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SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL REALIZAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS SUPERVISÃO E COORDENAÇÃO METODOLÓGICA DIRETORIA DE ENSINO TÉCNICO ASSESSORIA TÉCNICA JOÃO MARCOS BRITO MARTINS – 2019/2018/2017 PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS – GERÊNCIA DA ESCOLA VIRTUAL PICTORAMA DESIGN Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola Nacional de Seguros E73s Escola Nacional de Seguros. Diretoria de Ensino Técnico. Seguros de responsabilidade civil geral / Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino Técnico; assessoria técnica de João Marcos Brito Martins. – 22. ed. – Rio de Janeiro : ENS, 2019. 189 p. ; 28 cm Formato: E-Book. 1. Seguros de responsabilidade civil geral. I. Martins, João Marcos Brito. II. Título. 0018-2234 CDU 368.41.016.1(072) 22ª EDIÇÃO RIO DE JANEIRO 2019 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou de partes dele, sob quaisquer formas ou meios, sem permissão expressa da Escola. SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL A Escola Nacional de Seguros promove, desde 1971, diversas iniciativas no âmbito educacional, que contribuem para um mercado de seguros, previdência complementar, capitaliza- ção e resseguro cada vez mais qualificado. Principal provedora de serviços voltados à educação continuada, para pro- fissionais que atuam nessa área, a Escola Nacional de Seguros oferece a você a oportunidade de compartilhar conhecimento e experiências com uma equipe formada por especialistas que possuem sólida trajetória aca- dêmica. A qualidade do nosso ensino, aliada à sua dedicação, é o caminho para o sucesso nesse mercado, no qual as mudanças são constantes e a compe- titividade é cada vez maior. Seja bem-vindo à Escola Nacional de Seguros. SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL 1. RESPONSABILIDADE CIVIL: ASPECTOS JURÍDICOS 8 INTRODUÇÃO 9 A Obrigação de Indenizar 9 A Posição do Corretor no Contexto Negocial 12 A SUBSCRIÇÃO DO RISCO NOS SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL 13 O Risco Moral 14 O Risco Físico 14 O Risco Jurídico 14 DIFERENÇA ENTRE RESPONSABILIDADE CIVIL E RESPONSABILIDADE PENAL 31 ELEMENTOS ESSENCIAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 32 Ação ou Omissão do Agente 32 Culpa ou Dolo do Agente 35 Nexo de Causalidade entre a Ação/Omissão do Agente e o Dano 36 Dano experimentado pela vítima 40 TEORIAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL: RESPONSABILIDADE OBJETIVA E RESPONSABILIDADE SUBJETIVA 41 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL 44 Responsabilidade Contratual 44 Responsabilidade Extracontratual ou Aquiliana 45 TERCEIROS 45 PRESCRIÇÃO 46 JURISPRUDÊNCIA 47 FIXANDO CONCEITOS 1 55 SUMÁRIO INTERATIVO SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL 2. CONHECENDO AS CARACTERÍSTICAS E OS PRINCÍPIOS DO SEGURO DE RCG 59 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 60 REEMBOLSO 61 BENEFICIÁRIO 63 TIPOS DE APÓLICES 63 Apólice à Base de Ocorrência 63 Apólice à Base de Reclamação 64 OBJETO DO SEGURO 68 LIMITES DE ATUAÇÃO DO SEGURO DE RCG 69 Riscos Não Operados 69 Exclusões de Riscos 71 LIMITES DE RESPONSABILIDADE 75 Limite de Responsabilidade por Sinistro 75 Limite Agregado ou Teto 75 REINTEGRAÇÃO DO LIMITE MÁXIMO E INDENIZAÇÃO 77 GARANTIA DE REEMBOLSO 77 FIXANDO CONCEITOS 2 79 3. DISPOSIÇÕES TARIFÁRIAS GERAIS 82 CONHECENDO AS DISPOSIÇÕES TARIFÁRIAS GERAIS 83 Proposta e Questionário 83 Garantia Única 84 Prazo do Seguro 84 Pluralidade de Coberturas 85 Critérios Adotados para o Cálculo dos Prêmios 85 Franquias 88 FIXANDO CONCEITOS 3 91 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL 4. RESPONSABILIDADE CIVIL MODALIDADES E CONDIÇÕES ESPECIAIS 93 MODALIDADES E CONDIÇÕES ESPECIAIS 94 MODALIDADES DE RCG MAIS UTILIZADAS NO MERCADO BRASILEIRO 96 RC – Estabelecimentos Comerciais e/ou Industriais 96 RC – Empregador 98 RC – Riscos Contingentes – Veículos Terrestres Motorizados 99 RC – Produtos no Território Nacional 100 RC – Produtos no Exterior 104 RC – Condomínios, Proprietários e/ou Locatários de Imóveis 105 RC – Guarda de Veículos de Terceiros 107 RC – Obras Civis e/ou Serviços de Montagem e Instalação de Máquinas e/ou Equipamentos 110 RC – Prestação de Serviços em Locais de Terceiros 113 RC – Familiar 115 OUTROS RAMOS DO GRUPO DE RESPONSABILIDADE CIVIL 116 RC – Profissional 116 RC – Profissional de Corretores de Seguro 117 RC – Administradores e Diretores (D&O) 119 FIXANDO CONCEITOS 4 121 5. RISCOS AMBIENTAIS 123 INTRODUÇÃO 124 LEGISLAÇÃO 126 Cobertura Adicional de Poluição Súbita 127 Cobertura de Poluição Súbita em RC – Produtos 128 RC – POLUIÇÃO AMBIENTAL 128 Objeto do Seguro 129 Riscos Excluídos 130 Participação do Segurado nos Prejuízos (PSP) 131 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Obrigações do Segurado 131 Liquidação de Sinistros 132 Renovação 132 FIXANDO CONCEITOS 5 133 6. SINISTROS 135 NOÇÕES DE REGULAÇÃO E LIQUIDAÇÃO DE SINISTROS 136 Características Básicas do Regulador 137 Documentação Pertinente à Regulação 137 Providências na Regulação 138 Utilização de Checklist 139 Regras para Liquidação de Sinistros 140 FIXANDO CONCEITOS 6 143 ESTUDOS DE CASO 145 ANEXOS 147 Anexo 1– Exemplo de Seguro de RC - Estabelecimentos Comerciais e/ou Industriais 147 Anexo 2 – Circular SUSEP 437, de 14 de junho de 2012 154 Anexo 3 – Glossário da circular SUSEP 437/12 158 GABARITO 186 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 189 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL 8 UNIDADE 101 ■ Perceber os riscos jurídicos a que estão expostos seus futuros clientes; ■ Compreender, em sentido amplo, como se processa a formação de responsabilidade; Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: ■ Transformar hipótese em caso concreto. INTRODUÇÃO A SUBSCRIÇÃO DO RISCO NOS SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL DIFERENÇA ENTRE RESPONSABILIDADE CIVIL E RESPONSABILDADE PENAL ELEMENTOS ESSENCIAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL TEORIAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL TERCEIROS PRESCRIÇÃO JURISPRUDÊNCIA FIXANDO CONCEITOS 1 TÓPICOS DESTA UNIDADE RESPONSABILIDADE CIVIL: ASPECTOS JURÍDICOS SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL 9 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO A Circular SUSEP 437, de 14 de junho de 2012, transcrita neste Manual, estabelece as regras básicas para a comercialização do Seguro de Res- ponsabilidade Civil Geral e disponibiliza, no endereço eletrônico da Supe- rintendência de Seguros Privados – SUSEP (www.SUSEP.gov.br), as condi- ções contratuais do Plano Padronizado deste seguro. A circular não determina normas de precificação às seguradoras; daí não conter disposições tarifárias tendentes à efetivação do cálculo do prêmio, como deve ser, ficando por conta da seguradora tal prerrogativa. Este manual não está configurado, completamente, com o Plano Padroni- zado, em razão de as seguradoras não estarem obrigadas a adotá-lo. Não obstante, o estudo das modalidades e assuntos tratados é suficiente para que os alunos possam compreender os pressupostos e nuanças do seguro de Responsabilidade Civil Geral (RCG), de tal modo que estejam capacita- dos a operar com qualquer tipo de plano, ou, dizendo de outra forma, os contratos novos de Planos Padronizados e os contratos novos de Planos não Padronizados. — A Obrigação de Indenizar Vamos entrar num mundo fascinante. Diz respeito ao modo como as pes- soas devem tratar umas às outras de forma que, em convivência pacífica, possam evitar danos a si mesmas. Mas como isso é possível? Na socieda- de moderna onde as grandes cidades estão apinhadas de gente e quase não há lugar para todos, fica difícil, digamos assim, viver sem estar sujeito a causar problemas a outras pessoas, ainda que sem intenção. http://www.susep.gov.br 10 UNIDADE 1 SEGUROS DERESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Trens, ônibus, metrôs estão quase sempre lotados. Essa realidade, na maioria do tempo, torna as pessoas cada vez mais impacientes e com a sensibilidade à flor da pele. Realmente, não é tarefa das mais simples, sobretudo porque sabemos ser responsabilidade do poder público traçar políticas públicas com objetivo de solucionar, ou ainda, tentar evitar as con- sequências decorrentes dos problemas surgidos nas interações humanas. Nem sempre os governos, no entanto, estão suficientemente preparados para agir a contento de demandas como essa. Nesse contexto, temos de concordar com os especialistas quando dizem que vivemos numa sociedade de risco. Parece, salvo melhor juízo, que o avanço tecnológico, decorrência direta da aceleração do conhecimento científico, não tem sido capaz de trazer alguma vantagem no sentido do quadro que expusemos. As normas de convivência traçadas pela socieda- de não têm acompanhado os riscos decorrentes da modernidade. Carros velozes, produtos perigosos, prédios inseguros, indústrias com controle de qualidade