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M1 - T01 - Eclesiologia e Teologia do Laicato

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Prévia do material em texto

Curso de Graduação a Distância 
 
 
Eclesiologia e 
Teologia do 
Laicato 
 
(4 créditos – 80 horas) 
 
 
 
Autor: 
José Adriane Stevaneli 
Juan Diego Giraldo Aristizábal 
 
 
 
 
 
Universidade Católica Dom Bosco Virtual 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
 
 
 
 
 
 
 
2 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
 
Missão Salesiana de Mato Grosso 
Universidade Católica Dom Bosco 
Instituição Salesiana de Educação Superior 
 
 
Chanceler: Pe. Gildásio Mendes dos Santos 
Reitor: Pe. Ricardo Carlos 
Pró-Reitora de Graduação e Extensão: Profª. Rúbia Renata Marques 
Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori 
Coordenadora Pedagógica: Profª. Blanca Martín Salvago 
 
 
Direitos desta edição reservados à Editora UCDB 
Diretoria de Educação a Distância: (67) 3312-3335 
www.virtual.ucdb.br 
UCDB -Universidade Católica Dom Bosco 
Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminário 
Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302 
CEP 79117-900 Campo Grande – MS 
 
 
STEVANELI, José Adriane; ARISTIZÁBAL, Juan Diego Giraldo. 
 
Eclesiologia e Teologia do Laicato / José Adriane Stevaneli e 
Juan Diego Giraldo Aristizábal. Campo Grande: UCDB, 2017. 
98 p. 
 
Palavras-chave: 1. Eclesiologia 2. Igreja 3. Laicato 
 
 
 
 
0220 
 
3 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO 
 
Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe 
multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que 
norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do seu 
curso. 
 
Elementos que integram o material 
Critérios de avaliação: são as informações referentes aos critérios adotados para a 
avaliação (formativa e somativa) e composição da média da disciplina. 
Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para você organizar a 
realização e envio das atividades virtuais. Você pode fazer seu ritmo de estudo, sem ultrapassar 
o prazo máximo indicado pelo professor. 
Conteúdo Desenvolvido: é o conteúdo da disciplina, com a explanação do professor 
sobre os diferentes temas objeto de estudo. 
Indicações de Leituras de Aprofundamento: são sugestões para que você possa 
aprofundar no conteúdo. A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para facilitar 
seu acesso aos materiais. 
Atividades Virtuais: atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo. As 
datas de envio encontram-se no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem. 
 
Como tirar o máximo de proveito 
Este material didático é mais um subsídio para seus estudos. Consulte outros conteúdos 
e interaja com os outros participantes. Portanto, não se esqueça de: 
· Interagir com frequência com os colegas e com o professor, usando as ferramentas 
de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA; 
· Usar, além do material em mãos, os outros recursos disponíveis no AVA: aulas 
audiovisuais, videoaulas, fórum de discussão, fórum permanente de cada unidade, etc.; 
· Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto a 
calendário, atividades, ferramentas do AVA, e outros; 
· Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas 
necessidades como estudante, organize o seu tempo; 
· Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendizagem, 
contando com a ajuda e colaboração de todos. 
 
4 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
Objetivo Geral 
 
Propiciar um conhecimento que reflita sobre aquilo que a teologia diz sobre a 
“Comunidade de salvação” que se constituiu a partir do núcleo iniciado por Jesus Cristo e que 
no Mistério Pascal ganhou plena luz. Deste modo buscaremos aprofundar o artigo da fé Cristã 
que professa: “Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica”. Ainda que partindo da visão 
especificamente cristã católica sobre o tema, o percurso discorre sempre amparado em uma 
perspectiva ecumênica (reconstrução da Unidade na fé entre os cristãos) considerando-a como 
um aspecto imprescindível da eclesiologia atual. O estudo considera a Igreja em seu “estar no 
mundo” (ad extra) e portanto assumindo o diálogo como um dado teológico. 
 
SUMÁRIO 
UNIDADE 1 – ECLESIOLOGIA: ABORDAGEM BÍBLICA .......................................... 12 
1.1 A prefiguração da igreja no Antigo Testamento ......................................................... 12 
1.2 O mistério da “Ecclesia": as origens .......................................................................... 14 
1.3 O Povo de Deus da Nova Aliança.............................................................................. 16 
1.4 Testemunhos neotestamentários para a eclesiologia .................................................. 17 
1.5 A Igreja Apostólica, norma e fundamento da Igreja de todos os tempos ...................... 19 
 
UNIDADE 2 – ABORDAGEM HISTÓRICA DA REFLEXÃO ECLESIOLÓGICA ............. 21 
2.1 O nascimento do tratado “De Ecclesia”: a ênfase “jurídica” e “apologética” inicial ......... 21 
2.2 Abordagem “sacramental” e “mistérica” da Igreja ...................................................... 24 
2.3 Concílio Vaticano II: Eclesiologia Sacramental De Comunhão ...................................... 24 
2.4 Visão geral da Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG) ...................................... 26 
2.5 Reflexões eclesiológicas a partir da conferência de Aparecida ..................................... 28 
 
 
UNIDADE 3 – ECLESIOLOGIA: ABORDAGEM SISTEMÁTICA ................................. 32 
3.1 A Igreja como tema da confissão da fé ..................................................................... 32 
3.2 A Igreja radicada em Jesus: Sacramento de Comunhão ............................................. 35 
3.3 As Imagens da Igreja como Povo de Deus, Corpo de Cristo, Comunhão e Tradição Vivente
 .................................................................................................................................. 36 
3.4 A Sacramentalidade da Igreja como princípio hermenêutico ....................................... 41 
3.5 Comunhão de Igrejas: A Igreja Particular (Diocese), a Paróquia ................................. 43 
3.6 As notas (dimensões) essenciais da Igreja ............................................................... 45 
3.7 Realizações básicas da Igreja: Martyria, Leitourgia, Diaconia ...................................... 50 
 
 
5 
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UNIDADE 4 – A CONSTITUIÇÃO SACRAMENTAL DA IGREJA ................................ 53 
4.1 Os leigos na Igreja: sujeitos eclesiais........................................................................ 53 
4.2 A vida consagrada: sinal evangélico para o mundo .................................................... 54 
4.3 O ministério ordenado: um serviço essencial à Igreja ................................................. 56 
4.4 Ministério Petrino: o primado na Igreja ..................................................................... 59 
 
UNIDADE 5 – TEOLOGIA DO LAICATO .................................................................. 66 
5.1 Leigos: presença da igreja “no mundo” ..................................................................... 66 
5.2 A teologia do laicato pré-conciliar: identidade de sua missão específica no mundo ........ 67 
5.3 Concílio Vaticano II: identidade positiva e índole secular do laicato ............................. 68 
5.4 Pós-Concílio: o Sínodo sobre os leigos (1987) e a “Christifidelis Laici” .......................... 71 
5.5 As associações e movimentos laicais......................................................................... 73 
5.6 Algumas perspectivas eclesiológico-pastorais do laicato ............................................. 75 
 
 
UNIDADE 6 – A ÍNDOLE ESCATOLÓGICA DA IGREJA PEREGRINA ....................... 78 
6.1 Caráter escatológicoda nossa vocação à Igreja ......................................................... 78 
6.2 A união da igreja peregrina com a Igreja celeste ....................................................... 80 
6.3 A comunhão espiritual entre os peregrinos e os santos .............................................. 81 
6.4 A Igreja: viver no mundo sem ser do mundo ............................................................. 83 
6.5 Maria no mistério de Cristo e da Igreja ..................................................................... 84 
 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 87 
EXERCÍCIOS E ATIVIDADES ................................................................................. 88 
 
Avaliação 
 
A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar, isto é, a finalidade da 
avaliação é propiciar oportunidades de ação-reflexão que façam com que você possa 
aprofundar, refletir criticamente, relacionar ideias, etc. 
A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada: além das provas no final de 
cada módulo (avaliação somativa), será considerado também o desempenho do aluno ao longo de 
cada disciplina (avaliação formativa), mediante a realização das atividades. Todo o processo será 
avaliado, pois a aprendizagem é processual. 
Para que se possa atingir o objetivo da avaliação formativa, é necessário que as 
atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo ao que se pede e tentando sempre 
exemplificar e argumentar, procurando relacionar a teoria estudada com a prática. 
 
6 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de cada 
disciplina. 
 
Critérios para composição da Média Semestral: 
Para compor a Média Semestral da disciplina, leva-se em conta o desempenho atingido 
na avaliação formativa e na avaliação somativa, isto é, as notas alcançadas nas diferentes 
atividades virtuais e na(s) prova(s), da seguinte forma: Somatória das notas recebidas nas 
atividades virtuais, somada à nota da prova, dividido por 2. Caso a disciplina possua mais de 
uma prova, será considerada a média entre as provas. 
Média Semestral: Somatória (Atividades Virtuais) + Média (Provas) / 2 
Assim, se um aluno tirar 7 nas atividades e 5 na prova: MS = 7 + 5 / 2 = 6 
Antes do lançamento desta nota final, será divulgada a média de cada aluno, dando a 
oportunidade de que os alunos que não tenham atingido média igual ou superior a 7,0 possam 
fazer a Recuperação das Atividades Virtuais. 
Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, o aluno ainda poderá 
fazer o Exame Final. A média entre a nota do Exame Final e a Média Semestral deverá ser 
igual ou superior a 5,0 para considerar o aluno aprovado na disciplina. 
Assim, se um aluno tirar 6 na Média Semestral e tiver 5 no Exame Final: MF = 6 + 5 / 
2 = 5,5 (Aprovado) 
 
 
FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES 
 
O quadro abaixo visa ajudá-lo a se organizar na realização das atividades. Faça seu 
cronograma e tenha um controle de suas atividades: 
 
 
AVALIAÇÃO PRAZO * DATA DE ENVIO ** 
Atividade 2.1 
Ferramenta: Tarefa 
 
Atividade 3.1 
Ferramenta: Tarefa 
 
Atividade 4.1 
Ferramenta: Tarefa 
 
 
7 
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* Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade (consulte o 
calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem). 
** Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade. 
 
