desoxírríbonucleíco
 DOU Díárío Oficíal da Uniáo
 ECA Estatuto da Crianca e do Adolescente
 ED Embargos Declaratóríos
 ED-REsp Embargos Declaratóríos em Recurso Especíal
 Eg Egrégío
 El Embargos Infríngentes
 HC Habeas Corpus
 IBDFAM Instituto Brasíleíro de Díreíto de Farnílía
 Inc Incíso
 J. . J ulgado
 JTJ Julgados do Tríbunal de justica
 LBF Leí do Bem de Famílía
 LD Leí do Dívórcío
 LINDB Leí de Introducáo as Normas do Díreíto Brasíleíro
 LRP Leí de Regístros Públicos
 M.M Merítíssímo
 Min. . Mínístro
 MP Minístérío Públíco
 MS Mandado de Seguranca
 NCCB Novo Códígo Cívíl Brasíleíro
 I •
 p pagina
 Proc Processo
 pub Publícado
 R Retro
 RBDFS Revísta Brasíleira de Díreíto das Famílias e Sucessñes
 RE Recurso Extraordinárío
 Rel. Relator
 Rel. a •.•••••••• Relatora
 REsp Recurso Especial
 RT Revísta dos T ríbunaís
 STF Supremo Tríbunal Federal
 STJ Superíor Tríbunal de justica
 T Turma
 TRF Tríbunal Regíonal Federal
 Unan.
 A u nan1me
 A •
 V Volume
16
� NOTA DO AUTOR
 Sempre gosteí
de dícíonáríos. Desde pequeno. Seí que as palavras tempo-
der. Maís tarde, mas nao muíto tarde, aprendí que além de significado, elas trazem
consigo também um significante, isto é, para além do conceito a que elas corres-
pondem, há também a representacáo psíquica do seu som, tal como nossos senti-
dos as percebem e da forma como elas sao pronunciadas. O "Díccionário Ency-
clopedico ou novo Diccionário de Língua Portuguesa - para uso dos portugueses
e brasíleiros - enriquecido com um copioso vocabulário da língua brasílica e com
outro da língua rupy", e o "Lello Universal- Diccionário Encyclopedico Luso-bra-
sileíro", em quatro volumes, e com centenas de gravuras, herdado dos meus avós,
abriram o meu universo e povoaram o meu imagínário na infancia e adolescencia,
em Abaeté, urna cidade do interior de Minas Gerais. Ali eu já viajava através das
palavras e encanta va-me com aquelas gravuras e ilustracóes, que remetía um sen-
tido universalízante das coisas. Por meío dos dicionários pode-se saber e conhecer
o significado de qualquer coisa. Sao as palavras em estado de dicionário, como
dizia Carlos Drummond de Andrade. Acho melhor até que o Google. O dicionárío
pode aplacar nossa ignorancia, por isso ele é conhecído e denominado em algumas
regióes do Brasil, em tom de bríncadeíra, como o "paí dos burros".
 Longe já está ficando o tempo das enciclopédias. A era da globalizacáo e
ínternet, nao apenas tem mudado as formas de cornunicacáo, como , tem revolu-
cíonado as formas de obtencáo e apreensáo do conhecimento. E difícil encontrar
alguém, hoje, do qual pode-se dizer que é urna "encíclopédía viva", como se dizia
antigamente. Prímeiro, porque é cada vez mais difícil, para nao dizer impossível,
alguém reunir tanto conhecimento sobre todos, ou quase todos os assuntos; segun-
do, porque a própria palavra enciclopédia está caindo em desuso. Talvez porque
o acesso ao conhecimento esteja cada vez mais específico e nas especialidades dos
diversos ramos do saber.
 17
� I
 E neste espirito da especificidade do saber que após trinta anos de exer-
cício da advocacia, ou melhor de "clínica do Direito", que me autorizei a "cons-
truir" um Dicionário de Direito das Familias e Sucessóes. Quis chamá-lo en-
ciclopédico para que ele contivesse conhecimentos uníversais sobre urna área
específica, mas mudei de ideia por achá-la pretensiosa demais. O Direito de Fa-
milia contemporáneo é tao dinámico, e a vida o transforma tanto, que nao é
 I
possível rnais torná-lo enciclopédico, no sentido de tudo saber. E um dicionário
restrito a urna área, mas amplo e profundo naquilo que se prop6e. A ideia des-
te dicionário, apesar da sua ousadia, é torná-lo um livro necessário para todos
aqueles, especialistas ou nao, que precisarem transitar pelo Direito de Familia
e Sucessóes, ou mesmo buscar urna simples inforrnacáo ou significado de algum
termo ou expressáo deste ramo do conhecímento. Imagino que ele pode servir
para todo mundo, pois todo mundo tem familia. E quem tem familia rem algum
problema, cuja solucáo, rnuitas vezes está no Direito de Famílía e das Sucessóes,
Sua formacáo conrém, além do conceito, elementos doutrinários, jurispruden-
cia, dispositivos e referencias normativas e também um pouco de linguagem li-
terária, poética ou música. A poesía, a literatura, a música popular brasileira
e muitos filmes brasileiros ou estrangeiros dízem com suavidade, e melhor que
ninguérn, sobre estas intrincadas relacóes familiares e sobre os restos do amor,
que muítas vezes váo parar na justica. O Direito de Família está contido aí tam-
bém. A partir do momento que o afeto tornou-se o grande vetar e catalisador
da organizacáo jurídica da familia, o Direito de Familia, ou melhor, Direito das
Familias, ganhou mais autenticidade e eticidade, a partir dos principios da dig-
nidade humana, solidariedade e responsabilidade.
 Diante da ídeia e da proposta de aprofundamento dos significados e signi-
ficantes das palavras, tornou-se imprescindível buscar ajuda em outros campos do
conhecimento, além do uso de express6es do velho e necessário latim. A interdis-
cíplínaridade como forma de apoio a determinado ramo do saber tornou-se urna
necessidade recorrente. Aliás, o Direito sempre buscou ajuda em outros campos
do conhecimento, como na Economía, Filosofia, Antropología, Sociología, Mate-
mática, etc. A novidade, aquí, é a utilizacáo de urna terminología oriunda da Psi-
canálise e da conexáo do Direito com a linguagem poética, Iiterária e artística, que
ajudaráo a ampliar a compreensáo e o significado de cada verbete. Nao se pode
mais pensar a objetividade dos atos, fatos e negócios jurídicos sem a consideracáo
da subjetividade. E a Psicanálise é exatamente isso, ou seja, a consideracáo do
sujeito do inconsciente, que se presentifica em todos os atos humanos, e portanto,
nos atos e fatos jurídicos. A Psicanálise traz mais humanidade e humanizacáo a
ciencia do Direito e em particular ao Direito de Família.
 Além da utilizacáo do discurso de outros campos do conhecimento, no-
vas elementos foram introduzidos, tais como imagens, ilustracóes, gravuras, de-
senhos e fotografias. Eles ajudam na traducáo dos vocábulos, cumprem também
a funcáo da arte, ajudam a dizer o indizível, inclusive tornando a leitura rnais
18
�agradável, mais leve e menos penosa. Convidei artistas brasileiros que, gentil-
mente, aceitaram a empreitada de diminuir a fronteira entre Arte e Direito. Afi-
na!, subjetividade e objetividade se entrelacarn no Direito de Família, tecendo as
tramas do desejo, construindo e descontruindo os dramas familiares. A arte, as
imagens podem ir além das palavras, pois abrem espaco para a reflexáo e a emo-
s:ao. Podem ajudar a fazer revolucáo. Talvez seja urna maneira maís sublime de
perceber o mundo. Assim como a arte, o Direito é também interpretacáo. A arte,
da mesma forma, fala das tramas do desejo e podem iluminar o caminho daque-
les que buscam inforrnacóes neste dicionário. Arte e Direito tratam da mesma
humanidade.
 Rodrigo da Cunha Pereira
 Primavera 2014
 19
� I
 PREFACIO
 Este nao é mais um dicionário, mas o dicíonário do contemporáneo Di-
reito das Famílias e Sucess6es. Fruto da maruridade e de investigacáo rigorosa de
seu ilustre autor, a obra vem, efetivarnente, preencher urna lacuna da literatura
jurídica brasileira,
 Rodrigo da Cunha Pereira reuniu os verbetes mais significativos do estado
atual das relacóes de familia e da sucessáo heredirária, principalmente sobo ponto
de vista do Direito, Nao se esgotarn, contudo, no ámbito jurídico, pois a inter-
disciplinaridade é acentuada em seus trabalhos. Nao poderiarn faltar os verbetes
relativos a disciplinas com as quais o Direito das Famílias tem diálogo frequente,
notadamente a psicanálise. Ainda que sua preocupacáo central seja como conhe-
címento desenvolvido na contemporaneidade, a rradicáo e a evolucáo das matérías
estáo presentes nos verberes que definem antigos termos e conceitos nelas empre-
gados, trazendo-os aos seus significados atuais.
