Buscar

APOSTILA 2020

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 129 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 129 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 129 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Página | 2
UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP
CAMPUS DE ASSIS
MANUAL DE PSICOLOGIA JURÍDICA
EDIÇÃO 2020
PROFESSOR LUIZ ANTONIO RAMALHO ZANOTI
S U M Á R I O
1. CONCEITO E IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA PARA OS ESTUDANTES E OS PROFISSIONAIS DO DIREITO - p. 4
2. PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL - p. 4
2.1. Psicólogo jurídico e o direito de família – p. 7
2.2. Psicólogo jurídico e o direito da criança e do adolescente – p. 8
2.3. Psicólogo jurídico e o direito civil – p. 10
2.4. Psicólogo jurídico e o direito penal – p. 10
2.5. Psicólogo jurídico e o direito do trabalho – p. 11
2.6. Outros campos de atuação – p. 11
3. NOVOS PARADIGMAS PARA A PSICOLOGIA – p. 12
3.1. Aspectos psicológicos de menores infratores – p. 12
3.2. Psicologia e Tribunal do Júri – p. 14
3.3. Os direitos da vítima – p. 14
3.4. A psicologia e a prisão – p. 15
3.5. A prevenção dos maus tratos infantis – p. 16
3.5.1. Conceito de maus tratos – p. 17
4. AS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS E A JUSTIÇA – p. 18
4.1. Psicologia e o direito de família – p. 18
5. A INTERFACE ENTRE A PSICOLOGIA DE FAMÍLIA E O DIREITO DE FAMÍLIA – p. 20
5.1. – Psicologia do Trabalho – Questões interdisciplinares – p. 26
6. CORPO ANATÔMICO E CORPO VIVIDO – p. 26
6.1. Problemas do tratamento psiquiátrico involuntário – p. 26
7. SIGMUND FREUD: IMPULSOS, IMPULSOS ASSOCIATIVOS – p. 29
7.1. A sociedade e o direito – p. 29
7.2. Direitos humanos e direitos sexuais – p. 32
8. SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL – p. 33
8.1. Conceito de família – p. 34
8.2. Parte histórica: a origem da família – p. 35
8.3. Família nos Dias Atuais – p. 39
8.4. Os Arranjos Familiares do Século XXI – p. 41
8.5. Divórcio – p. 43
8.5.1. Divórcio: Parte Histórica – p. 43
8.5.2. Divórcio nos Tempos Atuais – p. 44
8.6. A Separação Quando se tem Filhos Menores – p. 45
8.6.1. Da Guarda – p. 45
8.6.2. Dos Alimentos e das Visitas – p. 46
8.7. A alienação parental – p. 47
8.7.1. Reconhecimento da Síndrome da Alienação Parental – p. 48
8.7.2. O Alienador – p. 51
8.7.3. O Alienado – p. 52
8.7.4. A Vítima – p. 52
8.7.5. Alienação com Imposição de Abuso – p. 53
8.7.6. Diferença entre Alienação Parental e a Síndrome Alienação Parental – p. 55
8.7.7 Alienação Parental no Brasil – p. 56
8.7.8. A Lei Aborda a Síndrome ou o Ato? – p. 56
8.7.9. A Criminalização da SAP – p. 57
8.8. Alternativas para prevenir a alienação parental e a garantia da convivência familiar – p. 58
8.8.1. Guarda Compartilhada – p. 58
8.8.2. A Mediação – p. 60
8.8.3. A Importância do Acordo no Direito de Família – p. 60
8.8.4. Oficina de Pais e Filhos – p. 61
8.8.5. APASE – p. 62
8.9. Responsabilidade Civil Decorrente da Alienação Parental – p. 63
8.10. A Alienação é Passível de Pena? – p. 65
9. ADOECER NA CLASSE TRABALHADORA – p. 65
9.1. Dano moral – p. 68
9.2. Assédio moral – p. 75
9.3. Assédio sexual – p. 88
10. PSICOLOGIA SOCIAL – p. 93
10.1. Estereótipos, preconceitos e discriminação – p. 93
10.1.1. Estereótipo – p. 93
10.1.2. Preconceito – p. 94
10.1.3. Discriminação – p. 95
10.2. Comportamento anti-social: agressão – p. 96
10.2.1. Causas – p. 96
10.2.2. Possíveis diagnósticos – p. 97
10.2.3. Tratamento – p. 97
10.3. Comportamento pró-social: altruismo – p. 97
11. AVANÇOS CIENTÍFICOS EM PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO APLICADOS AO RECONHECIMENTO PESSOAL E AOS DEPOIMENTOS FORENSES – p. 99
11.1. Subsídios Científicos em Psicologia do Testemunho – p. 99
11.2. Avanços Científicos no Reconhecimento Pessoal – p.100
11.3. Memória: essência do testemunho e reconhecimento – p. 101
11.4. Etapas da memorização – p. 103
11.4.1. Memória e emoção – p. 103
11.4.2. Os efeitos do intervalo de retenção da memória – p. 104
11.5. A memória pode falhar? – p. 105
11.6. Confiança e acurácia da memória – p. 107
11.7. Técnicas de entrevista investigativa – p. 108 
11.7.1. Acolhimento e construção do rapport - p. 109
11.8. Reconhecimento de pessoas – p. 112
12. SUBSÍDIOS JURÍDICOS – p. 116
12.1. O caso André Luiz – p. 117
12.1.1. Indícios e provas: o problema da repetibilidade – p. 117
12.2. Diferença entre vítima e testemunha – p. 118
12.3. Avanços Científicos no Reconhecimento Pessoal – p. 118
12.4. Policial testemunha – p. 119
12.5. Forma de entrevista das testemunhas/vítimas – p. 120
12.6. Reconhecimento de pessoas no Código de Processo Penal – p. 121
12.7.6. Legislação comparada e a incorporação dos achados da Psicologia do Testemunho – p. 123
BIBLIOGRAFIA – p. 126
1. CONCEITO E IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA PARA OS ESTUDANTES E OS PROFISSIONAIS DO DIREITO
A atividade do operador do direito e a do psicólogo estão, necessariamente, relacionadas, porque ambos buscam compreender o comportamento humano e as relações humanas.
a) Psicologia= Busca compreender e explicar a conduta humana. Ocupa-se de explicar as motivações do comportamento humano. Trata do comportamento normal ou anormal. Busca a compreensão da inter-relação de fatores determinantes dos comportamentos humanos (patológicos). Os instrumentos da psicologia são perícias e laudos.
b) Direito= Prevê e regula determinados tipos de comportamentos com o objetivo de estabelecer um contrato social de convivência. Indica o que é proibido e o que é lícito. Fornece elementos concretos para o juiz individualizar as responsabilidades. Busca a normatização dos comportamentos que fazem parte das relações sociais.
A psicologia jurídica é uma vertente de estudo da Psicologia, consistente na aplicação dos conhecimentos psicológicos aos assuntos relacionados ao Direito, principalmente quanto à saúde mental, quanto aos estudos sócio-jurídicos dos crimes e quanto a personalidade da Pessoa Natural e seus embates subjetivos. Por esta razão, a Psicologia Forense tem se dividido em outros ramos de estudo, de acordo com as matérias a que se referirem.
Dedica-se à proteção da sociedade e à defesa dos direitos do cidadão, através da perspectiva psicológica. Juntamente com a Psicanálise Forense, constitui o campo de atuação da Psicologia conjuntamente com o Direito.
Este ramo da Psicologia dedica-se às situações que se apresentam sobretudo nos tribunais e que envolvem o contexto das leis. Desse modo, na Psicologia Jurídica, são tratados todos os casos psicológicos que podem surgir em contexto de tribunal. 
Dedica-se, por exemplo, ao estudo do comportamento criminoso, ao estudo das doenças envolventes de situações familiares e de separação civil. 
Clinicamente, tenta construir o percurso de vida dos indivíduos no dia-a-dia na sociedade em constantes relações jurídicas e todos os processos psicológicos que possam conduzido à doenças de estrutura familiar e do Trabalho. 
O Psicólogo Forense, assim, tenta descobrir a raiz do problema, uma vez que só assim se pode partir à descoberta da solução. Descobrindo as causas das desordens, sejam elas mentais e/ou comportamentais, também se pode determinar um processo justo, tendo em conta que estes casos são muito particulares e assim devem ser tratados em tribunal.
O primeiro ramo da psicologia Forense a surgir foi a psicologia criminal, pois realiza estudos psicológicos de alguns dos tipos mais comuns de delinquentes e criminosos em geral, como, por exemplo, os psicopatas
. De fato, a investigação psicológica desta sub área apresenta, sobretudo, trabalhos sobre homicídios e crimes sexuais, talvez devido à sua índole grave.
A psicologia forense também tem relações com a psicanálise e em especial a psicanálise forense e a sexologia forense, traçando as causas psíquicas que levam certos indivíduos à sexualidade doentia.
2. PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
Na Psicologia Jurídica há uma predominância das atividades de confecções de laudos, pareceres e relatórios, pressupondo-se que compete à Psicologia uma atividade de cunho avaliativo e de subsídio aos magistrados. Cabe ressaltar que o psicólogo, ao concluir o processo da avaliação, pode recomendar soluções para os conflitos apresentados, mas jamais determinar os procedimentos jurídicos que deverão ser tomados.
Ao juiz cabe a decisão judicial. Não compete ao psicólogo incumbir-se desta tarefa. É preciso deixar clara esta distinção, reforçandoa ideia de que o psicólogo não decide. Apenas conclui a partir dos dados levantados mediante a avaliação, e pode, assim, sugerir e/ou indicar possibilidades de solução da questão apresentada pelo litígio judicial.
