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ESTÁGIO IMPULSIVO EMOCIONAL O primeiro estágio do desenvolvimento descrito por Wallon compreende o período que vai do nascimento até um ano de idade e contém dois momentos: o da impulsividade motora e a emocional. Nele a criança tem total dependência do meio externo, mostra-se incapaz de resolver suas próprias necessidades para sobrevivência, necessitando do meio social para interpretar, dar significado e trazer respostas a elas. Suas reações de bem-estar e mal-estar irão inicialmente se manifestar mediante descargas motoras indiferenciadas. Tais manifestações provocarão nos adultos que a cercam reações de cunho afetivo e de natureza emocional, provocando respostas a suas necessidades. Essa interação criança-meio externo construirá um campo de comunicação recíproca. A criança inicia sua vida imersa no mundo social que a rodeia, recebendo o significado e as respostas a suas necessidades, sem delimitação entre o eu e o outro. Assim, segundo Wallon a criança começa por ser global, indiscernível e social. É somente por meio de complexos exercícios de relação e interação que a criança irá se diferenciando paulatinamente de seu meio e constituindo seu eu diferenciado do outro. Nesse primeiro período caracterizado por uma indiferenciação, a criança iniciará a construção de sua identidade na interação com seus envolventes mais próximos. Fase de preponderância afetiva, centrípeta, de acúmulo de energia. 1º momento: impulsividade motora Etapa que se inicia com o nascimento e dura aproximadamente 3 meses, em que o ser é quase organismo puro e sua atividade se manifesta apenas por reflexos e movimentos impulsivos. Nas primeiras semanas após o nascimento, a atividade do bebê está totalmente monopolizada pelas necessidades primárias fisiológicas, tônico-posturais, alimentares ou sono. A impulsividade motora é um recurso reflexo. Tais gestos fortuitos e não intencionais tem um efeito significativo no meio ambiente, suscitando como resposta intervenções úteis e desejáveis. Inicia-se assim um processo de interação entre a criança e seus envolventes. Sensibilidades intero, próprio e exteroceptiva No início, a atividade da criança está voltada para as sensações internas, viscerais e musculares e depois afetivas. A sensibilidade interoceptiva reúne os sinais dos órgãos internos, fazendo chegar ao cérebro as excitações que vem das paredes das vísceras. As sensações de fome, referentes aos movimentos de digestão e aos processos respiratórios, são fortemente sentidas pela criança, primordialmente voltada para os efeitos dessas sensações. A sensibilidade proprioceptiva está relacionada ao movimento e ao equilíbrio do corpo no espaço. Difere-se da interoceptiva pois suas terminações sensitivas não se localizam nos órgãos, mas nas terminações do aparelho muscular, dos tendões e articulações. Sensações provocadas pelo movimento do corpo no espaço mobilizam a criança, provocando reações de bem ou mal-estar. O aparelho muscular reage sobretudo aos estímulos intero e proprioceptivos, levando a criança a se voltar quase totalmente para estas manifestações e a exercitar respostas a estas sensibilidades. A sensibilidade exteroceptiva diferencia-se das outras por estar ligada ao conhecimento do mundo exterior. Simbiose fisiológica e simbiose afetiva Neste momento de imperícia, o bebê está imerso em uma situação de absoluta dependência do meio que o envolve. A criança depende totalmente do adulto para sobreviver, caracterizando o que Wallon denominou simbiose fisiológica, Na simbiose fisiológica, ocorre uma total indiferenciação entre as diversas necessidades fisiológicas e as diferentes formas de satisfazê-las. A criança não diferencia as sensações nem as formas de satisfação. A partir dos impulsos ou reações motoras, a criança estará comunicando seu desconforto ou suas necessidades, provocando uma reação contagiante em seu meio imediato e estabelecendo assim uma relação íntima, profunda, indiferenciada, entre o bebê e seus envolventes. Nesse momento, acrescenta-se à simbiose fisiológica a simbiose afetiva, que caracteriza o período inicial do psiquismo em que a reciprocidade se dá por impulsos contagiantes, pela indiferenciação provocada pela força da emoção. Movimento Para Wallon, o movimento apresenta-se de três formas que possuem uma importância específica no desenvolvimento. A 1ª são os movimentos de equilíbrio, reações de compensação e reajustamento do corpo sob a ação da gravidade que, pela procura de posturas necessárias e de pontos de apoio apropriados, conduzirão a criança a passar da posição deitada para a sentada, de joelhos e finalmente em pé. A 2ª são os movimentos de preensão e locomoção, deslocamentos do corpo e dos objetos no espaço que trarão o domínio do espaço. A 3ª são as reações posturais, deslocamentos dos segmentos corporais, que vão permitir atitudes expressivas e mímicas. 