 Rodrigo da Cunha Pereira é autor consagrado, tendo escrito, de lavra pró-
pria, mais de tres dezenas de livros sobre aspectos diversos do Direito das Familias,
além de outras dezenas de capítulos de livros e de artigas em revistas especializa-
das. Conjuga, como poucos, intensa producáo intelectual e atividade profissional.
I
E um dos mais importantes e experientes advogados familiaristas brasileiros, tanto
no patrocínio de causas quanto na elaboracáo de refinados pareceres. Também se
dedicou
a docencia universitária, na PUC de Minas Gerais.
 Conheci-o em meados dos anos de 1990 em eventos voltados ao Direito
das Familias, quando manifestou interesse em fundar entidade associariva, de na-
tureza académica, para discussáo, fomento e desenvolvimento dessa área. Preten-
dia reunir as mentes criativas e comprometidas como avance da especialidade,
de modo a contribuir, positiva e qualitativamente, com a elaboracáo legislativa e
com a formacáo da jurisprudencia. Sob sua lideranca inconteste e suave, em 1997
 21
�nasceu o Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM, que passou a abri-
gar sucessivas geracóes de juristas, docentes, autores, profissionais da Advocacia,
da Magistratura, do Ministério Público e outros especialistas que tém as famílias e
sucessóes como seus objetos de estudos e atividades. Posteriormente, tive a opor-
tunidade de compor a banca examinadora de sua tese de doutorado em Direito,
na UFPR, na qual intentou demarcar os princípios fundamentais do Direito das
Famílias e que mereceu a nota máxima de todos os membros.
 Nas suas atividades profissionais e intelectuais, foi responsável pela cria-
cáo ou consolidacáo de vários conceitos e categorias do Direito de Família con-
temporáneo, que estáo sintetizados em diversos verberes <leste dicionário. Pugnou
ardorosamente por eles nos tribunais ou no meio académico, sabedor que as trans-
forrnacóes essenciais sao impulsionadas pelas "minorías abraárnicas", como dizia
D. Helder Cámara.
 Esse dicionário foi escrito lentamente, rendo cada verbere sido objeto de
reflexáo cuidadosa. Por algum tempo, o autor me clava notícias de seu andarnen-
to, escrevendo-o sem pressa, mas com especial cuidado. Como é de seu estilo, os
verberes aliam rigor e leveza da linguagem. Temas que afluem com frequéncia nas
relacóes afetivas, neste milenio, que derivam do biodireito, da informática, da se-
xualidade, por exemplo, estáo previstos como verberes autónomos.
 Para elaboracáo <leste prefácio, comecei folheando os originais, mas fiquei
preso a leitura de vários verbetes, que convidam a leitura. Além do desdobrarnen-
to dos significados, em redacáo fluente, o autor índica a legislacáo aplicável e a
orientacáo [urisprudencial, quando é o caso. Contudo, o que chama a atencáo
é a introducáo, em muitos verberes, de textos literários, de prosa, poesia, ou de
cornposicóes musicais, que trazem a forca expressiva da arte para a compreensáo
do tema, conjugando razáo e sentimento, este mais próximo da vida. Somente um
autor com alma de artista é capaz de fazer tal relacáo, como se dá no verbere erro
essencial sobre a pessoa, com trecho de "Grandes Sertóes - Veredas", de Guirna-
raes Rosa, ou no verbere nascituro, com trecho da letra da música "O filho que eu
quera ter", de Toquinho e Vinícius de Moraes. Há mais: o autor convidou artistas
para ílustrarem diversos verberes, como eles os percebem.
 Nenhuma especialidade do Direito sofreu mutacáo tao profunda, nos
últimos anos, quanto o Direito de Família. Reflete a imensa transformacáo que
ocorreu na sociedade brasileira, que abandonou as fundacóes aparentemente
sólidas em que se assentavam as relacóes familiares. Nao há mais trace na fa-
mília brasileira, sob o ponto de vista do Direito, da organizacáo patriarcal, da
desigualdade de direitos entre generas, do poder marital, do pátrio poder, da
discriminacáo dos filhos entre legítimos e ilegítimos, das entidades familiares
relegadas a invisibílidade.
 Da mesma relacáo familiar atual emergem várias estruturas jurídicas dis-
tintas: (1) o dos pais (ou genitor único) e seus filhos biológicos e nao biológicos,
até a aquisicáo da capacidade civil; (2) os dos cónjuges ou companheiros de uniáo
22
�estável, entre si; (3) os dos parentes entre si, para fins determinados: impedimentos
para casar ou constituir uniáo estável; alimentos; sucessáo hereditária; tutela ou
curatela; (4) o dos filhos em relacáo aos deveres de amparo dos pais idosos, de
caráter vitalício.
 A família atual busca sua identificacáo na solidariedade (art. 3°, I, da
Constítuicáo), como um dos fundamentos da afetividade, após o individualismo
triunfante dos dois últimos séculas. A funcáo procracional, fortemente influencia-
da pela tradicáo religiosa, foi desmentida pelo grande número de casais sem filhos,
por livre escolha, ou em razáo da primazia da vida profissional, ou em razáo de
infertilidade. O Direito contempla essas uni6es familiares, para as quais a procria-
s:ao nao é essencial. O favorecimento constitucional da adocáo fortalece a natu-
reza socioafetiva da família, para a qual a procriacáo nao é imprescindível.. Nao
há mais espaco para a exclusáo das relacóes familiares existentes na vida social,
notadamente após a histórica decisáo do STF sobre o reconhecimento jurídico das
uni6es homoafetivas.
 Retoma-se, em nossa época, o itinerário da afirrnacáo da pessoa humana
como objetivo central do Direito. No mundo antigo, o conceito romano de huma-
nitas era o da natureza compartilhada por todos os seres humanos. Essa centra-
lidade na pessoa humana foi acentuada na modernidade desde seu início, princi-
palmente com o iluminismo, despontando na construcáo grandiosa dos direitos
humanos fundamentais e do conceito de dignidade da pessoa humana. Daí a bela
proclamacáo da Declaracáo Universal dos Direitos Humanos contida em seu art.
1 °: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos". No
mundo atual, o foco na pessoa humana é matizado coma consciencia da tutela ju-
rídica devida aos outros seres vivos (meio ambiente) e da coexistencia necessária,
pois a pessoa existe quando coexiste (solidariedade).
 As relacóes de consanguinidade, na prática social, nao sao mais importan-
tes que as oriundas de lacos de afetividade e da convivencia familiar, constituintes
do estado de filiacáo, que <leve prevalecer quando houver conflito com o dado bio-
lógico, salvo se o princípio do melhor interesse da crianca ou o princípio da digni-
dade da pessoa humana indicarem outra orientacáo, nao devendo ser confundido
o direito áquele estado com o direito a origem genética.
 Ante a tribalizacáo orgánica da sociedade globalizada atual, a família é
reivindicada, na expressáo de urna autora muito apreciada por Rodrigo da Cunha
Pereira "como o único valor seguro ao qual ninguém quer renunciar. Ela é amada,
sonhada e desejada por homens, mulheres e criancas de todas as idades, de todas
as orientacóes sexuais e de todas as condicóes", na expectativa que "saiba manter,
como princípio fundador, o equilíbrio entre o um e o múltiplo de que todo sujeito
precisa para construir sua identidade" (Elisabeth Roudinesco).
 Saliente-se a emersáo de valores existenciais no Direito das Sucess6es, re-
velando o primado da pessoa humana, destacando-se a igualdade sucessória dos
filhos e a preferencia pelo núcleo familiar mais estreito, no lugar dos graus distan-
 23
�tes de parentesco. A sucessáo testamentáría, que recebía destinacáo preferencial
da leí, passou a ser secundária, tal como acorre na realidade brasileíra, em razáo,
igualmente, dos valores sociais e de solídariedade familiar, que sao mais bem con-
templados na sucessáo legítima. A garantía constitucional do direito a heranca
ínverte a primazia. Em vez do autor da heranca, principalmente quando testador, e
do respeíto a sua vontade, que era tida como norte determínante de interpretacáo,
a primazia passou para o herdeiro. O direito do herdeíro é o assegurado pela leí e
nao pela vontade do testador. O autor da heranca nao é mais o senhor do destino
do herdeiro.
 Nao é tarefa fácil dar canta da magnitude de tamanhas transforrnacóes e
verte-las em resumas significativos. Neste dicionário, Rodrigo da Cunha Pereira
superou-se e conseguiu concentrar em seus verbetes a esséncia dos Direitos das
Famílias
e das Sucessóes, tais como estes se apresentam na atualidade.
 Paulo Lóbo
 Doutor em Direito Civil (USP}
24
� "
 PREAMBULO
 As palavras acompanham o fluir do tempo e mudam de significado, enve-
lhecem e sao substituídas por outras, de acordo coma mutacáo da vida social e dos
valores cultivados pela sociedade. Muitas perdem a forca e váo enfraquecendo,
enfraquecendo, até morrerem por falta de uso.
