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AULA 4 Ciências da Religião escolas fenomenológicas

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Disciplina: Ciências da Religião
Aula 4: Ciências da Religião: escolas fenomenológicas
Apresentação:
Provavelmente, você já deve ter se perguntado “Quais as diferenças entre as
religiões?” ou “Quando o ser humano teria reverenciado uma dimensão “maior” do
que ele, normalmente denominada, pela Fenomenologia da Religião, de sagrado?”:
essas perguntas, entre outras, estão na trajetória e na obra dos pesquisadores, em
sua maioria, teólogos, filósofos e historiadores que criaram e elaboraram a
Fenomenologia da Religião, uma escola teórica que reflete sobre a experiência
religiosa e o sagrado, isto é, um conjunto de teorias, autores, conceitos, livros e
textos que, unidos por semelhanças, procuraram pensar sobre a experiência religiosa
e o sagrado.
Objetivos:
Compreender as principais ideias das escolas fenomenológicas;
Identificar os principais autores das escolas fenomenológicas;
Desenvolver ampla visão sobre os conceitos fenomenológicos da religião.
Reflexões iniciais
Exerça um pouco sua imaginação. Pense sobre estas descrições imaginárias:
Uma pequena Igreja pentecostal, em um lugar pobre, cheio de barracos
atarracados uns nos outros. Um pequeno cômodo, cadeiras de madeira,
simples. Uma caixa de som. Um violão, um pandeiro e uma bíblia. Um
culto no qual homens e mulheres dançam alegres rodopiam, giram e dão
glorias a Deus e invocam o Espírito Santo.
Um templo presbiteriano tradicional no centro da cidade. Amplo, bancos
largos, janelas com vitrais. Um púlpito (lugar de destaque para
sacerdotes, oradores e outros falarem). Uma prédica. Um trecho bíblico
lido devagar e com solenidade pelo sacerdote. Homens e mulheres
sentados ouvindo. Um coral cantando hinos tradicionais.
Um terreiro de umbanda ou candomblé com plantas e flores. Um
barracão simples, branco, feito com alvenaria e telhas de amianto.
Periferia da cidade. Tambores ressoando. Incenso cheiroso. Homens e
mulheres, vestidos de branco, dançando, girando, saudando e celebrando
as entidades espirituais, cantando.
Uma pequena sala em um prédio no centro citadino. Poucos móveis,
tapetes, uma mesa ao centro com uma imagem de Buda. Homens e
mulheres sentados, pernas cruzadas, olhos fechados, meditando e
cantando mantras.
Um pequeno templo católico. Bancos laterais de madeira com homens e
mulheres atentos, cantando um hino durante a comunhão, o ritual
católico da ceia do Senhor. Um sacerdote ao centro realizando orações.
Um pequeno galpão de madeira, afastado da cidade, em meio ao verde.
Bancos em semicírculo. Homens de um lado, mulheres de outro,
dançando e cantando. Uma música, chocalhos, violão, tambor pequeno.
Ao centro, objetos, fitas, imagens. Uma pequena fila formando-se para
beberem o chá do daime, uma bebida ritual feita de uma folha e de um
cipó.
Observe que todas essas situações imaginárias brevemente descritas acima,
apesar das muitas diferenças, têm algo em comum para a Fenomenologia da
Religião. São experiências de fé, religiosas, vividas por homens e mulheres
em busca do sagrado, que, em sua religião, adquire nomes, formas, estilos e
jeitos diversos e distintos. Você pode se perguntar:
Como a Fenomenologia entende e compreende a
experiência religiosa?
O termo, Fenomenologia da Religião, foi criado pelo holandês, Pierre Daniel
Chantepie de la Saussaye (1848-1920), que ocupou, em 1878, a cadeira de
História das Religiões da Universidade de Amsterdã.

Saiba mais
Você poderá se deparar hoje, com críticas a esse termo, já que teólogos,
historiados ou “cientistas das religiões” adaptaram de formas variadas a
doutrina filosófica (Fenomenologia) criada por Edmund Husserl (1859-
1938), inclusive deixando de lado alguns pressupostos e trocando de
lugar algumas ideias.
O elemento central, como você perceberá, era este: “o pressuposto da
ciência da religião é a unidade da religião na multiplicidade de suas
formas” (FIROLAMO e PRANDI, 2016, p. 28). Entenda aqui a palavra
unidade no sentido de unidade teórica, ou seja, apesar das religiões e de
suas diferenças, há um modelo teórico.
O programa, inicialmente defendido para a História das Religiões, a primeira
das Ciências das Religiões a serem sistematizadas e institucionalizadas,
baseava-se na Comparative Religion (Religiões Comparadas), que teria dois
aspectos:
1
Estudar-se-ia a religião em suas manifestações empíricas, históricas, sociais e
culturais (análise descritiva), comparando-as.
2
Estudar-se-ia a “essência”, ou mais exatamente, os caracteres permanentes
do fenômeno religioso (análise sistemática).
O conceito de Fenomenologia da Religião é amplo e remete a pelo menos 4
acepções:
1
Um método analítico que se baseia em uma explicação das formas religiosas
mais essenciais.
2
Uma escola teórica que constrói classificações de formas religiosas.
3
Uma escola teórica que busca as estruturas mais universais e profundas dos
fenômenos religiosos.
4
Uma orientação de natureza filosófica originada dos influxos do pensamento
de Husserl, principalmente, e de outros filósofos alemães.
