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RODRIGO DA CUNHA PEREIRA DICIONÁRIO DE DIREITO DE FAMÍLIA ,...,, E SUCESSOES 11t1sfratlo V> o z<( o•saraiva � DICIONÁRIO DE DIREITO DE FAMÍLIA ,..., E SUCESSOES b ' �O conteúdo desta edi9ao guarda absoluta lidelidade aos arquivos eletrónicos fornecidos a Editora pelo autor da obra, sob cuja responsabilidade ficaram os trabalhos de diagrama9iio. revlsáo e capa. O projeto gráfico e a diaqrarnacáo foram feitos por Alexandre Cardoso, a revísáo do texto foi feita por Cybele Maria de Souza e a capa foi desenvolvida por Bruno Santos. � RODRIGO DA CUNHA PEREIRA Advogado, Doutor (UFPR) e Mestre (UFMG) em Direito Civil Presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM DICIONÁRIO DE DIREITO DE FAMÍLIA - E SUCESSOES ilvsfratlo Vl o z 4: o•saraiva �f\1.Edltora ISBN 978·85·02·62285·2 \.--" Saraiva Rua ffenñque Schaumann, 270, (erqueira Césnr - SOo Paulo - SP CEP 05413-909 PABX: (11) 3613 3000 Pereira, Rodrigo da Cunha SAC: 0800 011 7875 De 21a 6'-, das 8:30 os 19:30 Dicionario de direito de farnília e sucessños : Llustrado I www.editorasaraiva.rom.br/contato Rodrigo da Cunha Pcreíra. - Sao Paulo : Saraiva, 201 ;, 1. Ditcito cil'il- Legislaeño -13rasil 2. Direito das sucessóes - Brasil 3. Direito de familia - Brasil l. Título. Produroo gráfica Mooi Rompim CDU-347.65(81) Indices poro catálogo sistemático: l. Brasil : Direito das sucessñes : Direito civil 347.65(81) 2. Brasil : Dircito de família : Dircito civil 347.6(81) Data de fechamento da edi~o: 10-11-2014 Dúvidas? Acesse www.editorasaraiva.eom.br/direito Nenhuma parte desta publicacáo poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorizacáo da Editora Saraiva. A violacáo dos direitos autorais crime estabelecido na é Leí n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. l 139.618.001.001 1 � Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um des canso na loucura. Guirnaráes Rosa �Ilustra~ao: R.ona/do Fraga �ARTISTAS CONVIDADOS Adriana Silveira Adriana Tavares Agnes Farkasvolgyi Alexandre Rousset Alexsandro Palombo Ana Cristina Brandáo Andrea Lanna Claudia Renault Grace Camargos Letícia Grandínetti Marcelo Drummond Márcía Charnizon Marco Túlio Resende Marcos Hill Mário Zavagli Máximo Soalheiro Niura Bellavina Nydia Negromonte Ronaldo Fraga Rubem Grillo Sabrina Ferrari Sérgio Lima �COLABORADORES Ana Carolina da Cunha Melgaco Caio Cesar Brasil Ferreira Cíntia Fribeiro Flávio Hermanny Filho Gabriela Alvarenga Kayano Kiko Ferreira Mariana Lima T onussi Barbosa Marina Magalháes Moraes Rómulo Francisco de Moura Mendes Ronner Botelho Soares �A Adriana Silveira, minha mulher e amante reúne todas as mulheres em urna só . . me inspira me tolera me ajuda a vencer as neuroses do día a dia e a ser mais feliz, com quem formei urna familia conjuga! edaí também urna família parental com Felipe, Tomás e Rafael. �ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS AC Apelacáo Cível Ac Acórdáo Adin As;ao Direta de inconstitucionalidade ADPF As;ao de descumprimento de preceito fundamental Ag Agravo Al Agravo de Instrumento A]G Assisténcia Judiciária Gratuita Ap. .. Apelacáo Art Artigo Arts Artigas BGB Código Civil Alernáo CC Ca mara Cível ele combinado com Cárn Cámara CCB Código Civil Brasileiro CDP Cámara de Direito Privado CEJA Cornissáo Estadual Judiciária de Adocáo CF Constítuicáo Federal CG] Corregedoria Geral de justica CFM Conselho Federal de Medicina CNJ Conselho Nacional de J ustica CP Código Penal CPB Código Penal Brasileiro CPC Código de Processo Civil CR Constituicáo da República Des Desembargador Des.ª Desembargadora DJ Diário de justica 15 � DJGO Díárío de justica de Goíás DJMS Díárío de justica do Mato Grosso do Sul DJPR Díárío de J ustica do Paraná DJRJ Díárío de J ustica do Río de J aneíro DJRS Díárío de J ustica do Río Grande do Sul DJSP Díárío de J ustica de Sao Paulo DJU Díárío de J ustica da Uniáo DNA Ácído Desoxírríbonucleíco DOU Díárío Oficíal da Uniáo ECA Estatuto da Crianca e do Adolescente ED Embargos Declaratóríos ED-REsp Embargos Declaratóríos em Recurso Especíal Eg Egrégío El Embargos Infríngentes HC Habeas Corpus IBDFAM Instituto Brasíleíro de Díreíto de Farnílía Inc Incíso J. . J ulgado JTJ Julgados do Tríbunal de justica LBF Leí do Bem de Famílía LD Leí do Dívórcío LINDB Leí de Introducáo as Normas do Díreíto Brasíleíro LRP Leí de Regístros Públicos M.M Merítíssímo Min. . Mínístro MP Minístérío Públíco MS Mandado de Seguranca NCCB Novo Códígo Cívíl Brasíleíro I • p pagina Proc Processo pub Publícado R Retro RBDFS Revísta Brasíleira de Díreíto das Famílias e Sucessñes RE Recurso Extraordinárío Rel. Relator Rel. a •.•••••••• Relatora REsp Recurso Especial RT Revísta dos T ríbunaís STF Supremo Tríbunal Federal STJ Superíor Tríbunal de justica T Turma TRF Tríbunal Regíonal Federal Unan. A u nan1me A • V Volume 16 � NOTA DO AUTOR Sempre gosteí de dícíonáríos. Desde pequeno. Seí que as palavras tempo- der. Maís tarde, mas nao muíto tarde, aprendí que além de significado, elas trazem consigo também um significante, isto é, para além do conceito a que elas corres- pondem, há também a representacáo psíquica do seu som, tal como nossos senti- dos as percebem e da forma como elas sao pronunciadas. O "Díccionário Ency- clopedico ou novo Diccionário de Língua Portuguesa - para uso dos portugueses e brasíleiros - enriquecido com um copioso vocabulário da língua brasílica e com outro da língua rupy", e o "Lello Universal- Diccionário Encyclopedico Luso-bra- sileíro", em quatro volumes, e com centenas de gravuras, herdado dos meus avós, abriram o meu universo e povoaram o meu imagínário na infancia e adolescencia, em Abaeté, urna cidade do interior de Minas Gerais. Ali eu já viajava através das palavras e encanta va-me com aquelas gravuras e ilustracóes, que remetía um sen- tido universalízante das coisas. Por meío dos dicionários pode-se saber e conhecer o significado de qualquer coisa. Sao as palavras em estado de dicionário, como dizia Carlos Drummond de Andrade. Acho melhor até que o Google. O dicionárío pode aplacar nossa ignorancia, por isso ele é conhecído e denominado em algumas regióes do Brasil, em tom de bríncadeíra, como o "paí dos burros". Longe já está ficando o tempo das enciclopédias. A era da globalizacáo e ínternet, nao apenas tem mudado as formas de cornunicacáo, como , tem revolu- cíonado as formas de obtencáo e apreensáo do conhecimento. E difícil encontrar alguém, hoje, do qual pode-se dizer que é urna "encíclopédía viva", como se dizia antigamente. Prímeiro, porque é cada vez mais difícil, para nao dizer impossível, alguém reunir tanto conhecimento sobre todos, ou quase todos os assuntos; segun- do, porque a própria palavra enciclopédia está caindo em desuso. Talvez porque o acesso ao conhecimento esteja cada vez mais específico e nas especialidades dos diversos ramos do saber. 17 � I E neste espirito da especificidade do saber que após trinta anos de exer- cício da advocacia, ou melhor de "clínica do Direito", que me autorizei a "cons- truir" um Dicionário de Direito das Familias e Sucessóes. Quis chamá-lo en- ciclopédico para que ele contivesse conhecimentos uníversais sobre urna área específica, mas mudei de ideia por achá-la pretensiosa demais. O Direito de Fa- milia contemporáneo é tao dinámico, e a vida o transforma tanto, que nao é I possível rnais torná-lo enciclopédico, no sentido de tudo saber. E um dicionário restrito a urna área, mas amplo e profundo naquilo que se prop6e. A ideia des- te dicionário, apesar da sua ousadia, é torná-lo um livro necessário para todos aqueles, especialistas ou nao, que precisarem transitar pelo Direito de Familia e Sucessóes, ou mesmo buscar urna simples inforrnacáo ou significado de algum termo ou expressáo deste ramo do conhecímento. Imagino que ele pode servir para todo mundo, pois todo mundo tem familia. E quem tem familia rem algum problema, cuja solucáo, rnuitas vezes está no Direito de Famílía e das Sucessóes, Sua formacáo conrém, além do conceito, elementos doutrinários, jurispruden- cia, dispositivos e referencias normativas e também um pouco de linguagem li- terária, poética ou música. A poesía, a literatura, a música popular brasileira