Atividade 5.1 
Ferramenta: Tarefa 
 
Atividade 6.1 - Livre 
Ferramenta: Tarefa 
___________ 
 
8 
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BOAS VINDAS 
 
Nosso caminho em busca do conhecimento continua e agora se abre mais uma das 
páginas da reflexão teológica: vamos estudar a Igreja. De fato, esta disciplina tem por objeto 
principal o estudo da Igreja na perspectiva do Concílio Vaticano II, abordado no conjunto da 
tradição eclesial. 
Sabemos que entre os nossos estudantes encontramos distintas visões religiosas, o 
respeito pelos outros não nos impede de apresentar uma visão específica de uma tradição 
religiosa (católica) para a partir de então estabelecer um debate onde a reflexão e o respeito 
sejam parceiros. Em sua perspectiva geral a análise tenta refletir sobre o modelo eclesiológico 
cristão. Nosso objetivo é oferecer os instrumentos necessários para o trabalho e propiciar uma 
visão sintética de como hoje se coloca o tema da Igreja no quadro geral da Teologia. 
A abordagem sistemática (propriamente teológica) se propõe a oferecer uma visão 
global da Igreja, redescobrindo seu fundamento trinitário para proceder de modo descritivo 
com a análise das grandes “imagens”: A Igreja mistério (Sacramento) e Instituição, Povo de 
Deus e Corpo de Cristo, Templo do Espírito e Comunhão. 
Abordaremos temas afins como as quatro dimensões eclesiais, das quais nascem 
algumas questões específicas: a relação entre Igreja Local e Igreja universal; a santidade da 
Igreja e na Igreja; a missão salvífica e a relação com o mundo; a teologia da apostolicidade, 
o ministério, as relações entre primado de Pedro e episcopado. Se conclui com um 
aprofundamento da questão escatológica. 
Faremos também um breve aceno ao tema do ecumenismo e do papel de Maria 
enquanto modelo e “tipo” da Igreja, daquilo que esta é e é chamada a se tornar. Não 
deixaremos de trabalhar numa perspectiva ecumênica visando promover a unidade dos 
cristãos. Faz parte deste tema a história do movimento ecumênico e o exame da Unitatis 
Redintegratio. 
Espero que você esteja empolgado, pois sua curiosidade e busca dá ânimo para nossas 
pesquisas. Reitero as boas vindas e o desejo de que você possa colher muitos frutos desta 
disciplina! 
 Pe. Adriano 
 
 
 
 
 
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Pré-teste 
 
A finalidade deste pré-teste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos 
prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta disciplina. 
Não fique preocupado com a nota, pois não será pontuado. 
 
1. Quais dos textos abaixo são documentos do “Concílio Ecumênico Vaticano II” 
cujo tema foi a Igreja? 
a) Spe Salvi de Bento XVI. 
b) Constituição Dogmática “Lumen Gentium". 
c) Dei Verbum. 
d) De Ecclesia. 
 
2. Quais são as “notas” ou dimensões da Igreja segundo a Tradição da fé? 
a) Missionária, vocacional, espiritual, sacramental. 
b) Carismática, mistagógica, institucional. 
c) Una, Santa, Católica e Apostólica. 
d) Institucional, universal, pentecostal. 
 
3. Qual o sentido do termo “católica”? 
a) Universal. 
b) Escatológica. 
c) Espiritual. 
d) Sacerdotal. 
 
Submeta o Pré-teste por meio da ferramenta Questionário. 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
Aqui estamos para mais uma etapa do nosso percurso teológico, que agora reflete 
sobre o artigo da fé que reza: “creio na Igreja”. Eclesiologia é o estudo de tudo que se refere 
à Ecclésia (origem grega do termo que corresponde ao que entendemos por Igreja) que aqui 
reflete a visão específica do cristianismo de confissão “católica”. Esta visão cristã inclui a 
dimensão ecumênica e, portanto, vamos procurar ressaltar aqueles aspectos que são comuns 
e que une boa parte do mundo cristão, no respeito pelas diferenças e dificuldades que tal 
intento encontra. Por isso nossa atitude é de destacar aquilo que nos une, evitando uma atitude 
hostil ou intolerante próprias de um tempo de “cruzadas”. Partimos do pressuposto de que os 
intolerantes normalmente são inseguros que se perderam pela idolatria de uma parte em 
relação ao todo. Um clima hostil trai a proposta cristã que reza: “bem-aventurados os mansos, 
porque possuirão a terra”. 
A Igreja se desvela como uma comunidade visível de pessoas unidas na confissão da 
mesma fé, na vida litúrgica e na autoridadedos primeiros apóstolos. Realidade complexa que 
se exprime com vários nomes: Povo de Deus, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. 
Escolhida por Deus, é sinal e instrumento da sua vontade salvífica universal. 
É em si mesma universal (católica), destinada a todos os povos, mas existe 
concretamente nas igrejas locais. Exercita-se em seu peregrinar como comunhão na 
“martirya”, “leiturgia” e “diakonia” (Cfr. At 15,25.28). É edificada mediante a palavra apostólica 
do Evangelho, e pelos Sacramentos, especialmente pelo Batismo e a Eucaristia.Por ela e nela 
(carismas e ministérios) o Senhor ressuscitado desempenha no Espírito a sua missão salvífica 
no mundo. 
Edificada pelo Espírito e manifestada visivelmente no mundo. A sua forma ministerial 
tem seu apoio histórico no apostolado da primeira época; através da epíclese o Ressuscitado 
concede a participação na sua missão e na sua autoridade. Seus ministros vivem a 
responsabilidade por todas as igrejas (At 15,4.22.28). O Apóstolo Pedro é garante da unidade 
da comunidade pré - pascal de Jesus e da Igreja pós – pascal de Cristo (Mt 16,16-19; Lc 22,32; 
At 2,32; 10,37-43; 15,8). Ao serviço da unidade universal de sua Igreja (Jo 21,15-17). 
Esta igreja foi enviada por Cristo, nasce com um mandato: “Ide…” e, portanto, é uma 
instituição que está a serviço da missão evangelizadora a ela confiada por Jesus; ela tem sua 
visibilidade na sociedade, com leis próprias, ministérios ordenados (bispos, padres, diáconos), 
ministérios não ordenados, confiados aos cristãos leigos, a vida consagrada (religiosos e 
religiosas) e o laicato. Cada membro assume sua função e desempenha um serviço, sempre 
visando ao bem de todos, do Corpo Total de Cristo. Por força de uma comunhão entre seus 
 
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membros, quando um membro da Igreja peca, a comunidade fica enfraquecida. Quando um 
membro se santifica, todo o conjunto fica revigorado. 
Esta Igreja é de Cristo: Ecclesiam Suam! Bem sabemos que é próprio do corpo ter 
uma cabeça. Segundo São Paulo, a cabeça da Igreja é Cristo (cf. Cl 1,18). É dele que provém 
a vida da graça para todos os membros da Igreja. Por sua dimensão carismática, veremos 
como o Tempo da Igreja “coincide” com o chamado “Tempo do Espírito”, em sua realidade 
íntima a Igreja é Templo do Espírito Santo, que é a alma da Igreja (estrita relação entre 
eclesiologia e pneumatologia). Como a alma no corpo humano, o Espírito Santo está presente 
em toda a Igreja e em cada um de seus membros. Como a alma confere vida e identidade ao 
corpo, assim o Espírito Santo dá vida e identidade à Igreja. Sendo realidade humana e divina, 
podemos também afirmar que a Igreja é, pois, a comunidade dos que creem em Cristo; 
assistida pelo Espírito Santo, ela guarda a memória de Jesus Cristo, celebra e testemunha sua 
presença ao mundo e ao mesmo tempo aguarda seu retorno como Senhor e Juiz da história 
para levar à plenitude o projeto salvífico de Deus (Dimensão escatológica). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 1 
ECLESIOLOGIA: ABORDAGEM BÍBLICA 
 
OBJETIVO DA UNIDADE: Situar o tema eclesiológico dentro da Sagrada Escritura, 
aprofundando seus fundamentos bíblicos. 
 
1.1 A prefiguração da Igreja no Antigo Testamento 
 
Lex Orandi1: 
“Oremos pelos judeus, aos quais o Senhor nosso Deus falou em primeiro 
lugar, a fim de que cresçam na fidelidade de sua aliança e no amor do seu 
nome. Deus eterno e todo-poderoso, que fizestes vossas promessas a 
Abraão e seus descendentes escutai as preces da vossa Igreja. Que o povo 
da primitiva aliança mereça alcançar a plenitude da vossa redenção” 
(Oração da Sexta-feira Santa na Celebração da Paixão do Senhor). 
 
No Antigo Testamento, temos na eleição de Israel muitos dos elementos que vão 
revelando o mistério da Igreja que alcança seu auge sobretudo na Nova Aliança com Jesus 
Cristo. Nas origens, a comunidade de fé de Israel é testemunha e mediadora da vontade 
salvífica universal de Deus, que se revelou no princípio, como criador de todos os homens e 
de todos os povos (Gn 1,1). A promessa de uma aliança universal (Gn 9,9) se concretiza desde 
a eleição e vocação de Abraão (Gn 12,3; 17,2, Rm 4,17, Gal 3,7). A aliança individual com 
Abraão se faz aliança coletiva no Monte Sinai; esta aliança constitui o “DNA” de Israel, pois 
constitui o povo na sua identidade a sua missão (Gn 19,24). 
Sabemos que na tradução grega do Antigo Testamento (séculos III-II a.C.), “ekklesía” 
(Igreja) era usada para traduzir o hebraico “qahal”, palavra que designava a assembleia do 
povo de Israel, povo eleito por Deus, reunido diante do Senhor para escutar sua palavra e 
responder-lhe “amém”. A assembleia por excelência fora aquela do Sinai, quando Deus deu a 
lei ao seu povo (cf. Ex 19): aquele dia ficou conhecido como dia da qahal, dia da ekklesía, dia 
da igreja: “O Senhor falou estas palavras a toda a assembleia (= ekklesía), sobre a montanha, 
do meio das chamas…" (Dt 5,22). 
Israel, como “figura da Igreja”, é o povo eleito por Deus e o destinatário das ações 
redentoras, vivificadoras e libertadoras de YHWH e se converte (por sua fé, confissão, 
 