NESTI, In: FERRAROTI, 1990
Apesar de todas essas acepções, para os fenomenólogos
da religião, o homem é naturaliter religiosus
(naturalmente religioso): a religião seria uma estrutura
constante e atemporal dos seres humanos, ideia criticada
pelas escolas sociológicas, históricas e antropológicas.
Alguns dados paleantropológicos indicam, conforme o historiador e cientista
da religião, Stefano Martelli (MARTELLI, 1998):
Primeira evidência
O Homo sapiens (entre 400.000 e 150.000 anos atrás) e provavelmente
também o Homo erectus (entre 1,7 e 0,15 milhões de anos atrás),
produziram objetos com marcas/incisões de caráter simbólico que, nas
hipóteses dos pesquisadores, podiam ter significado cultual e mágico-
religioso.
Segunda evidência
A partir do período Neandertal (paleolítico médio, 100.000 a 35.000 anos
atrás) e do Homo sapiens sapiens (paleolítico superior , 35.000 a
9.000 anos atrás), o simbolismo religioso ficou muito explícito: práticas
funerárias, culto dos ossos, animais (lobo, urso etc.) e os ritos de
passagem e propiciatórios , que podem indicar uma ideia do
sobrenatural.
Observe que o método fenomenológico começa quando se colocam o mundo
da vida e os seus fenômenos entre parênteses, como você viu. É essencial
porque o fenômeno (aquilo que aparece) está coberto por “grossas camadas”
de história e de intepretações, além de juízos normativos (julgamentos do
valor) que vão se acumulando e embaçando a potência do aparecer.
O segundo passo é a redução eidética, que levará à visão da essência.
Perceba que, depois da suspensão do mundo (procedimento teórico), o que
não significa desconhecer sua objetividade e historicidade, tenta-se penetrar
em suas camadas de sentido até atingir o eidos, entendido como a priori.
Observe que esse mostrar-se é o que se teoriza na Fenomenologia da
Religião. Há pelo menos três momentos do “aparecer” do fenômeno:
Ele está quase aparecendo (escondido)
Ele manifesta-se pouco a pouco
Ele está quase transparente
1
2 3
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Veja que o ponto focal desse novo paradigma é a crítica ao
positivismo, em especial a crítica à Psicologia Genética,
dominante no fim do século XIX e começo do XX, em
especial a transposição de métodos das Ciências da
Natureza para as Humanas e Sociais.
Um dos mais importantes filósofos a criticar essa orientação, embora não seja
da linhagem fenomenológica, foi Wilhelm Dilthey, que desferiu uma crítica às
concepções positivistas da Psicologia e propôs uma psicologia descritiva e
analítica.
Wilhelm Dilthey (1833-1911)
Para Dilthey, a vida psíquica, elemento fundamental da experiência
religiosa, não seria um amontoado de elementos simples como se fosse
uma cópia ou um reflexo do mundo exterior, mas uma totalidade ou uma
conexão ou estrutura dinâmica, viva, dotadas de leis e objetivos próprios
(autotélicos), conduzidos por relações internas.Fenomenologia da Religião
Compreensiva: a escola holandesa
Um dos mais importantes historiadores e filósofos foi o holandês Gerardus van
der Leeuw (1890-1950), que publicou, em 1933, Phänomenologie der
Religion, um esforço para construir um método especial de Fenomenologia da
Religião.
1
O primeiro componente de suas ideias é a retomada de Husserl, que você já
soube.
2
O segundo é a conjugação com elementos da Psicologia da Gestalt
(Gestalpsychologie), psicologia da forma.
3
O terceiro componente é a influência do paradigma hermenêutico, ou seja, a
preocupação com o sentido e o significado da experiência religiosa.
4
O quarto é o momento, o caráter testemunhal sobre a “essência” da religião.
A corrente de Psicologia da Gestalt surgiu na Alemanha no período entre as
duas grandes guerras mundiais. Saiba que uma das ideias mais interessantes
dessa corrente é a de forma total, ou seja, o mais importante não é
considerar cada elemento psicológico em separado, mas sim em seu conjunto
ou em sua forma.
Um ponto em comum entre aqueles que, nas Ciências da Religião, afiliam-se
ao método e à perspectiva fenomenológica, é a importância dada à
experiência religiosa. Para van der Leeuw, a compreensão da experiência
religiosa, da religião ou do sagrado passa pela sintonia, inclusive em termos
de afeto, com o objeto (ou empatia, originado do termo alemão
Einfühlung ).
A religião é um dado existencial elementar e possui uma
natureza consubstancial à natureza do homem, isto é, a
religião e o homem se fizeram simultaneamente desde a
origem dos seres humanos sobre a Terra.
4
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Diante da massa de informações (da religião e do mundo), sempre grande,
desorganizada, essa sensibilidade para com a religião é o primeiro passo de
uma caminhada longa para a construção da pesquisa.
A relação entre sujeito (aquele que conhece) e objeto (aquilo que é
conhecido) é de troca, o sujeito desloca-se para o objeto e o objeto para o
sujeito. Por que isso, você se pergunta:
Qual o objetivo desses deslocamentos?
Visam reviver e reexperimentar o objeto, tal como propôs Dilthey em sua
ideia de círculo hermenêutico da compreensão (o sujeito e o objeto interagem
o tempo todo, abrem-se um ao outro dialogam-se).
