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A ALIMENTAÇÃO DA CRIANÇA DE 0 A 3 ANOS

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A ALIMENTAÇÃO DA CRIANÇA DE 0 A 3 ANOS 
UM CAMINHO ANTROPOSÓFICO 
 
UM ESTUDO SOBRE A ALIMENTAÇÃO INFANTIL SEGUNDO A 
ANTROPOSOFIA 
 
Monografia de: Patrícia Alvarenga Ferreira 
 
1. Resumo: 
Este trabalho aborda o tema da alimentação da criança de 0 a 3 anos sob o olhar da 
antroposofia, ciência espiritual criada por Rudolf Steiner no séc XIX. A proposta de 
resgatar uma alimentação natural e saudável focada nas necessidades de cada fase do 
desenvolvimento infantil é o principal assunto desenvolvido neste artigo. Trata-se de uma 
exposição de como os alimentos atuam formando e estruturando o corpo da criança 
através do amadurecimento dos sistemas metabólico, rítmico e neuro-sensorial ao longo 
dos primeiros anos da infância. Dessa forma propõe um caminho de reflexão sobre os 
prejuízos à saúde causados pela má alimentação e algumas formas de sanar este problema. 
2. Introdução: 
A alimentação é um tema central na vida do homem e de grande relevância na educação 
da criança pequena. É através dela que o ser humano obtém elementos necessários à 
manutenção de sua existência física no mundo. Apesar disso, constata-se atualmente que 
este assunto tem sido motivo de grande preocupação e angústia para pais e educadores 
que, cada dia mais, precisam lidar com crianças inapetentes, com distúrbios físicos e 
emocionais relacionados aos maus hábitos alimentares. 
Este artigo parte da constatação de uma realidade alarmante sobre a alimentação infantil 
no Brasil e no Mundo. A crescente oferta de alimentos industrializados, ricos em gorduras 
e açucares, antes mesmo dos três meses de vida, tem contribuído para o aumento em larga 
escala dos casos de obesidade infantil e doenças associadas como hipertensão, diabetes e 
colesterol alto. A obesidade infantil aumentou cinco vezes nos últimos 20 anos no Brasil. 
(Maysa Helena de Aguiar/2011) 
Outra pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde com crianças menores de cinco anos, 
revelou que a anemia afeta mais de 20% das crianças no Brasil, e cerca de 17% têm 
deficiência de vitamina A. Segundo o Ministério, essas duas deficiências são de maior 
ocorrência no mundo, e podem reduzir a imunidade a infecções, além de problemas de 
desenvolvimento cognitivo e psicológico. (Ana Paula Pontes/2011) 
Estes dados se relacionam em grande escala com a baixa qualidade alimentar que vem 
sendo praticada em todo o mundo, configurando um quadro de desnutrição nos países 
subdesenvolvidos e hipernutrição nos paises desenvolvidos, ambos com sérios prejuízos 
nutricionais. 
Em seguida o texto aborda um caminho de reflexão e uma forma de atuação embasado 
na teoria científica antroposófica, fundada por Rudolf Steiner (Áustria 1861 – Suíça 1925) 
que desenvolveu inúmeros trabalhos práticos no campo da educação, medicina, 
agricultura, arquitetura etc. Steiner estudou a fundo a natureza humana e sua constituição 
ternária, dotada de corpo, alma e espírito. 
O trabalho contextualiza a ciência antroposófica, assim como o significado da 
alimentação na vida do homem. Para as crianças este processo vai desde a amamentação 
nos primeiros meses de vida, se desenvolvendo gradativamente de acordo com o 
amadurecimento do seu organismo. 
Para a Antroposofia, a qualidade de um alimento não está apenas no seu valor nutricional, 
mas também na natureza supra-sensível que ele contém. O conhecimento desta natureza 
é de suma importância para compreendermos como os alimentos atuam na corporalidade 
humana estimulando ou inibindo as forças próprias de cada individualidade. 
Portanto, este trabalho pretende mostrar porque a origem dos alimentos deve ser 
considerada ao elaborar um cardápio. Os alimentos que consumimos deveriam vir da 
natureza, dos reinos mineral, vegetal e animal. Cada um deles terá uma atuação 
específica na constituição ternária do homem, assim como na fase biográfica em que ele 
se encontra. 
Finalmente será abordado questões relativas à prática educativa das crianças no que diz 
respeito à alimentação, aquisição de bons hábitos e eliminação de fatores estressantes na 
conduta dos adultos referente a este tema. 
3. Justificativa: 
A reflexão sobre este tema se faz urgente nos dias de hoje tendo em vista os indicadores 
sobre o aumento da obesidade infantil e demais disfunções metabólicas que tem surgido 
na primeira infância. Carências de ferro, vitaminas, cálcio, excessos na ingestão de sal e 
açúcar, alimentos industrializados e sem qualquer valor nutritivo, são alguns dos fatores 
que contribuem para a formação deste quadro. A falta de consciência por parte dos 
adultos, o distanciamento em relação à natureza e seus processos, o ritmo acelerado da 
vida moderna são alguns dos motivos que levam à configuração deste cenário 
desfavorável de comprometimento da saúde humana. Portanto, faz-se necessário resgatar 
os valores, significados e práticas da alimentação natural, ampliando as possibilidades de 
transformação desta realidade. 
A saúde é um requisito essencial para que possamos desfrutar a vida em sua plenitude. 
Portanto, todas as práticas que objetivam não só a manutenção da saúde como também a 
prevenção de doenças devem ser encorajadas. 
4. Objetivo: 
Este artigo tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica do conteúdo antroposófico 
sobre a alimentação da criança de 0 a 3 anos e convidar todas as pessoas que lidam direta 
e indiretamente com elas para refletirem sobre suas implicações no desenvolvimento do 
ser humano. Busca conscientizar os adultos sobre a importância de escolher o alimento 
adequado para cada fase de desenvolvimento da criança. Pretende também construir um 
material de consulta para pais e educadores na tentativa de incentivá-los a adotar uma 
conduta mais eficaz e coerente com as necessidades nutricionais que garantem a saúde. 
Durante os três primeiros anos de vida a criança constrói todo um arsenal de sensações 
gustativas e os hábitos alimentares que a acompanharão por toda a vida, e isso depende, 
em grande medida, da forma como o adulto significa e conduz as refeições da criança 
desde a amamentação até a introdução dos alimentos sólidos no seu cardápio diário. 
Para alcançar este objetivo algumas questões serão abordadas, entre elas: como se dá o 
primeiro contato da criança com o alimento; a importância do aleitamento materno; 
fatores que interferem na boa alimentação; a refeição como base para a vida social; 
características essenciais de alguns alimentos; entre outros. 
5. Metodologia 
Este artigo foi elaborado utilizando como metodologia uma revisão bibliográfica de 
conteúdos acerca da alimentação infantil dentro do universo antroposófico. Foram 
consultados livros, revistas e outros artigos. Além disso, consultas à internet e jornais 
foram usados para contextualizar a problemática que gira em torno da alimentação 
infantil, assim como fornecer dados estatísticos sobre esta realidade. 
A prática no trabalho com crianças de 0 a 7 anos, em um jardim de infância Waldorf, 
assim como a troca de experiência com os pais também contribuíram para a formulação 
de questões e pensamentos a respeito deste tema. 
5.1 Contextualização Teórica 
A Antroposofia, ciência espiritual criada por Rudolf Steiner (Áustria 1861 – Suíça 1925) 
no séc XIX, tem como uma de suas principais características a investigação supra-
sensível do homem e da natureza que o cerca. Não entra em contradição com o 
conhecimento científico, mas acrescenta a ele um enfoque anímico espiritual buscando 
conhecer verdadeiramente as leis que regem o universo. 
Rudolf Steiner desenvolveu seus estudos baseado na concepção do homem trimembrado 
e quadrimembrado. A trimembração diz respeito ao ser humano constituído de três 
faculdades anímicas: Pensar, Sentir e Querer com as quais ele interage e se comunica com 
o mundo. Para que cada uma destas faculdades anímica possa de desenvolver e existir, 
encontramos, no corpo físico, um sistema correspondente. São eles: Sistema Neuro-
sensorial, Sistema Rítmico e Sistema Metabólico Motor. 
