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Inquérito Policial

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Inquérito Policial 
Conceito 
O inquérito policial é um procedimento administrativo informativo, destinado a apurar a existência de 
infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação penal disponha de elementos suficientes para 
promovê-la. 
Natureza 
Trata-se de uma instrução provisória, preparatória e informativa, em que se colhem elementos por vezes 
difíceis de obter na instrução judiciária, como auto de flagrante, exames periciais, entre outros. 
Finalidade 
Seu destinatário imediato é o Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) ou o ofendido (nos 
crimes de ação penal privada), que com ele formam a sua opinio delicti para a propositura da denúncia 
ou queixa. Por outro lado, o inquérito tem como destinatário mediato o Juiz, que nele também pode 
encontrar fundamentos para julgar. 
Diz o artigo 12 do Código de Processo Penal: "o inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, 
sempre que servir de base a uma ou outra". Deste dispositivo deduz-se que o inquérito não é 
indispensável para o oferecimento da denúncia ou da queixa. Além disso, o artigo 39, § 5º e 46, § 1º, do 
mesmo codex, acentuam que o órgão do MP pode dispensar o inquérito. Por isso, tem-se decidido que, 
tendo o titular da ação penal os elementos necessários para o oferecimento da denúncia ou queixa, o 
inquérito é perfeitamente dispensável. 
Ademais, o artigo 27 do código em comento determina que qualquer um do povo pode provocar a 
iniciativa do MP fornecendo-lhe informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os 
meios de convicção. 
O inquérito policial não se confunde com a instrução criminal. Por essa razão, não se aplicam ao 
inquérito os princípios do processo penal, nem mesmo o contraditório, pois o inquérito não tem 
finalidade punitiva, mas apenas investigativa. O que se assegura, unicamente, é a possibilidade da vítima 
e do indiciado fazerem requerimentos ao delegado, as quais poderão ou não ser atendidos. 
Início do Inquérito Policial 
O inquérito policial pode começar: 
• de ofício, por portaria ou auto de prisão em flagrante; 
• requisição do Ministério Público ou do Juiz; 
• por requerimento da vítima; 
• mediante representação do ofendido. 
Características 
O inquérito policial é: 
• Discricionário: a polícia tem a faculdade de operar ou deixar de operar dentro de um campo 
limitado pelo direito. Por isso, é lícito à autoridade policial deferir ou indeferir qualquer pedido 
de prova feito pelo indiciado ou pelo ofendido (art. 14/CPP), não estando sujeita a autoridade 
policial à suspeição (art. 107/CPP). O ato de polícia é autoexecutável, pois independe de prévia 
autorização do Poder Judiciário para a sua concretização jurídico material. 
• Escrito: porque é destinado ao fornecimento de elementos ao titular da ação penal. Todas as 
peças do inquérito serão, em um só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste 
caso, rubricadas pela autoridade (art. 9º /CPP). 
• Sigiloso: pois só assim a autoridade policial pode providenciar as diligências necessárias para a 
completa elucidação do fato sem que lhe seja posto empecilhos para impedir ou dificultar a 
colheita de informações, com ocultação ou destruição de provas, influência sobre testemunhas 
etc. Por isso, dispõe a lei que "a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à 
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade" (art. 20/CPP). Tal sigilo não se estende 
ao Ministério Público, que pode acompanhar os atos investigatórios, nem ao Poder Judiciário. O 
advogado só pode ter acesso ao inquérito policial quando possua legimitatio ad 
procedimentum e, decretado o sigilo, em segredo de Justiça, não está autorizada sua presença a 
atos procedimentais, diante do princípio da inquisitoriedade que norteia nosso Código de 
Processo Penal quanto à investigação. Pode, porém, manusear e consultar os autos findos ou em 
andamento (art. 7º, XIII e XIV, do EOAB). Diante do art. 5º, LXIII, da CF, que assegura ao preso 
a assistência de advogado, não há dúvida que poderá o advogado, ao menos nessa hipótese, não 
só consultar os autos de inquérito policial, mas também tomar as medidas pertinentes em 
benefício do indiciado. Com a edição da súmula vinculante nº 14, garantiu-se ao advogado o 
amplo acesso aos elementos de prova colhidos durante o procedimento investigatório, desde que 
já documentados, a fim de que o seu representado possa exercer seu direito de defesa. 
