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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO - CAMPUS SÃO CARLOS TECNOLOGIA EM PROCESSOS GERENCIAIS Franceline Albuquerque dos Santos Larissa Nepomuceno Oliveira A TERCEIRIZAÇÃO SOB A ÓTICA DO TERCEIRIZADO São Carlos – São Paulo 2018 Franceline Albuquerque dos Santos Larissa Nepomuceno Oliveira A TERCEIRIZAÇÃO SOB A ÓTICA DO TERCEIRIZADO Monografia apresentada ao Instituto Federal de São Paulo – campus São Carlos, como parte das exigências para a conclusão do Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais. Orientador (a): Profa. Dra. Marcela Avelina Bataghin Costa São Carlos – São Paulo 2018 S235t Santos, Franceline Albuquerque dos A terceirização sob a ótica do terceirizado / Franceline Albuquerque dos Santos; Larissa Nepomuceno Oliveira; orientadora, Profª. Drª. Marcela Avelina Bataghin Costa - São Carlos, SP, 2018. 71 p. : il. Monografia – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Campus São Carlos, Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais. Inclui referências bibliográficas 1. Processos gerenciais. 2. Terceirização. 3. Condições de trabalho. 4. Oportunidades. 5. Lei nº 13.429/2017. I. Oliveira, Larissa Nepomuceno, segunda autora. II. Costa, Marcela Avelina Bataghin, orient. III. Instituto Federal de São Paulo. IV. Título. CDD 658 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me dado a vida, por ter me abençoado e me ajudado chegar até aqui, com Sua infinita misericórdia e bondade. Agradeço aos meus pais, minha vó, meu tio e minha irmã que me deram apoio e incentivo nos momentos de dificuldade, ajudando a concluir mais esta etapa da minha vida. Agradeço ao meu noivo, que do seu jeitinho me deu ânimo para não desistir, por me ajudar quando precisei, por compreender as adversidades que passei e por estar sempre ao meu lado. Agradeço a nossa orientadora Marcela, pela paciência, pelo incentivo, por sua dedicação e pelo auxílio para que concluíssemos essa pesquisa. Por fim, agradeço a todos os professores do Instituto que contribuíram para minha formação e os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. FRANCELINE ALBUQUERQUE DOS SANTOS AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que está sempre comigo em meu coração, obrigada pela vida e por ser essa vida, estar aqui concluindo mais essa etapa é uma realização e vitória muito grande em minha vida e na de minha família. Aos meus pais que sempre acreditaram em mim, a base que me deu força para chegar onde cheguei, não me deixando desistir dessa caminhada mesmo com tantos obstáculos que enfrentei. Agradeço ao meu noivo e futuro marido Michel, por sonhar comigo e com calma e muita paciência me incentivar e não me deixar desistir. Agradeço por dizer que tudo daria certo, e por lutar comigo para que eu pudesse me superar e fazer com que eu acreditasse que seria capaz. Obrigada por acreditar quando nem eu mesma acreditava. Agradeço a nossa orientadora Marcela, por sua dedicação e ajuda na realização deste sonho. Agradeço, portanto, a todos que fizeram parte e contribuíram para minha chegada até este momento. Obrigada! LARISSA NEPOMUCENO OLIVEIRA RESUMO O conceito de terceirização passou por mudanças após a implantação da Lei 13.429/17, que incluiu como uma das principais mudanças, a possibilidade de terceirizar as atividades-fim das empresas. O objetivo desta pesquisa foi analisar a percepção de funcionários terceirizados sobre as condições de trabalho com relação aos funcionários das empresas contratantes. Para atingir tais objetivos foi realizada uma revisão bibliográfica, seguida de estudos de múltiplos casos. Os dados coletados permitiram observar a percepção de uma amostra de funcionários terceirizados sobre a terceirização e as condições de trabalho em relação aos funcionários diretos. Durante a aplicação de questionários aos funcionários terceirizados surgiu a oportunidade de entrevistar dois gestores de empresas de terceirização. Buscou-se então analisar a opinião destes quanto á terceirização das atividades – fim. Uma parte significativa dos funcionários sentem certa desvalorização em relação aos funcionários efetivos, principalmente por possuírem menores salários e benefícios. Isto faz com que os funcionários não se vejam como parte da empresa em que prestam serviços. Em relação aos gestores das empresas terceirizadas, buscou verificar a opinião destas quanto á terceirização das atividades – fim. Observou-se duas visões diferentes: o gestor da primeira empresa (A) acredita que é possível atuar nas atividades-fim desde que haja solicitação por parte das empresas clientes enquanto o gestor segunda empresa (B) acredita que dificilmente as empresas clientes irão terceirizar estas atividades, pois elas nascem com aquela vocação. Comparando os resultados obtidos de gestores e funcionário percebe-se uma diferença na percepção dos funcionários terceirizados e empresas quanto a treinamento, desenvolvolvimento e, sobretudo remuneração. Palavras chaves: Terceirização. Condições de trabalho. Oportunidades. ABSTRACT The concept of outsourcing passed by changes after the implementation of the Brazilian Law 13.429/17, which includes as one of the main changes, the possibility to outsource the activities-end of companies. The objective of this research was to analyze the perception of outsourced employees on the working conditions in relation to employees of the contracting companies. To achieve these objectives a bibliographical review was carried out, followed by studies of multiple cases. The data collected allowed observing the perception of a sample of outsourced employees about outsourcing and working conditions in relation to direct employees. During the application of questionnaires to outsourced employees the opportunity arose to interview two managers of outsourcing companies. It was then sought to analyze their opinion regarding the outsourcing of the activities - end. A significant part of employees feel a certain devaluation in relation to the effective employees, mainly because they have lower salaries and benefits. This makes the employees do not feel part of the company in which they provide services. In relation to the managers of outsourced companies, a second questionnaire, seeking to expose their opinion on the outsourcing of the activities - end. The results obtained allow us to observe two different views: for the manager of the first company (A) he believes that it is possible to act in the final activities as long as there is a request from the client companies while the second company manager (B) clients will outsource these activities because they are born with that vocation. Comparing the results obtained from managers and employees shows a difference in the perception of outsourced employees and companies regarding training, development and, above all, compensation. Keywords: Outsourcing. Working Conditions. Opportunities. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Representação Esquemática da Terceirização .......................................................... 16 Figura 2: Representação Esquemática da Quarteirização......................................................... 17 Figura 3: Cargos ocupados pelos funcionários terceirizados ................................................... 36 Figura 4: Faixa Salarial dos Respondentes ............................................................................... 37 Figura 5: Grau de Escolaridade dos Respondentes ..................................................................38 Figura 6 Idade dos Respondentes ............................................................................................. 38 Figura 7: Tempo de trabalho como Terceirizado na Empresa Atual ........................................ 39 Figura 8:Tempo de trabalho como Terceirizado ...................................................................... 40 Figura 9: Quantidade de empresas terceirizadas que o respondente trabalhou nos últimos 2 anos ........................................................................................................................................... 40 Figura 10: Oportunidade de crescimento na empresa terceirizada ........................................... 42 Figura 11: Oportunidade de efetivação na empresa contratante............................................... 43 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Vantagens e Desvantagens da Terceirização ........................................................... 22 Quadro 2: Contratos na Terceirização ...................................................................................... 27 Quadro 3:Principais Treinamentos Proporcionado pelas Empresas ......................................... 41 Quadro 4: Principais Motivos que os Terceirizados não se Sentem parte da Contratante ....... 44 Quadro 5: Conhecimento das Leis Trabalhistas ....................................................................... 46 Quadro 6: Conhecimentos sobre o Conceito de Terceirização e a Lei 13.429/17.................... 49 Quadro 7: Tipos de Contrato .................................................................................................... 52 Quadro 8: Direitos Conhecidos pelos Funcionários Terceirizados .......................................... 53 Quadro 9: Diferenças nas Oportunidades de Treinamento dos Funcionários Terceirizados ... 54 Quadro 10: Análise das Variáveis Indicadas pelas Empresas Terceirizadas............................ 