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Noções sobre o funcionamento psíquico

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1 
 
Conceitos básicos de Psicologia: 
Noções sobre o funcionamento psíquico 
 
Carla Pontes Donnamaria1 
 
Como já destacado nas primeiras aulas, a Psicologia Jurídica, 
considerada no seu sentido estrito, é a psicologia que ajuda o direito a atingir 
seus propósitos. Nesse sentido, a psicologia jurídica é uma área da psicologia 
que auxilia o direito, e não aquela que o questiona. 
E para a compreensão dos temas propriamente psicojurídicos é 
necessário, antes, estudar alguns conceitos básicos da psicologia geral. Como 
vimos em aula anterior, a Psicologia dispõe de diferentes teorias, dentre elas: o 
behaviorismo, a Gestalt e a psicanálise. 
 Aqui, o conceito que será estudado diz respeito ao aparelho psíquico, 
uma das formas como a psicologia – e especificamente o modelo de psicologia 
psicanalítica – descreve o funcionamento mental. 
A concepção do aparelho psíquico foi apresentada por Freud em 1900. 
Não se trata de uma descoberta, propriamente, já que o aparelho psíquico não 
existe enquanto estrutura física. Trata-se de uma das formas de conceber o 
funcionamento da mente humana. 
Inicialmente, Freud (1923/1988) descreve o aparelho psíquico dividido em 
três sistemas: o inconsciente, o consciente e o pré-consciente. Ao descrever 
essa divisão, Freud emprega a metáfora de um iceberg, no qual a parte visível 
da montanha de gelo pode ser comparada ao nosso consciente. A parte oculta, 
equivalente ao inconsciente humano, é muito maior. O pré-consciente 
corresponderia a uma pequena área da montanha de gelo localizada na parte 
oculta próxima à parte visível. 
Nessa concepção de aparelho psíquico, o consciente corresponde a um 
órgão sensorial, localizado no limite entre os mundos externo e interno (entre o 
que está em pensamento e os estímulos que vem do ambiente). 
 
1 Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia. Psicóloga Judiciária do Tribunal de Justiça de São Paulo. 
Professora de Psicologia Jurídica. 
Material de apoio, publicado para os alunos do curso de Direito em março de 2020. 
 
2 
 
O sistema inconsciente foi concebido como representante dos instintos i e 
das pulsõesii. Além da ideia de ser algo submerso, pode ser metaforicamente 
compreendido como um enorme depósito escuro e desordenado, onde também 
estão guardados conteúdos mentais que um dia foram conscientes, mas que, 
pelo seu aspecto intolerável, foram recalcados. Isso não quer dizer que esses 
conteúdos fiquem isolados. Esse material exerce influência sobre o 
comportamento, ainda que essa influência não seja percebida pelo sujeito, uma 
vez que ele costuma aparecer de forma disfarçada na consciência. 
Um exemplo de conteúdo inconsciente exercendo influência no 
comportamento é o da garota que troca o nome do atual namorado pelo nome 
do antigo a quem ela ainda se sente afetivamente ligada. O que, aos olhos leigos, 
seria apenas um engano constrangedor, do ponto de vista psicológico pode 
significar um desejo inconsciente de ainda permanecer com o antigo namorado. 
Tratar-se-ia, assim, de um ato falho. 
O sistema pré-consciente está ligado ao inconsciente e à consciência. 
Funciona como um arquivo, onde se encontram informações que podem ser 
acessadas sem grandes esforços. E funciona também como um mediador, que 
autoriza a passagem de conteúdo inconsciente de forma disfarçada. 
A partir de 1920, Freud elaborou outro modelo do aparelho psíquico, 
denominado de segunda tópica, que, em certo sentido, complementa a primeira. 
Essa segunda tópica presenta três instâncias: id, ego e superego. 
 O id constitui a totalidade do aparelho psíquico de um recém-nascido; a 
porção herdada da psique. Totalmente inconsciente, funciona regido pelo 
princípio do prazer, isto é, deseja gratificação imediata e não tolera frustração. 
Caracteriza o conjunto de reações mais primitivas da personalidade humana, 
que tenta impor os seus desejos sem levar em conta a realidade objetiva e as 
possíveis consequências das ações que forem tomadas. É considerado também 
fonte da vida psíquica, pois ali se localizam os instintos que impulsionam o 
organismo. 
 À medida que a criança cresce, diferencia-se do id uma nova parte do 
aparelho psíquico: o ego, que terá como principal função agir como intermediário 
entre o id e as demandas da realidade. O ego apresenta uma função adaptativa, 
regido pelo princípio da realidade, de forma a administrar as demandas do id, 
decidindo se o desejo deve ser satisfeito imediatamente, mais tarde ou nunca. 
3 
 