 Em substituicáo as palavras martas, outras novas váo surgindo. Particu-
larmente, esse fenómeno também acorre para marcar urna nova era nas relacóes
familiares e no Direito de Família.
 Aquilo que antes era considerado crime, deixou de se-lo; o que nem se
imagina va viesse a tipificar urna condura criminosa, de repente, vai para o catálo-
go do Código Penal (Ex.: seducáo e bullying).
 O alcance do manto jurídico espraiou-se para atingir um espaco social
mais amplo e mais profundo.
 O Direito de Família sofreu, nos últimos quinze anos, urna revisáo geral
 ,
que alterou toda a sua estrutura, seus conceitos, sua terminologia. E um modo de
olhar as novas dimensóes das relacóes familiares, o olhar da intimidade, da reno-
vacáo, da autenticidade e da preocupacáo em refletir a forca dos faros emergentes
das relacóes sociais e familiares.
 Hoje, há urna nova gramática e um novo vocabulário do Direito de Fa-
mília, com novas adjetivos, novas substantivos, novas plurais, novas coletivos,
novas locucóes e novas verbos.
 Tomando como referencia os Boletins do IBDFAM, a partir do primeiro
número, em janeiro de 2000, ve-se urna amostra que serve para comprovar essa
evolucáo terminológica.
 Vejamos a sequéncia do alfabeto do novo Direito de Família.
 A letra A é da palavra mais forte que descobrimos: Afeto. Seguem-se: Ado-
s:ao por homossexuais; Alimentos gravídicos; Amor conjugal; e Alienacáo parental.
 25
� A letra D remete para a Desconsideracáo da personalidade jurídica inver-
sa, ou Disregard inversa, a protecáo da parte mais fraca da relacáo.
 O E, de evolucáo, trouxe, para o cenário, o instituto da Entidade familiar,
que alberga, em si, todos os grupos de pessoas e parentes unidos pela solidariedade
e pela fraternidade.
 A letra F nao é mais só da família singular, matrimonializada, mas de to-
das as famílias: Famílias reconstituídas; Famílias simultaneas; Famílías paralelas;
Famílias monoparentais, e Famílias pluriparentais. Essa letra, também, inaugura a
Funcáo social da família e a Fecundacáo artificial post mortera.
 O G orienta para a descoberta da Guarda compartilhada, em defesa dos
interesses da crianca e do adolescente.
 O H nao abriga mais o horror a diversidade de genero. Por isso, hoje,
cuida da Homoafetividade e da Homoparentalidade, em processo constante de
afirmacáo contra a homofobia.
 A letra I tornou-se mais inovadora, comas palavras Infidelidade virtual;
Indignidade nos alimentos; e Investigacáo de paternidade socioafetiva. Sob seu sig-
no, criou-se, também, urna confraria da renovacáo do Direito de Família, formada
pelos Ibedermanos.
 A letra M nao é mais só da maternidade, serve também para lembrar Me-
diacáo, Multiparentalidade e Mudanca de regime de bens.
 O P tornou-se mais grandioso ao acolher novidades como Parto anónimo,
Paternidade socioafetiva; Patemidade alimentar; Parentalidade socioafetiva; e Po-
der familiar.
 A letra R descobriu as Relacóes de parentesco; a Reproducáo assistida e a
Responsabilidade civil no Direito de Família.
 O T inova coma figura do Testamento vital.
 A letra U gerou a palavra mágica dos novos tempos: uniáo estável. Com
ela vieram: Uniáo estável homoafetiva e Unióes afetivas (lato sensu).
 A letra V apresentou urna realidade em necessidade de protecáo com a
Violencia doméstica e Violencia patrimonial.
 Essa variacáo semántica mostra o grau de mutacáo pelo qual passou
o Direito de Família, nos últimos anos, em consonancia com o surgimento de
novas famílias, de novos institutos e de novos conceitos. Esse novo vocabulá-
río apresenta urna oportunidade para refletir o alcance dessa variacáo, que teve
como órgáo estimulador e sisternatizador o nosso Instituto Brasileiro de Direito
de Família.
 Em suas notas introdutórias, o autor foi feliz ao expor, de forma clara, a
complexidade cultural da linguagem que está sempre acompanhando o ritmo de
evolucáo da sociedade; a polissemia dos termos, com repercussáo no processo de
interpretacáo das normas.
 Rodrigo da Cunha Pereira tem prestado reconhecida contribuicáo para
elevar a respeirabilidade do Direito de Família no cenário nacional, com iniciativas
26
�e producóes científicas que favoreceram o avance desse ramo do Direito no orde-
namento jurídico brasileiro. Agora, com esta publicacáo, considero que se eleva,
ainda mais, essa abnegacáo do mais ilustre dos ibedermanos em prol do direito
que socorre as aflicóes familiares. Parabéns e muito abrigado, em nome da família
do IBDFAM.
 Louriual Serejo
 Desembargador no TJMA
 27
� I
 SUMARIO
Verbetes- A a Z .. . .. .. . . . .. . . . . . .. . . . . . .. . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . 31
Referencias................................................................................................ 727
Relacáo geral dos verbe tes .. . .. .. . . .... .. .. .. . . .. . . .. 737
Relacáo dos verbetesilustrados.................................................................. 753
Relacáo dos verbetescom linguagempoética e literária por autor............... 755
�AB-ROGA<;AO
 , [ver tb. derrogayao] ­ letas, anuladas pela prática cotidiana
 E a revogacáo total de urna lei, em e, portanto, atingidas pela ab-roga-
 razáo da edicáo de outra nova. Vale cáo de fato.
 também para decreto, regulamenta- Se a lei nova revoga, expressamente, a
 s:ao ou outro ato normativo. A ab- leí anterior, rern-se, entáo a ab-roga-
 -rogacáo difere da derrogacáo, que é s:ao de direito. Pode haver também
 a revogacáo parcial de determinado urna ab-rogacáo de direito tácita,
 ato. Em geral, urna lei só pode ser re- que é quando nao há urna revogacáo
 vogada por outra: Nao se destinan­ explícita, mas implícita, como acon-
 a
 do uigéncia temporaria, a lei terá teceu com a Emenda Constitucional
 vigor até que outra a modifique ou nº 66/10, que simplificou o sistema
 revogue. § 1° A lei posterior revoga de divórcio no Brasil. A Emenda nao
 a anterior quando expressamente o disse, expressamente, que a separa-
 declare, quando seja com ela incom­ s:ao judicial estava revogada, mas a
 patiuel ou quando regule inteira­ sua interpretacáo sistemática, histó-
 mente a matéria de que trataua a lei rica e teleológica ab-rogou,
tacita-
 anterior (Art. 2°, LINDB). Contudo, mente, o inútil instituto da separacáo
 na prática pode também ser revoga- judicial.
 da pelos costumes, fazendo com que
 ela caia em desuso. Por exemplo, o ABANDONOAFETIVO [vertb. afeto,
 regime dotal e os bens reservados da cuidado, princípio da afetiuidade,
 mulher só foram revogados do CCB reparacdo civil, responsabilidade ci­
 1916 pelo CCB 2002. Entretanto, vil] ­ Expressáo usada pelo Direito
 desde a década de 1960, tais institu- de Família para designar o abando-
 tos caíram em desuso, e as leis que os no de quem tem a responsabilidade
 regulamentavam tornararn-se obso- e o dever de cuidado para com um
 31
�ABANDONO AFETIVO
 I
 outro parente. E o descuido, a con- to, no sentido de cuidado, condura.
 d uta omissiva, especialmente dos Ao agir em conformidade corn a sua
 país em relacáo aos filhos menores funcáo, está-se objetivando o afeto e
 e também dos filhos maiores em re- tirando-o do campo da subjetividade
 I
 lacáo aos país. E o nao exercício da apenas. A ausencia deste sentimento
 funcáo de pai ou rnáe ou de filho em nao excluí a necessidade e obrigacáo
 relacáo a seus país. Tal assisténcia dos país corn o cuidado e a educa-
 , . . ....
 para com o outro e urna rmposicao s:ao, a responsabilidade e até mesmo
 jurídica e o seu descumprimento a presenca e a imposícáo de limites.
 caracteriza um ato ilícito, podendo O que vale também para os filhos
 ser fato gerador de reparacáo civil. maiores em relacáo aos país.