57 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 12 1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 12 2 TERCEIRIZAÇÂO ............................................................................................................. 14 2. 1 HISTÓRICO DA TERCEIRIZAÇÃO .............................................................................. 14 2. 2 DEFINIÇÕES DE TERCEIRIZAÇÃO ............................................................................. 15 2.3 DIFERENÇA ENTRE TERCEIRIZAÇÃO E QUATEIRIZAÇÃO .................................. 18 2.4 MUDANÇAS NA TERCEIRIZAÇÃO .............................................................................. 18 2.5 TERCEIRIZAÇÃO LÍCITA E ILÍCITA ........................................................................... 19 2.6 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA TERCEIRIZAÇÃO ........................................ 20 2.6.1 Vantagens e Desvantagens para os Funcionários Terceirizados ..................................... 20 2.6.2 Vantagens e Desvantagens para as Organizações ........................................................... 21 2.7 TERCEIRIZAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................. 23 2.8 COOPERATIVAS DE TRABALHO ................................................................................. 25 2.9 REGULAMENTAÇÃO ..................................................................................................... 26 2.10 CONTEXTO E EVOLUÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL ............................. 27 2.11 TREINAMENTO, DESENVOLVIMENTO E OPORTUNIDADES .............................. 28 3 MÉTODO DE PESQUISA ................................................................................................. 31 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA .................................................................................. 31 3.2 UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................................ 32 3.3 COLETA DE DADOS ....................................................................................................... 33 4 ESTUDO DE MÚLTIPLOS CASOS ................................................................................. 35 4.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS COM OS QUESTIONÁRIOS APLICADOS AOS FUNCIONÁRIOS TERCEIRIZADOS ........................................................................... 35 4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS COM OS QUESTIONÁRIOS APLICADOS NAS EMPRESAS DE TERCEIRIZAÇÃO ............................................................................. 56 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 59 5.1 SINTESES E CONCLUSÕES ........................................................................................... 59 5.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...... 61 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 62 APÊNDICE A – ROTEIRO DE PESQUISA TERCEIRIZADOS .................................... 67 APÊNDICE B – ROTEIRO DE PESQUISA EMPRESAS DE TERCEIRIZAÇÃO ....... 73 11 1 INTRODUÇÃO Segundo Leiria e Saratt (1995) a terceirização surgiu nos Estados Unidos antes da Segunda Guerra Mundial e se tornou uma forma de administração empresarial desde a década de 50 com o desenvolvimento acelerado das indústrias. De acordo com Martins (2001), na sua concepção original, a terceirização “consistia em contratar um terceiro para a realização das atividades que não constituíssem o foco principal da empresa”. Essa contratação poderia envolver a prestação de serviços como contratação dos serviços de limpeza e vigilâncias ou até de serviços temporários. Segundo Gimenes et al. (2017) a terceirização era definida como um processo planejado para a transferência de atividades delegadas a terceiros, ficando a empresa concentrada apenas em tarefas essencialmente ligadas ao negócio em que atua. No Brasil, por possuir baixo custo, mesmo com seus riscos, a terceirização foi sendo adotada frequentemente nas empresas, pois esse mecanismo possibilitava à empresa se preocupar mais com o produto final do que o principal, enquanto as funções menores que não tinham contato direto com o cliente, poderiam ser exercidas por essas empresas terceirizadas acelerando todo o processo. Isto ocorreu até 2017. Até 2017 a terceirização era possível apenas quando não se tratava de uma atividade- fim, ou seja, não se tratava do objetivo principal da empresa, por exemplo: o ato de fabricar carros é a atividade-fim de uma montadora. Pela regra anterior, só atividades-meio, como limpeza, manutenção e vigilância na montadora do exemplo, seriam passíveis de terceirização. Em março de 2017 o Presidente Michel Temer sancionou e promulgou a Lei nº 13.429/2017 na qual as empresas passaram a ter permissão para terceirizar quaisquer atividades, não apenas atividades acessórias ou meio da empresa. Isso significa que, por exemplo, uma escola que anteriormente poderia contratar somente serviços terceirizados como os de limpeza, alimentação e contabilidade, agora poderão também contratar professores terceirizados. Isso vale para bancos, montadoras, órgãos do governo entre outros. Sabe-se que empresas bem estruturadas que possuem funcionários próprios, além de recrutar e selecionar, também treina e desenvolve esse funcionário, dando, por exemplo, a possibilidade de ascensão no cargo. Funcionários registrados em carteiras diretamente pela empresa contratante também possuem benefíciosgarantidos por lei. Sabe-se que funcionários terceirizados em muitos casos recebem salários menores, sofrem discriminação por parte de alguns funcionários efetivos ou contratados diretamente pela empresa e não possuem grandes possibilidades de crescimento profissional dentro da 12 empresa na qual presta serviço. Diante disto a questão que guiará esta pesquisa é: Qual a percepção dos funcionários terceirizados sobre as condições de trabalho com relação aos efetivos funcionários das empresas contratantes? As empresas terceirizadas irão adotar a terceirizaçãod as atividades-fim? 1.1 OBJETIVOS O objetivo geral desta pesquisa é analisar a percepção de funcionários terceirizados sobre as condições de trabalho com relação aos funcionários das empresas contratantes e verificar se as empresas terceirizadas irão adotar a terceirização das atividades-fim. Os objetivos específicos são: Efetuar um levantamento bibliográfico a respeito do processo de terceirização, com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre o tema; Verificar as possíveis vantagens e desvantagens da terceirização para os funcionários; Verificar se as empresas de terceirização irão adotar a terceirização das atividades-fim; Levantar junto a funcionários de empresas terceirizadas se estas oferecem oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Esses objetivos propostos tem a intenção de auxiliar a desenvolver e obter respostas para o problema principal desta pesquisa. 1.2 JUSTIFICATIVA Segundo dados de uma pesquisa feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2017) em 2014 havia 12,5 milhões de vínculos ativos nas atividades terceirizadas e 35,6 milhões nas contratantes. Foi notado que, nas contratantes, de 100 vínculos ativos, mais de 40 foram rompidos. Enquanto que nas terceirizadas, de 100 vínculos ativos, 80 foram rompidos. Comparando observa-se que a rotatividade em empresas terceirizadas era o dobro das empresas diretamente contratantes. Do ponto de vista econômico esses dados são preocupantes visto que nesta época era permitido por lei somente a terceirização das atividades “meio” e atualmente qualquer atividade pode ser terceirizada segundo a Lei 13.429 sancionada em 31 de março de 2017. Assim se esse nível de rotatividade continuar com as novas alterações da lei trabalhista, a alta rotatividade indica possivelmente menos pessoas trabalhando e menos dinheiro circulando na economia. Daí sua justificativa econômica. 13 Como já mencionado em 31 de março de 2017, foi sancionada a lei 13.429 que possibilita que as atividades-fim da empresa também sejam terceirizadas. As alterações da lei que rege a terceirização podem trazer como consequências, entre elas, a queda drástica da renda, aumento da desigualdade social, evasão fiscal aumento dos déficits previdenciários, crescimento da pobreza e consequentemente da criminalidade. Para o funcionário, poderá trazer insegurança, instabilidade e precarização das condições de trabalho. Do ponto de vista social se concretizadas estas consequências trarão um enorme regresso dos direitos do trabalhador e entender seu funcionamento torna-se um instrumento importante de para minimizar “o problema social”. Do ponto de vista acadêmico, o propósito desta pesquisa é analisar as condições de trabalho dos terceirizados e verificar o motivo da notável rotatividade presente neste setor atrelado à precarização das condições de trabalho. Considerando as mudanças recentes não há grandes informações disponíveis a respeito de tais condições. Desse modo, além de compreender melhor tais mudanças, gerando conhecimentos pode despertar interesse para que outros acadêmicos estudem a terceirização e aos setores por ela impactados. Do ponto de vista pessoal, pretende-se entender qual a visão do funcionário terceirizado sobre suas oportunidades de crescimento e possibilidades de aumento salariais na empresa, além buscar compreender como o funcionário se sente em relação a essa mudança na legislação. Como futuras gestoras, as pesquisadoras podem em algum momento ser ou terceirizar outros funcionários e seu entendimento pode auxiliar na melhora das condições de vida e trabalho dos terceirizados. 