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1 Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online Módulo 4 Patrick Schmidt Professor Doutor – Campus Experimental de Registro/Unesp Luiz Gustavo Nussio Professor Associado Depto. Zootecnia USP/ESALQ Desempenho animal e balanceamento de rações com cana para bovinos de corte e leite Cana-de-açúcar para alimentação animal: produção, balanceamento de rações e desempenho Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Composição química da cana-de-açúcar Quando falamos em Cana-de-açúcar, nos referimos à plantas que podem ter valores nutricionais bastante distintos Levantamento de amostras comerciais de cana-de-açúcar apontam grande variação no teor de nutrientes dessa planta n – número de amostras avaliadas a Variedade IAC86-2480, hidrolisada com 1% de cal virgem. b Cana-de-açúcar após florescimento. 9,804,076,167pH da forragem fresca 6,93b3,564,7323Lignina (% MS) 63,937,9a47,323FDN 69,553,964,526NDT estimado (%) 6,420,81a3,1033Matéria mineral (% MS) 1,280,310,7326Extrato etéreo (% MS) 4,431,192,7333Proteína bruta (% MS) 33,920,427,721Matéria seca (%) Valor máximoValor mínimoMédianVariável Tabela 1 – Composição média a amplitude de variação de amostras de cana-de-açúcar analisadas no Laboratório de Bromatologia da USP/ESALQ entre os anos de 2000 e 2006. 2 Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Composição química da cana-de-açúcar Assim, um primeiro ponto de atenção é o teor de açúcar (energia) da cana que está sendo usada na propriedade. Quanto maior for esse valor, maiores serão as respostas em desempenho dos animais, se os outros nutrientes (proteínas e minerais) estiverem balanceados. Os principais fatores que afetam o teor de açúcar na cana são: Variedade utilizada Época de colheita Correção e adubação do solo Presença de plantas invasoras O principal objetivo ao se fornecer cana para bovinos é promover a ingestão de açúcar, que tem elevada digestão e valor energético. Esse fator deve ser considerado em primeiro lugar, sendo mais importante até que o fornecimento conjunto dos ingredientes concentrados. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Composição química da cana-de-açúcar Da mesma forma, o tamanho médio de corte (partículas) pode influenciar o consumo e o desempenho dos animais, pois partículas cortadas em tamanho grande permanecem mais tempo no rúmen dos bovinos, até serem digeridas e passarem para o intestino. Partículas moídas em tamanho pequeno (abaixo de 1 cm) são degradadas mais rapidamente e passam para o intestino de forma mais rápida, abrindo “espaço” para que o animal consuma mais cana e, indiretamente, consuma mais açúcar. As figuras mostram o tamanho de partículas de cana, antes e após a afiação das facas de uma picadora estacionária. O tamanho médio foi reduzido de 4,2 para 0,9 cm, com efeito direto sobre o consumo dos animais. 3 Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Silagem da cana-de-açúcar Todas as vezes que uma forragem é conservada na forma de silagem ocorrem perdas de qualidade e quantidade. Por isso, a grande preocupação na ensilagem da cana-de-açúcar é utilizar aditivos eficientes que minimizem essas perdas, conforme já mencionado nesse curso. Além da qualidade da cana-de- açúcar que deu origem à silagem, o nível de perdas ocorridas durante o processo irá afetar o valor nutritivo desse alimento. Experimentos realizados pelo Depto. de Zootecnia da USP/ESALQ têm mostrado consumos de MS e desempenho semelhantes para bovinos que receberam cana-de-açúcar fresca ou ensilada com aditivos eficientes. Assim, preservando a energia da forragem durante a conservação, os cuidados com correção de nutrientes da cana-de-açúcar devem ser os mesmos, sendo ela fresca ou conservada (silagem). Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Silagem da cana-de-açúcar A variação observada na composição química de silagens de cana-de- açúcar é decorrente de variações na composição da planta que foi ensilada e na intensidade de perdas (fermentação etanólica) que ocorreu durante a ensilagem. 65,765,665,61DIVMS 4,673,694,135pH 28,824,026,42N-FDN (% N total) 7,154,895,978Lignina (% MS) 72,446,256,610FDN 69,553,858,915NDT estimado (%) 5,682,073,7916Matéria mineral (% MS) 1,860,671,1715Extrato etéreo (% MS) 6,261,743,3816Proteína bruta (% MS) 57,224,630,216Matéria seca (%) Valor máximoValor mínimoMédianNutriente Tabela 2 – Amostras de silagem de cana-de-açúcar analisadas no Laboratório de Bromatologia da USP/ESALQ entre 2000 e 2006. 