que deixa a desejar, serviços nem sempre presta- dos com a segurança requerida, crianças criadas com poucos limites, são aspectos, enfim, cujo entrelaçamento é capaz de constituir-se em poten- cial de dano à coletividade. Muito bem, surgidos os problemas, sobretudo aqueles de natureza econô- mica, vem à mente uma questão. Quem responderá por eles? Mais objeti- vamente, quem pagará por eles? Em termos gerais, nas catástrofes o poder público é chamado a intervir. Já no âmbito das pessoas, sejam naturais ou jurídicas, cada um deve responder pelos prejuízos a que derem causa. E aí reside o problema. Cada vez mais os acidentes acontecem com gran- de potencial de dano. Os cidadãos e as empresas nem sempre estão pre- parados para, em âmbito particular, suportar condenações judiciais decor- rentes de atos danosos por ele praticados. A solução é contratar, portanto, um seguro de responsabilidade civil, quando o potencial de causar danos a terceiros, de cada um, terá, por conta de uma seguradora, a reparação devida. O cidadão, a indústria, a loja, o produto vendido, o filho menor do chefe de família, o shopping center, o restaurante, enfim, todos eles, e cada um de per si, podem não ter recursos financeiros para indenizar eventuais prejuí- zos por eles causados, mas, certamente, terão como pagar o prêmio de seguro requerido para esse fim. É disso que vamos tratar: responsabilidade. 11 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Ilustrando na Prática — Casos Reais Desastre de Bhopal Considerado por muitos como o pior acidente industrial de todos os tempos, o Desastre de Bhopal recebeu esse nome, justamente por ter acontecido na cidade de Bhopal, na Índia. Na madrugada do dia 3 de dezembro de 1984, cerca de 40 toneladas de gases tóxicos vazaram da unidade da Union Carbide, uma fábrica de pesticidas de origem nor- te-americana. Estima-se que mais de 500 mil pessoas foram expostas ao isocianato de metila, um composto altamente danoso para o corpo humano. Os efeitos foram imediatos: muitos moradores das redondezas saíram de suas casas com náuseas, outros expeliram sangue e muitos foram vítimas de sérios problemas de visão. Ao menos 3 mil pessoas morre- ram. Sabe qual é a pior parte? Ainda existe em grande quantidade de lixo tóxico nos arredores da fábrica abandonada, e a população de Bho- pal ainda luta para tentar conseguir alguma indenização. Explosão da Plataforma P-36 Considerada a maior plataforma petrolífera do mundo, a P-36 era ope- rada pela Petrobras na Bacia de Campos, a 130km da costa do Rio de Janeiro. No dia 15 de março de 2001, duas explosões nas colunas de sus- tentação provocaram a morte de 11 integrantes da equipe de emergên- cia que estava a bordo, além de fazer com que a estrutura tombasse 16 graus. Em poucas horas, a plataforma já estava inteiramente submersa. Felizmente, o restante da tripulação conseguiu ser salva – um total de 164 trabalhadores. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), a causa do incidente foi a “não-conformidade quanto a procedi- mentos operacionais, de manutenção e de projeto”. Desastre de Minamata Embora seja comumente empregado em termômetros e outros produ- tos que utilizamos no dia a dia, o mercúrio é uma substância bastan- te perigosa – e o Desastre de Minamata traduz-se em exemplo para demonstrar esse nível de periculosidade . Tudo começou em 1965, quando vários habitantes da pequena cidade de Minamata, no Japão, deram entrada em hospitais com exatamente os mesmos sintomas: convulsões gravíssimas, surtos de psicose, per- da de consciência e febre altíssima. Todos morreram. As investigações apontaram que as vítimas apresentavam característica pitoresca em comum: todos consumiram quantidade considerável de peixes retira- dos da baía de Minamata. 12 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Após mais investigações, foi constatado que uma fábrica local utili- zava compostos de mercúrio na produção de PVC e os lançava dire- tamente na baía da cidade afetada, contaminando peixes, moluscos e aves naquele ecossistema. Hoje, estima-se que as vítimas fatais do incidente chegue a aproximadamente 900 pessoas. Se contabilizás- semos os moradores que ficaram com sequelas graves, no entanto, esse número certamente seria muito maior. — A Posição do Corretor no Contexto Negocial Quando um futuro segurado recebe o contato de um corretor, objetivando o oferecimento de um seguro de RCG, surgem dúvidas e racionalizações tais como: “bobagem, eu sou muito cuidadoso, nunca vou causar dano a ninguém; mas vou ver o que ele tem a me dizer”. É natural que seja assim, devido à forma como as pessoas pensam sobre si mesmas. O corretor precisa saber, então, que será mais difícil do que vender um seguro de automóvel, incêndio etc. Por quê? Pois, no entender do poten- cial cliente, não há percepção de urgência que justifique essa aquisição. É, segundo ele, se agir de forma cuidadosa, uma despesa que ele pode pres- cindir. Afinal, trata-se de um seguro de responsabilidade. Por conseguinte, o corretor deverá munir-se de argumentos persuasivos a fim de convencer o cliente. Existe a possibilidade de o corretor assustar o futuro segurado com possi- bilidades a beirar o catastrofismo ao propor hipóteses como condenação em juízo, perda de patrimônio por ter que indenizar terceiros etc. Deve-se evitar, a todo custo, agir dessa forma. A mensagem deve ser, a princípio, subliminar. Permita que o cliente o questione e, aos poucos, apresen- te a ele os problemas que poderão ser evitados com a contratação de um seguro. Faça isso, no entanto, sempre fundamentado nas dúvidas e/ ou interrogações suscitadas por ele. Em suma, complemente o raciocínio dele. Suas chances de fechar o negócio, ao agir assim, aumentarão consi- deravelmente. Lembre-se de que o futuro segurado espera ser atendido por um especia- lista. Na percepção dele, você, corretor, sabe tudo sobre o seguro e ainda acerca dos fatos da realidade que podem ocorrer em razão do funciona- mento dos negócios dele. Em resumo, estar preparado é fundamental. Reflexão O que há em comum nesses eventos? Descaso? Falta de cuidado? Gerenciamento de risco ineficaz? Falta de fiscalização? Imprevisibilidade? Inevitabilidade? Caso fortuito? Pense a respeito. 13 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL PREPARANDO A VISITA: Estude sobre a abrangência e especificidades do negócio onde o cliente atua. Pesquise na Internet os eventos danosos que atingiram riscos similares. Pesquise condenações, perda de clientela em razão de sinistro, pessoas envolvidas, a forma em que o acidente ocorreu, sobretudo se tiver sido de maneira inusitada. Enfim, perfaça-se munido de infor- mações completas sobre o risco segurado: o negócio do cliente. A SUBSCRIÇÃO DO RISCO NOS SEGUROS DE RESPONSABILIDADECIVIL Há três dimensões, entre outras, dependendo do risco, que devem ser consideradas: o risco moral, o risco físico e o risco jurídico. Tais dimen- sões, em conjunto, fornecerão ao subscritor as variáveis e seus respectivos pesos, determinantes à aceitação, ou não, do risco. O corretor não precisa ser um especialista em subscrição, até porque cada seguradora tem normas específicas para cada risco. Ele precisa entender, contudo, de aspectos gerais pertinentes ao tema, de tal maneira que pos- sa pensar como o segurador. É nessa direção que vamos analisar alguns aspectos centrais, os quais podem nos revelar, com clareza, as chances de o contrato ser aceito pelo segurador. QUESTIONAMENTO: Por que o corretor não precisa ser um especialista em subscrição? Respondemos: porque para ser especialista em subscrição ele teria que ter conhecimentos atuariais, ser um técnico de seguros na plena acepção da palavra. Não há necessidade disso. É muito difí- cil, numa só pessoa, ser técnico e vendedor ao mesmo tempo. O vendedor deve aguçar, portanto, o aspecto comercial, sem descuidar-se do conhecimento do produto. 