14 2 TERCEIRIZAÇÂO Neste capítulo serão apontados os fundamentos teóricos que orientaram esta pesquisa, tais como o Histórico da Terceirização, suas definições, diferença entre terceirização e quarteirização, as mudanças na terceirização, terceirização lícita e ilícita, vantagens e desvantagens da terceirização, terceirização na administração pública, cooperativas de trabalho, regulamentação, contexto e evolução da terceirização no Brasil e foi finalizado com treinamento, desenvolvimento e oportunidades. 2. 1 HISTÓRICO DA TERCEIRIZAÇÃO O modelo de terceirização originou-se durante a Segunda Guerra Mundial, quando houve o alinhamento dos Estados Unidos aos países europeus para combater as forças nazistas e o Japão. A indústria de armamento não tinha capacidade de preencher a demanda de abastecimento do mercado, havendo a necessidade de ajuda para suprir o aumento excessivo da demanda e também investir no desenvolvimento de novas tecnologias para aprimoramento do produto e de sua produção (MEIRELES, 2008). Essa necessidade levou ao entendimento de que as indústrias deveriam manter seu foco voltado para produção, e as atividades de suporte deveriam ser transferidas para execução de terceiros. Esse processo de delegar atividades para terceiros foi difundindo-se para diversos lugares e setores. De acordo com Queiroz (1998) (apud Gimenes et al. 2017), “a terceirização foi gradativamente implantada em decorrência da vinda das primeiras empresas multinacionais, principalmente as automobilísticas no início de 1980”. Desde seu surgimento a terceirização era conhecida como contratação de serviços de terceiros e era aplicada nas indústrias apenas para reduzir o custo da mão de obra. A terceirização surgiu a partir das necessidades e variações no sistema de produção capitalista, iniciando-se em multinacionais automobilísticas como, por exemplo, as que operavam por seguir modelos flexíveis de trabalho como o Toyotismo que externalizava a produção, e assim sendo desenvolvido e disseminado para outros setores da indústria (TANO, FRANCO, FRANÇA, 2016). Segundo Cattani e Holzmann (2011 p. 424): As primeiras iniciativas de terceirização de trabalho tiveram, no mais das vezes, o propósito de reduzir custos com mão de obra, revelando caráter defensivo e restritivo em relação aos trabalhadores. 15 2. 2 DEFINIÇÕES DE TERCEIRIZAÇÃO Até 2017 a terceirização era o recurso gerencial pelo qual uma empresa transferia parte de suas atividades-meio para outra unidade empresarial, tendo em vista tornar mais flexíveis à organização e as relações de trabalho (CATTANI; HOLZMANN, 2011). Segundo Martins (2012): O uso da denominação terceirização poderia ser justificado como decorrente da palavra latina tertius, que seria o estranho a uma relação entre duas pessoas. No caso, a relação entre duas pessoas poderia ser entendida como a realizada entre o terceirizante e seu cliente, sendo que o terceirizado ficaria fora dessa relação, daí, portanto, ser terceiro. Como a expressão ‘terceirização’ demorou a ser implementada nos dicionários de língua portuguesa, foi possível que o termo recebesse diversas denominações. Falava-se em “subcontratação, terceirização, filiação, recontratação, desverticalização, descentralização, exteriorização do emprego, focalização, parceria”, entre outros (MARTINS, 2012). De acordo com o DIEESE (2017), a terceirização é o procedimento de uma empresa deixar de executar atividades efetuadas por funcionários diretamente contratados e passá-las para outra empresa que se responsabilizará por tais funcionários. A terceirização paraCampos (2004, p. 296) é: A transferência para uma empresa de prestação de serviços especializados (prestadora) dos serviços não ligados ao objetivo econômico (atividade- fim) da empresa contratante (tomadora), sendo que os serviços serão realizados através dos empregados da prestadora, dentro ou fora da empresa tomadora. Para Marcelino (2007, p. 57), a “terceirização é todo processo de contratação de trabalhadores por empresa interposta. Ou seja, é a relação onde o trabalho é realizado para uma empresa, mas contratado de maneira imediata por outra”. Para Martins (2017, p. 31), a terceirização é “a possibilidade de contratar empresa prestadora de serviços para realização de atividades específicas da tomadora. A terceirização de atividade diz respeito à empresa. Terceirização de mão de obra diz respeito ao serviço. Além da terceirização são encontradas as terminologias e definições de quarteirização, offshoring, outsourcing, empresa-mãe, empresa contratante, on-site offshoring, international outsourcing, atividade-fim e atividade-meio. Empresa-mãe ou empresa contratante é a empresa que solicita os serviços de outras empresas para realizar suas atividades fins e/ou meio. As empresas terceiras ou contratadas são as empresas que prestam serviços paras as empresas-mães. Pode-se observar na Figura 1 a relação entre a empresa-mãe e empresa terceirizada (DIEESE, 2017). 16 De acordo com a Lei 13.429/17, artigo 5°A, a “contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços determinados e específicos. ” Enquanto que a “empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos. ” A Figura 1 representa como é a relação da empresa contratante (empresa mãe) com as contratadas (empresa prestadoras de serviço). Figura 1 - Representação Esquemática da Terceirização Fonte: Adaptado de Silva e Valença, 1997. Outsourcing é uma palavra de origem inglesa, na qual “out” significa “fora” e “source” é fonte, ou seja, é uma expressão que remete a uma fonte que vem de fora da organização. É conhecida também como terceirização, termo utilizado no Brasil. (DICIONÁRIO MICAELIS, 2018) Offshoring é a transferência da produção de uma empresa no país em que está instalada, para outro país (DIEESE, 2017). Vieira, Brito e Lopes (2011, p. 2) definem offshorring como: Processo pelo qual as empresas empreendem atividades em alguns locais no exterior, em vez de seus países de origem. Além disso, offshore abrange as atividades internas e externas à empresa para a finalidade de servir seu país de origem ou mercados globais. 17 Offshore outsourcing é o processo de terceirizar serviços de uma empresa local, contratando empresas de outros países (DIEESE, 2017). Conforme o DIEESE (2017), o procedimento de uma empresa local contratar trabalhadores estrangeiros com baixa remuneração, é definido como on-site offshoring. Castro et al. (1994) definem quarteirização “quando a tomadora contrata uma empresa para atuar no gerenciamento das demais contratadas. ” Quarteirização é o termo utilizado para empresas que gerenciam o processo de terceirização das empresas mães (DIEESE, 2017). A Figura 2 retrata como é a relação da empresa contratante (empresa mãe), com a empresa quarteirizada e as contratadas (empresas prestadoras de serviços). Figura 2 - Representação Esquemática da Quarteirização Fonte: Adaptado de Silva e Valença, 1997. Segundo DIEESE (2017) a “Atividade-fim é aquela que faz parte do processo específico de produção do bem ou do serviço que é a razão de ser da empresa ”. É a atividade principal em que a organização coloca maior foco a fim de atingir seus objetivos. Por exemplo, em uma universidade o objetivo principal é oferecer instrução educativa, e para atingir tal fim são necessários docentes. 18 Atividade-meio é aquela que auxilia o processo de produzir o bem ou serviço para a organização atingir seus objetivos. Segundo o DIEESE (2017) a “atividade-meio é aquela que faz parte do processo de apoio à produção do bem ou do serviço que é a razão de ser da empresa. Utilizando o mesmo exemplo da universidade, para que esta consiga se manter funcionando bem e em condições de funcionamento, são necessários auxiliares tais como limpeza e segurança. 2.3 DIFERENÇA ENTRE TERCEIRIZAÇÃO E QUATEIRIZAÇÃO A terceirização é uma forma de a organização transferir suas atividades a terceiros. Devido a amplitude que a terceirização tomou, viu-se necessário uma pessoa ou até mesmo uma empresa para realizar a gestão dos contratos das empresas terceirizadas (SILVA, VALENÇA 1997). A quarteirização é a terceirização da terceirização, ela é necessária quando empresas grandes possuem muitos contratos com empresas terceiradas e assim necessita de uma terceira empresa ou pessoa especializada para realizar o controle e gestão desses contratos (SILVA, VALENÇA 1997). Segundo Silva e Valença (1997, p. 4), A quarteirização surgiu da necessidade de um gerenciamento central em uma rede de contratações, uma vez que a organização denominada empresa-mãe buscava, em determinados casos, uma gestão individualizada no que tange à relação com as outras organizações da rede. Muitos entendem a quarteirização como uma evolução da terceirização, mas as duas são diferentes. A terceirização trata-se do processo de delegar atividades das empresas contratantes para as prestadoras de serviços, enquanto que a quarteirização se trata do processo de gerenciamento da terceirização, vinda de uma necessidade das empresas contratantes na gestão dos contratos das terceirizadas (SILVA, VALENÇA 1997, p. 4). 2.4 MUDANÇAS NA TERCEIRIZAÇÃO O processo de terceirização era regulado pela Lei nº 6.019/74 e pelo decreto da Lei nº 73.841/74 e eram legalmente permitidos nos setores de limpeza e segurança denominadas por atividades-meio, permitindo que a empresa contratante focasse seus esforços nas suas atividades-fim. Com a sanção da Lei nº 13.429/17 e Decreto-Lei nº 5.452/43 permitiu às empresas tomadoras de serviços, a terceirização de suas atividades-fim (MARTINS, 2017). 