No pensamento de van der Leeuw, duas operações lógicas (ações
metodológicas) são necessárias:
1
Compreensão estático-fenomenológico: analisar os objetos tais como são,
mas não em separado, senão em seu conjunto total.
2
Estabelecer as conexões estruturais entre os elementos que constituem o
objeto (da pesquisa), “vividos e experimentados como unidades vivas, nas
palavras de Firolamo e Prandi (2016, p. 34).

Comentário
Pense no seguinte exemplo: você deseja pesquisar um culto religioso
de uma religião X. Não basta apenas descrever os itens, as
características, os atores ou agentes, os objetos e as linguagens
presentes. É preciso saber o que o culto significa como um todo.
O estudo da experiência religiosa
em van der Leeuw
Segundo os estudiosos Firolamo e Prandi (2016, p. 34), o método proposto
por van der Leeuw, tem cinco partes:
1
Primeira parte
Prioriza o objeto da religião, analisam-se os dados a partir de modelos
teóricos que iriam do “primitivo” às formas, pretensamente, mais evoluídas.
2
Segunda parte
Centrada no sujeito da religião, examina-se o homem sagrado (vida sagrada,
o morto, o rei, o feiticeiro, o padre, o pregador, o santo), a comunidade
sagrada, as concepções de alma.
3
Terceira parte
Focada nas relações entre sujeito e objeto das religiões, analisam-se a ação
externa (sacrifício, rito, culto) e a ação interna (intenção, motivos etc.).
4
Quarta parte
Prioriza o mundo ao redor, examina-se o problema do acesso ao e dos objetos
do mundo (fins da revelação, no homem e em Deus).
5
Quinta parte
Centrada nas figuras ou comportamentos estruturais e das tendências das
diferentes religiões.
Nesse ponto surgiram críticas às posições desse pesquisador holandês.
Haveria, em seu pensamento, uma ideia platônica com valor normativo, isto
é, esses tipos gerais teriam valor de norma que conduziriam ao testemunho
da “essência” da religião.
Para alguns, isso significaria a rendição das ciências da religião à teologia e
aos seus métodos, o que poderia ser verificado, note bem, pelo uso de
categorias de análise oriundo do cristianismo. A tese segundo a qual a
evolução religiosa da humanidade tenderia para a revelação sobrenatural,
tendo como modelo a revelação cristã, está presente nos trabalhos desse
pesquisador. Essa ideia não foge de um horizonte evolucionista, e é, por isso,
criticada.
A proposta da Fenomenologia da Religião tentou superar a contraposição
entre positivismo e espiritualismo e sustenta que o fenômeno é, nas
definições Van Der Leeuw, ao mesmo tempo, um objeto que se refere a um
sujeito e um sujeito relativo ao objeto, ou seja, a essência do fenômeno
“consiste em mostrar-se”, em mostrar-se a “alguém”. O pressuposto, ou seja,
o que é o ponto de partida, é que a religião tem autonomia absoluta em face
à outras dimensões.

Saiba mais
Angústia, silêncio de deus e crise existencial
Gerard van der Leeuw diz que em todas as religiões há dois significados
principais do sagrado:
Aquilo que dá a salvação porque é poderoso; e
Aquilo que é posto/colocado à parte do profano, como expressa os
antigos nomes qadesh sanctus, tabu.
Mas, e quando a fé se quebra? Procure assistir ao filme, Luz de inverno,
de Ingmar Bergman, lançado em 1963. É o terceiro filme da trilogia do
silêncio (O silêncio de Deus e Em busca da verdade, de 1961).
O filme narra a história de um pescador (Jonas Persson) aflito ao ler, nos
jornais, que a China pretende usar a bomba atômica e, por isso, busca
auxílio e orientação na Igreja. O pastor Tomas Ericsson, porém, não
consegue ajudá-lo, pois vive uma crise de fé.
A escola fenomenológica de
Marburgo
Depois de van der Leeuw, nasceu uma bifurcação na Fenomenologia, alguns
permaneceram de acordo com a proposta inicial e outros fizeram uma crítica e
uma revisão radical. Para compreender isso, é importante que você conheça
um pouco da escola de Marburgo, universidade alemã onde lecionaram seus
maiores expoentes.
Rudolf Otto (1869 – 1937)
Considera-se Rudolf Otto, que você viu na aula 03, um dos fundadores
dessa escola. A obra maior deste autor é o livro O sagrado que muitos
não consideram uma obra fenomenológico se o termo fenomenologia for
tomado ao “pé da letra”.
Esse teólogo luterano e filósofo, dizem, recebeu influências de Martinho
Lutero (1483-1546) e Friedrich Schleiermacher (1768-1834). Alguns
estudiosos argumentam que, na obra O sagrado (dizem que a melhor
tradução do alemão ao português seria O santo), chega a tese da
absoluta irracionalidade da religião.
Para Otto, o sagrado está carregado de elementos emocionais, irracionais
que, apesar de remeterem para a universalidade (todas as religiões
teriam essa estrutura), sua construção se daria pelo existir de cada
indivíduo em sua liberdade fundamental. A razão moderna não pode
compreender a totalidade do sagrado, mas o indivíduo em sua
consciência pode por ele ser tocado.
O sagrado, conforme você viu na aula 03, tem várias características e
delas, duas já foram apresentadas: o numinoso e o tremendum. Mas, há
mais três:
O mirum — aquilo que paralisa, terrifica, deixa estupefato;
O majestas — a fúria divina que tudo destrói, fogo consumidor;
A orgé — aquilo que empurra o ser humano a vida religiosa, ao
amor pelo sagrado.