14 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL — O Risco Moral A seguradora deve examinar detidamente a vida patrimonial do segurado. Os requisitos de honestidade, probidade e retidão são importantes aspec- tos na apreciação da aceitação do risco, no tocante ao risco moral. A propensão do segurado em causar danos a terceiros, com o objetivo de se locupletar dolosamente do contrato, pode existir (fraude). É hipótese a ser considerada. Não se trata de conceito subjetivo, portanto sujeito à opinião e/ou interpretação do analista. É análise vital no contrato de res- ponsabilidade civil, pois se trata de seguro de responsabilidade. — O Risco Físico Qual será o risco objeto do contrato? Um produto, uma indústria, um hos- pital, uma escola, um hotel, uma igreja, enfim, seja o que for, há específica propensão ao risco que deve ser objeto de análise e aí, de forma pontual, já que é objeto de mensuração. As seguradoras exigem o preenchimento de um questionário de análise de risco, que será complementado por uma vistoria a ser realizada, em regra, sobretudo nos riscos que exijam maiores cautelas. — O Risco Jurídico Não menos relevante é o risco jurídico. Há empresas cuja responsabilida- de se caracteriza por meio da apuração de culpa. Em outras, porém, bas- tam apenas o fato e a relação de causalidade, para que emerja a obrigação de indenizar. Nada obstante, durante a apuração da culpa podem surgir as chamadas excludentes de responsabilidade, que desobrigarão o causador do dano de qualquer responsabilidade. Como se sabe, por meio do contrato de seguro, o segurado transfere à seguradora a sua obrigação de indenizar. Avulta de importância, portanto, os aspectos jurídicos que permeiam a análise de subscrição do risco, sob o ponto de vista da responsabilidade. Muitas vezes o pagamento do sinistro vai depender de interpretação judi- cial. Outras variáveis, no entanto, podem surgir. Seja sobre a cobertura propriamente dita, seja sobre as condições gerais que excluem determina- da causa que a justiça entenda ser objeto de pagamento, enfim, quando adentramos no campo da interpretação ficamos à disposição do intérprete, que nem sempre entende o contrato da forma que foi concluído pelas par- tes (cia. de seguros e segurado). 15 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Ademais, que não se esqueça da figura do terceiro que, no seu interesse de ter eventual prejuízo ressarcido, pode complicar, digamos assim, a apre- ciação dos fatos. Tendo em vista a importância deste item da subscrição, vamos nos alongar um pouco. Estudaremos as principais legislações que devem ser objeto de análise. O Código Civil Brasileiro Vamos transcrever alguns artigos do Código Civil Brasileiro, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que determinam a obrigação de indenizar, a saber: DA RESPONSABILIDADE CIVIL: DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obri- gação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desen- volvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I – os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pes- soa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II – O tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acha- rem nas mesmas condições; 16 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimen- tos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V – os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antece- dente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz. Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decidi- das no juízo criminal. Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os coautores e as pessoas designadas no art. 932. Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la trans- mitem-se com a herança.” AVISO: ao longo deste manual, todos os artigos, acima elencados, serão objeto de análise própria. Farão parte dos títulos específicos de assuntos que serão desdobrados, para maior facilidade de compreen- são. Foram aqui colocados em bloco para melhor visualização e ideia de conjunto. 17 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL DO SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL “Art. 787. No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segu- rado a terceiro.” Vamos Comentar o Artigo O seguro de responsabilidadecivil é espécie do seguro de dano. Os segu- ros de responsabilidade civil são aqueles em que o segurado transfere ao segurador as perdas que possam advir ao seu patrimônio, resultante de indenizações que tenha de satisfazer a terceiros em razão de danos cau- sados a eles. O segurado transfere, portanto, as perdas financeiras resul- tantes da ocorrência do risco. O risco, no seguro de responsabilidade civil, é respeitante à obrigação que o segurado tem para com terceiros. O nosso código disciplina a questão da responsabilidade civil (obrigação de indenizar), como segue: “Art. 927: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obri- gação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desen- volvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” O código conceitua o ato ilícito nos artigos 186 e 187, a saber: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” O nosso Código Civil, como regra, determina a obrigação de indenizar com base na teoria da responsabilidade subjetiva. Vale dizer, aquele que causar prejuízo a outrem fica obrigado a reparar o dano desde que, por culpa, tenha dado causa a ele. Insere no parágrafo único, no entanto, como exceção, a obrigação de indenizar, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei. Ou seja, reforça as legislações já existentes, ou as que venham a existir, onde se determine que a reparação dos danos far-se-á por intermédio da simples verificação do nexo causal entre a conduta do agente e o resul- tado (teoria objetiva). É dispensável, nesse caso, para os efeitos da responsabilidade civil, a verifi- cação da culpa. O Código de Defesa do Consumidor, a Lei do Meio Ambien- te, a Lei Antitruste, as leis que regulam todo o tipo de transporte, entre outras, são exemplos de legislação que determinam a responsabilidade civil do agente segundo a teoria da responsabilidade objetiva (teoria do risco). 18 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Como visto, o parágrafo único, do artigo 927 acima transcrito, determina as duas hipóteses em que o agente responderá pela reparação dos danos independentemente da existência de culpa: os casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente exercida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Então, exceto os casos especificados em lei, ficará a cargo da jurisprudên- cia (veremos mais adiante alguns exemplos) determinar em que circunstân- cias responderá o agente que deu causa, ainda que sem culpa, ao evento. Em outras palavras, ficará ao arbítrio do julgador a aplicação ou não da teoria objetiva, esta que se filia à teoria do risco, uma vez que nem sempre restará claramente a responsabilidade do autor do dano em face da neces- sidade de conjugação dos fatores citados. A teoria do risco (objetiva) tem por fundamento o seguinte: aquele que cria um risco potencialmente gravoso para a sociedade tem a obrigação de repará-lo. Desde que, evidentemente, estejam presentes os pressupostos insertos na norma em questão, a saber: a)- atividade normalmente exercida pelo autor, o que pressupõe regularidade no exercício da função executa- da; b)- a natureza da atividade, o que determina o seu caráter imanente, próprio, considerado em si mesmo e c)- risco para os direito de outrem. Presentes esses pressupostos restará configurada a responsabilidade em reparar os danos, independentemente da existência de culpa. A obrigação de indenizar da Seguradora, portanto, nos seguros de res- ponsabilidade civil, restou aumentada com a inserção do parágrafo único ora comentado. Sabido que o segurado transfere à seguradora as consequências finan- ceiras, adversas, decorrentes de sua responsabilidade por fato próprio, por fato de pessoas que estão sob sua responsabilidade e por fato de coisa de sua propriedade ou pelas quais responda, certamente o setor de análise e subscrição de riscos da seguradora deverá levar em conta tais aspectos, a fim de se adequar ao que determina a lei. Cada vez mais a sociedade tem buscado repartir melhor os prejuízos que a todos atinge. Essa busca encontrou na teoria do risco (responsabilida- de objetiva) uma resultante natural. A reparação dos prejuízos nos seguros de responsabilidade apresenta dificuldades nem sempre presentes nos seguros de bens. Isso porque, a propensão à causação de danos, em cada modalidade considerada, ten- do em vista o interesse jurídico tutelado, é diferenciada. Por exemplo, um segurado proprietário de veículo de pequeno porte pode causar prejuízo maior do que um caminhão o faria, em um acidente de trânsito. O que está em jogo é a severidade do dano. Não guarda relação neces- sária com o objeto segurado. Daí a fixação do limite máximo indenizável da apólice mostrar-se complexa. 