Estes trêssistemas são configurados em grande medida e amadurecem suas funções 
durante os sete primeiros anos de vida, e frequentemente, a atividade de um deles 
predomina sobre os outros. Por isso, é muito importante que o adulto esteja atento e 
busque educar a criança equilibrando a atuação dos três sistemas de forma harmoniosa. 
Nesse ponto a alimentação tem um papel fundamental. 
O sistema neuro-sensorial encontra-se predominantemente na cabeça, sendo representado 
pelo cérebro, nervos e órgãos dos sentidos. Aqui atuam as forças da consciência 
relacionadas ao Pensar. Este pólo é constituído pela atuação das forças de mineralização 
e morte, sendo algumas das suas principais características o frio, a rigidez e a falta de 
movimento. Todas elas base para o desenvolvimento do pensamento. 
O sistema metabólico-motor, ao contrário, encontra-se predominantemente na parte 
abdominal e nos membros, sendo portador da vitalidade do organismo. É aqui que 
ocorrem os processos de manutenção da vida como digestão, secreção, reprodução etc. 
Algumas características são: calor, vigor, movimento e ausência de consciência. É através 
desse sistema que o homem desenvolve as forças do Querer. O impulso para agir e atuar 
no mundo, o fortalecimento da vontade no homem, provém do desenvolvimento desse 
sistema. 
Entre os dois pólos encontramos o sistema rítmico, representado no tórax por dois 
processos essenciais à vida: circulação e respiração. Este sistema, intermediário, 
possibilita ao homem harmonizar e encontrar equilíbrio dentro de si e em relação ao 
mundo. É através do Sentir que o homem avalia, por reações de agrado ou desagrado, de 
simpatia ou antipatia, as impressões recebidas e vivenciadas. 
Quando lidamos com crianças é importante observá-las sempre com a pergunta 
silenciosa: “Como estão relacionados os três sistemas nesta criança:” 
Podemos dizer que quando a individualidade tem dificuldade de se apropriar do sistema 
neuro-sensorial e de suas funções, temos uma criança, denominada pela antroposofia 
“cabeça grande”. Tais crianças têm a tendência de sonharem acordadas, estando afastadas 
das atividades terrenas que acontecem ao seu redor. Geralmente, são mais sonolentas, 
dispersas, pouco ligadas aos estímulos externos e mais conectadas com os processos 
internos, vitais, principalmente ao que se refere à alimentação. Se por um lado cultiva 
uma vida interior rica, cheia de imagens e sonhos, por outro, não consegue manter as 
informações de forma clara em seu pensamento, de forma a tê-las a disposição caso 
precise. 
Se, por outro lado, a individualidade tem dificuldade de se apropriar do sistema 
metabólico-motor, estaremos diante de uma criança “cabeça pequena”. Neste caso, o 
sistema neuro-sensorial se sobrepõe e podemos observar uma criança extremamente 
sensível aos estímulos externos, ligada em tudo o que acontece ao seu redor. Geralmente 
estas crianças se tornam mais irritadiças, impulsivas e agitadas. Os processos metabólicos 
não são saudáveis, são crianças que comem de maneira voraz, apressada e irregular. O 
intestino também não funciona corretamente, tendendo à prisão de ventre por causa dos 
movimentos peristálticos preguiçosos. Parecem saber de muita coisa, mas na verdade 
possuem limitações da capacidade criativa e de fantasia. 
Mais adiante veremos como o uso do sal e do açúcar pode contribuir para equilibrar e 
harmonizar a atividades desses sistemas orgânicos favorecendo o trabalho da 
individualidade da criança no corpo físico. 
Já a quadrimembração, nos remete ao processo de materialização do universo ao longo 
de milhares de anos, à formação dos quatro elementos (terra, água, ar e fogo), dos quatro 
reinos da natureza (mineral, vegetal, animal e humano) e dos quatro corpos que 
constituem a natureza humana, são eles: 
- corpo físico 
- corpo etérico ou vital 
- corpo astral ou das emoções 
- Eu ou individualidade espiritual. 
No presente trabalho, não entraremos em maiores detalhes a respeito da trimembração e 
da quadrimembração, no entanto, esta nomeclatura será utilizada para trazermos o tema 
da alimentação sob um olhar antroposófico. 
5.2 A Alimentação na Antroposofia 
A alimentação, segundo a antroposofia, é uma expressão do desenvolvimento da 
humanidade e de sua consciência. Ela foi desenvolvida ao longo de milhares de anos, 
assim como os nossos sentidos, para que o homem pudesse lidar com a matéria do mundo 
no qual se encontra inserido. Diz que quando o homem come, ele coloca o mundo para 
dentro de si, coloca matéria para dentro de si, assumindo desta forma, também um corpo 
físico perecível e degradável. 
Na medida em que a humanidade se desenvolveu, os corpos (físico, etérico, astral e Eu) 
estabeleceram entre si formas de relações, onde o funcionamento de um interfere e 
depende do funcionamento do outro e vice-versa. Quando, ao longo de sua evolução, o 
homem começou a ter consciência de si mesmo o corpo astral passou a ter uma ação 
catabólica e de desgaste sobre os corpos físico e etérico. O pensamento consome energia, 
e esta realidade fez com que o homem precisasse encontrar formas de restaurar, de repor 
sua vitalidade. Esta é uma das principais razões pela qual precisamos nos alimentar. 
Para a antroposofia, a relação que o homem estabelece com o alimento é também um 
indicador, uma medida da vontade que ele tem de fazer parte deste mundo. A maneira 
como nos alimentamos fortalece em maior ou menor medida o funcionamento do corpo 
e o equilíbrio geral do organismo. Trás mais ou menos vitalidade, sobrecarrega mais ou 
menos o metabolismo, enfim trás maior ou menor saúde e bem estar ao indivíduo. Os 
alimentos atuam no organismo humano trazendo qualidades e características inerentes à 
sua natureza que precisam ser catabolizadas e transformadas dentro do nosso corpo. Para 
que isso ocorra é preciso “acordar” no homem uma “força” correspondente ao alimento 
ingerido. Nós não absorvemos diretamente a vitalidade do alimento, mas geramos vida 
em nós a partir de uma ação de oposição às substâncias ingeridas. 
“Não comemos para ter em nós este ou aquele alimento, mas sim para podermos 
desenvolver em nós as forças que triunfem sobre o alimento. Comemos para resistir às 
forças da Terra e vivemos sobre ela graças a esse contínuo ato de oposição”. (Rudolf 
Steiner). 
A alimentação é uma atividade ampla e complexa que exige que toda a natureza humana 
se envolva no processo de digestão e absorção dos alimentos. Isso nos remete a um fato 
de suma importância: o homem não nasce “pronto”, ele precisa de tempo para tornar-se 
um ser livre e autônomo, em vários aspectos. A criança, quando nasce, não conta com os 
corpos físico, etérico, astral e Eu funcionando em toda a sua plenitude e autonomia. Estes 
são desenvolvidos ao longo dos primeiros 21 anos de vida, período em que se educa uma 
individualidade através do exemplo e do cuidado fornecidos por outro ser humano. 
Dos 21 aos 42 anos, a individualidade completamente encarnada no corpo físico passa a 
se auto-educar e após os 42 tem início um outro processo caracterizado pelo afastamento 
da dimensão material. 
Considerando esta colocação, concluímos que a alimentação do homem deve acompanhar 
a fase biográfica em que ele se encontra. Os alimentos devem ser usados e pensados de 
acordo com as necessidades do organismo da criança, do adulto e do idoso, uma vez que 
ela existe para servi-los. 
Em relação às crianças isto é bastante sério. Como foi dito anteriormente, a 
individualidade precisa de 21 anos para amadurecer e tomar posse do seu próprio corpo. 