Os místicos, das muitas tradições religiosas, aqueles que fizeram a
experiência do próprio divino na sua realidade íntima, descreveram a
experiência do sagrado como mistério terrível e, ao mesmo tempo,
fascinante, que suscita, no crente, múltiplos sentimentos.
Para o fenomenólogo, tais sentimentos são o efeito subjetivo da
presença, no eu, de uma realidade diferente do próprio eu, que Otto
chama o “numinoso” (latim numen = divindade), ao invés de “Deus”
(ligado à elaboração teológica das religiões monoteístas).
O numinoso,assim como o crente o percebe em seu próprio íntimo, é
definido como mysterium tremendum et fascinosum. Para Otto, há um
processo de evolução do numinoso dentro da religião: de um estado de
fascinação e terror (sagrado numinoso) para um estado moral, ético e
dogmatizado (sagrado majestas).
Para Otto, o sagrado é uma categoria composta por dois aspectos, o
racional e, em uma tradução mais adequada do alemão, metarracional ou
além do racional (numinoso). Essa duplicidade deriva do seguinte fato: a
experiência religiosa acontece na história, no decorrer do processo
histórico-cultural. Observe que essa categoria adquire distintas
institucionalizações de acordo com época, civilização, povo, tribo, religião
e acontece em formas que definidas pela cultura e sociedade.
Friedrich Heiler (1892-1967)
Segundo membro da Escola de Marburbo, discípulo de Otto, com
posições mais interessantes (FIROLAMO; PRANDI, 2016).
Para esse fenomenólogo da religião, nenhuma ciência está isenta de
pressupostos pessoais e científicos. Para Heiler, há os seguintes
pressupostos para o bom pesquisador: método indutivo , para
afastar apriorismo (pontos de partida absolutos) e teleologia.
Teleologia pode ser definida como qualquer doutrina que propõe a
existência de fins últimos guiando a natureza e a humanidade,
baseada em um raciocínio circular, por exemplo (hipotético), o sol é
vermelho por isso é grande, sol é grande e por isso é vermelho;
Rigor filosófico-conceitual, para evitar frouxidão do raciocínio;
5
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Experiência direta a partir do contato com personalidades e
comunidades religiosas, pois o estudo da religião não pode limitar-
se apenas aos livros e textos;
Considerar a universalidade dos fenômenos religiosos;
Recurso ao método fenomenológico, supostamente aquele atingiria
para a compreensão da “essência”.(FIROLAMO; PRANDO, 2016)
Esses cinco pressupostos referem-se à ciências, nas há outros de ordem
pessoal que o pesquisador deve considerar, segundo Firolamo e Prandi
(2016):
O tremor e o temor, para usar os termos de Otto quando em
presença de uma experiência religiosa verdadeira, seja de qual
religião for;
A experiência religiosa direta, pois é fundamental a sensibilidade
para com a experiência religiosa;
Levar em conta a verdade da religião, que se manifesta para a
felicidade do homem.
Segundo Heiler, existem três caminhos para que se compreenda a
essência da religião:
O caminho descritivo e o histórico-filológico (descrever, falar da
história e identificar as origens e transformações dos termos);
O caminho tipológico, ou seja, organizando os dados obtidos pelo
caminho descritivo-histórico-filológico em tipos usando vários
critérios, por exemplo, sociológicos e antropológicos (religiões
tribais e étnicas, restritas apenas a membros das etnias e tribos e
religiões universais, abertas a todos); teístas (religiões mágicas,
monoteístas, politeístas) e psicológicos (religiões materialistas,
espiritualistas, estéticas, éticas, místicas, emotivas, racionais);
O caminho fenomenológico, imaginado como se fosse círculos
(um dentro do outro) até chegar ao conjunto total e pleno.
Os círculos desse caminho vão do “exterior” ao “interior”, nesta direção
(FIROLAMO, PRANDI, 2016):
Objeto sagrado (liturgia, espaço, tempo, calendário, número e
ação);
Palavra sagrada (nome divino, oráculos, adivinhação, ordem divina,
doutrina, oração, prece, silêncio);
Escrita sagrada (escrituras, alfabetos);
Homens e comunidades sagradas (fiéis, adeptos, hierarquias, laços,
abertura e fechamento);
Concepções e ideias de Deus/deuses (teogonia e teologias);
Concepções e ideias de mundo e homem (Cosmogonia e
antropogonia );
Mundo da experiência vivida, o círculo mais importante, o centro.
Aqui estaria, segundo Heiler, o objeto mais próprio da religião, a própria
realidade divina e transcendente, a realidade do deus revelatus ou deus
absconditus. Atente para as palavras de Heiler:
“A essência da religião, portanto, é a comunhão do homem com a
realidade transcendental que flui da experiência da graça divina, uma
comunhão que se realiza na adoração e no sacrifício e que leva à
beatitude do homem e da humanidade”. (FIROLAMO e PRANDI, 2016, p.
41)
Gustavo Mensching (1901-1978)
Terceiro membro da escola de Marburgo, escreveu estudos empíricos e
teóricos. Em seu pensamento, a pesquisa fenomenológica possui duas
dimensões:
Comparar as religiões para tornar mais claro suas afinidades
tipológicas e estruturais, (dimensão da análise sistemática);
Compreender a essência da religião.