• Indisponível: porque uma vez instaurado regularmente, em qualquer hipótese, não poderá a 
autoridade arquivar os autos (art. 17/CPP). 
• Obrigatório: na hipótese de crime apurável mediante ação penal pública incondicionada, a 
autoridade deverá instaurá-lo de ofício, assim que tenha notícia da prática da infração (art. 5º, I, 
do CPP). 
Competência 
Salvo exceções legais, a competência para presidir o inquérito policial é deferida, em termos 
constitucionais, aos delegados de polícia de carreira (autoridade policial), de acordo com as normas de 
organização policial dos Estados. 
Essa atribuição é distribuída, de um modo geral, de acordo com o lugar onde se consumou a infração 
(ratione loci), em obediência à lei processual que se refere ao território das diversas circunscrições. O art. 
22, porém, determina que "no DF e nas comarcas em que houver mais de uma circunscrição policial, a 
autoridade com exercício em uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar 
diligências em circunscrições de outra, independentemente de precatória ou requisições, e bem assim 
providenciará, até que compareça a autoridade competente sobre qualquer fato que ocorra em sua 
presença, noutra circunscrição". O art. 4º, aliás, não impede que a autoridade policial de uma 
circunscrição (Estado ou Município) investigue os fatos criminosos que, praticados em outro local, hajam 
repercutido na de sua competência, pois os atos de investigação, por serem inquisitoriais (e não um 
processo), não se acham abrangidos no artigo 5º, LIII, da CF, segundo a qual ninguém será processado 
nem sentenciado senão pela autoridade competente. 
Nada impede também que se proceda à distribuição da competência em razão da matéria (ratione 
materiae), ou seja, levando-se em conta a natureza da infração penal. Aliás, em vários estados têm sido 
criada delegacias especializadas (homicídios, tóxicos, da mulher etc). 
A competência para o inquérito policial que envolva titulares de prerrogativa de função cabe ao próprio 
foro do titular (STF, STJ, TJ etc). 
Valor probatório 
Como instrução provisória, de caráter inquisitivo, o inquérito policial tem valor informativo para 
instauração da competente ação penal. Entretanto, nele se realizam certas provas periciais que contém 
maior dose de veracidade, porque são baseadas em fatores de ordem técnica. Nessas circunstâncias, têm 
igual valor a das provas colhidas em juízo. 
O conteúdo do inquérito, tendo por finalidade fornecer ao detentor do direito de ação os elementos 
necessários para a propositura de ação penal, não deixa de influir no espírito do juiz na formação de seu 
livre convencimento para o julgamento da causa. Não se pode, porém, fundamentar uma decisão 
condenatória apoiada exclusivamente no inquérito policial, o que contraria o princípio constitucional do 
contraditório, que não existe no inquérito. 
Vícios 
Sendo o inquérito mero procedimento informativo, os seus possíveis vícios não afetam a ação penal a que 
deu origem. A desobediência às formalidades legais podem acarretar a ineficácia do ato em si 
(relaxamento de prisão em flagrante, por exemplo), mas não influi na ação já iniciada, com denúncia 
recebida. Porém, tais irregularidades diminuem o valor dos atos a que se refiram, merecendo 
consideração no exame do mérito da causa. 
Juizado de instrução 
É o instrumento destinado à apuração das infrações penais sob a presidênciade um juiz, ou seja, um juiz 
instrutor colhe as provas. A função da polícia seria apenas de prender os infratores e apontar os meios de 
provas. 
Não é aplicado no país, embora a CF não impeça sua criação pelos próprios estados federados (arts. 24, X 
e XI, e 98, I). 
NOTITIA CRIMINIS 
Conceito 
A notícia do crime é o conhecimento, espontâneo ou provocado, pela autoridade policial de um fato 
aparentemente criminoso. 