e muitos filmes brasileiros ou estrangeiros dízem com suavidade, e melhor que ninguérn, sobre estas intrincadas relacóes familiares e sobre os restos do amor, que muítas vezes váo parar na justica. O Direito de Família está contido aí tam- bém. A partir do momento que o afeto tornou-se o grande vetar e catalisador da organizacáo jurídica da familia, o Direito de Familia, ou melhor, Direito das Familias, ganhou mais autenticidade e eticidade, a partir dos principios da dig- nidade humana, solidariedade e responsabilidade. Diante da ídeia e da proposta de aprofundamento dos significados e signi- ficantes das palavras, tornou-se imprescindível buscar ajuda em outros campos do conhecimento, além do uso de express6es do velho e necessário latim. A interdis- cíplínaridade como forma de apoio a determinado ramo do saber tornou-se urna necessidade recorrente. Aliás, o Direito sempre buscou ajuda em outros campos do conhecimento, como na Economía, Filosofia, Antropología, Sociología, Mate- mática, etc. A novidade, aquí, é a utilizacáo de urna terminología oriunda da Psi- canálise e da conexáo do Direito com a linguagem poética, Iiterária e artística, que ajudaráo a ampliar a compreensáo e o significado de cada verbete. Nao se pode mais pensar a objetividade dos atos, fatos e negócios jurídicos sem a consideracáo da subjetividade. E a Psicanálise é exatamente isso, ou seja, a consideracáo do sujeito do inconsciente, que se presentifica em todos os atos humanos, e portanto, nos atos e fatos jurídicos. A Psicanálise traz mais humanidade e humanizacáo a ciencia do Direito e em particular ao Direito de Família. Além da utilizacáo do discurso de outros campos do conhecimento, no- vas elementos foram introduzidos, tais como imagens, ilustracóes, gravuras, de- senhos e fotografias. Eles ajudam na traducáo dos vocábulos, cumprem também a funcáo da arte, ajudam a dizer o indizível, inclusive tornando a leitura rnais 18 �agradável, mais leve e menos penosa. Convidei artistas brasileiros que, gentil- mente, aceitaram a empreitada de diminuir a fronteira entre Arte e Direito. Afi- na!, subjetividade e objetividade se entrelacarn no Direito de Família, tecendo as tramas do desejo, construindo e descontruindo os dramas familiares. A arte, as imagens podem ir além das palavras, pois abrem espaco para a reflexáo e a emo- s:ao. Podem ajudar a fazer revolucáo. Talvez seja urna maneira maís sublime de perceber o mundo. Assim como a arte, o Direito é também interpretacáo. A arte, da mesma forma, fala das tramas do desejo e podem iluminar o caminho daque- les que buscam inforrnacóes neste dicionário. Arte e Direito tratam da mesma humanidade. Rodrigo da Cunha Pereira Primavera 2014 19 � I PREFACIO Este nao é mais um dicionário, mas o dicíonário do contemporáneo Di- reito das Famílias e Sucess6es. Fruto da maruridade e de investigacáo rigorosa de seu ilustre autor, a obra vem, efetivarnente, preencher urna lacuna da literatura jurídica brasileira, Rodrigo da Cunha Pereira reuniu os verbetes mais significativos do estado atual das relacóes de familia e da sucessáo heredirária, principalmente sobo ponto de vista do Direito, Nao se esgotarn, contudo, no ámbito jurídico, pois a inter- disciplinaridade é acentuada em seus trabalhos. Nao poderiarn faltar os verbetes relativos a disciplinas com as quais o Direito das Famílias tem diálogo frequente, notadamente a psicanálise. Ainda que sua preocupacáo central seja como conhe- címento desenvolvido na contemporaneidade, a rradicáo e a evolucáo das matérías estáo presentes nos verberes que definem antigos termos e conceitos nelas empre- gados, trazendo-os aos seus significados atuais. Rodrigo da Cunha Pereira é autor consagrado, tendo escrito, de lavra pró- pria, mais de tres dezenas de livros sobre aspectos diversos do Direito das Familias, além de outras dezenas de capítulos de livros e de artigas em revistas especializa- das. Conjuga, como poucos, intensa producáo intelectual e atividade profissional. I E um dos mais importantes e experientes advogados familiaristas brasileiros, tanto no patrocínio de causas quanto na elaboracáo de refinados pareceres. Também se dedicou a docencia universitária, na PUC de Minas Gerais. Conheci-o em meados dos anos de 1990 em eventos voltados ao Direito das Familias, quando manifestou interesse em fundar entidade associariva, de na- tureza académica, para discussáo, fomento e desenvolvimento dessa área. Preten- dia reunir as mentes criativas e comprometidas como avance da especialidade, de modo a contribuir, positiva e qualitativamente, com a elaboracáo legislativa e com a formacáo da jurisprudencia. Sob sua lideranca inconteste e suave, em 1997 21 �nasceu o Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM, que passou a abri- gar sucessivas geracóes de juristas, docentes, autores, profissionais da Advocacia, da Magistratura, do Ministério Público e outros especialistas que tém as famílias e sucessóes como seus objetos de estudos e atividades. Posteriormente, tive a opor- tunidade de compor a banca examinadora de sua tese de doutorado em Direito, na UFPR, na qual intentou demarcar os princípios fundamentais do Direito das Famílias e que mereceu a nota máxima de todos os membros. Nas suas atividades profissionais e intelectuais, foi responsável pela cria- cáo ou consolidacáo de vários conceitos e categorias do Direito de Família con- temporáneo, que estáo sintetizados em diversos verberes <leste dicionário. Pugnou ardorosamente por eles nos tribunais ou no meio académico, sabedor que as trans- forrnacóes essenciais sao impulsionadas pelas "minorías abraárnicas", como dizia D. Helder Cámara. Esse dicionário foi escrito lentamente, rendo cada verbere sido objeto de reflexáo cuidadosa. Por algum tempo, o autor me clava notícias de seu andarnen- to, escrevendo-o sem pressa, mas com especial cuidado. Como é de seu estilo, os verberes aliam rigor e leveza da linguagem. Temas que afluem com frequéncia nas relacóes afetivas, neste milenio, que derivam do biodireito, da informática, da se- xualidade, por exemplo, estáo previstos como verberes autónomos. Para elaboracáo <leste prefácio, comecei folheando os originais, mas fiquei preso a leitura de vários verbetes, que convidam a leitura. Além do desdobrarnen- to dos significados, em redacáo fluente, o autor índica a legislacáo aplicável e a orientacáo [urisprudencial, quando é o caso. Contudo, o que chama a atencáo é a introducáo, em muitos verberes, de textos literários, de prosa, poesia, ou de cornposicóes musicais, que trazem a forca expressiva da arte para a compreensáo do tema, conjugando razáo e sentimento, este mais próximo da vida. Somente um autor com alma de artista é capaz de fazer tal relacáo, como se dá no verbere erro essencial sobre a pessoa, com trecho de "Grandes Sertóes - Veredas", de Guirna- raes Rosa, ou no verbere nascituro, com trecho da letra da música "O filho que eu quera ter", de Toquinho e Vinícius de Moraes. Há mais: o autor convidou artistas para ílustrarem diversos verberes, como eles os percebem. Nenhuma especialidade do Direito sofreu mutacáo tao profunda, nos últimos anos, quanto o Direito de Família. Reflete a imensa transformacáo que ocorreu na sociedade brasileira, que abandonou as fundacóes aparentemente sólidas em que se assentavam as relacóes familiares. Nao há mais trace na fa- mília brasileira, sob o ponto de vista do Direito, da organizacáo patriarcal, da desigualdade de direitos entre generas, do poder marital, do pátrio poder, da discriminacáo dos filhos entre legítimos e ilegítimos, das entidades familiares relegadas a invisibílidade. Da mesma relacáo familiar atual emergem várias estruturas jurídicas dis- tintas: (1) o dos pais (ou genitor único) e seus filhos biológicos e nao biológicos, até a aquisicáo da capacidade civil; (2) os dos cónjuges ou companheiros de uniáo 22 �estável, entre si; (3) os dos parentes entre si, para fins determinados: impedimentos para casar ou constituir uniáo estável; alimentos; sucessáo hereditária; tutela ou curatela; (4) o dos filhos em relacáo aos deveres de amparo dos pais idosos, de caráter vitalício. A família atual busca sua identificacáo na