Prévia do material em texto
Seminário II CRÉDITO TRIBUTÁRIO, LANÇAMENTO E ESPÉCIES DE LANÇAMENTO 1. Considerando os conceitos de norma, incidência e crédito tributário, responda: a) Que é lançamento? Definir o conceito especificando: quem pode lançar, se é ato ou procedimento e qual a sua finalidade. Conforme Paulo de Barros Carvalho, lançamento é o ato administrativo pelo qual se declara o acontecimento do fato jurídico, identifica o sujeito passivo da obrigação correspondente, determina a base de cálculo e alíquota aplicável, formalizando o crédito e estipulando os termos de sua exigibilidade. Em suma, para que uma obrigação tributária seja transformada em crédito tributário exigível, é necessário que esse crédito seja formalizado por uma atividade administrativa, que é justamente o lançamento. Conforme art. 142 do CTN, compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento. O CTN não especifica qual a autoridade competente para tal constituição, deixando a questão para definição em lei. Apesar de o CTN falar em procedimento e de haver divergência doutrinária, adoto o entendimento de Paulo de Barros no sentido de que o lançamento é ato, e que o procedimento apenas antecede e prepara a formação do ato, não integrando com seus pressupostos processuais. Por fim, tem-se que a finalidade do lançamento é tornar a obrigação tributária líquida, certa e exigível, podendo, assim, ter seu cumprimento demandando pelo Fisco. b) É correto afirmar que o lançamento tributário se apresenta em três espécies? Se positiva a resposta, qual o critério que orienta tal classificação, ou seja, o que diferencia uma espécie da outra? Levando-se em consideração o exposto no CTN, a diferenciação seria correta, conforme previsão nos art. 147 e seguintes. O critério orientador de tal classificação seria o grau de participação do sujeito passivo da obrigação tributária em cada modalidade. Importante ressaltar que, em que pese o texto do CTN, Paulo de Barros Carvalho entende que tais modalidades seriam meras singularidades procedimentais, sendo que procedimento, no entendimento dele, não faz parte da essência do lançamento, definido nesse escopo como ato jurídico administrativo. Assim, sendo lançamento válido aquele que, como tal, foi recebido pelo sistema, nada acrescentam reflexões sobre as diligências que antecederam à formação do ato. De toda forma, segue a diferenciação de cada modalidade, conforme o CTN. Lançamento por declaração: É efetuado pela administração com base em declaração prestada pelo próprio sujeito passivo ou terceiro. Neste, o particular presta as informações necessárias para o lançamento do tributo e aguarda a notificação para pagamento. Assim, tem-se que o sujeito passivo/terceiro é obrigado, por lei, a informar ao Fisco a ocorrência do fato gerador e demais dados para que seja realizado o lançamento. Lançamento por homologação: É a modalidade em que ao contribuinte é imposto, pela legislação, além de prestar as informações, o dever de pagar o tributo previamente, sem anterior análise do Fisco. Assim, uma vez que ocorrido o fato gerador, cabe ao contribuinte calcular o montante do tributo devido e recolhê-lo ao erário. Na modalidade em comento, opera-se a extinção do crédito tributário sob condição resolutória da homologação posterior. Lançamento de ofício: É o lançamento realizado diretamente pela Administração Pública, sem colaboração do sujeito passivo. Na presente modalidade, a própria Fazenda calcula o montante devido e notifica o contribuinte para pagamento. c) O chamado lançamento por homologação é efetivamente lançamento? E o lançamento por declaração? Seguindo o entendimento de Paulo de Barros Carvalho no sentido de que o lançamento é ato jurídico administrativo praticado por autoridade administrativa competente, e não procedimento, bem como a diferenciação do CTN em modalidades de lançamento seria, na verdade, mera descrição de procedimentos antecedentes ao lançamento, é possível afirmar