É só a partir daí que ela age com plena consciência de si mesmo e de seus atos. 
Portanto, quanto menor é uma criança, mais entregue, ela se encontra das escolhas que os 
adultos fazem por elas. Escolhas estas que atuarão na construção do seu corpo e da sua 
saúde por toda a vida. 
5.3 O primeiro alimento da criança: O leite materno 
Antes do nascimento, a criança encontrava-se completamente envolvida e protegida pelo 
ventre materno. Éadmirável verificarmos quantos envoltórios protegem o embrião: 
- o líquido amniótico, no qual o feto nada durante todo o período de gestação lhe garante 
uma confortável sensação flutuante, protegendo-o contra solavancos e empurrões vindos 
do exterior, assim como o amortecimento dos seus próprios movimentos dentro da barriga 
da mãe. 
- o útero, um órgão muito especial e singular capaz de moldar-se para abrigar uma nova 
vida em seu interior. Este grande músculo encontra-se suspenso por diversos ligamentos 
dentro da estrutura óssea da região ilíaca da mãe abrigando o feto até o momento em que 
iniciam as contrações que ajudarão na expulsão do bebê. O útero é capaz de concentrar 
as forças oriundas do plano supra-sensível permitindo-lhe criar e estruturar sua forma 
humana no plano material. 
- Um outro envoltório são as vísceras da mãe, especialmente as alças intestinais, que além 
de proporcionarem o calor oriundo do metabolismo, funcionam como amortecedor para 
o útero da gestante. 
- Por último temos a parede abdominal com suas diversas camadas e a pele formando 
uma delimitação que proporciona estabilidade e calor. Todos esses envoltórios protegem 
o pequeno ser enquanto se forma e desenvolve no ventre materno. 
Então a criança nasce, e de repente, todos eles desaparecem. O corpo da criança acha-se 
nu e totalmente desprotegido fora do corpo da mãe. Um novo mundo lhe é apresentado, 
a criança vivencia as mudanças de tempo, espaço, peso e temperatura ao seu redor. A 
luminosidade, os ruídos, os cheiros e os toques penetram na alma da criança pela primeira 
vez trazendo vivências de dor, medo e insegurança diante das profundas transformações. 
Com a primeira inspiração o ar penetra nos pulmões fazendo com que a criança chore e 
neste instante dois mundos (anímico-espiritual e o físico-terreno) se unem num só corpo. 
A individualidade adentra o mundo material e se submete às leis que aqui vigoram. O 
corpo precisará se adaptar a muitos processos para manter-se vivo, entre eles a 
ALIMENTAÇÃO. 
Segundo a Dr Gudrun, durante a gravidez a alimentação do feto tem características 
primitivas, ocorrendo através do ambiente, dos invólucros que citamos acima. Com o 
nascimento, e principalmente após o corte do cordão umbilical, desfaz-se também a 
ligação concreta, material do bebê com a mãe e o alimento materno vai entrar como 
elemento importantíssimo. No processo de adaptação ao novo mundo, o LEITE da mãe é 
tudo que restou do abrigo anterior que fora o ventre materno. A partir de agora é como se 
“A mãe toda vivesse no leite”, como cita Rudof Steiner. O leite além de ser a composição 
alimentar ideal para a criança, possibilita a transição do plano espiritual para o plano 
terrestre. Junto com ele o calor humano, físico e anímico que se manifesta no ato de 
amamentar vai formar o novo invólucro de segurança e proteção para a criança. 
Rudolf Steiner ainda nos chama a atenção para o fato de o leite trazer em si as forças 
vitais cósmicas capazes de despertar pouco a pouco o espírito que dorme na criança. A 
amamentação é, por isso, considerada o primeiro meio de educação e o veículo para que 
o ser celestial se torne terrestre. Este período é um tempo sagrado de sublimes 
acontecimentos no que diz respeito à encarnação da criança e só passado algum tempo o 
educador (mãe, pai) será capaz de continuar atuando sobre a volição da criança de forma 
a despertar cada vez mais este espírito adormecido (consciência). 
O bebê que é colocado logo após o parto em contato com a mãe procura instintivamente 
pelo seio e suga-o com muita força e determinação. Essa primeira sucção é a mais forte 
que existe e estimula a formação e a descida do leite. A criança que, logo após seu 
nascimento, não tem a oportunidade de sugar o seio materno pode ter comprometido todo 
um caminho de amamentação, visto que, após algumas horas o reflexo de sugar do recém 
nascido diminui drasticamente se não for estimulado. 
Nos primeiros dias a substância que a criança ingere ao mamar é denominada 
COLOSTRO. O colostro tem a cor amarelada e transparente, e apesar da pequena 
quantidade, alimenta e protege o bebê contra infecções nos primeiros dias de vida. Isso 
porque tem maior concentração de proteínas e anticorpos que o leite propriamente dito e 
ainda estimula o intestino da criança a se desenvolver. Ele é suficiente para manter a 
criança nutrida até a descida do leite por volta do terceiro ou quarto dia de vida. 
Após a descida do leite mãe e filho vão precisar de um tempo para se adequar à nova 
rotina. No início, a quantidade de leite produzida é maior que a necessidade da criança. É 
recomendável que o leite excedente seja retirado por ordenha manual até que o corpo da 
mãe aprenda a produzir somente a quantidade necessária para a sua criança. 
Um outro aspecto importante em relação à amamentação diz respeito à freqüência com 
que a criança tem acesso ao peito. Atualmente, é recomendação do ministério da saúde 
que a criança seja alimentada no peito sempre que manifestar essa vontade, sem horários 
fixos para iniciar, nem para terminar cada mamada. Essa recomendação ficou bastante 
conhecida pelo nome de “livre demanda”. 
Por outro lado, a falta de ritmo em relação aos hábitos alimentares pode ter sua origem 
neste período. As exigências da vida moderna, principalmente nos grandes centros 
urbanos tem tornado um grande desafio para o homem encontrar ritmos de trabalho, de 
lazer, de sono e de alimentação. Todas as funções vitais do nosso organismo, no entanto, 
são rítmicas. A saúde e o equilíbrio do indivíduo são baseados no ritmo e pequenos 
distúrbios desses ritmos vitais têm levado o homem a sofrer das mais diversas patologias, 
tais como o próprio câncer. Assim, na antroposofia, encontramos referências para que as 
mães busquem estabelecer, ao longo dos primeiros meses de vida, uma rotina de 
amamentação saudável e de acordo com a necessidade da criança, criando desde cedo 
hábitos regulares nos horários de alimentação. Na verdade, a própria criança, na medida 
em que se desenvolve cria um ritmo próprio de alimentação para o qual a mãe deve estar 
atenta e respeitá-la. 
É possível que surjam algumas dificuldades durante o período de aleitamento materno 
como: ferimento dos mamilos, empedramento do leite, sensação de que o leite não é 
suficiente para satisfazer a fome da criança e outros. Todas essas questões podem ser 
contornadas se a mãe buscar as informações corretas em relação à amamentação. 
Algumas dicas, retirados do material elaborado pelo Dr Coríntio Mariani Neto (Corintio 
2010) serão destacadas aqui: 
- O leite materno é o alimento ideal nos primeiros seis meses de vida, pois contem todos 
os nutrientes necessários para garantir o melhor crescimento e desenvolvimento do bebê. 
Nenhum outro complemento é necessário, nem mesmo água ou chás durante este período. 
- Protege contra doenças, principalmente diarréias, alergias e infecções, sendo por isso 
considerado a “primeira vacina” da criança. 
- O leite materno é digerido com mais facilidade e é melhor aproveitado que o leite 
industrializado. Além disso, a eliminação de seus resíduos não sobrecarrega o organismo 
do bebê, como acontece com o leite de vaca. 
- É limpo e não contém micróbios, está sempre pronto e na temperatura adequada. 
- Sugar o peito exige um grande esforço por parte da criança contribuindo para o 
desenvolvimento sadio do maxilar, correta formação da arcada dentária, boa deglutição, 
desenvolvimento posterior da fala e correta respiração. 