solidariedade (art. 3°, I, da Constítuicáo), como um dos fundamentos da afetividade, após o individualismo triunfante dos dois últimos séculas. A funcáo procracional, fortemente influencia- da pela tradicáo religiosa, foi desmentida pelo grande número de casais sem filhos, por livre escolha, ou em razáo da primazia da vida profissional, ou em razáo de infertilidade. O Direito contempla essas uni6es familiares, para as quais a procria- s:ao nao é essencial. O favorecimento constitucional da adocáo fortalece a natu- reza socioafetiva da família, para a qual a procriacáo nao é imprescindível.. Nao há mais espaco para a exclusáo das relacóes familiares existentes na vida social, notadamente após a histórica decisáo do STF sobre o reconhecimento jurídico das uni6es homoafetivas. Retoma-se, em nossa época, o itinerário da afirrnacáo da pessoa humana como objetivo central do Direito. No mundo antigo, o conceito romano de huma- nitas era o da natureza compartilhada por todos os seres humanos. Essa centra- lidade na pessoa humana foi acentuada na modernidade desde seu início, princi- palmente com o iluminismo, despontando na construcáo grandiosa dos direitos humanos fundamentais e do conceito de dignidade da pessoa humana. Daí a bela proclamacáo da Declaracáo Universal dos Direitos Humanos contida em seu art. 1 °: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos". No mundo atual, o foco na pessoa humana é matizado coma consciencia da tutela ju- rídica devida aos outros seres vivos (meio ambiente) e da coexistencia necessária, pois a pessoa existe quando coexiste (solidariedade). As relacóes de consanguinidade, na prática social, nao sao mais importan- tes que as oriundas de lacos de afetividade e da convivencia familiar, constituintes do estado de filiacáo, que <leve prevalecer quando houver conflito com o dado bio- lógico, salvo se o princípio do melhor interesse da crianca ou o princípio da digni- dade da pessoa humana indicarem outra orientacáo, nao devendo ser confundido o direito áquele estado com o direito a origem genética. Ante a tribalizacáo orgánica da sociedade globalizada atual, a família é reivindicada, na expressáo de urna autora muito apreciada por Rodrigo da Cunha Pereira "como o único valor seguro ao qual ninguém quer renunciar. Ela é amada, sonhada e desejada por homens, mulheres e criancas de todas as idades, de todas as orientacóes sexuais e de todas as condicóes", na expectativa que "saiba manter, como princípio fundador, o equilíbrio entre o um e o múltiplo de que todo sujeito precisa para construir sua identidade" (Elisabeth Roudinesco). Saliente-se a emersáo de valores existenciais no Direito das Sucess6es, re- velando o primado da pessoa humana, destacando-se a igualdade sucessória dos filhos e a preferencia pelo núcleo familiar mais estreito, no lugar dos graus distan- 23 �tes de parentesco. A sucessáo testamentáría, que recebía destinacáo preferencial da leí, passou a ser secundária, tal como acorre na realidade brasileíra, em razáo, igualmente, dos valores sociais e de solídariedade familiar, que sao mais bem con- templados na sucessáo legítima. A garantía constitucional do direito a heranca ínverte a primazia. Em vez do autor da heranca, principalmente quando testador, e do respeíto a sua vontade, que era tida como norte determínante de interpretacáo, a primazia passou para o herdeiro. O direito do herdeíro é o assegurado pela leí e nao pela vontade do testador. O autor da heranca nao é mais o senhor do destino do herdeiro. Nao é tarefa fácil dar canta da magnitude de tamanhas transforrnacóes e verte-las em resumas significativos. Neste dicionário, Rodrigo da Cunha Pereira superou-se e conseguiu concentrar em seus verbetes a esséncia dos Direitos das Famílias e das Sucessóes, tais como estes se apresentam na atualidade. Paulo Lóbo Doutor em Direito Civil (USP} 24 � " PREAMBULO As palavras acompanham o fluir do tempo e mudam de significado, enve- lhecem e sao substituídas por outras, de acordo coma mutacáo da vida social e dos valores cultivados pela sociedade. Muitas perdem a forca e váo enfraquecendo, enfraquecendo, até morrerem por falta de uso. Em substituicáo as palavras martas, outras novas váo surgindo. Particu- larmente, esse fenómeno também acorre para marcar urna nova era nas relacóes familiares e no Direito de Família. Aquilo que antes era considerado crime, deixou de se-lo; o que nem se imagina va viesse a tipificar urna condura criminosa, de repente, vai para o catálo- go do Código Penal (Ex.: seducáo e bullying). O alcance do manto jurídico espraiou-se para atingir um espaco social mais amplo e mais profundo. O Direito de Família sofreu, nos últimos quinze anos, urna revisáo geral , que alterou toda a sua estrutura, seus conceitos, sua terminologia. E um modo de olhar as novas dimensóes das relacóes familiares, o olhar da intimidade, da reno- vacáo, da autenticidade e da preocupacáo em refletir a forca dos faros emergentes das relacóes sociais e familiares. Hoje, há urna nova gramática e um novo vocabulário do Direito de Fa- mília, com novas adjetivos, novas substantivos, novas plurais, novas coletivos, novas locucóes e novas verbos. Tomando como referencia os Boletins do IBDFAM, a partir do primeiro número, em janeiro de 2000, ve-se urna amostra que serve para comprovar essa evolucáo terminológica. Vejamos a sequéncia do alfabeto do novo Direito de Família. A letra A é da palavra mais forte que descobrimos: Afeto. Seguem-se: Ado- s:ao por homossexuais; Alimentos gravídicos; Amor conjugal; e Alienacáo parental. 25 � A letra D remete para a Desconsideracáo da personalidade jurídica inver- sa, ou Disregard inversa, a protecáo da parte mais fraca da relacáo. O E, de evolucáo, trouxe, para o cenário, o instituto da Entidade familiar, que alberga, em si, todos os grupos de pessoas e parentes unidos pela solidariedade e pela fraternidade. A letra F nao é mais só da família singular, matrimonializada, mas de to- das as famílias: Famílias reconstituídas; Famílias simultaneas; Famílías paralelas; Famílias monoparentais, e Famílias pluriparentais. Essa letra, também, inaugura a Funcáo social da família e a Fecundacáo artificial post mortera. O G orienta para a descoberta da Guarda compartilhada, em defesa dos interesses da crianca e do adolescente. O H nao abriga mais o horror a diversidade de genero. Por isso, hoje, cuida da Homoafetividade e da Homoparentalidade, em processo constante de afirmacáo contra a homofobia. A letra I tornou-se mais inovadora, comas palavras Infidelidade virtual; Indignidade nos alimentos; e Investigacáo de paternidade socioafetiva. Sob seu sig- no, criou-se, também, urna confraria da renovacáo do Direito de Família, formada pelos Ibedermanos. A letra M nao é mais só da maternidade, serve também para lembrar Me- diacáo, Multiparentalidade e Mudanca de regime de bens. O P tornou-se mais grandioso ao acolher novidades como Parto anónimo, Paternidade socioafetiva; Patemidade alimentar; Parentalidade socioafetiva; e Po- der familiar. A letra R descobriu as Relacóes de parentesco; a Reproducáo assistida e a Responsabilidade civil no Direito de Família. O T inova coma figura do Testamento vital. A letra U gerou a palavra mágica dos novos tempos: uniáo estável. Com ela vieram: Uniáo estável homoafetiva e Unióes afetivas (lato sensu). A letra V apresentou urna realidade em necessidade de protecáo com a Violencia doméstica e Violencia patrimonial. Essa variacáo semántica mostra o grau de mutacáo pelo qual passou o Direito de Família, nos últimos anos, em consonancia com o surgimento de novas famílias, de novos institutos e de novos conceitos. Esse novo vocabulá- río apresenta urna oportunidade para refletir o alcance dessa variacáo, que teve como órgáo estimulador e sisternatizador o nosso Instituto Brasileiro de Direito de Família. Em suas notas introdutórias, o autor foi feliz ao expor, de forma clara, a complexidade cultural da linguagem que está sempre acompanhando o ritmo de evolucáo da sociedade; a polissemia dos termos, com repercussáo no processo de interpretacáo das normas. Rodrigo da Cunha Pereira tem prestado reconhecida contribuicáo para elevar a respeirabilidade do Direito de Família no cenário nacional, com iniciativas 26 �e producóes científicas que favoreceram o avance desse ramo do Direito no orde- namento jurídico brasileiro. Agora, com esta publicacáo, considero que se eleva, ainda mais, essa abnegacáo do mais ilustre dos ibedermanos em prol do direito que socorre as aflicóes familiares. Parabéns e muito abrigado, em nome da família do IBDFAM. Louriual Serejo Desembargador no TJMA 27 � I SUMARIO Verbetes- A a Z .. . .. .. . . . .. . . . . . .. . . . . . .. . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . 31 Referencias................................................................................................ 727 Relacáo geral dos verbe tes .. . .. .. . . .... .. .. .. . . .. . . .. 737 Relacáo dos verbetesilustrados.................................................................. 753 Relacáo dos verbetescom linguagempoética e literária por autor............... 755 �AB-ROGA<;AO , [ver tb. derrogayao] letas, anuladas pela prática cotidiana E a revogacáo total de urna lei, em e, portanto, atingidas pela ab-roga- razáo da edicáo de outra nova. Vale cáo de fato. também para decreto, regulamenta- Se a lei nova revoga, expressamente, a s:ao ou outro ato normativo. A ab- leí anterior, rern-se, entáo a ab-roga- -rogacáo difere da derrogacáo, que é s:ao de direito. Pode haver também a revogacáo parcial de determinado urna ab-rogacáo de direito tácita, ato. Em geral, urna lei só pode ser re- que é quando nao há urna revogacáo vogada por outra: Nao se destinan explícita, mas implícita, como acon- a do uigéncia temporaria, a lei terá teceu com a Emenda Constitucional vigor até que outra a modifique ou nº 66/10, que simplificou o sistema revogue. § 1° A lei posterior revoga de divórcio no Brasil. A Emenda nao a anterior quando expressamente o disse, expressamente, que a separa- declare, quando seja com ela incom s:ao judicial estava revogada, mas a patiuel ou quando regule inteira sua interpretacáo sistemática, histó- mente a matéria de que trataua a lei rica e teleológica ab-rogou, tacita- anterior (Art. 2°, LINDB). Contudo, mente, o inútil instituto da separacáo na prática pode também ser revoga- judicial. da pelos costumes, fazendo com que ela caia em desuso. Por exemplo, o ABANDONOAFETIVO [vertb. afeto, regime dotal e os bens reservados da cuidado, princípio da afetiuidade, mulher só foram revogados do CCB reparacdo civil, responsabilidade ci 1916 pelo CCB 2002. Entretanto, vil] Expressáo usada pelo Direito desde a década de 1960, tais institu- de Família para designar o abando- tos caíram em desuso, e as leis que os no de quem tem a responsabilidade regulamentavam tornararn-se obso- e o dever de cuidado para com um 31 �ABANDONO AFETIVO I outro parente. E o descuido, a con- to, no sentido de cuidado, condura. d uta omissiva, especialmente dos Ao agir em conformidade corn a sua país em relacáo aos filhos menores funcáo, está-se objetivando o afeto e e também dos filhos maiores em re- tirando-o do campo da subjetividade I lacáo aos país. E o nao exercício da apenas. A ausencia deste sentimento funcáo de pai ou rnáe ou de filho em nao excluí a necessidade e obrigacáo relacáo a seus país. Tal assisténcia dos país corn o cuidado e a educa- , . . .... para com o outro e urna rmposicao s:ao, a responsabilidade e até mesmo jurídica e o seu descumprimento a presenca e a imposícáo de limites. caracteriza um ato ilícito, podendo O que vale também para os filhos ser fato gerador de reparacáo civil. maiores em relacáo aos país. Sao direitos assegurados pelos prin- A discussáo do abandono afetivo trans- cípios constitucionais da dignidade cende os seus aspectos jurídicos e éti- humana, da solidariedade, da pater- cos para atingir urna dimensáo polí- nidade responsável e, obviamente, tica e social. As milhares de criancas o do melhor interesse da enanca e de rua e na rua estáo diretamente re- adolescente. O Código Civil estabe- lacionadas ao abandono paterno ou lece obrigacáo de cuidado entre país materno, e nao apenas a omissáo do e filhos (Art. 1.634, CCB), assim Estado em suas políticas públicas. Se como o Estatuto do Idoso (Leí nº os pais fossem mais presentes na vida 10.741/03) preve que nenhum ido de seus filhos e nao os abandonassem so será objeto de qualquer tipo de afetívamente, isto é, se efetivarnen- negligéncia, discriminacáo, uiolén te criassem e educassem seus filhos, cia, crueldade ou opressdo, e todo cumprindo os principios e regras ju- atentado aos seus direitos, por adio rídicas, nao haveria tantas criancas e ou omissño, será punido na forma adolescentes com síntomas de deses- da lei (Art. 4°). No Direito Penal, truturacáo familiar. E' mais cómodo, abandonar pessoa que está sob seu <liante do contexto histórico do de- cuidado, guarda, uigiláncia ou au clínio do patriarcalismo e da socie- toridade, e, por qualquer motivo, dade do consumo, justificar na teoría incapaz de defenderse dos riscos político-económica o porque de tan- resultantes do abandono (Art. 133, tas criancas abandonadas, criminali- CP) é crime, com pena de prisáo que dade juvenil ou até mesmo enveredar varia de seis meses a doze anos, de- em urna vísáo moralista e pensar que pendendo da gravidade dos delitos todos esses sinais de violencia come- praticados. cararn após 1977, como divórcio no Qualquer pessoa, da infancia a velhi- Brasil, e, consequentemente, um au- ce, para estrururar-se como sujeito mento crescente de separacáo de ca- e ter urn desenvolvimento saudável, sais e de novas formas de constitui- necessita de alimentos para o carpo s:ao de familias. Todavía, a verdade e para a alma. O alimento impres- é que todos estes sinais de desestru- cindível para a alma é o amor, o afe- turacáo familiar estáo íntimamente 32 � 133 ..- ~·- a ;, ~-- :-;: •.::~·"' ..... ·'· ~ ~.. .. . '. ··-·" ... . .. .... . 1 1 ;.-.~ .. .-:¡.:.~•• :::, 1 'T - - - - - - - ¡----· 1 1 1 1 1 - - - ... 1 -~- 1 ,e ¡---------· ' 1 1 ..! 1 - - - - -· 1 ,3 3 �ABANDONO AFETIVO relacionados ao abandono paterno/ outrem, mas a relacáo parental está materno, seja ele visível ou nao. para alérn do sentimento, exige No campo jurídico, o afeto é mais que compromisso, responsabilidade, e I um sentimento. E urna acáo, urna por isso é fonte de obrigacáo jurí- condura, presente ou nao o sentí- dica. A afetividade geradora de di- mento. Portanto, está na categoría reitos e deveres é a que depende da dos deveres que podem ser impos- conduta, da assisténcia. E isto é fa- tas como regra jurídica. E, a toda cilmente detectável na relacáo país/ lei <leve corresponder urna sancáo, filhos. Ausente e "abandónico" é sob pena de se tornar mera regra ou também aquele que dá apenas o sus- princípio moral. Por isso é necessária tento material. Com o fim da con- a responsabilizacáo, principalmente jugalidade (ou mesmo se nao hou- dos pais em relacáo aos filhos meno- ve conjugalidade), é comum que o res e dos filhos em relacáo aos país genitor nao guardiáo fique somente idosos, que térn especial protecáo da com o pagamento de alimentos, fi- Constituicáo da República. A res- cando o outro sobrecarregado para ponsabilidade é da esséncia do afeto cumprir as funcóes de pai e máe, co- e do cuidado, como competente e brindo a ausencia daquele que nao sabiamente já escreveu Kant: Aqui está cumprindo o exercício do po- lo que eu reconheco imediatamente der familiar. O abandono parental como lei para mim, reconheco com <leve ser entendido como lesáo a um um sentimento de respeito que nao interesse jurídico tutelado, extrapa- significa sendo a consciencia da su trimonial, causado por omissáo do bordinaciio da minha vontade a urna pai ou da máe no cumprimento do lei, sem irueruencdo de outras infiu exercício e das funcóes parentais. éncias sobre a minha sensibilidade. ( ... ) Uma vez que despojei a vontade DISPOSITIVOS NORMATIVOS de todos os estímulos que lhe pode CR-Arts. 1°, III; 3°, I e IV; 226, § 5° riam advir da obediéncia a qualquer e§ 7°; 227, 229 e 230. lei, nada mais resta do que a confor CC-Arts. 186, 927, 1.634. midade a uma lei universal das aroes CP - Arts. 133, 134. em geral que possa servir de úni Lei nº 8.069/90- Estatuto da Crianca co principio a uontade, isto