Apesar de toda ciência partir de pressupostos, estes, no caso da
Fenomenologia da Religião, devem ser científicos. No método de
comparação, dois riscos deveriam ser evitados, superficialidade na
diferenciação e pressa na identificação. O fenômeno histórico-religioso é,
antes de tudo, vital.
Religião é definida como a experiência do encontro com o sagrado. Mas,
nesse encontro, há alguns elementos inarredáveis:
É sempre do sagrado a iniciativa, sendo isso uma verdade para o
crente;
O sagrado manifesta-se, no tempo e no espaço, por meio de formas
distintas.
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Desdobramentos da escola
fenomenológica holandesa
William Kristensen (1867-1953)
Outro teórico, continuador da tradição fenomenológica holandesa. Foi
professor de História da Fenomenologia Religiosa na Universidade de
Leiden. Suas perspectivas fenomenológicas são diferentes da
Fenomenologia que sofreu influência evolucionista, conforme aponta a
cientista da religião Elisa Rodrigues (2015).
Esse autor apresenta, no livro The meaning of religion. Lectures in the
Phenomenology of Religion (publicado em 1960), o ponto mais alto do
olhar fenomenológico: entender o sagrado a partir da experiência
religiosa vivida pelo crente ou pelo seguidor de qualquer religião. Do
contrário, haveria apenas a prevalência de um olhar externo
(externalizante).
A religião, como forma de conhecimento do mundo, é imprescindível,
com as seguintes ponderações:
Sensibilidade para com as variadas manifestações religiosas;
Considerar, na análise, tudo o que os homens e mulheres envolvidos
nos fenômenos religiosos viveram ou vivem;
Considerar que as religiões dominantes, e no caso do mundo
ocidental, são um molde, modelo ou uma gramática de conduta e
valor, em relação ao qual, se reage, se age, se interage.
E como fica o pesquisador?
Nas palavras do antropólogo Pierre Sanchis (1998, p. 40):
“Por um lado, como sustentar [...] a relação de um cientista, por
definição relativizador e ‘descrente’, com o regime de verdade dominado
pelo absoluto da convicção que está sendo vivido por aqueles com quem
conversa, convivem, troca figurinhas, num discurso que [...] constrói-se
necessariamente em termos de: ‘É’ (do ser, e não de ‘representações’).
Por outro lado, [...] que fizemos nós, modernos cientistas sociais, da
dimensão iniciática que tendeu a acompanhar a ‘experiência’ do
antropólogo em momentos fecundos da trajetória de nossa ‘ciência’?
Tradicionalmente, a ‘participação’ integra o nosso método. Em que
consistiria hoje, a “participação’ nas experiências religiosas
contemporâneas pregnantes de emoção, de efervescência induzida, de
experimentação polivalente?”
É um paradoxo que se instala nas Ciências da Religião. De um lado, a
ciência e o cientista, por dever de sua vocação secular, devem
empreender a crítica e a análise no sentido de relativizar o conhecimento
sobre a religião, desnaturalizar as naturezas da religião e das religiões e
mostrar as profundas raízes humanas, sociais, culturais do sagrado. Do
outro lado, para o fiel e o adepto, seja de qual religião for, a experiência
religiosa vivida, são dimensões “absolutas” para ele, dimensões que se
situa além das razões racionais.
Atente para a questão fundamental: como confrontar essasduas
orientações de forma a buscar a melhor compreensão do fenômeno?
O cientista e o estudioso da religião não podem abrir mão da ciência e de
seus métodos rigorosos e questionadores, mas, ao mesmo tempo, eles
devem sempre ser sensíveis às manifestações religiosas e considerá-las
em si mesmas, considerar a compreensão dos que a vivem.
Carl Jouko Bleeker (1899-?)
Um dos menos conhecidos fenomenólogos. Ao contrário dos outros
fenomenólogos, pensou a Fenomenologia da Religião como uma ciência
empírico-indutiva, sem pressupostos filosóficos e em funções valorativas
(a verdade da religião).
(FILORAMO; PRANDI, 2016).
Captar a essência da religião significa realizar três ações:
Desenvolver a theoria dos fenômenos;
Procurar o logos;
Interrogar-se sobre a entelecheia.
Essas expressões gregas significam, respectivamente:
Estudar objetivamente os fenômenos religioso (a concepção de
sagrado, a de homem, a de divindade);
Apreender os elementos estruturais das religiões ou tradições
religiosas (as formas permanentes de expressão da consciência
religiosa, os fatores específicos, os pontos de cristalização das
expressões sacrais, como as preces etc.);
Compreender os sentidos da mudança, um problema para a
perspectiva fenomenológica.
As maiores críticas à Fenomenologia da Religião dirigem-se aos seus
impasses: como estudar a religião, a partir de métodos descritivos
e comparativos e, ao mesmo tempo, propor interrogações de
matriz existencial, experiencial e essencial?
Para os críticos, essas duas coisas possuem um alto grau de
incompatibilidade.

Saiba mais
Fenomenologia da Religião e Cinema
Os porquês e as transformações vividas em uma família. Uma mudança
na sensibilidade e como se percebe os valores religioso e o amor. Assista
ao filme, Orações para Bobby. Dirigido por Russell Mulcahy e lançado em
2009, nos EUA. Sinopse:
Mary é uma religiosa rigorosa que segue as palavras da bíblia. Quando
seu filho Bobby, por diversas questões, fala que é gay, ela o leva a
terapias e cultos religiosos para tratar e “curar”. Baseado em uma
história verídica de um jovem homossexual que aos 20 anos suicida-se.