- É a sucção do bebê que desencadeia e mantém a produção do leite, portanto, quanto 
mais ele sugar, mais leite será produzido. 
- Não existe leite fraco. O leite materno é o ideal para o bebê e toda mãe é capaz de 
produzi-lo. Para isso a mãe deve ingerir muito líquido, cuidar da sua alimentação e do 
seu estado emocional. A tranqüilidade e confiança da mãe em relação à amamentação 
parecem interferir decisivamente na produção do leite. 
Segundo a médica e escritora antroposóficaGudrun Burkhard as peculiaridades do gosto 
do leite materno fará com que gradativamente se desenvolvam as papilas gustativas do 
neném. Ao contrário dos leites industrializados e preparados que revelam sempre o 
mesmo gosto, o leite materno apresenta uma diversidade de aromas e sabores à criança 
que, sendo assim, desenvolve maior disposição e abertura para experimentar novos 
alimentos futuramente. 
5.3.1 O Desmame 
O desmame também é muito importante e deve ser feito com calma e consciência pela 
mãe. A recomendação do Ministério da Saúde é que o aleitamento materno seja exclusivo 
até os seis meses de idade, podendo ser continuado até o segundo ano de vida ou mais, se 
assim a criança e a mãe desejarem. Para a antroposofia, o aleitamento materno deve 
ocorrer até os sete meses, podendo se estender até um ano, quando então a criança deve 
ser desmamada, pois do contrário ela se liga demasiadamente à corrente hereditária dos 
pais e da família. Essa ligação excessiva pode passar a satisfazer outras necessidades (por 
exemplo, emocionais) e dificultar que a criança desenvolva sua autonomia e capacidade 
de dar continuidade ao processo de apropriação do próprio corpo. Durante os sete 
primeiros anos a criança lida com uma importante tarefa, segundo Rudolf Steiner, que é 
a de transformar toda a constituição física herdada em uma nova constituição sintetizada 
a partir da sua própria força individual. As febres infantis (aumento da temperatura 
corporal) são revelações dessa transformação acontecendo no organismo. 
5.3.2 A Utilização de Bicos Artificiais 
De acordo com o material produzido pelo Dr Corintio Mariani (Corintio 2010) a 
introdução de qualquer bico artificial (mamadeira, chuca, chupeta) deve ser evitada a todo 
custo, pois interfere na sucção do bebê contribuindo para o desmame precoce. 
A mamadeira, em especial, é considerada um grande vilão da amamentação. A criança 
que tem contato com a mamadeira vivencia um fenômeno conhecido como “confusão de 
bicos”. Como não é necessário fazer o mesmo esforço para que o leite saia da mamadeira, 
a criança passa a sugar menos o peito o que diminui a produção do leite e rapidamente a 
mãe tem a impressão de que o leite do peito não é mais suficiente para alimentar a criança. 
Além disso, o uso da mamadeira está sendo hoje atrelado ao aumento do índice de 
obesidade infantil por contribuir para uma menor capacidade de auto-regulação do 
apetite. Isso significa que os bebês alimentados com mamadeira desde cedo apresentam 
maior dificuldade de sentir saciedade da fome, segundo revela uma pesquisa feita com 
1250 bebês nos EUA pelo Centro de Controle e Prevenção de Doeças (CDC). 
Existem dois problemas básicos que giram em torno do uso da mamadeira. O primeiro 
diz respeito à anatomia e design desses instrumentos que não são adequados às 
necessidades da criança. Por mais ortodônticos que sejam, os bicos das mamadeiras 
interferem na formação da arcada dentária, induzem a criança a mamar mais do que ela 
necessita (devido à maneira passiva como o líquido é absorvido), são de difícil 
higienização, contribuindo para o aumento de infecções na garganta e no trato intestinal 
e desestimulam o aleitamento materno. O segundo diz respeito ao que é colocado na 
mamadeira para alimentar a criança. Atualmente, o uso de farinhas e açucares para 
engrossar e adoçar o leite tem sido cada vez mais oferecido pelos pais. Estas combinações, 
no entanto, levam os pais a uma falsa crença de que seus filhos se alimentam melhor. Por 
um lado, as crianças ingerem maior quantidade de leite (que apresenta sabores doces e 
“gostosos”) por outro os preparados são verdadeiras bombas calóricas que não oferecem 
os nutrientes adequados e necessários à criança, principalmente se usados antes dos seis 
meses de idade. Além disso, todas estas fórmulas que dizem substituir o leite materno, 
preparados de leite em pó enriquecidos de vitaminas, minerais etc são sintetizados 
artificialmente, sendo, portanto, desprovidos da vitalidade encontrada no leite materno 
como já mencionado anteriormente. 
Quando, por algum motivo, não for possível o aleitamento materno exclusivo até os seis 
meses de idade faz-se necessário partir para uma alimentação artificial. 
Segundo descrito no livro “Consultório Pediátrico” de Wolfgang Golbel e Michaela 
Glockler esta deverá ser o mais natural possível, dando-se preferência aos leites naturais 
e não aos leites em pó ou condensados. Devido às diferenças em sua composição e alto 
potencial alergênico, o leite de vaca deverá ser dado seguindo um criterioso esquema de 
diluição e preparo que pode ser consultado no livro descrito acima pág. 268. 
Se for preciso acrescentar a alimentação artificial ao aleitamento materno seria 
interessante que a primeira fosse oferecida em copinhos apropriados ou colheres de chá 
para não desestimular a amamentação natural. Após o desmame os outros alimentos 
líquidos como chás, sucos, água também deveriam ser oferecidos na forma mencionada 
acima com a supervisão de um adulto para que a criança não se habitue a tomar 
mamadeira desnecessariamente. 
5.4 A Introdução dos Alimentos Sólidos 
Passado o período dedicado ao aleitamento materno exclusivo é chegada a hora de a 
criança começar a experimentar outros alimentos necessários para o seu 
desenvolvimento. 
A introdução desses novos alimentos deve ser gradual (no máximo um novo alimento por 
semana, a fim de que o organismo da criança se prepare para digeri-los e a mãe observe 
possíveis pré-disposições alergênicas) e respeitar o estágio de desenvolvimento que a 
criança se encontra. Segundo a antroposofia, a dieta da criança pequena deveria ser 
inicialmente lacto-vegetariana (constituída de frutas, legumes, cereais, leite e seus 
derivados) e só a partir dos 3 anos, alimentos de origem animal deveriam ser oferecidos 
de acordo com as características e as necessidades da criança. Sobre este assunto 
falaremos mais tarde. 
Alimentos industrializados devem ser evitados a todo custo, pois roubam força do 
organismo que precisa despender mais energia para reelaborá-los interiormente. As 
crianças devem receber alimentos plenos de vida, os mais naturais possíveis e adequados 
à sua faixa etária. Com o intuito de contribuir para um maior esclarecimento desses 
alimentos e como eles devem ser oferecidos à criança selecionamos alguns de maior 
importância para discutir neste trabalho. Abordaremos principalmente seu caráter 
qualitativo e como eles atuam no organismo da criança, separando-os, desta forma, de 
acordo com sua natureza (mineral, vegetal ou animal). 
5.4.1 O Reino Mineral: 
O reino mineral está sujeito às leis físico-químicas, válidas apenas para o mundo físico, 
material. Nele valem as leis da gravidade, peso, medida e massa, enfim, o elemento 
quantitativo. Em tempos passados da Terra, este reino ainda não tinha a forma atual, os 
minerais possuíam outras consistências que não a que conhecemos hoje. Atualmente eles 
representam, segundo Rudolf Steiner a imagem morta do cosmo. É nele que encontramos 
o estado final da matéria, a substância. Aqui não existe crescimento, regeneração, vida. 
(Novos Caminhos de Alimentação, vol. 1, pág 16). 
O Sal 
O sal é o maior representante deste reino na nossa alimentação. Trata-se de um cristal, 
um elemento ligado às forças de mineralização da Terra. É uma substância desprovida de 
vida e utilizada como condimento no preparo dos alimentos. Antigamente, era muito 
usado na conservação das carnes. 