é: devo e do Adolescente -Arts. 3°, 7°. proceder sempre de maneira que eu Leí nº 10.741/03 - Estatuto do Idoso possa querer também que a minba -Art. 3°. máxima se torne uma lei universal. (KANT, Immanuel. Pundamentacdo JURISPRUDENCIA da metafísica dos costumes. (Trad. ( ... ) Se o pai nao alimenta, nao dá Paulo Quintela. Sao Paulo: Edícóes amor, é previsível a deformacáo da 70, 2007, p. 32-33. (Colecáo Textos prole. Isso pode acontecer, e acon- Filosóficos). tece, com famílias regularmente Nao se pode abrigar ninguém a amar constituídas. Nao se trata de aferir 34 � ABANDONO AFETIVO humilhacóes no decorrer do tempo. xou a cabeca sobre o carrinho por Ninguém é abrigado a amar o ou- um décimo de segundo, ergueu-se e tro, ainda que seja o próprio filho. disse para ela: 'Um bebe lindo. Boa Nada obstante, a situacáo é previsí- sorte com ele.' vel, porém, no caso da familia cons- Em seguida entrou na casa. Podía tituída, ninguém, só por isso, requer muito bem estar falando sobre o - ' . a separacao, acorre que, na especie, bebe de algum estranho, que viu na o abandono material e moral, é ati- fila do supermercado. Durante o res- tude consciente, desejada, ainda que to de sua visita naquele día, meu pai obstada pela defesa do patrimonio, nao olhou para Daniel, e nem urna em relacáo aos outros filhos - o afas- vez sequer pediu para segurá-lo." tamento, o desamparo, com reflexos na constiruicáo de abalo psíquico, é (AUSTER, Paul. A inuencdo da que merecem ser ressarcidos, <liante soliddo, Traducáo de Rubens do surgimento de nexo de causali- Fígueiredo. Sao Paulo: Companhia dade. (Ap. Cível nº 511.903.4/7, Rel. das Letras, 1999. p. 26-27). Des. Caetano Lagrasta, 8ª CDP - TJSP. j. 12/03/2008). LINGUAGEM POÉTICA Quando, seu moco / Nasceu meu LINGUAGEM LITERÁRIA rebento /Nao era o momento/ "Após meu próprio filho nascer, Dele rebentar I Já foi nascendo / pensei: sem dúvida, isso vai deixá-lo Com cara de fome I E eu nao tinha contente. Todo homem nao fica con- nem nome I Pra lhe dar/ Como fui tente ao se tornar avo? levando/ Nao sei lhe explicar/ Eu quería ver meu pai todo bobo Fui assím levando/ Ele a me levar/ <liante do bebe, para que assim me E na sua menínice / Ele um día me desse urna prova de que ele, afinal, disse /Que chegava lá / era capaz de demonstrar algum sen- Olha aí! Olha aí! timento - de que ele afinal, tinha sen- timentos do mesmo jeito que as ou- Olha aí! / Ai o meu guri, olha aí! I tras pessoas. E, se pudesse mostrar Olha aí! / É o meu guri e ele chega! afeicáo por seu neto, nao seria tam- bém urna forma índireta de mostrar Chega suado / E veloz do batente / afeicáo por mim? A gente nunca para Traz sempre um presente/ Pra me de cobicar o amor do pai, mesmo de- encabular /Tanta corrente de ouro / pois de adultos. Seu moco! / Que haja pescoco / [ ... ] Daniel tínha apenas duas sema- Pra enfiar / Me trouxe urna bolsa / nas quando meu pai pos os olhos Já com tudo dentro I Chave, nele pela primeira vez. [ ... ] Meu pai caderneta / Terco e patuá / Um estacionou seu carro, viu mínha es- lenco e urna penca / De documentos posa por o bebe no carrinho para I Pra finalmente/ Eu me identificar/ cochilar e veio dar urna espiada. Bai- Olha aí! ( ... ) 35 �ABANDONO DA FAMÍLIA Chega no morro / Com dos constitucionalmente ao cidadáo, carregamento I Pulseira, cimento / Basta atentar que, em se tratando de Relógio, pneu, gravador /Rezo até criancas e de adolescentes, atribuí é ele chegar / a do primeiro a família, depois socie Cá no alto / Essa onda de assaltos / dade e finalmente ao Estado o dever T á um horror/ Eu consola ele/ de garantir com absoluta prioridade Ele me consola /Boto ele no colo/ os direitos inerentes aos cidadños Pra ele me nínar / De repente acordo em [ormacdo (Art. 227, CR). Impor / Olho pro lado/ E o <lanado já foi aos país o dever de assisténcia aos trabalhar / Olha aí!( ... } filhos decorre do principio da soli dariedade (Art. 229, CR). O dever de Chega estampado I Manchete, amparo as pessoas idosas dispbe do retrato / Com venda nos olhos mesmo conteúdo solidário, (DIAS, / Legenda e as inicíais / Eu nao Maria Berenice. Manual de direito entendo essa gente I Seu moco! / das famílias. 9. ed. Sao Paulo: Revis- Fazendo alvoroco demais / O guri ta dos Tribunais, 2013. p. 69). no mato/Achoque tá rindo/ Acho que tá lindo / De papo pro ar / DISPOSITIVOS NORMATIVOS Desde o comeco eu nao disse / Seu CR-Arts. 1°, 3°, 226, 227, 229 e 230. moco! /Ele disse que chegava lá / CCB -Arts. 186, 927, 1.634. Olha aí! Olha aí! CP - Art. 133, 134. Lei n? 10.741/03 - Estatuto do Idoso (Meu guri Letra e música de Chico -Art. 3°. Buarque}. Lei nº 8.069/90- Estatuto da Crianca e do Adolescente -Arts. 3°, 7°. ILUSTRA<;AO Ana Cristina Branddo, P. 33. ABANDONO DA HERANc;A [ver tb. cessáo de direitos hereditários, re ABANDONO DA FAMÍLIA [ver tb. náncia a herans:a] E' o ato irrevo- abandono afetiuo, abandono mate gável por meio do qual o herdeiro, rial, abandono intelectual] Aban- unilateral e, expressamente, por ins- donar material, afetiva e psicolo- trumento público ou termo judicial, gicamente, cóniuge, companheiro, renuncia a heranca a que tem direito. parentes e familiares, sejam biológi- Trata-se de ato de disposicáo patri- cos ou socioafetivos que necessitam monial, senda assim, o herdeiro <leve I de cuidados especiais. E urna ofensa ser capaz para tanto. ao princípio da solidariedade, regen- O abandono da heranca nao pode ser te das relacóes familiares. A lei, ao parcial, exceto quando o herdeiro, gerar deveres recíprocos entre os in simultáneamente, recebe heranca e tegrantes do grupo familiar, safase legado. Neste caso, pode optar por o Estado do encargo de prover toda renunciar a ambos ou somente a um a gama de direitos que sao assegura deles. 36 � ABANDONO DE INCAPAZ O herdeiro renunciante é considerado de pessoas incapazes. As penas cami- inexistente para todos os efeitos, o nadas aumentam de um terco quan- que nao se confunde com o estado do o abandono acorrer em lugar de pré-rnorto, ou seja, a renúncia ermo, ou se o agente for ascendente apaga toda a sua linha sucessória ou descendente, cónjuge, irmáo, tu- da ordem de vocacáo hereditária. tor ou curador da vítima, e, por fim, Portanto, seus descendentes nao po- se a vítima for maior de 60 anos de deráo herdar por estirpe nesta hipó- idade (Art. 133, § 3°, CP). tese. O abandono de filho pode causar a o abandono da heranca nao pode se perda da autoridade parental/poder dar "em favor de alguém", o que familiar, desde que configurado por seria urna cessáo de direitos here- urna atitude omíssiva de um ou de ditários. Caso o herdeiro tenha a ambos os país, que deixarem de de- intencáo de contemplar terceiro sempenhar seus deveres para com como que lhe caberia, deverá acei- os filhos. O poder familiar constituí tar sua quera-parte e, em seguida, verdadeiro dever dos país, a quem doá-la. incumbe dirigir a criacáo e educa- Caso a renúncia a heranca prejudique s;ao dos filhos: Compete aos pais, credores do herdeiro, estes poderáo a quanto pessoa dos filhos menores: aceitá-la em seu nome. Quando há I dirigirlbes a criacdo e educacáo; renúncia ou abandono de heranca, II téLos em sua companhia e guar a parte que caberia ao renunciante da; III concederlhes ou negarlhes volta ao monte-mor para ser distri- consentimento para casarem; IV buída entre os outros coerdeiros. A nomearlhes tutor por testamento renúncia nao admite condicáo, ter- ou documento auténtico, se o outro mo ou encargo e retroage a abertura dos pais nao Lhe sobreuiuer, ou o r da sucessáo. E o mesmo que repúdio sobrevivo nao puder exercer o po a heranca, der familiar; V representálos, até aos dezesseis anos, nos atos da vida DISPOSITIVOS NORMATIVOS civil, e assistilos, após essa idade, CCB - Arts. 1.806, 1.808, 1.812, nos atos em que forem partes, su 1.813. prindolhes o consentimento; VI reclamálos de quem ilegalmente os ABANDONO DE INCAPAZ [ver tb. detenha; VII exigir que Lhes pres abandono, afetivo e abandono mate tem obediéncia, respeito e os servi rial] E o ato ou condura de abando- ros proprios de sua idade e condidio nar pessoa que está sob sua guarda, (Art. 1.634, CCB). No mesmo senti- cuidado, vigilancia ou