Contudo, nem sempre o trabalho do psicólogo jurídico está ligado à questão da avaliação e consequente elaboração de documentos, conforme se apresenta a seguir. Os ramos do Direito que frequentemente demandam a participação do psicólogo são: 
· Direito da Família, 
· Direito da Criança e do Adolescente, 
· Direito Civil,
· Direito Penal e Direito do Trabalho.
Cabe observar que o Direito de Família e o Direito da Criança e do Adolescente fazem parte do Direito Civil. Porém, como na prática as ações são ajuizadas em varas diferenciadas, optou-se por fazer essa divisão, por ser também didaticamente coerente.
2.1. Psicólogo jurídico e o direito de família
Destaca--se a participação dos psicólogos nos processos de separação e divórcio, disputa de guarda e regulamentação de visitas.
a) Divórcio
Os processos de divórcio que envolvem a participação do psicólogo são, na sua maioria, litigiosos. Ou seja, são processos em que as partes não conseguiram acordar em relação às questões que um processo desse cunho envolve. Não são muito comuns os casos em que os cônjuges conseguem, de maneira racional, atingir o consenso para a separação. Isso implica resolver o conflito que está ou que ficou nas entrelinhas, nos meandros dos relacionamentos humanos, ou seja, romper com o vínculo afetivo--emocional.
Portanto, o psicólogo pode atuar como mediador. Nos casos em que os litigantes se disponham a tentar um acordo ou, quando o juiz não considerar viável, a mediação, ao psicólogo pode ser solicitada uma avaliação de uma das partes ou do casal. 
Processos de separação e divórcio englobam partilha de bens, guarda de filhos, estabelecimento de pensão alimentícia e direito à visitação. Desta forma, seja como avaliador ou mediador, o psicólogo buscará os motivos que levaram o casal ao litígio e os conflitos subjacentes que impedem um acordo em relação aos aspectos citados. Nos casos em que julgar necessário, o psicólogo poderá, inclusive, sugerir encaminhamento para tratamento psicológico ou psiquiátrico da(s) parte(s).
b) Regulamentação de visitas 
Conforme exposto, o direito à visitação é uma das questões a ser definida a partir do processo de separação ou divórcio. Contudo, após a decisão judicial podem surgir questões de ordem prática ou até mesmo novos conflitos que tornem necessário recorrer mais uma vez ao Judiciário, solicitando uma revisão nos dias e horários ou forma de visitas. Nesses casos, o psicólogo jurídico contribui por meio de avaliações com a família, objetivando esclarecer os conflitos e informar ao juiz a dinâmica presente nessa família, com sugestões das medidas que poderiam ser tomadas. 
O psicólogo pode, ainda, atuar como mediador, procurando apontar a interferência de conflitos intrapessoais na dinâmica interpessoal dos cônjuges, com o objetivo de produzir um acordo pautado na colaboração, de forma que a autonomia da vontade das partes seja preservada.
c) Disputa de guarda 
Nos processos de divórcio é preciso definir qual dos ex-cônjuges deterá a guarda dos filhos. Em casos mais graves, podem ocorrer disputas judiciais pela guarda (Silva, 2006). Nesses casos, o juiz pode solicitar uma perícia psicológica para que se avalie qual dos genitores tem melhores condições de exercer esse direito. 
Além dos conhecimentos sobre avaliação, psicopatologia, psicologia do desenvolvimento e psicodinâmica do casal, assuntos atuais como a guarda compartilhada, falsas acusações de abuso sexual e síndrome de alienação parental podem estar envolvidos nesses processos. 
Portanto, é necessário que os psicólogos que atuam nessa área estudem esses temas, saibam seu funcionamento e busquem a melhor forma de investigá-los, de modo a realizar uma avaliação psicológica de qualidade.
Pais que colocam os interesses e vaidade pessoal acima do sofrimento que uma disputa judicial pode acarretar aos filhos, na tentativa de atingir ou magoar o ex-companheiro, revelam-se com problemas para exercer a parentalidade de forma madura e responsável. 
Portanto, nesses casos, a mediação não é uma prática comum, dado o alto nível de conflitos existentes entre os ex-cônjuges, e que os fazem disputar seus filhos judicialmente.
2.2. Psicólogo jurídico e o direito da criança e do adolescente
Destaca-se o trabalho dos psicólogos junto aos processos de adoção e destituição de poder familiar e também o desenvolvimento e aplicação de medidas socioeducativas dos adolescentes autores de ato infracional.
a) Adoção 
Os psicólogos participam do processo de adoção por meio de uma assessoria constante para
as famílias adotivas, tanto antes quanto depois da colocação da criança. A equipe técnica dos Juizados da infância e da Juventude deve saber recrutar candidatos para as crianças que precisam de uma família e ajudar os postulantes a se tornarem pais capazes de satisfazer às necessidades de um filho adotivo. 
A primeira tarefa de uma equipe de adoção é garantir que os candidatos estejam dentro dos limites das disposições legais e a segunda é iniciar um programa de trabalho com os postulantes aceitos, elaborado especialmente para assessorar, informar e avaliar os interessados, e não apenas “selecionar” os mais aptos. 
Como a adoção é um vínculo irrevogável, o estudo psicossocial torna-se primordial para garantir o cumprimento da lei, prevenindo assim a negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução.
Além do trabalho desenvolvido junto aos Juizados da Infância e Juventude, existe também o dos psicólogos que trabalham nas Fundações de Proteção Especial. Essas instituições têm como objetivo oferecer um cuidado especial capaz de minorar os efeitos da institucionalização, proporcionando às crianças e aos adolescentes abrigados uma vivência que se aproxima à realidade familiar. 
Os vínculos estabelecidos com os monitores que cuidam delas são facilitadores do vínculo posterior na adoção, uma vez que se estabelece e se mantém nos mesmos a capacidade de vincular-se afetivamente.
As relações substitutas provisórias, representadas pelo acolhimento institucional que abriga os que aguardam uma possibilidade de inclusão em família substituta, são decisivas para o desenlace do processo de adoção.
b) Destituição do poder familiar 
O poder familiar é um direito concedido a ambos os pais, sem nenhuma distinção ou preferência, para que eles determinem a assistência, criação e educação dos filhos. Esse direito é assistido aos genitores, ainda que separados e a guarda conferida a apenas um dos dois. Porém, a legislação brasileira prevê casos em que esse direito pode ser suspenso, ou até mesmo destituído, de forma irrevogável.
A partir desta determinação judicial, os pais perdem todos os direitos sobre o filho, que poderá ficar sob a tutela de uma família até a maioridade civil.
O papel do psicólogo nesses casos é fundamental. É preciso considerar que a decisão de separar uma criança de sua família é muito séria, pois desencadeia uma série de acontecimentos que afetarão, em maior ou menor grau, toda a sua vida futura. Independentemente da causa da negligência, abandono, maus-tratos, abuso sexual, ineficiência ou morte dos pais, a transferência da responsabilidade para estranhos jamais deve ser feita sem muita reflexão.
c) Adolescentes autores de atos infracionais 
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê medidas socioeducativas que comportam aspectos de natureza coercitiva. São medidas punitivas no sentido de que responsabilizam socialmente os infratores, e possuem aspectos eminentemente educativos, no sentido da proteção integral, com oportunidade de acesso à formação e à informação. 
Os psicólogos que desenvolvem seu trabalho junto aos adolescentes infratores devem lhes propiciar a superação de sua condição de exclusão, bem como a formação de valores positivos de participação na vida social. 
Sua operacionalização deve, prioritariamente, envolver a famíliae a comunidade com atividades que respeitem o princípio da não discriminação e não estigmatização, evitando rótulos que marquem os adolescentes e os exponham a situações vexatórias, além de impedi-los de superar as dificuldades na inclusão social.
Na Fundação de Apoio Socioeducativo de Porto Alegre (RS), colocou-se em prática um projeto pioneiro que utiliza soluções mais eficazes para responsabilizar e corrigir comportamentos considerados transgressores: a Justiça Restaurativa. 
Essa medida tem por objetivo tratar e julgar melhor as questões que levaram os jovens a cometerem um ato infracional, e tem como foco a reparação dos danos causados às pessoas e relacionamentos, ao invés de punir os transgressores. 
Através de um mediador, as vítimas e os jovens procuram dialogar para que eles se conscientizem dos erros que cometeram. Esse tipo de projeto tem o intuito de evitar que o adolescente volte a cometer crimes e que os danos causados às vítimas sejam minimizados.
2.3. Psicólogo jurídico e o direito civil 
O psicólogo atua nos processos em que são requeridas indenizações em virtude de danos psíquicos e também nos casos de interdição judicial.
a) Dano psíquico: o dano psíquico pode ser definido como a sequela, na esfera emocional ou psicológica, de um fato particular traumatizante.
Pode-se dizer que o dano está presente quando são gerados efeitos traumáticos na organização psíquica e/ou no repertório comportamental da vítima.
Cabe ao psicólogo, de posse de seu referencial teórico e instrumental técnico, avaliar a real presença desse dano.
Entretanto, o psicólogo deve estar atento a possíveis manipulações dos sintomas, já que está em suas mãos a recomendação, ou não, de um ressarcimento financeiro.
b) Interdição: a interdição refere-se à incapacidade de exercício por si mesmo dos atos da vida civil. Uma das possibilidades de interdição previstas pelo código civil são os casos em que, por enfermidade ou deficiência mental, os sujeitos de direito não tenham o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. 
Nesses casos, compete ao psicólogo nomeado perito pelo juiz realizar avaliação que comprove ou não tal enfermidade mental. À justiça interessa saber se a doença mental de que o paciente é portador o torna incapaz de reger sua pessoa e seus bens.