 Sao direitos assegurados pelos prin- A discussáo do abandono afetivo trans-
 cípios constitucionais da dignidade cende os seus aspectos jurídicos e éti-
 humana, da solidariedade, da pater- cos para atingir urna dimensáo polí-
 nidade responsável e, obviamente, tica e social. As milhares de criancas
 o do melhor interesse da enanca e de rua e na rua estáo diretamente re-
 adolescente. O Código Civil estabe- lacionadas ao abandono paterno ou
 lece obrigacáo de cuidado entre país materno, e nao apenas a omissáo do
 e filhos (Art. 1.634, CCB), assim Estado em suas políticas públicas. Se
 como o Estatuto do Idoso (Leí nº os pais fossem mais presentes na vida
 10.741/03) preve que nenhum ido­ de seus filhos e nao os abandonassem
 so será objeto de qualquer tipo de afetívamente, isto é, se efetivarnen-
 negligéncia, discriminacáo, uiolén­ te criassem e educassem seus filhos,
 cia, crueldade ou opressdo, e todo cumprindo os principios e regras ju-
 atentado aos seus direitos, por adio rídicas, nao haveria tantas criancas e
 ou omissño, será punido na forma adolescentes com síntomas de deses-
 da lei (Art. 4°). No Direito Penal, truturacáo familiar. E' mais cómodo,
 abandonar pessoa que está sob seu <liante do contexto histórico do de-
 cuidado, guarda, uigiláncia ou au­ clínio do patriarcalismo e da socie-
 toridade, e, por qualquer motivo, dade do consumo, justificar na teoría
 incapaz de defender­se dos riscos político-económica o porque de tan-
 resultantes do abandono (Art. 133, tas criancas abandonadas, criminali-
 CP) é crime, com pena de prisáo que dade juvenil ou até mesmo enveredar
 varia de seis meses a doze anos, de- em urna vísáo moralista e pensar que
 pendendo da gravidade dos delitos todos esses sinais de violencia come-
 praticados. cararn após 1977, como divórcio no
Qualquer pessoa, da infancia a velhi- Brasil, e, consequentemente, um au-
 ce, para estrururar-se como sujeito mento crescente de separacáo de ca-
 e ter urn desenvolvimento saudável, sais e de novas formas de constitui-
 necessita de alimentos para o carpo s:ao de familias. Todavía, a verdade
 e para a alma. O alimento impres- é que todos estes sinais de desestru-
 cindível para a alma é o amor, o afe- turacáo familiar estáo íntimamente
32
� 133
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�ABANDONO AFETIVO
 relacionados ao abandono paterno/ outrem, mas a relacáo parental está
 materno, seja ele visível ou nao. para alérn do sentimento, exige
No campo jurídico, o afeto é mais que compromisso, responsabilidade, e
 I
 um sentimento. E urna acáo, urna por isso é fonte de obrigacáo jurí-
 condura, presente ou nao o sentí- dica. A afetividade geradora de di-
 mento. Portanto, está na categoría reitos e deveres é a que depende da
 dos deveres que podem ser impos- conduta, da assisténcia. E isto é fa-
 tas como regra jurídica. E, a toda cilmente detectável na relacáo país/
 lei <leve corresponder urna sancáo, filhos. Ausente e "abandónico" é
 sob pena de se tornar mera regra ou também aquele que dá apenas o sus-
 princípio moral. Por isso é necessária tento material. Com o fim da con-
 a responsabilizacáo, principalmente jugalidade (ou mesmo se nao hou-
 dos pais em relacáo aos filhos meno- ve conjugalidade), é comum que o
 res e dos filhos em relacáo aos país genitor nao guardiáo fique somente
 idosos, que térn especial protecáo da com o pagamento de alimentos, fi-
 Constituicáo da República. A res- cando o outro sobrecarregado para
 ponsabilidade é da esséncia do afeto cumprir as funcóes de pai e máe, co-
 e do cuidado, como competente e brindo a ausencia daquele que nao
 sabiamente já escreveu Kant: Aqui­ está cumprindo o exercício do po-
 lo que eu reconheco imediatamente der familiar. O abandono parental
 como lei para mim, reconheco com <leve ser entendido como lesáo a um
 um sentimento de respeito que nao interesse jurídico tutelado, extrapa-
 significa sendo a consciencia da su­ trimonial, causado por omissáo do
 bordinaciio da minha vontade a urna pai ou da máe no cumprimento do
 lei, sem irueruencdo de outras infiu­ exercício e das funcóes parentais.
 éncias sobre a minha sensibilidade.
 ( ... ) Uma vez que despojei a vontade DISPOSITIVOS NORMATIVOS
 de todos os estímulos que lhe pode­ CR-Arts. 1°, III; 3°, I e IV; 226, § 5°
 riam advir da obediéncia a qualquer e§ 7°; 227, 229 e 230.
 lei, nada mais resta do que a confor­ CC-Arts. 186, 927, 1.634.
 midade a uma lei universal das aroes CP - Arts. 133, 134.
 em geral que possa servir de úni­ Lei nº 8.069/90- Estatuto da Crianca
 co principio a uontade, isto é: devo e do Adolescente -Arts. 3°, 7°.
 proceder sempre de maneira que eu Leí nº 10.741/03 - Estatuto do Idoso
 possa querer também que a minba
-Art. 3°.
 máxima se torne uma lei universal.
 (KANT, Immanuel. Pundamentacdo JURISPRUDENCIA
 da metafísica dos costumes. (Trad. ( ... ) Se o pai nao alimenta, nao dá
 Paulo Quintela. Sao Paulo: Edícóes amor, é previsível a deformacáo da
 70, 2007, p. 32-33. (Colecáo Textos prole. Isso pode acontecer, e acon-
 Filosóficos). tece, com famílias regularmente
Nao se pode abrigar ninguém a amar constituídas. Nao se trata de aferir
34
� ABANDONO AFETIVO
 humilhacóes no decorrer do tempo. xou a cabeca sobre o carrinho por
 Ninguém é abrigado a amar o ou- um décimo de segundo, ergueu-se e
 tro, ainda que seja o próprio filho. disse para ela: 'Um bebe lindo. Boa
 Nada obstante, a situacáo é previsí- sorte com ele.'
 vel, porém, no caso da familia cons- Em seguida entrou na casa. Podía
 tituída, ninguém, só por isso, requer muito bem estar falando sobre o
 - ' .
 a separacao, acorre que, na especie, bebe de algum estranho, que viu na
 o abandono material e moral, é ati- fila do supermercado. Durante o res-
 tude consciente, desejada, ainda que to de sua visita naquele día, meu pai
 obstada pela defesa do patrimonio, nao olhou para Daniel, e nem urna
 em relacáo aos outros filhos - o afas- vez sequer pediu para segurá-lo."
 tamento, o desamparo, com reflexos
 na constiruicáo de abalo psíquico, é (AUSTER, Paul. A inuencdo da
 que merecem ser ressarcidos, <liante soliddo, Traducáo de Rubens
 do surgimento de nexo de causali- Fígueiredo. Sao Paulo: Companhia
 dade. (Ap. Cível nº 511.903.4/7, Rel. das Letras, 1999. p. 26-27).
 Des. Caetano Lagrasta, 8ª CDP -
 TJSP. j. 12/03/2008). LINGUAGEM POÉTICA
 Quando, seu moco / Nasceu meu
LINGUAGEM LITERÁRIA rebento /Nao era o momento/
 "Após meu próprio filho nascer, Dele rebentar I Já foi nascendo /
 pensei: sem dúvida, isso vai deixá-lo Com cara de fome I E eu nao tinha
 contente. Todo homem nao fica con- nem nome I Pra lhe dar/ Como fui
 tente ao se tornar avo? levando/ Nao sei lhe explicar/
 Eu quería ver meu pai todo bobo Fui assím levando/ Ele a me levar/
 <liante do bebe, para que assim me E na sua menínice / Ele um día me
 desse urna prova de que ele, afinal, disse /Que chegava lá /
 era capaz de demonstrar algum sen- Olha aí! Olha aí!
 timento - de que ele afinal, tinha sen-
 timentos do mesmo jeito que as ou- Olha aí! / Ai o meu guri, olha aí! I
 tras pessoas. E, se pudesse mostrar Olha aí! / É o meu guri e ele chega!
 afeicáo por seu neto, nao seria tam-
 bém urna forma índireta de mostrar Chega suado / E veloz do batente /
 afeicáo por mim? A gente nunca para Traz sempre um presente/ Pra me
 de cobicar o amor do pai, mesmo de- encabular /Tanta corrente de ouro /
 pois de adultos. Seu moco! / Que haja pescoco /
 [ ... ] Daniel tínha apenas duas sema- Pra enfiar / Me trouxe urna bolsa /
 nas quando meu pai pos os olhos Já com tudo dentro I Chave,
 nele pela primeira vez. [ ... ] Meu pai caderneta / Terco e patuá / Um
 estacionou seu carro, viu mínha es- lenco e urna penca / De documentos
 posa por o bebe no carrinho para I Pra finalmente/ Eu me identificar/
 cochilar e veio dar urna espiada. Bai- Olha aí! ( ... )
 35
�ABANDONO DA FAMÍLIA
 Chega no morro / Com dos constitucionalmente ao cidadáo,
 carregamento I Pulseira, cimento / Basta atentar que, em se tratando de
 Relógio, pneu, gravador /Rezo até criancas e de adolescentes, atribuí­
 é
 ele chegar / a
 do primeiro a família, depois socie­
 Cá no alto / Essa onda de assaltos / dade e finalmente ao Estado o dever
 T á um horror/ Eu consola ele/ de garantir com absoluta prioridade
 Ele me consola /Boto ele no colo/ os direitos inerentes aos cidadños
 Pra ele me nínar / De repente acordo em [ormacdo (Art. 227, CR). Impor
 / Olho pro lado/ E o <lanado já foi aos país o dever de assisténcia aos
 trabalhar / Olha aí!( ... } filhos decorre do principio da soli­
 dariedade (Art. 229, CR). O dever de
 Chega estampado I Manchete, amparo as pessoas idosas dispbe do
 retrato / Com venda nos olhos mesmo conteúdo solidário, (DIAS,
 / Legenda e as inicíais / Eu nao Maria Berenice. Manual de direito
 entendo essa gente I Seu moco! / das famílias. 9. ed. Sao Paulo: Revis-
 Fazendo alvoroco demais / O guri ta dos Tribunais, 2013. p. 69).
 no mato/Achoque tá rindo/ Acho
 que tá lindo / De papo pro ar / DISPOSITIVOS NORMATIVOS
 Desde o comeco eu nao disse / Seu CR-Arts. 1°, 3°, 226, 227, 229 e 230.
 moco! /Ele disse que chegava lá / CCB -Arts. 186, 927, 1.634.