1 Vamos considerar alguns textos litúrgicos porque possuem um valor altíssimo como fonte de referência 
primeira da fé da Igreja. “Quando a Igreja celebra os sacramentos, confessa a fé recebida dos Apóstolos. 
Daí o adágio antigo: «Lex orandi, lex credendi – A lei da oração é a lei da fé» (Ou: «Legem credendi lex 
statuat supplicandi – A lei da fé é determinada pela lei da oração», como diz Próspero de Aquitânia 
[século V]) (40). A lei da oração é a lei da fé, a Igreja crê conforme reza. A liturgia é um elemento 
constitutivo da Tradição santa e viva” (Catecismo da Igreja Católica, 1124) 
 
13 
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assembleia litúrgica, obediência à lei e santidade de vida) em ouvinte e testemunha da 
promessa de Deus realizada pela salvação dos homens. 
Esta relação (Aliança) tem três características: 
1) Israel é propriedade de Deus: é Deus mesmo quem a constitui como povo (Dt 4,37; 
Lev 20,26; Is 43,1-7; Dt 4,20; 7,6; Ex 19,5; Dt 7,6; 32,9; Zc 2,16; Dt 32,8). A existência de 
Israel proclama o amor providente de Deus (Dt 7,6; Ex 3,14). 
2) Israel é “sócio” da aliança com Deus: conhece e ama Deus, demonstrando isto no 
amor ao irmão. A sua resposta ao oferecimento da aliança é a inclinação do seu coração a 
Deus (Jr 31,31-34). Se estabelece uma corresponsabilidade (Ex 6,7; Dt 29,9-12). Existem 
inúmeras imagens que falam desta relação (Ex 4,22; Os 11,1; Sb 18,13; Is 41,8; Os 2,6; Jr 
2,2; Ez 16; Is 5,1-7; 50,1; 54,4-8; 61,10; Sal 80,9; 95,7; Ez 34,1-31). 
3) Israel é o santuário de Deus: sobretudo a assembleia litúrgica, é o lugar e o sinal 
por excelência da presença salvífica de Deus. Se trata de um povo sacerdotal, régio e profético 
(Ex 19,6). Deus mora no meio do seu povo (Ez 37,26; Dt 2,7; Num 35,34). Deus se mostra 
como “Deus conosco” (Is 7,14; 8,8; Sal 46,1; 1Re 8,13; Jr 3,17). Na reunião cúltica, Israel 
entende a si mesmo como assembleia do Senhor (Num 16,3; Dt 23,2; 1Cr 28,8; Ne 13,1). 
Israel, é separado (escolhido) do resto dos povos para o serviço à vontade salvífica 
de Deus (como representante deles diante de Deus e vice-versa) e cumpre este serviço como: 
a) Povo da salvação régia: quando se restabelecerá o reino davídico, Israel exercerá 
o domínio sobre os povos (Dan 7,13; Is 53,3). 
b) Como povo mediador da salvação profética: (Mal 3,1; Is 42,1-9). Este ministério 
teve uma concretização prototípica desempenhado por figuras concretas (Moisés, os 
profetas...). Chamado a proclamar os louvores de YHWH e interceder pelos povos (Gn 18,22-
32; 20,7-17; Ex 8,4.8; Sal 47,2). 
c) Como povo mediador da salvação sacerdotal: (Ex 19,5; Lev 19,8). Por ele os povos 
devemconhecer a vontade salvífica de Deus. 
Mas a eleição de um povo não deve ser entendida de modo exclusivista ou excludente. 
Se todo homem foi criado à imagem de Deus e se em virtude da encarnação a raça humana é 
consagrada, pode-se reconhecer toda a humanidade como povo de Deus. A eleição está a 
serviço da unidade radical de todo gênero humano (serviço da mediação). Na constituição do 
povo na sua identidade é básica e central o conceito de “assembleia” (Ex 19, Dt 4,10, 9,10; 
18,16). O termo hebraico “Qahal” é mais do que o mero povo, é este em toda a sua densidade 
religiosa, ou seja, o povo inteiro convocado por Deus e comprometido a participar no desígnio 
de Deus. Pondo em relevo a familiaridade e intimidade com que YHWH uniu-se ao seu povo. 
As assembleias posteriores serão a atualização e a prolongação da primeira assembleia (1Re 
8,14.22.55; 2Re 22-23,22; Ed 2,64; Ne 8-10). 
 
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A tradução dos LXX vai traduzir “Qahal” por “Ecclésia” (Dt 4,9-13; 9,10.18; 23,2; Ne 
13,1). Mas a certeza de Israel é ameaçada pela infidelidade do povo (Dt 32,21; Am 8,2; Os 
1,9; 2,23-25; Jr 31,31-33; 32,37-40; Ez 34,24-28). E Israel vai viver constantemente 
quebrando a Aliança e Deus permanece fiel. 
 
 
 
 
 
 
1.2 O mistério da “Ecclesia": as origens 
 
Lex Orandi: 
“Ó Deus todo-poderoso, que a vossa Igreja seja sempre aquele povo santo, 
reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que manifesta ao mundo 
o mistério da vossa santidade e unidade, levando as pessoas à perfeição do vosso 
amor” (Coleta pela Igreja - Ano C) 
 
Deus quis a Igreja desde toda a eternidade. A Bíblia nos mostra que ela foi prefigurada 
e preparada pelas várias Alianças de Deus com a humanidade. Sua formação aconteceu 
progressivamente, como uma gestação. O Concílio Vaticano II falará de «atos fundantes» 
revelados sobretudo com Jesus Cristo no Novo Testamento. 
Foram atos fundantes, por exemplo, a escolha dos Apóstolos e a instituição da 
Eucaristia. Sabemos que o povo de Israel era formado por doze tribos. Jesus, ao escolher doze 
Apóstolos, mostrou sua intenção de fundar a Igreja, o novo Israel, que fora anunciado pelos 
profetas. Na instituição da Eucaristia, o cordeiro pascal foi substituído pelo Corpo de Jesus. O 
cálice da Antiga Aliança foi substituído pelo cálice da Nova Aliança, sangue de Jesus. 
Dica de aprofundamento 
Leia o artigo: 
COSTA, Henrique Soares da. A Igreja nas Sagradas Escrituras. Disponível em: 
<http://www.domhenrique.com.br/index.php/estudos-biblicos/323-a-igreja-nas-sagradas-
escrituras-i>. Acesso em: 21 dez. 2019. 
http://www.domhenrique.com.br/index.php/estudos-biblicos/323-a-igreja-nas-sagradas-escrituras-i
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Israel se tornou Povo de Deus através da Antiga 
Aliança, celebrada no monte Sinai; Jesus, ao instituir a 
Nova Aliança, estava fundando a Igreja – o Novo Israel. 
Mas foram atos fundantes da Igreja, sobretudo, a 
Páscoa da paixão, morte e ressurreição e o 
acontecimento de Pentecostes, quando a Igreja foi 
manifestada às nações pela efusão do Espírito Santo. 
Naquela manhã de Pentecostes, a Igreja recebeu a sua 
configuração definitiva, assumindo a missão de 
evangelizar todos os povos. 
 Fonte: http://migre.me/vM8ng 
A Igreja, segundo o dado neotestamentário, é comunidade onde Jesus ressuscitado 
está presente: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20b). A 
Igreja não foi fundada por iniciativa humana, mas divina, pois ela fez parte de um “projeto 
divino”. A Igreja é dom de Deus à humanidade. Jesus está presente nela, sendo seu 
Fundamento. Quando a Palavra de Jesus é anunciada na assembleia, é ele mesmo que nos 
fala. Os Sacramentos que a Igreja celebra comunicam a força espiritual que provém do seu 
Mistério Pascal. A Eucaristia forma o “corpo” da Igreja. A Eucaristia “faz” a Igreja, é momento 
peculiar de sua manifestação. Quem se alimenta do corpo de Cristo torna-se um com ele. 
Quando a Igreja envia missionários ao mundo, é Jesus que continua a enviar seus discípulos. 
Por isso, a Igreja é, ao mesmo tempo, divina e humana. 
 “Na Escritura Sagrada, aparece de modo claro e constante que a Igreja é fruto da 
missão de Cristo, nasce dele, mais precisamente, de sua Páscoa: “Na tarde do mesmo dia, que 
era o primeiro depois do sábado, estando trancadas as portas do lugar onde estavam os 
discípulos, por medo dos judeus, Jesus chegou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja 
convosco”. Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos se alegraram ao ver o 
Senhor. Jesus disse-lhes de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, assim 
também eu vos envio”. Após essas palavras, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito 
Santo. A quem perdoardes os pecados serão perdoados. A quem não perdoardes os pecados 
não serão perdoados” (Jo 20,19-23). Cristo, o Homem Novo, no primeiro dia após o sábado, 
dia da Antiga Aliança, sopra o Espírito Santo sobre os apóstolos, gerando uma humanidade 
nova, que é a Igreja. Ela é fruto da morte e ressurreição do Senhor, de suas feridas. É assim, 
no Espírito do Ressuscitado, que a Igreja nasce e viverá para sempre (…) É verdade que não 
podemos falar de Igreja em sentido pleno antes da ressurreição do Cristo e do dom do seu 
Espírito, fruto dessa ressurreição. Mas isso não significa que Jesus não pensou ou não quis a 
Igreja. Esta Igreja que ele fundou de modo real com sua morte e ressurreição, ele mesmo a 
 
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“pré-formou” nos dias de sua vida terrena: preparou-lhe o corpo durante seus dias na terra e 
soprou-lhe o Espírito após a ressurreição”2. 
 