A espontânea é aquela em que o conhecimento pela autoridade policial ocorre direta e imediatamente, 
durante o exercício de sua atividade. Pode ocorrer por conhecimento direto ou comunicação não formal 
(cognição imediata). Ex: encontro de corpo de delito, comunicação de um funcionário subalterno, 
informação pelos meios de comunicação etc. 
A provocada é a transmitida pelas diversas formas previstas na legislação processual penal, 
consubstanciando-se num ato jurídico. Pode ocorrer por comunicação formal da vítima ou de qualquer 
do povo, por representação, por requisição judicial ou do Ministério Público etc. (cognição mediata). 
Pode também a notícia do crime estar revestida de forma coercitiva, hipótese de prisão em flagrante 
delito por funcionário público no exercício de suas funções ou particular (cognição coercitiva). 
Autores e destinatários da notitia criminis 
Geralmente, o autor da notitia criminis é o ofendido ou seu representante legal (art. 5º, II e §§ 4º e 5º ), e 
o seu destinatário é a autoridade policial (art. 5º, II, §§ 3º e 5º), o MP (arts. 27, 39 e 40/CPP), ou, 
excepcionalmente, o juiz (art. 39/CPP); 
Na ação penal pública incondicionada pode, também, ser autor: 
- qualquer pessoa do povo: que deve comunicá-la, por escrito ou verbalmente, à autoridade policial 
(delatio criminis simples), nada impedindo que seja anônima (notitia criminis inqualificada). Após, a 
autoridade investiga sua procedência e instaura o inquérito policial (art. 5º, § 3º); 
- o juiz: que deve comunicá-la ao MP (art. 40) ou requisitar à autoridade policial a instauração de 
inquérito policial; 
- qualquer funcionário público que tenha conhecimento no exercício de função pública: que deve 
comunicá-la à autoridade policial, constituindo a omissão contravenção penal (art. 66, I, da LCP); 
- qualquer pessoa que tenha conhecimento no exercício de medicina ou de outra profissão sanitária: que 
deve comunicar à autoridade policial, constituindo a omissão contravenção penal (art. 66, II, da LCP); 
Na ação penal pública condicionada à representação do ofendido, só pode ser autor da notitia criminis o 
ofendido ou o seu representante legal (art. 5º, II, e §§ 4º e 5º) 
Na ação pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça (crimes praticados contra a honra do 
Presidente da República, ou chefe de governo estrangeiro, entre outros – art. 145, parágrafo único/CP; 
art. 23, I c.c. art. 7º, § 3º/CP), a notitia criminis é faculdade do Ministro da Justiça. 
Nos crimes de engajamento e deserção, é o Capitão do porto (art. 3º, parágrafo único, do Dec.-lei 
4124/42); 
Nos crimes de responsabilidade dos governadores de Estado: às Assembleias Legislativas; 
Nos crimes de responsabilidade do Presidente da República: à Câmara dos Deputados ou Senado 
Federal; 
Nos crimes militares: autoridade militar competente (art. 7º da CPPM); 
Nos crimes relacionados com serviço postal ou com o serviço de telegrama: o MP Federal (art. 45 da Lei 
6538/78). 
Instauração de inquérito no caso de ação pública incondicionada 
É com a notitia criminis que se instaura o inquérito policial, mas a lei processual disciplina a matéria 
prevendo formas específicas dessa comunicação. 
Quando a ação penal é pública incondicionada, o inquérito policial pode ser instaurado: 
• de ofício, pela autoridade policial, através de Portaria (art. 5º, I). A Portaria é uma peça singela, 
na qual a autoridade policial consigna haver tido ciência da prática do delito; 
• por requisição do Ministério Público, ou, excepcionalmente, do juiz (art. 5º, II). O art. 40 do 
Código de Processo Penal determina que quando o juiz verificar a existência de crime de ação 
pública incondicionada, deve remeter ao MP cópia dos documentos necessários para o 
oferecimento da denúncia. Sendo insuficientes tais documentos, o MP deverá requisitar a 
instauração de inquérito policial com fundamento nesses elementos, como de outros que lhe 
forem fornecidos (art. 27, 39 e 40/CPP); 
• por requerimento escrito da vítima (art. 5º, II/CPP). Tal requerimento pode ser indeferido pela 
autoridade policial por entender que o fato não constitui crime. Do indeferimento do pedido cabe 
recurso administrativo ao chefe de polícia (art. 5º § 2º). Entretanto, a comunicação verbal é a 
mais comum, cumprindo à autoridade policial, determinar, ad cautelam, que as declarações 
sejam reduzidas a termo; 
• pela prisão em flagrante: quando o respectivo auto será a primeira peça do procedimento. 