Um filme intenso, que espelha ainda hoje a realidade de muitos jovens
no mundo.
A fenomenologia histórica da
religião
Em geral, você poderia achar que as fronteiras entre as diferentes escolas e
autores são absolutas e não haveria nenhuma proximidade. Não é assim que
ocorre entre ideias, autores, perspectivas e escolas. Contudo, as passagens,
as proximidades e os distanciamentos existem.
Geo Widengren (1907-1996)
É importante que você saiba que este outro pesquisador das escolas
fenomenológicas, orientalista (estudioso das culturas do mundo oriental)
da civilização persa/iraniana e filósofo sueco, criticou os pressupostos da
fenomenologia em três elementos:
Desconfiar do a priori da religião;
Não separar a religião do contexto histórico-social-cultural, pois a
história da religião não é a manifestação contínua do sagrado;
Não há pressupostos especiais para o estudo da religião (por
exemplo, ter tido uma experiência religiosa), pois a empatia para
com o fenômeno religioso é a atenção que qualquer pesquisador
deve dar ao seu objeto de estudo.
O essencial, para esse pensador, é que o estudioso tenha treino técnico e
use bons instrumentos metodológicos para contextualizar o fenômeno
religioso (desenvolvimentos, rupturas, mudanças).
Joachim Wach (1898-1955)
Este segundo estudioso, note bem, procurou articular Fenomenologia e
Sociologia, criando tipos e propostas de compreensão que superassem os
problemas do apriorismo e do empirismo.
Ele escreveu um livro de Sociologia da Religião onde procurou
implementar esse programa de superação dos impasses entre
Fenomenologia, História, Sociologia e Religião. Em linhas gerais, você
verá algumas de suas ideias:
O mito é a expressão “teórica primordial” da religião, pois é uma
narrativa que organiza e encadeia a visão de um grupo, povo, etnia;
A doutrina vem após o mito, pois racionaliza as inconsistências
presentes nos relatos míticos e envolve dogma, Teologia e teoria
religiosa;
A religião está sempre relaciona ao social e a um sistema de
relações e funções sociais (e há tipos como igreja, seita, culto,
denominação). Os tipos, perceba, são modelos teóricos de
compreensão elaborados a partir da observação, sistematização e
comparação com dados empíricos.
Entre a Fenomenologia e a História
Existem mitos seculares, em especial, as religiões políticas (doutrinas políticas
que se comportam como se fossem religiões,como o nazismo, o fascismo
italiano e o stalinismo) bastante similares às outras estruturas religiosas, com
dogmas, hierarquias verdades e heresias, condenação, excomunhão, tabus
etc.
Para Mircea Eliade, filósofo e escritor romeno, o sagrado é um elemento
estrutural da consciência e não uma fase ou etapa da história. Em outras
palavras, o ser humano terá sempre o sagrado em sua estrutura, mesmo que
mudem as épocas e surjam novas religiões, muito diversas e diferentes das
anteriores.
Mircea Eliade (1907-1986)
Da fenomenologia histórica da religião, é um dos maiores nomes, sem
dúvida, citado em aulas anteriores.
Eliade propõe que a religião deva ser analisada a partir de parâmetros
próprios e não de modelos que desconsiderem a autonomia do fenômeno
e da experiência religiosa. Para ele, a principal tese da Fenomenologia, a
do homo religiosus (natureza religiosa intrínseca ao ser humano) procura
encontrar como, na sociedade secular e moderna, essa ideia está
presente.

Leitura
Eliade escreve uma obra muito vasta, e nos livros em que ele trata da
história das ideias e crenças religiosas, o simbolismo religioso é
essencial: objetos, traços, alfabetos, poemas, canções, orações etc. Ele
fez tipologias das muitas hierofanias. Note, por exemplo, as urânicas (do
céu), as ctônicas (da terra), etc. Leia: Hierofania ou manifestações
do sagrado. <galeria/aula4/anexo/hierofania.pdf>
file:///W:/2018.2/ciencias_da_religiao__GON942/galeria/aula4/anexo/hierofania.pdf
Atividades
1. Leia com atenção este trecho do livro O sagrado, de Rudolf Otto: “Por
‘racional’ na ideia do divino entendemos aquilo que nela pode ser
formulado com clareza, compreendido com conceitos familiares e
definíveis. Afirmamos então que ao redor desse âmbito de clareza
conceitual existe uma esfera misteriosa e obscura que foge não ao nosso
sentir, mas ao nosso pensar conceitual, e que por isso chamamos de ‘o
irracional’.”
(OTTO, p. 97-98).
Sobre as características do sagrado, tendo este texto em mente e o que
você sabe sobre o pensamento de Otto, nesta aula, assinale a reposta
correta:
 a) O sagrado é uma potência viva que está restrita ao Cristianismo por
este ser a forma de religião mais evoluída.
 b) O sagrado é uma categoria completamente racional, abstrata,
objetiva que pode ser apreendida pela razão.
 c) O sagrado é uma categoria universal ligada à dimensão da
experiência religiosa, mas que está além da razão.
 d) O sagrado é uma categoria ligada à dimensão da experiência
religiosa que está além da razão, mas que se restringe às religiões
monoteístas.
 e) O sagrado é uma categoria ligada à emoção, ao sentimento do
temor, do terror, à fascinação, mas limita-se ao Cristianismo.