Segundo a antroposofia, sua atuação no organismo humano se relaciona com as forças de 
encarnação e de desenvolvimento da consciência. 
Quando estamos diante de uma criança onde o sistema neuro-sensorial precisa ser 
estimulado, ou seja, de uma criança cabeça grande, o uso do sal poderá ser indicado como 
medida terapêutica. A sua atuação fortalece as forças do Pensar fazendo com que a 
individualidade se ligue mais profundamente ao mundo terreno. 
O Açúcar 
O açúcar será tratado aqui, por sua elevada propriedadede cristalização e mineralização, 
semelhante a do sal, no entanto trata-se de um alimento proveniente do reino vegetal. 
A introdução dessas duas substâncias na alimentação do homem também acompanhou o 
caminho de desenvolvimento da humanidade. O açúcar foi utilizado primeiro, através do 
cultivo da cana de açúcar por volta de 8000 e 5000 a.C. Este é formado nas partes verdes 
do vegetal, sendo armazenado em raízes, folhas, caules, flores ou frutos sob a forma de 
amido ou frutose. É uma reserva de energia para o homem, que pode utilizá-lo sem ter de 
efetuar um trabalho digestivo, o que acontece quando o ingerimos em sua forma 
industrializada e refinada. Neste ponto, trata-se de uma substância que não estimula a 
atividade vital dos órgãos como os vegetais frescos, mas substitui, no organismo, uma 
substância que este é capaz de produzir por si em quantidades suficientes quando goza de 
plena saúde. As qualidades do ácido, do salgado e do amargo possuem todas elas uma 
característica mais agressiva, estimulante. O doce, ao contrário, consola, reconforta, 
envolve, tranqüiliza e dá apoio: também fortalece nossa auto-percepção de modo 
imediato, e faz com que nos sintamos mais fortes e dispostos em nosso corpo. Esse efeito 
provoca a tendência à freqüente repetição da ingestão de açúcar. Sentimos o prazer do 
acréscimo momentâneo de força, sem perceber a instalação do mau hábito, a perda 
energética que se segue e que tentamos compensar novamente com uma quantidade maior 
de açúcar. 
Atualmente, sofremos de um consumo crescente e exagerado de açúcar que começa a 
deixar suas marcas na saúde da civilização moderna com o aumento incisivo, sobretudo, 
da cárie dentária, do diabetes e da obesidade. Estudos revelam que o aumento no consumo 
de açúcar passou de 28g por pessoa em 1900 para 150g por pessoa nos dias de hoje 
(Novos Caminhos de Alimentação, vol 1, pág 138). 
Na alimentação das crianças devemos evitar o uso do açúcar branco, uma vez que os 
processos de refinamento e industrialização roubam-lhe toda a força vital eliminando os 
sais minerais, vitaminas e microelementos que dão suporte à atividade própria do 
organismo de elaborar o seu açúcar a partir do amido. Quando isso acontece estamos 
substituindo o exercício da atividade metabólica na criança pela oferta de uma substância 
de rápida absorção que causa dependência e consequentemente predisposição a uma série 
de enfermidades, como já foi explicado anteriormente. 
O mais indicado seriam preparados de cana integral, que podem ser obtidos em casas 
especializadas de produtos naturais. O açúcar mascavo industrializado também passa por 
processos não recomendados, apenas os últimos passos da purificação deixam de ser 
realizados. A lactose só é útil na fase de lactente, pois tem menor poder adoçante. A 
frutose normalmente não tem vantagens. A glicose leva a um aumento rápido da glicemia, 
pois não precisa ser digerida, por isso é recomendada apenas em alguns casos específicos. 
O mel é recomendado após 1 ano de vida e em quantidades moderadas, uma colher de 
chá por dia misturada aos alimentos. 
O ideal é que o organismo seja incentivado a elaborar o açúcar de que necessita através 
da ingestão de vegetais e cereais. A vontade de comer doce deveria ser suprida, sempre 
que possível, pela ingestão de frutas (secas e naturais). 
Quando estamos diante de uma criança onde o sistema metabólico-motor precisa ser 
estimulado, ou seja, de uma criança cabeça pequena, o uso do açucar poderá ser indicado 
como medida terapêutica. A sua composição altamente energética estimula o 
funcionamento do metabolismo e fortalece o Querer trazendo vitalidade para o organismo 
da criança. 
5.4.2 O Reino Vegetal: 
Quando tratamos do reino vegetal, a substância passa a obedecer também à outras leis. 
Podemos dizer que a planta é a imagem viva do cosmo. Bircher Benner apontou para o 
elemento qualitativo na alimentação dizendo: “Todos os valores nutritivos, independentes 
de sua denominação – proteínas, gorduras, hidratos de carbono, minerais ou vitaminas – 
são, em sua essência, tons ou cores da luz do sol”. A planta é o resultado da interação 
entre as forças físicas terrestres e as forças etéricas, cósmicas. Ao mesmo tempo que se 
ligam à terra, acolhendo desta água e minerais; crescem em direção ao sol de onde 
recebem calor e luz, dependendo dos dois pólos para se desenvolverem. 
Explicar um pouco antes de colocar a citação 
“Do ponto de vista alimentar, interessa-nos a relação tríplice da organização humana e 
das plantas. Poderíamos dizer que no homem encontramos a planta invertida, pois o 
processo radicular (das raízes) tem a ver com o nosso sistema neuro-sensorial, o sistema 
da haste e das folhas com o sistema rítmico, e o processo da flor e do fruto com o sistema 
metabólico”. (vol 1 pag 40). 
Na raíz encontramos os processos de absorção dos minerais responsáveis pela 
estruturação e forma específica de cada vegetal. Daí partem os impulsos endurecedores 
da planta. A raíz absorve os minerais desgastando a terra ao seu redor, assim como o 
cérebro capta seletivamente os pensamentos desgastando substância viva (queimando 
energia) no interior do nosso corpo. Nas folhas se passam os processos de fotossíntese 
troca gasosa com o ambiente, assim como no homem o sentir se relaciona com essa esfera 
mediana e de troca com o mundo. No caule os processos de crescimento e repetição 
rítmica se assemelham à disposição de nossas costelas em relação às vértebras da coluna. 
Por último, nas flores e nos frutos encontramos a região onde se passam as profundas 
mudanças metabólicas da substância, tais como a formação de açucares, óleos, proteínas 
e vitaminas. Essa é também a região mais quente da planta, calor semelhante ao 
encontrado no sistema metabólico motor. Tanto em um como no outro acontecem 
também os processos ligados à reprodução. 
Sendo assim, a ingestão de raízes atuará sobre o sistema nervoso humano, a ingestão de 
caules e folhas sobre o sistema rítmico e a ingestão de flores e frutos sobre o metabólico 
motor. Isso deve ser considerado ao pensar a alimentação desde os primeiros anos de 
vida, na tentativa de harmonizar o corpo através daquilo que ingerimos. 
Frutas 
Gudrun Burkhard fala em seu livro Novos Caminhos de Alimentação que as frutas são as 
maiores fontes de vitaminas encontradas na natureza. Quando atingem seu grau de 
maturidade, principalmente se colhidas na época certa, concentram o máximo de forças 
vitais em seu interior. No homem atuam especialmente sobre os processos formativos do 
sangue, renovando-os constantemente, e também sobre a circulação. Ativam os processos 
metabólicos e de calor do nosso organismo, estimulam o peristaltismo intestinal e é 
considerada uma vitalizante primordial do organismo devido à concentração de vitamina 
C (Burkhard 2009). 
Segundo Dr Darlan Ferreira, em palestra proferida no curso de formação em pedagogia 
waldorf de Belo Horizonte, é recomendado iniciarmos a oferta dos alimentos às crianças 
pelos sabores adocicados encontrados nas frutas. É importante cuidar para que estas sejam 
bem lavadas e de procedência conhecida, preferencialmente orgânica, uma vez que pela 
primeira vez o organismo da criança vai entrar em contato com outras substâncias e a 
ingestão de agrotóxicos, pesticidas, bactérias e outros, poderiam ter uma ação devastadora 
no organismo infantil. 