19 A definição de terceirização dada pela Lei nº 6.019/74 após a implantação da Lei nº 13.429/17 é “A transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução” (BRASIL, 20 A). Após a inserção da nova lei, transcorreram diversas mudanças, como por exemplo, a empresa não poderá mais contratar como terceiro uma pessoa que tenha sido empregada como sua funcionária nos últimos 18 meses (EXAME, 2018). De acordo com o § 3° do artigo 9° da Lei 6.019/74, todas as atividades da empresa podem ser contratadas temporariamente: “§ 3° O contrato de trabalho temporário pode versar sobre o desenvolvimento de atividades-meio e atividades-fim a serem executadas na empresa tomadora de serviços” (BRASIL, 1974). Santos (2017, p. 52), afirma que a Lei nº 13.429/17 menciona que “a empresa contratante tem responsabilidade subsidiária, caso a empresa de locação de mão de obra falhe no pagamento das verbas salariais e consectários legais”, conforme apresentado no artigo 5° A, § 5º da Lei nº 13.429/17 que diz: “a empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, e o recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991”. 2.5 TERCEIRIZAÇÃO LÍCITA E ILÍCITA A terceirização pode caracterizar-se por ser lícita ou ilícita. A terceirização lícita respeita os princípios legais dos direitos dos trabalhadores,sem existir relação de emprego entre a empresa contratante e os funcionários da terceirizada, e sem burlar as normas. A terceirização ilícita diz respeito a oportunidades de causar possíveis fraudes e prejuízos aos trabalhadores devido ao contrato permanente de mão de obra (MARTINS, 2017). A terceirização ilícita ocorre quando o empregador (empresa tomadora do serviço) exerce subordinação direta para funcionário terceirizado, por exemplo, havendo determinação de funções por parte do empregador e o estabelecimento de horários de trabalho dos terceirados, o que acaba gerando vínculo empregatício entre o trabalhador e a empresa contratante, sendo a empresa considerada a verdadeira contratante. Neste tipo de terceirização a empresa prestadora de serviço responde solidariamente pelos direitos trabalhistas (GARCIA, 2017). 20 Ainda segundo Garcia (2017), a terceirização ilícita trata-se de uma terceirização fraudulenta, pois ao invés da empresa tomadora de serviços contratar seus funcionários diretamente, ela insere uma intermediadora, a empresa prestadora de serviços, como mera empregadora formal que apenas para atuar na intermediação da mão de obra, tratando o trabalho humano como uma simples mercadoria e afirma que a inspeção do trabalho realizada pelos órgãos do Ministério do Trabalho tem papel fundamental para prevenção das ilegalidades relacionadas à fraude nas relações de trabalho. O artigo 594 do Código Civil diz que “toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição”. Portanto, segundo Martins (2017), a terceirização é lícita desde que seja feita por meio de trabalho temporário e respeitando os princípios apresentados no art. 10 § 1° da Lei n° 6.019/1974 dispostos abaixo. Art. 10. Qualquer que seja o ramo da empresa tomadora de serviços, não existe vínculo de emprego entre ela e os trabalhadores contratados pelas empresas de trabalho temporário. § 1° O contrato de trabalho temporário, com relação ao mesmo empregador, não poderá exceder ao prazo de cento e oitenta dias, consecutivos ou não (BRAZIL, 1974). Como será exposto no item 2.8, para a terceirização ser classificada lícita, não pode existir relação de emprego no trabalho do terceirizado. Martins (2017) comenta que a terceirização deve ser considerada como uma parceria entre as empresas, no entanto, o terceirizante não pode possuir hierarquia maior, nem controlar horário do terceirizado. 2.6 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA TERCEIRIZAÇÃO 2.6.1 Vantagens e Desvantagens para os Funcionários Terceirizados Mesmo com a mudança na legislação trabalhista é possível identificar algumas vantagens e desvantagens que a terceirização pode trazer aos funcionários terceirizados. As principais vantagens encontradas, segundo diversos autores são: Os funcionários terceirizados têm assegurado o acesso a instalações da empresa contratada, isso quer dizer que, pode por lei, o empregado tem o direito de utilizar o refeitório dos funcionários efetivos, os serviços médicos (ambulatório) e também transporte adequado para ir trabalhar (SOARES, 2018). No caso de acionamento judicial a empresa contratante também é responsável pelo pagamento de indenizações no caso de terceirização ilícita, e a mesma atua como responsável subsidiário no caso de terceirização lícita, se a empresa terceirizada não pagar o funcionário. Isso ampara o empregado nas situações difíceis, nas quais antes muitos ficavam sem o apoio 21 das empresas terceirizadas, devido a facilidade que esses tipos de empresas têm em abrir e fechar o negócio, fazendo com que os funcionários não recebam seus direitos trabalhistas (BARROSO, 2016). O funcionários desenvolve seu lado empreendedor e abre seu próprio negócio, dando- lhe independência na prestação de serviços e maior motivação para produzir (MARTINS, 2017). Entre as principais desvantagens destacam-se, segundo Martins (2017): Perda do emprego e dos benefícios; Falta de um apoio trabalhista que protege os funcionários; O ambiente pode ser degradado, pois a empresa pode ser pequena e não possuir a mesma estrutura das empresas tomadoras; Os salários são inferiores, principalmente das mulheres que se sujeitam a trabalhar a qualquer custo; Pelo fato de muitas empresas serem pequenas e não disporem de muitos recursos financeiros para cumprir com as normas legais, podem não ter idoneidade financeira; Mais trabalho em maior tempo; Maior número de acidentes de trabalho; Inibição do sindicalismo. 2.6.2 Vantagens e Desvantagens para as Organizações As organizações também são afetadas pela terceirização e possuem suas vantagens e desvantagens, como evidenciado por Gimenes, et al. (2017, p. 5): “O processo de terceirização deve começar através de um bom planejamento do que se pretende terceirizar. Por isso é fundamental ter uma visão estratégica daquilo que quer ser terceirizado dentro da empresa”. Abaixo, o Quadro 1 mostra as vantagens e desvantagens da terceirização para as organizações: 22 Quadro 1 - Vantagens e Desvantagens da Terceirização VANTAGENS DA TERCEIRIZAÇÃO DESVANTAGENS DA TERCEIRIZAÇÃO Focalização dos negócios da empresa na sua área de atuação; Diminuição dos desperdícios, redução das atividades – meio, aumento da qualidade, ganhos de flexibilidade, aumento da especialização do serviço, aprimoramento do sistema de custeio, maior esforço de treinamento e desenvolvimento profissional; Maior agilidade nas decisões, menor custo, maior lucratividade e crescimento, favorecimento da economia de mercado, otimização dos serviços, redução dos níveis hierárquicos, aumento da produtividade e competitividade, redução do quadro direto de empregados. Risco de desemprego e não absorção da mão-de-obra na mesma proporção; Conflito com os sindicatos; Perca do vínculo para com o empregado; Desconhecimento da legislação trabalhista; Dificuldade de encontrar a parceria ideal; Falta de cuidado na escolha dos fornecedores. Fonte: Gimenes et al. (2016). Além das vantagens apresentadas no Quadro 1, Martins (2017) relata que, do ponto de vista da organização, a terceirização também oferece a vantagem da obtenção de maior qualidade do produto ou serviço devido à especialização dos serviços dentro da empresa. Consequentemente haverá desburocratização por efeito da redução da estrutura da empresa, gerando descentralização. A redução da estrutura da empresa implica na redução dos custos e, assim sendo, o preço final dos produtos. Esses fatores concebem a economia de escala e eliminação de desperdícios, reduzindo também os espaços utilizados pela empresa e espaços destinados à manutenção estoques. Tendo em vista isso, a empresa pode utilizar os recursos que eram destinados a manter esses espaços para investir, por exemplo, em pesquisas de tecnologia (MARTINS, 2017). A implementação da terceirização também pode apresentar como desvantagens: Custos de demissões (GIMENES et al. 2016); 23 Falta de qualidade e produtividade devido aos funcionários não terem adequado treinamento e aperfeiçoamento; (GIMENES et al. 2016); Aumento dos riscos ao perder controle sobre alguns processos de produção (SILVA, VALENÇA, 1997). Sem um bom conhecimento por parte da empresa contratante sobre a terceirizada a contratante corre o risco de contratar empresas inadequadas para realizar os serviços, pois poderão resultar problemas de natureza trabalhista (MARTINS, 2017). Não se pode pensar que a terceirização é apenas uma forma de reduzir custos, dado que não em alguns casos esse objetivo pode não ser alcançado podendo ainda sair mais caro que o esperado. Deste modo, antes de terceirizar uma atividade da empresa, é preciso considerar que a terceirização buscaprimordialmente a qualidade e confiança no parceiro, por isso é importante uma análise minuciosa em relação a empresa terceirizada (MARTINS, 2017). 