2. Leia com atenção este texto de Mircea Eliade, que fala sobre o
sagrado e a hierofania: “O homem toma conhecimento do sagrado
porque este se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente
do profano. A fim de indicarmos o ato da manifestação do sagrado,
propusemos o termo hierofania. [...]. Poder-se-ia dizer que a história das
religiões — desde as mais primitivas às mais elaboradas — é constituída
por um número considerável de hierofanias, pelas manifestações das
realidades sagradas. A partir da mais elementar hierofania — por
exemplo, a manifestação do sagrado num objeto qualquer, urna pedra ou
uma árvore — e até a hierofania suprema, que é, para um cristão, a
encarnação de Deus em Jesus Cristo, não existe solução de continuidade.
Encontramo-nos diante do mesmo ato misterioso: a manifestaçãode
algo ‘de ordem diferente’ — de uma realidade que não pertence ao nosso
mundo — em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo
‘natural’, ‘profano’. (ELIADE, 2016, p. 13).
Tendo este texto em mente e o que você viu sobre a
Fenomenologia histórica da religião, de Eliade, é possível afirmar
que:
 a) O sagrado manifesta-se à consciência do homem a partir do
contexto histórico-social, mas limitado ao Cristianismo.
 b) A hierofania é uma categoria teórica que expressa o ato de
manifestação do sagrado que ocorrer em qualquer religião.
 c) As manifestações da hierofania ocorrem em determinados contextos
e objetos de algumas religiões.
 d) O sagrado é a manifestação da hierofania no contexto histórico-
social da consciência humana no Cristianismo.
 e) Entre a hierofania primitiva das religiões primitivas e a hierofania do
Cristianismo existe uma continuidade. 
3. Leia a avaliação da Fenomenologia de van der Leeuw feita por Nicola
Gasbarro, historiador e filósofo italiano: “É inútil procurar em toda a obra
de van der Leeuw as motivações deste salto epistemológico que faz com
que todo o horizonte de sentido e, portanto, toda a cultura dependam, de
fato e de direito, da perspectiva religiosa: para um teólogo toda a
natureza depende do sobrenatural, e toda a cultura nasce da tensão
entre natureza e o sentido-valor do sobrenatural. Van der Leeuw nada
tem de ingênuo e sabe [...] dissolver a estrutura teológica no contexto
experiencial da vida, escondê-la na Filosofia da consciência, até traduzi-
la em termos de epistemologia husserliana, mas, quando o sistema
ganha corpo, inevitavelmente reemergem na experiência de vida do a
priori seja o sublime do mysterium, seja a complexidade da experiência
criatural de Otto” (GASBARRO, 2013, p. 87).
Tendo em vista este texto e a Fenomenologia da Religião da
escola holandesa, assinale a alternativa correta:
 a) A Fenomenologia da Religião busca, na cultura e na história, os
motivos da redenção universal do ser humano.
 b) A Fenomenologia da Religião procura, apenas, a apreensão dos
elementos estruturais das religiões ou tradições religiosas.
 c) A Fenomenologia da Religião evita interrogar as culturas e histórias
humanas sobre o sentido do sagrado.
 d) A Fenomenologia da Religião busca relativizar a essência do
fenômeno religioso a partir da experiência religiosa vivida pelo crente ou
seguidor de qualquer religião.
 e) A Fenomenologia da Religião busca compreender o sagrado também
a partir da experiência religiosa vivida pelo crente ou seguidor de
qualquer religião. 
4. Na Fenomenologia da Religião, existem três escolas teóricas básicas, a
holandesa, a alemã e a histórica. Por outro lado, a Fenomenologia da
Religião bebeu de várias fontes filosóficas e desenvolveu algumas ideias
básicas. Sobre as ideias, assinale a afirmativa que INCORRETA:
 a) A Fenomenologia da Religião desenvolveu várias escolas teóricas
para pensar a experiência religiosa.
 b) A Fenomenologia da Religião procura compreender a experiência
religiosa a partir de conceitos como o profano.
 c) Para a Fenomenologia da Religião é no contexto histórico e social
das religiões que se encontra a essência da religião.
 d) A Fenomenologia da Religião concebe o ser humano como
naturaliter religiosus, isto é, estruturalmente aberto ao sagrado, isto é,
intrinsecamente religioso.
 e) Para a Fenomenologia da Religião, a descrição e a história da
experiência religiosa é o último e mais importante passo do processo de
compreensão do sagrado. 
5. Leia atentamente este pequeno texto de um teólogo peruano:
“Parece-me que a visão indígena nos ajuda a reapreciar o sagrado e
a salvação no interior da criação e da corporeidade humana.
[grifos do professor]. Um estudioso valoriza o existencial nas
‘cosmogonias míticas em momentos decisivos da vida individual, como é
o nascimento a doença, a iniciação, a celebração do matrimônio e a
morte...” e acrescenta: ‘Teologicamente têm interesse pelo contraste que
representam com os relatos bíblicos da criação.’ Por minha parte,
sublinho como o indígena motiva a reprojetar a situação atual e a
corrigir a Teologia dominante. Em vez de coisificar e consumir a
realidade — uma feição da (des)ordem moderna — nos convém mais
interagir entre seres viventes, confrontar a maldade no mundo (muito
presente nos mitos indo-americanos) e superar os absolutos científicos e
técnicos que manipulam tudo. (FONTE: IRARRAZAVAL, 2007, p. 106).