1.3 O Povo de Deus da Nova Aliança 
Lex Orandi: 
“Ó Deus, Pai de todos os fiéis, vós multiplicais por toda a terra os filhos da vossa 
promessa, derramando sobre eles a graça da filiação e, pelo mistério pascal, tornais 
vosso servo Abraão pai de todos os povos, como lhe tínheis prometido. Concedei, 
portanto, a todos os povos a graça de corresponder ao vosso chamado” 
(Oração depois da segunda leitura - Gn 22,1-18 - na Vigília Pascal) 
 
Jesus escolheu os Doze como símbolo da convocação definitiva do novo Israel que 
por sua vez introduzia uma nova lógica: a dinâmica do Reino de Deus rompia todas as barreiras 
e exclusivismos, a lei devia ser interpretada desde a intenção originária de Deus e não desde 
a interpretação acomodada dos homens. Podemos ver esta nova lógica no rechaço do Filho 
diante de interpretações restritas (Mt 8,11; 21,43: evitar a superação ou a substituição). A 
comunidade cristã compreendeu-se como povo de Deus (novo e verdadeiro) e designando-se 
«Ecclésia» (ou seja, o qahal autêntico de Deus) (Cfr. 2Cor 6,16; Rm 9,25; Os 2,23-25; Jer 
3,13ss, Am 9,11ss). Em At 15,14 vemos o romper das barreiras, enquanto em 1Pe 2,10 vemos 
que o decisivo é a aceitação da graça e da misericórdia; Tito 2,13-14 ressaltará que este novo 
povo é configurado pela ação salvífica de Cristo. Deste modo “Ecclésia” designará o povo de 
Deus, mas com uma forte acentuação cristológica (crer em Cristo). A Igreja também existe 
fora da assembleia (mas baseada nesta) e inclui um tríplice conteúdo semântico: no culto (1Cor 
11,18; 14,19.28.34.35); num lugar concreto (1Cor 1,2; 16,1); Igreja universal (1Cor 15,9; Gal 
1,13). 
O Sentido teológico da Igreja como Povo de Deus será desenvolvido gradativamente, 
sobretudo no Novo Testamento. Constatamos uma dialética “continuidade – descontinuidade” 
entre o Antigo e o Novo Testamento (vocação, missão, potencial messiânico/messianismo de 
Jesus, Páscoa e efusão do espírito). O tema vai ganhar novos aprofundamentos sobretudo em 
relação ao desenvolvimento da questão trinitária. Cresce a consciência de que é no seio da 
comunidade mesma que “cremos”,“nós somos a Igreja”. Todas as realizações e formas 
eclesiais têm que ser reconduzidas à «Ecclésia» ao povo de Deus, ressaltando assim a Igreja 
como sujeito histórico que peregrina no mundo. Na realidade concreta com as suas situações 
e preocupações ela deve ser testemunha da reconciliação. Em seu peregrinar a Igreja deve 
recordar sempre a sua dimensão escatológica e assim ser libertada de todo triunfalismo 
 
2 http://www.domhenrique.com.br/index.php/estudos-biblicos/323-a-igreja-nas-sagradas-escrituras-i 
http://www.domhenrique.com.br/index.php/estudos-biblicos/323-a-igreja-nas-sagradas-escrituras-i
 
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(humildade e serviço). Nisto ela encontra seu lugar no caminho da humanidade como 
Sacramento da unidade também diante das outras religiões3. 
 
1.4 Testemunhos neotestamentários para a eclesiologia 
 
 Lex Orandi: 
“Pela palavra do Evangelho do vosso Filho reunistes uma só Igreja de todos os povos, 
línguas e nações. Vivificada pela força do vosso Espírito não deixais, por meio dela, de 
congregar na unidade todos os seres humanos” 
(Oração eucarística VI-A: A igreja a caminho da unidade) 
 
A igreja está inserida no projeto salvífico de Deus, se apresenta na história como 
“comunidade de Salvação” (Ef 1,3-16; 2,18; 3,10; Col 1,15-20.24-29). Sabemos que Jesus 
chamou seus apóstolos como Doze, simbolizando a constituição de um novo Israel – como o 
antigo Israel tinha como fundamento os doze patriarcas: “Depois subiu a montanha, e chamou 
a si os que ele queria, e eles foram até ele. E constituiu Doze (Mc 3,13-14a; cf. At 1,26: Ap 
21,12-14). Dentre os Doze, Jesus escolheu Simão e mudou-lhe o nome: a escolha mostra a 
intenção de Jesus de constituir sua Igreja como organização estável; o nome, mais uma vez 
compara a Igreja ao antigo Israel: Olhai para a rocha da qual fostes talhados; olhai para 
 
3 Cf. LG 13; AG 1,7,9. 
“Em todos os tempos e em toas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e obra justamente 
(cfr. Act. 10,35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, 
excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e 
O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para Seu povo. Com ele estabeleceu 
uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria 
vontade na sua história, e santificando-o para Si. Mas todas estas coisas aconteceram como 
preparação e figura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida e da revelação 
mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito carne. Eis que virão dias, diz 
o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança... Porei a 
minha lei nas suas entranhas e a escreverei nos seus corações e serei o seu Deus e eles serão o meu 
povo... Todos me conhecerão desde o mais pequeno ao maior, diz o Senhor (Jer. 31, 31-34). Esta 
nova aliança instituiu-a Cristo, o novo testamento no Seu sangue (cfr. 1 Cor. 11,25), chamando o 
Seu povo de entre os judeus e os gentios, para formar um todo, não segundo a carne mas no Espírito 
e tornar-se o Povo de Deus. Com efeito, os que creem em Cristo, regenerados não pela força de 
germe corruptível mas incorruptível por meio da Palavra de Deus vivo (cfr. 1 Ped. 1,23), não pela 
virtude da carne, mas pela água e pelo Espírito Santo (cfr. Jo. 3, 5-6), são finalmente constituídos 
em «raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo conquistado... que outrora não era povo, 
mas agora é povo de Deus» (1 Ped. 2, 9-10)”. (Lumen Gentium, 9) 
 
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Abraão, vosso pai (Is 51,2). Cristo vai “talhar” um novo Israel, que é a Igreja, e Pedro é como 
que um novo Abraão, canteiro donde se tiram pedras vivas. Por isso mesmo Jesus afirma 
claramente que sobre ele edificará a sua Igreja: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre 
esta pedra edificarei minha Igreja” (Mt, 16, 18). Quando Jesus instituiu a eucaristia ordenou a 
sua Igreja que a celebrasse até sua volta (cf. Mc 14,22s; Mt 26,26ss; Lc 22,14; 1Cor 11,23). 
Mateus reúne, no capítulo 18 de seu evangelho, num longo discurso, várias 
determinações de Jesus sobre a Igreja que nasceria de sua Páscoa: quem é o maior (18,1-4); 
o problema do escândalo na comunidade (18,5-11); o dever dos pastores da Igreja de procurar 
os pequeninos que saíram escandalizados (18,12-14); a correção fraterna na Igreja (18,15-
18); a oração em comum na Igreja (18,19-20); o perdão das ofensas na Comunidade eclesial 
(18,21-35). Podemos, então, compreender que toda a ação de Jesus para salvar a 
humanidade, caminhava para a formação da Comunidade messiânica, que é a Igreja: “Jesus 
iria morrer pela nação – e não só pela nação, mas também para congregar na unidade os filhos 
de Deus dispersos” (Jo 11,51s). Compreendemos, também, como no evangelho de João, Jesus 
reza pela Igreja: “Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão 
em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles 
estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste (Jo 17,20-22). Finalmente, 
aparece clara, neste contexto, a afirmação de São Paulo: “Cristo amou a Igreja e se entregou 
por ela” (Ef 5,25). 
Na Igreja, nascida do mistério Pascal e manifestada em Pentecostes, se entra pelo 
batismo, onde o crente entra na comunhão com o mistério pascal (Rom 6,4; Ef 5,26); neste 
sentido a eucaristia configura a igreja como corpo único de Cristo (1Cor 10,17). Em Cristo é a 
Igreja é o novo Povo de Deus (Rm 9,25; 1Cor 10,32; 2Cor 6,16; 1Tes 1,1; At 20,28; 1Tim 
3,5.10). As Igrejas locais e particulares são realização da Igreja universal (Rm 16,1.16; 1Cor 
16,19; 1Cor 10,32; 11,22; Gal 1,13). 
O autêntico conceito paulino da «Ecclésia» do Senhor é a de “Corpo de Cristo”, 
entendendo-se como existência terrena de Jesus, a sua presença sacramental no pão e vinho 
da Ceia e a comunhão de vida dos crentes (1Cor 10,16; 12,27). A Igreja está totalmente unida 
e impregnada de Jesus, é Igreja de Cristo (Col 1,18; Ef 3,19, 4,4-16; 5,25). A Igreja é, segundo 
os relatos do Novo Testamento, Templo do Espírito Santo (Rom 8,1.9-11; 12, 11; 15, 16; 1Cor 
6,11; 12,4.11; 2Cor 1,22; Gal 3,1; 1Tes 1,5; Ef 1,13; 1Pe 2,5). Assim, a Igreja em sua realidade 
externa é manifestação do Espírito que a sustenta, ela está ao serviço do anuncio da vontade 
salvífica de Deus (1Tim 2,4; 3,15). Assim o ministério (1Tim 2,7; 3,5; 4,12.16; 5,17; 6,20; 
2Tim 1,11-12; 4,17; Tit 2,7; At 14,23) realiza seu serviço de manter a sã doutrina, mantendo 
a fidelidade às fontes do “depósito da fé”. 
 
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Na eclesiologia de João a Igreja vive o discipulado, unida na fé, no batismo e na 
Eucaristia ao Filho de Deus (Jo 14,23.26; 16,14; 19,34; 1Jo 1,3; 4,13). Participa na comunhão 
da Trindade (17,22, 1Jo 1,3; 4,13-16) na vivência da íntima comunhão com Jesus (10,1-18; 
14,6; 14,16; 1Jo 3,24) até a morte e perseguição (15,16-27). Esta comunidade é universal 
(4,22.42; 10,16). A comunidade visível é sinal da presença da Palavra de Deus feita carne, 
comunidade de vida e amor (1Jo 3,18) que tem como missão conduzir o mundo a Cristo (17,18; 
20,21). Ver a figura de Pedro (21,15-17; 21,19). Em Cristo a Igreja exerce a sua essência e a 
sua missão como povo escolhido (1Pe 2,9) onde cada um ajuda a mutua edificação da Igreja 
(1Pe 4,11.14). A essência da Igreja em seu conjunto se descreve como “sacerdotal” (1Pe 2,9). 
Os presbíteros estão ao serviço da comunidade agindo segundo o modelo de Cristo (1Pe 5,4; 
2,25), do sacerdócio de Cristo eles participam em modo particular. A Igreja é o rebanho do 
Pastor eterno (Heb 8,6; 9,14; 13,20) que caminha ao seu encontro (12, 1-3; 11,40;12,22-24; 
13,14). É a comunidade escatológica que dá testemunho do seu Senhor em meio à perseguição 
(Ap 21,14; 21,22; 22,4). 
 