A fruta cozida ou assada é indicada para facilitar a digestão no princípio, em seguida 
podemos oferecer em forma de sucos (laranja serra d’água), amassadas (banana, mamão) 
ou raspadas (maça, pêra) 
Após os primeiros experimentos, passamos a preparar uma papa mais consistente e 
nutritiva que apresenta em sua composição os seguintes elementos: 
- Uma fruta cozida ou assada (banana, pêra, maçã...) 
- Um cereal integral cozido (arroz, aveia, trigo, cevada...) 
- Uma oleaginosa (castanha do pará, avelã, amêndoa, nozes) ou uma colherzinha de 
azeite. 
- Uma outra fruta da época que não precisa ser cozida. 
- Pode-seainda acrescentar ameixa preta ou damasco, cozidos e algum derivado de leite. 
Legumes e Verduras 
Após ter se habituado às papas doces, introduzimos na alimentação da criança a papa 
salgada. Os legumes e verduras são reconhecidos pela sua ligação com as diversas forças 
da natureza viva e fornecem toda uma riqueza de sais minerais e micronutrientes ao 
organismo humano. 
Alguns cuidados devem ser tomados no preparo das papas salgadas como por exemplo o 
tipo de panela utilizado (as de alumínio e de pressão devem ser evitadas), a quantidade 
de água adequada e o tempo de cocção de cada elemento. Raízes levam mais tempo para 
cozinhar do que folhas e frutos. As sopinhas ou papas devem ser acrescidas de algum 
cereal integral e uma pequena quantidade de gordura: meia colher de chá de manteiga, 
óleo de girassol ou azeite de oliva. 
Cereais 
Os cereais começaram a ser cultivados na antiga civilização persa, em torno de 5000 a.C 
e desde então formaram a base da agricultura dando à humanidade novas condições de 
vida e moradia. Do ponto de vista qualitativo os cereais distinguem-se pelo fato de 
estarem sujeitos a uma exposição particularmente intensa e direta à luz solar. 
Caracterizam-se ainda por permear intensamente a terra com suas raízes unindo-se 
firmemente com o elemento mineral. Possuem a peculiaridade de não dispersar suas 
sementes, mas de mantê-las unidas em forma de espigas. Essas espigas são sustentadas 
pela planta tal qual uma coroa real, essa força de sustentação tem ligação direta com o ser 
humano, ajudando-o a erguer-se e adquirir a posição ereta no mundo, o que sabemos 
tornou-se a expressão do Eu, da individualidade humana na Terra. 
“Para os povos antigos, o ato de semear e colher os cereais eram acompanhados de rituais 
sagrados – os grãos eram o presente do Deus Pai e da Mãe Terra. De fato, as gramíneas 
(cereais) são as plantas em que as forças da terra e do sol estão em equilíbrio” (vol 2 pag 
124). É exatamente por este motivo que atuam nos três sistemas do corpo humano: 
metabólico-motor, rítmico e neuro-sensorial, ativando todo o organismo do homem em 
equilíbrio. Como possui forte relação com a terra e com o elemento mineral carrega em 
si alto teor de silícea que serve de intenso estímulo ao sistema nervoso e órgãos dos 
sentidos. Rudolf Steiner descreve em sua “Filosofia da Liberdade” que o pensar vivo só 
pode ser incentivado pela ingestão de cereais integrais. A atuação do açúcar no cérebro 
também só é saudável quando este vem acompanhado pelo complexo de vitamina B, 
encontrado na cutícula dos cereais. Caso contrário, quando o açúcar puro entra no 
organismo, ele cai rapidamente na corrente sanguínea e o cérebro fica exposto ora a um 
excesso de açúcar, ora a sua falta, não podendo desempenhar suas funções de forma 
correta e equilibrada. 
Todo o metabolismo também é estimulado pela ingestão de cereais integrais. Sua alta 
taxa de hidratos de carbono é transformada em amido e glicose. A queima da glicose 
produz o calor necessário para a atividade muscular, os músculos são os instrumentos de 
nossa volição e atuação na Terra. O fígado é estimulado, pois lá a glicose é 
transformada em glicogênio. Os dentes são intensamente ativados através da mastigação, 
assim como as secreções glandulares e salivares. A película dos cereais, rica em 
vitaminas, proteínas, sais e semicelulose atuam no peristaltismo do estômago e intestinos. 
Também no sistema rítmico, os cereais desempenham um papel importante, fortificando 
coração e pulmão. O magnésio encontrado na película atua diretamente sobre o 
funcionamento do coração, organizando o ritmo cardíaco. Também o ferro, tão 
importante para o sangue e a oxigenação, é abundante no grão. Rudolf Steiner numa 
palestra dada no Goetheanum disse: “O coração é luz condensada e é estimulado pela 
alimentação rica em luz”, como vimos, trata-se dos cereais integrais. 
A importância de ser integral refere-se à capacidade de ativar profundamente o 
metabolismo do corpo, dando suporte a uma integração harmoniosa das suas funções. 
Quando ingerimos produtos processados as vitaminas, sais minerais e demais micro-
elementos são indistintamente eliminados, restando muitas vezes apenas o amido. Em 
função disso, obtem-se um produto parcial, altamente refinado, e ainda modificado por 
uma série de aditivos químicos (conservates, corantes, etc) que o processo de 
industrialização lhe acrescentou. Para metabolizar tal produto o organismo precisa fazer 
uso de suas próprias reservas de vitaminas, sais minerais e microelementos. 
Em função disso, recomenda-se que a alimentação da criança seja rica em cereais 
integrais. Estes podem ser oferecidos por volta dos sete meses, nas papas de fruta ou 
salgada como já foi citado. É importante que sejam bastante cozidos no princípio para 
auxiliar no processo digestivo da criança que ainda está em formação. Além disso, os 
cereais apresentam correspondências com as qualidades planetárias que determinam as 
qualidades de cada dia da semana. Rudolf Steiner em suas palestras sobre agricultura 
biodinâmica, sobre medicina e sobre antroposofia geral refere-se a essas forças 
planetárias e sua atuação sobre o Homem, sobre a Terra e sobre os reinos da natureza. 
Estaremos estimulando o nosso organismo se procurarmos nos alimentar com a maior 
variedade possível de cereais. 
Segue abaixo a correspondência entre os cereais e os dias da semana: 
Trigo Sol Domingo 
Arroz Lua Segunda 
Cevada Marte Terça 
Painço Mercúrio Quarta 
Centeio Júpter Quinta 
Aveia Vênus Sexta 
Milho Saturno Sábado 
 
5.4.3 O Reino Animal: 
Nos animais há um novo complexo de forças. Além da vida, existe agora elementos como 
sensação, locomoção no espaço, instintos (de sobrevivência, nutrição ou reprodução). 
Trata-se da incorporação de uma nova entidade, denominado por Rudolf Steiner de corpo 
astral. A substância não é apenas vitalizada como no reino vegetal, mas agora também 
astralizada, adquirindo, portanto, qualidades e forças formativas diferentes do vegetal. 
No reino animal tem início os processos de anabolismo e catabolismo. O primeiro lida 
com forças construtoras que formam substâncias vivificantes e regeneradoras. O segundo 
lida com forças de desgaste e destruição, gerando assim, produtos de excreção que quando 
não eliminados tornam-se tóxicos para o organismo. 
Carnes 
A utilização de carnes no cardápio infantil é bastante discutida e existem controvérsias a 
seu respeito. 
Quantitativamente, a carne é descrita como uma das principais fontes de proteínas que 
conhecemos, além de ser rica em nutrientes como lipídeos, vitaminas (complexo B) e 
minerais (como ferro e zinco). As proteínas são fundamentais para o funcionamento do 
nosso corpo, pois é a partir delas que sintetizamos as nossas próprias proteínas durante o 
crescimento e a renovação dos tecidos. 