4 Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Silagem da cana-de-açúcar Estudos realizados por Schmidt (2006) mostram que quanto maior for o teor de açúcar da planta de cana utilizada para confeccionar a silagem, maiores são os riscos de perdas. Assim, ao se trabalhar com materiais de alta qualidade e colhidos na época certa, deve-se preocupar mais com a inclusão correta de aditivos! Os produtos da fermentação da cana-de-açúcar, como os ácidos acético e lático são totalmente aproveitados pelo animal, elevando o valor energético da silagem, em relação ao verificado nas análises bromatológicas tradicionais. Outro fator importante a se considerar na adoção de silagem de cana-de-açúcar como volumoso é o período de transição. A transição de rações, de outros volumosos como silagens de capim ou milho, para rações contendo silagem de cana-de-açúcar, deve ser lenta e gradual. A experiência do Departamento de Zootecnia da USP/ESALQ tem mostrado ligeira redução em consumo e desempenho de bovinos de corte, na fase inicial de transição. Isso pode ser devido ao alto teor de componentes voláteis, como ácido acético e etanol, que causam refração do consumo, até a adaptação dos animais. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Balanceamento de rações A cana-de-açúcar é extremamente pobre em proteínas, e esse nutriente deve ser corrigido para utilizar essa forragem. A fonte tradicional de proteínas para usar com a cana é a uréia. Porém os resultados em desempenho são bastante limitados. Atualmente têm-se buscado trabalhar com fontes de proteína verdadeira, que permitem maior aproveitamento da energia da cana e melhor desempenho dos animais. As principais fontes de proteínas verdadeiras usadas são: Farelos de soja, algodão e glúten de milho (Refinazil/Promil) Caroço de algodão ou soja em grãos Da mesma forma, a inclusão de fontes de amido contribui para elevação do teor de energia das rações, embora o amido não se mostre essencial. Os principais ingredientes energéticos usados em rações contendo cana-de-açúcar são: Grãos moídos de milho e sorgo Resíduos agroindustriais como polpa cítrica peletizada, farelo de trigo, resíduos do beneficiamento de arroz, mandioca, soja, etc. 5 Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Balanceamento de rações O número de opções de alimentos para balancear rações com cana-de- açúcar é bastante grande, porém alguns fatores devem ser considerados para se proceder a escolha: Custo por unidade do nutriente fornecido (R$/t PB; R$/t NDT) Relação entre PDR e PNDR Fornecimento de minerais (principalmente P) e outros nutrientes. Na prática têm-se trabalhado muito com a mistura cana+subprodutos (polpa cítrica, glútem de milho, casquinha de soja), como forma de baratear o custo de alimentação dos animais! Embora a utilização de ingredientes concentrados acarrete elevação no custo das rações, em R$/kg ou R$/animal/dia, as receitas decorrentes da utilização dessas rações são maiores, devido ao aumento na produção. Acompanhe o exemplo a seguir de três níveis de suplementação de vacas mestiças (600 kg PV) em pastagem de Braquiarão, recebendo cana-de-açúcar e concentrados (dados estimados pelo NRC, 2001): Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Balanceamento de rações 5,522,561,30Receita R$/animal/dia 0,150,180,21Custo/L 0,460,460,46Pagamento do Leite, R$/L 24,728,931,7Consumo, kg MV/dia 10,08,78,2Consumo, kg MS/dia 17,99,15,1Produção de leite, L/dia 2,711,631,05Custo de alimentação, R$/dia Variáveis 5,062,070,42Total concentrado (kg/vaca/dia) 0,270,270,27Mineral 0,100,140,15Uréia 3,911,24-Farelo de algodão 28% 0,780,41-Milho grão 4,6011,816,3Pastagens (estimado) 15,015,015,0Cana-de-açúcar Ingredientes (kg MV/dia) Cana+0,8%PVCana+0,3% PVCana+uréia 6 Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Balanceamento de rações Pode-se observar que suplementos contendo apenas cana-de-açúcar corrigida com uréia acarretam menor custo de alimentação por dia, porém maior custo de produção e menor receita líquida do leite, em função da baixa produção. Ainda, a adoção de fontes de energia e proteína verdadeira acarretaram elevação no custo diário de alimentação e na produção de leite, com conseqüente elevação na receita por animal por dia. Embora a adequação de fontes de proteína e energia em rações seja fundamental, a qualidade da cana-de-açúcar utilizada influencia diretamente o consumo e desempenho dos bovinos. Simulações feitas com três teores de FDN (fibra) da cana- de-açúcar (44, 54 e 64%) evidenciam a importância da qualidade do volumoso no desempenho dos animais 29,6 26,4 19,719,0 16,7 15,0 13,6 11,3 9,5 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 44 54 64 FDN da cana-de-açúcar, % MS K g/ di a Produção de Leite Consumo total de MS Consumo de MS de cana-de-açúcar Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Balanceamento de rações Pode-se concluir através dessa simulação que a elevação média de duas unidades no teor de FDN da cana-de-açúcar levaram a redução de um kg de leite/vaca/dia. Ainda, cada cinco unidades em acréscimo no teor de FDN da cana-de-açúcar levou ao decréscimo de um kg no consumo de MS total, correspondente a redução de mesma intensidade no consumo de MS do volumoso exclusivamente. Ou seja, antes de se pensar em formular rações complexas, deve-se investir no ganho de qualidade da cana-de-açúcar utilizada. 