1.5 A Igreja Apostólica, norma e fundamento da Igreja de todos os tempos4 
Lex Orandi: 
“Fizestes a Santa Igreja qual cidade erguida sobre o alicerce dos apóstolos, tendo o próprio Cristo 
como pedra angular” 
(Do prefácio «O mistério do templo de Deus», para a dedicação de uma Igreja) 
 
Com o último escrito do Novo Testamento (2Pe: escrito no princípio do séc. II) se 
conclui a (hera) Igreja Apostólica, e por tanto o seu valor constitutivo e fundador (DV 4). Esta 
época apostólica que tem como testemunhas “os Apóstolos e os varões apostólicos” (DV 7.18) 
que através dos “autores sagrados” escreveram para que “conhecêssemos a verdade que nos 
ensinaram (Lc 1,2-4, DV 19), formaram o Novo Testamento. 
Esta época se encontra marcada por uma progressiva institucionalização da “koinonia” 
nascente, na qual emerge aos poucos a função dos sucessores dos apóstolos, que garantem 
a fidelidade ao seu ensinamento (Cfr. LG 28). Aparece também Pedro como figura-ponte, que 
é, juntamente com os outros Apóstolos, o garante da Tradição Apostólica (2Pe 1,16; Mt 16,17). 
Assim, “o período próximo às fontes da época apostólica constitui para todos os 
tempos do desenvolvimento da Igreja uma magnitude dogmática relevante e à sua vez 
historicamente delimitável, que enquanto tal segue sendo a única válida, portanto não pode 
 
4 História dos Dogmas III, 2 parte, intr. 
 
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superar-se nem repetir-se” (Cf. H. e K. Rahner). A Igreja Apostólica é o estatuto (normativo) 
pelo qual se deve reger todo o discorrer da Igreja na história, ela está no início, no frescor do 
cristianismo e como tal permanece como período particular da «Ecclésia». 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 1. 
 
 
 
Dica de aprofundamento 
CONCÍLIO VATICANO II; Constituição Dogmática Lumen gentium. Disponível em: 
<http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html>. Acesso em: 21 dez. 2019. 
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html
 
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UNIDADE 2 
ABORDAGEM HISTÓRICA DA REFLEXÃO 
ECLESIOLÓGICA 
 
OBJETIVO DA UNIDADE: Entender o caminho histórico de sistematização das 
reflexões sobre a Igreja. 
 
 
2.1 O nascimento do tratado “De Ecclesia”: a ênfase “jurídica” e 
“apologética” inicial5 
 
“Os estudos atuais sobre a história da eclesiologia estão de acordo em situar o 
verdadeiro nascimento do tratado “De Ecclesia” na obra de Tiago Viterbo, De regimine 
christiano, publicada em 1301-1302. Com efeito, trata-se de um opúsculo que já pode ser 
considerado um verdadeiro tratado sobre a Igreja, no qual encontramos doutrinas de origem 
agostiniana – por exemplo, a doutrina teocrática – e outras de matriz tomista – por exemplo, 
a ideia do direito natural do Estado – combinadas num esforço conciliador que confere a essa 
obra um aspecto peculiar que permite classificá-la como uma obra de transição. Mas isso não 
significa que essa temática não estivesse presente antes disso, especialmente na eclesiologia 
patrística, nos primórdios da ciência canônica e nas “sumas medievais”. Damos a seguir os 
pontos mais relevantes dessas etapas. 
A eclesiologia patrística – Nos primeiros séculos, a eclesiologia era mais vida e 
consciência do que teologia sistemática. No centro dessa eclesiologia ante litteram está a 
realidade da comunhão entendida como vínculo entre bispos e fiéis, bispos e fiéis entre si, que 
se realiza e se manifesta de forma preeminente na celebração-comunhão eucarística. Essa 
comunhão era percebida como estrutura da Igreja e vivida muito intensamente na experiência 
cotidiana da Igreja, embora não fosse ainda objeto de reflexão sistemática. 
A eclesiologia nos primórdios da ciência canônica (séc. XII) – A ciência 
canônica aparece como disciplina própria no século XII, com Graciano. Muitas questões 
relativas aos sacramentos, ao matrimônio e à ordem pertencem desde então ao direito 
canônico. Este, por sua vez, a partir da reforma gregoriana (último terço do século XI) e das 
disputas entre papado e os reis ou imperadores, começou a elaborar uma eclesiologia dos 
poderes, das prerrogativas e dos direitos da Igreja. Por isso, durante muitos séculos, para 
 
5 http://docplayer.com.br/20354695-Introducao-a-eclesiologia.html 
http://docplayer.com.br/20354695-Introducao-a-eclesiologia.html
 
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tratar de tais questões, os teólogos se documentaram com os canonistas, especialmente com 
as Decretais de Graciano, que lhes forneciam argumentos. Vemos assim que a partir do século 
XI os reinos de Europa se afiançam em torno ao rei e ao imperador, surgindo defensores seja 
do poder régio como do poder papal. Ambas as autoridades se baseavam em ser ministros de 
Deus na terra (justificação teológica). No século XII se introduz os estudos sobre o direito 
romano e no século XIII redescobre-se o tratado sobre Política de Aristóteles, abrindo-se uma 
nova reflexão sobre o Estado e as suas relações com a Igreja. 
A eclesiologia nas “sumas medievais” – Falta às sínteses ou sumas medievais 
um tratado especial de eclesiologia, tanto na corrente franciscana (Alexandre de Hales, 
Boaventura...) como na escola dominicana (Alberto Magno, Tomás de Aquino...). 
 Qual seria o motivo de tal ausência? Observando bem aquela época histórica, podemos 
constatar que a realidade da Igreja penetrava de maneira espontânea a vida e a mensagem 
cristãs, de tal forma que não parecia ser necessária uma reflexão direta sobre si mesma, uma 
vez que toda a reflexão teológica se dava in médio Ecclesiae. O próprio Tomás de Aquino não 
explicitou esse tema, pois a Igreja estava presente e incluída em todas e em cada uma das 
partes de sua teologia como espaço e quadro vital. 
Vemos que a partir do século XIV os tratados sobre a Igreja (“De potestate papae” e 
”De potestate ecclesiastica”) têm como objetivo defender a autoridade do Papa. A Igreja se 
concebe como uma sociedade visível e organizada, respondendo às disputas entre papas e 
reis. Esta orientação marcará a eclesiologia até o umbral do CV II. 
Com a Contrareforma, a eclesiologia é compreendida como apologética (dar resposta 
à questão da verdadeira Igreja por oposição aos reformadores. O papado garantia a certeza 
de onde estava a verdadeira Igreja. Acentuam-se os direitos soberanos do Papa, confirmando 
a sua supremacia sobra a Igreja e o seu isolamento do corpo dos bispos. Podemos destacar 
neste período Roberto Belarmino (1542-1621) como modelo e pioneiro do tratado apologético 
sobre a Igreja “De controversiis” (1586-1593) com mais de trinta edições. Centra-se na Igreja 
como sociedade. 
Os tratados apologéticos dominam desde o século XVI até o Vaticano I: O problema 
da demonstração científica da verdade da Igreja católica, ou seja, a verificação de que o 
cristianismo romano está em continuidade total com as intenções e a obra de Jesus Cristo, 
fundador da Igreja, foi uma questão que se pôs desde o início, quando apareceram os 
primeiros cismas. Mas o capítulo da eclesiologia apologética clássica que se designa como 
demonstratio catholica é uma criação moderna: de fato, nem as heresias da antiguidade nem 
a separação entre o Oriente e o Ocidente cristãos ocorrida na Idade Média haviam provocado 
a crise religiosa que se verificou no século XVI, na qual se confrontaram diversas comunhões 
rivais que pretendiam ser as verdadeirasherdeiras de Cristo: catolicismo, anglicanismo e 
 
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protestantismo de vários tipos. O tratado De vera Ecclesia, não obstante certas antecipações 
como a de Tiago de Viterbo, a que já nos referimos, só é elaborado no século XVI e se 
consolida, se desenvolve e se transforma incessantemente por diversos séculos até ser 
relançado no Concílio Vaticano I (em 1870). 
Três são as formas tradicionais dessa eclesiologia configurada em três vias: 
 A via histórica, que, por intermédio do exame dos documentos antigos, procura 
mostrar que a Igreja católica romana é a Igreja cristã de sempre, que aparece na 
história como uma sociedade una, visível, permanente e hierarquicamente 
organizada. 
 A via notarum, que se desenvolve seguindo este silogismo: Jesus Cristo dotou a 
sua Igreja de quatro notas distintivas: a unidade, a santidade, a catolicidade e a 
apostolicidade: ora, a Igreja católica romana é a única a possuir essas quatro notas, 
portanto, é a verdadeira Igreja de Cristo, ficando assim excluídas as demais confissões 
cristãs, como o luteranismo, o calvinismo, o anglicanismo e a ortodoxia, por não as 
possuírem. 
 A terceira, finalmente, é a via empírica, adotada pelo Concílio Vaticano I, graças 
ao seu promotor, o cardeal Dechamps, que segue um método mais simples: abandona 
toda e qualquer comparação entre a Igreja romana e a antiguidade, para evitar as 
dificuldades suscitadas pela interpretação dos documentos históricos, como também 
a verificação concreta das notas, e avalia a Igreja em si mesma como milagre moral, 
que é como o sinal divino que confirma sua transcendência. Destas três vias, a via 
notarum foi a mais utilizada nos tratados eclesiológicos. 
A perspectiva eclesiológica do Concílio Vaticano I: A contribuição eclesiológica mais 
significativa desse concílio é sem dúvida aquilo que se refere à infalibilidade pontifícia na 
constituição dogmática Pastor Aeternus. Nela, o primado papal é vinculado à Igreja e tem 
como finalidade a preservação da unidade dessa mesma Igreja mediante a unidade do 
episcopado. O primado é primazia de jurisdição (DS 3053-3055), confiado a Pedro, como poder 
episcopal, ordinário e imediato, que se exercita sobre pastores e fiéis em matéria de fé e de 
costumes (DS 3061-3062). Essa infalibilidade é apresentada como fruto do carisma dado a 
Pedro e aos seus sucessores (DS 3071) e é assegurada ao papa enquanto sucessor de Pedro, 
em condições precisas e delimitadas na definição (DS 3074). Além da questão decisiva que se 
refere à infalibilidade, o Vaticano I elaborou um projeto de constituição dogmática intitulado 
De Ecclesia Christi, que, embora tenha sido amplamente discutido na sessão conciliar e 
retocado por meio de uma discussão posterior, não foi levado a termo, por causa da 
interrupção do concílio. Notemos que tanto o projeto de constituição, bem como sua segunda 
 