 Olha aí! Olha aí! CP - Art. 133, 134.
 Lei n? 10.741/03 - Estatuto do Idoso
 (Meu guri ­ Letra e música de Chico -Art. 3°.
 Buarque}. Lei nº 8.069/90- Estatuto da Crianca
 e do Adolescente -Arts. 3°, 7°.
ILUSTRA<;AO
 Ana Cristina Branddo, P. 33. ABANDONO DA HERANc;A [ver tb.
 cessáo de direitos hereditários, re­
ABANDONO DA FAMÍLIA [ver tb. náncia a herans:a] ­ E' o ato irrevo-
 abandono afetiuo, abandono mate­ gável por meio do qual o herdeiro,
 rial, abandono intelectual] ­ Aban- unilateral e, expressamente, por ins-
 donar material, afetiva e psicolo- trumento público ou termo judicial,
 gicamente, cóniuge, companheiro, renuncia a heranca a que tem direito.
 parentes e familiares, sejam biológi- Trata-se de ato de disposicáo patri-
 cos ou socioafetivos que necessitam monial, senda assim, o herdeiro <leve
 I
 de cuidados especiais. E urna ofensa ser capaz para tanto.
 ao princípio da solidariedade, regen- O abandono da heranca nao pode ser
 te das relacóes familiares. A lei, ao parcial, exceto quando o herdeiro,
 gerar deveres recíprocos entre os in­ simultáneamente, recebe heranca e
 tegrantes do grupo familiar, safa­se legado. Neste caso, pode optar por
 o Estado do encargo de prover toda renunciar a ambos ou somente a um
 a gama de direitos que sao assegura­ deles.
36
� ABANDONO DE INCAPAZ
O herdeiro renunciante é considerado de pessoas incapazes. As penas cami-
 inexistente para todos os efeitos, o nadas aumentam de um terco quan-
 que nao se confunde com o estado do o abandono acorrer em lugar
 de pré-rnorto, ou seja, a renúncia ermo, ou se o agente for ascendente
 apaga toda a sua linha sucessória ou descendente, cónjuge, irmáo, tu-
 da ordem de vocacáo hereditária. tor ou curador da vítima, e, por fim,
 Portanto, seus descendentes nao po- se a vítima for maior de 60 anos de
 deráo herdar por estirpe nesta hipó- idade (Art. 133, § 3°, CP).
 tese. O abandono de filho pode causar a
o abandono da heranca nao pode se perda da autoridade parental/poder
 dar "em favor de alguém", o que familiar, desde que configurado por
 seria urna cessáo de direitos here- urna atitude omíssiva de um ou de
ditários. Caso o herdeiro tenha a ambos os país, que deixarem de de-
 intencáo de contemplar terceiro sempenhar seus deveres para com
 como que lhe caberia, deverá acei- os filhos. O poder familiar constituí
 tar sua quera-parte e, em seguida, verdadeiro dever dos país, a quem
 doá-la. incumbe dirigir a criacáo e educa-
Caso a renúncia a heranca prejudique s;ao dos filhos: Compete aos pais,
 credores do herdeiro, estes poderáo a
 quanto pessoa dos filhos menores:
 aceitá-la em seu nome. Quando há I ­ dirigir­lbes a criacdo e educacáo;
 renúncia ou abandono de heranca, II ­ té­Los em sua companhia e guar­
 a parte que caberia ao renunciante da; III ­ conceder­lhes ou negar­lhes
 volta ao monte-mor para ser distri- consentimento para casarem; IV ­
 buída entre os outros coerdeiros. A nomear­lhes tutor por testamento
 renúncia nao admite condicáo, ter- ou documento auténtico, se o outro
 mo ou encargo e retroage a abertura dos pais nao Lhe sobreuiuer, ou o
 r
 da sucessáo. E o mesmo que repúdio sobrevivo nao puder exercer o po­
 a heranca, der familiar; V ­ representá­los, até
 aos dezesseis anos, nos atos da vida
DISPOSITIVOS NORMATIVOS civil, e assisti­los, após essa idade,
 CCB - Arts. 1.806, 1.808, 1.812, nos atos em que forem partes, su­
 1.813. prindo­lhes o consentimento; VI ­
 reclamá­los de quem ilegalmente os
ABANDONO DE INCAPAZ [ver tb. detenha; VII ­ exigir que Lhes pres­
 abandono, afetivo e abandono mate­ tem obediéncia, respeito e os servi­
 rial] ­ E o ato ou condura de abando- ros proprios de sua idade e condidio
 nar pessoa que está sob sua guarda, (Art. 1.634, CCB). No mesmo senti-
 cuidado, vigilancia ou autoridade, do, o Estatuto da Crianca e do Ado-
 e, por qualquer motivo, incapaz de lescente preve que aos pais incumbe
 defender-se dos riscos resultantes do o dever de sustento, guarda e educa­
 abandono. O art. 133 do Código Pe- rao dos filhos menores, cabendo­lhes
 nal tipifica como delito o abandono ainda, no interesse destes, a obriga­
 37
�ABANDONO DO LAR
 fªº de cumprir e [azer cumprir as de­ caracterizar a impossibilidade da co-
 terminaciies judiciais (Art. 22, Lei nº munháo de vida do casal. Os pres-
 8.069/90). supostos para sua caracterizacáo
A destiruicáo do poder familiar é a é que seja por parte do cónjuge ou
 sancáo mais grave imposta aos pais. companheiro, voluntário e duran-
 Perderá por ato judicial o poder fa­ te um ano contínuo. Está elencado
 miliar o p ai ou a rnde que: 1 ­ castigar entre um dos deveres do casamento
 imoderadamente o fi.lho; 11 ­ deixar o (Art. 1.566, 11, CCB).
 filbo em abandono; 111 ­ praticar atos Em 2011, a Leí nº 12.424/11 trouxe
 a
 contrários moral e aos bons costu­ nova modalidade de perda da pro-
 mes; IV ­ incidir, reiteradamente, nas priedade por abandono do lar, pre-
 faltas previstas no artigo antecedente vendo que se um dos cónjuges deixar
 (Art. 1.638, CCB). o lar conjugal por dais anos ininter-
 ruptos, caracterizando abandono da
JURISPRUDENCIA família, perde o seu direito de pro-
 ( ... ) Restando demonstrado o aban- priedade sobre o bem que era resi-
 dono de menor por sua genitora, dencia do casal. Apesar de aparente-
 que, ao entregá-lo aos cuidados mente fazer ressurgir a discussáo de
 de terceiros, deixa de lhe prestar culpa pelo fim da conjugalidade, a lei
 os necessários cuidados, carinho e nao tem essa intencáo, nao diz isso
 atencáo indispensáveis ao seu de- e nao <leve ser interpretada assim.
 senvolvimento saudável, em total Quando ela menciona abandono do
 descumprimento de suas obrigacóes lar, quer dizer simplesmente que o
 inerentes a maternidade, a perda de cónjuge nao se responsabilizou pela
 seu poder familiar é medida que se família. E se assim o fez, <leve res-
 irnpóe. Preenchidos os requisitos ponder na vida pela sua irresponsa-
 do art. 1.618 e seguintes do Códi- bilidade, com a perda da proprieda-
 go Civil/2002, e art. 40 e seguintes de. E' justo. lsto nao significa discutir
 do ECA, o deferimento da adocáo culpa, até porque, após a EC 66/10,
 de menor áqueles que sempre lhe ela ficou extirpada do nosso ordena-
 prestaram, e continuam prestando, mento jurídico.
 toda assisténcia material e afetiva é Aquele que nao desejar mais ficar ca-
 medida que se impóe. (Ap. Cível nº sado, ou manter a uniáo estável, e
 1.0097.07.001019-0/001, Rel. Des. quiser sair de casa, <leve fazé-lo com
 Elias Camilo, 3ª CC - TJMG. j. responsabilidade. O abandono do
 28/01/2010). lar pode ser facilmente descaracte-
 rizado com algum registro, formal
ABANDONO DO LAR [ver tb. usuca­ ou informal, desta intencáo ou de-
 pido familiar] ­ Deixar o lar conju- sejo pelo fim da conjugalidade. Um
 gal, sumir, desaparecer sem deixar simples registro ou formalizacáo da
 notícias. Deixar a familia sem assis- separacáo de fato e de carpos pode
 téncia. E' um dos motivos que pode descaracterizar o abandono do lar
38
� ABANDONO INTELECTUAL
 e, consequentemente, o usucapiáo presenca, última luz na varanda, a
 familiar. todas as aflicóes do dia.