7 Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Desempenho de bovinos leiteiros Embora tradicionalmente essa planta tenha sido indicada para animais de baixa produção, em virtude da limitada qualidade da cana produzida, alguns dados mostram resultados bastante satisfatórios, para vacas de produção até 32 litros/dia, alimentadas com cana-de-açúcar. Trabalhos tem sido realizados comparando-se cana-de-açúcar fresca e ensilada com silagens de milho, o volumoso tradicional para vacas leiteiras 1 Produção de leite corrigida para 4% de gordura. Letras diferentes, na mesma linha, diferem estatisticamente entre si (P<0,05). Fonte: Queiroz (2006). 0,7324,022,123,022,1Produção de Leite 4% G1 0,7525,524,425,224,2Produção de Leite(kg/dia) 0,1221,6c23,5a23,5a22,3bConsumo de MS (kg/dia) EPMSil. deMilho Sil. de Cana Cana fresca + Sil. de milho Cana FrescaVariáveis Consumo e produção de leite de vacas holandesas confinadas e alimentadas com diferentes volumosos. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Desempenho de bovinos leiteiros Nota-se que não houve diferenças na produção de leite entre os tratamentos testados, embora as vacas que consumiram silagem de milho cerca de 1 kg a mais de leite por dia. Da mesma forma, as diferenças entre rações contendo cana fresca ou ensilada foram bastante reduzidas. Esses dados reiteram o potencial elevado das rações com base em cana-de- açúcar e colaboram com as evidências recentes de possibilidade de uso da cana como volumoso de escolha para animais de maior potencial produtivo. Contudo, deve- se proceder o correto balanceamento das rações com ingredientes protéicos e energéticos, de acordo com as exigências do animal, visando obter resultados satisfatórios na substituição da silagem de milho pela cana-de- açúcar fresca ou ensilada. 8 Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Desempenho de bovinos de corte A cana-de-açúcar pode ser incluída em diferentes quantidades nas rações para bovinos de corte. Dietas de “alto grão”, com mais de 80% de concentrado utilizam a cana-de-açúcar como fonte de fibra efetiva capaz de estimular a ruminação. Por outro lado, é possivel alimentar bovinos com 100% de cana+uréia. Os consumos de MS reportados na literatura são variáveis, entre 1,50 e 2,73% do peso vivo dos animais. As respostas em ganho de peso, de forma semelhante, também variam, com ganhos reduzidos de 160g até valores superiores a 1,5 kg diário, resultante de formulações contendo 40% de cana- de-açúcar na composição da MS da ração. Atualmente tem-se preconizado rações contendo 30 a 40% de cana-de-açúcar (fresca ou ensilada), e ingredientes concentrados, preferencialmente sub- produtos agroindustriais. Vale lembrar a importância dos cuidados com tamanho de partículas da forragem e teor de sacarose na planta, como determinantes do bom desempenho dos animais. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Desempenho de bovinos de corte Conforme relatado, os produtos da fermentação da cana-de-açúcar ensilada, como o ácido acético, possuem alto valor energético, e não são considerados nas avaliações bromatológicas tradicionais. Assim, algumas correções devem ser efetuadas ao incluir a silagem da cana-de-açúcar em programas de formulação de rações: Para silagens aditivadas, considerar aumento relativo de 3 a 10% no teor de proteína bruta O teor de NDT esperado situa-se entre 50-52% para silagens sem aditivos e 56-58% para silagens aditivadas Rações formuladas com alta inclusão de concentrados (milho ou polpa cítrica, 70% da MS) e silagem de cana-de-açúcar propiciam ganhos de peso de 1,48 a 1,75 kg/dia, sem a observação de qualquer distúrbio metabólico. Em níveis mais moderados de concentrado, variando de 50 a 55% da MS, tem-se observado ganhos de peso de 1,0 a 1,2 kg/dia, com consumo e desempenho maior para os animais alimentados com silagens aditivadas, em relação à silagens sem aditivos. 9 Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Desempenho de bovinos de corte Levantamentos de custos de suplementação com alimentos volumosos têm mostrado que a cana fresca, colhida mecanicamente, é o volumoso de menor custo de produção e que produz a @ mais barata, dentre as principais fontes de forragem. A opção pela ensilagem ou fornecimento de cana fresca, deve levar em consideração a elevação nos custos, o ganho em operacionalidade, logística e a redução de riscos agrícolas na propriedade, proporcionados pela conservação desse volumoso. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Resumo dos pontos mais importantes Grande variação na composição química de plantas de cana fresca e silagens; Necessidade de maximizar o teor de açúcar da cana; Efeito deletério do tamanho de partículas elevado sobre o consumo de MS e desempenho dos animais; Produtos da fermentação de silagens de cana-de-açúcar apresentam considerável valor energético; Necessidade de correção dos teores protéicos e de minerais; Possibilidades de alto desempenho adicionando fontes de proteína verdadeira e energia; Produção de leite semelhante à de rações contendo silagem de milho, quando bem corrigida; Produção de carne semelhante em rações contendo cana fresca ou ensilada.
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