As questões levantadas em um processo de interdição incluem a validade, nulidade ou anulabilidade de negócios jurídicos, testamentos e casamentos. 
Além dessas, ficam prejudicadas a contração de deveres e aquisição de direitos, a aptidão para o trabalho, a capacidade de testemunhar e a possibilidade de ele próprio assumir tutela ou curatela de incapaz e exercer o poder familiar.
2.4. Psicólogo jurídico e o direito penal 
O psicólogo pode ser solicitado a atuar como perito para averiguação de periculosidade, das condições de discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento. 
Portanto, destaca-se o papel dos psicólogos junto ao Sistema Penitenciário e aos Institutos Psiquiátricos Forenses.
A criação da Lei de Execução Penal (LEP), em 1984, foi um marco no trabalho dos psicólogos no sistema prisional, pois a partir dela o cargo de psicólogo passou a existir oficialmente. 
A Lei 10.792/2003 trouxe mudanças à LEP, uma vez que extinguiu o exame criminológico feito para instruir pedidos de benefícios e o parecer da Comissão Técnica de Classificação Brasil (2003). 
Para a concessão de benefícios legais, as únicas exigências previstas são o lapso de tempo já cumprido e a boa conduta. No entanto, há uma pressão por parte do Ministério Público e Poder Judiciário pela continuidade das avaliações técnicas.
No Estado de São Paulo, após as rebeliões ocorridas no sistema penitenciário, as avaliações técnicas estão voltando a ser uma exigência para a concessão dos benefícios legais.
As avaliações psicológicas individualizadas, previstas em lei, são inviáveis nos presídios brasileiros em razão das superpopulações existentes. 
Pelo mesmo motivo, proporcionar um “tratamento penal” aos apenados ou estabelecer outro tipo de relações institucionais com os demais funcionários, internos e/ou seus familiares são tarefas difíceis para os psicólogos que trabalham junto ao sistema carcerário.
Existe, ainda, o trabalho dos psicólogos junto aos doentes mentais que cometeram algum delito. Esses sujeitos recebem medida de segurança, decretada pelo juiz, e são encaminhados para Institutos Psiquiátricos Forenses (IPF). 
Além de abrigar esses doentes mentais, os IPF são responsáveis pela realização de perícias oficiais na área criminal e pelo atendimento psiquiátrico à rede penitenciária. 
2.5. Psicólogo jurídico e o direito do trabalho 
O psicólogo pode atuar como perito em processos trabalhistas. A perícia a ser realizada nesses casos serve como uma vistoria para avaliar o nexo entre as condições de trabalho e a repercussão na saúde mental do indivíduo.
Na maioria das vezes, são solicitadas verificações de possíveis danos psicológicos supostamente causados por acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, casos de afastamento e aposentadoria por sofrimento psicológico.
Cabe ao psicólogo a elaboração de um laudo, no qual irá traduzir, com suas habilidades e conhecimento, a natureza dos processos psicológicos sob investigação.
2.6. Outros campos de atuação
a) Vitimologia: objetiva a avaliação do comportamento e da personalidade da vítima. Cabe ao psicólogo atuante nessa área traçar o perfil e compreender as reações das vítimas perante a infração penal. A intenção é averiguar se a prática do crime foi estimulada pela atitude da vítima, o que pode denotar uma cumplicidade passiva ou ativa para com o criminoso. Para tanto, a análise é feita desde a ocorrência até as consequências do crime. 
Além disso, a vitimologia dedica-se também à aplicação de medidas preventivas e à prestação de assistência às vítimas, visando, assim, à reparação de danos causados pelo delito.
b) Psicologia do testemunho
Os psicólogos podem ser solicitados a avaliar a veracidade dos depoimentos de testemunhas e suspeitos, de forma a colaborar com os operadores da justiça. 
O chamado fenômeno das falsas memórias tem assumido um papel muito importante na área da Psicologia do Testemunho. 
Hoje, sabe--se que o ser humano é capaz de armazenar e recordar informações que não ocorreram. As falsas memórias podem resultar da repetição de informações consistentes e inconsistentes no depoimento de testemunhas sobre o mesmo evento.
É preciso desenvolver pesquisas na área que possam contribuir para a elucidação dos mecanismos responsáveis pelas falsas memórias e, assim, auxiliar o aprimoramento de técnicas para avaliação de testemunhos.
Uma área recente e relacionada à Psicologia do Testemunho que vem ganhando espaço é o Depoimento sem Dano, que objetiva proteger psicologicamente crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais e outras infrações penais que deixam graves sequelas no âmbito da estrutura da personalidade. 
Esse projeto foi criado no Segundo Juizado da Infância e Juventude de Porto Alegre, em razão das dificuldades enfrentadas pela justiça na tomada de depoimentos de crianças e adolescentes.
A fim de atingir tais objetivos, é importante que o técnico entrevistador -- assistente social ou psicólogo -- possua habilidade em ouvir, demonstre paciência, empatia, disposição para o acolhimento e capacidade de deixar o depoente à vontade durante a audiência. 
O técnico deve, ainda, conhecer acerca da dinâmica do abuso e, preferencialmente, possuir experiência em situações de perícia, o que facilita a compreensão e interação de todos os envolvidos no ato judicial. 
Desta forma, a inserção de uma equipe psicossocial no âmbito da justiça respeita e preserva o estado emocional da vítima, permitindo, assim, um processo menos oneroso e mais justo para o caso.
3. NOVOS PARADIGMAS PARA A PSICOLOGIA
3.1. Aspectos psicológicos de menores infratores
Constantemente, a discussão sobre o tema “redução da maioridade penal” vem à tona no Brasil, sobretudo, após a ampla divulgação pela mídia decrimes cometidos por menores, situação que causa revolta na sociedade. 
Geralmente, a solução imediata proposta por inúmeras pessoas, que ficam indignadas com o tratamento dispensado aos menores que cometem crimes bárbaros é a redução da maioridade penal, para que tais menores não sejam apenas colocados em centros de recuperação, mas que passem a ser imputáveis por tais atos violentos. 
A redução da maioridade penal foi foco de divergências nas discussões acerca do novo Código Penal brasileiro. Atualmente, a maioridade penal é alcançada aos 18 anos no Brasil. Antes dos 18 anos, não há o cometimento de crimes, mas sim de infrações. O art. 228, da Constituição Federal, explicita que: 
’Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeito às normas da legislação especial.
O art. 27, do Código Penal brasileiro, apresenta texto semelhante: 
“Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.” 
O art. 104, da Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) estabelece também que: 
“Art. 104. Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. 
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato.” 
As pessoas que concordam com a redução geralmente são movidas pela noção de justiça alcançada com a punição para aqueles que cometem crimes, independente de serem menores de 18 anos. 
Deve-se destacar também o papel desempenhado pela mídia brasileira, que dissemina de forma intensa informações sobre determinados crimes, que muitas vezes contam com a participação de menores, o que acaba causando uma grande comoção nacional e a busca de uma saída imediata para a situação, que muitas vezes é centralizada na redução da maioridade penal. 
Parte da população brasileira, vítima de ações menos gravosas, mas ainda assim criminosas, por parte de menores, optam por uma solução imediatista para a situação ao defender a redução da maioridade penal. 
De uma maneira reducionista, há uma visão disseminada entre a população de que não há distinções entre um jovem adolescente que comete uma infração e uma pessoa adulta que comente um crime: foca-se apenas nas práticas criminosas cometidas e nos dados estatístico sobre o assunto, sendo negligenciado o fato de que os envolvidos são menores de idade, até mesmo crianças, que estão passando por um processo de formação complexo, que influenciará toda a vida adulta. 
Outro ponto que merece destaque e é essencial para qualquer discussão acerca da aplicação da lei penal no Brasil sobre o assunto em tela é a avaliação do perfil dos infratores e criminosos na sociedade brasileira: o “perfil” dos criminosos brasileiros, em grande parte, é homem, negro e pobre. 
Como é de conhecimento público, o UNICEF expressou sua posição contrária à redução da idade penal, assim como a qualquer alteração desta natureza, em face dos compromissos assumidos pelo Estado Brasileiro com a ratificação da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente das Nações Unidas e outros documentos internacionais, e porque tal proposta contraria as principais tendências de administração da justiça da infância e adolescência no mundo.
Entre os motivos apresentados pelo UNICEF para a não redução da idade penal situam-se a incompatibilidade da redução com a doutrina da proteção integral presente no texto constitucional brasileiro, a incompatibilidade com o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, a inconstitucionalidade da medida, a violação de cláusula pétrea, a afronta aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, a posição contrária às discussões internacionais, o agravamento da violência com o tratamento de adolescentes como adultos e a consideração de que somente as políticas sociais podem reduzir o envolvimento dos adolescentes em práticas criminosas. 
Soares, por sua vez, relata em sua obra “A maioridade penal no Brasil e em outros países” que não há qualquer impedimento de ordem constitucional ou legal a que se modifique a regra da inimputabilidade do menor de dezoito anos, através de emenda à Constituição. A discussão situa-se, ao que nos parece, no mérito do problema. Trata-se de se saber se o menor de dezoito anos é capaz de entender o caráter criminoso da conduta praticada. 
Esta questão, todavia, situa-se no campo da Medicina e da Psicologia. Se restar demonstrado que o menor de 18 anos e maior de 16 é capaz de entender plenamente a ilicitude da sua conduta, do ponto de vista da constitucionalidade, não vislumbra-se qualquer barreira a que a regra da inimputabilidade seja modificada por emenda à Constituição. Percebe-se que diversas temáticas estão envolvidas no complexo debate sobre a redução da maioridade penal no Brasil. 