que o que se chama de lançamento por homologação e lançamento por declaração não seria, efetivamente, lançamento. d) O lançamento tem eficácia declaratória e/ou constitutiva? O que é declarado e/ou constituído? Quando isso ocorre? Apesar de haver divergência doutrinária quanto ao tema, lançamento é a norma individual e concreta de eficácia constitutiva, visto que constitui o crédito, uma vez que o vínculo obrigacional apenas irá surgir efetivamente com a comunicação em linguagem competente da ocorrência de um fato gerador. Tendo em vista que a obrigação tributária, que surge com o fato jurídico, é ilíquida e, até então, inexigível, há necessidade do lançamento tributário, que se materializa por um documento formal que atribui ao Fisco a possibilidade de exigir o crédito tributário decorrente da referida obrigação tributária. e) Confrontar as noções de tempo no fato e tempo do fato. Tempo no fato e tempo do fato são diferenciações nos marcos temporais do fato jurídico, conforme Aurora Tomazini de Carvalho. Enquanto o tempo no fato diz respeito ao momento que o evento se realiza (acontecimento descrito na hipótese normativa), o tempo do fato é o instante em que o fato é constituído juridicamente. Utilizando o exemplo da própria Aurora para elucidar a diferença, no caso do IPTU, o tempo no fato seria ser proprietário de bem imóvel no primeiro dia do exercício fiscal (01/01). No mesmo exemplo, o tempo do fato seria a data da notificação do contribuinte. f) O que é erro de fato e erro de direito? E mudança de critério jurídico? Segundo Paulo de Barros Carvalho, erro de fato e erro de direito são problemas de ordem semântica, sendo o erro de fato um problema intranormativo, um desajuste interno na estrutura do enunciado, por insuficiência de dados linguísticos informativos ou pelo uso indevido de construções de linguagem que fazem as vezes de prova, e o erro de direito um problema envolvendo enunciados de normas jurídicas diferentes, caracterizando-se como um descompasso de feição externa, internormativa. Em suma, o erro de fato ocorre quando a autoridade administrativa apura fatos não conhecidos ou não provados por ocasião do lançamento tributário, e o erro de direito ocorre quando o lançamento é feito ilegalmente, por ignorância ou errônea interpretação da lei. Quanto à mudança de critério jurídico, tem-se que seria a mudança da interpretação da legislação tributária pela autoridade jurídica. Insta ressaltar que, sobre a mudança de critério jurídico, o art. 146 do CTN estipula que a modificação introduzida, de ofício ou em consequência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução. 2. Dado o auto de infração fictício (anexo I), pergunta-se: a) Identifique as normas individuais e concretas veiculadas no respectivo auto de infração; As normas veiculadas no AI são 1) o lançamento de ICMS CRITÉRIO MATERIAL: saída de mercadorias CRITÉRIO ESPACIAL: Estado de São Paulo CRITÉRIO TEMPORAL: 01/01/2008 SUJEITO PASSIVO: Bate o Pé Indústria e Calçados Ltda. SUJEITO ATIVO: Estado de São Paulo BASE DE CÁLCULO: R$ 64.440,48 ALÍQUOTA: 18% (R$11.599,29) 2) Multa pela falta de pagamento do ICMS CRITÉRIO MATERIAL: circulação de mercadorias sem recolhimento do imposto devido - ICMS CRITÉRIO ESPACIAL: circulação interestadual CRITÉRIO TEMPORAL: 01/01/2014 SUJEITO PASSIVO: Bate o Pé Indústria e Calçados Ltda. SUJEITO ATIVO: Estado de São Paulo CRITERIO QUANTITATIVO: multa de 50% sobre o valor do imposto devido, acrescido de juros de mora. b) Confronte as noções de (i) auto de infração – documento, (ii) ato administrativo de imposição de multa, (iii) ato administrativo de lançamento e (iv) ato de notificação; Auto de infração – documento: lavrado de ofício por agente público competente ao ser constatada alguma infração à determinada legislação. Ato administrativo de imposição de multa: lavraturade auto de infração, da constatação da infração, pelo agente competente. Ato administrativo de lançamento: ato privativo