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DIREITOS REAIS E AÇÕES POSSESSÓRIAS Direitos Reais: ● Conceitos: ○ Orlando Gomes: “os direitos reais são uma relação de gênero e espécie entre bem e coisa, sendo possível a existência de bens com ou sem qualquer expressão econômica, enquanto a coisa sempre apresenta economicidade e é inevitavelmente corpórea”. ○ Clóvis Beviláqua: “o complexo de normas reguladoras das relações jurídicas concernentes aos bens corpóreos suscetíveis de apropriação pelo homem”. ○ Cristiano Vieira Sobral Pinto: o direito real se diferencia do direito pessoal eis que o direito real diz respeito a um poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e oponível contra todos (efeito erga omnes) e o direito pessoal refere-se a uma relação jurídica em que o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. ● Teorias: ○ Teoria Unitária: direito obrigacional e direitos reais pertencem a um mesmo ramo do direito, o direito patrimonial. ○ Teoria dualista ou clássica: o direito real apresenta características próprias que o diferenciam do direito obrigacional. ● Princípios: ○ Aderência, especialização ou inerência: forma vínculo entre o sujeito e a coisa. ○ Absolutismo: atribui efeito erga omnes aos direitos reais, isto é, a coletividade deve se abster de molestar o titular do direito, o que da origem ao direito de sequela, ou, jus persequendi e o jus praeferendi; ○ Publicidade ou visibilidade: o registro e a tradição nos termos definidos por lei confere a publicidade da titularidade da coisa. 1 ○ Taxatividade: os direitos reais estão todos previstos em lei, ou seja, são numerus clausus, limitados pelo legislador. (Art. 1225, CC/02) ○ Exclusividade: não recaem sobre a mesma coisa o mesmo direito real de igual conteúdo. ○ Desmembramento: há o desmembramento do direito-matriz, tal qual a propriedade, constituindo direitos reais sobre as coisas alheias, que, uma vez extintos, fazem a titularidade plena retomar às mãos do proprietário. ○ Preferência: nos direitos reais de garantia, trata-se do privilégio do titular de um direito real em obter o pagamento de um débito (ex: credor quirografário recebe posteriormente ao pagamento de todos os credores com garantia real). Posse: ● Conceito: situação fatia com carga potestativa que, em decorrência da relação socioeconômica formada entre um bem e o sujeito, produz efeitos que se refletem no mundo jurídico. A posse será exteriorizada por meio de um dos poderes inerentes às faculdades do proprietário, ou seja, poder de gozar, usar e dispor. ● Natureza juridica: ○ 1ª corrente: a posse é um fato que gera consequências na esfera jurídica, mas, no entanto, não é um direito real, dado que estes possuem status de numerus clausus, e a posse não encontra-se descrita no rol do Art. 1225. ○ 2ª corrente: trata-se de um direito, eis que é juridicamente protegido. ○ 3ª corrente: a posse é um direito real dado que seu objeto é uma coisa determinada e não a prestação. ● Teorias: ○ Teoria Subjetiva: Elaborada por Savigny, defende que a posse se da pela conjugação do corpus (elemento objetivo, representa a detenção física da coisa) e do animus (elemento subjetivo, é a intenção de exercer sobre a coisa o poder do interesse próprio - animus rem sibi habendi). A posse é o poder físico que é exercido sobre o bem objetivando tornar-se proprietário. 2 ○ Teoria Objetiva: Desenvolvida por Ihering, preceitua que o animus já está inserido no corpus. Não há necessidade de observar a intenção do agente. A posse é a exteriorização do domínio. Atribui menor valor à posse em relação à propriedade. Não é necessário contato físico para ser caracterizado como seu possuidor. É a teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, conforme se observa nos arts. 1196 e 1228, CC/02. Affectio tenendi → a utilização do bem como se proprietário fosse, atribuindo função econômica e social a ele, corresponde à posse direta para a teoria objetiva e à detenção, para a subjetiva. Função social da posse → encontra fundamento em nosso ordenamento através do art. 1 III; art. 5, XXIII, art. 6; art. 18; art. 191, todos da CF/88 e no Código Civil nos arts. 1197, 1210, § 2º, 1228, §§ 4º e 5º e art. 1238, § único. Termina com a hierarquia entre posse e propriedade. ➔ Leading Case: Favela Pullman, REsp n. 75.659/SP CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. TERRENOS DE LOTEAMENTO SITUADOS EM ÁREA FAVELIZADA. PERECIMENTO DO DIREITO DE PROPRIEDADE. ABANDONO. CC, ARTS. 524, 589, 77 E 78. MATÉRIA DE FATO. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 7-STJ. I. O direito de propriedade assegurado no art. 524 do Código Civil anterior não é absoluto, ocorrendo a sua perda em face do abandono de terrenos de loteamento que não chegou a ser concretamente implantado, e que foi paulatinamente favelizado ao longo do tempo, com a desfiguração das frações e arruamento originariamente previstos, consolidada, no local, uma nova realidade social e urbanística, consubstanciando a hipótese prevista nos arts. 589 c/c 77 e 78, da mesma lei substantiva. II. A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial - Súmula n. 7-STJ. III. Recurso especial não conhecido. 3 (STJ - REsp: 75659 SP 1995/0049519-8, Relator: Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Data de Julgamento: 21/06/2005, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 29/08/2005 p. 344) V Jornada de Direito Civil, 492: A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela. Animus domini → a expressão significa a intenção de agir como dono. Indica a intenção de possuir, de ser dono. A posse animus domini traduz-se como "intenção de obter o domínio da coisa". Detenção: ● Conceito: ocasiões onde a pessoa não se qualifica para ser possuidora, mesmo exercendo poderes de fato sobre uma coisa, tal desqualificação decorre da lei (art. 1198 e 1208, CC/02). O detentor pode ser conhecido também como fâmulo ou servo da posse em relação ao dono. São exemplos de detentores o caseiro, o motorista em relação ao automóvel de seu patrão. O detentor não pode utilizar os interditos possessórios mas está autorizado a utilizar o desforço imediato/autodefesa da posse para proteger o bem de seu patrão. (V Jornada de Direito Civil, enunciado 493). Nada impede a alteração do status de detentor para possuidor, conforme preceitua o enunciado 301, IV Jornada de Direito Civil do CJF e art. 1198, parágrafo único, CC/02. Ex: morte do dono da propriedade, ninguém assume o imóvel, o caseiro passa, a partir da data da morte, a exercer a posse sobre o imóvel. Transmudação → art. 1196, parágrafo único Intervenção → art. 1203: trata-se da mudança no título da posse preexistente. 4 Obs.: mediante violência e atos clandestinos não há posse, mas sim mera detenção (art. 1208, CC/02). Esbulho → ato de usurpação pelo qual uma pessoa é privada, ou espoliada, de coisa de que tenha propriedadeou posse. Reintegração de posse → art. 558, CPC/15. Detenção autônoma → não possui relação jurídica com o possuidor anterior, ocupa o imóvel em interesse próprio. Detenção dependente → art. 1208 Compossessão → art. 1199 ● Espécies de posse: ○ Posse direta ou imediata: quando a posse decorre de contrato ou direito real, na qual o possuidor tem a coisa em seu poder temporariamente. ○ Posse indireta ou mediata: diz respeito a posse daquele que cede o uso do bem, o poder fático é de menor intensidade. ○ Posse justa: adquirida legitimamente, sem vícios jurídicos. ○ Posse injusta: adquirida de maneira viciosa, é injusta somente perante o legítimo possuidor, sendo, no entanto, justa e suscetível de proteção em relação a terceiros, isto é, mesmo injusta, pode se valer das ações possessórias. ■ Violenta: adquirida através de força física ou grave ameaça. ■ Clandestina: adquirida de maneira oculta. ■ Precária: adquirida através do abuso de confiança, o vício nasce no momento em que o possuidor se recusa a atender à revogação da situação possessória que lhe foi conferida. 5 ○ Posse de boa-fé: ocorre quando o possuidor não tem conhecimento do vício, a posse de boa-fé (præsumptio iuris tantum) é presumida no Código Civil de 2002. ○ Posse de má-fé: o possuidor tem conhecimento dos vícios na aquisição da posse (art. 1202, CC/02). ○ Posse nova: a posse que tem lapso temporal inferior a 1 ano e 1 dia. ○ Posse velha: quando a posse possui mais de 1 ano e 1 dia. ○ Posse natural: constitui-se pelo exercício de poderes de fato sobre a coisa. ○ Posse civil ou jurídica: existe por força da lei. ○ Posse ad interdicta: a que pode ser protegida por interditos ou ações possessórias, mas não conduz a usucapião. ○ Posse ad usucapionem: a