19 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Há ainda os casos nos quais os danos nem sempre aparecem imediata- mente após a ocorrência do fato gerador. Nos seguros de responsabilida- de civil profissional há danos que se mostram anos após a ocorrência do fato que lhes deu causa. Por exemplo: o cirurgião esquece uma gaze no corpo do paciente. Dependendo do tipo de organismo e local, os efeitos danosos podem levar anos para surgir. As apólices brasileiras têm texto padrão determinando que o seguro de responsabilidade civil tem por objetivo reembolsar o segurado das quan- tias pelas quais vier a ser responsável civilmente, em sentença judicial transitada em julgado ou em acordo autorizado de modo expresso pela seguradora, relativas a reparações por danos involuntários, corporais e/ou materiais causados a terceiros, decorrentes dos riscos cobertos. O dano corporal é definido como qualquer doença ou dano corporal sofri- do por pessoa inclusive morte ou invalidez. O dano material, qualquer dano físico à propriedade tangível, inclusive todas as perdas materiais rela- cionadas com o uso dessa propriedade. Reitere-se, aqui, os lucros cessan- tes e os prejuízos financeiros. A cobertura para os riscos decorrentes de condenação por dano moral são normalmente objeto de cláusula adicional ao contrato padrão, a pedido do segurado, se o desejar. No Brasil, o modelo de apólice adotado, como regra, ainda é o de reem- bolso. Ou seja, o segurador somente será obrigado a indenizar o segurado após o pagamento deste ao terceiro prejudicado. Tal proceder, como regra, também inviabiliza a possibilidade de ação direta do terceiro prejudicado contra o segurador. O fato de a seguradora, em muitos casos, sobretudo o de responsabilidade civil por danos causados por veículos, atender o terceiro diretamente, por ordem do segurado, repa- rando seu veículo ou mesmo o indenizando em espécie, não altera o con- ceito de apólice de reembolso. A escolha é da seguradora. Vale salientar que as seguradoras, de maneira geral, não observam rigo- rosamente a prática do reembolso. Em regra, indenizam diretamente o ter- ceiro. Faz sentido. No mais das vezes o segurado não tem o capital para satisfazer o prejuízo do terceiro. Ainda que o tivesse, uma vez feito o paga- mento, ele teria de discutir com a seguradora a qualidade do pagamento. Em outras palavras, ficaria na dependência de o segurador considerar váli- do ou não o pagamento feito por ele, seja o ato em si mesmo, seja o valor correspondente. Tal aspecto, o do reembolso, desnatura o caráter precípuo do contrato já que o reveste de uma incerteza incompatível com o interessesegurado que se pretende garantir. De todo modo, essa modalidade de seguro tem cumprido o seu papel, restando alguns ajustes cujo tempo é fator determi- nante nesse mister, além de algumas exceções. 20 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL “§ 1º Tão logo saiba o segurado das consequências de ato seu, suscetível de lhe acarretar a responsabilidade incluída na garantia, comunicará o fato ao segurador.” Vamos Comentar o Parágrafo O parágrafo primeiro determina a imediata comunicação de acidente que possa trazer responsabilidade ao segurado. Necessário se faz que ele tenha consciência e discernimento para saber se causou dano a outrem, e os efeitos da consequente responsabilização. As cláusulas da apólice devem ser suficientemente claras nesse sentido. Devem exemplificar situa- ções, as mais comuns, que podem gerar responsabilidade de indenizar por parte do segurado. Nesse aspecto, o seguro de responsabilidade civil é peculiar. Diferente- mente dos demais seguros de danos, com objeto segurado determinado, o seguro de responsabilidade civil requer outros métodos de apuração de responsabilidade e técnicas diferenciadas de contratação. Um dentista, por exemplo, segurado contra erros e/ou omissões no exer- cício da profissão, pode levar meses e meses até saber que um deter- minado procedimento cirúrgico provocou problemas ao paciente. Isso é muito comum na área de saúde em geral, contemplada com o seguro de responsabilidade civil profissional. No tocante à demora em notificar a seguradora de um evento conheci- do, não pode o segurado ser privado da cobertura por só esse fato. Não obstante, ele responderá pelas consequências da demora, caso em que deverá a seguradora provar que, se fosse avisada em tempo, os prejuí- zos poderiam ter sido menores, ou, em alguns casos, até mesmo evitados. Tudo isso, evidentemente, respeitados os prazos prescricionais. A prescrição do segurado contra o segurador está estipulada no artigo 206, § 1°, II do código civil. Determina que prescreve em um ano a preten- são do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou de data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão. Já a prescrição para a reparação civil é de três anos, consoante o pará- grafo terceiro inciso V do citado art.206. Portanto, é o prazo que o terceiro prejudicado tem para acionar aquele que lhe causou dano. 21 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL “§ 2º É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com o terceiro pre- judicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.” Vamos Comentar o Parágrafo O parágrafo segundo determina expressamente o proceder do segura- do com aquele a quem causou dano. A conduta deve estar, portanto, em estreita sintonia com as determinações do segurador. Isso porque, nes- se ramo de seguro, o segurado transfere ao segurador as consequências financeiras, danosas, oriundas de sua conduta que possam ocasionar danos a terceiros. Os riscos suscetíveis de causar prejuízos, portanto, a pessoas e/ou coi- sas, determinadas ou não. Sejam tais riscos causados por fato próprio, por fato de algum bem ou negócio de sua propriedade ou mesmo por fato de alguém por quem o segurado responda, segundo a legislação vigente, como já visto. Não é possível, sendo assim, o segurado admitir a culpa com o terceiro. Seja porque nem sempre ele tem condição de analisar a situação de tal sorte que, tecnicamente, chegue a essa conclusão, seja porque, na hipó- tese de o fazer, retira da seguradora o direito em buscar acordo melhor. Sabe-se que a seguradora possui corpo técnico jurídico aparelhado para tratar dessas questões. Reitere-se, além disso, que o risco da perda finan- ceira já havia sido transferido ao segurador por ocasião da emissão da apólice. Daí, por direito, caber ao segurador fazer a regulação do sinistro uma vez que o dispêndio financeiro será dele (segurador). Deve, portanto, o segurado evitar o reconhecimento de culpa ou assumir responsabilidades perante o terceiro, bem como fazer acordos fora das estipulações contratuais. A lei, se agir assim, não estará ao lado dele. “§ 3º Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao segurador.” Vamos Comentar o Parágrafo No Brasil, o terceiro prejudicado não tem ação direta contra o segurador daquele segurado que lhe causou o dano. Seja porque o segurado con- tratou o seguro para obter reembolso das quantias pelas quais vier a ser responsável por danos causados a terceiros, e, portanto, em seu próprio benefício, seja porque a vítima não tem relação jurídica com o segurador. Afinal, não é parte no contrato. Essa é a regra. 22 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL O contrato de seguro foi realizado entre segurado e segurador. Sem aden- trar no mérito da justiça do sistema, malgrado opiniões em contrário, essa é a regra. A seguradora não aceita sequer a reclamação do terceiro direta- mente. É indispensável a comunicação do segurado na qual manifestará a sua culpa e/ou responsabilidade no evento. O terceiro parágrafo do artigo 787 determina que o segurado deva dar ciência imediata ao segurador, tão logo tenha conhecimento de qualquer ação contra ele ajuizada por possíveis prejudicados. Não importa se o segurado entenda não ter culpa ou responsabilidade no evento. A norma o obriga a comunicar sob pena de a seguradora poder ale- gar, na falta do aviso, que não pagará a indenização pois não teve a oportuni- dade de fazer a defesa em conjunto, ou mesmo tomar as rédeas do proces- so por estar melhor preparada para tal, caso pudesse ou quisesse fazê-lo. Esclarece-se, oportunamente, que nem sempre a seguradora pode tomar parte diretamente do processo. Há proibição expressa no Código do Con- sumidor, além de normas específicas no Código Civil e no Código de Pro- cesso Civil, cujo caso em concreto deverá ser objeto de análise. De todo modo, ao início do contrato, o segurado transferiu ao segurador as perdas financeiras decorrentes da ocorrência de riscos cobertos. Então, se é assim, o segurador detém legitimidade para buscar minimizar, ao máxi- mo, tais perdas. Impõe-se, pois, estar ciente de tudo. Até porque contribui- rá com todo o grupo segurado. Seguro é mutualismo. “§ 4º Subsistirá a responsabilidade do segurado perante o ter- ceiro, se o segurador for insolvente.” Vamos Comentar o Parágrafo Evidente que a responsabilidade é sempre do segurado. Quando ele trans- fere para o segurador as perdas financeiras oriundas dos possíveis danos que venha causar a terceiros, ele o faz nos limites da apólice e segundo as cláusulas e condições do contrato. Mas a presente norma não é de todo irrelevante. Existem situações, na prática, perfeitamente configuradas. Quando o segurador contrata uma oficina para reparar um veículo de ter- ceiro, por exemplo, ele o faz em nome do segurado. Após a entrega do car- ro reparado, a oficina se dirige ao segurador a fim de receber o valor dos reparos. Se, eventualmente, encontra o segurador em situação de insol- vência (falido) e, portanto, sem poder honrar o pagamento, o prestador de serviço, por direito, deverá cobrar do segurado o valor dos reparos. Não poderá o segurado se recusar a pagar a conta, sob o pretexto de que não participou das tratativas com a oficina contratada para o conserto. O exemplo do carro, que se quer didático, pode ser, mudando o que deve ser mudado, aplicado a situações semelhantes que envolvam prejuízos de maior monta. 