da autoridade administrativa, tendente a verificar a ocorrência do fato gerador e a matéria tributável, a definir o montante e identificar o sujeito passivo. Ato de notificação: ato necessário para que o contribuinte possa efetivar o cumprimento da obrigação. É a forma de cientificar o sujeito passivo. c) Em sua opinião, em que instante nasce a obrigação tributária? E o crédito tributário? E, a multa tributária? Que significa “constituição definitiva do crédito”? Em minha opinião, a obrigação tributária nasce com a ocorrência do fato gerador. O crédito tributário nasce (é constituído) com o lançamento. A multa tributária é constituída também com o lançamento, através da lavratura de auto de infração. Quanto à constituição definitiva do crédito, Paulo de Barros Carvalho define que tal expressão utilizada para referir-se ao ato de lançamento regularmente comunicado (pela notificação) ao devedor. 3. Empresa XXX, contribuinte de IPI, declara e formaliza seus créditos e débitos, compensa tais valores (não-cumulatividade) e, de acordo com a lei, realiza o pagamento do saldo devedor conforme discriminado abaixo: Posteriormente, o Fisco Federal glosa os créditos de IPI utilizados pela empresa devedora, sem, contudo, efetuar o lançamento de qualquer valor a título de tributo. Em seguida, encaminha para inscrição na dívida ativa os valores não pagos em razão do aproveitamento indevido dos créditos (R$ 200.000,00), pois entende não ser necessário o lançamento de ofício. Esses valores, por sua vez, são acrescidos das penalidades que o Fisco entende cabíveis, além dos juros de mora. Na sua opinião, está correto o proceder da Fazenda? Ainda, o aproveitamento de créditos da não-cumulatividade pode ser equiparado a pagamento antecipado? A glosa, por sua vez, resultaria em não pagamento? Justifique sua resposta (Vide anexo II e III). Entendo que a Fazenda não está correta, visto a necessidade de lançamento de ofício. Conforme os ensinamentos de Paulo de Barros Carvalho, definida a linguagem própria para constituir um fato jurídico, se esta não é utilizada, não há o fato jurídico tributário, apenas evento. Assim, relatado um evento por qualquer outra modalidade linguística, inapropriado falar-se em juridicidade do fato, não vindo ele a integrar a realidade do direito. Portanto, se a Fazenda entendeu por glosar os créditos de IPI da empresa, é necessário que ela faça o lançamento de ofício. Caso contrário, o crédito da referida empresa não terá norma individual e concreta veiculada. Quanto ao aproveitamento dos créditos, entendo que este não pode ser comparado ao pagamento antecipado, visto que são conceitos distintos. Bem como modalidades distintas de extinção do crédito tributário, de acordo com o art. 156 do CTN. Por fim, entendo que a glosa equivale ao não pagamento e, por isso, reitero a necessidade do lançamento de ofício. 4. Com relação ao lançamento por homologação, pergunta-se: a) Que é homologação? O que se homologa: (i) o pagamento efetuado antecipadamente; (ii) a norma individual e concreta posta pelo contribuinte; ou (iii) ambos? Justifique sua resposta. Homologação é o ato exarado pela Fazenda, no qual declara nada ter de exigir do contribuinte, que observou adequadamente os ditames da lei. Homologa-se ambos: tanto a norma individual concreta, como o pagamento antecipado, visto que lançamento é atividade exclusiva do Fisco e, a declaração e o pagamento antecipado tem de ser necessariamente homologados pela autoridade competente. b) Quando se verifica a homologação expressa? Trata-se de ato administrativo? Ainda, é possível revisar-se o ato homologatório expresso? Há no direito positivo a possibilidade de pagamento de tributos sem lançamento? A homologação expressa ocorre quando o Fisco produz ato administrativo manifestando-se no sentido de aceitar as informações prestadas pelo contribuinte, dentro do prazo de 05 anos, a contar da ocorrência do fato gerador, conforme art. 150, § 4º, do CTN. Insta ressaltar que, na prática, o que ocorre é a homologação tácita, ou seja, passa-se o prazo decadencial sem o pronunciamento do Fisco. Há a possibilidade do ato homologatório ser revisado dentro do prazo decadencial da ocorrência do fato gerador, com fulcro no princípio autotutela administrativa. Por fim, existe a possibilidade de pagamento de tributo sem lançamento, que é o ocorre no lançamento por homologação. O contribuinte faz o pagamento antecipado, e posteriormente há a homologação pelo Fisco. 