O ego se aproveita das experiências passadas para avaliar se 
determinado estímulo é favorável ou perigoso, com a função de: perceber, 
lembrar, pensar, planejar e decidir. “O ego representa o que pode ser chamado 
de razão no senso comum, em contraste com o id, que contém as paixões” 
(Freud, 1923/1996, p. 39). Tem, assim, também uma função de autopreservação 
do indivíduo. Em relação à primeira tópica, no ego há conteúdos do consciente, 
do pré-consciente e do inconsciente. 
O superego é a expressão da interiorização das interdições e exigências 
da cultura e da moralidade. A formação dessa instância se dá pela vivência da 
criança com seus pais e cuidadores, que, desde cedo, proíbem as atitudes que 
consideram inadequadas e introduzem a noção de postergação ou de adiamento 
da satisfação. 
Durante esse processo de aprendizado, a criança tende a testar os seus 
cuidadores e procura realizar suas vontades até ser impedida. Com o tempo, ela 
aprende que o comportamento desagrada seus pais (ou a pessoa que tenha 
assumido esse papel) e começa a evita-lo, de forma a preservar o amor e não 
ser punida. Origina-se, com isso, o sentimento de culpa, sendo importante saber, 
desde já, que o medo da punição não é tão eficaz quanto o medo da perda do 
amor, o que será melhor compreendido quando estudarmos as tendências 
psicopáticas e antissociais. 
Em condições normais de funcionamento, o superego tem uma função 
essencial, que é a de cuidado e proteção, mostrando ao ego (que tomará 
decisões), o que é moralmente inaceitável ou perigoso à integridade da vida. 
O seguinte exemplo ilustra o funcionamento dessas três instâncias: um 
adolescente que precisa estudar para uma prova de recuperação, necessitando 
de uma boa nota, vê seus amigos saindo para se divertir. Se dominado 
inteiramente pelo id, ele desconsidera as consequências de não estudar e sai 
com seus amigos. Por outro lado, se dominado por um superego excessivamente 
rígido, o adolescente passa todo o seu tempo livre estudando, inclusive noites 
em claro, e ainda se culpando pelo baixo desempenho que ela teria tido na prova. 
Entretanto, se houver uma boa mediação cumprida pelo ego, este mesmo 
adolescente conseguirá ponderar sua dedicação aos estudos de forma mais 
equilibrada, estudando por algumas horas e tendo um período para descanso e 
divertimento. 
4 
 
Ao longo da vida, demandas do id, do ego e do mundo externo seguirão 
exigindo do ego tomadas de decisões quanto ao que fazer, quando e de que 
forma, buscando um equilíbrio dessas forças. O bom resultado desse equilíbrio 
dependerá da existência de um ego fortalecido, de um superego moderado e do 
conhecimento da natureza dos impulsos do id. Caso contrário, o bem-estar 
biopsicossocial do indivíduo poderá ficar comprometido. 
Segundo Freud (1930/1996), o homem civilizado é alguém que aprendeu 
a renunciar os seus impulsos por uma parcela de segurança que a vida em 
comum pode propiciar. 
 E para aliviar o estado de tensão psíquica entre o id impulsivo, o superego 
controlador e as fortes pressões que emanam da realidade externa, o ego utiliza-
se de mecanismos de defesa. Tais mecanismos serão o tema de estudo da 
próxima aula. 
 Bons estudos! 
 
Referências: 
 
FREUD, S. (1923) O ego e o id. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de 
Sigmund Freud, vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
 
FREUD,S. (1930 [1929]) O mal-estar na civilização. Edição StandardBrasileira das 
Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
 
 
 
 
i Padrões hereditários fixos de comportamento animal, típicos de cada espécie. 
ii Necessidades biológicas com representações psicológicas.

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