O inquérito não deve ser instaurado se: 
• o fato é atípico - porque já se tem decidido que constitui constrangimento ilegal sanável pela via 
do habeas corpus; 
• a punibilidade do agente estiver extinta; 
• autoridade for incompetente; 
• não serem fornecidos os elementos indispensáveis para proceder à investigação; 
• do indiciado já ter sido absolvido ou condenado pelo fato, ainda que a sentença não tenha 
transitado em julgado, senão há bis in idem. 
Instauração do inquérito no caso de ação penal pública condicionada 
Diz o art. 5º, § 4º, da legislação processual penal que nos crimes em que a ação penal pública depende de 
representação, o inquérito não pode ser iniciado sem ela. A representação é um pedido autorização em 
que o interessado manifesta o desejo de que seja proposta a ação penal pública, e portanto, como medida 
preliminar, o inquérito policial. Nos termos do art. 100, § 1º, do CP e 24/CPP, podem oferecer 
representação o ofendido ou seu representante legal, e, por força do art. 39, o procurador com poderes 
especiais. 
A representação denominada na doutrina de delatio criminis postulatória, pode ser dirigida à autoridade 
policial, ao juiz ou ao órgão do MP. O magistrado e o membro do MP, se não tiverem elementos para o 
oferecimento da denúncia, deverão encaminhá-los à autoridade policial, requisitando a instauração do 
procedimento inquisitorial. Ela pode ser escrita ou oral, e deve conter as informações necessárias para 
apuração do fato e da autoria (arts. 5º, § 1º, e 39, § 1º). A representação oral ou sem assinatura 
autenticada deve ser reduzida a termo (art. 39, § 1º). 
O direito de representação está sujeito à decadência, extinguindo-se a punibilidade do crime se não for 
ela oferecida no prazo legal. Há casos em que a instauração depende de requisição do Ministro da 
Justiça. Neste caso, a representação não está sujeita à decadência. 
Instauração de inquérito no caso de ação privada 
Quando a lei prevê que determinado crime só pode ser instaurado mediante queixa, trata-se de crime de 
ação penal privada. Nessas hipóteses, o inquérito policial também só pode ser instaurado mediante 
iniciativa da vítima ou seu representante legal– requerimento (art. 5º, §3º, do CPP). Na hipótese de 
morte ou ausência judicialmente declarada do titular, o direito de queixa passa a ser do cônjuge, 
ascendente, descendente ou irmão (art. 31). 
O art. 34 não mais se aplica em virtude do Código Civil ter fixado o término da menoridade aos 18 anos. 
Assim, completando a vítima 18 anos, desde que não seja doente mental, somente ela pode exercer o 
direito de queixa. 
O art. 35 previa outorga marital para a mulher casada, no entanto, foi revogado pelo arts. 5º, I, e 226, 
§5º, da CF e pela Lei nº 9.520/97. 
O requerimento não exige formalidades, mas é necessário que contenha elementos indispensáveis à 
instauração do Inquérito Policial (art. 5º, §1°, do CPP). 
Exige-se que o requerimento seja reduzido a termo quandoapresentado verbalmente ou mediante 
petição sem autenticação da assinatura do subscritor. 
Na hipótese de prisão em flagrante por crime de ação privada, o auto respectivo e a instauração do 
inquérito policial só poderão ser lavrados quando requeridos, por escrito ou oralmente, pela vítima ou 
outra pessoa qualificada para a propositura da ação (art. 5º, §5º, do CPP). 
Decorrido o prazo de decadência da ação privada (6 meses - art. 38 do CPP), o inquérito policial não 
pode ser instaurado – extinção da punibilidade. A instauração do inquérito policial não interrompe o 
prazo decadencial, devendo a queixa ser proposta antes de seu término. 
