Buscar

Alfredo Bosi - o ser e o tempo da poesia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Bosi – O ser e o tempo da poesia
Prefácio – Poesia e historicidade
Pergunta: o que faz de um poema poesia?
Poesia é uma linguagem singular: Escreveu a 25 anos do momento do prefácio. “O alvo a atingir era e ainda é compreender uma linguagem que combina arranjos verbais próprios com processos de significação pelos quais sentimento e imagem se fundem em um tempo denso, subjetivo e histórico” (BOSI, 2000, p. 9). 
“a noção de encontro de tempos é o lugar privilegiado de todo percurso teórico empreendido” (p.9).
Núcleo da proposta: “captar o nexo íntimo entre o fluxo sonoro do texto, a sua constelação de figuras e o seu pathos; até aqui, o ser da poesia. Em seguida, atentar para a sua presença e o seu significado no curso do tempo intersubjetivo, social, que é a cultura vivida por gerações de leitores: o tempo histórico da poesia” (p.9).
Crítica à visão que isola elementos do poema, não o vê como totalidade: “O texto, vista assim de maneira unilateral, ora é reduzido a uma dada estrutura de fonemas da qual teria emergido aleatoriamente o seu sentido; ora é identificado com algumas de suas imagens às quais se emprestaria uma coerência psicológica ou mítica; ora, enfim, é decifrado como uma alegoria atrás da qual se perfilariam lugares ideológicos do autor ou de sua cultura” (p.10).
Cama uma dessas visa de acesso pode apreender um aspecto que diferencia a expressão poética de outros discursos, mas “o leitor sensível ao poema pressente que cada face de um poliedro já não será mais face-de-poliedro se for cortada e separada da figura múltipla e uma que ela integra” (p.10).
Na época da escrita do livro, o estruturalismo linguístico, o e. antropológico, Althusser e Poulantzas estavam em voga. “O sentimento do tempo cedia lugar a uma análise espacializadora dos processos econômicos de produção. O sujeito, com sua memória, imaginação e consciência – eclipsava-se ou, na melhor das hipóteses, aparecia apenas como efeito de mecanismos estruturais e causais cuja consistência lembrava a petrificação das categorias das categorias da sociologia positivista do começo do século” (p.11). Um materialismo histórico refratário à história sufocava sob o peso da coisa econômica “todas as suas inspirações humanistas, hegelianas ou proféticas; e à força de esconjurar toda e qualquer visada existencial, apertava os parafusos da sua engrenagem de causas e efeitos” (p.11).
A intenção destes ensaios era “relativizar” (no sentido forte de pôr-em-relação) algumas fórmulas autocentradas, inclusive nos discursos da Linguística, então moeda corrente nos meios universitários; e sustentar, contra a maré, que a interaçao de sons, imagens, tom expressivo e perspectiva é um processo simbólico delicado, flexível, polifônico, ora tradicional, ora inovador, numa palavra, não mecânico” (p.11-12).
“Quanto às relações do poema com os tempos da sociedade, importava trazer à luz da consciência as respostas muitas vezes tensas que a obra poética dá às ideologias dominantes, venham estas do mercado, do poder de Estado ou das várias instituições senhoras da palavra” (p.12). Partindo de Hegel, “o intuito era confrontar, e não meramente identificar, a poesia com “o estado intrincado da vida burguesa e política” (p.12, grifos do autor). 
A poesia “não como um objeto fabricado pelas combinações da Langue, seu suporte, ou por uma onipotente máquina ideológica, mas como um processo singular e inventivo de significação que, em vez de ópio de literatos alienados, almejava e às vezes consegui ser “a alma de um mundo sem alma”” (p.12). 
“é preciso repensar dialeticamente o conceito de historicidade da obra poética” (p.13).
Não se trata de “encerrar o texto na sua contingencia imediata”, mas de “vazar os muros de um cronologismo apertado, e ler a obra do poeta à luz da história da consciência humana, que não é nem estática nem homogênea, pois traz em si os trabalhos da memória e as contradições do pensamento crítico” (p.13).
Pergunta pertinente ao se tratar de uma prática simbólica tão densa como a poesia: “E qual fase da história foi vivida só de instantes presentes, pura e abstrata contemporaneidade sem memória nem projeto, sem as sombras ou as luzes do passado, sem as luzes ou as sombras do futuro?” (p.13).
Método de análise do poema: “Contextualizar o poema não é simplesmente datá-lo: é inserir as suas imagens e pensamentos em uma trama já em si mesma multidimensional; uma trama em que o eu lírico vive ora experiências novas, ora lembranças de infância, ora valores tradicionais, ora anseios de mudança, ora suspensão desoladora de crenças e esperanças. A poesia pertence à História Geral, mas é preciso conhecer qual é a história peculiar imanente e operante em cada poema” (p.13). muito adequado para a discussão sobre o Elomar, pensar as imagens na trama, o anseio de mudança e a esperança.
 Exemplo de como o crítico literário deve proceder: “Que experiência calada no sujeito terá suscitado esta e não aquela imagem metafórica? No caso do texto narrativo, que lembranças ou que sonhos deram vida àquela personagem? Terá sido uma emoção que tomou corpo em uma figura. Ou a memória de uma situação sofrida a anos, se não quase perdida na infância. Ou a leitura empática de outro texto que serviu de estímulo à nova escrita. Ou a necessidade de amarrar com o fio da alegoria um nó existencial recorrente” (p.14). exemplos de experiências que motivam o escritor a escrever.