autoridade, do, o Estatuto da Crianca e do Ado- e, por qualquer motivo, incapaz de lescente preve que aos pais incumbe defender-se dos riscos resultantes do o dever de sustento, guarda e educa abandono. O art. 133 do Código Pe- rao dos filhos menores, cabendolhes nal tipifica como delito o abandono ainda, no interesse destes, a obriga 37 �ABANDONO DO LAR fªº de cumprir e [azer cumprir as de caracterizar a impossibilidade da co- terminaciies judiciais (Art. 22, Lei nº munháo de vida do casal. Os pres- 8.069/90). supostos para sua caracterizacáo A destiruicáo do poder familiar é a é que seja por parte do cónjuge ou sancáo mais grave imposta aos pais. companheiro, voluntário e duran- Perderá por ato judicial o poder fa te um ano contínuo. Está elencado miliar o p ai ou a rnde que: 1 castigar entre um dos deveres do casamento imoderadamente o fi.lho; 11 deixar o (Art. 1.566, 11, CCB). filbo em abandono; 111 praticar atos Em 2011, a Leí nº 12.424/11 trouxe a contrários moral e aos bons costu nova modalidade de perda da pro- mes; IV incidir, reiteradamente, nas priedade por abandono do lar, pre- faltas previstas no artigo antecedente vendo que se um dos cónjuges deixar (Art. 1.638, CCB). o lar conjugal por dais anos ininter- ruptos, caracterizando abandono da JURISPRUDENCIA família, perde o seu direito de pro- ( ... ) Restando demonstrado o aban- priedade sobre o bem que era resi- dono de menor por sua genitora, dencia do casal. Apesar de aparente- que, ao entregá-lo aos cuidados mente fazer ressurgir a discussáo de de terceiros, deixa de lhe prestar culpa pelo fim da conjugalidade, a lei os necessários cuidados, carinho e nao tem essa intencáo, nao diz isso atencáo indispensáveis ao seu de- e nao <leve ser interpretada assim. senvolvimento saudável, em total Quando ela menciona abandono do descumprimento de suas obrigacóes lar, quer dizer simplesmente que o inerentes a maternidade, a perda de cónjuge nao se responsabilizou pela seu poder familiar é medida que se família. E se assim o fez, <leve res- irnpóe. Preenchidos os requisitos ponder na vida pela sua irresponsa- do art. 1.618 e seguintes do Códi- bilidade, com a perda da proprieda- go Civil/2002, e art. 40 e seguintes de. E' justo. lsto nao significa discutir do ECA, o deferimento da adocáo culpa, até porque, após a EC 66/10, de menor áqueles que sempre lhe ela ficou extirpada do nosso ordena- prestaram, e continuam prestando, mento jurídico. toda assisténcia material e afetiva é Aquele que nao desejar mais ficar ca- medida que se impóe. (Ap. Cível nº sado, ou manter a uniáo estável, e 1.0097.07.001019-0/001, Rel. Des. quiser sair de casa, <leve fazé-lo com Elias Camilo, 3ª CC - TJMG. j. responsabilidade. O abandono do 28/01/2010). lar pode ser facilmente descaracte- rizado com algum registro, formal ABANDONO DO LAR [ver tb. usuca ou informal, desta intencáo ou de- pido familiar] Deixar o lar conju- sejo pelo fim da conjugalidade. Um gal, sumir, desaparecer sem deixar simples registro ou formalizacáo da notícias. Deixar a familia sem assis- separacáo de fato e de carpos pode téncia. E' um dos motivos que pode descaracterizar o abandono do lar 38 � ABANDONO INTELECTUAL e, consequentemente, o usucapiáo presenca, última luz na varanda, a familiar. todas as aflicóes do dia. Sentia falta da pequena briga pelo A JURISPRUDENCIA sal no tomate - meu jeito de querer ( ... ) Violacáo dos deveres conjugais bem. Acaso é saudade, Senhora? As e condura desonrosa. Abandono do suas violetas, na janela, nao lhes lar e adultério. ( ... ) Nao reconheci- poupei água e elas murcham. Nao mento da culpabilidade imputada tenho botáo na camisa. Calco a meia ao réu. Ruptura do vínculo conso- furada. Que fim levou o saca-rolha? lidada na insuportabilidade da vida Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, em comum. Ausencia de relevo ou conversar com os outros: bocas rai- consequéncia jurídica. ( ... ) o pensa- vosas mastigando. Venha para casa, mento jurídico coeso nao vem con- Senhora, por favor." ferindo valia a busca da inculpacáo pelo insucesso das relacóes conju- (TREVISAN, Dalton. Apelo. In: gais, considerando mesmo a eventual Mistérios de Curitiba. Rio de J anei- transgressáo aos deveres inerentes do ro: Record, 1979. p. 73). casamento, fruto do seu desgaste na- tural. (Ap. Cível nº 5406312006 BA ABANDONO INTELECTUAL [ver tb. 54063-1/2006, Rel. Des. Edmilson Ja- abandono afetivo] Caracteriza-se tahy Fonseca Junior, 2ªCC - TJBA. pela negligencia de quem tem o po- j. 17/03/2009). der famí.liar/autoridadeparental e/ou a guarda, em relacáo a educacáo da LINGUAGEM LITERÁRIA crianca ou adolescente, deixando-a "Amanhá faz um mes que a Senho- sem acesso a instrucáo OU escola de ra está longe de casa. Primeiros dias, ensinamentos básicos. E' um tipo pe- para dizer a verdade, nao senti falta, nal prescrito no art. 246 do Código bom chegar tarde, esquecido na con- Penal, que se configura por deixar, versa de esquina. Nao foi ausencia sem justa causa, de prover a instru- por urna semana: o batom ainda no \'.ªº básica de filho em idade escolar. lenco, o prato na mesa por engano, a Pode ser descaracterizado, caso o imagem de relance no espelho. Poder Público nao disponha de esco- Com os dias, Senhora, o leite pela las, ou caso nao haja vagas para ma- primeira vez coalhou. A noticia de tricular os menores naquela regiáo. sua perda veio aos poucos: a pilha Neste caso, o Ministério Público, na de jornais ali no chao, ninguém os condicáo de defensor dos incapazes, guardou debaixo da escada. Toda a <leve providenciar medidas para se casa era um corredor deserto, até o cumprir o ditame constitucional de canário ficou mudo. Nao dar parte direito a educacáo das enancas e de fraco, ah, Senhora, fui beber com adolescentes. os amigos. Urna hora da noite eles se A negligencia dos pais, quanto a edu- iam. Ficava só, sem o perdáo de sua cacáo dos filhos, pode resultar na 39 �ABANDONO MATERIAL destituicáo do poder familiar, que CCB - Arts. 1.634, 1.638. se constitui como essencial dever Leí nº 8.069/90 - Estatuto da Crianca do pais, que devem se incumbir de e do Adolescente - Arts. 3°, 4°, 5°, 7°, dirigir a criacáo e educacáo dos fi- 22, 33. lhos, manté-los em sua companhia e guarda, representá-Ios na vida civil, JURISPRUDENCIA reclarná-los a quem ilegalmente os ( ... ) Indemonstrado o elemento sub- detenha, e exigir que prestem obedi- jetivo do tipo penal, qual seja, o dolo encia, respeíto e servicos próprios da de deixar, sem justa causa, de prover idade (Art. 1.634, CCB). No mesmo a insrrucáo primária das filhas de 14 sentido, o Estatuto da Crianca e do e 16 anos de idade, sem o qual nao Adolescente preve que aos país in- se concretiza a conduta incrimina- cumbe o dever de sustento, guarda e da, impositiva a absolvicáo da ré. educacáo dos filhos menores, caben- Recurso provido. (RC 71004094371 do-lhes, ainda, no interesse destes, a RS, Rel.ª Des.ª Cristina Pereira Gon- obrigacáo de cumprír e fazer cum- zales. TRC-TJRS. j.17/12/2012). prir as determinacóes judiciais (Art. 22, ECA). ABANDONO MATERIAL [ver tb. Es , A destituicáo do poder familiar é a tatuto do ldoso] E o abandono de sancáo mais grave imposta aos país, menores, idosos ou incapazes pelo só devendo acorrer naqueles casos pais, tutores, curadores, ou de quem em que comprovados a falta, omis- tenha a guarda dos filhos, ou respon- sao ou abuso em relacáo aos filhos. sável por sustentá-los materialmen- Perderá por ato judicial o poder fa te, deixando de prestar alimentos. miliar o pai ou a mde que: 1 castigar O abandono material, além de ca- imoderadamente o filho; 11 deixar o racterizar atos que autorizem mu- filho em abandono; 111 praticar atos danca de guarda, restricáo de visitas/ contrários a moral e aos bons costu convivencia familiar e até mesmo a mes; IV incidir, reiteradamente, nas destituicáo do poder familiar, é um faltas previstas no artigo antecedente tipo penal inscrito no art. 244 do Có- (Art. 1.638, CCB). digo Penal: Deixar, sem justa causa, O abandono intelectual, além de con- de prover a subsisténcia do conjuge, duta tipificada como crime, pode ser ou de filho menor de 18 (dezoito) também um elemento caracterizador anos ou inapto para o trabalho, ou do abandono afetivo, que por sua vez de ascendente inválido ou maior de significa e cornpóe o quadro da irres- 60 (sessenta) anos, nao lhes propor ponsabilidade dos país em relacáo a cionando os recursos necessários ou criacáo e educacáo de seus filhos. faltando ao pagamento de pensáo alimentícia judicialmente acordada, DISPOSITIVOS NORMATIVOS fixada ou majorada; deixar, sem jus CR-Arts. 227 e 229. ta causa, de socorrer descendentes ou CP -Arts. 246 e 247. ascendentes, gravemente enfermo. 