23 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL “Art. 788. Nos seguros de responsabilidade legalmente obri- gatórios,a indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado.” Vamos Comentar o Artigo Como já visto, nos comentários atinentes ao artigo anterior, o terceiro pre- judicado não tem ação direta contra a seguradora. A exceção a essa regra se aplica aos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios. O elenco dos seguros obrigatórios, seja de responsabilidade ou não, acha-se disposto no artigo 20 da Lei de Seguros (Decreto Lei 73/66), que os indivi- dualiza, sem prejuízo de outros que tenham sua obrigatoriedade prevista em leis especiais. “Parágrafo único. Demandado em ação direta pela vítima do dano, o segurador não poderá opor a exceção de contrato não cumprido pelo segurado, sem promover a citação deste para integrar o contraditório.” Vamos Comentar o Parágrafo O parágrafo único proíbe ao segurador recusar indenização à vítima em função do segurado não ter cumprido alguma cláusula contratual. Isso, como já exposto, em relação às hipóteses que permitem a vítima deman- dar diretamente contra o segurador. Assim, por exemplo, caso o segurado não tenha pago uma prestação do contrato, que o colocaria em situação de suspensão, não poderá opor tal circunstância à vítima sem que o segurado seja chamado a juízo para se posicionar a respeito. PERGUNTAS FREQUENTES P. Somente o Código Civil traça normas sobre a obrigação de indenizar no direito brasileiro? R. Não. Há outras legislações que tratam do assunto, mas referente a temas específicos. Por exemplo: o Código Brasileiro de Aeronáutica, o Código de Defesa do Consumidor, a Lei de Responsabilidade Civil por danos nuclea- res e muitas outras, além da Constituição Federal que traça normas gerais sobre o tema. P. As normas do Código Civil são mais importantes? R. Não é bem assim. O Código Civil normatiza as relações entre as pes- soas naturais e as pessoas jurídicas do país, entre si ou entre elas, espe- cificando os seus direitos e obrigações. Daí a sua importância. Apresenta, ademais, normas gerais que poderão, ou não, serem aplicadas em con- junto com outras legislações específicas de determinados segmentos, tais como: Código do Consumidor, Código Brasileiro de Aeronáutica e outros. 24 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL P. O corretor precisa ser um especialista em direito, mais especificamente no capítulo da responsabilidade civil? R. Não há dúvida que quanto mais você conhecer o produto que vende, em qualquer negócio isso é verdadeiro, mais contratos serão fechados. É reco- mendável, portanto, possuir conhecimento razoável sobre o tema. Sem exa- geros, naturalmente. Estude de acordo com a sua disponibilidade de tempo. LEITURA RECOMENDADA: CAVALIERI, F. Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 12ª ed. 2015 – Editora Atlas. O Código de Defesa do Consumidor O Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90, criou o sistema de pro- teção e defesa do consumidor. Então, importa ressaltar a profunda altera- ção que essa lei impôs ao ordenamento jurídico nacional. Ela determina a responsabilidade objetiva (independentemente da existência de culpa) de todas as empresas fornecedoras de produtos e/ou prestadoras de servi- ços, como segue em alguns artigos transcritos parcialmente; a saber: “Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estran- geiro, e o importador respondem, independentemente da existên- cia de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumi- dores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondiciona- mento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos; § 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I – que não colocou o produto no mercado; II – que embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I – o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não pude- rem ser identificados; – o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis. 25 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quan- do provar: I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.” Observe-se que a lei é taxativa no tocante aos expressos dizeres: “inde- pendentemente da existência de culpa”, o que caracteriza a responsabi- lidade objetiva (teoria do risco). Vale repetir: o causador do dano respon- derá, ainda que não tenha sido culpado. A apuração da culpa, portanto, é irrelevante. A única exceção a essa regra, relativamente à prestação de serviços, diz respeito à responsabilidade do profissional liberal, consoante os termos da lei: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa”. O profissional liberal responderá, por- tanto, com base na responsabilidade subjetiva; a saber: somente se for comprovada a sua culpa no evento danoso. Convém chamarmos a atenção, por fim, para a repercussão dessa norma nos Seguros de RCG, pois a imensa maioria de nossos segurados, pessoas jurídicas (empresas industriais, comerciais e prestadoras de serviços), está enquadrada na definição do Código do Consumidor (arts. 12, 13 e 14, acima transcritos); ou seja, respondem independentemente da existência de cul- pa (responsabilidade objetiva, teoria do risco). Falando em definição, e reforçando o perfil dos segurados do Ramo RCG, convém transcrever a definição de fornecedor; a saber: “Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes desperso- nalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distri- buição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou ima- terial. § 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de con- sumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das rela- ções de caráter trabalhista.” 26 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL É fácil concluir que, após o advento do Código do Consumidor, inúmeros sinistros que não previam cobertura passaram a prevê-la, o que alterou, significativamente, o modo de análise e subscrição de risco das empre- sas seguradoras, já que passaram a reembolsar os segurados pelos danos causados aos consumidores, independentemente da existência de culpa; danos esses reconhecidos em sentença judicial ou por acordo com prévia e expressa autorização das seguradoras. O Comércio Eletrônico: Aplicação do Código de Defesa do Consumidor na Internet DECRETO Nº 7.962, DE 15 DE MARÇO DE 2013 (TRANSCRIÇÃO PARCIAL) “Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei no 8.078, de 11 de setem- bro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio eletrôni- co, abrangendo os seguintes aspectos: I – informações claras a respeito do produto, serviço e do fornecedor; II – atendimento facilitado ao consumidor; e III – respeito ao direito de arrependimento. Art. 2º Os sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados para oferta ou conclusão de contrato de consumo devem disponi- bilizar, em local de destaque e de fácil visualização, as seguintes informações:I – nome empresarial e número de inscrição do fornecedor, quan- do houver, no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas ou no Cadas- tro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda; II – endereço físico e eletrônico, e demais informações necessárias para sua localização e contato; III – características essenciais do produto ou do serviço, incluídos os riscos à saúde e à segurança dos consumidores; IV – discriminação, no preço, de quaisquer despesas adicionais ou acessórias, tais como as de entrega ou seguros; V – condições integrais da oferta, incluídas modalidades de paga- mento, disponibilidade, forma e prazo da execução do serviço ou da entrega ou disponibilização do produto; e VI – informações claras e ostensivas a respeito de quaisquer res- trições à fruição da oferta. Art. 5º O fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os meios adequados e eficazes para o exercício do direito de arre- pendimento pelo consumidor. 