O assunto engloba discussões sobre a constitucionalidade da medida, a efetividade da redução e até mesmo aspectos psicológicos do menor delinquente. Assim, a redução da maioridade penal não deve ser tratada apenas como uma questão legal, mas todos os aspectos envolvidos devem ser analisados, considerando os efeitos positivos e negativos que podem se originar de tal medida. 
Uma lei mais rígida, que puna os menores de 18 anos pelos crimes cometidos, não deve ser considerada como uma medida “mágica” que possa resolver todos os problemas relacionados ao envolvimento de menores em práticas criminosas. Além disso, o Brasil ratificou a Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1989, que estabelece que menores de 18 anos são considerados como crianças ou adolescentes, e devem receber tratamento especial em casos criminais. 
3.2. Psicologia e Tribunal do Júri
Os julgamentos através do Tribunal do Júri têm fascinado durante décadas as pessoas, tanto o público em geral como os atores judiciais. 
Só poderíamos ter uma ideia do que realmente é um julgamento, caso fôssemos um dos membros do corpo de jurado. Recentemente, os estudos sobre jurados têm-se desenvolvido rapidamente, despertando o interesse dos psicólogos em descobrir quais seriam os processos psicológicos e os mecanismos envolvidos na tomada de decisão dos jurados. Através destes estudos, poderíamos aprimorar a qualidade de suas decisões, objetivando evitar distorções. 
Seriam os jurados capazes de julgar sem distorções? Esta pergunta complexa teria uma resposta também complexa, que muitos pesquisadores judiciais tentam dar. Iremos deter-nos nos estudos de decisões individuais de jurados, tendo em vista que o modelo brasileiro de jurados não permite a deliberação em grupo, ou seja, os jurados votam secretamente sem comunicarem entre si nenhuma informação pertinente ao julgamento.
A escolha dos membros do Júri é realizada aleatoriamente, sem seleção prévia (voir dire); eles apenas devem atender aos requisitos legais, não existindo um dispositivo legal que regule qualitativamente a formação de listas de possíveis jurados.
Desta forma, os jurados decidem isoladamente. Alguns autores têm argumentado que a diferença entre decisões de juízes e de jurados é devida ao fato de que os jurados decidem em grupo. Porém, as características individuais muito pouco dizem respeito às decisões que tomam, embora os processos de decisão em grupo atuem para que a decisão final não seja muito distorcida.
3.3. Os direitos da vítima
São direitos da vítima, assegurados no CPP – Código de Processo Penal:
  
· ser tratada com dignidade e respeito condizentes com a sua situação;
· receber imediato atendimento médico e atenção psicossocial;
· ser encaminhada para exame de corpo de delito quando tiver sofrido lesões corporais;
· reaver, no caso de crimes contra o patrimônio, os objetos e pertences pessoais que lhe foram subtraídos, ressalvados os casos em que a restituição não possa ser efetuada imediatamente em razão da necessidade de exame pericial;
· ser comunicada (por via postal ou endereço eletrônico cadastrado):
a) da prisão ou soltura do suposto autor do crime;b) da conclusão do inquérito policial e do oferecimento da denúncia;
c) do eventual arquivamento da investigação, para efeito do disposto no art. 38, § 1º;
d) da condenação ou absolvição do acusado.
· obter cópias de peças do inquérito policial e do processo penal, salvo quando, justificadamente, devam permanecer em estrito sigilo;
· ser orientada quanto ao exercício oportuno do direito de representação, de ação penal subsidiária da pública, de ação civil por danos materiais e morais, da adesão civil à ação penal e da composição dos danos civis para efeito de extinção da punibilidade, nos casos previstos em lei;
· prestar declarações em dia diverso do estipulado para a oitiva do suposto autor do crime ou aguardar em local separado até que o procedimento se inicie;
· ser ouvida antes de outras testemunhas, respeitada ordem prevista no art. 271;
· peticionar às autoridades públicas para se informar a respeito do andamento e deslinde da investigação ou do processo, bem como manifestar as suas opiniões;
· obter do autor do crime a reparação dos danos causados, assegurada a assistência de defensor público para essa finalidade;
· intervir no processo penal como assistente do Ministério Público ou como parte civil para o pleito indenizatório;
· receber especial proteção do Estado quando, em razão de sua colaboração com a investigação ou processo penal, sofrer coação ou ameaça à sua integridade física, psicológica ou patrimonial, estendendo-se as medidas de proteção ao cônjuge ou companheiro, filhos, familiares e afins, se necessário for;
· receber assistência financeira do poder público, nas hipóteses e condições específicas fixadas em lei;
· ser encaminhada a casas de abrigo ou programas de proteção da mulher em situação de violência doméstica e familiar, quando for o caso;
· obter, por meio de procedimentos simplificados, o valor do prêmio do seguro obrigatório por danos pessoais causados por veículos automotores.
· os órgãos de segurança pública, do Ministério Público, das autoridades judiciárias, dos órgãos governamentais competentes e dos serviços sociais e de saúde deverão respeitar esses direitos;
· as autoridades terão sempre o cuidado de preservar o endereço e outros dados pessoais da vítima;
· há outro artigo que estende esses direitos aos familiares próximos e ao representante legal, quando a vítima não puder exercê-los diretamente, como, por exemplo, crianças e adolescentes.
3.4. A psicologia e a prisão
As prisões brasileiras são constituídas a partir de diversos princípios, sobretudo legais e funcionais, que legitimam as formas/forças de suas configurações atuais. Segundo Bitencourt (2001), dentro dessa esfera exclusivamente jurídico-formal, as funções da pena podem ser definidas como: 
a) retributivas e punitivas:
Funcionam como uma prevenção geral do delito através do princípio da exemplaridade. Essa função visaria a sustentar uma representação no imaginário social de fazer o “desviante” pagar a dívida para com a sociedade, servindo-se da visibilidade do castigo e do sofrimento prisional como exemplos/modelos para que os demais membros dessa sociedade “violada” reprimam/inibam/controlem qualquer desejo de burlar as leis do código. 
A partir da visibilidade do castigo, supostamente, se evitaria a prática de novos comportamentos desviantes da norma; 
b) ressocializadoras e “terapêuticas”:
Funcionam como uma prevenção especial do delito, instituída tanto na aplicação quanto na execução da pena. Essa função “político-educativa” estaria associada à ideologia da recuperação do apenado e à lógica do tratamento ressocializador e visaria a um determinado “modus” de recuperação pedagógica, curativa e/ou reabilitadora do dito criminoso ou “doente moral e criminal”. 
Tal pretensão de modificação sempre se materializou por meio de métodos disciplinares, pastorais e confessionais, visando a “internalização” ou a aprendizagem de sentimentos socialmente aceitáveis, tais como arrependimento, culpa, alegria, empatia, respeito ao próximo, dentre outros, perante uma instância estatal-jurídica, religiosa ou mesmo científica.
Porém, em praticamente todas as análises produzidas em torno da questão “para que servem as prisões?” fica claro, desde sempre, que a resposta nos leva para uma constatação empírica de que elas servem para aquilo que talvez esteja mais subliminarmente implicado em cada uma dessas funções instituídas, que é segregar certos indivíduos considerados como parte indesejável da sociedade.
3.5. A prevenção dos maus tratos infantis
 
Embora este fenômeno ainda esteja muito presente na atualidade, o mau trato é, sem dúvida, uma realidade antiga, onde se pode conhecer a sua história e a sua evolução através de estudos e investigações realizadas. 
O conceito de infância, até ao Século XVII, era estranho nas comunidades. 
Na Antiguidade, o infanticídio era uma prática freqüente, que permanecia nas culturas orientais e ocidentais até ao Século IV d.C. A sua prática baseava-se não só na necessidade de eliminar filhos ilegítimos, filhos com deficiência ou prematuros, como também para dar resposta a crenças religiosas e de controlar a natalidade. Na sociedade romana, aos pais era atribuído um direito absoluto sobre a vida dos filhos, podendo estes julgá-los e/ou submetê-los a sacrifícios ou até mesmo abandoná-los. 
Deste modo, adotavam-se estilos educativos inadequados, onde eram frequentes os castigos humilhantes, abandono físico e infanticídio. Quando os pais não abandonavam os seus filhos e não os eliminavam, também não lhes proporcionavam condições que lhes permitissem ter um desenvolvimento adaptado à sua idade, onde a escassez de afetos e vínculos era notória. 
Ao longo de vários séculos, não foram atribuídos às crianças quaisquer direitos legais que as protegessem, pelo que maltratá-las não dava lugar a qualquer ação legal, pois não constituía crime. Ao voltar um pouco tempo atrás, verificamos que a utilização de castigos físicos nas escolas era prática frequente, sendo estas encaradas pela sociedade da época como algo normal e correto. 
Foi então no Século XVIII que a infância começou a ser considerada como um período de vida onde se necessitava de mais atenção e cuidados prestados pela família. 
Na segunda metade do Século XVIII que Rousseau assumiu a criança como sendo um ser com valor próprio, com direitos e digna de respeito. Assim, aos poucos as mentalidades dos indivíduos começaram a mudar, passando a olhar a criança com mais respeito, merecedora de cuidados e necessidades próprias às suas idades. 
Em 1874, nos Estados Unidos da América, foi descrita a primeira história de maus-tratos infantis. Tratou-se de uma criança chamada Mary Ellen, que aos nove anos de idade foi encontrada na sua casa amarrada, com marcas visíveis no corpo de ter sido gravemente agredida. À época não existia qualquer tipo de leis que salvaguardassem os direitos das crianças e, por isso, não deu lugar a qualquer ação legal. Foi através da Sociedade de Prevenção de Crueldade Contra os Animais, que o caso foi apresentado em tribunal, sendo fundamentado que os animais se encontram legalmente protegidos e Mary, como humana, pertencente ao reino animal, deveria ser legalmente protegida. Assim, se ditou uma sentença condenatória a progenitores por maus-tratos infantis e que, mais tarde deu origem a uma fundação de Prevenção da Crueldade Contra Crianças (American Humane, 2009). 