Segundo o especialista Pedro Eduardo de Felício, membro do comitê técnico do SIC 
(serviço de informação da carne), a proteína da carne é a mais completa por apresentar 
um perfeito equilíbrio de aminoácidos essenciais, isto é, aqueles que o corpo humano não 
sintetiza a partir dos demais e que, por isso, devem estar presentes nos alimentos 
ingeridos. Outros produtos de origem animal, como os ovos ou o leite e seus derivados, 
também são fontes de proteínas completas. Já as proteínas encontradas nos alimentos de 
origem vegetal são deficientes em um ou mais aminoácidos essenciais e, portanto, devem 
ser consumidas em combinação com cereais e leguminosas. 
Qualitativamente, a antroposofia trás um olhar um pouco diferente. De acordo com 
Goebel e Glockler no livro “Consultório Pediátrico” (2001), desde que tornaram-se 
conhecidas certas doenças de deficiência protéica, causada pela falta de certos 
aminoácidos essenciais, passou-se a dar uma atenção muito grande ao consumo destas. 
Esses componentes protéicos especiais são encontrados em abundância nos produtosde 
origem animal, mas também podem ser encontrados (em menor quantidade) nas 
leguminosas, amêndoas e nozes. 
O leite materno é um alimento com baixo teor protéico (cerca de metade do leite da vaca) 
e é o alimento ideal para a primeira fase de vida. Acredita-se que o consumo de proteínas 
(principalmente as de origem animal) deva ser introduzido na alimentação da criança com 
parcimônia e gradualmente. Sendo assim, a autora propõe que se siga com o modelo de 
nutrição oferecido pelo leite materno até pelo menos os três anos de idade. As proteínas 
durante essa fase deveriam provir de outros alimentos tais como os cereais integrais, as 
leguminosas e os derivados de leite. Após os três anos, quando desponta na criança os 
primeiros lampejos de auto-consciência, também se manifesta de modo mais intenso o 
instinto individual para este ou aquele alimento. Neste caso, a carne poderia ser 
introduzida de acordo com as características e a necessidade da criança. 
Nos países da América Latina, o consumo de carne é muito elevado, naturalmente torna-
se mais difícil e trabalhoso para os pais organizar um cardápio com restrição de carne 
para as crianças, pela simples falta de hábito e informação. 
A carne vermelha, ao contrário do leite, é permeada pelo sangue do animal o que faz dela 
um alimento altamente comprometido com as forças da matéria. Na história, o consumo 
de carne se deu na medida em que o homem se distanciou do mundo espiritual e se 
conectou com a materialização do corpo e do espírito. A carne rebaixa o homem a um 
estado de maior animalidade, agressividade e ligação com seus instintos por despertar 
forças correspondentes à astralidade do animal durante o processo digestivo. 
Como a criança ainda é um ser cósmico, que está chegando na Terra, a ingestão desse 
alimento não contribui para o despertar natural e saudável da sua individualidade. 
Ovos 
De acordo com a médica e escritora antroposófica Dr Gudrun, o ovo, assim como a carne 
não deveria fazer parte do cardápio infantil nos primeiros anos de vida. Sem dúvida, o 
ovo é uma das mais potentes fontes de proteínas, gorduras e ferro. Porém, 
qualitativamente, ele contém potente capacidade germinativa de formar um novo ser, 
portanto é um alimento altamente energético que atua na astralidade e na sexualidade do 
ser humano. O ovo deve ser introduzido gradativamente na alimentação da criança a partir 
dos 3 anos e liberado somente após os 5. Recomenda-se que inicie a oferta pela gema e 
mais tarde o ovo inteiro. Em seu consultório, a médica relata observar que as crianças 
alimentadas com ovos geralmente tornam-se inquietas, nervosas, muitas vezes 
dominando toda a família, não sabendo onde colocar tanta “energia”. 
5.5 A alimentação como base para a vida social 
A refeição, na antiguidade, possuía um significado todo especial. Não se tratava apenas 
de receber alimento no sentido físico, mas também de receber o “alimento espiritual”. A 
refeição comum estabelece laços sociais entre os homens, a própria palavra 
“companheiro” contém este elemento: com = comum / pan = pão. 
Até hoje a refeição permeia a vida social dos homens. O alimento contribui para a 
formação de uma atmosfera de troca e alegria entre as pessoas e por isso está presente nas 
mais variadas situações: encontros amorosos, rituais de casamento, batismo, festas de 
aniversário, encontros para tratar de negócios etc. Quando as pessoas se sentam juntas em 
volta de uma mesa ocorre a união do espiritual que vem do alimento com anímico das 
pessoas, formando uma aura toda especial. É muito comum associarmos determinados 
alimentos com situações e sentimentos vividos num dado momento. A alimentação tem, 
portanto, a capacidade de assumir significados emocionais, tanto positivos quanto 
negativos. Podemos ser tomados de felicidade ao sentir o cheiro do bolo que nossa avó 
fazia quando éramos crianças e também podemos sentir náuseas e calafrios se nos 
deparamos com um alimento que esteve presente em uma situação desagradável da nossa 
vida. 
Na história da arte podemos encontrar duas imagens arquetípicas que nos falam desse 
caráter social da alimentação, são elas: A Santa Ceia, onde Cristo reparte o pão e o vinho 
com os 12 apóstolos e a Távola Redonda do rei Arthur, na Idade Média. Nelas, 
vislumbramos grandes virtudes sociais como: partilha, ponderação, gratidão, entre outras. 
Assim também, no nosso dia a dia a refeição pode ser ou não uma oportunidade de 
encontro entre a família. Para isso é preciso criar um ambiente adequado de silêncio, 
tranqüilidade, sem correrias, televisão, telefone, rádio e demais fatores que invadem a 
vida do indivíduo moderno. Neste momento podem surgir conversas amistosas, 
verdadeiros momentos de pausa e encontro entre pai, mãe e filhos. O que importa não é 
a quantidade de alimento, mas a atitude das pessoas, principalmente dos adultos que 
sustentam o ritual. 
Em relação às crianças, a refeição é um dos maiores instrumentos de educação das 
habilidades sociais. Desde o nascimento, a amamentação desempenha um papel muito 
importante ao criar uma relação de extrema intimidade entre a mãe e filho (a primeira 
relação social da criança) que nos faz perceber pela primeira vez que nós, seres humanos, 
precisamos uns dos outros e existimos uns para os outros. Mais tarde, na mesa, a criança 
observa atitudes como: respeito, veneração, capacidade de esperar a sua vez, 
disponibilidade para servir ao próximo, entre outras. Todo o ambiente é percebido 
atentamente por ela, a organização da mesa, disposição dos utensílios, o preparo e o 
cuidado com o alimento, a forma de se servir, os aromas, os sabores... todas essas 
impressões são registradas na alma da criança e levadas para a vida das relações. 
6. Conclusão: O tema desenvolvido neste artigo me suscitou grande interesse 
principalmente por causa do grande número de pais que queixam sobre a 
alimentação dos filhos. Em rodas de amigos e principalmente no ambiente do 
jardim de infância, no qual trabalho, surgem com freqüência, questionamentos e 
declarações do tipo: “ Joãozinho parou de comer”,“Joãozinho não gosta de fruta 
e verdura, só come a carninha...”, e principalmente “ Mas ele adora chocolate, quê 
que eu posso fazer?”. Enfim, ouvindo comentários desse tipo e observando a 
conduta dos adultos em relação às crianças pude ver que é grande a insegurança 
dos pais em relação primeiro às necessidades da criança e segundo à forma de 
conduzir a alimentação nos primeiros anos de vida. Os pais parecem confusos 
diante de tantas informações disponíveis e não sabem discernir entre o essencial 
e o supérfulo. Muitos demonstram grande medo dos filhos não comerem e não se 
desenvolverem de acordo com as tabelas de crescimento, outros não sabem como 
lidar com as preferências das crianças por doces e alimentos industrializados, 
outros parecem desconhecer por completo a importância de uma alimentação 
natural para a saúde, e outros não dispõe de tempo e interesse para tratar deste 
assunto. Enfim, esses e outros motivos acabam levando os adultos a cederem às 
vontades da criança que passa a decidir, por si mesmas, o que elas querem 
comer.Além disso, pude perceber que são muitos os fatores que interferem na 
alimentação de uma família, entre eles destaco dois como os que mais me 
chamaram a atenção:O primeiro se refere à perda do significado e dos rituais que 
permeavam a alimentação em outras épocas trazendo toda uma atmosfera sagrada 
para essa atividade. Como falamos ao longo deste artigo a alimentação é um dos 
retratos do desenvolvimento da consciência humana e à medida que a civilização 
tornou-se mais ligada à dimensão material o alimento também assumiu esta 
característica. Hoje, a ciência desenvolve fórmulas que contém todos os nutrientes 
de que o corpo necessita, mas se esquece da vida que permeia o alimento 
proveniente da natureza. A era industrial e mecanicista tem caminhado no sentido 
de transformar os alimentos em fórmulas prontas, práticas e desprovidas de vida.Há quem diga que dentro de alguns anos nos alimentaremos apenas de pílulas. 