Encerrado o inquérito policial, os autos poderão ser entregues ao requerente, se o pedir, mediante o 
traslado, ou, se não o fizer, deverão ser remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do 
ofendido ou de seu representante legal (art. 19/CPP). 
Ação Penal 
Conceito 
A ação penal consiste no direito de provocar o Estado na sua função jurisdicional para a 
aplicação do direito penal objetivo em um caso concreto. É também o direito do Estado, único 
titular do "jus puniendi", de satisfazer a sua pretensão punitiva. 
A ação penal é um direito autônomo do autor de satisfazer sua pretensão; é também um direito 
abstrato, já que independe do resultado final do processo; direito subjetivo porque o titular do 
direito pode exigir do Estado-Juiz a prestação de sua função jurisdicional; e direito público, pois 
a prestação jurisdicional a ser invocada é de natureza pública. 
Classificação 
A ação penal será pública quando o titular do direito de ação for o próprio Estado que visa à 
tutela dos interesses sociais e a manutenção da ordem pública. Neste caso, cabe ao Ministério 
Público promover a ação independentemente da vontade de outrem (ação penal exclusivamente 
pública). De acordo com o art. 100, do Código Penal: "A ação penal é pública, salvo quando a lei 
expressamente a declara privativa do ofendido". Porém, há hipóteses em que o Ministério 
Público depende da manifestação da vontade do ofendido ou de seu representante legal para 
exercer a sua atividade jurisdicional, então, a ação penal será pública condicionada, conforme 
disposição do art. 100, §1º do CP: "A ação pública é promovida pelo Ministério Público, 
dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da 
Justiça". 
Há ainda a ação penal privada que será promovida apenas pelo ofendido ou por seu 
representante legal, de acordo com a oportunidade e conveniência que entender cabíveis, já que 
a infração atinge imediata e profundamente o interesse da vítima, que pode optar em preservar 
a sua intimidade e não propor a ação. Entretanto, na ação penal pública incondicionada a 
infração atinge imediatamente a ordem social, cabendo exclusivamente ao Ministério Público 
promover a ação, ao passo que, quando a ação penal for condicionada dependerá o órgão 
jurisdicional da manifestação da vontade do ofendido que foi atingido imediatamente pela 
infração para a propositura da ação. 
Condições da ação 
O direito de ação só poderá ser exercido se preenchidas as condições para tal, que são: 
- Possibilidade jurídica do pedido: a pretensão do autor da ação deve versar sobre providência 
admitida pelo direito objetivo. Sendo assim, é indispensável para a propositura da ação que a 
causa de pedir constitua fato típico (previsto no ordenamento jurídico como crime). 
- Interesse de agir: a viabilidade da ação penal está também condicionada à sua necessidade - 
que refere-se ao processo, meio fundamental para obtenção da pretensão e imposição da pena 
(quando houver extinção da punibilidade, por exemplo, não há mais necessidade da ação); 
utilidade - é inerente à eficácia da prestação jurisdicional, que não estará presente no caso da 
prescrição retroativa, por exemplo (tal entendimento não é totalmente pacífico); e adequação 
entre o pedido e o processo penal condenatório. 
- Legitimação para agir: a ação penal só poderá ser iniciada se proposta pela parte que tenha o 
direito de punir. Assim, na ação penal exclusivamente pública, por exemplo, somente o 
Ministério Público pode ocupar o pólo ativo da demanda. Além disso, somente deve figurar no 
pólo passivo o provável autor da infração penal (suspeito). Sendo assim, na ação privada o 
ofendido possui legitimação extraordinária, posto que possui apenas o direito de acusar o 
suspeito, e não de puni-lo. 
Assim, recebida a denúncia ou queixa, deve o juiz analisar se presentes tais condições já que, na 
falta de algum destes requisitos, deverá declarar a inépcia da peça, rejeitando-a. A carência da 
ação pode ser declarada a qualquer momento do processo, podendo gerar, inclusive, a nulidade 
absoluta do mesmo (art. 564, do Código de Processo Penal). 
