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Letícia Morais | Bioquímica Aplicada às Análises Clínicas – Aula 8: Fisiopatologia e avaliação laboratorial da função pancreática BURTIS, C.A.; BRUNTS, D. Tietz: Fundamentos de Química Clinica e Diagnostico Molecular. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Capítulo 38. HENRY. Diagnósticos clínicos e tratamento por métodos laboratoriais. 21ª ed. Capítulo 22. A digestão dos alimentos e a absorção de nutrientes são resultados de funções coordenadas que ocorrem no TGI. A coordenação e regulação dessas funções dependem de hormônios que estimulam ou inibem secreção de fluidos contendo HCl, ácidos biliares, bicarbonato e enzimas digestivas. ANATOMIA ► Principais órgãos do TGI: estomago, intestinos delgado e grosso, pâncreas e vesícula biliar. ► Todos os órgãos estão envolvidos nos processos digestivos. Pâncreas possui 12-15 cm de comprimento e está localizado em frente à parede posterior da cavidade abdominal. Cabeça localizada na curva do duodeno e o corpo e cauda dirigidos para a esquerda. PROCESSO DIGESTIVO Figura 1 Fases do processo digestivo ► Enzimas digestivas do pâncreas entram no duodeno, misturando-se com bolo alimentar. PEPTÍDEO REGULADOR GASTRINTESTINAL ► Peptídeos reguladores são liberados pelas ilhotas pancreáticas ou a partir de células endócrinas da mucosa intestinal. ► Coletivamente, os hormônios auxiliam na motilidade, secreção, digestão e absorção no intestino. Ainda, regulam fluxo biliar e secreção de hormônios pancreáticos. Gastrina Produzida e armazenada por células endócrinas da mucosa antral e, em menor grau, pelo duodeno e células das ilhotas pancreáticas. Aumenta motilidade gástrica e intestinal, crescimento da mucosa e fluxo sanguíneo para o estomago. Secretina Liberada pelo contato das células S com HCl gástrico, entretanto, o suco pancreático neutraliza ácido gástrico e remove um estimulo para sua própria secreção. O inibidor fisiológico da liberação de secretina é a somatostatina. DISTÚRBIOS E DOENÇAS DO PÂNCREAS ► Insuficiência pancreática = incapacidade do pâncreas em produzir e/ou transportar enzimas digestivas para metabolizar alimentos no intestino e permitir sua absorção. ► Resultado de dano pancreático crônico e frequentemente associado com Fibrose Cística (FC) em crianças e pancreatite crônica em adultos. Transtornos adultos do pâncreas exócrino ► Grandes perturbações pancreáticas exócrinas no adulto são pancreatite aguda, pancreatite crônica e carcinoma do pâncreas. ► Pancreatite crônica: doença inflamatória caracterizada pela destruição persistente e progressiva do pâncreas que leva à destruição das funções endócrina e exócrina. A causa mais é o álcool (países ocidentais). Microamilasemia ► Elevação persistente da atividade de amilase sérica, sem nenhuma manifestação aparente dos sintomas clínicos de um distúrbio pancreático. ► Atribuída à presença de um complexo amilase-macromolécula que não é excretada na urina e tem maior tempo de meia-vida. ► Estima-se que peso molecular varie de 150.000-1.000.000. ► Lipase sérica pode formar complexo com imunoglobulinas circulantes → macrolipasemia. ► Condição adquirida e benigna que pode ser observada em indivíduos aparentemente sadios, e que é mais frequente em homens. ► Considerada em pacientes que apresentam hiperamilasemia, taxa de depuração amilase-creatinina muito baixa ( < 1 o/o) e função renal normal. Pancreatite aguda ► Teste laboratorial diagnostico universal = amilase sérica. ► Amilase sérica sofre uma elevação de sua concentração ao longo das primeiras 2 a 12 horas após o início de uma pancreatite aguda, atinge os valores de pico em 48 horas e volta ao normal em 3 a 5 dias. Sensibilidade é restrita no caso de pacientes