5. A Lei n. 10.035/00 estabelece que serão executados, nos autos da reclamação trabalhista, os créditos previdenciários devidos em decorrência da decisão proferida pelos Juízes e Tribunais, resultantes de condenação ou homologação do acordo. Pergunta-se: a decisão judicial, cognitiva ou homologatória, constitui o crédito tributário? E, eventuais acordos posteriores entre os litigantes? Há necessidade de lançamento? Como ficam os princípios do contraditório e da ampla defesa? (Vide anexos IV, V e IV). Não pode haver constituição de crédito tributário por meio de sentença proferida por juiz. A constituição do crédito é feita apenas por lançamento da autoridade administrativa competente, conforme o CTN. 6. Sobre as hipóteses correlatas às alterações do lançamento, responda: a) Há diferença entre erro de direito e mudança de critério jurídico, para fins de revisão do lançamento tributário? Há possibilidade de revisão do lançamento fundado em erro de direito? E em erro de fato? Qualquer erro de fato é suficiente para fundamentar a alteração do lançamento? (Vide anexos VII, VIII e IX). Para fins de revisão de lançamento tributário, não há diferença entre os dois conceitos. A mudança de critério jurídico considerada um erro de direito e, quanto a este, não é autorizada a revisão do lançamento. Nesse sentido: TRIBUTÁRIO – REVISÃO DE LANÇAMENTO POR ERRO DE DIREITO – IMPOSSIBILIDADE 1. É permitida a revisão do lançamento tributário, quando houver erro de fato, entendendo-se este com aquele relacionado ao conhecimento da existência de determinada situação. Não se admite a revisão quando configurado erro de direito consistente naquele que decorre do conhecimento e da aplicação incorreta da norma (…) (AgRg no REsp 1347324 / RS, DJe 14/08/2013) No caso de erro de fato, é possível a revisão quando for provocado por culpa, omissão, dolo ou fraude do contribuinte ou terceiro. b) A alteração da base de cálculo, ou da sistemática de apuração do tributo pode ser feita mediante retificação do lançamento? A eleição errônea da base de cálculo, ou da sistemática de apuração configura-se como erro de fato, erro de direito ou mudança do critério jurídico? Tem o condão de acarretar anulação do lançamento? (Vide anexos X, XI e XII) A alteração da base de cálculo ou da sistemática de alteração não pode ser feita mediante retificação, visto que acarreta a alteração da norma aplicada. Deve-se fazer novo lançamento, para produção de efeitos jurídicos da nova norma. A eleição errônea configura erro de direito, e tem o condão de acarretar a anulação do lançamento, havendo necessidade de realização de outro ato de lançamento. REFERÊNCIAS BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm Carvalho, Paulo de Barros, 2007, Curso de Direito Tributário, São Paulo, Saraiva Carvalho, Paulo de Barros, 2018, Direito Tributário – Linguagem e Método, São Paulo, Noeses Carvalho, Aurora Tomazini, 2009, Teoria Geral do Direito, disponível em www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp098895.pdf Tomé, Fabiana Del Padre, 2014, Exigibilidade do Crédito Tributário: Amplitude e Efeitos de sua Suspensão, disponível em https://www.noeses.com.br/2014/09/29/exigibilidade-do-credito-tributario-amplitude-e-efeitos-de-sua-suspensao-por-fabiana-del-padre-tome/ Claudio, Isabela, 2015, A Função da Linguagem no Lançamento Tributário, disponível em https://isabelaclaudio.jusbrasil.com.br/artigos/180917461/a-funcao-da-linguagem-no-lancamento-tributario