27 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL § 1º O consumidor poderá exercer seu direito de arrependimento pela mesma ferramenta utilizada para a contratação, sem prejuízo de outros meios disponibilizados. § 2º O exercício do direito de arrependimento implica a rescisão dos contratos acessórios, sem qualquer ônus para o consumidor. § 3º O exercício do direito de arrependimento será comunicado imediatamente pelo fornecedor à instituição financeira ou à admi- nistradora do cartão de crédito ou similar, para que: I – a transação não seja lançada na fatura do consumidor; ou II – seja efetivado o estorno do valor, caso o lançamento na fatura já tenha sido realizado. § 4º O fornecedor deve enviar ao consumidor confirmação imedia- ta do recebimento da manifestação de arrependimento. Art. 6º As contratações no comércio eletrônico deverão observar o cumprimento das condições da oferta, com a entrega dos produ- tos e serviços contratados, observados prazos, quantidade, quali- dade e adequação. Art. 7º A inobservância das condutas descritas neste Decre- to ensejará aplicação das sanções previstas no art. 56 da Lei no 8.078, de 1990.” A aplicação do Código de Defesa do Consumidor far-se-á nos negócios eletrônicos em consonância com os mesmos preceitos jurídicos já existen- tes. O decreto acima, parcialmente transcrito, teve por finalidade a melhor caracterização de responsabilidade de sites, provedores, empresas de cobrança etc., de forma a elastecer a proteção e defesa dos interesses dos consumidores, haja vista o aumento exponencial dos negócios por meio da rede. Sempre lembrando que as nossas empresas seguradas também comercializam pela internet. O Comércio Eletrônico: Marco Civil da Internet – Lei Nº 12.965, de 23.04.2014 DOS DIREITOS E GARANTIAS DOS USUÁRIOS “Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I – inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; II – inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; 28 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL III – inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas arma- zenadas, salvo por ordem judicial; IV – não suspensão da conexão à internet, salvo por débito direta- mente decorrente de sua utilização; V – manutenção da qualidade contratada da conexão à internet; VI – informações claras e completas constantes dos contratos de prestação de serviços, com detalhamento sobre o regime de pro- teção aos registros de conexão e aos registros de acesso a aplica- ções de internet, bem como sobre práticas de gerenciamento da rede que possam afetar sua qualidade; VII – não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclu- sive registros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei; VIII – informações claras e completas sobre coleta, uso, armaze- namento, tratamento e proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que: a) justifiquem sua coleta; b) não sejam vedadas pela legislação; e c) estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicações de internet; IX – consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e tratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de forma des- tacada das demais cláusulas contratuais; X – exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei; XI – publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos prove- dores de conexão à internet e de aplicações de internet; XII – acessibilidade, consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos ter- mos da lei; e XIII – aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo realizadas na internet. Art. 8º A garantia do direito à privacidade e à liberdade de expres- são nas comunicações é condição para o pleno exercício do direi- to de acesso à internet. 29 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Parágrafo único. São nulas de pleno direito as cláusulas contra- tuais que violem o disposto no caput, tais como aquelas que: I – impliquem ofensa à inviolabilidade e ao sigilo das comunica- ções privadas, pela internet; ou II – em contrato de adesão, não ofereçam como alternativa ao con- tratante a adoção do foro brasileiro para solução de controvérsias decorrentes de serviços prestados no Brasil.” Da Responsabilidade por Danos Decorrentes de Conteúdo Gerado por Terceiros “Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabi- lizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. § 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, identificação clara e específica do conteúdo apon- tado como infringente, que permita a localização inequívoca do material. § 2º A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a direitos conexos depende de previsão legal específi- ca, que deverá respeitar a liberdade de expressão e demais garan- tias previstas no art. 5o da Constituição Federal. § 3º As causas que versem sobre ressarcimento por danos decor- rentes de conteúdos disponibilizados na internet relacionados à honra, à reputação ou a direitos de personalidade, bem como sobre a indisponibilização desses conteúdos por provedores de aplicações de internet, poderão ser apresentadas perante os jui- zados especiais. § 4º O juiz, inclusive no procedimento previsto no § 3º, poderá antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, existindo prova inequívoca do fato e considerado o interesse da coletividade na disponibilização do conteúdo na internet, desde que presentes os requisitos de verossimilhança da alegação do autor e de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. 30 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Art. 20. Sempre que tiver informações de contato do usuário diretamente responsável pelo conteúdo a que se refere o art. 19, caberá ao provedor de aplicações de internet comunicar-lheos motivos e informações relativos à indisponibilização de conteúdo, com informações que permitam o contraditório e a ampla defesa em juízo, salvo expressa previsão legal ou expressa determinação judicial fundamentada em contrário. Parágrafo único. Quando solicitado pelo usuário que disponibili- zou o conteúdo tornado indisponível, o provedor de aplicações de internet que exerce essa atividade de forma organizada, profissio- nalmente e com fins econômicos substituirá o conteúdo tornado indisponível pela motivação ou pela ordem judicial que deu funda- mento à indisponibilização. Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiaria- mente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo. Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que permitam a identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da legitimidade para apresentação do pedido.” O Marco Civil da Internet trouxe a caracterização da responsabilidade das empresas que operam na rede, responsabilidade essa que não difere dos comandos legislativos já existentes. Em face das especificidades, contu- do, que envolvem o comércio eletrônico, havia a necessidade de explicitar melhor as relações entre os operadores do sistema, dado às peculiarida- des de cada um. Não nos esqueçamos, todavia, que as grandes empresas, nossos segu- rados, que operam na rede, já existiam antes dela. Evidentemente que as apólices de RCG não podem excluir os riscos decorrentes de operações na rede. Na dúvida, privilegie-se a Lei. LEITURA RECOMENDADA: ALBERTIN, Alberto Luiz. Comércio eletrônico: modelo, aspectos e contribuição de sua aplicação. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 31 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL DIFERENÇA ENTRE RESPONSABILIDADE CIVIL E RESPONSABILIDADE PENAL O fundamento da Responsabilidade Civil e da Responsabilidade Penal são praticamente os mesmos. A diferença reside nas condições em que sur- gem, porque uma (penal) é mais rigorosa do que a outra (civil), quanto aos requisitos que devem ser atendidos para que tenham efetividade. A Responsabilidade Penal nasce da violação à norma constante da lei penal, enquanto que a Responsabilidade Civil emerge do simples fato do prejuízo, que viola também o equilíbrio social, mas não exige as mesmas medidas, no sentido de restabelecê-lo, mesmo porque outra é a forma de consegui-lo. A reparação civil reintegra o prejudicado na situação patrimonial anterior; ao passo que a sanção penal tem por finalidade restituir a ordem social ao estado anterior à infração. Quando coincidem, a responsabilidade penal e a responsabilidade civil proporcionam as respectivas ações; isto é, as formas de se fazerem efe- tivas: uma, exercível pela sociedade (penal), outra, pela vítima (civil); uma tendente à punição (penal), outra, à reparação (civil). A ação cível aí sofre, em larga proporção, a influência da ação penal. Nos- so ordenamento, como regra, dispõe no artigo 935: “A responsabilidade civil é independente da criminal; não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”. Então, se houver condenação para ato criminoso, não há o que se discutir no juízo cível. Porém, em sentido contrário, a premissa não é verdadeira. Havendo absolvição no crime, pode haver condenação no juízo cível. O tratamento do assunto não é pacífico. A rigor, as discussões acerca da melhor interpretação são muitas. Nem poderia ser diferente, pois há valo- res distintos em jogo. O caso concreto conduzirá o julgador na interpreta- ção mais adequada. Porém, como regra geral, fiquemos com o que foi dito. VAMOS RESUMIR? RESPONSABILIDADE CIVIL RESPONSABILIDADE PENAL Emerge do Prejuízo Surge da violação à norma Reintegra o Patrimônio Restitui a ordem social Ação da vítima Ação da Sociedade Tende à Reparação Civil Tendente à Punição 32 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Atenção: sempre que você se deparar com a expressão “reparação civil”, sig- nifica que haverá pagamento em dinheiro (ou equivalente) a alguma vítima de ato danoso. A expressão indica sempre a necessidade de indenizar-se alguém. ELEMENTOS ESSENCIAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL O interesse em restabelecer o equilíbrio econômico-jurídico alterado pelo dano é a causa geradora da responsabilidade civil. Na caracterização da obrigação reparatória, devem estar presentes os seguintes elementos: ação ou omissão do agente, culpa ou dolo do agente, nexo de causalidade e dano. Presentes