A I Guerra Mundial teve uma grande influência nesta problemática. Gebbs, em 1920, fundou em Genebra a “União Internacional de Socorros às Crianças”, sendo constituída uma carta mais tarde conhecida como “Carta dos Direitos das Crianças ou Declaração de Genebra”. 
A II Guerra Mundial também atraiu uma nova força para uma evolução desta problemática, tendo sido fundada em 1947, a UNICEF. Foi então aprovada a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, no dia 10 de dezembro e, mais tarde, em novembro de 1959, foi aprovada pela Assembleia Geral, a Declaração dos Direitos da Criança. 
A publicação do artigo “The battered-child syndrome”foi extremamente importante para a evolução histórica do mau trato infantil, uma vez que foi a partir desta publicação que se começou a manifestar interesse científico por esta área. 
Em 1990, foi então homologada em Portugal, a “Convenção dos Direitos das Crianças”. Este documento tornou-se num documento obrigatório, uma vez que é através dele que os direitos das crianças são assegurados (Convenção sobre os Direitos das Crianças de 1990). 
No ano de 1991, surgem em Portugal, as Comissões de Proteção de Menores, com sede nas autarquias locais, fazendo parte destas, representantes dos tribunais, técnicos de serviço social, médicos e elementos da autarquia e também da comunidade. 
Existe, assim, uma tradição histórica de maus-tratos a crianças e jovens e de tolerância sociocultural em relação aos abusos na infância. Esta tolerância foi, em parte, causada pelo seu reconhecimento tardio enquanto problema social sério que vitimizou e continua a vitimizar incontáveis crianças e jovens. 
3.5.1. Conceito de maus tratos
O conceito de maus-tratos tem sofrido alterações que se prendem, entre outros, com aspetos de ordem cultural. Assim, este conceito difere de grupo para grupo e, majoritariamente, de cultura para cultura. 
Sendo esta uma definição difícil de obter, uma vez que este conceito necessita de ser interpretado de acordo com uma multiplicidade de categorias, não deixa de ser um desafio importante. Obter uma definição de maus-tratos infantis permite não só compreender a base de todo o problema, como também o seu tratamento e prevenção.
De acordo com a maioria dos autores, as primeiras definições de crianças maltratadas faziam apenas referência a atos ofensivos que, de acordo com a sua gravidade, seriam capazes de pôr em risco a integridade física da criança. De forma gradual, o conceito foi-se desenvolvendo, entrando agora na categoria dos maus-tratos todo o leque de agressões psicológicas e emocionais, não se destacando, assim, só as agressões. 
Deste modo, definem-se os maus-tratos infantis como sendo As lesões físicas ou psicológicas não acidentais ocasionadas pelos responsáveis do desenvolvimento, que são consequências das ações físicas, emocionais ou sexuais, de ação ou omissão e que ameaçam o desenvolvimento físico, psicológico e emocional considerado como normal para a criança.
Segundo a OMS, as crianças e jovens, em contexto familiar, são vítimas de abuso físico e sexual, de práticas culturais nefastas, de violência psicológica e ainda negligência. A OMS considera ainda como formas de abuso infantil:
a) o castigo corporal; 
b) as falhas na proteção da criança/jovem relativamente a situações de violência previsíveis ocasionadas por amigos, vizinhos ou visitas da casa de família; 
c) os atos estigmatizantes ou de discriminação; 
d) a falha na utilização de serviços médicos que auxiliam no bem-estar e desenvolvimento da criança ou jovem; 
e) as ameaças insistentes, as injúrias ou outras formas de abuso verbal, o afastamento e a rejeição. 
4. AS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS E A JUSTIÇA
4.1. Psicologia e o direito de família
O advogado familiarista depara-se constantemente com problemas que transcendem os elementos meramente jurídicos. Muitas vezes o conflito não é somente dessa natureza, embora aparente sê-lo. É necessário perceber o texto e contexto do conflito, a linha e a entrelinha do litígio. Se atentarmos para a mensagem inconsciente, que nos chega pelo discurso das demandas que geram conflitos, poderemos desenvolver melhor nossa atuação, como advogado.
A Psicanálise remeteu a elementos e a instrumentos que ampliaram e fizeram-me entender melhor o objeto do trabalho doo advogado: o discurso do meu cliente. Freudianamente, é escutar o que está por detrás do discurso, ou como Lacan, o que está entre o dito e o por dizer.
Antes de pensar na aplicabilidade do pensamento e da técnica psicanalítica na vida de um advogado familiarista é preciso retomar o conceito de família.
Vários juristas, de diferentes épocas e lugares, apresentaram definições sobre família. Com o passar do tempo, sempre se desatualizavam. No Brasil, até mesmo o atemporal Clóvis Beviláqua traduziu-nos uma ideia de família que hoje podemos afirmar não estar mais de acordo com a realidade: "É o conjunto de pessoas ligadas pelo vínculo de consanguinidade, cuja eficácia se entende, ora mais larga, ora mais restritamente, segundo as várias legislações. Outras vezes porém, designa-se, por família, somente os cônjuges e a respectiva progênie".
Para o Direito, o conceito de família esteve sempre ligado a dois elementos fundamentais: consanguinidade e casamento formal e solene. Mas, a realidade tem-nos dado outra noção de família. Primeiro porque o elemento da consanguinidade não é fundamental para a sua constituição, pois se o fosse não seria possível no Direito o instituto da Adoção. Segundo, porque o casamento não é mais a única forma de constituição da família, conforme diz o art. 226 da Constituição Federal: pela união estável, pelos pais e seus descendentes.
Mas a questão da família vai além de sua positivação nos ordenamentos jurídicos. Tanto é que ela sempre existiu e continuará existindo, desta ou daquela forma, em qualquer tempo ou espaço. O que muda é apenas as formas de sua constituição. Talvez, a partir do momento em que os juristas e julgadores entenderem a família sob um conceito mais amplo, a legislação que a regulamenta não sofra tantas modificações, como vem  ocorrendo nos últimos tempos. 
As ordenações sobre Direito de Família nunca mudaram tanto em tão pouco tempo. É preciso entendê-las acima da história, já que é uma instituição que atravessa o tempo e o espaço: é a célula básica da sociedade e está aí desde os primórdios.
Se buscarmos em outras disciplinas o conceito de família, veremos que ela se apresenta também de variadas formas: patriarcal ou matriarcal, poligâmica ou monogâmica, como um grupo natural de indivíduos unidos por uma dupla relação biológica, que por um lado a geração dá os componentes do grupo, e por outro as condições do meio e desenvolvimento dos mais novos,  mantendo este  grupo, enquanto os adultos garantem a sua reprodução e  manutenção.
Mas, será mesmo a família uma organização natural? O que verdadeiramente mantém e assegura a existência da família? Será a lei jurídica associada ao afeto e aos laços de consanguinidade?
Para o psicanalista francês Jacques Lacan, a família não é natural, é cultural. Por isso é que ela se apresenta das mais variadas formas, de acordo com as diferentes culturas. Para ele, a família não se constitui apenas de um homem, uma mulher e filhos, ainda que casados solenemente. Ela é, antes de tudo, uma estruturação psíquica, onde cada um de seus membros ocupa um lugar definido. Lugar do pai, da mãe, dos filhos, sem, entretanto, estarem necessariamente ligados biologicamente ou por qualquer ato formal.
Tomando a ideia de Lacan e de Villela, e atrevendo-me a divergir dos conceitos mais estáveis em Direito, posso dizer que a família não é natural. É cultural. Ela não se constitui de um macho, de uma fêmea e de filhos. Ela é uma estruturação psíquica, onde cada membro tem um lugar definido. Para se ocupar o lugar do pai, da mãe ou do filho, não é necessário laço biológico. Da mesma forma, a mãe ou o pai biológico podem não ocupar este lugar no momento em que entregam o filho para ser adotado, por exemplo.
Pode ser também que, não obstante os laços formais e de consanguinidade, o pai ou a mãe não ocupem, por alguma dificuldade interna, o lugar de pai ou de mãe, tão necessário (essencial) à nossa estruturação psíquica e à nossa formação como seres humanos e sujeitos. Apenas para ilustrar, um canil, com macho, fêmea e filhotes, jamais constituirá uma família, embora naturalmente unidos, pois falta-lhes justamente a passagem da natureza para a cultura. Os cães podem até ter uma "certa inteligência" (escolher o caminho mais curto para se chegar ao alimento, por exemplo), mas são incapazes de reconhecer o erro. Para isso seria necessário o "simbólico". Esse passo para o simbólico,só o homem deu, e é justamente isto que nos diferencia dos outros animais e que nos permite constituir uma família, ou melhor, compor uma estruturação familiar.[4]
É esta estrutura familiar, que existe antes e acima do Direito, que nos interessa investigar. E é mesmo sobre ela que o Direito vem, através dos tempos, tentando legislar com o intuito de ajudar a mantê-la para que o indivíduo possa existir como cidadão, pois sem essa estrutura, onde há lugar definido para cada membro, o indivíduo seria psicótico. 
É aí que se estrutura o sujeito e estabelecem-se as primeiras leis psíquicas. Quando estas se ausentam, faz-se necessária a lei jurídica para sobrevivência do próprio indivíduo e da sociedade. Em outras palavras, quando a estrutura familiar não é capaz de se sustentar na originalidade em que foi constituída, a lei jurídica pode vir em seu socorro.