2.7 TERCEIRIZAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Conforme citado na sessão 2.4, as mudanças na implementação da lei aprovada em 2017 trouxeram a permissão da terceirização em todas as atividades da empresa, porém será apresentado nesta sessão que no setor público essa permissão é diferente. Garcia (2017) deixa claro que fica previsto na Constituição da República que cargos ou empregos públicos depende exclusivamente de aprovação prévia em concurso público, não se permitindo a terceirização devido à está exigência constitucional e informa que somente serviços de acessória e suporte à administração pública é que podem se terceirizados. No entanto, segundo Garcia (2017) as atividades de conservação, limpeza, segurança, vigilância, transportes, informática, copeiragem, recepção, reprografia, telecomunicações e manutenção de prédios, equipamentos e instalações, são atividades que podem ser terceirizadas mediante à editais de licitações e contratos de prestação de serviços. Para Martins (2017) o Estado também se beneficia da terceirização, pois ao transferir as atividades que não lhe são essenciais e reduzir custos, pode ser uma forma de minimizar o déficit estatal. Há diversas atividades já terceirizadas pelo Estado, tais como coleta de lixo, transporte público, medição do consumo de água, de gás, de energia elétrica e na distribuição de contas. No entanto, é importante salientar que conforme Capuzzi e Bezerra (2017) serviços indelegáveis não poderão ser terceirizados, pois é disposto em normativa especial que cargos 24 exclusivos do Estado como segurança, justiça e fiscalização não poderão ser terceirizados. Previsto em artigo 4º, da Lei nº 11.079/04. Capuzzi e Bezerra (2017) fornecem os seguintes exemplos: Membros da Magistratura; Membros do Ministério Público e Defensoria Pública; Delegado de polícia e carreiras policiais; Agentes de Fiscalização; Auditores; Procuradores da Administração Direta e Indireta. A terceirização de serviços pode ser feita na Administração Pública, mas não de mão de obra, conforme apresentado pelo parágrafo único do artigo 64 da Lei nº 9.995/2000: Parágrafo único. Não se considera como substituição de servidores e empregados públicos, para efeito do caput, os contratos de terceirização relativos a execução indireta de atividades que, simultaneamente: I – Sejam acessórias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituem área de competência legal do órgão ou entidade; II – Não sejam inerentes a categorias funcionais abrangidas por plano de cargos do quadro de pessoal do órgão ou entidade, salvo expressa disposição legal em contrário, ou quando se tratar de cargo ou categoria extinta, total ou parcialmente. A terceirização na Administração Pública foi efetuada com o propósito de reduzir o número de contratação de servidores públicos, reduzir custos e limitar seus gastos com funcionários, que devem se restringir a 60% da receita como disposto na Lei complementar nº 82/1995. Contudo, na prática, o Governo gasta muito mais com o terceirizado do que com o servidor público (MARTINS, 2017). Para Mendes e Kohler (2011) uma explicação para isso se deve a tendência dos órgãos públicos em expandir excessivamente suas atividades-meio, aumentando, portanto, outra possível fonte de crescimento da despesa de terceirização, ou seja, aumentando a ocupação de postos em atividades-fim da administração por funcionários terceirizados, também conhecida como “terceirização ilegal ou ilícita”. Os autores também falam sobre possíveis práticas de cartéis entre as grandes empresas prestadoras de serviços que tendem a aumentar o valor de seus contratos em licitações públicas, os serviços são oferecidos ao setor público a valor superior ao setor privado. 25 2.8 COOPERATIVAS DE TRABALHO As cooperativas de trabalho são criadas por profissionais autônomos que exercem uma mesma profissão, essas pessoas se unem para obterem vantagens no próprio empreendimento sem nenhuma intermediação ou subordinação de terceiros (GARCIA, 2017). Para Martins (2017), cooperativa é uma sociedade de pessoas que não têm subordinação entre si, mas colaboram e trabalham juntas em busca de um propósito. A lei 12.690/2012 artigo 2º diz que: Considera-se Cooperativa de Trabalho a sociedade constituída por trabalhadores para o exercício de suas atividades laborativas ou profissionais com proveito comum, autonomia e autogestão para obterem melhor qualificação, renda, situação socioeconômica e condições gerais de trabalho. As cooperativas podem realizar qualquer atividade, sendo praticadas pelos cooperados com total autonomia. Trata-se de uma terceirização lícita, desde que se atente aos requisitos da Lei. No entanto, nem sempre é possível identificar quais são as atividades-fim e atividades- meio (MARTINS, 2017). Segundo Martins (2017), não pode existir vínculo empregatício nas cooperativas. Os cooperados devem fazer rodízio durante a prestação de serviço para evitar que possa se configurar vínculo com a empresa tomadora. Para Garcia (2017) se a cooperativa tem como objetivo a intermediação de mão de obra, havendo a prestação de serviço de forma subordinada, deixa de ser uma cooperativa. As cooperativas de trabalho dispõem de uma lei que rege sobre sua organização e funcionamento. A Lei 12.690 de 19 de julho de 2012, que forma o Programa Nacional de Fomento às Cooperativas de Trabalho (PRONACOOP). As cooperativas são organizadas de forma democrática por meio de Assembleia Geral, as quais são definidas as diretrizes para o funcionamento das cooperativas, elas contam com sócios que decidem a forma de execução dos trabalhos (GARCIA, 2017). Fica disposto no Art. 3º da Lei 12.690 os princípios das cooperativas, são eles: I - Adesão voluntária e livre; II - Gestão democrática; III - participação econômica dos membros; IV – autonomia e independência; V - educação, formação e informação; VI - Intercooperação; VII - interesse pela comunidade; 26 VIII - preservação dos direitos sociais, do valor social do trabalho e da livre iniciativa; IX - Não precarização do trabalho; X - Respeito às decisões de assembleia, observado o disposto nesta Lei; XI - participação na gestão em todos os níveis de decisão de acordo com o previsto em lei e no Estatuto Social. Por meio da autogestão, os cooperados devem exercer de forma autônoma e individual seu trabalho, essa autonomia deve ser exercida de forma coletiva e coordenada pelas decisões em Assembleia Geral, sempre seguindo as regras e preceitos ali estabelecidos. Porém há um grande risco neste processo, o da subordinação interna o que pode levar a destruição da essência da cooperativa (GARCIA, 2017). Também fica previsto em Lei no art. 4º que se tem dois tipos de Cooperativas, as de produção e as de serviços. As cooperativas de produção tratam-se da união de cooperados para a produção em comum de bens e estes detêm os meios de produção, e as de serviço trata- se de cooperados reunidos para a prestação de serviços a terceiros. Segundo Garcia (2017), as fraudes trabalhistas e as terceirizações que acarretam na precarização das condições de trabalho estão em cooperativas irregulares de serviço, que atuam no lugar de empresas prestadoras de serviços. 2.9 REGULAMENTAÇÃO De acordo com Biavaschi e Droppa (2014), a terceirização no Brasil não tem uma regulamentação específica em razão de apenas dispor de projetos de leis e propostas. No entanto, segundo o DIEESE (2017), a regulamentação da terceirização foi inserida na Lei 6.019/1974, que tinha por objetivo tratar do trabalho temporário. “A regulamentação da terceirização deveria ser tratada em lei específica, cujo conteúdo tentasseabarcar os diversos elementos envolvidos nas relações entre contratantes e terceiras, entre as terceiras e os empregados e entre a contratante e os terceirizados”. No entanto, existe um projeto de lei, denominado PLC 30/2015, que está em discussão no Senado, a fim de buscar garantias e proteção aos trabalhadores (DIEESE 2017, pág. 8). Segundo Martins (2017, p. 67), os principais contratos empregados na terceirização são a empreitada, subempreitada, a prestação de serviços e parceria, conforme Quadro 2. Contudo abordar-se aqui apenas a forma de contrato civil relacionado à prestação de serviços. De acordo com o artigo 422 do Código Civil, “os contratantes são obrigados a guardar, assim 27 na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”, assim sendo também nos contratos de terceirização. Quadro 2 - Contratos na Terceirização Tipos de Contrato Descrição Empreitada É o contrato em que o empreiteiro realiza um trabalho para o dono da obra, sem subordinação, mediante remuneração. Subempreitada É o contrato previsto na lei civil que determina a responsabilidade solidária do empreiteiro principal pelas obrigações derivadas dos contratos de trabalho do subempreiteiro. (SICEPOT-MG, 2013). Prestação de serviços É o contrato em que uma das partes presta uma atividade a outrem, mediante remuneração sem subordinação. Parceria Pode incluir o fornecimento de terra ou benfeitorias por uma das partes, enquanto a outra entra com o trabalho e/ou máquinas, animais e investimentos. Há colaboração entre os parceiros, objetivando a aquisição de lucro. Fonte: Martins, 2017. A Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), no artigo 2, menciona que o empregado não pode sofrer os riscos do empreendimento, do qual devem ficar na responsabilidade do empregador: “Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. ” 2.10 CONTEXTO E EVOLUÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL A terceirização foi trazida para o Brasil por volta de 1950, por multinacionais que tinham o interesse de se atentarem apenas nas atividades essenciais. O objetivo era adquirir