40 � ABANDONO MATERIAL Diferentemente do abandono moral ou contribuir para o sustento da vítima. intelectual, significa deixar de dar as- Na esfera cível, o nao pagamento de sisténcia, ou recusa a prestar auxílio pensáo alimentícia fixada, judicial- material a quemé seu dependente, ou mente, pode incidir em prisáo civil. a quem devia pagar alimentos, seja Na esfera penal, <leve ficar dernonstra- parente, cónjuge ou companheiro. da a intencáo de negligenciar a pres- O abandono material, para configu- tacáo alimentar sem justa causa, ou racáo do tipo penal, <leve apresentar seja, a vontade livre e egoísta de dei- tres pressupostos: o objetivo, que é a xar de prover a subsistencia de seus omissño/neglígéncia de sustento de dependentes, pois o mero inadimple- dependente do agente; o subjetivo, mento da verba alimentar, sem de- ou seja, o dolo movido pela inten- monsrracáo desses pressupostos, nao crao de negligenciar o sustento; e, por configura o tipo. fim, o normativo, que é a ausencia de justa causa sobre a acáo contrária ao JURISPRUDENCIA ordenamento jurídico. A tipicidade ( ... ) deixar de implementar pensáo pode ser afastada se provada a con- alimentícia é ilícito civil e o que o creta impossibilidade económica de difere do ilícito penal é justamente �ABANDONO MORAL o dolo, vontade livre de nao pagar, caracterizado o abandono moral, sem justa causa, ou seja, mesmo po- além da repercussáo criminal (Arts. dendo fazé-lo. A caracterizacáo do 246 e 247, Código Penal), tém-se as tipo penal exige que se demonstre consequéncias civis da destituicáo do que a conduta de nao pagar a pen- poder familiar, perda da guarda, ou sao alimenticia foi realizada por al- mesmo reparacáo civil. guém que, podendo implernentá-Ia, nao o faz sem causa que justifique DISPOSITIVOS NORMATIVOS a falta, o que nao foi demonstrado CR - Arts. 227 e 229. na incoativa, que se limita a afir- CCB - Arts. 1.634 e 1.638. mar que a ornissáo do ora paciente CP-Arts. 246 e 247. foi "sem justa causa". Ora, esse ele- Lei nº 8.069/90- Estatuto da Crianca mento nao está no tipo penal apenas e do Adolescente - Arts. 3°, 4°, 5°, 7°, como adorno, mas porque, como o 22, 23, 33 a 35. próprio nome está a indicar, é urna Lei nº 10.741/03 - Estatuto do Idoso. parte essencial e a acusacáo dele deve A se ocupar, demonstrando, em cada JURISPRUDENCIA caso concreto, o porque do nao pa- ( ... )Senda infrutíferas as buscas para gamento da pensáo, ou seja, se, pelos saber do paradeiro do genitor, re- fatos acorridos, há motivos justos gular a citacáo efetuada por edital, para o alimentante deixar de sol- na forma do art. 231, II, do CPC. 2) ver as prestacóes. ( ... ) Se assim nao Hipótese em que se justifica a desti- for, estar-se-á igualando os ilícitos ruicáo do genitor do poder familiar penal e civil, pois nao haverá mais relativamente ao filho menor, pasto diferenca entre eles, bastando que o que demonstrado o completo aban- alimentante falte ao seu dever para dono moral, material e intelectual cometer um crime. (HC 141069 RS, por parte do pai, que deixou a fa- Rel.ª Min.ª Maria Thereza de Assis mília e nunca mais deu notícias. ( ... ) Maura, 6ª T-STJ. pub. 21/03/2012). (Ap. Cível nº 70042975656, Rel. Des. Ricardo Moreira Lins Pastl, 8ª CC - ILUSTRA\:ÁO TJRS. pub. 25/08/2011). Márcia Cbarnizon. P. 41. LINGUAGEM LITERARIA ' ABANDONO MORAL [ver tb. aban "Teria sido o orgulho ofendido que , dono afetivo] E o abandono dos aniquilara aquele coracáo de enanca pais ou de qualquer pessoa que te- ou foram os tres meses de sofrimentos nha o dever legal de prestar assis- causados pelo pai, que substituíra de téncia ao menor, idoso, ou incapaz. repente o seu amor por ódio, que a I E a falta de cuidado, negligencia do ofendera com urna pala vra de opró- pai, rnáe, tutor, curador em relacáo brio, que tripudiara sobre o seu medo as pessoas que estáo oficialmente e que, finalmente, se desfizera dela, sob sua responsabilidade. Urna vez deixando-a na rnáo de estranhos? 42 � ABERTURA DO TEST AMENTO Nao cessava de pensar em rudo isso, te transmitidos aos herdeiros, que se variando-o de mil maneiras. "Sabe verificarn neste momento, sem que o que Lisa significava para mim?" - para isso seja necessária qualquer lembrou-se de repente da exclamacáo formalizacáo, do bébado Trussótzki, e sentiu que aquela exclarnacáo nao constituía ABERTURA DO INVENTÁRIO É apenas manha, mas que era amor. o ajuizamento de acáo judicial ou a "Mas como pode esse monstro ser proposicáo de procedimento admi- tao cruel com a enanca que tanto nistrativo, em Cartório de Notas, ama va? Será possível?" Mas, de cada a fim de efetivar a transmissáo dos vez, apressava-se a rejeitar essa per- bens, díreitos e obrigacóes deixados gunta e parecia afastá-la coma máo, pelo de cujus. O processo de inventá- nessa pergunta havia algo terrível, rio e partilha <leve ser instaurado em algo que lhe era insuportável e ... in- 60 dias contados da abertura da su- decifrado." cessáo e <leve ser requerido por quem estiver na posse e administracáo do (DOSTOIÉVSKI, Fiódor. O eterno espólio. marido. Trad. Bóris Schnaiderman. Sao Paulo: Ed. 34, 2003. p. 114). ABERTURA DO TESTAMENTO [ver , tb. testamento] E o ato por meio ABERTURA DA HERAN~ - É o do qual a autoridade judicial abre mesmo que abertura da sucessáo. o testamento, mandando registrar, verificando a regularidade formal e ABERTURA DA SUCESSAO [ver tb. determinando o seu cumprimento. principio de saisine] Também de- A expressáo "abertura de testamen- nominada abertura de heranca, é o to" embora se aplique a todo tipo de fenómeno jurídico que marca o mo- testamento, particular, público ou mento da marte do autor da heranca. cerrado, somente neste último caso A sucessáo mortis causa abre-se no é que ele é realmente aberto na pre- exato momento da marte, nao fican- senca do juiz e os herdeiros tomam do nenhum vazio entre o falecimento conhecimento do seu conteúdo. O do autor da heranca e a transmissáo particular e o público serño simples- dos bens, direitos e deveres aos su- mente entregues ao juízo, formando- cessores (Art. 1.784, CCB). se um processo para que seja deter- A Lei de Registros Públicos (Lei nº minado o seu cumprimento, mas os 6.015/73) determina que do assento herdeiros, na maíoria dos casos, já de óbito <leve constar dia, hora, mes térn acesso ao seu conteúdo antes e ano do falecimento (Art. 80), exata- mesmo de cumpridas as formalidades mente para que nao fique um vácuo de sua abertura. Da mesma forma se na transmissáo da heranca. A partir dá como codicilo. O jurista parana- desse momento, os direitos e obriga- ense, Zeno Veloso, urna das maiores cóes do morto sao instantaneamen- autoridades no assunto, ensina que 43 �AB INTESTA TO é um equívoco falar em abertura de ca faleceu sem deixar testamento e testamento, já que de fato nem todo por isso seus herdeiros recebem todo testamento passa por um procedi- o acervo hereditário, que se transmi- mento de abertura, mas apenas sao tirá de acordo com as regras da su- apresentados ao juiz com a morte do cessáo legítima, ou seja, pela ordem testador (VELOSO, Zeno. Comentá de vocacáo hereditária estabelecida rios ao Código Civil. Sao Paulo: Sa- em leí. Morrendo a pessoa sem testa raiva, 2003, v 21. p. 337). mento, transmite a beranca aos her deiros Legítimos; o mesmo ocorrerá JURISPRUDENCIA quanto aos bens que nao forem com ( ... ) No procedimento de jurisdicáo preendidos no testamento; e subsiste voluntária de abertura de testamen- a sucessdo Legítima se o testamento to, cabe ao juiz, após análise da do- caducar, ou far juLgado nulo (Art. cumentacáo apresentada, com a ve- 1.788, CCB). rificacáo da regularidade formal do testamento, ou seja, a