5. A INTERFACE ENTRE A PSICOLOGIA DE FAMÍLIA E O DIREITO DE FAMÍLIA
O Direito de Família, com o advento da Constituição Federal de 1988, adquiriu pela sua própria constitucionalização e ante a sua maior abrangência, abrigando novas entidades familiares, maiores atenções e exigências de uma abordagem multidisciplinar.
Os novos direitos de família estão a exigir, em benefício de suas próprias noções fundamentais e do efetivo exercício que eles reclamam, a atuação interprofissional daqueles que direta ou indiretamente participam das questões familiares, de forma preponderante no âmbito judicial.
Posta assim, a imperatividade de uma abordagem multidisciplinar no moderno Direito de Família, reconhecida a sua complexidade no trato de temas conflituosos e a interdisciplinaridade dos ramos de ciência para o estudo e solução dos casos, postos ao julgamento judicial, emerge em primeiro lugar, por convocação urgente e pioneira, a figura do psicólogo clínico-jurídico ou psicólogo jurídico.
Não há negar a extrema importância do auxílio e da intervenção desse profissional, a consolidar mais das vezes, o caráter de obrigatoriedade, no Juízo de Família, a tanto que essa atuação tem sido institucionalizada na estrutura judiciária mediante a instalação de serviços psicossociais forenses, como serventias de quadros próprios, aparelhadas para as suas atribuições específicas.
Fundamenta-se essa intervenção na realidade psicossocial dos processos judiciais de família.
A prática tem revelado o quanto significativo se apresenta o desfecho judicial sob a moldura da intervenção do psicólogo jurídico, que enriquece o processo com a avaliação técnica do caso.
Esse contributo está a merecer, inclusive, a consolidação de uma base de dados, banco de estudos de casos, onde depositados fiquem os laudos periciais e as avaliações clínicas dos personagens em conflito ou das crianças, terceiros diretamente interessados.
O âmbito de intervenção da psicologia jurídica em face do direito de família, tem sido reconhecido, proclamado e expandido, eis que predominante o caráter multidisciplinar das demandas perante o juízo de família, não mais restringida a atuação do psicólogo apenas às situações de disputa de posse, guarda e visitação de filhos.
O entrelace de questões jurídicas e psicológicas, solicita a intervenção especializada, a fornecer instrumentos de avaliação de pesquisa do caso, para a melhor solução do litígio, em todos os processos judiciais atinentes às relações de família.
A importância de uma equipe técnica profissional e interprofissional nas Varas de Família, diante da sua revelada magnitude, reclama, destarte, tratamento próprio e adequado em termos da estrutura de serviços judiciários, não devendo, ademais, descuidar a lei a respeito, que deve cogitar da necessária intervenção dos profissionais da área psicossocial em tais processos.
É certo, como antes afirmado, que a intervenção do psicólogo jurídico não mais se limita ao subsídio de informações que timbram aparelhar as definições finais de guarda de filhos. Amplo espaço de atuação apresenta-se, a demonstrar as intervenções imperativas, em todas as demandas relacionadas ao Direito de Família.
É significativo, apontar, portanto, no propósito desse trabalho, dentre muitas questões, as seguintes :
a) A busca e apreensão de filhos tem a sua aplicação como procedimento inerente aos incidentes dos institutos da guarda judicial ou da visitação, e resulta como medida de tutela de urgência diante das circunstâncias do caso concreto, sem que necessariamente diga respeito às hipóteses em que a criança buscada esteja em situação de risco ( físico ou psicológico ).
O cumprimento da medida tem se verificado, comumente, quando o filho menor se acha em disputa de posse ou de guarda pelos pais em conflito conjugal ou convivencial, não se levando em conta, todavia, as repercussões negativas que o procedimento venha a produzir, originado que se apresente por razões ditadas e unicamente vinculadas aos interesses mútuos de retaliação entre os pais em desavença.
Empregada "sem maiores considerações pelas consequências de sua aplicação sobre o psiquismo infantil", lembra, a propósito, Maria Antonieta Pisano Motta, que a busca e apreensão do filho, sem justificativa razoável, submete a criança a um risco psicológico sério por se constituir, muitas vezes, em medida violenta, sempre agressiva em sua execução, porquanto gerada em situação de violência e desentendimentos dos pais.
Adverte a psicóloga e psicanalista, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Interdisciplinares de Direito de Família, "dependendo do que a motiva e da maneira como é conduzida a medida", poder constituir-se a busca num abuso contra a criança, "quer seja com o significado de mau uso, utilização excessiva ou transgressão que violenta e traumatiza". 
Acolhe Maria Antonieta, nessa linha, o exemplo da medida de busca e apreensão, fundada na finalidade de obtenção da guarda, "estratégia destinada a atender às necessidades de genitor que não tem segurança quanto aos resultados de uma ação ordinária de modificação de guarda e que se utiliza desse meio para forçar o resultado desejado".
Evidencia-se nesse tipo de disputa de posse e guarda o manifesto risco de dano psicológico à criança, a demonstrar uma severa necessidade, em casos judiciais que tais, da intervenção do psicólogo jurídico, tudo a confirmar a conveniência da medida, diante da própria natureza instrumental ou provisória de que pode se revestir, impedindo, com efeito, a abusividade ou a agressividade de sua aplicação.
b) Novas concepções para a abrangência das indenizações por dano moral, causado por uma conduta lesiva de um cônjuge ( ou convivente ) ao outro, levantadas pela doutrina e pela jurisprudência, reclamam a intervenção do psicólogo, na compreensão e detecção do problema.
A abrangência e extensão do dano moral puro, consagrado em pergaminho constitucional (art. 5º, incisos V e X), embora ainda limitadas em sede do direito de família, podem ser alcançadas na consideração do ato lesivo diretamente associado às consequências do sofrimento psicológico dele resultante, instigando o psicólogo jurídico a definir, pelas particularidades da causa, o elmo protetor do instituto.
"O dano moral pressupõe dor física ou moral, e se configura sempre que alguém aflige outrem injustamente, sem com isso causar prejuízo patrimonial..." (RT 683/79)
Exemplos fundamentais dizem respeito ao dano moral provocado por injúrias, sevícias e agressões físicas praticadas pelo cônjuge ou convivente contra o outro, caracterizadoras da insuportabilidade da vida em comum, ou ainda pela infidelidade, quando a quebra desse dever pode gerar o dever de indenizar, observadas as circunstâncias do caso. Nessa última hipótese, tenha-se presente, o entendimento de o dever de "fidelidade recíproca" para os cônjuges guardar similitude ao dever "respeito e consideração mútuos" exigido aos conviventes.
A possibilidade de indenização entre os cônjuges por dano moral, em face de ofensas capazes de afetação aos direitos de personalidade do outro, ou mais precisamente por dano à honra, decorre da teoria da responsabilidadecivil em direito de família defendida em nosso país, com maestria, pela jurista Regina Beatriz Tavares da Silva. Sua inovadora obra "Reparação Civil na Separação e no Divórcio" (Saraiva, 1999 ) demonstra a aplicabilidade dos preceitos da responsabilidade civil no casamento (ou na própria união estável ) e em sua dissolução, "diante do princípio de que, havendo ação lesiva, praticada por um dos cônjuges (ou conviventes) contra o outro, com a ocorrência de danos morais ou materiais, surge o direito do ofendido à reparação, tal como ocorre nas demais relações familiares.
No mesmo sentir, admitindo a ideia da responsabilidade conjugal (ou convivencial), comunguei pela desenvoltura de tal doutrina, acentuando, aliás, em divergência dos que tratam a responsabilidade civil como um dano meramente privado enquanto a responsabilidade penal como um dano social, a repercussão social provocada pelos danos cometidos no âmbito das entidades familiares, pois, na verdade, os entrechoques de paixões, as vicissitudes dos casais que chegam ao extremo da violência, representam um incentivo à ideia de impunidade às transgressões conjugais, mormente quando diante da hipossuficiência da mulher frente ao marido ou companheiro não são respondidas, seja pela reparação civil, seja pela penal e, nessa consequência, configurados resultam os danos sociais a saber rompida a pacificação social a partir da família ("Responsabilidade Civil no Direito de Família", in "Responsabilidade Civil – Temas Atuais", - Anais do I Encontro Nacional de Responsabilidade Civil ( Recife, PE ) - Escola de Advocacia do Recife, Ed. Bagaço, 2000, pg. 23/38).
 Assim, quando o casal tem o tecido afetivo rompido por razões inúmeras, subjetivas, a verdade do litígio judicial não tem, a rigor, uma precisão absoluta. Existem versões que se tornam aversões, porque o fato determinante dessa ruptura está em função das versões que se apresentam, e muitas vezes não se poderá saber se aquela causa que é apresentada como a que provocou a separação será, a rigor, a sua própria consequência. E nessa sensação de perda, os próprios cônjuges (ou conviventes) não sabem responder as causas que os levaram a esse rompimento da sociedade conjugal (ou da união estável). Talvez, os filhos saibam responder melhor, mas não o farão, porque as grandes dores são mudas, e o juiz se coloca numa situação difícil de saber superar essa perplexidade, para definir se aquela ruptura do casamento (ou da união estável) decorreu de situações pelas quais os próprios cônjuges (ou conviventes) não contribuíram de forma deliberada.
É esse cenário de perdas e culpas, de danos e responsabilidades indigitadas, o território de investigação do psicólogo jurídico, quando se busca restabelecer o reequilíbrio moral e emocional dos contendores, ou mais objetivamente precisar o direito do ofendido para uma restituição integral do dano perpetrado, segundo o princípio da reparação plena (restitutio in integrum), com o estabelecimento dos reflexos danos cometidos pelo ato ilícito na relação conjugal ou de união estável.