os elementos citados, restará caracterizada a obrigação em reparar o dano por parte daquele que o causou. Veremos, mais adiante, que a responsabilidade objetiva (teoria do risco) prescinde (dispensa, não precisa) do elemento culpa, ou melhor, sua verifi- cação se torna desnecessária haja vista exigir a simples presença do dano e do nexo causal. Estudaremos, além disso, todos os elementos, seja para configurar corre- tamente a teoria subjetiva (exige verificação dos quatro elementos), seja para obtermos visão melhor do conjunto de provas que se deseja, a fim de que se alcance o resultado. — Ação ou Omissão do Agente A ação (ato comissivo) e a omissão (ato omissivo) constituem o primeiro pres- suposto da responsabilidade civil, que, originando dano a outrem, geram o dever de reparação. Melhor talvez fosse dizer-se a conduta do agente, das quais a ação e a omissão são espécies. Adotamos, porém, as expressões mais correntes, por motivo de clareza e facilidade de compreensão. A responsabilidade pela reparação do dano pode surgir: por fato próprio, por fato da coisa, por fato de outrem, por fato do produto e/ou do serviço. Constituem-se em esferas de reparação de danos, nas quais o responsá- vel, tendo em vista injunções (influência coercitiva de leis, regras, costumes ou circunstâncias) de fato ou de direito, percebe-se obrigado a responder por eventuais prejuízos causados a terceiros. Reitere-se que essas classificações são elaboradas no sentido de permitir análise mais apurada dos fatos. Ou seja, quando decompomos algo em par- tes menores, entendemos que o entendimento se revela mais clarificado. 33 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL a) Responsabilidade por fato próprio ou direta Tal responsabilidade é oriunda de danos que o cidadão possa causar a terceiros por meio de ações ou omissões praticadas por ele mesmo, sem o emprego de coisas que estejam sob a sua esfera de vigilância ou guar- da. Ressalte-se que os danos são decorrentes de fatos provocados pela própria pessoa. Como exemplo, os crimes contra a honra das pessoas; a saber: difamação, injúria e calúnia, além de outros, em qualquer esfera, praticados pelo próprio. Destaque-se o entendimento de doutrinadores, no sentido de considerar os danos causados pelo proprietário do automóvel, por exemplo, como responsabilidade por fato próprio, se o mesmo estiver na condução do veículo. De outro modo, se o veículo é conduzido por terceiro admite-se a responsabilidade por fato da coisa. Evidentemente que qualquer entendi- mento não afastará o direito do lesado. b) Responsabilidade por fato da coisa O título sugere que a coisa possa causar prejuízos a terceiros por si mes- ma, o que não espelha a realidade. A coisa não é capaz de fatos. Em rea- lidade, os prejuízos são causados por intermédiodelas. Não obstante, tal classificação é empregada largamente nos meios jurídicos, particularmen- te quando se trata de danos causados pelos automóveis, aviões, trens, embarcações, indústrias, produtos etc. c) Responsabilidade por fato de outrem A expressão acima contém impropriedade, ou, no mínimo, imprecisão. No sistema de responsabilidade civil fundado na culpa, o dano só pode acarretar obrigação de reparar para aquele que o pratica. Segundo essa perspectiva teórica, cada um responde pessoalmente pelos próprios atos. A doutrina utiliza amplamente o termo, no entanto, para designar a respon- sabilidade de pais, tutores, curadores, patrões, dentre outros, pelos danos que aqueles que estão sob a esfera de vigilância, proteção ou fiscalização tiverem causado a terceiros. Trata-se, principalmente, da responsabilidade originada da culpa in eligendo e da culpa in vigilando. A culpa in eligendo refere-se à má escolha de determinada pessoa para a realização de atos e/ou obrigações. Por exemplo: o patrão responde por atos de seus empregados. A culpa in vigilando refere-se à falta de vigilância em relação a procedi- mentos de pessoas e coisas. Em havendo consequências danosas, o res- ponsável será chamado à resposta de acordo com o artigo 932 do Código Civil. Por exemplo: os pais são responsáveis por danos que os filhos meno- res causem a terceiros. 34 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL ATENÇÃO: há casos em que tanto pode ser caracterizada a culpa in eligendo quanto a culpa in vigilando, ao mesmo tempo. Isso não altera em nada a responsabilidade de quem venha a responder pelo causador. Por exemplo: o patrão pode responder, em determinada situação, com base nas duas caracterizações de culpa. d) Responsabilidade por fato do produto e do serviço A lei 8078/90, Código de Proteção e Defesa do Consumidor, em seus arti- gos 12, 13 e 14, estabelece a responsabilidade objetiva dos fornecedores de produtos e serviços. Caracterizada a relação de consumo, não há o que discutir relativamente à culpa do agente fornecedor, vez que essa é legalmente presumida. A determinação da responsabilidade far-se-á independentemente da apu- ração de culpa, abrindo-se exceção para o profissional liberal, quando está indicada a regra da teoria subjetiva (art.14 § 4°: A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa). A responsabilidade das seguradoras, quando por fato do serviço, situa- -se nesse contexto jurídico, particularmente no âmbito do artigo 3° § 2° do Código de Defesa do Consumidor. Portanto, a obrigação é contratual e objetiva. “Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes desperso- nalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, dis- tribuição ou comercialização de produtos ou prestação de servi- ços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de con- sumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das rela- ções de caráter trabalhista.” Merece consideração, nessa reflexão, o fato de que o contrato de seguro foi definido pelo legislador como de prestação de serviço. Essa inclusão não altera, evidentemente, a natureza do contrato de seguro, pois seguro é contrato de garantia. Admite-se que a inclusão legislativa almejou contemplar e compreender a hipossuficiência do consumidor, que, aliás, num contrato de seguro, nem deve ser assim considerado. Na maioria das vezes ele é assessorado por um corretor de seguros que recebe comissão para ajudá-lo a retirar do contrato a maior utilidade possível. É apenas uma observação. Há contro- vérsias acerca dessa tese. 35 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL HIPOSSUFICIÊNCIA DO CONSUMIDOR: Implica admitir que o consumidor é a parte frágil da relação, como regra. Imagine o consumidor diante de um grande banco, de uma empresa multinacional, por exemplo, tentando fazer valer seus direitos. A desproporção é flagrante. No sentido de contornar essa desvantagem, digamos assim, o Código do Consumidor, no capítulo da proteção contratual, em seu artigo 47, dispõe: “As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”. — Culpa ou Dolo do Agente Quanto à Culpa ou dolo do agente, cumpre assinalar que a culpa é defi- nida como o desvio de uma norma de conduta. A culpa, em termos gené- ricos, desdobra-se em dolo e culpa propriamente dita. O dolo é elemento interno, que reveste o ato da intenção de causar o resultado. Já na culpa, em sentido estrito, a vontade é dirigida ao fato causador da lesão; mas o resultado não é o desejado pelo agente. A culpa decorre da falta de diligência na observância da norma de conduta por parte do agente, o qual não se deteve na consideração da consequên- cia eventual da sua atitude. Da culpa, caracterizada no art.186 do Código Civil decorrem outras noções; a saber: negligência, imprudência e imperí- cia. A negligência é resultado da omissão daquilo que razoavelmente se pode esperar, no contexto das relações humanas e sociais. Decorre, portanto, da inobservância de normas que exigem que operemos com atenção e discernimento. Ex.: a enfermeira deixou ministrar o remédio ao paciente, que, em decorrência, veio a falecer. A imprudência decorre da falta de cautela. Nesse caso, o procedimento do agente encontra-se em contradição com as normas de sensatez. Trata-se de ato positivo, cujas consequências poderiam ser previstas pelo agente. Ex.: o motorista, num dia chuvoso, na pista molhada, desenvolve veloci- dade de 200 km/h, quando o permitido no local era de 80 km/h. Já a imperícia é consequência da falta de habilidade do agente no exer- cício da atividade profissional requerida, cuja falta ocasiona o dano. Ex.: o médico prescrever ao doente um medicamento em dose incompatível com o seu estado de saúde, vindo o paciente a falecer em razão disso. Registre-se que, na prática, essas limitações humanas (negligência, impru- dência e imperícia), por vezes, revelam-se entrelaçadas, tornando difícil a sua classificação. Mas, de maneira geral, a dificuldade não altera a dire- ção da responsabilidade, pois o agente responderá pelos atos ilícitos que cometer, independentemente dessa ou daquela classificação. 