2º momento: emocional Caracterizado por transformações das descargas motoras em meio de expressão e comunicação. A impulsividade define-se por sinais entre a criança e o adulto que estabelecem um circuito de trocas que condicionam e constroem mutuamente as reações do bebê a seu meio e vice-versa. Manifestações expressivas da criança compreendidas e atendidas pelo adulto passam a ser graduadas de tal maneira que todas as variedades essenciais da emoção podem ser discriminadas. É a linguagem primitiva constituída de emotividade pura. É a primeira forma de sociabilidade. Comunicação entre a criança e seu meio, essencialmente afetiva e inicialmente sem relação intelectual. A afetividade é inicialmente pura emoção e depende inteiramente da presença e da resposta dos parceiros. Segundo Wallon, é exatamente a ausência de instrumentos cognitivos que faz a emoção ser um instrumento de comunicação e de sobrevivência típico da espécie humana, com o forte poder de mobilizar o ambiente para atender às necessidades primordiais do bebê, sem o qual ele pereceria. Podemos entender “afetivo” aqui como a capacidade de afetar o outro, contagiando-o para o atendimento a uma solicitação. O bebê afeta o meio que o circunda, obtendo respostas deste para suas necessidades. Nesse estágio, os estímulos externos, auditivos e visuais provocam respostas majoritariamente afetivas, de alegria, surpresa ou medo, mais que de interesse pela exploração do mundo físico. A presença, a voz e os movimentos humanos são sempre mais estimulantes para o bebê que os objetos, que adquirem maior interesse quando apresentados pelas pessoas. Emoção e tônus O tônus é considerado por Wallon a fonte da emoção, pois ela se manifesta fundamentalmente por suas variações. A emoção é regulada por ele e ao mesmo tempo o regula. No bebê, a emoção produz uma comunicação forte e primitiva mediante a atividade tônico-postural. Por meio do escoamento do tônus provocado pelos movimentos e gestos, a criança demostra alegria. Já movimentos excessivos ou a acumulação do tônus são sinais de sofrimento ou raiva. Atividades circulares Na segunda metade do 1º ano de vida, a criança começa a entregar-se a uma série de atividades repetitivas que irão promover aprendizagens importantes e que anunciam o estágio sucessor: o sensório motor. São movimentos casuais que serão repetidos intencionalmente pela criança, que irá cada vez mais ajustar seus gestos aos resultados obtidos e tornando-os mais precisos e úteis. A atividade circular é um importante instrumento de aprendizagem em diversas áreas. Passagem do estágio impulsivo emocional para o estágio sensório-motor e projetivo Por volta dos 12 meses, o estágio impulsivo emocional, basicamente afetivo e voltado para a pessoa, dará lugar a um período bastante cognitivo, voltado para a construção do real. É o sensório motor e projetivo, que segue uma orientação inversa à do período anterior. Ocorre uma troca de fase e de orientação: de uma fase centrípeta e subjetiva para uma centrífuga e objetiva. No primeiro estágio, prepondera-se as funções tônico-emocionais. No segundo, as funções de relação com o meio externo. Essa passagem se explicacomo a passagem da atividade automática e afetiva para a atividade relacional, exploratória do mundo externo. Referências bibliográficas MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho. Henri Wallon: psicologia e educação. 4ª ed. São Paulo: Edições Loyola, pp. 19-29 DANTAS, H. (1990). A infância da razão: uma introdução à psicologia da inteligência de Henri Wallon, São Paulo: Mariola. TRAN-THONG. (1967/1987). Estádios e conceito de estádio de desenvolvi-mento da criança na psicologia contemporâneo. 2. ed. Trad, Manuel Maia. Lisboa: Afrontamento, 1 v. WALLON, H. (1973/1975a). O papel do "outro" na consciência do "eu". In: Psicologia e educação da infância. Trad, Ana Rabaça. Lisboa: Estampa (coletânea), pp. 149-162. (1973/1975a). Cinestesia e imagem visual do próprio corpo da criança. In: Psicologia e educação da infância, Trad, Ana Rabaça. Lisboa: Estampa (coletânea), pp. 105-124. (197311975b). Como se desenvolve na criança a noção do próprio corpo. In: Objetivos e métodos da psicologia. Trad. Franco de Sousa. Lisboa: Estampa (coletânea), pp. 209-262. . (1934/1995). As origens do caráter na criança. Trad. Heloysa Dantas de Souza Pinto, São Paulo: Nova Alexandria.
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