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versão refeita pelo teólogo P. Kleutgen, dedicava diversos capítulos à Igreja antes de começar 
a tratar do papa, o que demonstra que a eclesiologia católica não se restringia ao pontífice. 
2.2 Abordagem “sacramental” e “mistérica” da Igreja 
A fonte de uma visão mais sacramental da Igreja a encontramos na escritura e na 
patrística. É Ignácio de Antioquia o testemunho patrístico mais antigo que contém uma visão 
eclesiológica. Contempla a Igreja como a grande unidade que formam os santos, em cujo ápice 
está o bispo, os presbíteros e os diáconos. 
Para Agostinho a validez da função visível depende da situação espiritual pessoal, por 
isso a existência da igreja invisível (Cf. LG 14). Na patrística a Igreja é concebida como “Mãe”: 
portadora da salvação e geradora do homem novo mediante a Palavra e a celebração dos 
sacramentos/fraternidade e congregação (Cipriano). A Igreja é Santa (Ecclesia de Trinitate) e 
formada por homens (Ecclesia ex hominibus). 
Entrando no século XX se dá uma recuperação dogmática e mistérica da eclesiologia: 
“Corpo místico de Cristo” (Cfr. Mystici Corporis, Pio XII, 1943 com seu enraizamento bíblico-
paulino; “Povo de Deus” (não identificação da Igreja com a hierarquia, radical igualdade de 
todos os batizados e o caráter histórico escatológico da Igreja); 
A visão da Igreja como “Sacramento” (“mysterium-sacramentum”), ressalta a união 
da dimensão humana e divina da Igreja, superando a mera visibilidade; instrumento eficaz e 
signo manifestativo. 
 
 
 
2.3 Concílio Vaticano II: eclesiologia sacramental de comunhão 
 
Pela primeira vez na sua história secular, a Igreja deu uma definição de si mesma na 
constituição dogmática Lumen gentium e em outras constituições, decretos ou declarações do 
Concílio Vaticano II. Essa definição se caracteriza pela própria estrutura da Lumen Gentium 
(LG), evidente sobretudo nos seus dois primeiros capítulos: cap. I: “O mistério da Igreja”; cap. 
II: “O povo de Deus”; cap. III: “A constituição hierárquica da Igreja e de modo especial do 
episcopado”; cap. IV: “Os leigos”; cap. V: “Vocação universal para a santidade na Igreja”; cap. 
VI: “Os religiosos”; cap. VII: “Índole escatológica da Igreja peregrina e sua união com a Igreja 
celeste”; cap. VIII: “A Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus no mistério de Cristo e da 
Igreja”. Além disso, encontram-se muitos elementos de eclesiologia em outros documentos 
conciliares, como as outras três constituições: sobre a liturgia (Sacrosanctum Concilium), sobre 
a revelação (Dei Verbum), sobre a Igreja no mundo (Gaudium et spes); assim como nos 
decretos: sobre a atividade missionária na Igreja (Ad gentes), sobre o ministério dos bispos 
 
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(Christus Dominus), sobre o ministério dos presbíteros (Presbyterorum ordinis), sobre o 
apostolado dos leigos (Apostolicam actuositatem), sobre o ecumenismo (Unitatis 
redintegratio). 
Em todos esses documentos observa-se uma mudança decisiva na perspectiva sobre 
a Igreja: privilegia-se o seu caráter de mistério e, portanto, de objeto de fé, e ela não mais é 
apresentada diretamente como motivo de credibilidade, como acontecia no Vaticano I. Passa-
se, com efeito, de uma concepção que via a Igreja principalmente como “societas”, e que teve 
reflexos muito fortes no Vaticano I e nos tratados eclesiológicos subsequentes, a uma 
concepção mais bíblica, com uma raiz litúrgica, atenta a uma visão missionária, ecumênica e 
histórica, em que a Igreja é descrita como sacramentum salutis (LG 1,9,48,59; SC 5,26; GS 
42,45; AG 1,5) fórmula que é a base das afirmações do Vaticano II. 
Juntamente com essa reflexão, pouco a pouco se ressaltou que a visão eclesiológica 
do Vaticano II comporta um conceito renovado de “communio” (Comunhão) (LG 4,8,13-
15,18,21,24s; DV 10; GS 32; UR 2-4,14s., 17-19,22). Esta tem um significado básico de 
comunhão com Deus, da qual se participa por meio da Palavra e dos Sacramentos, que leva à 
unidade dos cristãos entre si e que se realiza concretamente na comunhão das Igrejas locais 
em comunhão hierárquica com aquele que, como bispo de Roma, “preside na caridade” a 
Igreja católica (cf. LG 13). Com razão afirmou o sínodo extraordinário de 1985: “A eclesiologia 
de comunhão é a ideia central-fundamental nos documentos do concílio” (C.1, EV 9, 1800). 
A Igreja (LG), sob a Palavra de Deus (DV), celebra os mistérios de Cristo (SC) para a 
salvação do mundo (GS). Assim, o Sínodo realizado em 1985 em Roma sobre o Vaticano II 
apresenta os elementos essenciais das quatro constituições conciliares que tem como sujeito 
a Igreja: opção por uma Igreja de comunhão (LG); primazia da Palavra de Deus na vida da 
Igreja (DV); centralidade da liturgia e da Eucaristia (SC); diálogo amistoso com o mundo 
contemporâneo (LG). 
A Igreja como mistério (LG I) é “ em Cristo como o sacramento ou sinal e instrumento 
da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1; 10 vezessacramento: 1.9.48.59; SC 5.26; GS 42.45; AG 1.5). 
A reflexão antecedente ao Vaticano II se pode resumir em dois aspectos: superar o 
pensamento que põe a Igreja em paralelo com as sociedades cíveis, para reinseri-la no evento 
salvífico (será o mistério da Igreja o que abre o horizonte e o sentido da missão) e deixar de 
girar em torno à hierarquia para reencontrar-se como comunhão de todos os batizados (dons, 
carismas, ministérios). 
O marco eclesiológico que se foi perfilando, superando a inércia do passado 
(eclesiocentrismo - societário; hierarcológico - jurídico; centralista – piramidal; triunfalista – 
autossuficiente; domínio – superioridade), apresentou as seguintes coordenadas: 
 
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• Igreja no mistério salvífico trinitário (profunda raiz mistérica). 
• Categoria bíblica de “povo de Deus”, afirmando a igualdade fundamental de todos 
os batizados e o chamado universal à salvação. 
• Reconhecimento do papel das igrejas particulares e a colegialidade episcopal. 
• Recuperação da história e escatologia, pondo de manifesto o caráter peregrino da 
Igreja. 
• Diálogo com realidades à margem da Igreja visível. 
Não obstante tudo, a reflexão eclesiológica hoje encontra dificuldades em torno à 
interpretação da eclesiologia do Concílio Vaticano II: nos textos aparecem diferentes 
tendências sem uma integração plena e a emergência de novos desafios aos que se tem que 
dar uma resposta desde as opções do Concílio. 
Hoje, a definição de igreja, a partir das diversas imagens que oferece o Concílio, 
contempla: articulação das igrejas particulares na Igreja Católica; colegialidade dos bispos; 
identidade do leigo a sua participação na vida eclesial; atitude ante o mundo e sinais dos 
tempos; desenvolvimento bíblico, relação com Jesus e eclesiologia do Novo Testamento; 
redescobrimento da tradição patrística; novas experiências eclesiais; novos modos de 
presença, urgência da evangelização. 
«A pessoa humana tem uma inata e estrutural dimensão social» e «a primeira e 
originária expressão da dimensão social da pessoa é o casal e a família6», podemos dizer que 
a dimensão eclesial responde a esta dinâmica relacional crescente, que de um pequeno núcleo 
(familiar), se abre até a dimensão de pertença a um Povo, que se constitui como família de 
Deus. 
 
2.4 Visão geral da Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG)7 
CAP. I: O MISTÉRIO DA IGREJA - A Igreja de Cristo sacramento da unidade dos 
homens em Deus, é um Mistério sobrenatural: nela se atua um desígnio do Pai celeste, que é 
o de convocar os homens para uma grande comunidade de irmãos do Cristo Jesus. Prenunciada 
desde o princípio do mundo, ela foi concretizada pela ação redentora do Espírito Santo, desde 
Pentecostes. 
Sendo uma presença germinal do Reino de Deus no mundo e na História, constitui o 
Corpo Místico de Cristo, onde a humanidade é vivificada sobrenaturalmente. Ao mesmo tempo 
que realidade espiritual e mística, é também possuidora de uma estrutura visível e hierárquica, 
 
6 João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-sinodal Christi fideles laicis 40, 30 de Dezembro de 1988. 
7 Cf. http://docplayer.com.br/20354695-Introducao-a-eclesiologia.html 
http://docplayer.com.br/20354695-Introducao-a-eclesiologia.html
 