Tendo em mente a Fenomenologia histórica e o texto acima,
assinale a alternativa correta:
 a) Na Fenomenologia histórica da religião de Geo Widengren não é
possível separar a religião do contexto histórico-cultural, pois a cultura e
o sagrado são inseparáveis.
 b) Na Fenomenologia histórica da religião de Geo Widengren, ter tido
uma experiência religiosa é uma condição sem a qual não se faz Ciências
da Religião.
 c) Na Fenomenologia histórica da religião de Geo Widengren o a priori
do sagrado é absoluto, ou seja, é ponto indiscutível, acima de qualquer
desconfiança.
 d) Na Fenomenologia histórica da religião de Mircea Eliade, sagrado
não é um elemento estrutural da consciência e não uma fase ou etapa da
história.
 e) Na Fenomenologia histórica da religião de Mircea Eliade, apenas
algumas hierofanias trazem em si o desejo de volta às origens e a
‘pureza’. 
6. Retorne à introdução e releia as situações imaginárias descritas e
reveja o que foi aprendido nesta aula, em seguida, responda as
questões:
a) Quais são os elementos em comum em todas essas situações?
b) Identifique os elementos das hierofanias (manifestações do sagrado);
c) Como o sagrado poderia ser definido?
Notas
Paleolítico Superior e Inferior
Na ciência da Arqueologia e Geomorfologia, significa um período da história das
espécies e do planeta em que surgem os hominídeos, os antecessores dos seres
humanos modernos. Paleolítico antigo: 2,6 a 4 milhões de anos atrás. Paleolítico
médio: 400 mil a 40 mil anos. Paleolítico tardio ou inferior: 40 mil anos.
Ritos de passagem
Celebrações ou gestos simbólicos envolvendo palavras, sons, cores ou outros signos
que marcam a passagem de status de uma pessoa/grupo de pessoas (nascimento,
casamento, morte etc.), no seio de uma comunidade e de sua história.
Ritos propiciatórios
1
2
3
Ritos para atrair ou readquirir a boa vontade do sagrado ou de seres divinos; agradar
à divindade, aplacar sua ira ou justiça, obter o perdão das faltas etc.
Einfühlung
Palavra alemã oriunda da teoria da estética do século XIX, refere-se ao projetar da
predisposição interna de alguém em resposta à percepção de um objeto estético.
Traduzido como empatia, abertura a algo ou alguém.
Método indutivo
Método baseado na indução, uma operação do raciocínio que consiste em chegar ao
conhecimento ou demonstração de uma verdade a partir da observação e análise de
fatos particulares comprovados, que procura estabelecer uma verdade universal ou
uma referência geral com base no conhecimento de certo número de dados
singulares.
Apriorismo
Doutrina ou convicção intelectual a respeito da existência de conhecimentos,
princípios, ideias etc. de natureza a priori.
Teogonia
(Theo + gonos ou deus + nascimento). Estudo ou compreensão das diferentes
origens e desenvolvimentos das divindades. A mais famosa foi escrita por Hesíodo,
escritor grego, no século VII a. C.
Cosmogonia
Campo filosófico que reflete sobre a origem do Universo, a visão de mundo, o mesmo
que cosmogênese.
Antropogonia
Palavra grega (antropos + gonos, homem + nascimento). Campo filosófico que
reflete sobre a criação dos homens, o mesmo que antropogênese.
Referências
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8
9
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. A essência das religiões. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2016.
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São
Paulo: Paulinas, 2016.
GASBARRO, Nicola. Fenomenologia da Religião. In: PASSOS, João Décio; USARSKI,
Frank (orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas/Paulus,
2013, p. 87.
IRARRAZAVAL, Diego. Debaixo e de dentro: crenças latino-americanas. São
Bernardo do Campo: Nhanduti, 2007, p. 106.
MARTELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna. São Paulo: Paulinas,
1998
NESTI, Arnaldo. A perspectiva fenomenológica. In: FERRAROTI, F. (org.) Sociologia
da religião. São Paulo: Paulinas, 1990.
RODRIGUES, Elisa. O que é siso a que chamamos de Fenomenologia da Religião? In:
SILVEIRA, Emerson José Sena da; COSTA, Waldney de Souza. A polissemia do
Sagrado. Os desafios da pesquisa sobre religião no Brasil. São Paulo: Fonte Editorial,
2015, p. 105-120.
SANCHIS, Pierre. Estudos de religião, academia e instituições religiosas, um diálogo
em construção. In: SOUZA, Beatriz Muniz de; GOUVEIA, Eliane Hejaij; JARDILINO,
José Rubens Lima (Orgs.) Sociologia da religião no Brasil. São Paulo: PUC/UMESP,
1998.
OTTO, Rudolf. O sagrado. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 97-98.
USARSKI, Frank (org.). O espectro disciplinar da Ciência da Religião. São Paulo:
Paulinas, 2007.
Próximos Passos
As escolas históricas das Ciências da Religião e suas principais características.
Estruturas históricas da religião;
Ideias e conceitos dos principais autores das escolas históricas.
Explore mais
Leia este breve livro do filósofo português Américo Pereira. Em 30 páginas, ele
apresenta as principais ideias da Fenomenologia da Religião:
PEREIRA, Américo. Fenomenologia da experiência religiosa. Disponível em:
https://goo.gl/c5rRrp <https://goo.gl/c5rRrp> . Acesso em 07 fev. 2018.
https://goo.gl/c5rRrp

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