Diversas questões podem ser tratadas na avaliação do conflito, defrontada a realidade da ruptura da união com as suas consequências, vingando o exemplo das perdas, como a de frustração de êxito profissional, quando a mulher abandona o trabalho e a carreira em favor da sociedade conjugal ou da convivência duradoura, no pressuposto dessa durabilidade marcada por garantias determinantes de definitividade da afeição marital, gerando, inclusive, danos psicológicos.
De outra banda, tem-se a figura do cônjuge manipulador, sempre expedito a promover assédio moral, ao extremo de provocar completa submissão do outro cônjuge, anulando ou bloqueando reações afirmativas de individualidade, e comprometendo, destarte, a própria qualidade de sobrevivência do outro, no "período pós-separação". As sequelas dessa dependência, a influência negativa de tal comportamento na realidade vivencial do outro, são passíveis de configuração de ato ilícito, exortando o necessário emprego da psicologia jurídica em abordagem do problema para o desate da lide indenizatória em casos da espécie.
Também é certo, ainda em direito de família, a responsabilização civil entre pais e filhos, quando aspectos singulares norteiam a relevância do tema nas relações familiares. 
O abandono material dos pais em face dos filhos, a partir da clássica falta de provimento alimentar, ausente justo impedimento, ou a atitude do pai que se recusa ao reconhecimento voluntário do filho, quer por deliberada omissão, quer por resistência ao processo investigatório da paternidade, constituem, induvidosamente, situações que desafiam uma aferição de dano moral, provocando o contributo do psicólogo jurídico.
Rolf Madaleno, abordando o tema, bem situa a questão:
 "A indenização civil admitida como passível de reparação pelo gravame moral impingido ao investigante haverá de decorrer daquela atitude claramente postergatória do reconhecimento parental, onde o investigado se vale de todos os subterfúgios processuais para dissimular a verdade biológica, fugando-se com esparramadas desculpas ao exame pericial genético, ou mesmo, esquivando-se da perícia, com notórios sintomas de indisfarçável rejeição ao vínculo de parentesco com o filho, do qual tem sobradas razões para haver como seu descendente’( "Direito de Família – Aspectos Polêmicos", Livraria do Advogado Editora, 1998, pg. 145 ).
E, acrescenta:
"Como ascendente sujeito ao reparo moral, situa-se também aquele que, mesmo depois de apresentado laudo judicial e científico, de incontestável paternidade, ainda assim, prossegue negando guarida ao espírito humano de seu filho investigante, que busca, agudamente, o direito da declaração de sua paternidade, mas que segue seu genitor a privá-lo da identidade familiar, tão essencial e, condição de seu crescimento e desenvolvimento psíquico, estes, isentos de sobressaltos e fissuras na hígida personalidade psicológica."
É justamente o comprometimento da personalidade do ofendido incapaz, visualizado pelo ato ilícito da falta de reconhecimento da paternidade, quando afastada qualquer dúvida, ou quando do próprio desinteresse manifesto de afasta-la, que gera o dano moral, ao ter negado o filho o direito à sua verdade biológica, que serve de interesse maior à formação da personalidade. 
Haverá de ser visto pelo psicológico jurídico "o ânimo e a potencialidade de agressão do ofensor", e a extensão do dano sofrido, inclusive para efeito de sua quantificação econômica, independentemente dos níveis de percepção da ofensa pelo incapaz, certo que o interesse dominante é o do resguardo da integridade moral da criança, tutelado por lei e pela dignidade humana.
Desse modo, as indicadas situações danosas para a incidência indenizatória em direito de família, estão a exigir, cada vez mais, o trabalho da psicologia jurídica, principalmente para estabelecer a identificação da causa determinante ensejadora da reparação civil, definindo a etiologia do evento, com a fixação da relação de causalidade.
c).Outra prática de intervenção tem, por certo, reconhecer um novo modelo de responsabilidade parental que se apresenta no instituto da guarda compartilhada.
Ele é defendido por atualizados estudiosos do Direito de Família, atentos à valorização do efetivo convívio da criança com ambos os pais, assim verificado pelo exercício comum da autoridade do poder familiar, praticada esta de forma costumeira e não apenas episódica.
O precursor do instituto, Sérgio Gischkow Pereira, ao defender a guarda compartilhada em estudo publicado em 1986( "Revista Ajuris nº 36" ), não deixou de enfatizar o novo modelo sob o enfoque psicológico e nesse passo tem sido entendido que a mera regulamentação de visita obsta o fortalecimento das relações afetivas que devem existir entre pais e filhos ( Revista Forense 228/95), uma vez que a sua restringência, em verdade, contribui para o desfazimento gradual das referidas relações, preponderando daí a conveniência do compartilhamento da guarda.
Nessaperspectiva, é fácil constatar a importância do psicólogo jurídico, com intervenção capaz de realçar e privilegiar a oportunidade do instituto, pontificando que a convivência conjunta ( e não alternada ) com os pais faz-se oportuna sobre o integral desenvolvimento da criança.
Estou certo que o alinhamento desse instituto no moderno Direito de família, sob a primazia do interesse do filho, dependerá, em muito, da contribuição a ser fornecida pela Psicologia Jurídica em observação das deficiências ou limitações que a guarda uniparental apresenta ao proveito de melhor formação de vida da criança.
d). De igual importância tem lugar a intervenção profissional em apoio psicológico aos filhos de casais em processo de separação da sociedade conjugal ou da união estável.
No desenrolar dessas demandas, os filhos são, induvidosamente, os mais vulneráveis e os que melhor precisam ser amparados, durante a litigiosidade judicial dos pais.
Certo que são, em verdade, paradigmas essenciais das decisões judiciárias em matéria familiar, os seus interesses devem ser protegidos dentro do processo e fora dele.
Segue-se, daí, a relevância do atendimento psicológico, como medida metajurídica do processo, na medida em que o litígio pendente produz, por certo, sérias lesões aos interesses dos filhos, espectadores desprotegidos das quizilas maternais/paternais.
É ponderável registrar que a noção fundamental de "interesse da criança", constante do art. 3º da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (26.01.1990), é havida como consideração primordial em todas as decisões que lhe concerne, inclusive pelos tribunais, o que leva à inarredável conclusão da imperativa avaliação psicológica dos impactos que o processo litigioso de separação dos pais tem em face dos filhos, a tanto que defende-se, ademais, a necessária ouvida destes últimos em tais processos que, reconhecidamente, lhe interessam.
 e) A averiguação oficiosa de paternidade prevista na Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992, sob procedimento plenamente cabível e oportuno nos Juizados Informais de Família, cujo modelo pioneiro teve criação e funcionamento no Poder Judiciário do Estado de Pernambuco (Resolução nº 150/2001, do TJPE), deve contar, para o êxito do reconhecimento espontâneo de filho, com a intervenção do psicólogo jurídico.
Não é demais admitir que a atuação do psicólogo servirá para enaltecer a importância da manifestação espontânea do suposto pai, quando este, sem qualquer dúvida, vem a colocar-se consciente do papel afetivo que lhe cabe, e da significação de sua qualidade de pai, para efeito do relacionamento com o filho reconhecido.
Não é, em casos que tais, como sucede, igualmente, nos processos de investigação judicial da paternidade, suficiente o reconhecimento espontâneo com a somente consequência dos efeitos da admissão da paternidade, qual seja a do lançamento do nome do genitor em registro de nascimento, assegurada a paternidade em indicação, averiguada ou investigada. É ditame lógico, próprio à dignidade da hipótese, que o reconhecimento do filho envolva o compromisso de assunção plena da paternidade, com a prática dos deveres materiais e afetivos inerentes à própria relação parental existente e admitida como tal.
Nesse desiderato, a intervenção do psicólogo tem sua oportunidade marcante, no efeito de não apenas viabilizar, com maior facilitação, o reconhecimento espontâneo do filho, no procedimento da averiguação oficiosa da paternidade, ou mesmo em sede de ação judicial investigatória, mas de assegurar todas as condições do exercício de uma paternidade responsável, após o ato de reconhecimento, voluntário ou declarado judicialmente.
Alinhadas essas intervenções, forçoso é reconhecer que uma moderna visão jurídico-social do Direito de Família, ante as suas multifaçetadas questões, exige o prestigiamento do setor técnico, através de uma necessária atuação multidisciplinar, onde pontifica o psicólogo jurídico com a elaboração de perícias psicológicas.
E mais do que isso, aponta-se para uma desenvoltura profissional transcendente ao próprio momento do litígio, certo que o concurso do psicólogo jurídico em área de mediação e de prevenção litigiosa revela-se, por identidade de razões, mais urgente e oportuno.
Os profissionais da área psicossocial em Direito de Família estão oportunizando uma visão jurídica mais avançada e reconstrutiva do próprio Direito familiar, na medida em que desvendam a alma humana, objeto maior do desate jurisdicional.
Em juízo de família, não resolvem-se apenas os litígios; resolvem-se pessoas.
Fonte: http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2740
5.1. Psicologia do trabalho: Questões interdisciplinares
A psicologia do trabalho é uma subdisciplina da psicologia que se dedica ao estudo, concepção, avaliação e reestruturação das atividades de trabalho. Próxima à psicologia do trabalho se encontra a psicologia organizacional ou das organizações, que se dedica sobretudo ao estudo dos aspectos organizacionais de firmas e empresas. 
Devido à grande proximidade entre as duas áreas, elas são muitas vezes tratadas conjuntamente sob a designação psicologia do trabalho e das organizações. Outra disciplina próxima é a ergonomia, que se dedica também à estruturação do trabalho humano, mas de maneira mais acentuada ao sistema homem-máquina. Entre as tarefas da psicologia do trabalho estão : 
a) Seleção e recrutamento profissional; 
b) Treinamento e avaliação de desempenho profissional e o aconselhamento e orientação profissional. 