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que subsiste na Igreja católica, apostólica, romana. Peregrinando na História até o dia de sua 
consumação, é chamada a prolongar a imagem e a missão do Cristo Servidor e Redentor. 
CAP. II: O POVO DE DEUS - Enquanto Povo de Deus no Cristo Jesus, a Igreja consta 
dos homens que creem em Cristo e exprimem no Batismo sua adesão a ele. Todos os fiéis 
participam do sacerdócio, do profetismo e da realeza do Cristo Jesus. 
Destinando-se a abrigar o inteiro e variegado gênero humano, o Povo de Deus tem, 
plenamente incorporados a si, os fiéis católicos (e em desejo os catecúmenos) quando, além 
dos sinais da fé (e comunhão eclesiástica), possuem o Espírito Santo. Os cristãos não católicos 
estão imperfeitamente incorporados, do ponto de vista dos sinais da fé. Os não cristãos estão 
ordenados, por diversas razões, ao mesmo Povo de Deus. Sendo do desígnio divino que todos 
os homens se incorporem perfeitamente ao Povo de Deus em marcha, compete à Igreja 
Católica uma tarefa essencialmente missionária de atração dos homens à plenitude dos sinais 
da fé. 
CAP. III: CONSTITUIÇÃO HIERÁRQUICA 
DA IGREJA8 - Cristo instituiu a Igreja visível ornada 
de ministérios. Instituiu sobretudo o Colégio 
Apostólico (sob Pedro), que se prolonga, de certo 
modo, no Colégio dos Bispos (sob o Papa). O 
Episcopado é conferido através de um sacramento, 
o qual não é outro senão a plenitude do sacramento 
da Ordem. 
Fonte: http://migre.me/vM8EA 
O Colégio Episcopal, unido ao Papa, seu Chefe, goza, como ele sozinho, de um poder 
supremo e pleno sobre a Igreja, o qual é exercido principalmente nos Concílios Ecumênicos. 
Cada Bispo, singularmente, só preside a uma Igreja particular, mas deve ter solicitude pelos 
interesses de toda a Igreja. Em seu ministério, devem e podem os Bispos ensinar, santificar e 
pastorear. Cooperadores da Ordem episcopal são os Presbíteros, que embora não possuam o 
ápice do pontificado, participam da mesma dignidade sacerdotal. No grau inferior da Hierarquia 
estão os Diáconos, servem ao Povo de Deus na liturgia, na pregação e na ação caritativa. 
CAP. IV: OS LEIGOS - Os fiéis que vivem no mundo, sem serem clérigos nem 
religiosos, são os leigos. Cabe-lhes realizar um apostolado não só de participação na 
 
8 O Capítulo sobre a Hierarquia é posterior ao Capítulo sobre o “Povo de Deus”. Se coloca “antes” aquilo que é 
comum a todos para posteriormente colocar os carismas e os lugares específicos dentro deste corpo. 
 
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evangelização dos homens, mas também de instauração cristã da vida temporal. Obedecem e 
colaboram com os pastores, dentro da obra comum que empreendem. 
CAP. V: A VOCAÇÃO UNIVERSAL À SANTIDADE - Todos na Igreja são chamados à 
santidade, a qual, porém, há de se desenvolver segundo modalidades diferentes, conforme os 
diferentes carismas, encargos, estados de vida. – A santidade consiste essencialmente na 
perfeição da caridade e tem à disposição muitos meios sobrenaturais, na Igreja. 
CAP. VI: OS RELIGIOSOS - Os cristãos que abraçam estavelmente os conselhos 
evangélicos da castidade, pobreza e obediência, chamam-se religiosos. Querem colher 
abundantes frutos da graça batismal e devotar-se ao bem da Igreja. Sua existência é feita para 
manifestar de modo especial a figura de Cristo e a ação do Espírito Santo, e para preludiar 
uma visão da escatologia. 
CAP. VII: ÍNDOLE ESCATOLÓGICA DA IGREJA PEREGRINANTE E SUA UNIÃO COM A 
IGREJA CELESTE - A Igreja, na terra, está ainda em caminho, não atingiu sua perfeição. Desde 
já, porém, comunga com os fiéis da Igreja celeste, aos quais venera como exemplares e 
amigos; e também com os defuntos que morreram em Cristo, e ainda necessitam de sufrágios. 
CAP. VIII: A BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA, MÃE DE DEUS, NO MISTÉRIO DE 
CRISTO E DA IGREJA - A Virgem Maria está no âmago do Mistério de Cristo e da Igreja, pois 
Deus quis que Cristo, Cabeça da Igreja, nascesse de suas entranhas. 
Prenunciada no Antigo Testamento, a Virgem é apresentada, no Novo, como aquela 
que aceitou ser cooperadora do desígnio divino da Redenção, e como a perene associada de 
todo o itinerário de Jesus Cristo. Por isso é venerada como a Mãe dos fiéis, na ordem da graça, 
experimentando a Igreja sua contínua intercessão materna. Maria deve ser dita ainda, por todo 
o mistério que nela se realizou, e por sua vida evangélica, o “tipo” da Igreja e o exemplar dos 
fiéis. À Maria se deve um culto especial, embora essencialmente distinto da adoraçãoque se 
presta a Deus e a Cristo. Nela a Igreja vê sempre seu ideal de esperança e conforto. 
 
2.5 Reflexões eclesiológicas a partir de Aparecida9 
Numa perspectiva de uma “eclesiologia de contexto”, chegamos a peculiar 
contribuição das reflexões da Igreja presente na América Latina, que se a V Conferência de 
Aparecida é um momento eclesial marcante no caminhar da Igreja na América Latina no 
horizonte do eixo Medellín-Puebla-Santo Domingo, por serem estas as três Conferências do 
 
9 As reflexões aqui contidas estão presentes neste link:https: //ccaliman.wordpress.com/2010/11/03/a-
eclesiologia-de-aparecida/ 
http://ccaliman.wordpress.com/2010/11/03/a-eclesiologia-de-aparecida/
http://ccaliman.wordpress.com/2010/11/03/a-eclesiologia-de-aparecida/
 
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Celam que marcaram o período pós-conciliar na tentativa de aplicar a renovação proposta pelo 
Concílio Vaticano II no contexto eclesial latino-americano. 
A V Conferência Geral tinha como objetivo “assegurar o rosto latino-americano e 
caribenho de nossa Igreja”, ou seja, dar continuidade à construção da nova consciência eclesial 
que vem desde o Concílio Vaticano II e se expressa nas Conferências de Medellín (1968), 
Puebla (1979) e Santo Domingo (1992). Seguindo o Concílio, a Igreja na América Latina e 
Caribe valorizou a Igreja local, sua originalidade, como sujeito da missão; e dentro da Igreja 
local, valorizou a figura do bispo e a variedade de ministérios e serviços (…) No início do séc. 
XXI somos convidados a discernir os “sinais dos tempos” nas mudanças de “alcance global” 
que afetam os indivíduos, sua subjetividade, sua compreensão do tempo e do espaço, seus 
desejos e demandas (…) Concretamente, o que mais se torna evidente no tempo que nos é 
dado viver é o impacto do pluralismo cultural e religioso, da sociedade da informação e da 
comunicação planetária. Essas mudanças de alcance global sinalizam para um fato eclesial 
novo: primeiro, no Documento de Aparecida (DA) os bispos tomam consciência do fim da “era 
constantiniana”, regida pela unanimidade católica; segundo, que essa passagem põe em crise 
o paradigma tradicional da transmissão da fé, que pressupunha a posse tranquila do espaço 
cultural, assegurando a socialização primária da fé eclesial. 
Resta-nos agora o desafio de buscar uma compreensão de Igreja em conformidade 
com as grandes intuições do Vaticano II, mas com o olhar voltado para o futuro. Afirma o DA: 
“Aqui está o desafio fundamental (…) mostrar a capacidade da Igreja de promover e formar 
discípulos que respondam à vocação recebida e comuniquem em todas as partes (…) o dom 
do encontro com Jesus Cristo” para o novo momento histórico (14). 
Tentemos agora captar os elementos que o DA nos oferece para construir, de forma 
coerente com a intenção da V Conferência, uma compreensão da Igreja que nos ajude a 
assimilar tanto a herança conciliar e pós-conciliar quanto os impulsos eclesiológicos do 
momento atual. Seguindo as indicações gerais do DA, organizamos nossa reflexão ao redor de 
três pontos: 1) Igreja discípula; 2) Igreja missionária; 3) Igreja servidora. 
 
2.5.1 Igreja discípula 
 
A Igreja, povo de Deus e comunidade dos fiéis, começa pelo anúncio da Palavra da 
vida. Por isso, a atitude fundamental da comunidade de Jesus é de ouvir essa Palavra que vem 
do Pai. É dele que nós aprendemos. Somos Igreja discente, sempre pendente do que Deus 
nos fala pelo seu Filho. A categoria do seguimento adquire, pois, fundamental importância para 
configurar o discípulo ao mestre. O seguimento partilhado nos faz Igreja, comunidade viva dos 
discípulos de Jesus Cristo pelos tempos afora. A fé em Jesus Cristo nos chega “através da 
 
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comunidade eclesial”. Este “estar com Jesus” como experiência eclesial da fé, como encontro 
pessoal com Jesus Cristo, nos constitui comunidade de discípulos corresponsáveis e 
participantes na vida que ele nos dispensa: na vida da comunidade, nos seus projetos e planos 
(cf. 371, 213) e, consequentemente, de forma constitutiva, na vida da Igreja discípula, na 
missão de Jesus. 
 
2.5.2 Igreja missionária 
 
A ênfase na missão mostra a nova consciência do Episcopado continental: a “era 
constantiniana” chegou ao fim. Com o advento da sociedade moderna pluralista, secular e 
fragmentada, a pastoral de conservação já não é mais suficiente. A Igreja tem que dirigir a 
sua atenção para a nova realidade em que está inserida e passar para uma pastoral 
missionária. É o que afirma o DA: “a conversão pastoral de nossas comunidades exige que se 
vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”. 
Uma pastoral missionária deve estar orientada pela perspectiva do Reino de Deus. 
Essa compreensão vem desde Israel histórico. Ele recebe a missão de Javé para ser “luz para 
as nações”. Não pode fechar-se sobre si mesmo. Ele deve ter seu olhar dirigido ao seu destino 
escatológico. Assim também a Igreja. Para ser “luz para as nações” a “Igreja peregrina” deve 
perceber de onde lhe chega essa luz, tomar consciência de sua índole escatológica. Habitada 
pelo Espírito, ela é “sacramento universal da salvação” (LG 48). “A Igreja peregrina é 
missionária por natureza, porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, 
segundo o desígnio do Pai” (AG 2, citado no DA 347). “Por isso o impulso missionário é fruto 
necessário à vida que a Trindade comunica aos discípulos”. A decorrência clara desse 
enraizamento trinitário é a índole missionária do discípulo. Por isso, todos os batizados somos 
chamados a “recomeçar a partir de Cristo”, missionário do Pai. 
 