mão de obra mais barata, de modo a não lesar a lei trabalhista (MEIRELES, 2008), o que na época amenizou o impacto da recessão e do desemprego, gerando a criação de novas empresas e por consequência a necessidade de mão de obra. No início de 1990, durante o mandato do presidente Fernando Collor de Mello, a terceirização foi empregada como imposição da globalização econômica a fim de enfrentar a crise. Naquela época os direitos do trabalho eram vistos como riscos empresariais (MEIRELES, 2008). Para se manterem competitivas as empresas adotavam uma série de estratégias. Uma das estratégias era optar pela redução de custos, enxugando o quadro de funcionários e tornando as relações de trabalho precárias. Outra estratégia era contratar empresas terceirizadas. Assim poderiam se focar no seu produto final, e por fim algumas organizações 28 optavam pelas duas opções. E de todas as maneiras os trabalhadores eram prejudicados (FREZ; MELLO, 2016). Algumas empresas brasileiras já terceirizavam quase 100% de suas atividades produtivas desde 1997, como exemplo, a Arezzo que terceiriza praticamente quase toda sua produção. No Brasil a terceirização é uma ferramenta utilizada pelas empresas com a finalidade de delegar suas atividades de apoio, até mesmo atividades importantes de seu processo produtivo (LEOCÁDIO; DÁVILA; DONADEL, 2008), isso antes mesmo da mudança na lei. A terceirização no Brasil é vista pelas empresas como uma forma de se reduzir custos. No entanto o impacto desse pensamento acaba sendo negativo para os trabalhadores. Os funcionários terceirizados ficam sobre a responsabilidade de empresas pequenas que em muitos casos não tem fiscalização, deixando-os vulneráveis e expostos a violação de seus direitos trabalhistas (FREZ; MELLO, 2016). 2.11 TREINAMENTO, DESENVOLVIMENTO E OPORTUNIDADES Atualmente é necessário que uma empresa tenha uma equipe altamente treinada, pois as mudanças no ambiente externo das organizações ocorrem muito rápido. Sendo assim é fundamental que as metas da empresa, o treinamento e desenvolvimento das pessoas estejam interligados para atingirem juntos os objetivos organizacionais. O treinamento e desenvolvimento são ou deveriam ser prioridade em todas as empresas, inclusive nas empresas de terceirização, visto que as contratantes esperam pessoas bem qualificadas. (REICHEL, 2008). Treinamento é o processo que busca proporcionar ao funcionário habilidades, regras, conceitos e atitudes visando a adequação de suas características com as exigências funcionais que serão executadas. O desenvolvimento por sua vez é o processo de longo prazo que busca aperfeiçoar o funcionário para eventuais oportunidades que possam surgir na organização, nesta etapa estes são capacitados e motivados a visionar o crescimento dentro da organização, assim os tornando pessoas valiosas para empresa (MILKOVICH e BOUDRAU, 2000 apud FRANÇA, 2015). Segundo Reichel (2008) o treinamento e o desenvolvimento estão inteiramente ligados à empresa, que busca identificar seus talentos e fazer com que os apoiem estrategicamente para o desenvolvimento da organização. Como já mencionado por Martins (2017) a terceirização oferece a vantagem da obtenção de maior qualidade do produto ou serviço 29 devido à especialização dos serviços dentro da empresa, e para que essa qualidade possa ser mantida é necessário que os funcionários sejam atualizados e incentivados ao desenvolvimento, com a oferta de treinamentos e oportunidades. Para Noe (2015) o treinamento é o esforço planejado de uma empresa para facilitar o aprendizado de competências, conhecimentos, habilidades e comportamentos relacionados ao trabalho e o desenvolvimento é semelhante, porém focado para o futuro. O desenvolvimento prepara os funcionários para oportunidades futuras, com o treinamento, experiências de trabalho e avaliações. Quishida et al. (2009), pronuncia que o sucesso e o crescimento das organizações no âmbito competitivo, dependem da capacidade de construir novas competências, ou seja, capacidade de treinar e desenvolver seus funcionários. Atualmente vive-se o período da informação, fato que transforma o ambiente das organizações mais competitivas. Portanto as organizações necessitam de mais informações para tomada de decisões e possuir equipes competentes para manter, ou melhor, seu desempenho organizacional (REICHEL, 2008). Segundo França (2015), pessoas preparadas produzem mais e melhor e se sentem mais autoconfiantes. Logo uma organização que investe em seu fator humano proporcionando treinamento, desenvolvimento e oportunidades aos seus funcionários, está na frente desta competição por nichos e segmentos chamado mercado competitivo. Com pessoas preparadas a organização obtém vantagem competitiva e tomam um maior número de decisões corretas O treinamento pode ser segundo França (2015): Para novos funcionários ou de integração: se refere ao treinamento voltado para a familiarização do trabalhador em relação à cultura organizacional da empresa, sua missão, visão e valores, normas e regulamentos; Para atualização: trata-se do treinamento voltado para que os trabalhadores que já fazem parte e já conhecem o funcionamento da empresa se atualizem e aprimorem suas competências e habilidades; Para mudanças nos processos: realizado quando a empresa adquire um novo equipamento ou adota novos métodos e processos. Este treinamento tem como objetivo, familiarizar o profissional com tais mudanças e; Quando ocorre alguma promoção: quando um funcionário é promovido, o treinamento é realizado com intuito de prepará-lo para o novo cargo, bem comoas novas rotinas e responsabilidades que ele irá assumir. 30 Desenvolvimento por sua vez é um processo de longo prazo para aperfeiçoar as capacidades e motivações dos empregados, a fim de torná-los valiosos da organização. Inclui treinamentos, carreiras e outras experiências (cursos de MBA, intercâmbio) entre outros (FRANÇA, 2015). No entanto, embora necessário, muitas vezes o treinamento e o desenvolvimento são deixados de lado pelas empresas que os veem não como investimento, mas como gastos. Isto não é diferente em empresas de terceirização. Na sessão 3 será apresentada a metodologia utilizada na elaboração desse trabalho. 31 3 MÉTODO DE PESQUISA Método de pesquisa é utilizado para construção do conhecimento, e congrega um conjunto de técnicas que ajudam na realização da pesquisa. Para DEMO (1985) o método de pesquisa é o “estudo dos caminhos e dos instrumentos usados para se fazer ciência”. Conforme Michel (2009), o método de pesquisa é: “um caminho que traça para se atingir um objetivo qualquer. É, portanto, a forma, o modo para resolver problemas e buscar respostas para as necessidades e dúvidas. O método científico é um caminho que procura verdade num processo de pesquisa, ou aquisição do conhecimento; um caminho que utiliza procedimentos científicos, critérios normatizados e aceitos pela ciência”. Ciência é uma forma de conhecimento, é o ato de perceber ou compreender por meio da razão ou experiência, e para SEVERINO (2007) "A ciência se faz quando o pesquisador aborda os fenômenos aplicando recursos técnicos, seguindo um método e apoiando-se em fundamentos epistemológicos." Método é um conjunto de procedimentos seguidos para encontrar o conhecimento científico. Segundo Matias-Pereira (2012), “método pode ser aceito como um conjunto de procedimentos, regras e técnicas que devem ser adotados na realização de uma pesquisa científica”. Assim sendo, nesta sessão são explicadas todas as informações com relação ao tipo de pesquisa; população e amostra; e coleta de dados realizados nesta pesquisa. 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA Considerando o conceito apresentado por Gil (2002) de que toda pesquisa científica deve ser classificada quanto a sua natureza, abordagem, objetivos e procedimentos técnicos, o presente trabalho classifica-se quanto a sua natureza como pesquisa aplicada. Segundo Gerhardt e Silveira (2009, p. 35), a pesquisa aplicada “objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais”. Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a percepção de funcionários terceirizados sobre as condições de trabalho em comparação aos funcionários das empresas contratantes, aplicando de forma prática os conhecimentos adquiridos em teoria. É uma pesquisa de abordagem qualitativa, uma vez que os resultados desta não são passíveis de mensuração numérica, mas de interpretação de fenômenos e atribuição de 32 significados através do referencial teórico e da tabulação da pesquisa de campo, dados sobre os quais as pesquisadoras analisaram indutivamente. Do ponto de vista dos objetivos, é uma pesquisa exploratória, visto que tem o propósito de proporcionar maior proximidade com o problema (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Inicialmente as pesquisadoras buscaram se familiarizar com o tema/problema a fim de torna-lo mais explícito, objetivando desta assim o aprimoramento de ideias para a análise e solução deste (GIL, 2002). A segunda fase da pesquisa possui caráter descritivo, pois apresenta e descreve os dados coletados na pesquisa de campo. Com relação aos procedimentos técnicos, a pesquisa classifica-se como bibliográfica seguida de estudo de mútiplos casos, já que no primeiro momento foram coletadas informações retiradas de livros, artigos disponíveis em periódicos e anais de congressos, e posteriormente foi conduzido o estudo de mútiplos casos e análise de dados referentes a terceirização, do ponto de vista do empregado terceirizado. De acordo Yin (2005), o uso do estudo de caso é adequado quando se pretende investigar o como e o porquê de um conjunto de eventos contemporâneos. Ainda de acordo com Yin (2005), o estudo de caso se trata de investigação empírica que permite a análise de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. 