Além disso, a entrada da mulher no mercado de trabalho e consequentemente a 
saída do lar e distanciamento dos cuidados em relação a ele contribuem para 
extinção dos hábitos de alimentação caseiros. A delegação dos cuidados da casa 
a terceiros e o ritmo desenfreado de trabalho dos adultos favorecem e estimulam 
esta forma de alimentação que vivemos hoje: comidas industrializadas, prontas e 
“mortas”. Comer se tornou mais uma das várias tarefas que temos de executar ao 
longo do dia. Entendo que o caminho para reverter essa situação será uma escolha 
individual de auto-educação e consciência. Cada homem precisará resgatar dentro 
de si o significado e a importância de voltar a se alimentar de forma 
espiritualizada. 
O outro fator, que também se liga ao contexto descrito acima, diz respeito ao 
despreparo dos pais para agirem no dia a dia com as crianças. A forma como o 
alimento é oferecido, a expectativa do adulto que oferece o alimento, o ambiente, 
o ritmo e outros elementos também precisam ser considerados, uma vez que são 
os responsáveis pela formação dos hábitos alimentares na primeira infância. 
Deixarei aqui algumas orientações que podem servir de ajuda neste sentido: 
o Desde a amamentação, e de acordo com as necessidades da criança, deve-
se buscar estabelecer um ritmo nos horários da refeição. O ritmo faz com 
que a criança se sinta segura ao longo do dia e contribui para a percepção 
das sensações de fome e saciedade que a criança vivencia no interior do 
seu próprio corpo. As crianças que “beliscam” o dia todo não conseguem 
sentir fome e por isso se interessam menos pela refeição. 
o O ambiente deve ser preparado e adequado às necessidades da criança. 
Deve-se zelar pela calma, tranqüilidade e silêncio neste momento. A 
utilização de ferramentas como televisão, músicas e brinquedos para 
distrair a criança favorece a aquisição de maus hábitos alimentares, além 
de suscitar na criança a impressão de que o alimento e a refeição têm um 
papel secundário e de menor importância. 
o A postura e a atitude do adulto que alimenta a criança são de suma 
importância. Segundo a pediatra húngara Emi Pikler, o adulto deve estar 
inteiramente presente e dedicado à criança durante os cuidados básicos 
com o seu corpo, tais como: troca de roupas, banho, alimentação e sono. 
Além disso, deve comunicar à criança, olhando nos seus olhos, tudo o que 
ele for fazer, por exemplo: “agora vou servir o seu prato e vamos nos 
sentar para almoçar”. Dessa forma pretende trazer a atenção da criança 
para o que está acontecendo e não distraí-la do processo. 
o Outra questão muito abordada pela pediatra Emi Pikler é a questão da 
autonomia. O adulto deve estar atento e conhecer a fundo as etapas do 
desenvolvimento infantil para oferecer à criança a autonomia na medida 
certa das suas capacidades. A criança pequena, inicialmente, deve ser 
alimentada no colo, envolvida pelos limites seguros dos braços do adulto. 
Então, gradativamente é convidada a participar mais das tarefas. Assim, 
após algum tempo passa a se sentar sozinha em sua cadeira, ganha uma 
colher para manusear o alimento, e vai ganhando autonomia até conseguir 
se alimentar sozinha inserida no ambiente dos adultos. 
o Da mesma forma, os alimentos oferecidos e os utensílios utilizados devem 
acompanhar o desenvolvimento da criança. As papas de fruta e sal devem 
ser substituídas por alimentos sólidos à medida que a criança seja capaz 
de mastigar. Os dentes devem ser estimulados, a partir do oitavo mês, com 
crostas de pão, cenoura crua e outros. Os líquidos devem ser oferecidos 
em colher ou copo, nunca em mamadeira por tudo o que já foi descrito 
anteriormente. 
o As crianças devem ser observadas e respeitadas em relação à regulação de 
seu apetite. Não se deve forçar a criança a comer nenhuma colher sequer, 
a mais do que ela comeria de bom grado. Além disso, jogos emocionais e 
permutas para a criança comer mais são completamente desaconselhadas, 
uma vez que associam o ato de comer a sentimentos de medo, necessidade 
de aceitação e recompensas. 
Com este trabalho espero sensibilizar alguns adultos sobre a importância de 
buscarem resgatar o verdadeiro sentido e significado da alimentação. Oferecendo 
ferramentas para lidarem com a introdução desta prática na vida da criança 
pequena e na construção de hábitos mais saudáveis desde cedo. Dessa forma 
torna-se possível transformar uma realidade desfavorável novamente em uma 
prática consciente e permeada pela vida. 
 
7. Referências Bibliográficas:GOEBEL, WOLFGANG ; GLOCKLER, 
MICHAELA. Consultório Pediátrico: Um Conselheiro médico-pedagógico. 
Tradução Dr Sônia Setzer. 3ª Edição – 2002. São Paulo. Editora Antroposófica. 
560p.BURKHARD, GUDRUN. Novos Caminhos de Alimentação. Volumes 1,2 
3 e 4.5ª Edição. São Paulo: Ed Antroposófica. 2009. 
BRUNO, MARIA LUCIA. Aroma, Paladar e Saúde: Orientações, receitas e 
cardápios da culinária antroposófica. São Paulo: Ed Antroposófica. 1992. 135p. 
STEINER, RUDOLF/GLOCKLER, MICHAELA. Os Tipos Constitucionais nas 
Crianças: Três palestras de Rudolf Steiner comentadas em três conferências da Dr 
Michaela Glockler. 3ª Edição. São Paulo: Editora João de Barro. 2007. 93p. 
HASSAUER, WERNER. O Nascimento da Individualidade: A gênese humana e 
a moderna obstetrícia. Tradução de Liselotte Sobotta. São Paulo: Ed. 
Antroposófica. 1987. 101p. 
HECKMANN, HELLE. Jardim de Infância: Estruturando o ritmo diário segundo 
as necessidades da criança pequena. Tradução Jacira Cardoso. 1ª Edição. São 
Paulo: Ad Verbum Editorial. 2008. 47p. 
NETO, CORINTIO MARIANI. Dicas sobre Aleitamento Materno. Projeto 
editorial e gráfico Casa Leitura Médica. São Paulo. 2010. 
MAYSA HELENA DE AGUIAR. Crianças estão consumindo produtos 
industrializados antes dos seis meses. Disponível em: 
revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI80971-15149,00.html. Data de 
acesso 10 junho de 2011. 
ANA PAULA PONTES. Anemia em crianças: Ministério da Saúde revela que 
20% delas têm deficiência de ferro. Disponível em: 
revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI69886-15149,00.html. Data de 
acesso: 10 junho de 2011. 
 
Fonte: Monografia de Patrícia Alvarenga Ferreira, postada por Mariana 
em 14 de maio de 2012 no BLOG 
http://cronicadoakasha.blogspot.com.br/

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