 Sentia falta da pequena briga pelo
 A
JURISPRUDENCIA sal no tomate - meu jeito de querer
 ( ... ) Violacáo dos deveres conjugais bem. Acaso é saudade, Senhora? As
 e condura desonrosa. Abandono do suas violetas, na janela, nao lhes
 lar e adultério. ( ... ) Nao reconheci- poupei água e elas murcham. Nao
 mento da culpabilidade imputada tenho botáo na camisa. Calco a meia
 ao réu. Ruptura do vínculo conso- furada. Que fim levou o saca-rolha?
 lidada na insuportabilidade da vida Nenhum de nós sabe, sem a Senhora,
 em comum. Ausencia de relevo ou conversar com os outros: bocas rai-
 consequéncia jurídica. ( ... ) o pensa- vosas mastigando. Venha para casa,
 mento jurídico coeso nao vem con- Senhora, por favor."
 ferindo valia a busca da inculpacáo
 pelo insucesso das relacóes conju- (TREVISAN, Dalton. Apelo. In:
 gais, considerando mesmo a eventual Mistérios de Curitiba. Rio de J anei-
 transgressáo aos deveres inerentes do ro: Record, 1979. p. 73).
 casamento, fruto do seu desgaste na-
 tural. (Ap. Cível nº 5406312006 BA ABANDONO INTELECTUAL [ver tb.
 54063-1/2006, Rel. Des. Edmilson Ja- abandono afetivo] ­ Caracteriza-se
 tahy Fonseca Junior, 2ªCC - TJBA. pela negligencia de quem tem o po-
 j. 17/03/2009). der famí.liar/autoridadeparental e/ou
 a guarda, em relacáo a educacáo da
LINGUAGEM LITERÁRIA crianca ou adolescente, deixando-a
 "Amanhá faz um mes que a Senho- sem acesso a instrucáo OU escola de
 ra está longe de casa. Primeiros dias, ensinamentos básicos. E' um tipo pe-
 para dizer a verdade, nao senti falta,
nal prescrito no art. 246 do Código
 bom chegar tarde, esquecido na con- Penal, que se configura por deixar,
 versa de esquina. Nao foi ausencia sem justa causa, de prover a instru-
 por urna semana: o batom ainda no \'.ªº básica de filho em idade escolar.
 lenco, o prato na mesa por engano, a Pode ser descaracterizado, caso o
 imagem de relance no espelho. Poder Público nao disponha de esco-
 Com os dias, Senhora, o leite pela las, ou caso nao haja vagas para ma-
 primeira vez coalhou. A noticia de tricular os menores naquela regiáo.
 sua perda veio aos poucos: a pilha Neste caso, o Ministério Público, na
 de jornais ali no chao, ninguém os condicáo de defensor dos incapazes,
 guardou debaixo da escada. Toda a <leve providenciar medidas para se
 casa era um corredor deserto, até o cumprir o ditame constitucional de
 canário ficou mudo. Nao dar parte direito a educacáo das enancas e
 de fraco, ah, Senhora, fui beber com adolescentes.
 os amigos. Urna hora da noite eles se A negligencia dos pais, quanto a edu-
 iam. Ficava só, sem o perdáo de sua cacáo dos filhos, pode resultar na
 39
�ABANDONO MATERIAL
 destituicáo do poder familiar, que CCB - Arts. 1.634, 1.638.
 se constitui como essencial dever Leí nº 8.069/90 - Estatuto da Crianca
 do pais, que devem se incumbir de e do Adolescente - Arts. 3°, 4°, 5°, 7°,
 dirigir a criacáo e educacáo dos fi- 22, 33.
 lhos, manté-los em sua companhia e
 guarda, representá-Ios na vida civil, JURISPRUDENCIA
 reclarná-los a quem ilegalmente os ( ... ) Indemonstrado o elemento sub-
 detenha, e exigir que prestem obedi- jetivo do tipo penal, qual seja, o dolo
 encia, respeíto e servicos próprios da de deixar, sem justa causa, de prover
 idade (Art. 1.634, CCB). No mesmo a insrrucáo primária das filhas de 14
 sentido, o Estatuto da Crianca e do e 16 anos de idade, sem o qual nao
 Adolescente preve que aos país in- se concretiza a conduta incrimina-
 cumbe o dever de sustento, guarda e da, impositiva a absolvicáo da ré.
 educacáo dos filhos menores, caben- Recurso provido. (RC 71004094371
 do-lhes, ainda, no interesse destes, a RS, Rel.ª Des.ª Cristina Pereira Gon-
 obrigacáo de cumprír e fazer cum- zales. TRC-TJRS. j.17/12/2012).
 prir as determinacóes judiciais (Art.
 22, ECA). ABANDONO MATERIAL [ver tb. Es­
 ,
A destituicáo do poder familiar é a tatuto do ldoso] ­ E o abandono de
 sancáo mais grave imposta aos país, menores, idosos ou incapazes pelo
 só devendo acorrer naqueles casos pais, tutores, curadores, ou de quem
 em que comprovados a falta, omis- tenha a guarda dos filhos, ou respon-
 sao ou abuso em relacáo aos filhos. sável por sustentá-los materialmen-
 Perderá por ato judicial o poder fa­ te, deixando de prestar alimentos.
 miliar o pai ou a mde que: 1 ­ castigar O abandono material, além de ca-
 imoderadamente o filho; 11 ­ deixar o racterizar atos que autorizem mu-
 filho em abandono; 111 ­ praticar atos danca de guarda, restricáo de visitas/
 contrários a moral e aos bons costu­ convivencia familiar e até mesmo a
 mes; IV ­ incidir, reiteradamente, nas destituicáo do poder familiar, é um
 faltas previstas no artigo antecedente tipo penal inscrito no art. 244 do Có-
 (Art. 1.638, CCB). digo Penal: Deixar, sem justa causa,
O abandono intelectual, além de con- de prover a subsisténcia do conjuge,
 duta tipificada como crime, pode ser ou de filho menor de 18 (dezoito)
 também um elemento caracterizador anos ou inapto para o trabalho, ou
 do abandono afetivo, que por sua vez de ascendente inválido ou maior de
 significa e cornpóe o quadro da irres- 60 (sessenta) anos, nao lhes propor­
 ponsabilidade dos país em relacáo a cionando os recursos necessários ou
 criacáo e educacáo de seus filhos. faltando ao pagamento de pensáo
 alimentícia judicialmente acordada,
DISPOSITIVOS NORMATIVOS fixada ou majorada; deixar, sem jus­
 CR-Arts. 227 e 229. ta causa, de socorrer descendentes ou
 CP -Arts. 246 e 247. ascendentes, gravemente enfermo.
40
� ABANDONO MATERIAL
Diferentemente do abandono moral ou contribuir para o sustento da vítima.
 intelectual, significa deixar de dar as- Na esfera cível, o nao pagamento de
 sisténcia, ou recusa a prestar auxílio pensáo alimentícia fixada, judicial-
 material a quemé seu dependente, ou mente, pode incidir em prisáo civil.
 a quem devia pagar alimentos, seja Na esfera penal, <leve ficar dernonstra-
 parente, cónjuge ou companheiro. da a intencáo de negligenciar a pres-
 O abandono material, para configu- tacáo alimentar sem justa causa, ou
 racáo do tipo penal, <leve apresentar seja, a vontade livre e egoísta de dei-
 tres pressupostos: o objetivo, que é a xar de prover a subsistencia de seus
 omissño/neglígéncia de sustento de dependentes, pois o mero inadimple-
 dependente do agente; o subjetivo, mento da verba alimentar, sem de-
 ou seja, o dolo movido pela inten- monsrracáo desses pressupostos, nao
 crao de negligenciar o sustento; e, por configura o tipo.
 fim, o normativo, que é a ausencia de
 justa causa sobre a acáo contrária ao JURISPRUDENCIA
 ordenamento jurídico. A tipicidade ( ... ) deixar de implementar pensáo
 pode ser afastada se provada a con- alimentícia é ilícito civil e o que o
 creta impossibilidade económica de difere do ilícito penal é justamente
�ABANDONO MORAL
 o dolo, vontade livre de nao pagar, caracterizado o abandono moral,
 sem justa causa, ou seja, mesmo po- além da repercussáo criminal (Arts.