3.2 UNIVERSO E AMOSTRA Conforme dito por Matias-Pereira (2012) “o universo, ou população de pesquisa é a totalidade de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para um determinado estudo”, ou seja, nesta etapa será definida a população e amostra que será estudada. Ainda de acordo com Matias-Pereira (2012) “amostra é parte da população ou universo, selecionada de acordo com uma regra ou plana”, no caso para atingir - se o objetivo da pesquisa. Desta forma, o universo da pesquisa serão funcionários terceirizados de diferentes setores em empresas terceirizadas da cidade de São Carlos, estado de São Paulo. A amostra corresponde aos terceirizados que se dispuseram a responder o questionário. Ainda com relação a amostra esta foi predeterminada como não probabilística, sendo delimitada por amostras intencionais. Segundo Matias-Pereira (2012, p. 92), neste tipo de amostragem “são escolhidos sujeitos que representam o “bom julgamento” da população/universo”. 33 3.3 COLETA DE DADOS A coleta de dados foi realizada por meio de questionários estruturados com peguntas abertas e fechadas. O questionário (Apêndice A) foi aplicado em pessoas que trabalham para empresas terceirizadas de diferentes setores, a fim de realizar uma investigação científica. Este questionário foi elaborado para que os respondentes relatassem se as empresas de terceirização oferecem treinamento e desenvolvimento para seus funcionários, também para verificar se estes funcionários têm oportunidades de efetivação na empresa contratante. Além disso, buscou-se compreender a percepção dos funcionários tercerizados quanto ao tratamento recebido das empresas contratantes, a fim de verificar se eles são tratados de maneira diferente. Assim o questionário aplicado nos terceirizados (Apêndice A) foi dividido em duas partes. A primeira parte elaborada foi realizada com intuito de conhecer o respondente e saber seus conhecimentos sobre a terceirização. A segunda parte elaborada foi realizada com propósito de investigar se as empresas terceirizadas oferecem treinamento para o desenvolvimento de seus funcionários, além de analisar se os funcionários terceirizados têm oportunidades de crescimento na empresa terceirizada e ainda se existe chances de o terceiro ser contratado efetivamente pela empresa tomadora do serviço. Além dos questionários que foram aplicados nos terceirizados, outro questionário de pesquisa (Apêndice B) foi elaborado, com questões abertas para duas empresas que trabalham com terceirização no interior do Estado de São Paulo, com o objetivo de observar como estas tratam a terceirização com seus funcionários, analisando a questões como treinamento e oportunidades do profissional e se estas adotam as mudanças dispostas na Lei 13.429/17. 3.4 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA E FUNCIONÁRIOS TERCEIRIZADOS A pesquisa inicialmente surgiu com propósito de investigar a percepção dos funconários terceirização sobre as condições de trabalho com relação ao funcionários terceirizados das empresas contratantes, ao decorrer do trabalho as pesquisadoras foram em empresas de terceirização com intuito de ter acesso ao funcionários terceirizados, porém duas das empresas participantes se dispuseram a responder o questionário com intuito de mostrar como é a tercceirização na visão das empresas com base nos relatos de seus funcionários. A partir da participação dessas empresas pode-seanalisar suas percepções quanto a terceirização, foi analisado também se estas empresas oferecem treinamento e crescimento 34 para seus funcionários e sobre a alterações na Lei 13.429/17 foi possível identificar a visão de cada empresa com relaçao a terceirização da atividades-fim. As empresas participantes da pesquisa são classificadas como empresas de terceirização de serviços que atualmente trabalha com atividades de apoio como segurança, limpeza, portaria, recepção, jardinagem, conservação e movimentação e expedição de matéria prima. Dentre essas atividades estão inclusas ativdade por tempo indeterminado e por tempo determinado. Nenhuma das empresas atuam com serviços de atividades-fim no momento. Foram abordados funcionários de diferentes setores de terceirização para entrega dos questionários, porém nem todos os funcionários, que foi possível acesso, se dispuseram a ficar com o questionário para responder e dos funcionários que se comprometeram a responder o questionário nem todos retornaram com os questionários respondidos, assim a amostra deste trabalho foi baseada nos funcionários que se dispuseram a responder e retornar com os questionários respondidos. Na próxima seção serão apresentados os resultados do estudo de múltiplos casos. 35 4 ESTUDO DE MÚLTIPLOS CASOS Esta seção apresenta os resultados do estudo de múltiplos casos realizado por meio da aplicação de questionários a funcionários terceirizados de diversas empresas da cidade de São Carlos, estado de São Paulo. 4.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS COM OS QUESTIONÁRIOS APLICADOS AOS FUNCIONÁRIOS TERCEIRIZADOS Esta pesquisa buscou analisar a terceirização sob a ótica dos terceirizados. Para atingir este objetivo, enviaram-se questionários a funcionários terceirizados de diferentes setores, na cidade de São Carlos. Em razão do teor das questões, diversas empresas não permitiram a devolução dos questionários, no entanto, foram obtidos 30 devoluções, que são descritas a seguir. Conforme a Figura 3, os setores que participaram da pesquisa foram os de: segurança, limpeza, portaria, RH, ensino superior, tecnologia, manutenção, agricultura, recepção, indústria, logística, gerenciamento e administrativo. A maior parte dos questionários devolvidos e respondidos foram de funcionários dos cargos de porteiro e conferente, 7 e 5 respectivamente. No entanto, obteve-se respostas de 2 funcionários dos cargos de auxiliar, digitador, vigilante e recepcionista e 1 dos cargos de auxiliar de almoxarifado, técnico em segurança do trabalho, operador logístico, cozinheira líder, analista de processos, gerente de operações (lanchonete) e, manutenção, motorista, docente, manutenção e auxiliar de operação. Observa-se que a maioria dos cargos terceirizados obtidos nesta pesquisa 27 ou (90%), são de funcionários são de mais baixo escalão nas empresas. 36 Figura 3 - Cargos ocupados pelos funcionários terceirizados Fonte: Elaborado pelas autoras. Conforme a Figura 4 pode-se observar que a maioria dos entrevistados está faixa salarial de 1 a 2 salários mínimos (de R$954,01 até R$1.908,00). Observou-se que o respondente com menor salário, ou seja, na faixa salarial de (até R$954,00) é um docente do Ensino Superior. Observa-se desse modo a precarização ainda maior que as alterações da Lei 13.429 estão acarretando, já que permite a terceirização da atividade-fim. Atualmente mesmo com a nova Lei, a convenção sindical não permite a contratação de professores terceirizados (atividade-fim), no entanto os acordos próprios se sobrepõem a lei, o que acontece neste caso. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 37 Figura 4 - Faixa Salarial dos Respondentes Fonte: Elaborado pelas autoras. A Figura 5 representa o grau de escolaridade dos respondentes. Observou-se que 17% dos respondentes têm apenas o Ensino Fundamental Completo, 46% tem o Ensino Médio Completo, e apenas 10% possuem o Ensino Superior Completo. Foi apontado por um dos respondentes que as empresas terceirizadas procuram por profissionais menos qualificados, com o objetivo de reduzir custos com salários. Isto é uma realidade. As empresas justificam a terceirização, como forma de contratar pessoal especializado para trabalhos dos quais não são seu foco, no entanto, especializado é diferente de qualificado. Fica muito claro que para muitas empresas o objetivo da terceirização não é qualidade nem eficiência e sim baixos custos. 4% 83% 7% 3% 3% 1 salário mínimo De 1 a 2 salários mínimos De 2 a 3salários mínimos De 3 a 4 salários mínimos De 4 a 5 salários mínimos Mais que 5 salários mínimos 38 Figura 5 - Grau de Escolaridade dos Respondentes Fonte: Elaborado pelas autoras. Com relação à idade dos respondentes, os resultados obtidos mostram que a maioria dos funcionários terceirizados são jovens com idade entre 18 e 35 anos, sendo 60% do total dos respondentes que participaram da pesquisa. Dos demais, 37% possuem de 36 a 55 anos e apenas 3% possuem mais de 55 anos. Não foi possível estabelecer uma relação entre a idade e a empregabilidade nas empresas terceirizadas, visto que a amostra é pequena e não se pode generalizar, Figura 6. Figura 6 - Idade dos Respondentes Fonte: Elaborado pelas autoras. 