Método: “O fato de essas várias pistas serem pertinentes leva o intérprete a assumir uma posição de cautela na hora sempre arriscada de historiar a gênese de um texto que traz em si marcas de tempos diversos convergentes na sua produção.” Há algo do universo do testemunho aqui... “Só uma concepção renovada de historicidade da prática simbólica pode dar conta das imbricações de sujeito e trama social, mesmo porque o que chamamos genericamente de “sociedade” entra no sujeito na medida em que o sujeito se forma e se transforma no drama das relações com os outros sujeitos e consigo mesmo” (p.14). desdobrar essa discussão, que se enlaça com uma postura metodológica e com uma visão de mundo.
“Da noção de encontro de tempos tanto pode emergir uma teoria retórica que vê o texto como variante de um topos extraído do cânon literário (ou seja, o passado regendo o presente), como uma leitura do poema como expressão poliédrica, em parte herdada, em parte inventada, pela qual o poeta enfrenta a rotina retórico-ideológica usando livremente, para seus fins, instrumentos da tradição.” Hegel: “É exatamente a liberdade da produção e das configurações que fruímos na beleza artística” (p.15).
Hegel: “O estado das coisas de nossa época não é favorável à arte” (p.15).
 Era dos extremos: “em que a mais alta tecnologia de informação e comunicação opera em um mundo ainda mergulhado na violência do capitalismo, dos nacionalismos fanáticos e do mais cínico individualismo” (p.15-16).
Os usos dos meios e recursos formais se transformam historicamente: “Salta aos olhos um acentuado grau de defasagem entre a manipulação dos meios e recursos formais, hoje postos à disposição de milhões de homens e mulheres graças à pletora da informática, e o trabalho individual do pensamento crítico, da consciência ética e da expressão artística” (p.16).
“Verifica-se a defasagem de tempos. O tempo rápido dos meios descartáveis não é o tempo lento e cumulativo da formação dos emissores das mensagens” (p.16).
“No entanto, e quase sempre em tom menor, homens e mulheres de nossos dias ainda lêem e escrevem poemas, pois nela encontram a melhor forma de converter em palavras o sumo da sua experiência e o limite móvel de senso e não-senso do que é cotidiano. Homens e mulheres de nosso tempo ainda lêem e criam poesia como se a sentença provocadora de Adorno - “escrever poemas depois de Auschwitz é um ato de barbárie” - merecesse uma animosa interrogação: Por que a barbárie deve prevalecer?” (p.17).
“Hoje, a obra de arte e de poesia, sob o império do mercado, tornou-se, como pensava o mesmo Hegel, e mais do que nunca, “essencialmenteuma pergunta, uma interpelação que ressoa, um chamado aos ânimos e aos espíritos”. E onde há perplexidade, há esperança, um fio de esperança, de recomeço” (p.17).
1 Imagem, Discurso
“A experiência da imagem, anterior à palavra, vem enraizar-se no corpo” (p.19).
“A imagem é um modo de presença que tende a suprir o contato direto e a manter, juntas, a realidade do objeto em si e a sua existência em nós” (p.19).
“A imagem pode ser retida e depois suscitada pela reminiscência ou pelo sonho. Com a retentiva começa a correr aquele processo de co-existência de tempos que marca a ação da memória: o agora refaz o passado e convive com ele” (p.19).
“O nítido ou o esfumado, o fiel ou o distorcido da imagem devem-se menos aos anos passados que à força e à qualidade dos afetos que secundaram o momento de sua fixação. A imagem amada, e a temida, tende a perpertuar-se: vira ídolo ou tabu. E a sua forma ronda nos como pungente obsessão” (p.20).
“As artes da figura supõe esse momento de quase-idolatria” (p.20).
“Formada, a imagem busca aprisionar a alteridade estranha das coisas e dos homens” (p.20). Bosi fala sobre o desenho inscrito, na criança e no selvagem. Sendo um esquema, pura linha, abstração, não significa menor poder sobre o objeto; antes, é sinal de uma força capaz de atingir a estrutura que sustém a coisa, e bastar-se com ela” (p.20).
A imagem é afim aos ver aparecer e parecer. “O objeto dá-se, aparece, abre-se (latim: apparet) à visão, entrega-se a nós enquanto aparência: esta é a imago primordial que temos dele. Em seguida, com a reprodução da aparência, esta se parece com o que nos apareceu” (p.20).
Semblante, p.20.
Presença, experiência, corpo que olha, p.21. “Para nossa experiência, o que dá o ser à imagem acha-se necessariamente mediado pela finitude do corpo que olha. A imagem do objeto-em-si é inaferrável; e quem quer apanhar para sempre o que transcende o seu corpo acaba criando um novo corpo: a i,agem interna, ou o desenho, o ícone, a estátua” (BOSI, 2000, p.21).
“A Teoria da Forma ensina que a imagem tende (para nós) ao estado do sedimento, de quase-matéria posta no espaço da percepção, idêntica a si mesma” (p.22).
“o imaginado é, a um só tempo, dado e construído. Dado enquanto matéria. Mas construído enquanto forma para o sujeito. Dado: não depende da nossa vontade receber as sensações de luz e cor que o mundo provoca. Mas construído: a imagem resulta de um complicado processo de organização perceptiva que se desenvolve desde a primeira infância” (p.22).
“A imagem nunca é um “elemento”: tem um passado que a constituiu; e um presente que a mantém viva e que permite a sua recorrência.” Caracteres como simétrico/assimétrico, simples/complexo, entre outros, “dependem da situação de equilíbrio – ou não – das forças óticas e psíquicas que interagem em um dado campo perceptual” (p.22). e 23, Gestalt: lei da pregnância e constância da forma.
A imagem é finita e simultânea.

Outros materiais