com hipertrigliceridemia e alcoólatras. ↓Especificidade: elevações da amilase oriundas de processos intra-abdominais inflamatórios e inflamação das glândulas salivares parótida e submandibular. Método acurado num cenário clínico adequado. ► Manifestações clínicas: dor epigástrica "tediosa" que irradia para as costas ou flancos, náuseas e vômitos. ► Lipase sérica: aumento discreto antes da elevação dos níveis de amilase, 4 a 8 horas após o início de um episódio de pancreatite aguda, atingindo os valores de pico igualmente antes (em 24 horas), permanecendo no soro 8-14 dias. Mais sensível e específica do que a amilase sérica. Reservado para pacientes cujos sintomas clínicos são consistentes com a doença e nos quais os níveis séricos de amilase parecem ser falsamente baixos. ► Em cada quatro pacientes com pancreatite induzida por álcool, um apresenta níveis normais de amilase. Proporção lipase/amilase parece ser preditiva da pancreatite induzida por álcool e Transferrina Deficiente em Carboidratos (CDT) parece ser útil na determinação do alcoolismo. ► Apenas Peptídeo Ativador de Tripsinogênio (TAP) e hematócrito mostraram-se uteis no inicio do curso da doença. ► Proteína C-Reativa (PCR) é útil em fases subsequentes (36 a 48 horas após o início dos sintomas), na determinação da existência de necrose pancreática. Pancreatite crônica ► Destruição progressiva das células das ilhotas e do tecido acinar do pâncreas. ► Testes laboratoriais têm pouco valor em casos de pacientes com suspeita de pancreatite crônica. ► Manifestações clinicas: discreta intolerância à glicose até diabetes melito, dor abdominal crônica e/ou má digestão/absorção. Pode haver hiperglicemia e subsequente disfunção endócrina do pâncreas. ► À medida que a desnutrição evolui, a concentração sérica de albumina diminui. Os níveis séricos de beta-caroteno detectados podem se tornar baixos conforme a má absorção de lipídeos se desenvolve. ► Diagnostico clinico: detecção de anomalias estruturais na anatomia ductal através de técnicas de imagem, tipicamente ERCP. ► Método simples para avaliar a função pancreática: detecção de gordura nas fezes. Fibrose cística ► Doença autossômica recessiva grave. ► Caracterizada pela atividade secretória anormal de várias glândulas exócrinas do corpo, incluindo pâncreas, glândulas salivares, peritraqueais, peribrônquicas e peribronquiolares, bem como glândulas lacrimais, sudoríparas, mucosas do intestino delgado e dos duetos biliares. ► Diagnóstico laboratorial depende da demonstração do aumento da concentração de sódio e cloreto no suor. TESTES, MÉTODOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS MAIS COMUNS Testes de função exócrina do pâncreas ► Funções exócrinas: produção e secreção de suco pancreático, rico em enzimas e bicarbonato. ► Testes laboratoriais invasivos e não invasivos estão disponíveis para medir função exócrina na investigação da insuficiência pancreática. ► Exames não invasivos: simples, menos dispendiosos, ↓sensibilidade clinica e ↓especificidade. Testes invasivos da função pancreática exócrina ► Incluem medição do volume total de suco pancreática, quantidade/concentração de bicarbonato e atividade de enzimas pancreáticas no conteúdo duodenal. ► Enzima mais medida: tripsina. ► Teste de Lundh: interesse histórico. ► Teste da secretina: baseia-se no princípio que a secreção de suco pancreático e de bicarbonato estão relacionadas com massa funcional do tecido pancreático. A adição de CCK fornece uma avaliação completa da função pancreática. Testes não invasivos da função pancreática exócrina ► Nenhum tem sensibilidade clinica adequada para detectar doença pancreática precoce. ► Utilizados quando se investigam causas de má absorção. ► Elastase fecal: teste não invasivo de escolha para avaliação de insuficiência pancreática. Amilase (total sérica e urinaria) ► Permanece estável por 1 semana, à temperatura ambiente, ou por 6 semanas, quando mantida em frascos bem vedados sob refrigeração. ► Cuidado para evitar contaminação das amostras com saliva, uma vez que seu conteúdo de amilase é cerca de 700 vezes o conteúdo existente no soro. ► Elevações dos níveis séricos e urinários de amilase são detectadas em uma ampla variedade de distúrbios. ► Maior parte das elevações se deve ao aumento da taxa de entrada da enzima na circulação sanguínea, à diminuição de sua taxa de depuração ou a ambos. ► Atividadeda amilase sérica aumenta dentro de 6 a 48 horas após o início de um episódio de pancreatite. Aumento não proporcional à severidade da doença. ► Maioria dos pacientes com pancreatite aguda → a atividade de amilase sérica está aumentada e há aumento concomitante da atividade da amilase urinária. ► Aumento da depuração renal de amilase pode ser utilizado no diagnóstico da pancreatite aguda e recorrente. Lipase ► Proteínas, ácidos biliares e fosfolipídeos inibem a lipase sérica. As colipases revertem essa inibição. ► Lipase e colipase: secretadas pelo pâncreas e encontradas no soro. ► Colipase está presente no sangue de pacientes com pancreatite, ainda que em concentrações variáveis e usualmente em níveis abaixo do normal e inferiores à concentração necessária para ativar totalmente a lipase pancreática. ► Em situação normal, sofre total reabsorção nos túbulos proximais renais e está ausente na urina. ► Pancreatite aguda: atividade de lipase sérica tende a aumentar mais ou menos concomitantemente (ou até antes) ao aumento dos níveis de amilase sérica, permanecendo alta por cerca de 7-10 dias. ► Uso combinado de lipase e amilase séricas é eficaz na exclusão da pancreatite aguda. Tripsinogênio ► Produzido pelo pâncreas exócrino sob a forma de duas pró-enzimas (tripsinogênios 1 e 2). ► Indicador específico de dano pancreático. ► Testes para detecção de tripsina têm utilidade clínica no diagnóstico da pancreatite aguda. ► Utilizados com o objetivo de diferenciar a causa do episódio agudo de pancreatite (T1 → pancreatite biliar; T2 → pancreatite associada ao consumo de álcool). ► Níveis enzimas aumentam dentro de algumas horas, após o início do episódio agudo, e magnitude do aumento corresponde ao grau de severidade da inflamação pancreática. Testes para esteatorreia ► Testes de triagem: exame microscópico de fezes → pesquisa de glóbulos de gordura e determinação do conteúdo sérico de carotenoides. ► Teste respiratório: esteatorreia resulta na redução da aborção de TGs pelo sistema digestivo que provoca diminuição de CO2 expirado. ► Teste definitivo: determinação do conteúdo de gordura presente nas fezes. Elastase fecal ► 6% da secreção enzimática do pâncreas. ► Sobrevive ao trânsito intestinal e permanece intacta, aparecendo nas fezes em concentrações de 5 a 6 vezes maiores que sua concentração no suco pancreático. ► Avaliação indireta da função pancreática para auxiliar o diagnóstico de insuficiência pancreática exócrina. ► Concentração está aumentada na pancreatite aguda e redicivante na doença crônica, ainda mais intensamente que os níveis de amilase sérica. ► Mais especifica para detecção de pancreatite que amilase sérica, acompanhando com maior acurácia a evolução clínica da doença. Neurogênica Gástrica Intestinal Iniciada pela visão, aroma e sabor; Secreção de pepsinogênio, HCl e gastrina. Iniciada pela distensão causada pela entrada do alimento no estômago; Liberação de HCl e gastrina. Começa quando produtos digestivos levemente ácidos de proteínas e lipídeos chegam ao duodeno. Liberação de hormônios gastrintestinais.