17% 0% 46% 27% 10% Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio incompleto Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo 30% 30% 17% 20% 3% Menos de 18 anos Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 35 anos Entre 36 e 45 anos Entre 46 e 55 anos Mais de 55 anos 39 Conforme a Figura 6, pode-se destacar que 37% dos respondentes trabalham há menos de 1 ano na empresa atual, sendo, portanto, novos funcionários. Observou-se também que 30% dos respondentes trabalham entre 2 e 3 anos como terceirizados e apenas 17% da amostra tem mais de 6 anos de trabalho como terceirizado. Com isso foi possível identificar que a grande maioria dos terceirizados que responderam ao questionário trabalham há pouco tempo como terceirizado e que um pequeno percentual permanece trabalhando como terceirizado por muito tempo. Figura 6: Tempo de trabalho como Terceirizado na Empresa Atual Fonte: Elaborado pelas autoras. A Figura 7 indica o tempo que os participantes da pesquisa trabalham como terceirizado. Dos participantes, 34% trabalham há menos de 1 ano como terceirizado. Cerca de 27% do total de respondentes trabalham há mais que seis anos. Por meio dos dados apresentados nos gráficos anteriores, infere-se que houve um aumento de empresas terceirizadas, visto que a maioria dos funcionários terceirizados são jovens e trabalham menos de 1 ano na empresa atual. Como a terceirização tem se tornado uma alternativa para as empresas reduzirem custos, o aumento por terceirizadas aumentou, o que levou consequentemente a um aumento destas. 37% 30% 13% 3% 17% Menos de 1 ano Entre 1 e 3 anos Entre 3 e 4 anos Entre 5 e 6 anos Mais que 6 anos 40 Figura 7 - Tempo de trabalho como Terceirizado Fonte: Elaborado pelas autoras. Conforme Figura 8, observa-se, que entre os participantes desta pesquisa houve pouca rotatividade. Nos últimos 2 anos 90% dos respondentes trabalharam em apenas 1 empresa terceirizada, 7% trabalharam em 2 e apenas 3% trabalharam em 3 empresas terceirizadas. Esses resultados são um pouco divergentes da literatura. Segundo DIEESE, 2017 a rotatividade nas empresas terceirizadas são altas, chegando a ser o dobro das demais. Figura 8 - Quantidade de empresas terceirizadas que o respondente trabalhou nos últimos 2 anos Fonte: Elaborado pelas autoras. 34% 23% 13% 3% 27% Menos de 1 ano Entre 1 e 3 anos Entre 3 e 4 anos Entre 5 e 6 anos Mais que 6 anos 90% 7% 3% 1 2 3 4 5 Mais que 5 empresas 41 Conforme Quadro3, verificou-se que apeanas 50% dos respondentes tiveram treinamento para desempenhar sua função atual. A falta de treinamento pode impactar tanto na motivação, quanto na qualidade dos serviços prestados. O treinamento é mais comumente oferecido aos funcionários da área de segurança além do treinamento de integração. A segurança é uma área que exige treinamento já que precisa integridade de pessoas e empresas. Quadro 3 - Principais Treinamentos Proporcionado pelas Empresas RESPONDENTE CARGO HOUVE TREINAMENTO TIPOS DE TREINAMENTO 1 Operador de Logística Sim Diálogo diário de segurança, treinamento de CIPA, qualidade. 2 Auxiliar Sim Segurança 3 Auxiliar Sim Segurança 4 Auxiliar de Almoxarifado Sim Treinamentos para condução de veículo interno da empresa, e treinamento para aprendizagem e manuseio do sistema de informação. 5 Conferente Não - 6 Conferente Não - 7 Conferente Sim Treinamento com o rebocador. Palestras para auxiliar logística, palestras para conferente. 8 Conferente Não - 9 Técnico em Segurança do Trabalho Sim Integração, regras de segurança do trabalho 10 Cozinheira Líder Sim Treinamento de alimentos, equipamentos, ergonomia 11 Analista de Processos Sim Desde segurança no trabalho até treinamentos relacionados com a função 12 Porteiro Não - 13 Digitador Sim Cursos de segurança de dados e informação, curso de segurança. 14 Porteiro Sim Como ser gentil com as pessoas, orientar nos gastos que nos enxergamos, o perigo. 15 Vigilante Não - 16 Porteiro Sim Treinamento de controlador de acesso, verificando todos os documentos. 17 Porteiro Não - 18 Porteiro Não - 19 Digitadora Não - 20 Porteiro Não - 21 Vigilante Não - Continua... 42 Continuação... 22 Gerente Sim Cursos para manuseio com os alimentos, entre outros 23 Manutenção Não - 24 Motorista Não - 25 Docente Não - 26 Auxiliar de Operação Sim Relativos e operação 27 Conferente Sim Treinamento de segurança, workshop 28 Recepcionista Não - 29 Recepcionista Não - 30 Porteiro Sim Integração Fonte: Elaborado pelas autoras. Os respondentes também foram questionados se haviam oportunidades de crescimento na empresa terceirizada e, conforme a Figura 9 verificou-se que 53% dos respondentes afirmaram possuir possibilidades de crescimento na empresa terceirizada e 47% responderam que não. Se comparado com empresas tradicionais, muitas delas também não oferecem oportunidades de crescimento aos funcionários. É importante que estas empresas pensem em um plano de carreira para os funcionários, pois conforme indicado na literatura por França (2015), o plano de carreira é um motivador e retentor de talentos. Figura 9 - Oportunidade de crescimento na empresa terceirizada Fonte: Elaborado pelas autoras. Já com relação a oportunidade de efetivação na empresa contratante, o funcionário terceirizado tem a possibilidade de ser efetivado, ou seja, se a empresa que contrata o serviço terceirizado apreciar seus serviços poderá efetiva-lo como funcionário direto da empresa 47% 53% Sim Não 43 cliente. Na pesquisa verificou-se que conforme a Figura 10, 63% dos terceirizados responderam que têm oportunidade de efetivação na empresa e 37% respondentes informaram que não têm oportunidade, número elevado, e que muitas vezes acelera o processo de troca de empresa, pois, a efetivação proporciona ao funcionário a sensação de segurança e de “pertencer”. Quando não oferecida esta oportunidade ao funcionário ele fica mais suscetível a mudança de emprego. Figura 10 - Oportunidade de efetivação na empresa contratante Fonte: Elaborado pelas autoras. O Quadro 4 apresenta os principais motivos que fazem com que os funcionários terceirizados não se sintam parte da empresa que prestam serviços. Dos respondentes, 43% disseram que não se sentem parte da empresa, sendo os motivos mais comuns a falta de benefícios equitativos entre os funcionários terceirizados e os diretamente contratados, e a forma como os funcionários da contratante tratam os terceirizados. Cerca de 50% dos terceirizados responderam que se sentem parte da empresa, 7% responderam que em partes sim, se sentem parte da empresa, em partes não. Percebeu-se que o cargo que o respondente atua é um fator que induz a maneira como ele se sente dentro da empresa que presta serviço, como citado pelo respondente 11. Cargos como porteiro e conferente evidenciam essa ocorrência, pois a maioria dos ocupantes dessas funções não se sentem parte da empresa. 63% 37% Sim Não 44 Quadro 4 - Principais Motivos que os Terceirizados não se Sentem parte da Contratante Respondente Cargo Sente-se Parte da Empresa Motivo 1 Operador de Logística Parte sim, parte não Pois quando você é terceirizado, você não tem os mesmos benefícios da empresa contratante. 2 Auxiliar Sim - 3 Auxiliar Não - 4 Auxiliar de Almoxarifado Sim O ambiente de trabalho é agradável e os colaboradores, líderes e gestores me tratam com igualdade, como se fosse funcionário da empresa. 5 Conferente Sim Pois faço parte do processo 6 Conferente Não Sou apenas um prestador de serviço sem qualquer vínculo com a empresa contratante 7 Conferente Não Pois os funcionários da empresa contratante sentem-se superiores aos funcionários da empresa contratada. Existem algumas exceções, mas são poucas. 8 Conferente Não - 9 Técnico em Segurança do Trabalho Não Porque o tratamento com os funcionários terceiros é diferente 10 Cozinheira Líder Sim - 11 Analista de Processos Sim Talvez isso ocorra pelo fato de eu conhecer os colaboradores da contratante e ser bem tratada, o que pode ser em relação com meu cargo ou esforço. 12 Porteiro Não - 13 Digitador Parte sim, parte não Pois sou apenas funcionária terceirizada e os terceirizados não se misturam com os funcionários da empresa contratante 14 Porteiro Sim - 15 Vigilante Sim - 16 Porteiro Sim A gente sente prazer em fazer parte. 17 Porteiro Não Pela falta de comunicação e a falta de interesse pelos problemas dos funcionários 18 Porteiro Não Pois não tenho o verdadeiro conhecimento sobre a empresa que atuo. 19 Digitadora Sim - 20 Porteiro Sim - Continua... 45 Continuação... 1 Vigilante Não Pois estou lá para fazer a segurança da empresa, procuro não misturar as coisas. 22 Gerente Sim - 23 Manutenção Sim - 24 Motorista Não As pessoas nos veem como pessoas diferentes. 25 Docente Não Por conta das demissões que vem acontecendo desde que entrei. Na primeira semana de trabalho soube que seria dispensada em 1 ou 2 anos. Seria substituída por alguém com menos qualificação e com menores custos para empresa. 26 Auxiliar de Operação Não Salário, benefícios e assistência são inferiores. 27 Conferente Sim - 28 Recepcionista Não - 29 Recepcionista Sim Sou uma colaboradora da empresa, assim como os funcionários. 30 Porteiro Sim Apenas quando eu for necessário, caso contrário sou apenas um número que pode ser substituído. Fonte: Elaborado pelas autoras. O Quadro 5 exibe o que os funcionários terceirizados conhecem das Leis Trabalhistas. Dos respondentes 73% disseram conhecer tais leis, sendo as respostas mais comuns o direito a férias, 13º salário, seguro desemprego, licença maternidade, jornada de trabalho, CLT e FGTS. Dos demais 20% têm pouco conhecimento sobre as Leis trabalhistas e 7% não têm conhecimento. A falta de conhecimento das leis abre precedente para que as empresas as burlem e prejudiquem o funcionário. Muitas empresas mesmo cientes de que seus empregados conhecem a Lei, deixa de cumpri-la. Na cidade de São Carlos, uma empresa do ramo de educação, por exemplo, retirava quantidades dos salários de seus funcionários, descontavam valores da folha de pagamento, mas não os recolhiam.
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