mexistencia • • • A • ABRIGO DE MENORES [ver, tb. aco de vícios extrínsecos, a homologa- lhimento institucional] E o local s:ao, por sentenca, da declaracáo de onde se recolhem provisoriamente última vontade e a deterrninacáo do criancas ou adolescentes como medi- seu cumprimento, na forma dos arts. da de protecáo prevista no Estatuto 1.126 e 1.128 do CPC. Sendo assim, o da Crianca e do Adolescente (Art. pedido de nulídade do testamento, se 101, VII, Leí nº 8.069/90). A Lei nº fundado em defeitos intrínsecos, re- 12.010/09 substituiu esta expressáo lativos a forrnacáo e rnanifestacáo de por "Acolhimento Institucional". vontade do testador, deverá ser apre- ciado em acáo própria, a ser propos- JURISPRUDENCIA ta a tempo e modo. Impóe-se, pois, Medida protetiva. Abrigamento de a negativa de seguimento a apelacáo, menor. Obrigacáo do município. movida contra a decisáo que horno- Multa. Cabimento. l. O Município logou, por senrenca, a declaracáo de tem a obrigacáo legal de implantar última vontade nos autos do pedido políticas assistenciais de protecáo de abertura de testamento, por ser jurídico-social, cumprindo-lhe as- rnanifestamente improcedente. (Agi. segurar o abrigamento de enancas nº 1.0521.09.089.985-2/002, Rel. Des. e adolescentes em situacáo de risco. Eduardo Andrade, 1ª CC - TJMG. 2. Mostra-se descabida a negativa pub. 22104/2010). da instituicáo acolher em abriga- mento a menor que se encontra em AB INTESTATO [ver tb. sucessdo Le situacáo de risco pela prática de ato gítima] Expressáo em latím que infracional, sob o argumento de que I significa sem testamento. E utilizada colocaría em risco os demais meno- para informar que o autor da heran- res acolhidos, eis que ao Município 44 � A(,AO DE INVESTIGA(,AO DA PATERNIDADE cabe manter o abrigo em condicóes de idade avancada e com todas as de receber os menores ( ... ) (Ag. nº características de um estado senil, 70050712223 RS, Rel. Des. Sérgio pratica o delito de abuso de incapaz, Fernando de Vasconcellos Chaves, quem a induz a outorgar-lhe escri- 7ª CC-TJRS. j. 21/11/2012). tura de im6vel de sua propriedade (Tacrim/SP - HC - Rel. Rocha Lima I ABUSO DE INCAPAZ - E o ato pelo - RT 462/367). (Ap. Criminal nº qual se induz menores ou incapazes, 0116/2005- Processo: 2005305392, abusando de sua inexperiencia e in- Rel.ª Des.ª Célia Pinheiro Silva Me- genuidade, ludibriando-os a praticar nezes, Cámara Criminal do TJSE. j. atas que produzem efeitos jurídicos, 23/05/2006). causando prejuízos a esses incapa- zes ou a terceiros. E' um tipo penal A~AO DE INVESTIGA~O DA PA- previsto no art. 173 do Código Pe- RENTALIDADE [ver tb. inuestigacdo nal: Abusar, em proueito proprio de ascendéncia genética, inuestigacdo ou alheio, de necessidade, paixdo de paternidade e multiparentalidade I ou inexperiencia de menor, ou da socioafetividade] E o procedimen- alienacdo ou debilidade mental de to judicial para saber quem é o pai, outrem, induzindo qualquer deles a a máe ou outro parente, independen- prática de ato suscetiuel de produzir temente da origem genética, país o efeito jurídico, em prejuizo próprio parentesco pode decorrer também ou de terceiro: Pena reclusáo, de da socioafetividade. O parentesco é dois a seis anos, e multa. natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem JURISPRUDENCIA (Art. 1.593, CCB). ( ... ) Nao é necessário que o agente O reconhecimento do estado de filia- críe ou estimule a paixáo, basta que s;ao é um direito personalíssimo, in- a explore. A condura é a de induzir, disponível e imprescritível (Art. 27, ou seja, convencer, persuadir, levar Lei nº 8.069/90). a vítima a pratica de ato capaz de Na acáo de investígacáo de parenta- produzir efeitos jurídicos, pouco lidade, a sentenca declara o vínculo importando se o agente se utiliza de de parentesco e determina, ou nao, a artificios ou ardís ou nao. Exige-se consequente alteracáo nos registros apenas, que os meios sejam idóneos, públicos de nascimento. A investiga- hábeis a enganar. Necessário é que s;ao de parentalidade é o genero das o ato possa produzir efeito jurídico, espécies investigacáo de paternidade, revelando ser indispensável a exis- investigacáo de maternidade e inves- tencia, ao menos, de um prejuízo tigacáo de origem genética. potencial (in Manual de Direito Pe- nal, p. 307). Nesse sentido: Haven- DISPOSITIVOS NORMATIVOS do sérias e fundadas dúvidas quanto CCB - Arts. 230, 231, 232, 1.593, a sanidade mental da vítima, pessoa 1.596 a 1.617. 45 �A<;Ao DE PRESTA<;Ao DE CONTAS Lei nº 8.560/92. miliar. ( ... ) (REsp. nº 1.229.044 SC, Lei nº 8.069/90 - Estatuto da Crianca Relª Minª Nancy Andrighi, 3ª T - e do Adolescente -Art. 27. STJ. j. 04/06/2013). Súmulas STJ: 1, 277, 301e383. A~O DE PRESTA~O DE CONTAS JURISPRUDENCIA - Ver prestacáo de contas. ( ... ) No campo da investigacáo da parentalidade, almeja-se o reconhe- Ac;ÁO DE SONEGADOS [ver tb. cimento do estado de filiacáo, nao bens sonegados, sonegados, sobre havendo prevalencia necessária do partilha] E' a acáo audicial que se laco biológico, podendo estabelecer processa pelo rito ordinário, pro- a condicáo paterno-filial por forca posta em razáo da sonegacáo de de um vínculo genético ou socioa- bens que deveriam ter sido levados a fetivo, a depender do caso concre- inventário e, maliciosamente, ocul- to. De outra banda, no ámbito da tados. Ela pode ser proposta pelos investigacáo de origem ancestral, o herdeiros, ou credores, contra o in- objetivo é mais simples e o objeto ventariante, co-herdeiros ou quem cognitivo do processo mais estreito: tenha retirado da heranca bens em tao somente estabelecer a origem prejuízo dos herdeiros ou credores. genética de alguém, independente- Além da obrigacáo de devolver a he- mente de ter sido, ou nao, estabe- ranca o bem sonegado, perde o di- lecido o vínculo filiatório. Em situ- reito que lhe cabia sobre aquele bem acóes como a dos autos, há que se (Art. 1.992, CCB). ter em mente que a fragilidade e a fluidez dos relacionamentos entre DISPOSITIVOS NORMATIVOS os seres humanos nao deve perpas- CCB - Arts. 1.992 a 1.996. sar as relacóes entre pais e filhos, A as quais precisam ser perpetuadas JURISPRUDENCIA e solidificadas. Em contraponto a ( ... ) A existencia de dolo é irnanente instabilidade dos vínculos advin- ao instituto da sonegacáo, razáo pela dos dos relacionamentos amorosos qual a inrencáo de ocultacáo dos ou puramente sexuais, os laces de bens pelo inventariante é pressupos- filiacáo devem estar fortemente as- to para aplicacáo da pena de perda segurados, em atencáo ao interesse do direito sobre os bens sonegados, a maior da enanca. A vista desses ar- qual nao se aplica, pois, nos cornpor- gumentos, é inaceitável que alguém, tamentos culposos, como os decor- publicamente, se declare pai, cons- rentes de omissáo involuntária, erro, ciente de que nao o é, e, quando o ignorancia etc. - Nao demonstrado amor pela máe da crianca acaba, o dolo da inventariante em ocultar simplesmente desista de se-lo, va- bens, no intuito deliberado de frau- lendo-se da inexistencia do vínculo dar o inventário e se beneficiar em biológico e da falta de convívio fa- prej uízo dos demais herdeiros, nao se 46 � ACEIT A(,ÁO PRESUMIDA DA HERAN(,A vislumbra a aplícacáo da sancáo de sa manifestar a aceitacdo para que sonegacáo, prevísta na parte final do ocorra a transmissdo. A aquisicáo da art. 1.992 do ce, cabendo, contudo, heranca tácita e se dá no momento é a sobrepartilha dos bens do falecido da marte do de cujus. A leí simples ainda nao partilhados. (Ap. Cível nº mente assinala que a transmissdo é 1.0518.11.012053-3/001, Rel.ª Des.ª. definitiva desde a abertura da suces Ana Paula Caixeta, 4ª CC-TJMG. sao. A heranca deferida ao herdeiro é pub. 28/08/2013). com a ocorréncia da morte. Apenas éfacuitada a possibilidade de renun ACEITA9\0 DA HERAN~ [ver tb. ciar. Ou seja, a transmissáo acorre, abertura da sucessiio, aceitacdo mas está sujeita a condicáo resoluti expressa, aceitacdo presumida, va: a renúncia. (DIAS, Maria Bereni- aceitacdo tácita, adiyao de heran, ce. Manual das sucessiies. 2. ed. Sao ya, deladio, renúncia, saisine] E Paulo: Revista dos Tribunaís, 2011.
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