Frisa-se que no processo penal há também condições específicas da ação, que são aquelas já 
mencionadas anteriormente: representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça; 
entrada do agente em território nacional; autorização do Legislativo para a instauração de 
processo contra o Presidente e Governadores por crimes comuns; trânsito em julgado de 
sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento, no crime de induzimento 
a erro essencial ou ocultamento do impedimento. [1] 
Ação penal pública incondicionada 
Prevê o art. 129, inciso I, da Constituição Federal, que é função institucional do Ministério 
Público promover, privativamente, a ação penal pública na forma da lei. A única exceção a esta 
regra está prevista no art. 29 do CPP, que trata da possibilidade do ofendido ou seu 
representante legal proporem ação penal privada subsidiária, nos casos em que o Ministério 
Público não oferecer a denúncia dentro do prazo legal. Nesta hipótese, poderá o Ministério 
Público aditar a queixa oferecida pelo ofendido, assim como intervir em todos os termos do 
processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso, e até retomar a ação como parte 
principal quando houver negligência do querelante. 
Princípios 
- Obrigatoriedade: a propositura da ação penal, uma vez preenchidos os requisitos legais, é 
obrigatória. Não pode, portanto, o Ministério Público recusar-se a dar início à ação. Nos casos 
em que requerer o arquivamento do inquérito policial, por exemplo, deverá justificar sua opção, 
que poderá ser negada pelo juiz (art. 28 do CPP). Comete crime de prevaricação o Promotor de 
Justiça que deixar de oferecer denúncia para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (artigo 
319 do CP). Ressalta-se que há possibilidade de transação oferecida pelo Ministério Público ao 
infrator nas hipóteses de crimes de menor potencial ofensivo (art. 98, I da CF - há, portanto, 
mitigação do princípio). 
- Indisponibilidade: Uma vez iniciada a ação penal, não pode o Ministério Público dela desistir 
(art. 42 do CPP). Exceção: tal princípio não é cabível nos casos de crime de menor potencial 
ofensivo, em que o Ministério Público pode propor a suspensão condicional da pena (art. 89 da 
Lei nº 9.099/95). 
- Oficialidade: a persecução deve ser realizada e fiscalizada pelos órgãos oficiais, que são 
públicos, tendo em vista que a pretensão punitiva só pode ser satisfeita mediante o devido 
processo legal. Sendo assim, compete apenas ao órgão do Ministério Público o exercício da ação 
penal. Porém, a investigação, por exemplo, fica a cargo da autoridade policial. Além disso, a ação 
privada subsidiária da pública é exceção a tal princípio. 
- Autoritariedade: somente as autoridades públicas são responsáveis pela persecução penal 
(relacionado ao princípio da oficialidade). 
- Oficiosidade: os encarregados devem agir de ofício para dar andamento da ação penal, salvo no 
caso de ação penal pública condicionada. 
- Indivisibilidade: a ação penal deve abranger todos aqueles que cometeram a ação penal, sem 
exceção.Assim, não pode o Ministério Público escolher contra qual suspeito vai intentar a ação, 
posto que todos suspeitos deverão figurar no pólo passivo conjuntamente. O mesmo acontece na 
ação penal privada, de acordo com o art. 48 do CPP: "A queixa contra qualquer dos autores do 
crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade". 
- Intranscendência: a ação penal será promovida somente contra a pessoa a quem se imputa a 
prática da infração, não podendo englobar o responsável por eventual indenização, por exemplo, 
como acontece em ordenamentos jurídicos de outros países. 
- Suficiência da ação penal: mesmo que haja ação pendente na esfera cível, sobre o 
reconhecimento da existência da infração penal, pode o juiz criminal dar prosseguimento a ação, 
já que esta é suficiente para resolver questão prejudicial não ligada ao estado de pessoas (art. 93 
do CPP). 
O início da ação penal pública dá-se pelo oferecimento da denúncia no prazo de cinco dias para 
réu preso, e de quinze dias para réu solto, contados da data em que o Ministério Público receber 
os autos do inquérito policial (art. 46 do CPP). Ademais, deve a denúncia conter a exposição do 
fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos 
pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das 
testemunhas (art. 41 do CPP).

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