 dendo fazé-lo. A caracterizacáo do 246 e 247, Código Penal), tém-se as
 tipo penal exige que se demonstre consequéncias civis da destituicáo do
 que a conduta de nao pagar a pen- poder familiar, perda da guarda, ou
 sao alimenticia foi realizada por al- mesmo reparacáo civil.
 guém que, podendo implernentá-Ia,
 nao o faz sem causa que justifique DISPOSITIVOS NORMATIVOS
 a falta, o que nao foi demonstrado CR - Arts. 227 e 229.
 na incoativa, que se limita a afir- CCB - Arts. 1.634 e 1.638.
 mar que a ornissáo do ora paciente CP-Arts. 246 e 247.
 foi "sem justa causa". Ora, esse ele- Lei nº 8.069/90- Estatuto da Crianca
 mento nao está no tipo penal apenas e do Adolescente - Arts. 3°, 4°, 5°, 7°,
 como adorno, mas porque, como o 22, 23, 33 a 35.
 próprio nome está a indicar, é urna Lei nº 10.741/03 - Estatuto do Idoso.
 parte essencial e a acusacáo dele deve
 A
 se ocupar, demonstrando, em cada JURISPRUDENCIA
 caso concreto, o porque do nao pa- ( ... )Senda infrutíferas as buscas para
 gamento da pensáo, ou seja, se, pelos saber do paradeiro do genitor, re-
 fatos acorridos, há motivos justos gular a citacáo efetuada por edital,
 para o alimentante deixar de sol- na forma do art. 231, II, do CPC. 2)
 ver as prestacóes. ( ... ) Se assim nao Hipótese em que se justifica a desti-
 for, estar-se-á igualando os ilícitos ruicáo do genitor do poder familiar
 penal e civil, pois nao haverá mais relativamente ao filho menor, pasto
 diferenca entre eles, bastando que o que demonstrado o completo aban-
 alimentante
falte ao seu dever para dono moral, material e intelectual
 cometer um crime. (HC 141069 RS, por parte do pai, que deixou a fa-
 Rel.ª Min.ª Maria Thereza de Assis mília e nunca mais deu notícias. ( ... )
 Maura, 6ª T-STJ. pub. 21/03/2012). (Ap. Cível nº 70042975656, Rel. Des.
 Ricardo Moreira Lins Pastl, 8ª CC -
ILUSTRA\:ÁO TJRS. pub. 25/08/2011).
 Márcia Cbarnizon. P. 41.
 LINGUAGEM LITERARIA '
ABANDONO MORAL [ver tb. aban­ "Teria sido o orgulho ofendido que
 ,
 dono afetivo] ­ E o abandono dos aniquilara aquele coracáo de enanca
 pais ou de qualquer pessoa que te- ou foram os tres meses de sofrimentos
 nha o dever legal de prestar assis- causados pelo pai, que substituíra de
 téncia ao menor, idoso, ou incapaz. repente o seu amor por ódio, que a
 I
 E a falta de cuidado, negligencia do ofendera com urna pala vra de opró-
 pai, rnáe, tutor, curador em relacáo brio, que tripudiara sobre o seu medo
 as pessoas que estáo oficialmente e que, finalmente, se desfizera dela,
 sob sua responsabilidade. Urna vez deixando-a na rnáo de estranhos?
42
� ABERTURA DO TEST AMENTO
 Nao cessava de pensar em rudo isso, te transmitidos aos herdeiros, que se
 variando-o de mil maneiras. "Sabe verificarn neste momento, sem que
 o que Lisa significava para mim?" - para isso seja necessária qualquer
 lembrou-se de repente da exclamacáo formalizacáo,
 do bébado Trussótzki, e sentiu que
 aquela exclarnacáo nao constituía ABERTURA DO INVENTÁRIO É
 apenas manha, mas que era amor. o ajuizamento de acáo judicial ou a
 "Mas como pode esse monstro ser proposicáo de procedimento admi-
 tao cruel com a enanca que tanto nistrativo, em Cartório de Notas,
 ama va? Será possível?" Mas, de cada a fim de efetivar a transmissáo dos
 vez, apressava-se a rejeitar essa per- bens, díreitos e obrigacóes deixados
 gunta e parecia afastá-la coma máo, pelo de cujus. O processo de inventá-
 nessa pergunta havia algo terrível, rio e partilha <leve ser instaurado em
 algo que lhe era insuportável e ... in- 60 dias contados da abertura da su-
 decifrado." cessáo e <leve ser requerido por quem
 estiver na posse e administracáo do
 (DOSTOIÉVSKI, Fiódor. O eterno espólio.
 marido. Trad. Bóris Schnaiderman.
 Sao Paulo: Ed. 34, 2003. p. 114). ABERTURA DO TESTAMENTO [ver
 ,
 tb. testamento] ­ E o ato por meio
ABERTURA DA HERAN~ - É o do qual a autoridade judicial abre
 mesmo que abertura da sucessáo. o testamento, mandando registrar,
 verificando a regularidade formal e
ABERTURA DA SUCESSAO [ver tb. determinando o seu cumprimento.
 principio de saisine] ­ Também de- A expressáo "abertura de testamen-
 nominada abertura de heranca, é o to" embora se aplique a todo tipo de
 fenómeno jurídico que marca o mo- testamento, particular, público ou
 mento da marte do autor da heranca. cerrado, somente neste último caso
 A sucessáo mortis causa abre-se no é que ele é realmente aberto na pre-
 exato momento da marte, nao fican- senca do juiz e os herdeiros tomam
 do nenhum vazio entre o falecimento conhecimento do seu conteúdo. O
 do autor da heranca e a transmissáo particular e o público serño simples-
 dos bens, direitos e deveres aos su- mente entregues ao juízo, formando-
 cessores (Art. 1.784, CCB). se um processo para que seja deter-
A Lei de Registros Públicos (Lei nº minado o seu cumprimento, mas os
 6.015/73) determina que do assento herdeiros, na maíoria dos casos, já
 de óbito <leve constar dia, hora, mes térn acesso ao seu conteúdo antes
 e ano do falecimento (Art. 80), exata- mesmo de cumpridas as formalidades
 mente para que nao fique um vácuo de sua abertura. Da mesma forma se
 na transmissáo da heranca. A partir dá como codicilo. O jurista parana-
 desse momento, os direitos e obriga- ense, Zeno Veloso, urna das maiores
 cóes do morto sao instantaneamen- autoridades no assunto, ensina que
 43
�AB INTESTA TO
 é um equívoco falar em abertura de ca faleceu sem deixar testamento e
 testamento, já que de fato nem todo por isso seus herdeiros recebem todo
 testamento passa por um procedi- o acervo hereditário, que se transmi-
 mento de abertura, mas apenas sao tirá de acordo com as regras da su-
 apresentados ao juiz com a morte do cessáo legítima, ou seja, pela ordem
 testador (VELOSO, Zeno. Comentá­ de vocacáo hereditária estabelecida
 rios ao Código Civil. Sao Paulo: Sa- em leí. Morrendo a pessoa sem testa­
 raiva, 2003, v 21. p. 337). mento, transmite a beranca aos her­
 deiros Legítimos; o mesmo ocorrerá
JURISPRUDENCIA quanto aos bens que nao forem com­
 ( ... ) No procedimento de jurisdicáo preendidos no testamento; e subsiste
 voluntária de abertura de testamen- a sucessdo Legítima se o testamento
 to, cabe ao juiz, após análise da do- caducar, ou far juLgado nulo (Art.
 cumentacáo apresentada, com a ve- 1.788, CCB).
 rificacáo da regularidade formal do
 testamento, ou seja, a mexistencia
 • • • A •
 ABRIGO DE MENORES [ver, tb. aco­
 de vícios extrínsecos, a homologa- lhimento institucional] ­ E o local
 s:ao, por sentenca, da declaracáo de onde se recolhem provisoriamente
 última vontade e a deterrninacáo do criancas ou adolescentes como medi-
 seu cumprimento, na forma dos arts. da de protecáo prevista no Estatuto
 1.126 e 1.128 do CPC. Sendo assim, o da Crianca e do Adolescente (Art.
 pedido de nulídade do testamento, se 101, VII, Leí nº 8.069/90). A Lei nº
 fundado em defeitos intrínsecos, re- 12.010/09 substituiu esta expressáo
 lativos a forrnacáo e rnanifestacáo de por "Acolhimento Institucional".
 vontade do testador, deverá ser apre-
 ciado em acáo própria, a ser propos- JURISPRUDENCIA
 ta a tempo e modo. Impóe-se, pois, Medida protetiva. Abrigamento de
 a negativa de seguimento a apelacáo, menor. Obrigacáo do município.
 movida contra a decisáo que horno- Multa. Cabimento. l. O Município
 logou, por senrenca, a declaracáo de tem a obrigacáo legal de implantar
 última vontade nos autos do pedido políticas assistenciais de protecáo
 de abertura de testamento, por ser jurídico-social, cumprindo-lhe as-
 rnanifestamente improcedente. (Agi. segurar o abrigamento de enancas
 nº 1.0521.09.089.985-2/002, Rel. Des. e adolescentes em situacáo de risco.