2.5.3 Igreja servidora 
 
A terceira parte do DA vem na perspectiva do Reino. Aí encontramos, em diferentes 
pontos, acenos sugestivos para a nossa compreensão de Igreja. Ela é apresentada como 
“seguidora de Cristo e servidora da humanidade”; como “Igreja samaritana”. Citando o Papa, 
prossegue: “A evangelização vai unida sempre à promoção humana e à autêntica libertação”. 
Num Continente chamado de “Continente da esperança” (e agora também “do amor”, cf. 64, 
127s, 522, 537, 543), “as condições de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados 
em sua miséria e sua dor, contradizem este projeto do Pai e desafiam os cristãos a um maior 
 
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compromisso a favor da cultura da vida. O Reino da vida que Cristo veio trazer é incompatível 
com essas situações desumanas”. 
Na Igreja deve ressoar o programa de Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, 
porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos 
presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos, e para 
proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 18s). Isso significa que o anúncio do Reino não 
se faz por mera proclamação, mas com a prática de vida. Por isso, “a Igreja deve estar a 
serviço de todos os seres humanos, filhos e filhas de Deus”. 
A Igreja servidora, por fim, tem a certeza de que não está sozinha. Jesus lhe “oferece 
um alimento para o caminho. A Eucaristia é o centro vital do universo, capaz de saciar a fome 
de vida e felicidade”. E mais adiante o texto prossegue: “abramos os olhos para reconhecê-lo 
e servi-lo nos pobres”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 2 e a 
Atividade 2.1. 
 
 
 
Dica de aprofundamento 
KOLLING, João Inácio. Eclesiologia. Disponível em: 
<file:http://padrejoaoinacio.blogspot.com.br/2013/10/eclesiologia.html>. Acesso em: 21 
dez. 2019. 
http://padrejoaoinacio.blogspot.com.br/2013/10/eclesiologia.html
 
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UNIDADE 3 
ECLESIOLOGIA: ABORDAGEM SISTEMÁTICA 
 
OBJETIVO DA UNIDADE: Estudar sistematicamente os principais temas eclesiológicos 
na perspectiva doConcílio Vaticano II tendo em vista o conjunto da Tradição eclesial de 
matriz Católica (Romana). 
 
3.1 A Igreja como tema da confissão de fé 
 
Lex Orandi: 
“Creio na Igreja, uma, santa, católica e apostólica” (Símbolo Niceno-constantinopolitano) 
“Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Católica” (Símbolo apostólico) 
 
A parte sistemática do nosso estudo centra-se na origem, a natureza, a constituição 
e a missão da Igreja, como povo nascido da aliança com Deus. O termo grego “ekklesía”, do 
qual deriva o termo ecclesia, de que provém igreja, na Septuaginta traduz sempre a expressão 
qahal, que significa “aviso de convocação” e “assembleia reunida”. Esse termo foi introduzido 
na época do Deuteronômio, por volta do século VII a.C., com uma fórmula significativa: “O dia 
da assembleia” (Dt 4,10; 9,10; 18,16), que Moisés pronuncia como lembrança do dia em que 
o Senhor lhe ordenara que convocasse o povo em assembleia (qahal = ’ekklesía) para a 
celebração da aliança. Essa assembleia, além disso, aparece com o determinativo Kuríou (Dt 
23,1-8). É nessa linha que se encontra no discurso de Estevão em At 7,38 para indicar a 
assembleia do Sinai. No Novo Testamento, a frequência do termo igreja se tornará progressiva, 
pelo uso evangélico exclusivo presente em Mt 16,18; 18,17, até as mais de cem vezes – 144 
exatamente – em que é utilizada no restante do Novo Testamento (PIÉ-NINOT, 1998, p. 27). 
Ora, o termo grego “ekklesía” pode ser entendido tanto em sentido ativo como em 
sentido passivo, como prova a sua dupla tradução: de um lado, a igreja como convocação e, 
de outro, como congregação. Ambas as definições se encontram amplamente na patrística, e 
Santo Isidoro de Sevilha as tornou clássicas no Ocidente com esta formulação: Ecclesia 
convocans et congregans – convocação divina –, Ecclesia convocata et congregata – 
comunidade dos convocados (Etym. 8,1); S. Beda, jogando com o seu duplo significado, diz: 
“A Igreja gera constantemente a Igreja” (Expl. Ap I,2) e S. Cipriano distingue entre a Igreja 
“mãe” e a Igreja “fraternidade” (Ep. 46,2). Amba as dimensões se complementam para 
descrever aquilo que a Igreja é como “uma realidade complexa e análoga ao mistério do Verbo 
encarnado” (cf. LG 8). A Ecclesia de Trinitate (cf. LG 4), cuja missão ministerial tem origem na 
mesma Trindade, é ao mesmo tempo e sob outro aspecto Ecclesia ex hominibus, como “Igreja 
terrena” que entra na história dos homens (cf. LG 8,9). A Igreja, nessa perspectiva, é ao 
 
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mesmo tempo um ovil e um rebanho, é mãe e povo, é materno e fraternidade reunida. 
Parafraseando diversas citações patrísticas, pode-se falar, no primeiro sentido, da Ecclesia 
mater congregans; no segundo, da Ecclesia fraternitas congregata. 
O Vaticano II dá uma resposta à pergunta sobre se existe uma definição de Igreja 
quando, no cap. I da LG, afirma que ela é um mistério. Com efeito, mais do que definida, a 
Igreja pode ser apenas descrita, como lembrou o sínodo dos Bispos em Roma (1985), depois 
de haver enunciado a importância da Igreja sacramento e comunhão: “O Concílio descreveu 
de diversos modos a Igreja como povo de Deus, corpo de Cristo, esposa de Cristo, templo do 
Espírito Santo, família de Deus. Essas descrições se completam mutuamente e devem ser 
compreendidas à luz do mistério de Cristo e da Igreja em Cristo”10. 
Na nova aliança a Igreja é o povo de Deus, corpo de Cristo (1Cor 12,27, Rm 12,14, 
Ef 1,23; 4,15; 5,23; Col 1,18); templo do Espírito Santo (1Cor 3,16; Rm 5,5; Gál 4,6; Jo 16,13; 
Ap 22,17). A essência da Igreja está definida pela sua missão de ser em Cristo o sacramento 
da salvação (LG 1). 
O mistério da Igreja apresenta várias dimensões: a) sua origem na auto-comunicação 
do Deus trino (histórico - salvífica); b) comunidade empiricamente perceptível com uma missão 
divina, fundamentada na obra salvífica de Cristo (missionária); c) guiada pelo Espírito Santo 
(pneumatológica); d) vive no mundo, mas “não é do mundo”, pois aponta para a vida em Deus 
(Escatológica). 
Na confissão da fé a igreja aparece como sujeito da fé “Creio/cremos”; conteúdo 
da fé em Deus e na sua ação salvífica “... e na Igreja que é una, santa…” (DH 1-76; 1-40; 
86,150). A igreja não crê em si mesma. Crê em Deus, e se entende na fé como fruto da 
vontade salvífica de Deus que age na história. No símbolo de fé a comunidade confessa a sua 
fé na igreja, mas no seio de uma história salvífica cujo protagonista radical é último é Deus 
que se revela. Aceita a igreja como objeto da fé na medida em que o ato de crer se remete 
inteiramente ao destinatário supremo do ato de crer. 
Podemos falar que o ato de crer possui duas dimensões: pessoal e eclesial. “As 
Escrituras mostram que a dimensão pessoal da fé se integra na dimensão eclesial; se encontra 
tanto o singular quanto o plural da primeira pessoa: “Nós acreditamos” (Gl 2,16), e “Eu 
acredito” (cf. Gl 2,19-20). Em suas cartas, Paulo reconhece a fé dos cristãos como uma 
realidade ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Ele ensina que qualquer pessoa que confessa 
que “Jesus é o Senhor” está inspirada pelo Espírito Santo (1Cor 12,3). O Espírito incorpora 
todos os fiéis no Corpo de Cristo e lhe dá um papel especial na construção da Igreja (1Cor 
 
10 Cf. http://docplayer.com.br/20354695-Introducao-a-eclesiologia.html 
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12,4-27). Na carta aos Efésios, a confissão de um só e único Deus está ligada à realidade de 
uma vida de fé na Igreja: “Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança 
da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só 
Deus e Pai de todos, que está acima de todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4,4-6)”11. 
No símbolo da fé a igreja aparece como a primeira das obras do Espírito. Assim, o 
pressuposto da eclesiologia não pode ser outro que a ação salvífica do Deus trinitário. E é isto 
o que designamos como “Mistério”. De fato, o Concílio Vaticano II (LG e GS) situa a igreja no 
mistério de Deus. Esta categoria permite dar coesão às distintas imagens, definições e 
dimensões da igreja. 
Mistério designa a vontade positiva de Deus de conduzir na história um desígnio de 
salvação. Tem a sua origem na vontade de Deus, escapando ao controle humano, mas 
desvelando-se revela toda a sua glória. E justamente na história humana cheia de decepções, 
o mistério pode-se converter em categoria soteriológica e em garantia da fidelidade inesgotável 
de Deus que age em favor dos homens, não obstante o pecado e o drama da liberdade humana 
(Cf. Gn 3,15; Ap 21, 1-4). 
Para a literatura paulina o mistério designa os segredos de Deus em quanto se fazem 
presentes na história e são perceptíveis (Rom 16,25-26; 1Cor 2,6), se realiza em Jesus Cristo 
(Col 4,3; Ef 6, 19; 1Tim 3,9.16; 1Cor 1,23), também com conotações cósmicas e universais (Ef 
1,9-10; 3,1-12). A igreja, portanto, faz parte do mistério de Deus, no seu projeto de restaurar 
todas as coisas em Cristo. A igreja só pode ser compreendida dentro do dinamismo do amor 
trinitário. 
O símbolo Apostólico (S. III) diz: “Creio no Espírito Santo, a santa Igreja católica... 
(sem “eis” ou “in”), com a qual se inicia cada um dos artigos do Símbolo (Pai, Filho e Espírito 
Santo). Assim, a Igreja não se apresenta como objeto de fé. Se crê no Deus trino “na” Igreja 
(eclesialmente). (CIC 749) 
A Igreja não é nem objeto, nem término, nem conteúdo da fé, senão uma dimensão 
intrínseca da fé. “Crer na Igreja” significa a modalidade sacramental característica da profissão 
da fé cristã que se expressa no crer eclesial-mente. 
Ao contrário no credo niceno-constantinopolitano (tradição oriental), no original grego 
usa-se a partícula “eis” (que indica o objeto compreendido no ato de crer).

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