que é se prolonga por tempo definido em lei e portanto confere ao titular a aquisição do domínio. São requisitos o animus e o corpus, bem como a posse mansa e pacífica. Aquisição da posse: se dá no momento em que se torna possível o exercício em nome próprio de qualquer um dos poderes inerentes à propriedade (art. 1196 e 1204, CC/02). A posse geralmente se da pela tradição, podendo ser real, simbólica e ficta. ● Aquisição derivada: gera a posse civil. Dá-se nas ocasiões em que há anuência do anterior possuidor, como na hipótese da tradição. Ver art. 1203, CC/02. ● Aquisição originária: gera a posse natural. Ocorre quando não há relação de causalidade entre a posse atual e a anterior. Cláusula constituti: é uma das formas de aquisição de posse, porém de posse indireta. Deve estar expressamente inserida no contrato. Cabível para bens móveis e imóveis (enunciado 77 da I Jornada de Direito Civil). ● Pessoas que podem adquirir a posse: 6 ○ Pessoa capaz que assim pretenda; ○ O representante legal ou convencional; ○ Terceiro sem mandato (gestor de negócio); ○ Coletividade de pessoas. Obs.: Considera-se possuidor, para todos os efeitos legais, também a coletividade desprovida de personalidade jurídica (Enunciado 236, III Jornada de Direito Civil). Posse por meio de sucessão hereditária: a posse pode ser adquirida através da sucessão, conforme prevê o art. 1784, CC/02, aos herdeiros legítimos e testamentários, não se aplicando ao legatário (art. 1923, CC/02). ● Perda da posse: há a perda da posse quando cessa o poder sobre o bem, mesmo que contra a vontade de seu possuidor (art. 1223, CC/02). ○ Modalidades de perda da posse: ■ Pelo abandono ou derrelição; ■ Pela tradição; ■ Pela destruição da coisa; ■ Por sua colocação fora do comércio; ■ Pela posse de outrem; ■ Pelo constituto-possessório (espécies de tradição ficta) ■ Pelo traditio brevi manu (espécies de tradição ficta) ■ Pela supressio Traditio brevi manu → quando o possuidor possui em nome alheio e passa a possuir a coisa em nome próprio. Supressio → é a situação do direito que deixou de ser exercida a partir de um momento. Há a quebra de confiança que gera prejuízo à outra parte, é a perda de uma situação jurídica. ● Efeitos da posse: ○ Proteção possessória, abrangendo à autodefesa e a invocação dos interditos; 7 ○ Percepção dos frutos; ○ Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa; ○ Indenização pelas benfeitorias e o direito de retenção; ○ Usucapião. Turbação → incômodo na posse de outrem. Decorre da prática de atos abusivos que podem afrontar direitos de outrem ensejando o impedimento do livre exercício da posse, sem contudo, causar o efeito perda, conforme preceitua o artigo 1.210 do Código Civil. A turbação pode se manifestar por meio de diversos atos abusivos, tais como: a derrubada de uma cerca limítrofe, o trânsito de pessoas ou máquinas em propriedade alheia, o uso indevido de calçada e estacionamento privativo, etc. Esbulho → a privação da posse. Ocorre através de ato de terceiro que se apodera, ilegitimamente, da coisa alheia em decorrência de violência, clandestinidade e precariedade, são atos que importam na perda do direito da posse da coisa, estes atos se caracterizam pela força bruta, pelo desconhecimento do possuidor legítimo e pelo abuso de confiança daquele que recebe a coisa com a obrigação de restituí-la e não o faz, respectivamente. Ações possessórias: Para haver legitimatio, é necessário que o peticionante encontre-se na condição de possuidor, mesmo que não haja título. Não são legitimados o nascituro, eis que possui mera expectativa de direito, e ao detentor. A ação poderá ser proposta contra o autor da ameaça, turbação ou esbulho, seu tutor, genitor ou curador em caso de menor ou incapaz, a pessoa que ordenou a prática do ato molestador, o herdeiro a título universal ou mortis causa, a pessoa juridica de direito privado ou público que cometeu o ato molestador. ● Modalidades de Ações Possessórias: ○ Ação de manutenção de posse; ○ Ação de reintegração de posse; 8 ○ Interdito proibitório. Direito de Retenção → é um meio de defesa outorgado ao credor, a quem é reconhecida a possibilidade de continuar a deter coisa alheia, mantendo-a em seu poder até que seja pago o crédito que originou a retenção. 9
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