 Eduardo Andrade, 1ª CC - TJMG. 2. Mostra-se descabida a negativa
 pub. 22104/2010). da instituicáo acolher em abriga-
 mento a menor que se encontra em
AB INTESTATO [ver tb. sucessdo Le­ situacáo de risco pela prática de ato
 gítima] ­ Expressáo em latím que infracional, sob o argumento de que
 I
 significa sem testamento. E utilizada
colocaría em risco os demais meno-
 para informar que o autor da heran- res acolhidos, eis que ao Município
44
� A(,AO DE INVESTIGA(,AO DA PATERNIDADE
 cabe manter o abrigo em condicóes de idade avancada e com todas as
 de receber os menores ( ... ) (Ag. nº características de um estado senil,
 70050712223 RS, Rel. Des. Sérgio pratica o delito de abuso de incapaz,
 Fernando de Vasconcellos Chaves, quem a induz a outorgar-lhe escri-
 7ª CC-TJRS. j. 21/11/2012). tura de im6vel de sua propriedade
 (Tacrim/SP - HC - Rel. Rocha Lima
 I
ABUSO DE INCAPAZ - E o ato pelo - RT 462/367). (Ap. Criminal nº
 qual se induz menores ou incapazes, 0116/2005- Processo: 2005305392,
 abusando de sua inexperiencia e in- Rel.ª Des.ª Célia Pinheiro Silva Me-
 genuidade, ludibriando-os a praticar nezes, Cámara Criminal do TJSE. j.
 atas que produzem efeitos jurídicos, 23/05/2006).
 causando prejuízos a esses incapa-
 zes ou a terceiros. E' um tipo penal A~AO DE INVESTIGA~O DA PA-
 previsto no art. 173 do Código Pe- RENTALIDADE [ver tb. inuestigacdo
 nal: Abusar, em proueito proprio de ascendéncia genética, inuestigacdo
 ou alheio, de necessidade, paixdo de paternidade e multiparentalidade
 I
 ou inexperiencia de menor, ou da socioafetividade] ­ E o procedimen-
 alienacdo ou debilidade mental de to judicial para saber quem é o pai,
 outrem, induzindo qualquer deles a a máe ou outro parente, independen-
 prática de ato suscetiuel de produzir temente da origem genética, país o
 efeito jurídico, em prejuizo próprio parentesco pode decorrer também
 ou de terceiro: Pena ­ reclusáo, de da socioafetividade. O parentesco é
 dois a seis anos, e multa. natural ou civil, conforme resulte de
 consangüinidade ou outra origem
JURISPRUDENCIA (Art. 1.593, CCB).
 ( ... ) Nao é necessário que o agente O reconhecimento do estado de filia-
 críe ou estimule a paixáo, basta que s;ao é um direito personalíssimo, in-
 a explore. A condura é a de induzir, disponível e imprescritível (Art. 27,
 ou seja, convencer, persuadir, levar Lei nº 8.069/90).
 a vítima a pratica de ato capaz de Na acáo de investígacáo de parenta-
 produzir efeitos jurídicos, pouco lidade, a sentenca declara o vínculo
 importando se o agente se utiliza de de parentesco e determina, ou nao, a
 artificios ou ardís ou nao. Exige-se consequente alteracáo nos registros
 apenas, que os meios sejam idóneos, públicos de nascimento. A investiga-
 hábeis a enganar. Necessário é que s;ao de parentalidade é o genero das
 o ato possa produzir efeito jurídico, espécies investigacáo de paternidade,
 revelando ser indispensável a exis- investigacáo de maternidade e inves-
 tencia, ao menos, de um prejuízo tigacáo de origem genética.
 potencial (in Manual de Direito Pe-
 nal, p. 307). Nesse sentido: Haven- DISPOSITIVOS NORMATIVOS
 do sérias e fundadas dúvidas quanto CCB - Arts. 230, 231, 232, 1.593,
 a sanidade mental da vítima, pessoa 1.596 a 1.617.
 45
�A<;Ao DE PRESTA<;Ao DE CONTAS
 Lei nº 8.560/92. miliar. ( ... ) (REsp. nº 1.229.044 SC,
 Lei nº 8.069/90 - Estatuto da Crianca Relª Minª Nancy Andrighi, 3ª T -
 e do Adolescente -Art. 27. STJ. j. 04/06/2013).
 Súmulas STJ: 1, 277, 301e383.
 A~O DE PRESTA~O DE CONTAS
JURISPRUDENCIA - Ver prestacáo de contas.
 ( ... ) No campo da investigacáo da
 parentalidade, almeja-se o reconhe- Ac;ÁO DE SONEGADOS [ver tb.
 cimento do estado de filiacáo, nao bens sonegados, sonegados, sobre­
 havendo prevalencia necessária do partilha] ­ E' a acáo audicial que se
 laco biológico, podendo estabelecer processa pelo rito ordinário, pro-
 a condicáo paterno-filial por forca posta em razáo da sonegacáo de
 de um vínculo genético ou socioa- bens que deveriam ter sido levados a
 fetivo, a depender do caso concre- inventário e, maliciosamente, ocul-
 to. De outra banda, no ámbito da tados. Ela pode ser proposta pelos
 investigacáo de origem ancestral, o herdeiros, ou credores, contra o in-
 objetivo é mais simples e o objeto ventariante, co-herdeiros ou quem
 cognitivo do processo mais estreito: tenha retirado da heranca bens em
 tao somente estabelecer a origem prejuízo dos herdeiros ou credores.
 genética de alguém, independente- Além da obrigacáo de devolver a he-
 mente de ter sido, ou nao, estabe- ranca o bem sonegado, perde o di-
 lecido o vínculo filiatório. Em situ- reito que lhe cabia sobre aquele bem
 acóes como a dos autos, há que se (Art. 1.992, CCB).
 ter em mente que a fragilidade e a
 fluidez dos relacionamentos entre DISPOSITIVOS NORMATIVOS
 os seres humanos nao deve perpas- CCB - Arts. 1.992 a 1.996.
 sar as relacóes entre pais e filhos,
 A
 as quais precisam ser perpetuadas JURISPRUDENCIA
 e solidificadas. Em contraponto a ( ... ) A existencia de dolo é irnanente
 instabilidade dos vínculos advin- ao instituto da sonegacáo, razáo pela
 dos dos relacionamentos amorosos qual a inrencáo de ocultacáo dos
 ou puramente sexuais, os laces de bens pelo inventariante é pressupos-
 filiacáo devem estar fortemente as- to para aplicacáo da pena de perda
 segurados, em atencáo ao interesse do direito sobre os bens sonegados, a
 maior da enanca. A vista desses ar- qual nao se aplica, pois, nos cornpor-
 gumentos, é inaceitável que alguém, tamentos culposos, como os decor-
 publicamente, se declare pai, cons- rentes de omissáo involuntária, erro,
 ciente de que nao o é, e, quando o ignorancia etc. - Nao demonstrado
 amor pela máe da crianca acaba, o dolo da inventariante em ocultar
 simplesmente desista de se-lo, va- bens, no intuito deliberado de frau-
 lendo-se da inexistencia do vínculo dar o inventário e se beneficiar em
 biológico e da falta de convívio fa- prej uízo dos demais herdeiros, nao se
46
� ACEIT A(,ÁO PRESUMIDA DA HERAN(,A
 vislumbra a aplícacáo da sancáo de sa manifestar a aceitacdo para que
 sonegacáo, prevísta na parte final do ocorra a transmissdo. A aquisicáo da
 art. 1.992 do ce, cabendo, contudo, heranca tácita e se dá no momento
 é
 a sobrepartilha dos bens do falecido da marte do de cujus. A leí simples­
 ainda nao partilhados. (Ap. Cível nº mente assinala que a transmissdo é
 1.0518.11.012053-3/001, Rel.ª Des.ª. definitiva desde a abertura da suces­
 Ana Paula Caixeta, 4ª CC-TJMG. sao. A heranca deferida ao herdeiro
 é
 pub. 28/08/2013). com a ocorréncia da morte. Apenas
 éfacuitada a possibilidade de renun­
ACEITA9\0 DA HERAN~ [ver tb. ciar. Ou seja, a transmissáo acorre,
 abertura da sucessiio, aceitacdo mas está sujeita a condicáo resoluti­
 expressa, aceitacdo presumida, va: a renúncia. (DIAS, Maria Bereni-
 aceitacdo tácita, adiyao de heran­, ce. Manual das sucessiies. 2. ed. Sao
 ya, deladio, renúncia, saisine] ­ E Paulo: Revista dos Tribunaís, 2011.

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