36 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL — Nexo de Causalidade entre a Ação/ Omissão do Agente e o Dano Outro ponto digno de reflexão refere-se ao nexo de causalidade entre a ação ou omissão do agente e o dano. Nesse interessante e desafiador problema, lembramos que a relação de causa e efeito entre o ato danoso e suas consequências precisa ficar estabelecida com clareza. Se esse requi- sito não for atendido, não haverá obrigação de indenizar. A respeito do tema, destaque-se o estudo da Teoria da Causalidade Ade- quada, no qual se estabelece que causa constitui o antecedente necessá- rio e adequado à produção do evento. Trata-se de causa relevante, portan- to, que produziu efeito direto e evidente. O vínculo de causalidade não oferece maiores problemas quando a causa é simples. A dificuldade tende a ampliar-se quando houver mais de um fator concorrente para o evento. É o que se denomina concausa. É a situa- ção em que uma (ou várias) circunstância (s) ou condição (ões) concorre (m) para o evento, sem que seja possível determinar qual delas foi a pre- ponderante. Na apreciação e consequente elucidação das questões pertinentes, impor- ta igualmente distinguir causa e condição. No dicionário Aurélio Buarque Ferreira, encontramos: “causa: aquilo que faz com que uma coisa exista (não há efeito sem causa)” e condição: “circunstância, particularidade, aci- dente, que acompanhaum fato, uma situação”. Outro ponto de particular interesse para o presente estudo refere-se às Excludentes de Responsabilidade, que emergem da investigação sobre o nexo de causalidade entre a conduta do agente e o efetivo resultado danoso. É pertinente esclarecer que nem sempre o causador do dano deu origem a ele. Nem sempre o fator gerador do evento teve origem na ação ou omissão do agente. Tais situações não ficam muito claras na apreciação da culpa, ou na busca da responsabilidade daquele que deveria reparar o dano. São eventos nos quais não é possível identificar com clareza os limites e as fronteiras. Para fundamentar essa inferência apresentamos, a seguir, algumas das situa- ções mais comuns, que vão desonerar o agente de reparar os prejuízos. Culpa (fato) exclusiva da vítima Nesse caso, desaparece o nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado. Em realidade, o causador do dano é apenas um instrumento do acidente, visto que sua conduta não pode ser considerada como cau- sa do evento, pois não há relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado. Enquadra-se, nesse tipo, o exemplo do suicida, que se atira em direção ao veículo, sofrendo danos corporais. 37 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Culpa concorrente No caso da culpa concorrente não se pode precisar exatamente um único responsável pelo evento. O Código Civil contempla a questão em seu artigo 945: “Se a vítima concorreu culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”. Não obstante, em se tratando de relação de consumo, o Código de Defesa do Consumidor não admite, como regra, a culpa concorrente. Caso haja, interpreta-se em favor do consumidor. Culpa (fato) de terceiro É simples entender que, se a culpa é de terceiro, não há porque buscar elementos a respeito da responsabilidade do agente. Todavia, há casos de difícil visualização nesse propósito. O terceiro deles aqui indicado é aquele que não se configura como vítima ou como agente, pois se trata de pessoa estranha a essa relação. De igual maneira, não se confunde com aquelas pessoas a quem a lei (Código Civil, art.932) atribui responsabilidade por fato de outrem. O fato de terceiro, cujo condão é o de eliminar a responsabilidade do agente, há de ser aquele em que o nexo de causalidade está ausente por completo. Nesse caso, o terceiro será considerado como exclusivamente responsável; por isso não se aplica a noção de participação mitigada ou de alta relevância. Somente nesse diapasão é possível entender o fato de terceiro como excludente de responsabilidade. Exemplo do fato de terceiro: uma pessoa está assistindo a um espetáculo circense quando uma bala de fuzil, rompendo a lona, atinge a cabeça da vítima. Não se poderá culpar o proprietário do circo pelo evento. Ele não poderia prever, nem evitar tal desfecho. Caso fortuito ou de força maior Em nossos dias, está superada a discussão acerca da diferença entre o caso fortuito ou de força maior. O próprio legislador, no artigo 393, parágra- fo único, do Código Civil os equipara como sinônimos, determinando-os como o fato necessário cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Efetivamente comprovado o caso fortuito ou de força maior, estará afasta- da a responsabilização. O conceito, contudo, registra evolução. A ideia da defesa dos interesses cole- tivos também exerceu influência nesse desenrolar. A Teoria do Risco, segundo a qual aquele que cria um risco, ainda que lícito, potencialmente gravoso para a sociedade tenha o dever de repará-lo, parece retirar da esfera do caso fortui- to ou de força maior algumas hipóteses que lhe eram inerentes. 38 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL De todo modo, na apreciação da exclusão do nexo de causalidade, importa observarmos a circunstância de imprevisibilidade, intimamente ligada ao caso fortuito e o de inevitabilidade relacionado à força maior. Por abarca- rem conceitos de carga subjetiva, não há direção única. A jurisprudência tem vindo em auxílio na resolução dos casos mais complexos. Exemplos de caso fortuito: queda de raio, vendaval, furacão etc. Cláusula de não indenizar A cláusula de não indenizar, obviamente situada na obrigação contratual, já que objeto de convenção entre as partes, só tem validade quando não desna- turar a natureza mesma do contrato. Por exemplo: era comum nos lava-jatos, em postos de combustíveis, a seguinte inscrição: “Não nos responsabilizamos por danos causados aos veículos durante a lavagem”. Evidente que tal cláusu- la não retira a responsabilidade do posto em caso de dano. Uma cláusula de não indenizar adequada seria, por exemplo, a exclusão de uma cobertura numa determinada apólice de seguro, pois é da nature- za de um contrato de seguro tantos os riscos cobertos, quanto os riscos excluídos. Estado de necessidade Nosso ordenamento trata do assunto no Código Civil, em seu artigo art. 188-II e arts.929/930. A deterioração ou destruição de coisa alheia, empreendida a fim de remover perigo iminente, não constitui ato ilícito. No parágrafo único do artigo 188, acrescenta o legislador que não se cogi- tará de ilicitude, quando as circunstâncias tornarem absolutamente neces- sária a destruição de coisa alheia. O requisito é que não sejam ultrapassa- dos os limites do indispensável para a remoção do perigo. Por exemplo, quando o bombeiro arrebenta a porta de um apartamento para ter acesso a outro que está pegando fogo, com o objetivo de apagar o incêndio. Legítima Defesa Para efetivamente funcionar como excludente de responsabilidade, a legíti- ma defesa, Código Civil art. 188-I, deve atender a alguns requisitos. A condu- ta do agente deve ter por motivação a defesa a agressão atual ou iminente, estando presente a condição da absoluta impossibilidade de o agente pre- venir ou obstar a ação, ou ainda de receber socorro, desde que esteja se defendendo de agressão injusta e que não tenha dado causa a ela. Cumpre verificar a observância do emprego de meios adequados e pro- porcionais à agressão sofrida. Por exemplo, quando para se defender de um roubo em sua residência, o proprietário descarrega sua pistola automá- tica no ladrão. É possível que fosse necessário somente um ou dois tiros. É esse o espírito da lei. 39 UNIDADE 1 SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL Exercício regular de um direito reconhecido O Código Civil, também no art. 188-I, fundamentando-se no princípio de quem usa um direito seu não causa dano a ninguém, exclui a ilicitude de atos praticados no exercício regular de um direito. Importa, aqui, refletir sobre o abuso do direito, visto que, muitas vezes, não é fácil identificar os limites entre um e outro. Tal questão está prevista no Código em seu artigo 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Esse artigo, muitas vezes, sustenta causa de pedir contra seguradoras. Demora em autorizar reparos em oficinas, quando ultrapassado um con- texto de razoabilidade; planos e condições gerais que não preenchem as expectativas dos segurados, expectativas essas caracterizadas no pros- pecto de venda e outras situações similares, poderiam servir de exemplo. Um exemplo direto de exercício regular de um direito reconhecido seria as cabeçadas que ocorrem entre zagueiro e atacante num jogo de futebol, causando até mesmo traumatismo craniano. Tal prejuízo não poderá ser objeto de ação no sentido de ressarcimento de prejuízos. Estrito cumprimento do dever legal Refletindo sobre o assunto em tela, situamo-nos na esfera da responsabi- lidade do agente público, quando, nessa qualidade venha a causar dano a terceiro. A Constituição Federal é precisa em seu art. 37: “A administração
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