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TEORIA GERAL DO CONTRATO ALESSANDRO CARLO MELISO RODRIGUES alessandro.rodrigues@tjms.jus.br alessandro.rodrigues@unigran.com DIREITO DAS OBRIGAÇÕES X DIREITOS REAIS OBRIGAÇÕES relação jurídica entre sujeitos determinados (credor e devedor) Sujeitos determinados Vínculo representado por uma prestação Conteúdo da relação é patrimonial Efeitos da relação inter partes Relação se aperfeiçoa com a vontade das partes Baseado no negócio jurídico REAIS Relação de poder entre a pessoa e a coisa (relação material) Somente um dos polos da relação de poder é composto por sujeito determinado. Efeitos erga omnes Publicidade Relação se aperfeiçoa com a transferência da coisa: tradição ou transcrição Baseado no direito de propriedade TEORIA DO FATO JURÍDICO FATO JURÍDICO – todo acontecimento. Efeitos. a) FATO NATURAL – não decorre da atividade humana b) ATO JURÍDICO – decorre da atividade humana e idôneo estabelecer obrigações TEORIA DO FATO JURÍDICO ATO JURÍDICO a) ATO ILÍCITO – contrário ao ordenamento jurídico. Dano. Responsabilidade civil. b) ATO LÍCITO – conformidade ao ordenamento jurídico (se processa sobre o abrigo de uma permissão específica) TEORIA DO FATO JURÍDICO B) ATO LÍCITO b1) ATO MERAMENTE LÍCITO (ato jurídico em sentido estrito) – atos que existem por si só. Ocorrência de efeitos. Liberdade de celebração sem liberdade de estipulação. Ex. Gestão de negócios e enriquecimento sem causa. b2) NEGÓCIOS JURÍDICOS – existe declaração de vontade. Liberdade de celebração + Liberdade de estipulação. Ex. Renúncia e contratos. TEORIA DO FATO JURÍDICO B2) NEGÓCIO JURÍDICO – Liberdade de celebração + Liberdade de estipulação (autonomia privada – autorregular interesses privados) + direito associa a constituição, modificação e extinção de situações jurídicas b2.1) NEGÓCIO JURÍDICO UNILATERAL b2.2) NEGÓCIO JURÍDICO BILATERAL TEORIA DO FATO JURÍDICO B2) NEGÓCIO JURÍDICO UNILATERAL: Única declaração de vontade, ainda que feita por diversas pessoas Declaração ordenada de modo paralelo Interesse é único (ainda que compartilhado por várias pessoas) Efeitos da declaração não diferenciam as pessoas Dispensa a anuência da outra pessoa Institutos são sempre tipificados em lei Ex: testamento e renúncia TEORIA DO FATO JURÍDICO B2) NEGÓCIO JURÍDICO BILATERAL: Mais de uma declaração de vontade Declarações ordenadas de modo contrapostos Multiplicidade de interesses opostos ou pelo menos divergentes Efeitos da declaração diferenciam duas ou mais pessoas Aperfeiçoa com o consentimento (encontro de duas declarações de vontade – proposta + aceitação Liberdade de estipular o conteúdo (tipo aberto) Ex: Contrato e casamento TEORIA GERAL DO CONTRATO CONTRATO – DEFINIÇÃO CLÁSSICA: negócio jurídico bilateral que visa criar, modificar, extinguir direitos e deveres de conteúdo patrimonial * negócio jurídico bilateral * autonomia privada * cria, modifica, extingue direitos e deveres * conteúdo econômico + Art. 421, do CC: TEORIA GERAL DO CONTRATO ART. 421, DO CC: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato” Função social como limitação da autonomia contratual * Dignidade da pessoa humana (art. 1, III) * Solidariedade Social (art. 3, I) * Isonomia substancial (art. 3, III) Liberdade (art. 5) Crítica Prof Antonio Junqueira de Azevedo CONTRATOS PARTE GERAL Art. 421 – Atenção – foi ampliado e modificado pela Lei 13.874/2019 Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019) Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) CONCEITO MODERNO DE CONTRATO É o negócio jurídico bilateral, constitutivo de uma obrigação, mediante o qual as partes autorregulam interesses privados de caráter patrimonial, convergindo vontades para criar, modificar ou extinguir direitos e deveres, observados os limites da função social CONCEITO MODERNO DE CONTRATO Crise no contrato? Contrato amparado por valores constitucionais (solidariedade social; boa fé objetiva; função social ) A estruturação do contrato foi modificada – redimensionar seus limites: CF, CDC e CC 02 (diálogo das fontes). Contrato como algo necessário para valorização das necessidades humanas: aspecto social (pessoas são reconhecidas); aspecto filosófico (contrato como espelho dos valores assumidos pelas pessoa) e aspecto econômico (produção e circulação de riquezas) ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CONTRATO Teoria da escada ponteana PLANO DA EXISTÊNCIA: CC não traz dispositivo expresso Elemento fundamental – manifestação vontade (consentimento) Elemento estrutural – autorregulamentação interesse privado (autonomia). Maria Helena Diniz: alteridade. Elemento funcional – circulação de bens e riquezas. Maria Helena Diniz: composição de interesses contrapostos. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CONTRATO PLANO DA VALIDADE: Previstos no art. 104, do CC. Ausência acarreta a nulidade ou anulabilidade. Relacionados com a capacidade, objeto e forma. Subjetivos: A) capacidade genérica do contratante (capacidade de direito). B) capacidade para o exercício do direito (absolutamente incapaz e relativamente incapaz) C) capacidade específica para certos contratos ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CONTRATO PLANO DA VALIDADE: Objetivos: A) licitude do objeto B) possibilidade física ou jurídica do objeto C) objeto determinado (economicidade) D) forma adequada ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CONTRATO PLANO DA EFICÁCIA: Ausência de elementos acidentais que impedem a produção automática de efeitos Termo: evento futuro e certo que atrasa o começo da produção dos efeitos (termo inicial) ou faz cessá-lo (termo final) Condição: evento futuro e incerto que, se ocorrente, poderá dar início a produção dos efeitos (condição suspensiva) ou fazer cessar seus efeitos (condição resolutiva) Encargo: determinação acessória de negócios jurídicos gratuitos que impõe um ônus. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS CLÁSSICOS PRINCÍPIOS ? Ditames superiores, fundantes e simultaneamente informadores do conjunto de regras do Direito Positivo. Desapego da tendência excessivamente individualista, patrimonial, fechada do contrato, passando a reconhecer uma justa prevalência da pessoa humana, do bem social. Princípios Clássicos: - princípio da autonomia da vontade ou consensualismo. - princípio da liberdade contratual (autonomia privada). - princípio da força obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda). - princípio da relatividade subjetiva dos efeitos do contrato. Princípios Contemporâneos: - princípio da função social do contrato - princípio da boa fé objetiva - princípio da revisão contratual PRINCÍPIOS CONTRATUAIS CLÁSSICOS 01. PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO (autonomia vontade) Contrato se aperfeiçoa com o acordo de vontades Consentimento – anuência válida do sujeito a respeito da realização de um negócio. Implica manifestação válida de vontade das partes Encontro das vontades livres e contrapostas faz surgir o consentimento Exceções: contratos que se aperfeiçoam somente com a entrega da coisa. Contratos reais: mútuo, comodato, depósito e estimatório (ou por consignação)PRINCÍPIOS CONTRATUAIS CLÁSSICOS 02. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA Liberdade para autorregulamentar interesses privados Segundo sua conveniência e interesse Liberdade de contratar (pessoa) Liberdade contratual (conteúdo) Liberdade de executar o conteúdo do contrato Limitações: ordem pública e social. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS CLÁSSICOS 03. PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO - Pacta sunt servanda Estipulado no contrato tem força de lei entre as partes (vinculação). Força cogente, obrigatória. Inadimplemento gera sanções pecuniárias Relativizado: Distrato Resilição unilateral Resolução Onerosidade excessiva PRINCÍPIOS CONTRATUAIS CLÁSSICOS 04. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE SUBJETIVA DOS EFEITOS: Efeitos do negócio somente atingem as partes contratantes. Eficácia inter partes (não pode ser oponível contra todos) Exceções: Responsabilidade dos herdeiros (art. 1792) Estipulação em favor de terceiros (art. 436) Promessa de fato de terceiro (arts. 439-440) Contrato com pessoa a declarar (art. 467-471) PRINCÍPIOS CONTRATUAIS MODERNOS 05. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO Contratos analisados e interpretados de acordo com a concepção do meio social em que estão inseridos. Harmonizar o interesses privados dos contratantes com o interesse de toda a coletividade. Assegura solidariedade social. FSC – matéria de ordem pública – com proteção constitucional Efeito do princípio: mitigar a força obrigatória do contrato e da relatividade. Impõe efeitos contratuais que extrapolam a avença negocial Aspectos da FSC? Interno e Externo PRINCÍPIOS CONTRATUAIS MODERNOS 05. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO Aspecto Interno: - tratamento idôneo das partes. Igualdade. Equivalência material. Deveres jurídicos gerais e deveres jurídicos anexos (informação, confidencialidade, assistência, lealdade). Aspecto Externo: - contrato como instrumento de circulação de riquezas e desenvolvimento social. Sustentável, racionalizado, equilibrado. Dever de atentar para o bem comum, geral e social. Análise do impacto na sociedade. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS MODERNOS 06. PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA Preceito de ordem pública que consagra a necessidade de que as partes mantém em todas as fases contratuais condutas de probidade e lealdade. Exigência de conduta leal das partes. Normas de padrão de condutas adotadas segundo aquilo que, no senso comum, é esperado por toda a coletividade, por representar o justo e o válido, decorrente do bom senso comum Fundamento constitucional: diginidade da pessoa humana (art. 1, inciso III, CF) Funções da BFO? PRINCÍPIOS CONTRATUAIS MODERNOS 06. PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA: Função de interpretação dos negócios jurídicos – art. 113, CC. Função de controle dos negócios jurídicos – art. 187, CC. Abuso de Direito. Função de integração dos negócios jurídicos – aplicável na fase pré-negocial, negocial e pós-negocial Função de integração faz surgir conceitos de institutos jurídicos advindos do direito comparado. Utilizados para suprir lacunas do contrato e trazendo deveres anexos implícitos paras as partes PRINCÍPIOS CONTRATUAIS MODERNOS 06. PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA: Supressio – supressão, por renúncia tácita, de um direito, pelo seu não exercício com o passar do tempo - art. 330, CC. Surrectio – aquisição (surgimento) de um direito decorrente da situação prática, usos, costumes. Tu quoque – contratante que violou norma jurídica não poderá, sem caracterizar abuso de direito, aproveitar-se desta situação anteriormente criada pelo desrespeito. (art. 180, CC) PRINCÍPIOS CONTRATUAIS MODERNOS 06. PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA: Venire contra factum proprium – contratante não pode exercer um direito próprio contrariando um comportamento anterior, devendo ser mantida a confiança e o dever de lealdade. - vedação do comportamento contraditório - contratantes devem agir de forma coerente. Cláusula de Stoppel ? (vedação do comportamento contraditório no plano do Direito Internacional) PRINCÍPIOS CONTRATUAIS MODERNOS 06. PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA: Duty to mitigate the loss – mitigação do prejuízo pelo próprio credor. Credor evitar o agravamento do próprio prejuízo. ** quebra do dever anexo de BFO = violação positiva do contrato (inadimplemento) – responsabilidade civil objetiva (abuso de direito) EXEMPLOS DE APLICAÇÕES DERIVADAS DOS DEVERES ANEXOS DA BOA FÉ OBJETIVA Supressio e Surrectio: consolidação de determinadas situações de fatos surgidas durante a execução do contrato ou obrigações de duração, conforme a ação ou omissão de algumas das partes na relação jurídica. Ex – Casos analisados STJ: 01. contrato de locação de veículo por prazo determinado. Notificação da locatária de que não tinha interesse renovação do contrato. Não devolução do veículo após o prazo, sem oposição da locadora. Continuidade emissão faturas, pela credora, no preço contratado, com pagamento da locatária. Depois, pretensão da locadora de receber a diferença do valor do contrato com o valor de balcão (atualizado). Fere a boa fé objetiva. Supressio para a locadora e surrectio para a locatária. “(...) O instituto da ‘supressio’ indica a possibilidade de se considerar suprimida uma obrigação contratual, na hipótese em que o não exercício do direito correspondente, pelo credor, gere no devedor a justa expectativa de que esse não exercício se prorrogará no tempo (...) STJ Resp. 953.389-SP, Relatora Min Nancy Andrighi, j. 23.02.2010) EXEMPLOS DE APLICAÇÕES DERIVADAS DOS DEVERES ANEXOS DA BOA FÉ OBJETIVA Supressio e Surrectio: 02. Locação residencial. Contrato que estabelece o valor do aluguel. Pagamentos realizados sempre em valores inferiores ao contratado, sem oposição do locador. Criação da legítima expectativa por parte do devedor que o valor devido é o inferior ao contratado. Supressio para o locador e surrectio para o locatário. EXEMPLOS DE APLICAÇÕES DERIVADAS DOS DEVERES ANEXOS DA BOA FÉ OBJETIVA Tu quoque: a parte que violou uma norma jurídica não poderá, sem a caracterização do abuso do direito, aproveitar-se dessa situação anteriormente criada pelo desrespeito. Proibição de atos contraditórios. Ex: 01. Os contratante agem com dolo para celebração do negócio e depois postulam a anulação do contrato ou indenização. 02. Menor relativamente incapaz celebra contrato sem representação e omitindo sua condição e depois invoca como causa de nulidade a sua menoridade para desobrigar-se do cumprimento de seus deveres. EXEMPLOS DE APLICAÇÕES DERIVADAS DOS DEVERES ANEXOS DA BOA FÉ OBJETIVA Venire contra factum proprium: determinada pessoa não pode exercer um direito próprio contrariando um comportamento anterior, devendo ser mantida a confiança e o dever de lealdade, decorrentes da boa-fé objetiva. Ex: realização de um compromisso de compra e venda de um imóvel sem a anuência do cônjuge. Posteriormente, em uma ação judicial, a cônjuge afirma que concordou tacitamente com a venda do imóvel. Decorrido vários anos, a cônjuge ingressa com uma ação judicial pleiteando a anulação da venda do imóvel sob o fundamento de que não autorizou a venda. Sua pretensão deve ser afastada em decorrência do comportamento contraditório e sua conduta configura abuso de direito, podendo ser responsabilizada por eventuais prejuízos causados aos adquirentes do imóvel. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS MODERNOS 07. PRINCÍPIO DA REVISÃO CONTRATUAL possibilidade de alteração das convenções estabelecidas. Teoria da imprevisão: a) contratos de execução prolongada; b) ocorrência de fato imprevisível e geral; c) onerosidade excessiva para uma das partes e vantagem para a outra
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