Essa ultima encontra-se formulada desde as primeiras concepções dessa aplicação da psicologia. Trata-se da aplicação dos conhecimentos psicológicos ao estudo do trabalho diferenciado em profissões. 
Uma história da psicologia aplicada ao trabalho, psicologia industrial ou organizacional deve recuperar ou distinguir as duas principais aplicações desta disciplina científica ao trabalho: 
a) a Ergonomia ou estudo científico da relação entre o homem a máquina, o ambiente e a organização do trabalho e 
b) a Profissiografia do início do século, elemento fundamental dos estudos organizacionais dos políticas empresariais dos "planos de cargos e salários" e da CBO, a Classificação Brasileira de Ocupações de uso nos órgãos governamentais. Essa atividade já foi definida na segunda metade do Século XX como: Profissiologia "a disciplina das atividades profissionais, onde se destaca a parte denominada profissiografia ou estudo analítico das atividades profissionais procedendo a sua sistemática classificação profissiológica. 
6. CORPO ANATÔMICO E CORPO VIVIDO
6.1. Problemas do tratamento psiquiátrico involuntário
A natureza da internação psiquiátrica involuntária, embora não se possa cogitar de aspectos penais, é claramente de "restrição ao direito de liberdade", representando espécie de limitação civil ou administrativa a direito fundamental de defesa contra intervenção indevida do Estado (e/ou de particulares) e contra medidas legais restritivas dos direitos de liberdade.
Pondera José Carlos Vieira de Andrade que, em se tratando de internação sem o consentimento do paciente, “de facto, estamos perante uma situação de restrição de direitos fundamentais: não haverá dúvidas de que, por um lado, o internamento compulsivo constitui uma privação de liberdade contra a vontade do interessado, e de que, por outro lado, o indivíduo portador de anomalia psíquica é uma pessoa física, titular de direitos fundamentais 
Como esclarece Paulo Bonavides, os direitos da primeira geração ou direitos de liberdade têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdade ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico; enfim, são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado.
Bonavides, em registro acerca da obra de Carl Schmitt, faz consignar a opinião do jurista alemão, para quem os direitos de liberdade somente podem ser relativizados excepcionalmente, "segundo o critério da lei" ou "dentrodos limites legais".
Gilmar Ferreira Mendes confirma que os direitos individuais enquanto direitos de hierarquia constitucional somente podem ser limitados por expressa disposição constitucional (restrição imediata) ou mediante lei ordinária promulgada com fundamento imediato na própria Constituição (restrição mediata).
Assim, a limitação ao direito fundamental à liberdade de ir e vir imposta pela internação psiquiátrica involuntária, somente poderia encontrar respaldo Constitucional se fosse expressamente prevista no texto da Carta Magna ou se estivesse fundada em restrições legais, entendendo estas como aquelas limitações que o legislador impõe a determinados direitos individuais respaldados em expressa autorização constitucional.
A esse ponto, convém examinar se a Constituição Federal Brasileira autorizou diretamente a privação de liberdade do portador de transtorno mental nos casos de internação psiquiátrica involuntária ou se remeteu à lei ordinária tal possibilidade, únicas hipóteses em que a referida modalidade de intervenção ao direito fundamental à liberdade seriam admissíveis.
Na verdade, a Constituição Federal não tratou da limitação à liberdade produzida pelo internamento psiquiátrico involuntário.
Com efeito, a Carta Magna de 1988, que tem como regra geral o respeito ao direito à liberdade, define hipóteses excepcionais de privação de liberdade, abrangendo prisões penais, processuais, civis e disciplinares, sem, no entanto, fazer nenhuma referência à internação psiquiátrica involuntária, até mesmo porque esta modalidade de restrição da liberdade não se realiza por motivos penais ou processuais penais, inadimplemento de obrigação alimentar ou infidelidade depositária ou, muito menos, por razões administrativas ou disciplinares, não podendo ser tecnicamente enquadrada como modalidade de "prisão" .
Coube, em brevíssimas disposições, à Lei Federal nº 10.216 de 06 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, a instituição e a regulamentação da internação psiquiátrica involuntária.
Entretanto, por tudo o que se afirmou sobre possibilidades excepcionais de restrições a direitos fundamentais, fácil é observar que a restrição à liberdade autorizada pela Lei Federal nº 10.216 de 06 de abril de 2001 está em dissonância com os parâmetros constitucionais, pois, além de não existir autorização direta da Carta Magna para a mencionada limitação de direitos, a mencionada lei ordinária autoriza a imposição da restrição ao portador de transtorno mental sem que a Constituição lhe tenha dado autorização expressa.
Por tudo isso, existem indicações aparentes acerca da ausência de normas válidas no direito brasileiro que autorizem expressa e especificamente a espécie involuntária de internação psiquiátrica.
Perceba-se que não se está afirmando a inconstitucionalidade da modalidade interventiva, haja vista ser ela constitucionalmente admitida por outros fundamentos.
Com efeito, a doutrina do direito comparado parece unânime de que nem tudo o que se encontra protegido, em tese, pelo âmbito de proteção dos direitos fundamentais sem reserva legal expressa (...) colhe efetiva proteção dos direitos fundamentais.
A Corte Constitucional alemã, chamada a se pronunciar sobre o tema no caso relacionado com a recusa à prestação de serviço militar assim se manifestou: ‘Apenas a colisão entre direitos de terceiros e outros valores jurídicos com hierarquia constitucional podem excepcionalmente, em consideração à unidade da Constituição e à sua ordem de valores, legitimar o estabelecimento de restrições a direitos não submetidos a uma expressa reserva legal’.
A possibilidade de uma colisão legitimaria, assim, o estabelecimento de restrição a um direito não submetido a uma reserva legal expressa.
A propósito, anota Gavara de Cara que, nesses casos, o legislador pode justificar sua intervenção com fundamentos nos direitos de terceiros ou em outros princípios de hierarquia constitucional.
Entre nós, a atividade legislativa, nessas hipóteses, estaria facilitada pela cláusula de reserva legal subsidiária contida no art. 5º, II, da Constituição.
Embora a Lei Federal nº 10.216/2001 não tenha autorização constitucional expressa para restringir o direito à liberdade dos pacientes psiquiátricos involuntários, é notório que a internação sem consentimento pode existir plenamente diante, dentre outros fatores posteriormente examinados, de possibilidade de danos para si ou para terceiros, ou seja, violação a direitos fundamentais próprios (tentativa de suicídio, por exemplo) ou de outrem (vida, integridade física, propriedade, etc.).
Resta evidente que a colisão dos referidos direitos fundamentais - em sentido estrito ou amplo – pode ser realizada com o sacrifício mínimo dos direitos contrapostos. Autorizado, pois, o legislador, em consideração à unidade da Constituição e à sua ordem de valores, a emitir regulação restritiva de um dos direitos envolvidos no conflito, que, contudo, jamais poderá se fazer de maneira absoluta.
Dessa forma, assentada a constitucionalidade em tese da internação psiquiátrica involuntária, cumpre anotar que tal modalidade de tratamento é forma de restrição do direito à liberdade e como tal deve ser cercada de cuidados para que sejam evitados excessos contra os pacientes.
A própria Lei 10.216/2001 (art. 4º) determina a aludida internação como modalidade extraordinária, somente admissível quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.
Fonte: https://jus.com.br/artigos/20292/o-devido-processo-legal-de-internacao-psiquiatrica-involuntaria-na-ordem-juridica-constitucional-brasileira
7. SIGMUND FREUD: IMPULSOS, IMPULSOS ASSOCIATIVOS
7.1. A sociedade e o direito
“Sociedade é todo grupo de pessoas que vivem e trabalham juntas durante um período de tempo suficientemente longo para se organizarem e para se considerarem como formando uma unidade social, com limites bem definidos”. E acrescenta: A sociedade é um grupo de indivíduos, biologicamente distintos e autônomos, que pelas suas acomodações psicológicas e de comportamento se tornaram necessários uns aos outros, sem eliminar sua individualidade. Toda vida em sociedade é um compromisso e tem a indeterminação e a instabilidade própria das situações desta natureza”. 
Entendemos, portanto, que a sociedade se correlaciona com a história, porque esta se constrói por impulsos tendenciosamente humanos, e ainda, será sempre um polo representativo da cultura, mesmo porque, sabidamente, a cultura nada mais é, senão o resultado da evolução social obtida pelas ações humanas sobre a natureza existente. Daí porque, podemos até atrelar um conceito prévio de desenvolvimento social, como sendo a arte humana erigida em prol da sobrevivência amparada e assistida pelos demais. Posto que, o homem como animal humano, racional e dinâmico, conseguiu, desde logo, verificar que para ele seria impossível subsistir sem a sociedade, não só por anseio de ser parte integrante do todo, mas, principalmente, por consciência de suas fragilidades.
Diante destas ponderações anteriores, pudemos observar que as relações sociais são oriundas da interação de reciprocidade entre os homens e destes com o seu meio. Duguit procurou ir além, quando quis determinar o momento em que a norma social (usos e costumes) se torna jurídica, partindo do conhecimento de que a lei positiva e a função jurisdicional nas sociedades humanas, bem como a função legislativa, existem todas em função da vida em sociedade. Porque, notadamente, temos uma clara ideia de que o direito nasce do acúmulo de valores individuais, que se agrupam na solidariedade social, por isto, posteriormente nascem normas que correspondem aos valores e necessidades sociais antecedentes. 
Assim, diz Duguit:
“O homem vive em sociedade e só pode assim viver; a sociedade mantém-se apenas pela solidariedade que une seus indivíduos. Assim, uma regra de conduta impõe-se ao homem social pelas próprias contingências contextuais,

Outros materiais